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INTOXIÇÕES POR MEDICAMENTO VICTORIA BORN - P4 ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS EFEITOS CARDIOVASCULARES: Efeitos anticolinérgicos e inibição da recaptação neuronal de catecolaminas levam à taquicardia e à hipertensão branda Bloqueio adrenérgico periférico causa vasodilatação e contribui para a hipotensão. Efeitos depressivos sobre a membrana (semelhantes à quinidina) causam depressão do miocárdio e distúrbios de condução cardíaca por inibição dos canais de sódio rápidos que iniciam o potencial de ação da célula cardíaca. A acidose respiratória ou metabólica poderá contribuir para a citotoxicidade por inibição posterior do canal de sódio rápido. Toxicidade anticolinérgica (p. ex., sedação e coma), porém o choque é provavelmente resultante da inibição da recaptação da norepinefrina ou da serotonérgica no cérebro ou de outros efeitos centrais A) MECANISMO DE TOXIDADE A toxicidade dos antidepressivos tricíclicos afeta primeiramente os sistemas cardiovascular e nervoso central, sendo os efeitos: 1. 2. EFEITOS SOBRE O SISTEMA NERVOSO CENTRAL: 3. FARMACOCINÉTICA: Os efeitos anticolinérgicos desses fármacos podem retardar o esvazia- mento gástrico, resultando em absorção lenta ou deficiente. A maioria desses fármacos é ex- tensamente ligada aos tecidos corporais e às proteínas do plasma, resultando em volumes de distribuição muito amplos e em meias- vidas de eliminação longa. Os antidepressivos tricíclicos são metabolizados primariamente pelo fígado, com apenas uma pequena fração sendo excretada inalteradamente pela urina. Os metabólitos ativos podem con- tribuir para a toxicidade; diversos fármacos são metabolizados, gerando outros antidepressivos tricíclicos bem conhecidos (p. ex., amitriptilina gera nortriptilina, imipramina gera desipramina). DOSE TÓXICA Doses inferiores a 10 vezes a dose diária terapêutica poderá produzir intoxicação grave. Em geral, a ingestão de 10 a 20 mg/kg é potencialmente fatal. EFEITOS ANTICOLINÉGICOS: Sedação; Delírio; Coma; Pupilas dilatadas; Pele e membranas mucosas secas, Sudorese reduzida; Taquicardia; Sons intestinais reduzidos ou ausentes; Retenção urinária. Condução Cardíaca anormal; Arritmias; Hipotensão. B) APRESENTAÇÃO CLÍNICA: Dependendo da dose e do fármaco, os pacientes poderão apresentar alguns ou todos esses efeitos tóxicos. Os sintomas geralmente têm início em 30 a 40 minutos após a ingestão, mas poderão ser retardados devido à absorção intestinal lenta ou deficiente. Pacientes que estão inicialmente acordados poderão perder a consciência de forma abrupta ou desenvolver choque sem avisos. 1. 2. EFEITOS CARDIOVASCULARES: 3. CHOQUE: poderão ser recorrentes ou persistentes. A hiperatividade muscular do choque e do espasmo mioclônico, combinada com sudorese reduzida, poderá levar à hipertermia severa, resultando em rabdomiólise, lesão cerebral, insuficiência multissistêmica e morte. 4.MORTE A alta dosagem de antidepressivos tricíclicos geralmente ocorre poucas horas após a internação e poderá resultar de fibrilação ventricular, choque cardiogênico intratável ou estado epilético com hipertermia. A morte súbita tem sido ocasionalmente registrada alguns dias após a recuperação, porém, em todos esses casos, foram encontradas evidências de toxicidade cardíaca contínua nas 24 horas antecedentes à morte. C) DIAGNÓSTICO: Deve-se suspeitar de intoxicação por antidepressivos tricíclicos em qualquer paciente com letargia, coma ou choque, acompanhados por prolongamento do intervalo QRS ou de uma onda R terminal em uma aVR superior a 3 mm. 1. Níveis plasmáticos de alguns dos antidepressivos tricíclicos podem ser avaliados por labo- ratórios clínicos. Concentrações terapêuticas costumam ser inferiores a 0,3 mg/L (300 ng/ mL). Concentrações totais do fármaco parental e de seus metabólitos 1 mg/L (1.000 ng/ mL) normalmente estão associadas a intoxicações sérias. Em geral, níveis plasmáticos não são utilizados em tratamentos de emergência porque o intervalo QRS e as manifestações clínicas são indicadores de toxicidade confiáveis e obtidos de forma mais imediata. 2. A maior parte dos tricíclicos é detectada no teste toxicológico abrangente de urina. Algumas técnicas imunológicas rápidas estão disponíveis e apresentam uma reatividade cruzada suficientemente ampla para detectar diversos tricíclicos. Entretanto, o uso desses ensaios para a seleção rápida no laboratório do hospital não é recomendada porque podem não detectar alguns fármacos importantes e fornecer resultados falso-positivos para outros (p. ex., ciclobenzaprina ou difenidramina) que estejam presentes em concen trações terapêuticas. Como a difenidramina é amplamente utilizada, fornece muito mais resultados falso- positivos do que verdadeiros em relação aos antidepressivos tricíclicos, levando a uma significativa ambiguidade diagnóstica. D) TRATAMENTO: O manejo inicial é basicamente com medidas de suporte. Deve-se verificar se o paciente apresenta alterações de consciência, instabilidade hemodinâmica e comprometimento respiratório. Deve- se obter um acesso IV, iniciar a monitorização do ritmo cardíaco e obter ECGs seriados. Se o paciente apresentar hipoxemia, deve ser fornecido oxigênio suplementar. A intoxicação por tricíclicos retarda o esvaziamento gástrico e pode causar vômitos e alto risco de aspiração, especialmente em pacientes com rebaixamento do nível de consciência. O carvão ativado se liga efetivamente aos antidepressivos cíclicos e diminui a absorção, sendo indicado em ingestões com menos de 2 horas desde que a capacidade de proteção de vias aéreas esteja mantida na dose de 1g/kg em dose máxima de 50g. O bicarbonato de sódio é usado para tratar anormalidades da condução cardíaca, arritmias ventriculares ou hipotensão refratária ao fluido EV. Os antidepressivos tricíclicos são altamente lipossolúveis, e acredita-se que a emulsão lipídica intravenosa poderia sequestrar a medicação e prevenir a toxicidade. Atualmente, não há evidências para o uso de emulsão lipídica na toxicidade de antidepressivos cíclicos. Em pacientes com cardiotoxicidade refratária a outras medidas, parece razoável infundir uma emulsão lipídica de 20% em uma quantidade recomendada para uso local. Os pacientes que permanecem assintomáticos após 6 horas de observação não necessitam de internação hospitalar por motivos toxicológicos. Todos os pacientes sintomáticos necessitam de internação hospitalar em um leito monitorado. Pacientes que demonstram sinais de toxicidade moderada a grave devem ser internados em uma unidade de terapia intensiva. Os pacientes hospitalizados podem receber alta clínica após 24 horas se estiverem assintomáticos, com um ECG normal, estado mental normal e resolução de todos os sintomas antimuscarínicos. Pacientes com overdose intencional exigem avaliação psiquiátrica. DOSE TÓXICA A ingestão aguda de mais de 200 mg/kg por crianças ou de 6 a 7 g por adultos é potencialmente hepatotóxico PARACETAMOL LESÃO HEPÁTICA: Um dos produtos do metabolismo normal do paracetamol pelas enzimas oxidase de função mista e citocromo P- 450 (CYP) é altamente tóxico; geralmente, esse metabólito reativo (NAPQI) é detoxificado rapidamente pela glutationa nas células vivas. Entretanto, em caso de superdosagem, a produção de NAPQI excede a capacidade da glutationa e o metabólito reage diretamente com macromoléculas hepáticas, levando à lesão hepática. pode ocorrer pelo mesmo mecanismo, devido ao metabolismo do CYP renal. Doses muito elevadas de paracetamol podem causar acidose láctica e estado mental alterado por mecanismos desconhecidos, provavelmente envolvendo disfunção mitocondrial A) MECANISMO DE TOXIDADE Quando combinado a outro fármaco, como difenidramina, codeína, hidrocodona, oxicodona, dextro- metorfano ou propoxifeno, quanto mais drásticos forem os sintomas agudos causados pelo outro fármaco, mais os sintomas brandos e inespecíficos da toxicidade precoce pelo paracetamol poderão ser mascarados, levando à falha no diagnóstico ou ao tratamento retardado com antídotos1. 2. LESÃO RENAL: 3. GRAVIDEZ: Geralmente não ocorrem outros sintomas além de anorexia, náuseas ou vômito. Em casos raros, uma poderá levar a um estado mental alterado e à acidose metabólica na ausência de qualquer evidência laboratorial de lesão hepática. O prolongamento transitório do tempo de protrombina/razão normalizada internacional (TP/INR) na ausência de hepatite tem sido observado nas primeiras 24 horas; alguns desses pacientes, porém não todos, desenvolverão lesão hepática. a aspartato aminotransferase (AST) e a alanina aminotransfera- se (ALT) começam a se elevar, a necrose hepática torna-se evidente. Caso ocorra insuficiência hepática fulminante, poderá ocorrer o óbito. Encefalopatia, acidose metabólica e uma elevação continuada em TP/INR representam um prognóstico ruim. A insuficiência renal aguda ocorre ocasionalmente, com ou sem insuficiência hepática concomitante. B) APRESENTAÇÃO CLÍNICA: As manifestações clínicas dependerão do tempo decorrido após a ingestão. 1. IMEDIATAMENTE: 2. APÓS 24 A 48 HORA: C) DIAGNÓSTICO: O diagnóstico imediato será possível apenas em caso de suspeita de ingestão e da obtenção do nível sérico de paracetamol. Entretanto, os pacientes poderão não informar a história de ingestão do paracetamol por não serem capazes, não estarem dispostos ou tampouco cientes de sua importância. Portanto, muitos médicos rotineiramente avaliam os níveis de paracetamol em todos os pacientes com superdosagem, independentemente da história de ingestão de substâncias. 1. Após uma superdosagem aguda, obter o nível de paracetamol 4 horas após a ingestão e usar o nomograma para avaliar a probabilidade de toxicidade. Não tentar interpretar um esboço de nível antes de 4 horas, a menos que seja “indetectável”. Obter um segundo nível em 8 horas caso o valor de 4 horas seja limítrofe ou a absorção retardada seja previsível. 2. O nomograma deverá ser usado para avaliar ingestões crônicas ou repetidas. 3. Poderão ser observados níveis de paracetamol falsamente elevados na presença de altos níveis de salicilato e outras substâncias interferentes por determinados métodos laboratoriais mais antigos. Esse problema é raro com o uso dos métodos analíticos atuais. Outras avaliações laboratoriais úteis incluem eletrólitos (presença de um intervalo aniôni- co), glicose, ureia, creatinina, aminotransferases hepáticas, bilirrubina e TP/RNI. Ingestão aguda isolada: iniciar a terapia com o antídoto N-acetilcisteína. A eficiência da NAC depende do tratamento inicial, antes do acúmulo do metabólito tóxico; ele terá máximo benefício quando iniciado em 8 a 10 horas, benefício que será reduzido após 12 a 16 horas; entretanto, o tratamento não deverá ser suspenso mesmo que o atraso seja de 24 horas ou mais. Caso o vômito interfira ou ameace atrasar a administração oral de acetilcisteína, administrar NAC IV. Descontaminação: Administrar carvão ativado VO se as condições forem apropriadas. A lavagem gástrica não é necessária após ingestões pequenas a moderadas caso o carvão ativado seja administrado prontamente. Eliminação aumentada: A hemodiálise remove eficientemente o paracetamol do sangue, porém, em geral, não é indicada, porque a terapia com antídoto é bastante eficiente. A diá- lise deverá ser considerada em caso de ingestões maciças de níveis muito elevados (p. ex., 1.000 mg/L), complicadas por coma e/ou hipotensão. D) TRATAMENTO: Vômito espontâneo poderá retardar a administração oral de antídoto ou carvão e poderá ser tratado com metoclopramida ou com um antagonista do receptor de serotonérgica, como o ondansetrona. OPIOIDES BRANDA A MODERADA: As pupilas geral- mente estão pequenas, algumas vezes do tamanho da “cabeça de um alfinete”. A pressão sanguínea e a pulsação normalmente estão reduzidas, e os músculos, frequentemente flácidos. depressão respiratória, e a apneia geralmente leva à morte súbita. Poderá ocorrer edema pulmonar não cardiogênico, em geral após a ressuscitação e a administração de naloxona, antagonista do opiáceo. A) MECANISMO DE TOXIDADE: Em geral, opioides compartilham a habilidade de estimular receptores específicos de opiáceos no SNC, causando sedação e depressão respiratória. O óbito advém da insuficiência respiratória, geralmente resultante de apneia ou da aspiração pulmonar de conteúdos gástricos. Além disso, poderá ocorrer edema pulmonar não cardiogênico por mecanismos desconhecidos. B) APRESENTAÇÃO CLÍNICA 1. 2. DOSES MAIS ELEVADAS: DOSE TÓXICA A dose tóxica varia amplamente, dependendo do composto específico, da via e da taxa de administração e da tolerância aos efeitos do fármaco como resultado do uso crônico. Alguns derivados do fentanil mais recentes apresentam potência de até 2 mil vezes a da morfina. não é comum após a superdosagem por opioide; porém, ocorre ocasionalmente com certos compostos (p. ex., codeína, dextrometorfano, meperidina, metadona, propoxifeno e tramadol). A convulsão poderá ocorrer em pacientes com comprometimento renal que recebem doses repetidas de meperidina devido ao acúmulo do metabólito normeperidina. pode causar ansiedade, piloereção (pelos eriça- dos), sensação aumentada de dor, cólicas abdominais e diarreia, e insônia. A análise qualitativa da urina é uma forma eficiente de confirmar o uso recente (codeína, morfina, hidrocodona, hidromorfona). Derivados do fentanil, do tramadol e de alguns outros opioides sintéticos não são detectados pelos exames toxicológicos rotineiros). Imunoensaios separados estão disponíveis para oxicodona /oximorfona e 6-acetilmorfina (metabólito específico da heroína) 3. CONVULSÃO: 4. SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA: C) DIAGNÓSTICO: ́Manifestações típicas de intoxicação por opiáceo (pupilas reduzidas e depressão do SNC) e é confirmado quando o paciente desperta rapidamente após a administração de naloxona. Sinais de abuso intravenoso do fármaco (p. ex., marcas de agulhas) poderão estar presentes. Descontaminação: Administrar carvão ativado VO, se as condições forem apropriadas. A lavagem gástrica não será necessária após ingestões pequenas a moderadas se o carvão ativado tiver sido administrado prontamente. Considerar a irrigação intestinal total após a ingestão de produtos de liberação continuada (p. ex., MS-Contin, OxyContin). Eliminação aumentada: Devido aos amplos volumes de distribuição dos opioides e à disponibilidade de tratamento eficaz com antídoto, os procedimentos de eliminação aumentada não são usados. D) TRATAMENTO: A naloxona é um antagonista específico dos opioides sem propriedades agonistas; doses maciças podem ser administradas com segurança. a. Apenas 0,2 a 0,4 mg, IV ou IM, costumam ser eficazes no caso de superdosagem por heroína. Repetir as doses a cada 2 a 3 minutos caso não haja resposta, até uma dose total de 10 a 20 mg, em caso de forte suspeita de superdosagem por opioides. BENZODIAZEPÍNICOS Intoxicação leve a moderada: sonolência, sedação, fala arrastada. Intoxicação grave: coma com depressão respiratória, hipotensão, hipotermia, depressão do sistema nervoso central, ataxia, tremores, miose, hiperexcitabilidade. Síndrome de abstinência: pode ser precipitada pela descontinuação abrupta após longo tempo de uso de benzodiazepínicos. A) APRESENTAÇÃO CLÍNICA: As manifestações clínicas variam amplamente com a dose ingerida, a tolerância, a idade, o tempo decorrido da ingestão e se estava associada a outras drogas. associação com álcool ou com outros depressores potencializa os efeitos dos benzodiazepínicos B)DIAGNÓSTICO: Dever ser solicitada, a dosagem de benzodiazepínicos no sangue ou urina quando a história de uso/abuso não está clara. DOSE TÓXICA Não há dose tóxica de benzodiazepínicos estabelecida, mas estima que seja cerca de 15 a 20 vezes a dose terapêutica. Medidas de suporte: manter permeabilidade das vias aéreas (avaliar necessidade de intubação orotraqueal), oxigenoterapia, monitorar sinais vitais, obter acesso venoso calibroso e coletar amostras biológicas para exames de rotina e toxicológico.Descontaminação: lavagem gástrica e carvão ativado (1g/kg de peso corpóreo, dose máxima de 50g, diluindo-se cada 1g em 8ml de solução) dentro de 1 hora a partir da exposição. A lavagem gástrica não é indicada em casos leves e moderados, apenas em casos graves; Antídoto específico: flumazenil (antagonista de receptor GABA/antagonista de receptor de benzodiazepínico); utilizado apenas em casos de coma (Glasgow < 8) e/ou depressão respiratória e situações envolvendo sedações iatrogênicas, pois, embora ele reverta os efeitos sedativos, possui meia-vida muito curta e não justifica uso em outras situações. EFEITOS COLATERAIS: Tontura; Náusea ;Êmese ;Agitação C) TRATAMENTO: D) FLUMAZENIL: 1. Usuários crônicos de benzodiazepínicos, pois pode desenvolver síndrome de abstinência (tremores, ansiedade, disforia e, em casos graves, psicose e convulsões); Pacientes sem rebaixamento significativo do nível de consciência; História de convulsões ou uso de anticonvulsivantes; Paciente com possibilidade de uso concomitante de antidepressivos tricíclicos. 2. CONTRAINDICAÇÕES