Prévia do material em texto
PREVENÇÃO E CONTROLE DA DOR Melhor forma de prevenir a dor no procedimento e depois dele é utilizar um medicamento pré anestésico. O transoperatório e o pós-operatório causam dor. A dor é um experiencia sensorial e emocional desagradável e depende de um limiar de dor alto ou baixo, que varia com o indivíduo. O limiar da dor diminui em certos momentos da vida (durante o período menstrual, depressão do SNC e os próprios homens). A dor tem um caráter defensivo, sendo um sinal de aviso associado a alguma injúria tecidual. 99% da dor odontológica tem caráter inflamatório agudo. Paciente pode então chegar já com a dor instalada e então o medicamento é coadjuvante (tem que intervir com procedimentos logo e o medicamento vai ajudar), mas a dor pode vir em um paciente assintomático, mas no período trans e pós- operatório há a sensação de dor e a medicação tem que ser pré-operatória, já que nós que vamos causar a dor no paciente depois do procedimento. Os mediadores químicos são liberados em injúria tecidual, como a histamina (potente vasodilatadora que pode causar dor no paciente), bradicinina (potente causador de dor), prostaglandinas (sensibilizam os receptores de dor, fazendo com que tudo que acontecer ali, vai causar dor) e leucotrienos (presentes na inflamação de brônquios, que interfere em pacientes asmáticos). Eles são liberados para causar hiperemia, vasodilatação, edema, dor ou seja, causa inflamação. Eles precisam ser liberados para chamar células restauradoras do tecido. Então os medicamentos tem que inibir esses mediadores, como os medicamentos anti-histamínicos ou drogas que inibem as prostaglandinas, cortando o mal pela raiz, e esses medicamentos são os anti-inflamatórios. A inflamação é bem-vinda, pois localiza a lesão, remove os agentes nocivos e repara a lesão e restabelece os tecidos, mas pode levar a destruição progressiva dos tecidos, como por exemplo, numa periodontite. Para prevenir isso, os anti- inflamatórios existem, podendo ser não esteroidais ou esteroidais, além dos analgésicos de ação periférica ou central. AINES São classificados em não-seletivos, seletivos e específicos. Os primeiros a serem usados foram os não-seletivos: Ao lesionar as células em um processo inflamatório, a enzima fosfolipase A2 é ativada. As células lesionadas liberando seus fosfolipídios de membrana através da ação dessa enzima, vão levar a produção de ácido araquidônico que é rapidamente metabolizado em prostaglandinas e tromboxanos (agregação plaquetária) pela enzima cicloxigenase e também leucotrienos pela lipoxigenase. Isso tudo ativa a cascata de dor, em uma cascata: Os AINEs então inibem a cicloxigenase, inibindo então as prostaglandinas. Por isso, devemos administrar preferencialmente o medicamento antes do procedimento, sendo melhor do que depois, já que vai inibir a cicloxigenase antes e durante a cascata da dor. Esse uso de AINEs vai inibir só a cicloxigenase, então o ácido araquidônico vai ser destinado somente para a lipoxigenase, aumentando a quantidade de leucotrienos na corrente sanguínea, o que pode causar uma crise asmática (evitar uso de AINEs em pessoas com asma). Quando o paciente já chega usando um AINEs AINES NÃO SELETIVOS NOME COMERCIAL ÁCIDO ACETIL SALICÍLICO ASPIRINA®, AAS® ÁCIDO MEFENÂMICO PONSTAN® DICOFLENACO SÓDICO VOLTAREN® DICOFLENACO POTÁSSICO CATAFLAN® IBUPOFRENO MOTRIN® NAPROXENO NAPROSYN® CETOROLACO DEOCIL® por outro motivo, os tromboxanos estão em falta na corrente sanguínea, portanto, o sangramento durante o procedimento pode ser maior, já que a agregação plaquetária vai estar debilitada. Todos os AINEs não-seletivos, possuem efeitos adversos, geralmente associados ao efeito gástrico, pois as prostaglandinas fisiológicas são protetoras da mucosa gástrica, pois ajudam na produção de muco e também produzem o tampão bicarbonato que inibem o pH do suco gástrico, protegendo a mucosa gástrica. Quando inibidas pelos AINEs, essas prostaglandinas também são inibidas. Então há efeitos adversos gastrointestinais (dispepsia com dor, úlceras e sangramentos), nas plaquetas (diminuição da agregação e aumento do sangramento), hepático (alterações enzimáticas) e renal (diminuição da filtração glomerular). Então ao usar esse AINEs não-seletivo, temos que pensa no paciente, que não pode ser asmático, ter problemas gástricos ou paciente renal crônico. O organismo produz duas cicloxigenase, a COX-1 que produz as prostaglandinas fisiológicas que são bons ao organismo (é uma enzima constitutiva normal do organismo) e a COX-2 que produz prostaglandinas patológicas que causam a inflamação (é uma enzima que pela induzida pela lesão). Os AINEs não-seletivos inibem a COX-1 e a COX-2, mas existem os anti-inflamatórios não esteroidais seletivos que inibem mais a 2 do que 1, evitando todos aqueles efeitos adversos causados pela forte inibição da 1. Ao inibir a COX-1 o efeito é adverso e ao inibir a COX-2 o efeito é anti-inflamatório. A Nimesulina e o Meloxican então tem uma seletividade maior pela COX-2, inibindo mais ela do que a COX-1. Ainda há a produção dos AINEs específicos, que inibem muito mais a 2 do que 1. Esses específicos só podem ser prescritas em receita de controle especial (chamada de C1), mas todos os outros podem ser prescritos normalmente. A diferença deles é que esses específicos tem uma meia-vida muito maior (22 horas), não sofre interferências das refeições, atravessa a placenta e a barreira hematoencefálica e tem baixo potencial de interação medicamentosa. Os AINEs específicos não podem ser prescritos para pacientes que já experimentaram asma (também levam ao aumento de leucotrienos, já que só a COX-2 participa da cascata da dor) ou reações após tomarem AAS ou outros AINEs (pois a alergia pode vir do aumento de leucotrienos). AINES SELETIVOS NOME COMERCIAL MELOXICAM MOVATEC® NIMESULIDA NISULID® AINES ESPECÍFICOS NOME COMERCIAL ETORICOXIB ARCOXIA® CELECOXIB CELEBRA® Um AINE deve ser prescrito para a prevenção de dor e edema pós-operatório, já que todos os procedimentos tem um pico de dor (primeiras 24 horas) e pico de inflamação (normalmente de 36 a 48 horas), então devemos prescrever 3 dias de AINEs, sendo a primeira dose antes do procedimento (normalmente 1 hora antes, já que a absorção ocorre nesse tempo). Se o paciente já está com dor e edema, o medicamento é coadjuvante ao tratamento, prescrevendo o medicamento de 3 a 5 dias. Recomendar tomar com água e não tomar com álcool. ANTIINFLAMATORIOS ESTEROIDAIS (CORTICOESTEROIDES) São derivados de um hormônio esteroide chamado cortisol que são produzidos nas glândulas adrenais, localizadas acima dos rins e também produzem adrenalina, noradrenalina, hormônios sexuais, mineralocorticoides e glicocorticoides. A diferença entre o mineral (aldosterona) e o glicocorticoide (cortisol) é a função. A aldosterona tem função de reter o mineral sódio (Na+) e então água, ou seja, é liberada para reter água para compensar a perda de sangue, aumentando a volemia. Esse hormônio também aumenta a pressão arterial por reter sódio. O cortisol altera o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos, manutenção do equilíbrio eletrolítico, preservação da função normal do sistema cardiovascular, imunológico, nervoso e endócrino, dos rins e do músculo esquelético; capacidade de resistir ao estresse (estímulos nocivos e alterações ambientais). Ou seja, o cortisol media muita coisa no corpo. O cortisol possui um ciclo circadiano e é liberado por volta das 8 horas da manhã, que vai diminuindo ao longo do dia. As 16h, o organismo libera uma certa quantidade de cortisol (menor que o pico da manhã), correspondente a uma adaptação do corpo a vida urbana. Pela noite (00h), o cortisol sérico se torna nulo. O hipotálamo percebe esse cortisol ausente no sangue e uma informação hormonal é passada para adeno-hipófise, que em seguida estimula a produção decortisol pela glândula adrenal, sendo essa produção responsável pelo pico de cortisol pela manhã. O melhor horário para administrar o corticoide é pela manhã, para respeitar o ciclo circadiano do cortisol, permitindo o ideal funcionamento o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal que não se altera de forma significativa se o uso de cortisol for feito por até 5 a 7 dias. Se tomar de noite, o cortisol não estará ausente na corrente a noite e isso não vai estimular o eixo para que produza o cortisol pela manhã. AINES CONCENTRAÇÃO MEIA-VIDA DICOFLENACO 50mg 8h IBUPROFENO 600mg 12h NIMESULIDA 100mg 12h MELOXICAN 15mg 24h ETORICOXIB 90mg 22h CELECOXIB 200mg CORTISOL ZERADO CORTISOL Todo corticoide tem uma fração mineral e outra de glicocorticoide. Quanto mais glicocorticoide, mais efeito anti- inflamatório o corticoide tem. Na odontologia a intenção é só a ação anti-inflamatória, então escolhemos dois corticoides: a betametasona ou a dexametasona, pois eles tem meia-vida e ação prolongada que consegue cobrir o pico da inflamação (36 a 48 horas) e também são 99% glicocorticoides, ou seja, são anti-inflamatórios (não tem edema quase nenhum), além de ter ação 25x mais potente que a hidrocortisona. A dose em odontologia é única de 4mg a 8mg com uso 2h antes do procedimento. A prednisolona tem efeito mais antialérgico não tendo a mesma eficácia anti-inflamatória que a beta ou dexametasona. A betametasona tem disponível no mercado em 0,5mg, 1mg e 2mg e a dexametasona existe em 0,75mg, 1,5mg e 4mg. Na cascata da dor, os corticoides inibem a enzima fosfolipase A2, inibindo tanto a produção de prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos, se tornando a primeira escolha de medicamento anti-inflamatório para pacientes asmáticos e com alergia a AAS, além de terem efeito antialérgico. O uso é feito quando o procedimento vai ter expectativa de dor e/ou edema (casos de respostas inflamatórias de maior intensidade).Indicado para exodontia de inclusos, cirurgias perirradiculares, cirurgias mucogengivais, alveoloplastias e cirurgia de implantes O corticoide por tempo restrito, mesmo em altas doses, não tem efeitos colaterais clinicamente significativos (não deixa inchado). Mas os corticoides possuem muitos efeitos colaterais quando em uso prolongado. O balanço de cálcio fica negativo, levando a osteoporose, tem reparação retardada de feridas com aumento do risco de infecções, aumento do apetite, hipertensão, edema, úlceras pépticas, euforia e psicoses. O uso de corticoides por mais de 7 dias, leva a imunossupressão e pode ser usada em pacientes que tem doenças autoimunes (LES), câncer e transplantes para imunodeprimir o corpo. As contra-indicações são para todo paciente, de alguma forma, imunodeprimido: portadores de doenças fúngicas sistêmicas, portadores de herpes simples ocular, pacientes com histórico de doenças psicóticas, portadores de tuberculose ativa ou histórico de menos de 6 meses dessa doença e história de hipersensibilidade ao corticoide. ANALGÉSICOS DE AÇÃO PERFÉRICA A dor é um fenômeno psicossomático e o limiar de cada individuo é diferente em situações diferentes e só um anti- inflamatório pode não ser suficiente para controlar a dor do paciente, lembrando que a dor se inicia 6h depois do procedimento e o pico de dor é 24h depois. Todo anti-inflamatório tem ação analgésica e então o uso de analgésicos em odontologia são usadas em procedimentos menos invasivos (extrações simples, raspagem subgengival) e como uma medicação de escape (“scape medication”: auxiliar dos anti-inflamatórios: auxiliam a controlar a dor pós-operatório nas primeiras 24h, quando há o pico de dor). - ÁCIDO ACETIL SALICÍLICO (ASPIRINA): deixa de ser usado na odontologia porque ele tem muitos efeitos colaterais (náuseas, sangue oculto nas fezes, aumento do tempo de sangramento e reação alérgica), pois inibe a inibe a COX1 de forma irreversível (diminui a quantidade de plaquetas e tromboxanos durante 7 dias). Contraindicações: pacientes com úlcera, asma, diabetes e estado de hipocoagulação. - PARACETAMOL (ACETOMIFENO): não apresenta ação anti-inflamatória, só efeito antipirético e analgésico. O mecanismo de ação para o controle da dor do paracetamol é desconhecido farmacologicamente, mas há suspeitas de que esse medicamento atua na COX3 (recentemente descoberta) e então não tem efeito anti-inflamatório, não causa irritação gástrica e é raro o desenvolvimento de alergia. Existe paracetamol de 500mg e 750mg. Se um paciente precisa de mais de 24h de uso de analgésicos, o procedimento precisaria de um anti-inflamatório. Uso com precaução do medicamento para pacientes hepatopatas (é hepatotóxico em doses altas principalmente em mulheres) e alcoolistas (fígado sobrecarregado). Possui efeitos adversos de hepatotoxicidade e toxicidade renal aguda em superdosagem. Ele não inibe a agregação plaquetária e não causa sangramento oculto nas fezes se comparado com o AAS. Para adultos: 1 comprimido de 500mg a cada 4 horas por 24h ou 1 comprimido de 750mg a cada 6 horas por 24h. Para crianças: 1 gota por quilograma a cada 4 horas por 24 horas. - DIPIRONA (METOMIZOL, NOVALGINA®): A sensibilização do nociceptor, permite a entrada de cálcio que ativa a adenilato ciclase e então o AMPc que causa a dor aguda inflamatória. A dipirona consegue inibir a entrada de cálcio e consegue retirar o cálcio de dentro do receptor, sendo um excelente analgésico, melhor que o paracetamol. Na odontologia é usado em controle de dor pós-operatória, intensidade leve a moderada e antipirético e não apresenta ação anti-inflamatória. Alguns afirmam que a dipirona pode causar agranulocitose que é a depressão da medula óssea e então a diminuição da concentração de células brancas no sangue e então tem contraindicação em pacientes com disfunção hematológica e em pacientes alérgicos. A pressão arterial pode diminuir com o uso da dipirona. Para adultos: 20-40 gotas ou comprimido de 500mg a cada 4 horas por 16 a 24 horas Para crianças: 1 gota por quilograma a cada 4 horas por 24 horas ANALGÉSICOS DE AÇÃO CENTRAL Na odontologia, normalmente usa-se em associação no mesmo comprimido um analgésico de ação periférica e um ação central. Os analgésicos periféricos (AAS, dipirona e paracetamol) associam-se com os opioides: codeína (30 a 90mg), morfina (10mg), oxicodona (10mg), hidrocodona, metadona e meperidina. São analgésicos extremante potentes (para dor surda e contínua), mas possuem ação central e também possuem ação antitussígeno e antidiarreico. Os analgésicos opioides tem mecanismo de ação na tosse inibindo o reflexo da tosse (não cura o que está causando a tosse) e causam constipação da bexiga e do intestino (não curam o causa a diarreia, só a causa) e então não são usados mais para isso, pois outros medicamentos são melhores para isso. Na dor, o opioide atua do mesmo jeito, pois a dor sobe pro tálamo e volta pro local da dor pela via descendente da dor e a pessoa sente a dor. Nesses milésimos de segundo, o opioide bloqueia a via descendente da dor e então o paciente não sente a dor na periferia, mas a causa da dor não é curada, só a sensação da dor. A maioria das dores é inflamatória e o opioide não acaba com a inflamação, só bloqueia a dor. Então o opioide só é prescrito na odontologia em casos em que o paciente está sentindo uma dor fora do normal, então associa-se o opioide com o anti-inflamatório. Nesses casos, usamos o medicamento associado: analgésico de ação periférica e central. Mas são drogas que rapidamente causam dependência e tolerância e são medicamentos prescritos em receituário azul e a dose terapêutica é muito próxima da dose tóxica. Os efeitos colaterais envolvem depressão respiratória, retenção urinária, sedação e náuseas e vômitos. O mais famoso é o Tylex® (paracetamol + codeína: 7,5 ou 30mg de codeína). Uso de 1 comprimido a cada 4h usado juntamente com um anti-inflamatório que o profissionaleleger. Nos dois primeiros dias ele usa de 4h em 4h horas, e depois ele vai aumentando a quantidade de horas (5h em 5h e 6h em 6h) de espaçamento dependendo do paciente (quanto mais espaçado melhor) e sempre com acompanhamento diário do paciente e vai ajustando a dose. Como combinado com um anti-inflamatório (que é durante 5 a 6 dias), o Tylex é usado normalmente durante 4 dias, mas depende do andamento do paciente.