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Segurança Alimentar e Nutricional Alexandra Corrêa de Freitas © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidência Rodrigo Galindo Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão Julia Gonçalves Vice-Presidência Acadêmica Marcos Lemos Diretoria de Produção e Responsabilidade Social Camilla Veiga Gerência Editorial Fernanda Migliorança Editoração Gráfica e Eletrônica Renata Galdino Supervisão da Disciplina Iara Gumbrevicius Revisão Técnica Joselmo Willamys Duarte Thamiris Mantovani CRB-8/9491 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C Freitas, Alexandra Corrêa de F866s Segurança alimentar e nutricional / Alexandra Corrêa de Freitas. – Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 168 p. ISBN 978-85-522-1601-8 1. Nutrição adequada. 2. Alimento seguro. 3. Segurança alimentar. I. Freitas, Alexandra Corrêa de. II. Título. CDD 613 Sumário Unidade 1 História da segurança alimentar e nutricional no Brasil .......................... 7 Seção 1 Histórico e conceito de SAN ............................................................. 9 Seção 2 Segurança e soberania alimentar ....................................................23 Seção 3 Direito Humano à Alimentação Adequada e alcance da SAN ...............................................................................................34 Unidade 2 A alimentação nos contextos sociais e econômicos ................................47 Seção 1 Pobreza, fome e insegurança alimentar .........................................49 Seção 2 Contextos sociais atuais, padrão alimentar e distúrbios alimentares e nutricionais................................................................59 Seção 3 Produção agrícola, agricultura de subsistência e familiar e a sustentabilidade ................................................................................71 Unidade 3 Legislação e políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional ...................................................................................................87 Seção 1 Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan) e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) ........................................................................89 Seção 2 Política e Plano de Segurança Alimentar e Nutricional ...........100 Seção 3 Construção da SAN no Brasil ......................................................112 Referências Unidade 4 Sistemas e programas nacionais voltados à segurança alimentar e nutricional ..............................................................................................129 Seção 1 Sistemas de vigilância alimentar e nutricional ..........................131 Seção 2 Programas sociais de combate à fome e de fortificação de alimentos.........................................................................................141 Seção 3 Educação nutricional e participação da sociedade em prol da Segurança Alimentar e Nutricional ............................................153 Palavras do autor Caro aluno, Nesta disciplina, vamos discutir uma temática de grande impor-tância para sua fromação e também para sua atuação em qualquer área profissional: a Segurança Alimentar e Nutricional. Você conhece a sigla SAN? Caso não conheça, não se preocupe, pois vamos tratar dessa temática e, se você já ouviu falar a respeito, terá a oportu- nidade de aprofundar ainda mais seus conhecimentos. O objetivo é que você compreenda todo o processo histórico de construção da segurança alimentar e nutricional no Brasil, os marcos legais que a representam, além de entender evolução desse conceito. Veremos, ainda, a sua relação prática com as questões sociais e econômicas que inter- ferem diretamente na saúde e no padrão alimentar da população brasileira, especialmente de indivíduos em situação de maior vulnerabilidade à insegu- rança alimentar e nutricional. Para tanto, iniciaremos na Unidade 1 com a parte histórica da SAN e a evolução de seu conceito. Os contextos sociais e econômicos da alimentação serão abordados na Unidade 2. Já as duas últimas unidades apresentarão a legislação, as políticas públicas e os programas voltados para a garantia da SAN. A partir desses estudos, será possível compreender os movimentos sociais e políticos, assim como os programas e estratégias que vêm sendo criados na luta e busca pelo direito humano à alimentação adequada. Consequentemente, você entenderá a importância do nutricionista nessa problemática e os papéis que assume em busca do acesso a uma alimentação saudável, que promova o bem-estar de todos. Lembre-se de que a leitura do material é importantíssima para embasar as discussões que terá em sala de aula. Bons estudos! Unidade 1 Alexandra Corrêa de Freitas História da segurança alimentar e nutricional no Brasil Convite ao estudo Há alguns anos, a população brasileira vivencia mudanças no padrão alimentar e no seu perfil nutricional. A fome e a desnutrição, durante algum tempo, estavam entre os principais problemas de saúde que acometiam a população, mas isso foi mudando. Hoje, esses problemas ainda existem, mas atingem de forma mais expressiva alguns grupos de risco. Os maiores problemas de saúde pública da contemporaneidade envolvem a obesidade, as doenças crônicas não transmissíveis, a coexistência das carências nutricio- nais e o consumo excessivo de ultraprocessados. O que isso tem a ver com segurança alimentar e nutricional? Você percebe alguma relação entre os problemas apontados e a SAN? Você verá que os assuntos estão completamente relacionados. A evolução do conceito de SAN acompanhou todas essas mudanças no perfil nutricional do brasileiro e o contexto histórico que envolve a questão. Nesta unidade de ensino, estudaremos a importância dos programas e estra- tégias de combate à fome no nosso país, os marcos legais da SAN e a criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN). Assim, ao final desta unidade você será capaz de elaborar, por exemplo, um infográ- fico com a evolução dos conceitos de SAN, de soberania alimentar e direito humano à alimentação adequada. Para contribuir com esse processo de aprendizagem e conseguir visua- lizar sua aplicabilidade na prática profissional, usaremos o problema atual do consumo excessivo de açúcar e alimentos com adição de açúcar pelos brasi- leiros como estratégia para algumas discussões e reflexões. Temos vivido e convivido com as mudanças nos hábitos de vida e padrão alimentar brasileiro há alguns anos e hoje já colhemos os maus frutos de todo esse processo, que tem levado à dados crescentes de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) juntamente com as carências nutricionais. Vamos acompanhar a rotina de um nutricionista que se especializou em saúde coletiva e tem experiências com programas de educação alimentar. Atualmente, ele é servidor público federal e está envolvido com as ações do Ministério da Saúde direcionadas ao contexto da SAN. Dentre os vários fatores envolvidos no contexto da SAN, o próprio Ministério da Saúde, a partir de pesquisas, afirma que os brasileiros consomem 50% a mais de açúcar do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso significa que, por dia, cada brasileiro,consome em média 18 colheres de chá do produto (o que corresponde a 80g de açúcar/dia), quando o recomen- dado seria até 12g/dia (BRASIL, 2018). O que você tem percebido a respeito disso? No seu ambiente familiar ou de trabalho você percebe que isso é um problema a ser enfrentado? E o que será que tem feito as pessoas consumirem mais açúcar do que necessitam? Vá pensando no assunto e isso lhe dará artifícios para discussões que virão pela frente, combinado? 9 Seção 1 Histórico e conceito de SAN Diálogo aberto Estamos iniciando os estudos sobre a segurança alimentar e nutricional e, nesta seção, você estudará o contexto histórico e o conceito de SAN, assuntos aos quais relacionaremos os problemas atuais a respeito da alimentação e da nutrição da população brasileira. Dentre as problemáticas atuais, os hábitos de vida e o padrão alimentar do brasileiro são indícios de que a insegurança alimentar e nutricional persiste e se agrava no país. Isso se torna claro ao avaliarmos os dados epidemio- lógicos que apresentam números crescentes a respeito do excesso de peso na população em todos os ciclos de vida, o que está associado a doenças crônicas não transmissíveis e a carências nutricionais. Assim, retomando nosso contexto de aprendizagem, o profissional nutri- cionista, servidor público federal do Ministério da Saúde, agora está em Brasília em uma capacitação voltada para técnicos de Secretarias Estaduais de Saúde. No início das discussões do evento, ele levantou alguns questio- namentos sobre o processo evolutivo do conceito de SAN e a sua definição nos dias de hoje. O objetivo era que os ouvintes refletissem sobre o fato de que a população brasileira tem consumido uma quantidade de açúcar muito superior à recomendada e sobre a relação desse consumo com o problema da insegurança alimentar e nutricional. Se você, aluno, fosse um desses partici- pantes da capacitação, como iria responder a esses questionamentos? Para ajudá-lo, nesta seção vamos abordar as definições de segurança alimentar e nutricional, o histórico das estratégias e dos programas de combate à fome no Brasil e no mundo; além da criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN) e do marco legal da SAN no Brasil. Bons estudos! Não pode faltar O conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) está em perma- nente construção e tem sido, há muito tempo, alvo de discussões por parte do governo, de organizações sociais e de diversos segmentos da sociedade em todo Brasil e no mundo. “Além disso, o conceito evolui à medida que avança 10 a história da humanidade e alteram-se a organização social e as relações de poder em uma sociedade” (ABRANDH, 2013, p. 11). Foi na época da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que a termino- logia “segurança alimentar” começou a ser usada na Europa, sendo relacio- nada com a capacidade de cada país produzir seus próprios alimentos para que não fique exposto a problemas relacionados a questões políticas ou militares (ABRANDH, 2013). A partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), esse termo reaparece e passa a ganhar ainda mais força, principalmente em decorrência da consti- tuição da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945. Nesse período, começa a aparecer a preocupação com o direito humano à alimentação e a busca pelo combate à miséria, principalmente após a criação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a promulgação da Declaração dos Direitos Humanos em 1948 (FREITAS; SALDIVA, 2007). O período Pós-Guerra foi muito importante para o movimento da segurança alimentar, pois de modo geral, ela passa a ser entendida como uma questão de disponibilidade insuficiente de alimentos. Com isso, iniciam-se várias ações de apoio e assistência à alimentação, em geral utilizando os excessos de produção de países ricos para os países em dificuldades como estratégias para combater a fome (ABRANDH, 2013). O entendimento de que a insegurança alimentar acometia os países pobres por conta da produção insuficiente de alimentos contribuiu para que, a partir de 1950, um movimento chamado Revolução Verde crescesse em todo o mundo. Por meio dele promovia-se o uso de sementes originárias de variedades genéticas que apresentavam alto rendimento, a utilização de insumos químicos, como os pesticidas e fertilizantes e a inovação tecnológica referente ao uso de maquinários desde o plantio até a colheita da produção agrícola (ANDRADES; GANIMI, 2007). Diante disso, notou-se um aumento na produção alimentícia, porém sem impacto importante sobre a fome, causando ainda diversas consequências ambientais, econômica e sociais a vários países que sofrem com essa problemática até hoje, como a contami- nação do solo e dos alimentos com agrotóxicos, a redução da biodiversidade, o êxodo rural, entre outras complicações (ABRANDH, 2013). Reflita Você acredita que esse movimento da chamada Revolução Verde ainda ocasiona consequências em relação ao uso de agrotóxicos e à qualidade dos alimentos naturais que consumimos? 11 Já na década de 70, a constatação de escassez de alimentos em vários países levou à realização da I Conferência Mundial de Segurança Alimentar, que reforçou a compreensão de que era preciso haver maior disponibilidade de alimentos e levantou a necessidade de se investir em uma política de armaze- namento, garantindo a regularidade do abastecimento. Nessa época, o foco era o produto, e não necessariamente o fator humano, o que fez com que a preocupação com alguns direitos ficasse em segundo plano (ABRANDH, 2013; FREITAS; SALDIVA, 2007). Por entender que a insegurança alimentar ocorria em consequência da pobreza e da falta de acesso à renda, à terra/território e, por sua vez, à alimen- tação; ao final dos anos 80, o conceito de segurança alimentar foi ampliado para além da capacidade produtiva, de armazenamento e de oferta. Diante disso, passa a ser relacionado à garantia de acesso físico e econômico em quantidades suficientes e de forma permanente (ABRANDH, 2013). Em 1986 ocorreu a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição como parte da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Nessa época, final da década de 80 e início da década de 90, acontece mais uma ampliação do conceito de segurança alimentar, incorporando a alimentação como um direito básico e a necessidade de garantir o acesso a alimentos seguros (não contaminados biologicamente ou quimicamente); de qualidade (nutricional, biológica, sanitária e tecnológica), produzidos de forma sustentável, equili- brada e culturalmente aceitável. Além disso, esse novo entendimento passou a incorporar a ideia de acesso à informação (MACEDO et al., 2009). Saiba mais A 8ª Conferência Nacional de Saúde foi um marco no processo histórico das Conferências de Saúde e da construção da saúde pública brasileira. Ocorrida em 1986 teve grande participação de pessoas e organizações envolvidas nas lutas pelos direitos humanos. Além disso, serviu de base para o capítulo sobre saúde na Constituição Federal de 1988, resul- tando na criação do Sistema Único de Saúde (SUS), deixando nítida sua importância e relevância no contexto histórico em que ocorreu. Essa nova visão sobre a segurança alimentar, que passou a considerar o aspecto nutricional e sanitário, se consolidou em 1992 na Conferência Internacional de Nutrição ocorrida em Roma, passando então a ser denomi- nada Segurança Alimentar e Nutricional – SAN (MACEDO et al., 2009). 12 A partir de então, a temática SAN ocupa cada vez mais espaço em várias discussões no mundo todo e no Brasil, levando ao surgimento de órgãos, programas e políticas preocupadas com a questão. No Brasil, os seguintes eventos merecem destaque: Em 1993 foi criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) e em 1994 aconteceu a I Conferência Nacional de Segurança Alimentar. Nesse evento, consolidou-se uma definição para segurança alimentar e nutricional que foi iniciada em 1986 e foi mantida em vigoraté o ano de 2004. Garantia, a todos, de condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras neces- sidades básicas, com base em práticas alimentares que possibilitem a saudável reprodução do organismo humano, contribuindo, assim, para uma existência digna (CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR, 1986 apud ABRANDH, 2013, p. 13). A SAN envolve dois componentes básicos: a dimensão alimentar e a dimensão nutricional. De forma mais detalhada, podemos compreendê-las da seguinte forma: Dimensão alimentar: diz respeito à produção, comercialização e dispo- nibilidade de alimentos, que devem ser: • Suficientes e adequadas quanto à quantidade e qualidade. • Permanentes, estáveis e contínuas e sem sofrer com problemas sazonais. • Autônomas para alcançar a autossuficiência nacional nos alimentos básicos. • Equitativas com vistas à garantia do acesso universal às necessi- dades nutricionais adequadas em todas as etapas do curso da vida e grupos populacionais. • Sustentável agroecológica, social, econômica e cultural, buscando garantir SAN para as próximas gerações (ABRANDH, 2013; FREITAS; SALDIVA, 2007). 13 Dimensão nutricional: diz respeito mais diretamente às práticas alimen- tares, isto é, escolha, preparo e consumo alimentar, além de sua utilização biológica e da relação com a saúde humana, considerando então: • Disponibilidade e consumo de alimentos saudáveis e adequados para cada fase do ciclo da vida. • Técnicas de preparo dos alimentos com técnicas que preservem o seu valor nutricional e sanitário. • Garantia de utilização biológica dos alimentos de forma a promover saúde e uma vida saudável. • Possibilidades de promoção de cuidados com a própria saúde, com a saúde da família e da comunidade. • Direito à saúde, garantindo acesso aos serviços de saúde. • Prevenção e controle das condições psicossociais, econômicas, cultu- rais e ambientais que interferem na saúde e na nutrição. • Oportunidades para o desenvolvimento pessoal e social. (ABRANDH, 2013; FREITAS; SALDIVA, 2007). Pesquise mais Saiba mais sobre a Segurança Alimentar e Nutricional no artigo: RIBEIRO, C. da S.; PILLA, M. C. B. A. segurança Alimentar e Nutricional: interfaces e diminuição das desigualdades sociais. DEMETRA: Alimen- tação, Nutrição & saúde. Curitiba – PR, v.9, n.1, p. 41-52, out. 2014. Em 1996, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) organizou a Cúpula Mundial da Alimentação em Roma e, a partir de então, o direito humano à alimentação adequada e a garantia da segurança alimentar e nutricional passam a estar associados de forma definitiva (ABRANDH, 2013; SILVA, 2014). Com base nesse evento, os representantes do Brasil organizaram um grupo de trabalho para continuar a luta em busca da SAN e, no final de 1998, realizaram o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN) (ABRANDH, 2013). Em 1999 é publicada a primeira Política Nacional de Alimentação e Nutrição, que foi construída dentro da perspectiva da promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Assim como esta, muitas outras iniciativas e eventos acontecerem até o ano de 2003, quando o CONSEA, que havia sido extinto em 1994, foi recriado com a incorporação da terminologia 14 nutricional em seu nome, passando a ser chamado de Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (FREITAS; SALDIVA, 2007). No ano de 2004 aconteceu a II Conferência Nacional de SAN. (ABRANDH, 2013; FREITAS; SALDIVA, 2007), marco importante do processo histórico em questão. Nesse evento ocorrido em 2004, as dimensões alimentar e nutricional foram, de fato, incorporadas ao novo conceito de SAN, e a elas somaram-se outras duas: a soberania alimentar e a sustentabilidade no âmbito ambiental, econômico e social. Assimile Figura 1.1 | Componentes que envolvem o conceito de SAN Fonte: elaborada pela autora. Você sabe o que é Soberania Alimentar? De acordo com o CONSEA (BRASIL, 2017), soberania alimentar é um princípio essencial para garantir a SAN. 15 Diz respeito ao direito que tem os povos de definirem as políticas, com autonomia sobre o que produzir, para quem produzir e em que condições produzir. (...) significa garantir a soberania dos agricultores e agricultoras, extrativistas, pescadores e pescadoras, entre outros grupos, sobre sua cultura e sobre os bens da natureza (BRASIL, 2017, [s.p]). A principal deliberação deste encontro de 2004 foi a criação da Lei sobre o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que em 2006 é aprovada como Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN e passa a instituir o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN. (FREITAS; SALDIVA, 2007). A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN é vista como o principal marco legal de luta e busca pela SAN no Brasil. Da mesma forma, o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN tem grande importância por ser um sistema público de gestão participativa e intersetorial que possibilita a articulação entre os três níveis de governo para a implementação e execução da Política de Segurança Alimentar e Nutricional. Mais adiante, no decorrer da disciplina, aprofundaremos a discussão e a compreensão sobre essas temáticas. Desde então, temos como definição de SAN: Consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessi- dades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006, [s.p]). Exemplificando Na rotina de um nutricionista, é preciso que qualquer indivíduo ou população que esteja sob seus cuidados nutricionais receba orientações ou até mesmo uma alimentação que siga os preceitos envolvidos no conceito de SAN. Por exemplo, num hospital ou numa unidade de alimentação e nutrição, é ideal planejar um cardápio que se baseie nesse conceito, fazendo escolhas de ingredientes que promovam saúde, respeitem a 16 cultura alimentar do cliente, garanta a qualidade nutricional e sanitária desejada, além de pensar na sustentabilidade. Da mesma forma, num consultório, ambulatório ou em uma unidade básica de saúde, todos os públicos, de todos os ciclos de vida, necessitam de orientações que levem ao acesso a alimentos com as mesmas garantias citadas anterior- mente. De fato, não é fácil garantir a SAN absoluta, já que muitos são os fatores que interferem negativamente e levam à insegurança alimentar e nutricional de uma população como um todo. No entanto, enquanto nutricionista é seu papel lutar junto a todos os membros da sociedade pela mudança dessa realidade. No ano de 2007, aconteceu a III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e, dentre várias discussões e encaminhamentos, foram propostas diretrizes e prioridades para a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - PNSAN (FREITAS; SALDIVA, 2007), que foi instituída em 2010 pelo Decreto nº 7272, o qual também estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2010). Durante todo o percorrer da história que envolve a temática da SAN, nota-se o quanto as preocupações com a erradicação da fome foram propul- soras desse movimento e continuam sendo foco de intervenção, porém agora somada a preocupações com a qualidade do que se consome. Pesquise mais A Organização das Nações Unidas (ONU) propôs 17 Objetivos para transformar nosso mundo. Leia no site da ONUBR o texto que se refere ao Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. O objetivo 2 destaca a erradicação da fome, o alcance da SAN e a preocupação com a agricultura sustentável. Além disso,descreve de forma sucinta as metas práticas e os prazos para alcançá-las, com vistas a um mundo melhor para todos. Ainda teremos oportunidade de aprofundar nossos conhecimentos sobre a PNSAN e sobre o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Neste primeiro momento, o nosso intuito é entender toda a complexidade de evolução do conceito de SAN, os processos que levaram à sua construção e os movimentos ocorridos para chegarmos à definição que temos hoje. Para que você possa vislumbrar esses conceitos de maneira mais didática, observe a Figura 1.2. 17 Figura 1.2 | Marcos históricos e legais relacionados à SAN no Brasil e no mundo Fonte: adaptado da autora. 18 Sem medo de errar Vamos retomar a situação-problema apresentada no início desta seção e alinhar as nossas conclusões. Em um evento de capacitação do Ministério da Saúde, o profissional nutricionista faz questionamento aos participantes sobre a relação entre o processo evolutivo de SAN até sua definição nos dias atuais, justamente para avaliarem se o padrão alimentar da população brasileira, como o excessivo consumo de açúcar, é uma situação de insegurança alimentar e nutricional. Você, sendo um desses participantes, o que responderia? Diante do processo de construção e evolução do conceito de SAN, foi possível notar que passamos da problemática principal da falta de acesso aos alimentos e da fome, para problemas relacionados à qualidade nutricional e à quantidade do alimento consumido, o que foi incorporado também na nomenclatura e na definição de SAN. A partir do processo de urbanização e do crescimento tecnológico, a indústria de alimentos passou a ganhar força e a produzir alimentos, muitas vezes com menor custo, mas também com pior qualidade nutricional, isto é, alto valor energético, decorrente do elevado teor de açúcar, gordura, sódio, conservantes e outros produtos químicos, como os agrotóxicos; e baixo teor de nutrientes. Em decorrência do acesso da população a esses alimentos, seja por custo ou pela praticidade que aparentam ter, o padrão alimentar do brasileiro foi mudando, sua cultura alimentar tem sido perdida pouco a pouco e a fome oculta está cada dia mais presente no quadro de saúde dos brasileiros. Com isso, a socie- dade se mantém numa situação de insegurança alimentar nutricional, não por falta de alimento, mas por falta de qualidade daquilo que consumimos. Essa situação, juntamente com o sedentarismo, tem sido a principal causa para nosso perfil epidemiológico atual, em que as doenças que mais levam à internação e mais levam à morte são as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), que, por sua vez, estão diretamente relacionadas às escolhas alimentares que estamos fazendo. Nesse sentido, compreender esse conceito é essencial para sua atuação futura como nutricionista, considerando que todas as áreas de atuação profis- sional precisam buscar por melhores padrões de alimentação que resultem em melhores condições de saúde a todos. Além disso, vale ressaltar que diante da complexidade do que estamos tratando, a qual envolve questões sociais, econômicas, culturais e interesses das grandes indústrias; torna-se evidente o quanto os movimentos políticos e governamentais de luta pelo combate à fome e às carências nutricionais e de preocupação com SAN precisam ser 19 reconhecidos e valorizados, para que possamos mudar essa realidade mesmo que a longo prazo. Avançando na prática Perfil nutricional e alimentar de população usuária de banco de alimentos - atuação do nutricionista frente à essa realidade Atuando como nutricionista em um banco de alimentos, frequentemente você se depara com população que vive em situação de vulnerabilidade e que convive com dificuldades financeiras e aspectos sociais que interferem no seu acesso à alimentação, como o desemprego. Em parceria com a equipe de saúde de uma UBS da região, você promove uma ação de vigilância alimentar e nutricional para realização de avaliação antropométrica (coleta de peso, estatura e cálculo de IMC) dos frequenta- dores do banco de alimentos, solicitação de exames bioquímicos para aqueles que apresentam sinais de carência nutricional e coleta de dados sobre o padrão alimentar utilizando um questionário de frequência alimentar. Após tabularem os dados, percebe-se que mais de 50% da população avaliada apresenta excesso de peso, a carência nutricional mais prevalente foi a anemia ferropriva. O grupo faz pouco consumo de frutas, verduras e legumes, alimentos que podem ser retirados no banco de alimentos duas vezes por semana, e consome muito suco em pó, refrigerante, macarrão instantâneo, salsicha e bolachas recheadas. Ao conversar em grupo com os avaliados, nota-se que as famílias preferem retirar os alimentos no banco, mas não sabem como prepará-los. Eles alegam que apenas consomem esses alimentos na forma de salada, cozidos ou a fruta in natura e dizem não gostar muito dos sabores, chegando às vezes a perde-los e não os utilizar. Também relatam que as crianças não aceitam esses alimentos, tendo preferência por aqueles que foram citados como os mais consumidos, então, para evitar ter que fazer mais de um tipo de prepa- ração, acabam consumindo aquilo que as crianças gostam e comprando esses alimentos com muito esforço, às vezes até chegando a usar o dinheiro que era destinado para outras necessidades. Diante dessa situação, que tipo de intervenção você proporia a essas famílias? 20 Resolução da situação-problema Para lidar com essa situação, é importante levarmos em conta e retomarmos as dimensões do conceito de SAN, que se dividem em dimensão alimentar e dimensão nutricional. Enquanto nutricionista, é preciso considerar a dimensão alimentar e, portanto, poderia trabalhar com essas famílias a respeito da importância e papel do banco de alimentos como medida emergencial para o acesso a alimentos e a importância de empoderar e direcionar essas famílias, princi- palmente aquelas em situação de maior vulnerabilidade social para outros serviços, no sentido de oferecer suporte para que possam alcançar a autos- suficiência e a autonomia para suas necessidades básicas. Também poderia buscar parcerias para promover ações na região que envolvam a interseto- rialidade (serviços de educação, saúde, assistência social, igrejas e outros) e que contribuam para a geração de renda, melhoria da escolaridade, formação profissional, apoio para busca de empregos, confecção de currículos, etc. Nesse contexto, há ainda a dimensão nutricional que precisa ser trabalhada com essas famílias, podendo ocorrer com ações periódicas, com os diversos grupos populacionais atendidos, ou seja, ações de educação alimentar e nutricional com as crianças e adolescentes no sentido de estimular e promover o consumo de alimentos como os vegetais e frutas; com os adultos e idosos ensinando e compartilhando formas de preparo diferentes para esses alimentos, contribuindo para a redução do desperdício e também para uma alimentação de melhor qualidade nutricional que possa atender às neces- sidades nutricionais de seus consumidores, evitando problemas de saúde relacionados à má alimentação, como o excesso de peso e outras DCNT e, até mesmo, tratamento e prevenção das carências nutricionais, dentre elas, a anemia ferropriva. 21 Faça valer a pena 1. Em todo o mundo, principalmente por conta dos períodos pós-guerra, em que muitos países passavam por situações de escassez de alimentos, dificuldades de produção e de acesso aos alimentos; muitos movimentos começaram a acontecer e culminaram no que hoje temos estabelecido como segurança alimentar e nutricional. A respeito dos marcos históricos e legais mais importantes no Brasil, assinale a alter- nativa que apresenta mobilizações que aconteceram em território nacional e foram de extrema relevância para a construção do conceito e das mobilizações em prol da SAN. a. Criação da FAO e Conferência Internacional de Nutrição. b. Criação do CONSEA,instituição da LOSAN e do SISAN. c. Surgimento da ONU e 8ª Conferência Nacional de Saúde. d. Revolução verde e promulgação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. e. I Conferência Mundial de Alimentação e Nutrição e III Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. 2. Segundo a Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos, o conceito de segurança alimentar e nutricional passou por algumas definições e foi evoluindo de acordo com a história da humanidade, suas preocupações e problemáticas. Com base no texto, escolha a alternativa correta a respeito da evolução do conceito de segurança alimentar e nutricional. a. A terminologia “segurança alimentar e nutricional” já existia anteriormente ao período da Primeira Guerra Mundial. b. As preocupações com as questões de segurança alimentar começaram no Brasil em 2006 quando foi instituída a Lei Orgânica de Segurança Alimentar. c. As preocupações com a segurança alimentar começaram com a qualidade dos alimentos que eram ofertados às populações em situação de pobreza e fome. d. A nomenclatura “nutricional”, no Brasil, foi inserida na terminologia “segurança alimentar e nutricional” após a instituição da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. e. O conceito de segurança alimentar e nutricional surgiu inicialmente apenas com as preocupações voltadas à dimensão alimentar, por isso, por algum tempo foi chamado apenas de segurança alimentar. 22 3. A definição de SAN em uso atualmente e instituída a partir da LOSAN, diz que ela Consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006, [s.p]). A partir da leitura e da compreensão desse conceito, escolha a alternativa que repre- senta a interpretação adequada. a. Trata-se da defesa da igualdade social econômica em busca da redução da pobreza e das carências nutricionais, a partir de uma alimentação rica em nutrientes. b. É entendida como um movimento que busca defender o direito à alimentação e erradicação da fome com qualquer tipo de produto alimentício que possa ser ofertado. c. É vista como um direito de todos ao acesso contínuo a alimentos de quali- dade, de forma a promover saúde, e em quantidade suficiente, sem que outras necessidades básicas sejam comprometidas, respeitando as tradições cultu- rais e preocupando-se com a sustentabilidade. d. Preocupa-se com as questões ambientais e econômicas, preconizando o uso de alimentos orgânicos, dieta vegetariana e redução no consumo de alimentos ultraprocessados. e. Busca promover saúde por meio de uma alimentação saudável, baseada em programas de transferência de renda e ajudas humanitárias. 23 Seção 2 Segurança e soberania alimentar Diálogo aberto Vamos dar continuidade aos estudos sobre a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Nesta seção, vamos falar sobre o conceito de soberania alimentar para que você possa compreendê-lo e conhecer tudo o que está atrelado a ele, como as questões de produção, distribuição e consumo de alimentos, além da relação com questões ambientais, culturais, econômicas e sociais. Nesta unidade, já abordamos o contexto, a problemática dos hábitos de vida e os padrões alimentares dos brasileiros, que culminaram em um aumento considerável das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Traçamos, ainda, um paralelo entre esse cenário e as deficiências nutricio- nais. A exemplo dos problemas atuais, há questões como o consumo exces- sivo de açúcar por grande parte da população do nosso país. Então, vamos ao nosso contexto de aprendizagem: você e o nosso nutricio- nista do Ministério da Saúde estão envolvidos em ações que buscam a segurança alimentar e nutricional. Vocês estão participando de um evento com profissio- nais de órgãos públicos de saúde e educação de todo o Brasil, empresas alimentí- cias e profissionais da mídia (jornais, revistas, sites e redes sociais). Os participantes foram divididos em grupos em uma oficina para realizar algumas discussões sobre como trabalhar a promoção da alimentação adequada e saudável, bem como o tema da soberania alimentar em serviços de saúde e educação municipais, mais especificamente, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e escolas. Considerando a problemática do consumo elevado de açúcar pela população brasileira e a necessidade de resgatar a cultura alimentar e incentivar a população a repensar suas estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, de que forma você, futuro profissional nutricionista, sugere trabalhar a temática da redução do consumo de açúcar. No trabalho com crianças e adolescentes no ambiente escolar e com adultos e idosos nas UBS, você deve incentivar o resgate da alimentação regional e a diversidade ambiental, cultural, econômica e social do consumo de alimentos. Para ajudá-lo a formular uma resposta à situação apresentada, iremos estudar, nesta seção, o contexto da definição de políticas e estratégias para produção, distribuição e consumo de alimentos, além do acesso a esses alimentos por parte da população. Veremos, ainda, como as práticas alimen- tares saudáveis são importantes na vida de uma nação e finalizaremos 24 discutindo a diversidade ambiental, cultural, econômica e social do consumo de alimento no Brasil. Bons estudos! Não pode faltar Após termos entendido mais sobre o conceito de segurança alimentar e nutricional, é importante que possamos agora compreender um outro conceito que sempre vem à tona quando estudamos essa temática, que é a soberania alimentar. Você já ouviu algo sobre esse termo? O conceito de soberania alimentar surgiu nos anos 90 no evento da Cúpula Mundial da Alimentação, apontado pela Via Campesina em seu Segundo Encontro Internacional. Foi criado a partir de uma nova forma de pensar sobre a liberdade do povo, que precisa ser soberano, o que está diretamente relacio- nado a questões voltadas para a alimentação. Essa questão foi vista como um enfrentamento e uma manifestação contrária às políticas agrícolas neolibe- rais impostas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e pelo Banco Mundial, ambos parceiros da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) (ARAÚJO, 2016; BOSQUILIA; PIPITONE, 2016). Assimile Via Campesina, o que é? Surgiu em 1992 quando lideranças camponesas da América e da Europa participavam de um Congresso de Agricultores e realizaram a proposta de criação de um movimento que articulasse os camponeses do mundo todo. Dessa forma, é considerada uma articulação mundial dos movimentos camponeses com o objetivo de reconhecer a diversi- dade do campesinato no mundo, construir relações de solidariedade e formas de desenvolver a agricultura garantindo a soberania alimentar, a preservação do meio ambiente com a proteção da biodiversidade (FERNANDES, 2019). As lutas pela soberania alimentar passaram a ter valor principalmente pelo entendimento de que “um povo que não consegue produzir o seu próprio alimento é um povo escravo. Escravo e dependente do outro país que lhe oferece as condições de sobrevivência” (STEDILE; CARVALHO, 2012, p. 720). Nesse contexto, as discussões a respeito da soberania alimentar possi- bilitaram aos movimentos camponeses a expansão de suas reivindicações, 25 incluindo temáticas como a exploração da natureza e a expropriação dos seus recursos pela agricultura mercantil; repudiando essa prática. Vislumbra-se, ainda, questionar a concentração de poder do sistema agroalimentar, argumen- tando sobre direitos, como o acesso aos alimentos e o poder de definir suas produções e políticas agrícolas (VINHA; SCHIAVINATTO, 2015). Segundo Machado (2017) em matéria publicada no site do Conselho Nacionalde Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), entende-se que soberania alimentar é: “O direito que tem os povos de definirem as políticas, com autonomia sobre o que produzir, para quem produzir e em que condi- ções produzir” (MACHADO, 2017, [s.p.]). Assim, a soberania alimentar vem se constituindo como uma luta por políticas públicas que discutam o direito de escolher que alimento produzir, onde e como, de forma a controlar os sistemas alimentares, incluindo modos de produção, culturas alimentares, meio-ambiente e também os próprios mercados. Nota-se que esse conceito tem uma dimensão política mais intensa do que a SAN, pois considera que para um país, cidade ou grupo populacional ser soberano e conseguir organizar sua forma de subsistência, a população precisa ter condições, apoio e os recursos necessários para a produção de seus alimentos (ARAÚJO, 2016). Sendo assim, há destaque e valorização da autonomia alimentar dos povos e do respeito da cultura alimentar e hábitos de cada país, assim como uma preocupação com a questão territorial relacionada à reforma agrária, geração de empregos, menor dependência das importações e preços do mercado exterior (BOSQUILIA; PIPITONE, 2016). Diante de sua complexidade, para alguns autores que estudam o assunto, o tema soberania alimentar pode ser entendido como um projeto social que se coloca contra os problemas do capitalismo e do modelo de agricultura industrial que tem responsabilidades na destruição e nas fragilidades atuais dos ecossistemas, reduzindo a agrobiodiversidade, além da contribuição para as dificuldades dos mercados locais e sistemas de produção campesina, contribuindo para o aumento da pobreza (ARAÚJO, 2016). Na atualidade, além das questões de cultivo e produção, existem outras preocupações, como privatização, o controle de sementes e sua engenharia genética, a expansão dos agrocombustíveis, que caminha para a superpro- dução capitalista, e os efeitos da globalização neoliberal, como os impactos na alimentação e na saúde decorrentes da expansão dos alimentos industria- lizados. O crescimento da fome e da desnutrição, caso haja insuficiência de alimentos no futuro devido a problemas ecológicos e ambientais, também é um ponto preocupante, entre outras demandas (BERNSTEIN, 2015). 26 A soberania alimentar deveria ser um direito incontestável, assim como o direito à alimentação saudável e culturalmente adequada, produzida de forma sustentável; no entanto, o modelo de desenvolvimento adotado pouco tem colaborado para seu alcance (BOSQUILIA; PIPITONE, 2016; CENTRO ECOLÓGICO, 2008). A conquista dessa soberania precisa ser uma respon- sabilidade compartilhada entre setor público e privado, levando à articu- lação de ações, programas e políticas que possam garantir o direito humano à alimentação para todos (BOSQUILIA; PIPITONE, 2016). Pesquise mais Consulte o artigo de Bosquilia e Pipitone, em que buscam compreender, na prática, como tem sido a inserção da luta pela soberania alimentar no Programa Nacional de Alimentação Escolar, identificando que o conceito de soberania alimentar ainda é pouco explorado pelo programa. BOSQUILIA, S. G. C. C.; PIPITONE, M. A. P. A Soberania Alimentar e o Programa Nacional de Alimentação Escolar no município de Piracicaba (SP) – concepções e redefinições. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, v. 23, n. 2, p. 973-983, 2016. E então, qual a relação da soberania alimentar com as práticas alimen- tares de uma população? Primeiramente, é importante ressaltarmos que o processo de desenvol- vimento crescente da industrialização dos alimentos por grandes empresas e a comercialização centrada em grandes redes varejistas trouxe à tona os problemas que culminaram na valorização pela busca da soberania alimentar. Esse aumento do poder nas redes de mercado levou à redução das alterna- tivas de comercialização e distribuição de alimentos e, por consequência, resultou na diminuição do poder dos agricultores quanto à negociação e preços (CENTRO ECOLÓGICO, 2008). Nesse sentido, além do que já foi apresentado a respeito da soberania alimentar, ela também defende e busca recuperar o poder do cultivo e produção de alimentos saudáveis, isento de agrotóxicos e sem origem trans- gênica (VINHA; SCHIAVINATTO, 2015). Ao pensarmos no conceito de alimentação adequada, é essencial consi- derar os diversos aspectos que envolvem o processo alimentar, valorizando aquela alimentação que contribui para o desenvolvimento de uma população empoderada de seus direitos e deveres, assim como sua qualidade e seu teor nutricional para a construção de seres humanos saudáveis, além de outras 27 questões como cultura, espiritualidade, religiosidade, amor, carinho, entre outras (BOSQUILIA; PIPITONE, 2016). A esse respeito, a soberania alimentar valoriza o direito à alimentação saudável com respeito ao meio ambiente para todas as pessoas e considera como essencial nos sistemas e políticas alimentares os desejos, necessidades e estilos de vida daqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos de forma a defender a causa antes de valorizar as demandas dos mercados e corporações (BOSQUILIA; PIPITONE, 2016; CIDAC, 2019). Ainda é preciso falar sobre a defesa da biodiversidade como parte da soberania alimentar. É realmente necessário dedicar atenção a esse item esse item, pois o modelo de produção e consumo atual não protege a biodiversidade, muito menos as tradições agrícolas e gastronômicas locais (CIDAC, 2019). Então, temos na agricultura familiar um exemplo prático de ação e de tipo de trabalho que buscam a soberania alimentar. Assimile Na agricultura familiar a gestão da propriedade é realizada pela família, que tem como fonte geradora de renda sua atividade produtiva agrope- cuária. O agricultor familiar tem uma relação particular com a terra, que é ao mesmo tempo sua moradia e seu local de trabalho. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em 2014 fez declarações afirmando que a agricultura familiar era conside- rada um movimento importante para o processo de erradicação da fome e para a concretização de sistemas agrícolas ambientalmente e socialmente sustentáveis no mundo todo (ARAÚJO, 2016). No Brasil, no âmbito político-governamental, a agricultura familiar brasi- leira tem como organismo responsável o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Há alguns anos vem ocorrendo ações que incentivam a agricultura familiar e mais atenção tem sido dada a essa iniciativa justamente por seu potencial enquanto protagonista do desenvolvimento socioeconô- mico sustentável. A exemplo, temos o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) criado em 1996 e depois ampliado a partir de 2004, há também a Lei da Agricultura Familiar instituída em 2006, que colocou o país como referência na criação de políticas públicas para a agricultura familiar entre os países do Mercosul (ARAÚJO, 2016). Há, também, o Plano Safra da Agricultura Familiar 2017/2020, que é um conjunto de ações e programas para o fortalecimento da agricultura familiar. 28 Pesquise mais Conheça a Lei 11.326, de 24 de julho de 2006 que estabeleceu importantes diretrizes para formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, BRASIL. Presidência da República. Não deixe de consultar, também, a cartilha que apresenta os dez eixos de atuação em busca do fortalecimento do setor, buscando a proteção do agricultor, a segurança da produção e as questões legais e jurídicas relacionadas ao assunto. BRASIL. Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvol- vimento Agrário. Casa Civil. Plano Safra da Agricultura Familiar 2017/2020. Brasília: Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, 2017. Além de sua potência no que diz respeito à produção alimentícia que valoriza a qualidade e a sustentabilidade, a agricultura familiar tem papel importante no que se refere ao desenvolvimentosocial e crescimento do país, pois é um caminho para novos empregos, geração e distribuição de renda e, consequentemente, redução da migração da população do campo para grandes centros para viver em condições de vulnerabilidade e precariedade social (ARAÚJO, 2016). Exemplificando Tendo em vista tudo que você leu a respeito da agricultura familiar, é interessante conhecer dados reais a respeito do nosso país. Segundo informações do próprio Ministério do Desenvolvimento Agrário: A agricultura familiar é um importante segmento para o desenvolvimento do Brasil. São aproximadamente 4,4 milhões de famílias agricultoras, o que representa 84% dos estabelecimentos rurais brasileiros. A agricultura familiar é econômica, vem dela 38% do valor bruto da produção agropecuária e o setor responde por sete em cada dez postos de trabalho no campo. A agricultura familiar é produtiva, pois é responsável pela produção de mais de 50% dos alimentos da cesta básica brasileira, sendo um importante instrumento de controle da inflação. (BRASIL, c2019, [s.p.]). 29 Vamos agora no âmbito da prática: como a agricultura familiar se conecta com o mercado para a distribuição e comercialização de alimentos? Os próprios agricultores buscam por alternativas de circulação de merca- dorias na perspectiva da soberania alimentar, buscando reduzir as interme- diações e fazendo alianças entre produtores e consumidores para usufruir dos benefícios da comercialização de seus produtos. Como exemplos temos as feiras livres, lojas de cooperativas de produtores ou consumidores, mercados institucionais; que precisam ser valorizados e incentivados a fim de fortalecer o setor e alcançar a soberania alimentar (CENTRO ECOLÓGICO, 2008) Diversas experiências em várias partes do mundo indicam que as feiras de agricultores têm um papel essencial na busca e construção de novos modelos de desenvolvimento rural, tendo como base a responsabilidade com relação ao uso dos recursos da natureza, cooperação e solidariedade. Dentre os diversos aspectos positivos, podemos citar o aumento da renda dos agricultores; os preços melhores para os consumidores, possibilitando o acesso ao produto ecológico à mais pessoas, a credibilidade do produto ecológico; o estímulo aos métodos de produção de base ecológica e o resgate da agrobiodiversidade; a autonomia para a família agricultora; a partici- pação das mulheres e jovens na comercialização e na própria organização da propriedade (CENTRO ECOLÓGICO, 2008). Nesses espaços, podemos visualizar o respeito pelos produtores/as, pela saúde dos consumidores/as, as preocupações com o meio ambiente, dando prioridade ao consumo de produtos locais e de época, pois dessa forma o uso de conservantes e outros aditivos é dispensável, além de redução de gastos e outras despesas com transportes intermediários, por exemplo (CIDAC, 2019). Reflita A agricultura familiar é parte muito importante dos movimentos em busca da soberania alimentar. No seu bairro ou na sua cidade existem programas ou ações que valorizem essa prática? Você já procurou saber se há alguma feira local com o objetivo de valorizar a agricultura familiar? É notável perceber que a busca pela soberania alimentar, apesar de um movimento antigo, ainda não obteve grandes avanços, uma vez que os esforços esbarram na força e nas pressões exercidas pelas grandes multina- cionais e indústrias agroalimentares, considerando que uma parte delas têm suas atividades baseadas no latifúndio, na monocultura, na exploração dos 30 trabalhadores, no trabalho infantil e no uso indevido dos recursos naturais e da tecnologia. Sendo assim, conhecer o assunto, as políticas públicas voltadas para essas questões, acompanhar criticamente as práticas de produção e comer- cialização dos alimentos, reivindicar soberania alimentar para todos é um trabalho coletivo de vários atores e, dentre eles, deve estar o nutricionista. Sem medo de errar Vamos retomar a situação-problema apresentada anteriormente, em que você e o nutricionista do Ministério da Saúde estão envolvidos em ações que buscam a segurança alimentar e nutricional. Vocês estão participando de um evento com profissionais de órgãos públicos de saúde e educação de todo o Brasil, empresas alimentícias e profissionais da mídia (jornais, revistas, sites e redes sociais). Considerando a problemática do consumo elevado de açúcar pela população brasileira, a necessidade de resgatar a cultura alimentar e incentivar a população a repensar suas estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, você, futuro profissional nutricio- nista, precisa elaborar sugestões para trabalhar a temática da redução do consumo de açúcar. Diante disso, alguns caminhos possíveis vão no sentido de buscar conscientizar a população sobre suas escolhas alimentares atuais. Como vimos, a alimentação desse grupo é rica em alimentos ultraproces- sados e em açúcar, portanto uma boa abordagem seria promover alternativas que resgatem hábitos alimentares locais e valorizem a alimentação natural de acordo com a cultura alimentar da família, cidade, estado e país. Nesse sentido, são algumas possibilidades de ação: realizar visita a uma feira de agricultura alimentar ou a uma feira de orgânicos, mapear junto com as pessoas da comunidade os espaços de comercialização ou distribuição de alimentos provenientes de agricultura familiar, incentivar a mobilização e a participação popular em busca de espaços e locais que comercializem alimentos preocupados com a soberania alimentar, mostrar os lados negativos do consumo frequente dos alimentos ultraprocessado, apresentando o teor de açúcar dos alimentos comumente consumidos pela população brasileira, de forma a indicar seus riscos à saúde. Além disso, é importante apresentar alimentos regionais que têm sido esquecidos pela população mostrando seu valor nutricional, resgatando valores familiares e lembranças, valori- zando a cultura alimentar das famílias e a importância econômica e social de priorizar o consumo de alimentos e produtos locais. Outra medida interes- sante seria promover ações que possam culminar em espaços comunitários para plantação e colheita de alimentos in natura, valorizando a alimentação 31 natural e os alimentos ricos em nutrientes, além do trabalho coletivo da comunidade em prol da economia, cultura e alimentação local. Baseado nessa “experiência” ficou mais fácil compreender o que é a soberania alimentar e como promovê-la na prática enquanto nutricionista? Essa compreensão facilitará a realização da atividade proposta como resul- tado de aprendizagem desta unidade de ensino, já que você poderá incluir a soberania alimentar em seu infográfico. Avançando na prática Em busca do incentivo à soberania alimentar Você é nutricionista de uma unidade básica de saúde e também atua em consultório. Ultimamente tem percebido que seu público vem se preocu- pando mais com as questões relacionadas à alimentação e ao meio ambiente e entende ser necessário fazer mas conversas com seus pacientes/clientes a respeito disso, pensando além das questões nutricionais e de saúde obtidas pela alimentação. Neste sentido, você gostaria de oferecer mais orientações que incentivassem esse público a buscar a segurança alimentar e nutricional e fortalecesse a soberania alimentar. Quais seriam as orientações que você poderia fornecer a esses pacientes para atingir esse objetivo? Resolução da situação-problema Primeiramente seria interessante que, enquanto profissional, você conhe- cesse na sua região de trabalho, sabendo se há ou não locais que comercia- lizam produtos de agricultura familiar, por exemplo, e alimentos orgânicos de pequenos produtores. É importante saber, também, se há espaços como hortas comunitárias ou bancos de alimentos com esses tipos de produtos a fim de indicar a seus pacientes/clientes a ida a esses locais. No entanto, é essencial conhecer o valor de venda desses itens e também o poder decompra da população que atende, de forma a não gerar frustrações ou dificuldades no acesso aos alimentos que orientará para consumo. Caso não haja nada nesse sentido na região, um outro caminho é favorecer a mobili- zação da comunidade para a reivindicação de espaços como as feiras livres de agricultura familiar no bairro, espaços comunitários para cultivo, plantação e colheita de alimentos. Por fim, orientar e reforçar os cuidados com o meio 32 ambiente, desde a compra dos alimentos até o preparo evitando desperdício de alimento e de água, são caminhos possíveis. Faça valer a pena 1. O conceito de Soberania Alimentar surgiu nos anos 90 e foi criado a partir de uma nova forma de pensar sobre a liberdade do povo, que precisa ser soberano e ter autonomia sobre o que, para quem e em que condições produz. Avalie as alternativas a seguir e escolha aquela que apresenta a definição de soberania alimentar. a. Trata-se de uma luta por políticas públicas que discutam o direito de controlar seus sistemas alimentares. b. É praticamente um sinônimo de segurança alimentar e nutricional. c. Preocupa-se exclusivamente com questões voltadas à reforma agrária e à produção agrícola. d. Questões voltadas à cultura alimentar não fazem parte deste conceito. e. Para alcançá-la é preciso haver esforços apenas do setor público. 2. Entende-se por agricultura familiar a gestão de uma propriedade sendo realizada por uma família, que tem uma relação particular com a terra onde mora e trabalha com uma atividade produtiva agropecuária, sendo essa a sua fonte geradora de renda. Avalie as afirmações abaixo e assinale a alternativa que diz respeito a uma verdade sobre a agricultura familiar. a. No Brasil, no âmbito político-governamental, a agricultura familiar brasileira tem como organismo responsável o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). b. A agricultura familiar é importante apenas pela capacidade de produção de alimentos livres de agrotóxicos, com pouca relevância no que diz respeito à geração de empregos e renda. c. É considerada um movimento importante para o processo de concretização de sistemas agrícolas ambientalmente e socialmente aceitáveis no mundo todo. d. A conexão entre produção proveniente de agricultura familiar e consumidor se dá por meio da venda desses produtos em grandes redes de hipermercados e redes de restaurantes que usam a mercadoria. 33 e. No Brasil ainda não pode ser considerada produtiva, pois ainda tem pouca contribuição nos percentuais de produção de alimentos no Brasil, alcançando apenas 15% dos alimentos da cesta básica brasileira. 3. A soberania alimentar deveria ser um direito incontestável, assim como o direito à alimentação saudável e culturalmente adequada, produzida de forma sustentável; no entanto, o modelo de desenvolvimento adotado pouco tem colaborado para seu alcance. Buscando fazer uma correlação entre o conceito de soberania alimentar e as práticas alimentares saudáveis, analise as afirmações, indicando V para verdadeiro e F para falso. I. O processo de desenvolvimento crescente da industrialização dos alimentos por grandes empresas e a comercialização centrada em grandes redes varejistas não favorece a soberania alimentar. II. O poder de venda e negociação de preços das redes de mercado diminuiu o poder dos agricultores quanto à negociação e preços. III. Defende o cultivo e produção de alimentos saudáveis, isento de agrotóxicos e sem origem transgênica. IV. O modelo de produção e consumo atual não protege a biodiversidade, muito menos as tradições agrícolas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. a. F – V – F - V. b. V – V – F - V. c. V – F – F - V. d. V – V – V - V. e. F – V – V - V. 34 Seção 3 Direito Humano à Alimentação Adequada e alcance da SAN Diálogo aberto Nesta seção vamos estudar um pouco mais a respeito do Direito Humano à Alimentação Adequada. Apesar de alguns avanços já terem sido alcan- çados, trata-se de uma situação que, infelizmente, ainda é um ponto preocu- pante em nosso país. Em decorrência de seu hábito alimentar, a população brasileira vem sofrendo com aumento da obesidade e das doenças crônicas não transmissí- veis associadas a carências nutricionais. Essa situação tem relação direta com o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), principalmente no que diz respeito ao direito a uma alimentação saudável. Pensando nessa problemática, vamos continuar a nossa busca por viven- ciar a realidade de trabalho do nutricionista apresentado no contexto de apren- dizagem desta unidade. Como vimos, o profissional é um servidor público do Ministério da Saúde e está envolvido em ações que buscam alcançar a SAN e o Direito Humano à Alimentação Adequada. Vamos supor que você seja esse nutricionista e recebe uma incumbência de seu gestor direto para organizar uma reunião com outros setores do governo, convidando represen- tantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Cidadania, Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A temática da reunião será: “Acesso à alimentação: condições físicas e econômicas, direito, garantia jurídica e busca por sustentabilidade”. Diante disso, você deve levar para a discussão as questões que, na sua opinião, repre- sentam as dificuldades atuais vividas pela sociedade brasileira. Organize-as em tópicos e elabore propostas de ações para melhorar essa realidade. Não pode faltar Já falamos bastante a respeito da Segurança Alimentar e Nutricional e, nesse contexto, é impossível não abordarmos o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). 35 Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU): Os direitos humanos são comumente compreendidos como aqueles direitos inerentes ao ser humano. O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos humanos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza. Os direitos humanos são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana. (ONU, c2019, [s.p.]) Dessa forma, é possível entender que direitos humanos são aqueles funda- mentais a qualquer pessoa e essenciais para garantir a todos a existência de uma vida digna. Dentre eles, está o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), já que a alimentação é uma necessidade básica do ser humano (SILVA; CAMARGO; MONTEIRO, 2017). A garantia de todos os direitos humanos, inclusive da alimentação, é responsabilidade do Estado (Governo) e da sociedade, em âmbito nacional e internacional, de forma a assegurar a todos, sem qualquer distinção, o acesso a uma alimentação adequada quantitativa e qualitativamente (SILVA; CAMARGO; MONTEIRO, 2017), buscando também o alcance da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). O Estado, enquanto responsável pela garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) também precisa se desdobrar em outras responsabilidades como: • Obrigação de respeitar: não pode adotar medidas que levem à alguma privação da capacidade de indivíduos ou grupos proverem sua própria alimentação. Para tanto, é preciso revisar suas políticas e programas com vistas ao DHAA. • Obrigação de proteger: impedir que indivíduos, grupos, empresas ou entidades violem o DHAA de pessoas ou grupos populacionais. • Obrigação de promover: deve criar condições que permitam a reali- zação efetiva do DHAA, de forma a promover atividades que possam fortalecer a garantia dos direitos humanos e também reparar as situa- ções de violação. Exemplos: promoção da reforma agrária, garantia da função socioambiental da terra, fortalecimento de formas susten- táveis de produção, garantia de acesso à renda, entre outros. 36 • Obrigação de prover: deve prover alimentos diretamente a pessoas ou grupos incapazesde consegui-los por conta própria, até que tenham condições de fazê-lo. Isso pode ser feito por meio de transferência de renda ou renda básica, de entrega de alimentos ou de outras formas de seguridade social (BRASIL, 2017). No entanto, não podemos achar que a busca pelo DHAA é um dever apenas do Estado, pois é também responsabilidade de toda a sociedade civil, sendo importante a conscientização e a mobilização social para luta e conquista desse direito, sem apenas ficar esperando as ações do governo. Por isso, debates a respeito do DHAA e da segurança alimentar e nutricional precisam ter uma abordagem intersetorial e multiprofissional em prol de sua concretização, considerando os vários fatores e a complexidade que envolvem esses assuntos. Ao abordarmos o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), em geral, os conceitos remetidos ao tema envolvem disponibilidade de alimentos, adequação, estabilidade, acessibilidade a alimentos produzidos e consumidos de forma digna, soberana, sustentável e emancipatória. Isso porque o DHAA tem duas dimensões, que são: o direito de estar livre da fome e o direito à alimentação adequada. É essencial, portanto, que haja a realização dessas duas dimensões para se considerar que este direito está sendo alcançado (BRASIL, 2017). Assimile Figura 1.3 | Dimensões do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) Fonte: adaptado da autora. 37 Diante da relevância do tema e do papel do Estado em garantir o DHAA, é preciso dizer que apesar de ainda não ter atingido o ideal, o Brasil tem avançado de forma positiva no desenvolvimento de políticas públicas e projetos que favorecem a SAN e o DHAA (SILVA; CAMARGO; MONTEIRO, 2017). Isso pode ser notado com dados que mostram que no Brasil, nas últimas décadas, cerca de 40 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema, princi- palmente devido a diversos programas de proteção social e também pelo avanço socioeconômico ocorrido no país, com isso, consequentemente houve significativa redução da fome e da desnutrição (SILVA, 2018). Esses dados são obtidos pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em parceria com outras agências do sistema da ONU, por meio do relatório do Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI, na sigla em inglês). Em 2014, o SOFI indicou que, no ano anterior, menos de 5% da população brasileira sofria de fome. Esse resultado mostrou que o país havia saído do Mapa da Fome no mundo. No entanto, a partir de 2016, em razão da crise econômica, do aumento do desemprego e da diminuição dos investimentos em programas de proteção social, começa a haver uma preocupação com o aumento do índice de pobreza e da fome no Brasil, já que a pobreza é um dos principais fatores no mundo que impedem o acesso da população aos alimentos (SILVA, 2018). Até 2016, não houve aumento significativo da fome no Brasil, que ainda acometia menos de 2,5% da população. Apesar desse cenário, dados do IBGE de 2018 sinalizaram um aumento da extrema pobreza no país em cerca de 11% entre 2016 e 2017 (de 13,3 para 14,8 milhões de pessoas). Esses dados podem refletir o aumento do número de pessoas que passam fome no país, sendo um ponto de alerta para os governantes, profissionais da saúde e socie- dade civil (SILVA, 2018). Pesquise mais No artigo intitulado A fome e o Direito Humano à alimentação Adequada (DHAA) em filmes e documentários brasileiros, os autores fazem uma avaliação crítica a respeito da abordagem de temas como a fome, a desnu- trição e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Esse trabalho fará com que você entenda melhor os conceitos e a realidade brasileira. SILVA, J. R. A.; CAMARGO, E. B.; MONTEIRO, R. A. A fome e o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) em filmes documentários brasileiros. Com. Ciências Saúde, v. 28, n. 2, p. 205-215, 2017. 38 Algumas estratégias são comumente usadas no sentido de minimizar essa problemática, como a busca por alimentos provenientes de sobras de feiras livres, o recebimento de doações e o apoio de lideranças religiosas (CASEMIRO; VALLA; GUIMARÃES, 2010). Exemplificando Nos anos 80, era comum o uso da multimistura como estratégia de melhorar e/ou recuperar o estado nutricional especialmente de gestantes, nutrizes e crianças de baixo peso. A multimistura era um composto obtido a partir de farelos de trigo e arroz, farinha de trigo torrada, fubá, folhas verde-escuras, pó de sementes e de casca de ovo. Além de não haver comprovação científica de sua eficácia, após alguns anos de avaliação e discussão, o Conselho Federal de Nutricionistas publicou em 2009 um posicionamento sobre a multimistura. Dentre diversos aspectos a serem considerados está: A utilização de partes de alimentos, como farelos, cascas e outros subprodutos resultado de sua limpeza, não devem ser utilizados por seres humanos deprimidos social e econo- micamente como solução das questões de fome e pobreza destas populações, por contrariar o direito humano a uma alimentação adequada, saudável e que respeite o hábito alimentar da população (CONSELHO FEDERAL DE NUTRI- CIONISTAS, 2010, p. 3). Embora essas ações ajudem a reduzir os impactos desse problema social, um estudo feito com famílias em situação de insegurança alimentar no meio urbano apresentou relatos de constrangimentos, vergonha, humilhação, degra- dação, sensação de se sentirem diminuídos; o que faz todo sentido já que esse tipo de caminho para garantir a alimentação não garante nem qualidade, nem mesmo quantidade de alimento; além de impossibilitar o direito de escolha e o acesso de forma digna à alimentação. Nesses casos, é preciso trabalhar a autoestima desses indivíduos de forma que consigam retornar ao meio social se sentindo valorizados e capazes de adquirir seus alimentos por meios próprios ou de forma que não se sintam menosprezados por precisarem pedir ajuda a outras pessoas (CASEMIRO; VALLA; GUIMARÃES, 2010). De fato, essa é uma situação difícil de lidar e a prática assistencialista e clientelista acaba sendo utilizada, pois “não se pensa no futuro (previsão) porque todas as energias estão mobilizadas para evitar a sensação de fome 39 que já havia passado, e garantir a subsistência no dia de hoje (provisão)” (VALLA, 2001 apud CASEMIRO; VALLA; GUIMARÃES, 2010, p. 2091). Reflita O Dia Mundial da Alimentação é celebrado no dia 16 de outubro, data de fundação da FAO, que aconteceu em 1945. Essa data foi criada justa- mente para estimular a sensibilização e a ação em nível mundial a favor das pessoas que sofrem com a fome e também para buscar a garantia da segurança alimentar e nutricional para todos. No ano de 2018, a FAO lançou uma campanha para acabar com a fome no mundo até 2030, cujo tema foi: “Nossas ações são nosso futuro. Um mundo #fomezero para 2030 é possível” (traduzido para o português). (CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS, 2018, [s.p.]). Pensando nessa proposta, o que você, enquanto nutricionista, poderia fazer para contribuir? Nesse contexto, além da preocupação com a condição socioeconômica dos brasileiros, também existe uma preocupação com o crescimento popula- cional no Brasil e no mundo, que pode gerar problemas no que diz respeito a garantia de acesso a alimentos a todos, o que afetará o DHAA. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em relatório intitulado Perspectivas da População Mundial: a revisão de 2017, a previsão de crescimento populacional é de cerca de 10 bilhões de pessoas no mundo até 2050. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que haja um crescimento de mais de 14 milhões de pessoas até 2030, fazendo com que a população brasileira alcance o número de cerca de 223 milhões de habitantes (TELES, 2018). Diante dessa situação, o que entra em discussão é justamente pensar em estratégias para que a garantia de uma alimentação adequada e perma- nente seja protegida; além de contribuir para a sustentabilidade e a não degradaçãono planeta Terra. Os problemas relacionados à alimentação e ao meio ambiente são bastante complexos por envolverem questões como a água, mudanças climáticas, demografia, ecologia, urbanização, entre outros (RIBEIRO; JAIME; VENTURA, 2017). Essa preocupação com a sustentabilidade e com a produção de alimentos não é tão recente e tem motivado alertas da comunidade científica há algumas décadas. No entanto, o que vem ganhando destaque e relevância são as questões voltadas à promoção de uma agricultura sustentável que resulte 40 em ações e políticas voltadas à valorização do agricultor e à capacidade produtiva das terras brasileiras (IBGE, 2018). Como alternativas práticas, algumas ações são recomendadas para que seja possível aumentar a quantidade e o acesso a alimentos produzidos no Brasil. Diante de tudo o que vimos, foi possível perceber que a efetivação e o alcance do DHAA dependem de muitos fatores, são eles: sociais, econô- micos, culturais, educacionais, entre outros. Por isso, as ações intersetoriais são essenciais na busca pelo DHAA, além da necessidade da participação popular e de parcerias mais justas, éticas e duradouras. Sem medo de errar Nesta seção, apresentamos uma situação-problema, em que você seria um nutricionista que trabalha no Ministério da Saúde e que está envolvido em projetos que buscam alcançar a SAN e o Direito Humano à Alimentação Adequada. A sua tarefa era fazer uma reunião com representantes de diversos órgãos governamentais, cujo tema seria: “Acesso à alimentação - condições físicas e econômicas, direito, garantia jurídica e busca por sustentabilidade”. Você deve levar para discussão as dificuldades atuais vividas pela população brasileira e as propostas de ações para melhorar essa realidade. Diante do que foi lido nesta seção de estudos, é importante ter clareza de que a efetivação e o alcance do DHAA estão relacionados a muitos fatores, como questões sociais, econômicas, culturais, educacionais, entre outras. Nesse sentido, poderiam ser parte dos tópicos de discussão desta reunião: • A situação atual relacionada a problemas socioeconômicos, como desemprego e baixa escolaridade, que resultam em dificuldades finan- ceiras. Neste item, propostas como cursos de capacitação profissional poderiam contribuir para a melhoria das condições socioeconômicas. • A condição atual de proteção social às famílias mais vulneráveis. Dessa forma, a manutenção e/ou criação de novos programas sociais de transferência de renda e o seu monitoramento podem ser alter- nativas para situações emergenciais, ou seja, em casos em que há falta de renda para alimentação e para outras condições básicas de sobrevivência. • As circunstâncias de produção de alimentos nas diferentes realidades locais do Brasil são uma problemática que precisa ser avaliada, a fim de garantir uma produtividade que alimente a todos e fortaleça a agricultura familiar. Dessa forma, promove-se a geração de emprego, 41 o aumento da renda e a melhoria das condições de vida de uma comunidade; além de evidenciar a importância da preocupação com o meio ambiente no que diz respeito a sua sustentabilidade. Você pode pensar em outros caminhos, mas é nítida a necessidade de ações intersetoriais para a busca pelo DHAA, além da necessidade da parti- cipação popular. Avançando na prática Direito à alimentação adequada e saudável no ambiente escolar Você é nutricionista do Programa de Alimentação Escolar de um município e é responsável pela programação do cardápio de alunos do ensino funda- mental. Durante seu planejamento, no que você precisa pensar e o que deve incluir no cardápio de forma a promover o DHAA durante o horário escolar? Resolução da situação-problema Considerando que o DHAA se divide em duas dimensões: direito de estar livre da fome (disponibilidade de alimento de forma ininterrupta) e direito à alimentação adequada (aspectos higiênicos sanitários, cultura alimentar, atendimento das necessidades nutricionais), todas essas questões precisam fazer parte do planejamento do cardápio das crianças do município para o qual você trabalha. Dessa forma, o planejamento do cardápio semanal, quinzenal ou mensal deve levar em conta a cultura alimentar da região onde atua, valorizando os alimentos regionais e as preparações típicas, sempre que possível. Além disso, deve ser construído considerando a faixa etária dos alunos, o período que passam na escola, as necessidades nutricionais diárias e o quanto precisa ser atendido no ambiente escolar. A preocupação com os aspectos higiê- nicos e sanitários durante o processo de transporte, o armazenamento e a produção dos alimentos também devem ser preocupações e responsabili- dades do nutricionista, sendo importante a realização de treinamentos com os manipuladores de alimentos e visitas periódicas para a fiscalização dos locais. O pedido, o planejamento de compras e a entrega nas escolas devem ser feitos de forma a garantir que haja alimento diariamente para crianças nos locais de ensino. 42 Faça valer a pena 1. A garantia dos direitos humanos, dentre eles o Direito Humano à Alimen- tação Adequada, inclusive da alimentação, é responsabilidade do Estado (Governo) e da sociedade. Assinale a alternativa que apresenta as responsabilidades e obrigações do Estado em busca do DHAA. a. Obrigação de assumir, garantir, cuidar e respeitar. b. Obrigação de respeitar, proteger, promover e prover. c. Obrigação de fazer, doar, promover e prover. d. Obrigação de respeitar, cuidar, proteger, assistir. e. Obrigação de doar, proteger, cuidar, assistir. 2. Direitos humanos são aqueles fundamentais a qualquer pessoa e essenciais para garantir a todos a existência de uma vida digna. Dentre eles está o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), já que a alimentação é uma necessidade básica do ser humano. A respeito do DHAA, trata-se de um conceito que tem duas dimensões. Analise as alternativas a seguir e assinale aquela que diz respeito às duas dimensões do DHAA. a. Direito de comer e direito à alimentação saudável. b. Direito de comprar alimentos e direito a alimentos ricos em nutrientes. c. Direito de estar livre da fome e direito à alimentação nutritiva. d. Direito de estar livre da fome e direito à alimentação adequada. e. Direito de comer e direito à alimentação adequada. 43 3. Existe uma previsão de crescimento populacional de cerca de 10 bilhões de pessoas no mundo até 2050. No Brasil, a estimativa feita pelo IBGE afirma que até 2030 haverá cerca de 223 milhões de habitantes. Diante dessa realidade futura, já existe uma preocupação a respeito da garantia do acesso a uma alimentação adequada e permanente de forma sustentável. A atenção em relação à sustentabilidade e à produção de alimentos não é algo recente e tem sido alvo da comunidade científica. A esse respeito, o que vem ganhando destaque e relevância são as questões voltadas à promoção de uma __________ que resulte em ações e políticas voltadas à valorização do _________ e da _________ das terras brasileiras. Escolha a alternativa adequada ao texto e que preencha as lacunas adequadamente. a. alimentação saudável / nutricionista / capacidade habitacional. b. agricultura sustentável / agricultor / capacidade produtiva. c. agricultura sustentável / mercado de alimentos / capacidade produtiva. d. alimentação saudável / agricultor / capacidade produtiva. e. agricultura sustentável / brasileiro / capacidade habitacional. Referências BRASIL. Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Direito Humano à Alimentação Adequada. 2017. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/consea/acesso-a.- -informacao/institucional/conceitos/direito-humano-a-alimentacao-adequada. Acesso em: 16 abr. 2019. CASEMIRO, J. P.; VALLA, V. V.; GUIMARÃES, M. B. L. Direito humano à alimen- tação adequada: um olhar urbano. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 15, n. 4, p. 2085-2093, Jul. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pil-
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