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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 3 2 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN) .................................... 4 3 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO BRASIL ......................................................................................................................6 4 DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR ...................... 10 4.1 Aspectos socioculturais ............................................................. 11 4.2 Fatores emocionais ................................................................... 11 4.3 Mídia/propaganda ..................................................................... 12 4.4 Gosto/sabor ............................................................................... 12 4.5 Aspectos socioeconômicos ....................................................... 13 5 MUDANÇA DE COMPORTAMENTO ALIMENTAR ................................... 14 6.1 Crianças .................................................................................... 19 6.2 Adolescentes ............................................................................. 21 6.3 Adultos ...................................................................................... 23 6.4 Idosos ........................................................................................ 25 6.5 Gestantes e nutrizes.................................................................. 27 7 A COMIDA, O ALIMENTO E A CULINÁRIA .............................................. 28 8 PRINCÍPIOS PARA AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL ................................................................................................. 29 9 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA ......................... 35 10 EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA ESCOLA ............................................ 39 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 41 12 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ....................................................... 46 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL (EAN) Fonte: Pixabay.com A Educação Alimentar e Nutricional (EAN), no contexto da realização do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), é um campo de conhecimento e de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. A prática de EAN deve fazer uso de abordagens e recursos educacionais problematizadores e ativos que favoreçam o diálogo junto a indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases do curso da vida, etapas do sistema alimentar e as interações e significados que compõem o comportamento alimentar (BRASIL, 2012, p. 23). O acesso à alimentação é um direito humano em si mesmo, na medida em que a alimentação constitui-se no próprio direito à vida. Negar este direito é antes de mais nada, negar a primeira condição para a cidadania, que é a própria vida (VALENTE, 2002, apud BURITY, 2010). A EAN é definida como uma prática contínua e permanente direcionada ao agir autônomo e voluntário, o que significa que esta não se efetiva mediante ações esporádicas, desarticuladas, não planejadas e desprovidas de processos educativos que resultem em uma leitura crítica e fundamentada da realidade em que a pessoa e os grupos vivem. O desenvolvimento da habilidade de pensar comportamentos e atitudes alimentares pessoais e de grupos tendo em vista a 5 alimentação saudável requer processos educativos duradouros que são necessários à criação de predisposições a hábitos alimentares saudáveis e ao viver saudável. Requer ainda ações pedagógicas incessantes de consolidação e reforço das atitudes que são requeridas para tais predisposições (BEZERRA et al 2018). De acordo com o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas (2012) a “EAN por ser um espaço de ação da SAN e da Promoção da Saúde é fundamental para a prevenção e controle dos problemas alimentares e nutricionais contemporâneos. Entre seus resultados potenciais identifica-se a contribuição na prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e deficiências nutricionais, bem como a valorização das diferentes expressões da cultura alimentar, o fortalecimento de hábitos regionais, a redução do desperdício de alimentos, a promoção do consumo sustentável e da alimentação saudável” (PONTES et al 2016). A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (Lei nº 11.346, de 15/09/2006, Art. 3º, apud SILVA 2012, p. 14). A educação alimentar e nutricional (EAN) tem por finalidade contribuir para a promoção e a proteção da saúde, através de uma alimentação adequada e saudável, desempenhando seu crescimento e desenvolvimento humano conforme as políticas públicas em alimentação e nutrição (PNAN, 2012). 6 3 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO BRASIL Fonte: Pixabay.com A EAN é reconhecida como estratégia que visa à promoção e a proteção da saúde por meio da criação de hábitos e estilo de vida mais saudáveis (PNAN, 2012). Por ser considerada uma forma estratégica de ação dentro das políticas públicas, ela irá contribuir de maneira significativa no controle do avanço das prevalências das doenças crônico-degenerativas (PONTES et al 2016). Ao analisar o contexto histórico da EAN no Brasil é possível relatar que seu interesse foi surgindo entre os anos de 1940 a 1970, desencadeando muitos “altos e baixos”. Durante sua caminhada, desenvolveram atritos entre a introdução de novos alimentos no mercado, criação de obstáculos entre a renda e alimentação, restrição de materiais informativos sobre o tema destinado ao público, além de prevalecer uma ausência de aproximadamente duas décadas por ser tratada como estratégia de ensinar ao pobre a alimentar-se. Desse modo, suas transformações estruturais no modelo econômico somente teriam resultados frente aos problemas alimentares para mudança nesse cenário de comportamentos (PONTES et al 2016). Assim somente em 1990 a 2000 a EAN foi retornando ao cenário, dando a população mais acesso a informação, norteando novamente suas ações, concebendo a alimentaçãocomo um direito humano. Oferecendo conhecimento das práticas alimentares e suas determinações e promoção da saúde para o 7 combate às doenças crônicas, além do enfoque na transmissão da dimensão técnica e política (AMPARO, 2010). Embora ainda haja pouca referência sobre sua estrutura teórico- metodológica, a EAN é apontada como uma ferramenta principal de estratégia no âmbito das políticas públicas. A partir desse contexto, a relevância da EAN está contida dentro dos programas oficiais brasileiros bem como, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) instituída no final do ano de 1990, que através de suas diretrizes deixam o Governo Federal ciente de sua coexistência e a população do direito à qualidade e a segurança dos alimentos, promovendo a promoção, prevenção e controle dos distúrbios nutricionais (PNAN, 2012). O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) se constitui de um exemplo para aplicação da EAN. O PNAE, criado pelo decreto nº 6.286/2007 gerenciado pelo Fundo Nacional da Educação (FNDE), tem por finalidade contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, aprendizagem, rendimento e a formação por hábitos saudáveis nos escolares através de ações de educação nutricional e, disponibilização de uma alimentação equilibrada e saudável (PNAE, 2015). Destacamos ainda, a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) lançada em 2006, onde aborda ações voltadas para a promoção da alimentação saudável, no qual abordagens semelhantes constam também na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), constituída pelo decreto nº 7.272/2010 que dispõe seus objetivos e diretrizes para promover a segurança alimentar e assegurar o Direito Humano a alimentação com base em fortalecimento das ações de alimentação em todos os níveis da atenção à saúde (CAISAN, 2011). Vale ressaltar a importância de dois marcos que norteiam as práticas da EAN sendo eles, o I Encontro Nacional de Educação Alimentar e Nutricional, que articulam um debate sobre o tema e suas diretrizes para as Políticas Públicas objetivando uma prática intersetorial, e a IV Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, que juntamente com a Oficina de Educação Alimentar e Nutricional realizada em 2012 pelo Word Nutrition Rio 2012, tiveram como meta compartilhar e abranger conceitos acerca de EAN no qual resultou no Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional que contribuiu para um conjunto 8 de ações públicas vinculadas a prática alimentar (MARCO DE REFERÊNCIA DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL 2012). A história da EAN no Brasil começou na década de 1940 e, no nosso país, é muito difícil falar do histórico da EAN sem falar dos programas e políticas públicas, pois estão intimamente relacionados. Alguns aspectos importantes marcaram a EAN a partir dos anos 1940 até os dias de hoje, e os mesmos estão ilustrados na figura 1 a seguir (SIMINO, 2018). Fonte: SIMINO, 2018. Então, como dito, o início pelo interesse na educação alimentar e nutricional no Brasil se deu na década de 1940 quando, também, se iniciou a industrialização e, também, a mulher começou a ser inserida e ter um papel mais presente no mercado de trabalho. Já nos anos 1950, aconteceu o ápice do êxodo rural, ou seja, as pessoas migraram para os centros urbanos (SIMINO, 2018). 9 Na década de 1970, um importante acontecimento foi o incentivo ao aproveitamento integral dos alimentos seguido, nos anos 1980, pela valorização dos nutrientes. Nos anos 1980, também, foi lançado um livro muito importante para a área de EAN (SIMINO, 2018). Os anos 1990 foram muito importantes e tiveram grande impacto, parte positiva, pois foi quando começaram os esforços para se falar sobre sustentabilidade, mas também foi quando a obesidade e as doenças crônicas não transmissíveis começaram a ganhar grandes proporções, com a transição nutricional. Nos anos 1990, também, a mídia começou a ter grande influência na alimentação e nos hábitos alimentares da população (SIMINO, 2018). Nos anos 2000, talvez por um reflexo da influência das mídias, houve uma alteração nos padrões de beleza e uma “imposição” pela magreza. Ainda nessa década, começaram a ter força os modismos nutricionais: ração humana, alimentos proibidos, chá verde, cafeína, suplementos, ovo como vilão (SIMINO, 2018). Já a partir de 2010, a ciência da Nutrição começou a entrar em alta, os estudos científicos nessa área se expandiram e a população começou a se interessar mais pelo assunto, o que nos trouxe aos dias atuais, em que existe uma grande dualidade: uma valorização da profissão do nutricionista, ao mesmo tempo que muitas pessoas leigas falam sem propriedade sobre o assunto e acabam prejudicando o trabalho conquistado pela EAN. Existe, atualmente, também uma grande influência das mídias digitais nos hábitos e comportamentos alimentares da população (SIMINO, 2018). 10 4 DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR Fonte: Pixabay.com Entender os meios pelos quais as mudanças de hábitos e comportamentos alimentares podem ocorrer é fundamental para o sucesso das intervenções em EAN e existem fatores diversos que podem influenciar no padrão alimentar das pessoas (Figura 2) (SIMINO, 2018): Figura 2: Fatores determinantes para os hábitos e comportamentos alimentares. Fonte: SIMINO, 2018. 11 4.1 Aspectos socioculturais Conforme já discutido, a alimentação está intimamente relacionada com os aspectos culturais de determinados grupos e, sendo assim, os hábitos e comportamentos alimentares são influenciados pela sociedade em que se vive, desde o consumo de tipos de alimentos específicos em cada região, práticas religiosas relacionadas à alimentação, tabus alimentares etc (SIMINO, 2018). 4.2 Fatores emocionais Os fatores emocionais relacionados aos comportamentos alimentares envolvem o modo como o indivíduo se relaciona com os alimentos no geral ou com determinado tipo de alimento e os sentimentos envolvidos. Muitas vezes podem ser fatos mais cotidianos, como o prazer e a felicidade em se alimentar em família, por exemplo, ou a alegria que se sente ao comer um alimento que se gosta muito. Mas, algumas vezes, fatores emocionais podem se relacionar com comportamentos alimentares de modo a gerar transtornos alimentares, como nos casos de anorexia, bulimia, vigorexia ou o comer compulsivo, que, por se tratarem de desordens alimentares acompanhadas, na maioria dos casos, de distúrbios psicológicos, devem ter um acompanhamento e intervenção multidisciplinar (SIMINO, 2018). É muito importante que o nutricionista, nas ações de EAN e ao lidar diretamente com o público, tenha sensibilidade para perceber e identificar comportamentos alimentares de indivíduos ou grupos que possam ser influenciados por fatores emocionais, impactando negativamente na saúde (SIMINO, 2018). É comum que, em escolas ou em outros grupos de crianças e adolescentes, sejam identificados comportamentos alimentares inadequados devido ao bullying dos colegas, por exemplo, contra indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Transtornos alimentares são originados, na maior parte dos casos, justamente na infância e adolescência, e ações assertivas e multidisciplinares em EAN podem ter efeitos muito positivos na prevenção desses casos (SIMINO, 2018). 12 4.3 Mídia/propaganda As mídias nas suas variadas formas e as propagandas no geral exercem mais influência nos hábitos e comportamentos alimentares das populações do que se imagina, principalmente quando se trata do público infantil. Mas isso não significa que adultos, mesmo os mais instruídos, não sejam influenciados também (SIMINO, 2018). A propaganda de alimentos está por toda parte: impressa em folhetos, revistas, outdoors, nos comerciais de TV e rádio, em pop-ups de sites, nas mídiassociais. E nós somos influenciados a escolher o que vamos comer, direta ou indiretamente, o tempo todo: por promoções de restaurantes ou de alimentos em supermercados, pela propaganda da inauguração de algum restaurante famoso, pelas facilidades semiprontas e congeladas que a indústria alimentícia promete que é saudável (SIMINO, 2018). Mas, ao mesmo tempo em que uma grande quantidade de facilidades e tentações são exaustivamente oferecidas às pessoas, vivemos uma época em que a própria mídia também vem ditando padrões de beleza e de comportamento alimentar cada vez mais difíceis de serem atingidos. A “indústria do saudável” também cresce exponencialmente e, diante de tantas informações discrepantes disponíveis sobre alimentação e Nutrição, principalmente na internet, não é incomum que a gente se depare com pessoas frustradas e desesperadas por não saberem como se comportar diante das escolhas alimentares (SIMINO, 2018). 4.4 Gosto/sabor Apesar de muitas vezes não receber a devida importância, os aspectos sensoriais contribuem muito na formação dos hábitos e comportamentos alimentares. Os sabores têm relação com estados emocionais e também culturais, impactando ainda mais fortemente nas escolhas pessoais. Muitas vezes, na formação do nutricionista, o aspecto sensorial é deixado de lado, considerando-se apenas o valor nutricional dos alimentos, mas se reconhecermos a importância dos gostos pessoais de cada um para a mudança 13 de hábitos e comportamentos, as ações em EAN serão muito mais efetivas (SIMINO, 2018). 4.5 Aspectos socioeconômicos A questão socioeconômica é uma das mais fáceis de se identificar como fator de impacto para os hábitos e comportamentos alimentares da população. O poder aquisitivo da família determina o que será consumido nas refeições e, ainda, o lugar onde se vive também tem grande influência. Pesquisas mostram que refeições com frutas, verduras e legumes de qualidade, assim como o consumo frequente de carnes magras e peixes, por exemplo, são mais caras que alimentações ricas em açúcares refinados e gorduras. Além disso, bairros com menor nível socioeconômico possuem, normalmente, menos opções de supermercados que vendem produtos variados e considerados mais saudáveis (SIMINO, 2018). Os princípios para aumentar a eficácia da educação alimentar (CUPPARI, 2014): 1 Desenvolver um relacionamento construtivo, com empatia, calor humano e genuinidade 2 Criar um ambiente de segurança e confiança, no qual o cliente não se sinta julgado 3 Ouvir o cliente completa e ativamente 4 Avaliar a compreensão e os sentimentos do indivíduo 5 Dar informações precisas, de maneira clara e simples 6 Esclarecer e corrigir informações incorretas 7 Dar valor aos sentimentos do cliente 8 Ajudar o cliente a avaliar os riscos de comportamentos passados e presentes 9 Auxiliar o cliente a desenvolver estratégias para redução dos riscos 10 Ajudar o cliente na identificação de obstáculos potenciais para a redução dos riscos de complicações e para melhorar o bem-estar 11 Ser sensível às diferenças culturais e a outras particularidades do cliente 14 12 Fornecer apoio psicológico sempre que necessário 13 Avaliar o potencial para depressão, isolamento ou outros problemas 14 Fazer referências apropriadas para serviços adicionais (psiquiatra, psicólogo, psicanalista e outros) 15 Avaliar a motivação do cliente para procurar as referências. Ajudá-lo a minimizar as barreiras para buscar outros serviços necessários 16 Criar condições para sustentar uma relação de educação a longo prazo Fonte: Cuppari, 2014. 5 MUDANÇA DE COMPORTAMENTO ALIMENTAR Fonte: Pixabay.com O comportamento alimentar refere-se a todas as práticas relativas à alimentação, como seleção, aquisição, conservação, preparo e consumo de alimentos. É um componente da personalidade de um indivíduo e visa a satisfazer não apenas às necessidades nutricionais, como também às psicológicas, sociais e culturais. O processo de formação do comportamento alimentar tem bases fixadas na infância, nas crenças, nos valores e nos tabus – que passam por gerações. As práticas alimentares adquiridas na primeira infância, principalmente por imitação e condicionamento, ficam arraigadas no indivíduo e trazem uma forte carga emocional, difícil de modificar. Contudo, o comportamento alimentar pode se modificar espontaneamente em função de 15 mudanças do meio, como poder aquisitivo e disponibilidade de alimentos, importância social deles, nível de escolaridade ou grau de exposição do indivíduo aos canais de comunicação. Ou, ainda, pode se modificar por causa de alterações relacionadas às necessidades psicológicas, como autoconceito, aprovação social e segurança (CUPPARI, 2014). O aconselhamento ou educação alimentar é o processo pelo qual os clientes, ou pacientes, são efetivamente auxiliados a selecionar e implementar comportamentos desejáveis de alimentação e estilo de vida. O resultado desse processo deve ser a mudança de comportamento, e não somente a melhora do conhecimento sobre nutrição (CUPPARI, 2014). Um momento particularmente difícil é o diagnóstico de uma doença, quando a depressão, a negação, a raiva ou a barganha podem sobrepor-se aos esforços de lidar com o problema. Antes de tudo, é preciso reconhecer que este existe e, de fato, querer mudá-lo. Sem esse desejo interno de cada indivíduo, todo o trabalho de educação é inútil. O educador alimentar é apenas um facilitador das mudanças de comportamento. Ele dá apoio emocional, auxilia na identificação de problemas alimentares e de estilo de vida, sugere comportamentos a serem modificados e facilita a compreensão e o controle do cliente. Os fatores relacionados à adesão às orientações são (CUPPARI, 2014): Relacionados ao cliente: • Quantidade de informações: quanto mais informações recebidas ao mesmo tempo, menor a adesão; • Nível de ansiedade: os níveis extremos de ansiedade (baixo ou alto) do cliente quanto à mudança alimentar diminuem a taxa de adesão às recomendações; • Morar sozinho: clientes que moram sozinhos parecem possuir níveis mais baixos de adesão às orientações nutricionais; • Expectativa do cliente e da família: quanto mais positiva a expectativa pela mudança de comportamento, melhor o nível de adesão; • Apoio familiar: o envolvimento do cônjuge e/ou daqueles que vivem com o paciente na adesão às orientações alimentares é crucial; 16 • Irregularidade na rotina: quanto mais irregular o estilo de vida do cliente, menor a adesão. Relacionados ao conselheiro: • Grau de satisfação do cliente: quanto mais satisfeito ele estiver com o conselheiro e com o tratamento, maior o nível de adesão às orientações; • Continuidade com o mesmo conselheiro: quando o cliente encontra o mesmo conselheiro em cada visita, melhores são as chances de adesão. Relacionados ao ambiente: • Local de atendimento: quando o aconselhamento ocorre em local claro, organizado e limpo, maiores são as chances de adesão às orientações; • Tempo de espera: quanto menor o tempo de espera, melhor o nível de adesão; • Atitudes do pessoal de apoio: quanto melhor o atendimento do cliente pelo pessoal de apoio (telefonista, recepcionista, secretária, etc.), melhor a adesão. Relacionados à orientação nutricional: • Número de mudanças: quanto maior o número de mudanças recomendadas ao mesmo tempo, menor a taxa de adesão; • Complexidade: quanto mais simples e claros os objetivos e o conteúdo do aconselhamento, melhores as chances de adesão às recomendações Fazem parte dos estágios de mudança comportamental (SIMINO, 2018). Pré-contemplação: Quando o indivíduo ainda não tem a intenção de mudar o comportamento em um futuro próximo ou ainda não está ciente das mudanças que precisa realizar. 17 Contemplação: Estágioem que as pessoas já estão conscientes das mudanças que devem ser realizadas e pensam em colocá-las em prática, mas ainda não assumiram um compromisso consigo mesmas. Decisão ou preparação: Neste estágio, o indivíduo está decidido a aplicar a mudança de comportamento e começa a traçar os planos e se preparar para agir. Muitas vezes, nesta fase já começam a existir pequenas mudanças de comportamento, já que a motivação favorece essas mudanças. Ação: É o estágio em que há mudança efetiva de comportamento, requer comprometimento e determinação. Manutenção: Esta fase é quando as pessoas trabalham para prevenir recaídas e manter os resultados alcançados durante o período de ação. É uma etapa de continuidade em que mudanças podem continuar ocorrendo. Assim, trabalhando as ações de EAN de forma a identificar os estágios de mudança de comportamento alimentar em que os indivíduos se encontram, fica mais fácil traçar estratégias de intervenção baseadas em cada um desses estágios (Figura 3). Figura 3: Estratégias de EAN para cada estágio de mudança do comportamento alimentar. Pré-contemplação/ contemplação Atendimento em grupo; Mensagem educativa que demonstre a importância da alimentação saudável; Palestras educativas para doenças específicas. Preparação Atendimento em grupo; Palestras com debates de curta duração; Demonstração da importância da alimentação para a saúde. Atendimento individualizado; 18 Ação Prescrição dietética individualizada; Ensino sobre como interpretar os rótulos alimentares. Manutenção Atendimento individualizado; Informações mais detalhadas e práticas; Fornecimento de receitas saudáveis e oficinas culinárias. Fonte: GALISA et al 2004. 6 ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL NOS CICLOS DA VIDA Fonte: Pixabay.com O trabalho de aconselhamento nutricional deve, muito mais que buscar transmitir as informações corretas de uma forma mais didática e compreensível para cada tipo de público, entender, primeiramente, quem é o indivíduo a ser aconselhado e considerar quais são os fatores que podem interferir na estratégia a ser planejada antes de se iniciar a ação de EAN. Para que esse entendimento de “quem é” o nosso indivíduo ou grupo populacional seja completo, é imprescindível que seja considerada a fase ou ciclo da vida em que ele está inserido. Independentemente de estar lidando com crianças, adolescentes, adultos, idosos ou gestantes, devemos sempre planejar a ação de EAN, considerando o diagnóstico educativo, os objetivos, o conteúdo programático, as estratégias e o método de avaliação da intervenção (SIMINO, 2018). 19 6.1 Crianças A criança aprende novas habilidades ou conhecimentos quando está física e mentalmente madura para isso. Ela acumula fatos e possui aprendizado com foco centralizado no indivíduo. Os adultos, por sua vez, possuem aprendizado com foco no problema. Mesmo uma criança de 4 anos de idade sabe o que quer comer. Ela experimenta o aprendizado por meio de realizações pessoais e interações com os outros indivíduos. Precisa de amor, de alguém para guiá-la e de apoio emocional para desenvolver o senso de valor e entender sobre si mesma. Às vezes, a criança quer assumir a responsabilidade; em outras, ela quer ajuda. O educador alimentar pode promover melhor aceitação das mudanças na alimentação quando envolve os pais e a criança, fazendo que todos se sintam confortáveis e abertos sobre as decisões e sugestões (CUPPARI, 2014). As pessoas seguem mais os conselhos que lhes fazem sentido. Se o conselheiro sente que suas orientações não estão sendo aceitas, deve encorajar a criança ou a família a fazer perguntas. Por exemplo: “essa parece a melhor opção para mim, mas será que vai funcionar para vocês?” Uma frase como esta pode trazer as desvantagens percebidas para os pais ou para a criança (CUPPARI, 2014). É importante estar alerta aos sinais de que os pais ou a criança não estão realmente de acordo com as recomendações. As crianças costumam ser ensinadas a não discordar dos adultos e podem estar relutantes em dizer que uma recomendação não funcionará para elas. Contudo, elas são rápidas para expressar seus sentimentos. É fundamental tentar identificá-los e discernir seus significados na situação (CUPPARI, 2014). As crianças de todas as idades possuem dificuldades em aceitar e ajustar- se a mudanças nos hábitos de saúde e estilo de vida em razão de sua capacidade limitada de racionalização. Elas nem sempre compreendem os motivos porque devem mudar seus hábitos e executar certas tarefas. Permitir que as crianças tomem parte do planejamento de seus cuidados pode ajudá-las a sentir-se no controle da situação (CUPPARI, 2014). A maioria das estratégias para ensinar crianças pequenas utiliza atividades lúdicas, a maneira primária de aprendizado delas. Uma criança pode 20 motivar-se a aprender quando joga, lê livros e usa bonecos. Quando uma criança entende e aceita a resolução de um problema alimentar, pode ser mais disciplinada do que seus pais. Contudo, um deles, sem perceber, pode sabotar os esforços da criança, oferecendo alimentos não desejáveis ou desmotivando as iniciativas de exercício físico. O conselheiro deve, então, trabalhar para ajudar esse pai (que, em geral, não frequenta as consultas) a encontrar outras formas de demonstrar amor e preocupação para com a criança. É importante levar em consideração o relacionamento entre esta e seus pais, assim como as expectativas destes quanto ao aconselhamento (CUPPARI, 2014). O educador deve aprender o máximo possível sobre a criança a partir dos pais, sobretudo acerca de seus hábitos de alimentação e higiene. Educar crianças também exige entendimento dos princípios de aprendizado do adulto, para poder trabalhar com os pais e solidificar a relação de aconselhamento com toda a família. Os pais e a família possuem muitas funções na vida da criança, entre elas, ensiná-la. O maior objetivo do aconselhamento dos pais é ajudá-los a aumentar a sua competência e confiança para alcançar as necessidades da criança. No que se refere às necessidades alimentares da criança, a responsabilidade dos pais é decidir o que e quando é servido, e é responsabilidade da criança decidir o quanto e o que será ou não consumido. Algumas dicas são (CUPPARI, 2014): 1. Estabelecer relação estreita e amigável com a criança. Usar expressões faciais, jogos ou desenhos. Conversar por algum tempo com ela sem a presença dos pais. Respeitar seus sentimentos e suas necessidades e demonstrar simpatia por seus interesses. Manter-se aberto para a maneira como a criança faz as coisas, se isso não interferir nos objetivos da educação. Repetir o que foi dito com outras palavras, refletindo os sentimentos da criança. 2. Manter as perguntas e os conceitos de forma concreta, ou seja, evitar assunto abstrato. Ajudar a criança a lidar com os problemas que ela levanta. Fornecer informações em termos simples e com honestidade. Identificar aspectos positivos nos comportamentos dela. 3. Não sobrecarregar a criança com fatos e explicações. Encorajar discussões utilizando desenhos, fotografias ou modelos de alimentos. Responder sempre às perguntas de modo simples e conciso. 21 4. Reconhecer que a criança pode sentir qualquer limitação (por exemplo, dieta) como uma punição. As limitações podem ser sentidas com raiva e ressentimento. Fazer a abordagem à criança com gentileza e preocupação sincera com os problemas dela. 5. Fornecer escapes para a raiva ou sentimentos hostis. Encorajá-la a desenhar figuras ou demonstrar seus sentimentos com bonecos. 6. Perguntar o que ela gostaria que acontecesse. Usar técnicas criativas de brainstorming (tempestade cerebral). Dar opções à criança e respeitar suas escolhas. Aceitar seus objetivos, mas focalizarnaqueles concretos e de curto prazo. Imaginar o futuro e explorar as inúmeras alternativas. Permitir que a criança explore o mundo ideal e descubra fantasias e desejos. 7. Encorajar os pais a fazer perguntas. Fornecer explicações factuais que os ajudem a apoiar o aconselhamento. 8. Ser flexível. A flexibilidade é particularmente importante no trabalho com crianças. Quando a relação de aconselhamento se desenvolve, os objetivos em curto prazo e que podem ser facilmente realizados são vitais. Manter os objetivos concretos. As tarefas caseiras são úteis. Tentar reunir pequenos grupos de crianças com problemas similares. Observar o comportamento e as interações da criança com as demais. 6.2 Adolescentes Muitas das características a serem consideradas no aconselhamento nutricional para crianças também são válidas para os adolescentes, como a criatividade ao se pensar em estratégias variadas, o uso de linguagem simples, a adequação à faixa etária, o estabelecimento de vínculos e as particularidades das ações lentas e progressivas ou únicas e diretas (SIMINO, 2018). A adolescência, compreendida entre os 10 e 19 anos de idade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é um período muito complexo que envolve grandes mudanças físicas, psicológicas e comportamentais. É nessa fase, também, que os indivíduos estão mais vulneráveis ao desenvolvimento de transtornos alimentares e à exposição a bebidas alcoólicas, por exemplo. É muito comum, também, que adolescentes apresentem hábitos e comportamentos inadequados: omissão de refeições, consumo exagerado de fast-foods, culto ao 22 corpo, busca por dietas da moda e muito restritivas etc. Esses hábitos e comportamentos podem ser originados pela necessidade de aceitação ao grupo e busca por uma identidade. Por esse motivo, o aconselhamento nutricional com esse público deve ser cautelosamente planejado e, se possível, realizado tanto em grupos quanto individualmente (SIMINO, 2018). Os hábitos alimentares inadequados e o alto índice de sobrepeso e obesidade entre os adolescentes já se apresentam como um grave problema de saúde pública mundial, o que reforça a urgência de se adotar programas de educação alimentar e nutricional tendo como público alvo principal estes indivíduos, destacando-se neste caso a escola como um dos canais mais efetivos para a incorporação destas ações (YANG et al 2015, apud PEREIRA et al, 2015, p. 428). Eles devem se sentir capazes de refletir sobre os problemas e, após dadas as ferramentas e oferecidos os meios para tal, devem ser autônomos para escolher as melhores soluções. Sendo assim, trabalhar a autonomia com relação às escolhas alimentares adequadas com esse público é bastante interessante (SIMINO, 2018). A educação alimentar deve enfatizar os comportamentos imediatos, concretos e de impacto pessoal, explorando seu poder e controle sobre tudo. As ênfases negativas e baseadas em restrições não são produtivas. Algumas dicas são (CUPPARI, 2014): 1. Entender que o adolescente precisa amadurecer. É importante incluí-lo nas decisões e no estabelecimento de objetivos, assim como o manter informado sobre o progresso da educação. 2. Não impor valores e crenças a eles. Permitir que o adolescente verbalize suas opiniões e seus sentimentos. O educador deve concordar ou desaprovar sem usar julgamento. 3. Reconhecer que os problemas do adolescente envolvem assuntos de interação familiar. O conselheiro deve ajudá-lo a avaliar seu meio ambiente; parabenizá-lo e encorajá-lo quando ele toma decisões sozinho. 4. Tratar o adolescente com dignidade e respeito. Reforçar os aspectos positivos e permitir que ele expresse suas ideias e preocupações de maneira aberta, sem criticismo. 23 5. Estabelecer limites justos e reforçá-los de forma consistente. Reconhecer as necessidades individuais do adolescente e estabelecer objetivos realistas. 6. Um conselheiro não deve trabalhar com adolescentes a menos que goste deles e se importe com eles. Os adolescentes estão passando por muitos conflitos físicos, emocionais e psicológicos e necessitam de assistência e guia nesse período difícil. Precisam sentir-se seguros e guiados por indivíduos em quem possam confiar. 6.3 Adultos Existem diferenças importantes entre o aprendizado de crianças e adultos. O aprendizado destes é um processo ativo e contínuo. O adulto (CUPPARI, 2014): • Necessita saber porque precisa aprender algo, antes de submeter-se ao aprendizado; • Gosta de determinar e ser ativo em suas próprias experiências de aprendizado. Ele ressente e resiste a situações que sinta que outros lhe estejam impondo suas vontades; • Quer ter uso eficiente de seu tempo; • É mais motivado a aprender se vê um propósito ou necessidade; • Pode aprender a partir da experiência de outros, assim como das suas próprias; • Deseja soluções práticas para os problemas encontrados; • Quer que o meio ambiente conduza seu conforto; • Opera no princípio da resolução do problema. É motivado a aprender algo que percebe que o ajudará a executar tarefas ou lidar com problemas que ele confronta na vida real; • Responde melhor aos motivadores internos, como desejo pela satisfação no trabalho, autoestima e qualidade de vida; • Não gosta de ser tratado como criança; • Aprende em velocidade e maneiras diferentes; • Gosta de saber se progressos foram alcançados. 24 Quando o indivíduo amadurece, a independência desenvolve-se assim que ele toma controle de sua vida. Portanto, qualquer situação que não permita a independência está ligada a ressentimentos e resistência a mudanças. O adulto não gosta de ser colocado em situações em que se sinta tratado como criança: alguém dizendo o que fazer e o que não fazer, menosprezo, punição e julgamento. O educador alimentar deve envolver o cliente na seleção do que aprender, como apresentar a informação e quais ferramentas de avaliação utilizar para determinar se os objetivos do aprendizado foram alcançados. A avaliação pode trazer ansiedade para muitos adultos (CUPPARI, 2014). No aprendizado do adulto, os melhores métodos de avaliação são os que não intimidam, que permitem a determinação do que foi aprendido. Um exemplo é solicitar ao cliente que faça verbalmente uma lista de conceitos básicos. E demonstram como as novas informações serão incorporadas às atividades diárias. Um exemplo é selecionar alimentos de um cardápio de restaurante. As experiências passadas também possuem impacto imenso, positivo ou negativo, no aprendizado (CUPPARI, 2014). Na avaliação inicial, o educador precisa determinar os sentimentos do cliente e as experiências relacionadas ao processo de aconselhamento. Por exemplo: “você já tentou fazer alguma dessas mudanças antes?”. O plano de educação precisa incorporar essa informação e ser montado em cima das experiências positivas, sobrepondo qualquer sentimento negativo que possa bloquear o aprendizado ou a mudança. É importante dar ênfase a técnicas experimentais para envolvê-lo na análise das experiências. É relevante, também, antes de iniciar um relacionamento de aconselhamento, que o educador determine se o cliente está preparado para fazer as mudanças em seu comportamento. Uma discussão gentil e amigável com ele sobre seu preparo pode prevenir frustração e mal-entendidos no futuro. A educação não garante o aprendizado, e o aprendizado pode ocorrer sem a educação. O momento de ensinar um adulto ocorre quando ele reconhece que um problema precisa ser resolvido. Entretanto, um cliente pode ser motivado a aprender em consequência de um educador dinâmico e criativo. É importante abordar um cliente adulto com atitude positiva e acreditar que ele pode aprender, e que o aprendizado terá um impacto positivo em seu bem-estar (CUPPARI, 2014). 25 Pelo fato de os indivíduos aprenderem de maneiras diferentes,é importante que o conteúdo seja apresentado em vários formatos (CUPPARI, 2014): • Não repreender ou menosprezar o cliente; • Particularizar o plano de ensino a cada situação. Evitar materiais “padronizados”, a menos que possam ser individualizados; • Muitos adultos preferem a objetividade. Em geral, é apropriado o uso de títulos e tópicos dos assuntos; • Explicar que a mudança reduzirá os riscos, em vez de insistir na mudança em si; • Certos clientes possuem pouca autoconfiança, como deficiência na educação, medo de falhar, entre outros. Para promovê-la, é preciso ter paciência, responder às perguntas e estabelecer objetivos realistas; • Certos clientes possuem excesso de autoconfiança. É importante estabelecer objetivos realistas; • Os adultos precisam de reforço positivo e retornos (reconsultas). Auxiliar na transposição do medo e da ansiedade. Isso pode melhorar a adesão às orientações. 6.4 Idosos No que diz respeito à educação nutricional aos idosos, existem algumas particularidades a serem consideradas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, são considerados idosos os indivíduos com 60 anos de idade ou mais e sabe-se que, cada vez mais, a expectativa de vida tem aumentado no mundo todo, então devemos ter um olhar bastante cuidadoso em relação aos idosos para contribuir de forma com que tenham uma vida não só mais longa, mas também com mais saúde, através dos bons hábitos alimentares. Existem, como citado, alguns fatores muito importantes que podem interferir diretamente nas estratégias a serem pensadas para o aconselhamento nutricional do idoso (Figura 4) (SIMINO, 2018). 26 Figura 4: Fatores importantes a serem considerados no planejamento do aconselhamento nutricional do idoso. Fonte: SIMINO, 2018. Com esse aumento da longevidade nos dias atuais, existem muitos idosos saudáveis e completamente capazes e independentes, que não têm seus hábitos diários alterados. Porém, uma parte considerável dos idosos pode apresentar alguns fatores que, apesar de completamente normais dentro do processo de envelhecimento, podem interferir negativamente nos hábitos e comportamentos alimentares e devem ser pensados pelos educadores em alimentação e nutrição (SIMINO, 2018): Integridade dos órgãos sensoriais: o olfato e o paladar já não são mais os mesmos, assim como o sistema digestório pode apresentar particularidades. Déficits cognitivos: problemas de memória e aprendizado mais lento são características comuns em idosos. Além disso, a audição também pode estar prejudicada. O educador alimentar deve sempre falar de forma lenta, pausada e com informações claras e objetivas. 27 Doenças crônicas: além de doenças como obesidade, diabetes e hipertensão, que são muito comuns em idosos, destaca-se também doenças que afetam a própria cognição, como Alzheimer e Parkinson. Percepção, personalidade e emoções: muitos idosos têm suas personalidades mais afloradas e podem apresentar-se tanto mais sensíveis e carentes por atenção quanto rabugentos e mal-humorados. Devemos ser sempre muito pacientes e compreensivos e saber lidar com as diferentes personalidades e, acima de tudo, estar dispostos para ouvir o que eles têm a dizer. Ambiente, status social, família e cuidadores: o ambiente onde vivem e as pessoas que os cercam também exercem grande influência no estilo de vida dos idosos, principalmente quando eles já não são muito independentes e precisam de auxílio para realizar tarefas como fazer compras de alimentos, cozinhar e até mesmo se alimentar. Muitas vezes, assim como com as crianças, pode ser interessante realizar ações de EAN paralelas com a família ou os cuidadores. Crenças e tabus: estão muito presentes na vida dos idosos. Você aluno, com certeza já ouviu algum idoso que tem uma receitinha milagrosa para curar dor de garganta, ou que acha que é proibido tomar “manga com leite”, não é mesmo? Nós podemos tentar desmitificar algumas dessas ideias, mas, muitas vezes, caso os idosos apresentem alguns hábitos fundamentados em crenças que não lhes apresente risco e que faça parte de sua cultura, pode-se (e deve- se!) respeitar. A água é o principal componente da composição corpórea e com o envelhecimento há redução de 20% a 30% da água corporal total. Além do exposto, o envelhecimento provoca diminuição de 20% a 30% da massa muscular (sarcopenia) e da massa óssea (osteopenia), causada pelas alterações neuroendócrinas e inatividade física (MORAES, 2008 apud, SANTOS 2010). 6.5 Gestantes e nutrizes O aconselhamento nutricional para gestantes e nutrizes é de grande importância para trabalhar questões como mitos e tabus alimentares desses ciclos da vida e, no caso das gestantes, a nutrição adequada desempenha, também, um papel fundamental na prevenção de complicações gestacionais, 28 como ganho de peso excessivo, diabetes gestacional e hipertensão associada à gestação (SIMINO, 2018). É importante reforçar os conceitos de alimentação saudável, diversificada e segura, tópicos como ganho de peso adequado durante cada fase da gestação etc. Existe uma pirâmide alimentar adaptada para gestante, que destaca os grupos alimentares e o consumo ideal em cada trimestre da gestação, e essa é uma ferramenta interessante de ser trabalhada com gestantes (SIMINO, 2018). O trabalho em grupo, com gestantes e nutrizes, é particularmente interessante, pois a troca de informações nesses ciclos da vida costuma ser bastante rica e proveitosa (SIMINO, 2018). 7 A COMIDA, O ALIMENTO E A CULINÁRIA Fonte: Pixabay.com É importante que as ações de EAN reafirmem a ideia de que a alimentação não diz respeito apenas ao alimento que se come. Ela envolve valores afetivos, sensoriais e sociais que constroem a própria cultura. Valorizar as culturas locais é sinônimo de respeito aos diferentes saberes e referências, seja local e/ou regionalmente. Além disso, é importante valorizar a diversidade da comida e do alimento como possibilidade de variabilidade de nutrientes (BRASIL, 2018). 29 A construção de uma identidade alimentar engajada com os princípios da sustentabilidade e da integralidade do sistema alimentar utiliza o repertório culinário do território como ferramenta para redescobrir os sentidos, as técnicas, os saberes e os símbolos de cada lugar, reconectando memórias e afetos (BRASIL, 2018). O consumo de alimentos está intimamente ligado aos nossos pertencimentos sociais, culturais e tradicionais, o que remete a um processo complexo de tomada de decisão na escolha do alimento (LANDSTRÖM et al. 2007 apud FILBIDO 2019). Ações de EAN que valorizam a cultura alimentar local podem mobilizar pessoas com diferentes histórias, contextos e referências, fazendo da ação um ambiente de trocas, (re)conhecimento, compartilhamento de saberes e fortalecimento de vínculos. Estes vínculos serão importantes no auxílio à construção de circuitos produtivos saudáveis, sustentáveis e integrados, criando novas possibilidades em cada território (BRASIL, 2018). 8 PRINCÍPIOS PARA AS AÇÕES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Fonte: Pixabay.com Enquanto política pública, a EAN pode ocorrer em diversos setores e deverá observar os princípios organizativos e doutrinários do campo no qual está inserida. Assim, na esfera da segurança alimentar e nutricional, deverá observar 30 os princípios do SISAN; na saúde, os princípios do SUS, na educação, os princípios da PNAE, na rede socioassistencial, os princípios do SUAS e assim sucessivamente. A esses princípios estruturantes se somam (BRASIL, 2012): I - Sustentabilidade social, ambiental e econômica: A temática e os desafios da sustentabilidade assumem um papel central na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e dos padrões de produção, de abastecimento, de comercialização, de distribuição e de consumo de alimentos. Nocontexto deste Marco, “sustentabilidade”, inspirada em seu conceito original e no conceito de “ecologia integral”, não se limita à dimensão ambiental, mas estende-se às relações humanas, sociais e econômicas estabelecidas em todas as etapas do sistema alimentar. Assim, a EAN quando promove a alimentação saudável refere-se à satisfação das necessidades alimentares dos indivíduos e populações, no curto e no longo prazos, que não implique o sacrifício dos recursos naturais renováveis e não renováveis e que envolva relações econômicas e sociais estabelecidas a partir dos parâmetros da ética, da justiça, da equidade e da soberania (BRASIL, 2012). II - Abordagem do sistema alimentar, na sua integralidade Compreende-se sistema alimentar como o processo que abrange desde o acesso à terra, à água e aos meios de produção, as formas de processamento, de abastecimento, de comercialização e de distribuição; a escolha e consumo dos alimentos, incluindo as práticas alimentares individuais e coletivas, até a geração e a destinação de resíduos. As ações de EAN precisam abranger temas e estratégias relacionadas a todas estas dimensões de maneira a contribuir para que os indivíduos e grupos façam escolhas conscientes, mas também que estas escolhas possam, por sua vez, interferir nas etapas anteriores do sistema alimentar (BRASIL, 2012). 31 III - Valorização da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e perspectivas, considerando a legitimidade dos saberes de diferentes naturezas A alimentação brasileira, com suas particularidades regionais, é uma das expressões do nosso processo histórico e de intercâmbio cultural entre os diferentes povos que formaram nossa nação. Assim, a EAN deve considerar a legitimidade dos saberes oriundos da cultura, religião e ciência. Respeitar e valorizar as diferentes expressões da identidade e da cultura alimentar de nossa população, reconhecendo e difundindo a riqueza incomensurável dos alimentos, das preparações, das combinações e das práticas alimentares locais e regionais. Esse princípio trata da diversidade na alimentação e deve contemplar as práticas e os saberes mantidos por povos e comunidades tradicionais, bem como diferentes escolhas alimentares, sejam elas voluntárias ou não, como por exemplo, as pessoas com necessidades alimentares especiais (BRASIL, 2012). IV - A comida e o alimento como referências: Valorização da culinária enquanto prática emancipatória A alimentação envolve diferentes aspectos que manifestam valores culturais, sociais, afetivos e sensoriais. Assim, as pessoas, diferentemente dos demais seres vivos, não se alimentam de nutrientes, mas de alimentos e preparações escolhidas e combinadas de uma maneira particular, com cheiro, cor, temperatura, textura e sabor, se alimentam também de seus significados e aspectos simbólicos. Quando a EAN aborda estas múltiplas dimensões ela se aproxima da vida real das pessoas e permite o estabelecimento de vínculos, entre o processo pedagógico e as diferentes realidades e necessidades locais e familiares (BRASIL, 2012). Da mesma maneira, saber preparar o próprio alimento gera autonomia, permite praticar as informações técnicas e amplia o conjunto de possibilidades dos indivíduos. A prática culinária também facilita a reflexão e o exercício das dimensões sensoriais, cognitivas e simbólicas da alimentação. Mesmo quando o preparo efetivo de alimentos não é viável nas ações educativas, é necessário 32 refletir com as pessoas sobre a importância e o valor da culinária como recurso para alimentação saudável (BRASIL, 2012). V - A promoção do autocuidado e da autonomia O autocuidado é um dos aspectos do viver saudável. É a realização de ações dirigidas a si mesmo ou ao ambiente, a fim de regular o próprio funcionamento de acordo com seus interesses na vida; funcionamento integrado e de bem-estar. As ações do autocuidado são voluntárias e intencionais, envolvem a tomada de decisões, e têm o propósito de contribuir de forma específica para a integridade estrutural, o funcionamento e o desenvolvimento humano. Essas ações são afetadas por fatores individuais, ambientais, socioculturais, de acesso a serviços entre outros. O exercício deste princípio pode favorecer a adesão das pessoas às mudanças necessárias ao seu modo de vida. O autocuidado e o processo de mudança de comportamento centrado na pessoa, na sua disponibilidade e sua necessidade são um dos principais caminhos para se garantir o envolvimento do indivíduo nas ações de EAN (BRASIL, 2012). A promoção do autocuidado tem como foco principal apoiar as pessoas para que se tornem agentes produtores sociais de sua saúde, ou seja, para que as pessoas se empoderem em relação à sua saúde. Os principais objetivos do apoio ao autocuidado são gerar conhecimentos e habilidades às pessoas para que conheçam e identifiquem seu contexto de vida; e para que adotem, mudem e mantenham comportamentos que contribuam para a sua saúde (BRASIL, 2012). VI - A educação enquanto processo permanente e gerador de autonomia e participação ativa e informada dos sujeitos As abordagens educativas e pedagógicas adotadas em EAN devem privilegiar os processos ativos, que incorporem os conhecimentos e práticas populares, contextualizados nas realidades dos indivíduos, suas famílias e grupos e que possibilitem a integração permanente entre a teoria e a prática. O caráter permanente indica que a EAN precisa estar presente ao longo do curso da vida respondendo às diferentes demandas que o indivíduo apresente, desde 33 a formação dos hábitos alimentares na primeira infância à organização da sua alimentação fora de casa na adolescência e idade adulta (BRASIL, 2012). O fortalecimento da participação ativa e a ampliação dos graus de autonomia, para as escolhas e para as práticas alimentares implicam, por um lado, o aumento da capacidade de interpretação e a análise do sujeito sobre si e sobre o mundo e, complementarmente, a capacidade de fazer escolhas, governar, transformar e produzir a própria vida. Para tanto, é importante que o indivíduo desenvolva senso crítico frente a diferentes situações e possa estabelecer estratégias adequadas para lidar com elas. Diante das inúmeras possibilidades de consumo, bem como das regras de condutas dietéticas, a decisão ativa e informada significa reconhecer as possibilidades, poder experimentar, decidir, reorientar, isto é, ampliar os graus de liberdade em relação aos aspectos envolvidos no comportamento alimentar. Neste sentido, a EAN deve ampliar a sua abordagem para além da transmissão de conhecimento e gerar situações de reflexão sobre as situações cotidianas, busca de soluções e prática de alternativas (BRASIL, 2012). VII - A diversidade nos cenários de prática As estratégias e os conteúdos de EAN devem ser desenvolvidos de maneira coordenada e utilizar abordagens que se complementem de forma harmônica e sistêmica. Além de estarem disponíveis nos mais diversos espaços sociais para os diferentes grupos populacionais. O desenvolvimento de ações e estratégias adequadas às especificidades dos cenários de práticas é fundamental para alcançar os objetivos da EAN, além de contribuir para o resultado sinérgico entre as ações (BRASIL, 2012). VIII - Intersetorialidade Compreende-se intersetorialidade como uma articulação dos distintos setores governamentais, de forma que se corresponsabilizem pela garantia da alimentação adequada e saudável. O processo de construção de ações intersetoriais implica a troca e a construção coletiva de saberes, linguagens e práticas entre os diversos setores envolvidos com o tema, de modo que nele se 34 torna possível produzir soluções inovadoras quanto à melhoria da qualidade da alimentação e vida. Neste processo cada setor poderá ampliar sua capacidade de analisare de transformar seu modo de operar, a partir do convívio com a perspectiva dos outros setores, abrindo caminho para que os esforços de todos sejam mais efetivos e eficazes (BRASIL, 2012). IX - Planejamento, avaliação e monitoramento das ações O planejamento, compreendido como um processo organizado de diagnóstico, identificação de prioridades, elaboração de objetivos e estratégias para alcançá-los, desenvolvimento de instrumentos de ação, previsão de custos e recursos necessários, detalhamento de plano de trabalho, definição de responsabilidades e parcerias, definição de indicadores de processo e resultados, é imprescindível para a eficácia e a efetividade das iniciativas e a sustentabilidade das ações de EAN. A qualidade do processo de planejamento e implementação destas iniciativas também depende do grau de envolvimento e compromisso não apenas dos profissionais, mas também dos indivíduos e grupos. Desta maneira os processos participativos tendem a gerar melhores resultados, impacto e sustentabilidade das iniciativas. O diagnóstico local precisa ser valorizado, no sentido de propiciar um planejamento específico com objetivos delineados, a partir das necessidades reais das pessoas e grupos, para que metas possam ser estabelecidas e para que resultados possam ser alcançados. No entanto, o processo de planejamento precisa ser participativo, de maneira que as pessoas possam estar legitimamente inseridas nos processos decisórios (BRASIL, 2012). Atendendo a estes princípios, todas as estratégias de EAN têm como referência o Guia Alimentar para a População Brasileira, onde está expresso que “a alimentação adequada e saudável é compreendida como ‘a realização de um direito humano básico, com a garantia do acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais dos indivíduos, de acordo com o curso da vida e as necessidades alimentares especiais, pautada no referencial tradicional local” (BRASIL, 2012). 35 9 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Fonte: Pixabay.com O Guia Alimentar para a População Brasileira tem como base os direitos à saúde e à alimentação adequada e saudável e leva em conta os determinantes das práticas alimentares, bem como a complexidade dos sistemas alimentares contemporâneos. E apresenta-se como um documento oficial de amparo às ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e em diversos outros setores onde EAN possa acontecer (BEZERRA, 2018). Ações de busca de alimentação saudável e de EAN não se efetivam sem os conhecimentos necessários para que as pessoas possam agir em função de seu autocuidado. Nesse sentido, afirma-se o princípio de que guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares. Indubitavelmente, o conhecimento adequado vindo por meio de uma abordagem pedagógica problematizadora e ativa contribui para a construção de sujeitos ativos, autônomos. O domínio do conhecimento é uma estratégia que favorece o empoderamento, que, por sua vez, ajuda no desenvolvimento de predisposições favoráveis à aquisição de autonomia, inclusive em relação às suas escolhas alimentares, que devem ser voluntárias e não impostas (BEZERRA, 2018). Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias (Guia Alimentar para a População Brasileira, 2014). 36 Nas orientações sobre as escolhas alimentares, o Guia parte da definição clara e aplicada das quatro categorias de alimentos: alimentos in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados. Recomenda que a base da alimentação seja composta de alimentos in natura ou minimamente processados, para assim se conseguir “uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa e culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável” (BEZERRA, 2018). Essa tipificação de alimentos toma como base a prática alimentar do dia a dia do brasileiro em estreita articulação com os princípios apresentados no Marco EAN, com os conceitos de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e com o Direito Humano a uma Alimentação Adequada (DHAA) (BEZERRA, 2018). O DHAA é composto de duas dimensões indivisíveis: o direito de estar livre da fome e da má nutrição, e direito à alimentação adequada (BURITY et al, 2010 apud CASTRO 2019). As recomendações, apresentadas de forma teórico-prática, levam em conta o consumo alimentar de brasileiros que priorizam alimentos in natura ou minimamente processados em sua alimentação. Ressalta-se o valor das preparações culinárias e refere os efeitos de cada categoria de alimento na saúde da pessoa. Estes podem ser benéficos, no caso de alimentos in natura ou minimamente processados, ou resultar em doenças do coração, diabetes, vários tipos de câncer e obesidade, quando se trata de alimentos ultraprocessados. Aconselha o uso moderado de óleos, gorduras, sal e açúcar nas preparações culinárias, tendo por base alimentos in natura ou minimamente processados, bem como esclarece as consequências para a saúde do uso indiscriminado ou excessivo desses produtos. Destaca-se ainda o incentivo ao consumo de água (BEZERRA, 2018). Em relação aos alimentos processados, indica que seu consumo seja limitado a pequenas quantidades ou utilizados como ingredientes de preparações culinárias que tenham por base alimentos in natura ou minimamente processados. Acerca dos alimentos ultraprocessados, afirma que Evite alimentos ultraprocessados (Guia Alimentar para a População Brasileira, 2014). 37 por natureza não são saudáveis. E, sendo assim, a recomendação é evitar o consumo, porque são nutricionalmente desbalanceados, cujas formas de produção, distribuição, comercialização e consumo afetam de modo desfavorável a cultura, a vida social e o meio ambiente (BEZERRA, 2018). A evolução do padrão alimentar do brasileiro nas últimas décadas mostra a substituição do consumo de alimentos in natura e minimamente processados, tais como arroz, feijão e farinha de mandioca, por alimentos altamente processados e ultraprocessados, como pães, refrigerantes, biscoitos, carnes processadas e refeições prontas. Estas mudanças na alimentação da população podem estar associadas ao aumento da ingestão de açúcar de adição, sódio, gordura saturada e trans e à diminuição do consumo de fibras, padrão alimentar de risco para deficiências nutricionais, excesso de peso e doenças crônicas relacionadas (IBGE 2010, apud BARCELOS et al 2014, p. 156). Os 5 princípios do Guia Alimentar para a População Brasileira são (BRASIL, 2014): - Alimentação é mais que ingestão de nutrientes: Alimentação diz respeito à ingestão de nutrientes, como também aos alimentos que contêm e fornecem os nutrientes, a como alimentos são combinados entre si e preparados, as características do modo de comer e às dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. Todos esses aspectos influenciam a saúde e o bem-estar. - Recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com seu tempo: Recomendações feitas por guias alimentares devem levar em conta o cenário da evolução da alimentação e das condições de saúde da população. - Alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável: Recomendações sobre Limite o uso de alimentos processados, consumindo-os, em pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias ou como parte de refeições baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados (Guia Alimentar para a População Brasileira, 2014). 38 alimentação devem levar em conta o impacto das formas de produção e distribuição dos alimentos sobrea justiça social e a integridade no ambiente. - Diferentes saberes geram o conhecimento para a formulação de guias alimentares: Em face das várias dimensões da alimentação e da complexa relação entre essas dimensões e a saúde e o bem-estar das pessoas, o conhecimento necessário para elaborar recomendações sobre alimentação é gerado por diferentes saberes. - Guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares: O acesso a informações confiáveis sobre características e determinantes da alimentação adequada e saudável contribui para que pessoas, famílias e comunidades ampliem a autonomia para fazer escolhas alimentares e para que exijam o cumprimento do direito humano à alimentação adequada e saudável. Os alimentos minimamente processados são semi-prontos, livres de conservantes, sendo semelhantes aos alimentos in natura, com vida útil prolongada e garantindo segurança alimentar, com qualidade nutricional e sensorial (AMORIM; NASCIMENTO, 2011, apud TUBIANA, 2018, p. 12). Faça de alimentos in natura ou minimamente processados a base de sua alimentação (Guia Alimentar para a População Brasileira, 2014). 39 10 EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA ESCOLA Fonte: Pixabay.com Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) “para fins do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), será considerada EAN o conjunto de ações formativas, de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que objetiva estimular a adoção voluntária de práticas e escolhas alimentares saudáveis, que colaborem para a aprendizagem, o estado de saúde do escolar e a qualidade de vida do indivíduo” (PONTES, 2016). Exemplos de ações de educação alimentar e nutricional, no PNAE: • Promoção da oferta de alimentação adequada e saudável na escola; • Promoção a formação de atores; • Articulação das políticas municipais, estaduais, distritais e federais no campo da alimentação escolar; • Dinamização do currículo das escolas, tendo por eixo temático a alimentação no ambiente escolar; • Promoção de metodologias inovadoras para o trabalho pedagógico; • Favorecer o resgate dos hábitos alimentares regionais e culturais; • Estimular e promover a utilização de produtos orgânicos e/ou agroecológicos e da socio biodiversidade; 40 • Estimular o desenvolvimento de tecnologias sociais, voltadas para o campo da alimentação escolar; • Reforçar a importância do consumo de alimentos mais saudáveis, priorizando aqueles in natura, no ambiente escolar é fundamental já que é um local destinado à formação de bons hábitos. Por isso, além de elaborar cardápios que ofereçam preparações benéficas à saúde das crianças, é papel do nutricionista ensinar a comer bem, por meio de atividades educacionais juntamente com os professores. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é o maior programa de suplementação alimentar da América Latina contribuindo com a Segurança Alimentar e Nutricional e viabilizando a promoção do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) por meio da alimentação escolar, indo ao encontro das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) (LIBERMANN; BERTOLINI, 2015). O PNAE tem como principal objetivo proporcionar aos estudantes uma alimentação digna, que garante minimamente, uma nutrição segura e de qualidade, o programa proporciona aos mesmos um exercício de cidadania e melhoria da qualidade de vida. E para isso, o Programa Nacional de Alimentação Escolar tem como busca prestar auxílio financeiro adicional aos estados e municípios brasileiros com o objetivo de garantir uma refeição diária a cada aluno matriculado em escolas públicas e/ou filantrópicas. O programa oportuniza uma alimentação de qualidade para os estudantes resultando em uma melhor performance do aluno no ambiente escolar, visando reduzir a evasão escolar, auxiliando na construção de bons hábitos alimentares (FERREIRA et al 2019). Em idade escolar as crianças são as que mais necessitam de uma alimentação sadia, já que é nesse período que se desenvolvem psicologicamente e a partir do qual passam a desenvolver personalidade e hábitos alimentares (CARVALHO 2016, apud FERREIRA et al 2019). 41 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, Adriana Moura; NASCIMENTO, Kamila de Oliveira do. Caracterização do perfil de consumidores de alimentos minimamente processados. Nutrição Brasil, Volta Redonda, v.10, n. 6, nov/dez. 2011. BARCELOS, Giovanna Tedesco; RAUBER, Fernanda; VITOLO, Márcia Regina. Produtos processados e ultraprocessados e ingestão de nutrientes em crianças. Revista Ciência & Saúde, v. 7, n. 3, p. 155-161, 2014. BEZERRA, José Arimatea Barros. Educação alimentar e nutricional: articulação de saberes. Fortaleza: Edições UFC, 2018. BOOG, M.C.F. Educação em Nutrição: Integrando Experiências. 1ª ed., Campinas: Komedi Editora, 2013. 268 p. BOOG, M.C.F. Educação nutricional: passado, presente, futuro. Revista de Nutrição. Campinas, v.10, n.1, p. 5-19, 1997. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. - Brasília: Ministério da Saúde, 2012. 84 p.: il. - (Série B. Textos Básicos de Saúde). Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. 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