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HORMÔNIOS DA TIREOIDE, METABOLISMO ÓSSEO E PARATIREOIDE _______________________________________________________________________________________ REFERÊNCIA: Guyton e Hall, Cap 76 e 79 Patricia E. Molina, Cap 4 e 5 _______________________________________________________________________________________ - Os hormônios da tireoide desempenham importantes papéis na manutenção da homeostasia e na regulação do consumo de energia - Seus efeitos fisiológicos consistem principalmente em estimular o metabolismo e a atividade das células - A deficiência da função dos hormônios tireoidianos durante a gestação gera déficit mental grave no concepto - Esses hormônios derivam do aminoácido tirosina, sendo produzidos pela glândula tireoide em resposta à estimulação do TSH sintetizado pela adeno-hipófise - Por sua vez, o TSH é regulado pelo peptídeo hipofisiotrófico, o hormônio de liberação da tireotrofina (TRH) - A produção dos hormônios da tireoide também é regulada pelo iodo da dieta Anatomia - A glândula tireoide é uma glândula alveolar (acinar) sem ductos e altamente vascularizada, localizada na parte anterior do pescoço, em frente à traqueia - Ela pesa 10 a 25 g e consiste em um lobo direito e um lobo esquerdo conectados pelo istmo Microscopia - A composição celular da glândula tireoide é diversificada, incluindo os seguintes tipos de células: • Células foliculares (epiteliais), envolvidas na síntese dos hormônios da tireoide • Células endoteliais, que revestem os capilares responsáveis pelo suprimento sanguíneo dos folículos • Células parafoliculares, ou C, envolvidas na síntese da calcitonina, um hormônio que atua no metabolismo do cálcio • Fibroblastos, linfócitos e adipócitos Folículos da Tireoide - A principal função da glândula tireoide consiste na síntese e no armazenamento dos hormônios tireoidianos - A unidade secretora ou funcional dessa glândula é o folículo tireoidiano, que consiste em uma camada de células epiteliais da tireoide dispostas ao redor de uma grande cavidade central repleta de coloide - O coloide corresponde a cerca de 30% da massa da glândula tireoide e contém uma proteína denominada tireoglobulina (Tg) - As células foliculares são polarizadas, isto é, a superfície apical da célula folicular está voltada para a luz folicular, onde o coloide é armazenado, já a superfície basolateral está voltada para o interstício, e, portanto, fica exposta à corrente sanguínea - Enquanto os hormônios tireoidianos são sintetizados no lado apical da célula epitelial, a liberação hormonal ocorre no lado basolateral - Por conseguinte, a polaridade das células epiteliais da tireoide é fundamental para a manutenção da captação de iodeto e a desiodação de T4 (tetraiodotironina) no lado basolateral, bem como para o efluxo de iodeto e os mecanismos de iodação de localização apical - As células parafoliculares que circundam os folículos sintetizam e secretam o hormônio calcitonina; em consequência, costumam ser designadas como células C - Elas se localizam preferencialmente nas regiões centrais dos lobos da glândula tireoide, onde a atividade das células foliculares é maior Iodo - O iodo é necessário na formação do hormônio tireoidiano - Como existiam várias regiões com baixa disponibilidade de iodo (principalmente em regiões afastadas do litoral), a OMS decidiu enriquecer o sal de cozinha com iodo para suprir essa necessidade da população • O sal é um produto de consumo universal, razão pela qual, na quase totalidade dos países, é adotado como veículo para a adição de iodo - O iodo é um micronutriente essencial para o ser humano que, entre outras funções, regula o crescimento e o desenvolvimento do homem - Para que o bócio seja evitado é necessário uma ingestão mínima 0,075 mg/dia - No entanto, o excesso de iodo também é prejudicial à função tireoidiana: • Hipertireoidismo clínico e sub-clínico em idosos • Tireoidite autoimune / Síndrome de Hashimoto - Isso é um problema de saúde pública, uma vez que a população atual está ingerindo grandes quantidades de sal Destino do Iodeto Ingerido - Quando o iodo chega na tireoide ele entra na célula folicular através de um co-transportador sódio/iodeto (NIS) - Para compensar essa entrada excessiva da Na que está entrando junto com o iodeto existe um contra-transportador de Na/K, que retira Na e coloca K - Existe também um contra-transportador (pendrina) que joga o iodeto pra fora (para o colóide) e puxa cloro - Na membrana da célula que está próxima do colóide, existe grande quantidade de peroxidases (tireoperoxidase - TPO), que por sua vez, oxidam iodeto (I-) em I2 - Esse I2 é unido com a tireoglobulina pela peroxidase (esse processo é conhecido como organificação do iodo - pegar o iodo que é inorgânico e juntar com uma molécula orgânica, que é a tireoglobulina) - A Tg contém múltiplos resíduos de tirosina - A organificação do iodo forma os seguintes hormônios: • MIT (monoiodotirosina) • DIT (diiodotirosina) • T3 (Triiodotironina) • RT3 (T3 reverso) • T4 (tiroxina) - Esses hormônios se juntam com a tireoglobulina e formam uma vesícula de coloide, que por sua vez, entra novamente na célula - A megalina é a proteína que permite a entrada desse colóide na célula - Antes de ocorrer a liberação dos hormônios tireoidianos na membrana basal, é necessário dissociá-los da tireoglobulina, que serviu apenas como um transportador - A quebra da tireoglobulina é feita pelas proteases, que estão nos lisossomos - De todos os hormônios liberados a maioria (93%) é T4, depois T3 e RT3 • No entanto, o hormônio que mais tem ação é o T3, e não T4 • O T4 só é liberado em maiores quantidades pois ele funciona como pró-hormônio de T3 • A desiodação de T4 em T3 ocorre principalmente no fígado - MIT e DIT são moléculas muito pequenas, e conseguem sair por poros da vesícula de colóide, sem a necessidade de passar pelo processo das proteases - MIT e DIT não são liberados, eles permanecem na célula folicular para serem reaproveitados na biossíntese Reserva - Se a tireoide parasse de produzir hormônio tireoidiano, o corpo teria uma reserva de cerca de 3 meses - Essa reserva ocorre justamente porque durante a evolução humana houveram períodos de falta de iodo Por que o organismo produz RT3 se ele não tem ação biológica? - Para evitar a ação de hormônios tireoidianos em órgãos específicos, como a placenta, - Esses órgãos possuem maior expressão de enzimas que convertem T4 em RT3, para não haver ação direta de T3 no feto Regulação hipotalâmica da liberação do TSH - A síntese e a liberação dos hormônios da tireoide são reguladas, por retroalimentação negativa, pelo eixo hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano - O TRH é um tripeptídeo sintetizado no hipotálamo e liberado das terminações nervosas na eminência mediana, a partir da qual é transportado, através do plexo capilar porta, para a adeno-hipófise - O TRH liga-se aos receptores metabotrópicos da membrana celular nos tireotropos da adeno- hipófise, onde ativa a fosfolipase C, resultando em um aumento da concentração intracelular de Ca2+, com consequente estimulação da exocitose e liberação de TSH na circulação sistêmica - O TSH é transportado na corrente sanguínea até a glândula tireoide, onde se liga ao receptor metabotrópico de TSH localizado na membrana basolateral das células foliculares da tireoide - A função adequada desse receptor é de importância crítica para o desenvolvimento, o crescimento e a função da glândula tireoide - A ligação do TSH a seu receptor inicia o processo de sinalização por meio do AMPc, da fosfolipase C e da proteína-quinase, o que regula a captação de iodeto e a transcrição da Tg, a tireoide-peroxidase (TPO) e a atividade do simportador de sódio-iodeto (Na+/I–) - A ativação do receptor de TSH resulta em estimulação de todas as etapas envolvidas na síntese dos hormônios da tireoide, incluindo a captação e a organificaçãodo iodo, a produção e a liberação de iodotironina pela glândula, e a promoção do crescimento da tireoide - Especificamente, os efeitos biológicos do TSH incluem a estimulação da transcrição gênica dos seguintes fatores: • proteólise da tireoglobulina (através da TPO) • atividade da bomba de iodeto • iodização da tirosina • tamanho e atividade secretória das células tireoidianas • células tireoidianas - O receptor de TSH representa um importante sítio antigênico envolvido na doença autoimune da tireoide • Autoanticorpos dirigidos contra o receptor podem atuar como agonistas, simulando as ações do TSH no caso da doença de Graves, ou como antagonistas, no caso do hipotireoidismo autoimune (tireoidite de Hashimoto) - Conforme assinalado anteriormente, tanto o crescimento quanto a função da glândula tireoide são estimulados pela elevação do AMPc induzida pela estimulação do TSH • Por conseguinte, a estimulação contínua da via do AMPc pela ligação ao receptor de TSH provoca hipertireoidismo e hiperplasia da tireoide Regulação da Liberação de TSH pelos Hormônios da Tireoide - A liberação de TSH é inibida principalmente pela T3, produzida pela conversão de T4 em T3 no hipotálamo e na adeno-hipófise - A contribuição dessa T3 de origem intracelular na inibição da liberação de TSH por feedback negativo é maior que a da T3 derivada da circulação - Os outros mediadores neuroendócrinos que inibem a liberação de TSH incluem a dopamina, a somatostatina e os glicocorticoides em altos níveis, que provocam supressão parcial da liberação de TSH Feedback Alça curta - O T3 e T4 liberado pela tireoide vai agir no tireotropo inibindo a liberação de TSH pela hipófise Alça longa - O T3 e T4 liberado pela tireoide vai agir nos neurônios parvocelulares inibindo a liberação de TRH Organificação do Iodo - Como já visto, a organificação pode ter como resultados v;arias moléculas (hormônios) que variam conforme a quantidade e localização do iodo ligado à proteína: 1. MIT (tirosina + 1 iodo) 2. DIT (tirosina + 2 iodos) 3. T3 (tironina + 2 iodos no anel interno + 1 iodo no anel externo) —> MIT + DIT 4. RT3 (tironina + 1 iodo no anel interno + 2 iodos no anel externo) —> não tem ação biológico 5. T4 (tironina + 2 iodos no anel interno + 2 iodos no anel externo) —> DIT + DIT Transporte de Tiroxina (T4) e Triiodotironina (T3) - Na maior parte das vezes, os hormônios tireoidianos são transportados pela Globulina Ligadora de Tiroxina (TGB) - Mas também pode ser transportada, em menores quantidades, pela albumina e pela pré- albumina ligadora de tiroxina (transtiretina) - Uma pequena fração de T3 e T4 circulam na forma livre - Dos dois hormônios da tireoide, a T4 liga-se mais firmemente às proteínas de ligação do que a T3, e, portanto, apresenta menor taxa de depuração metabólica e meia-vida mais longa (7 dias) do que a T3 (1 dia) - A ligação dos hormônios da tireoide às proteínas plasmáticas assegura uma reserva circulante e retarda sua depuração - Alterações na quantidade total de proteínas plasmáticas disponíveis para a ligação dos hormônios da tireoide têm impacto sobre a quantidade total de hormônio da tireoide circulante: • Aumento das proteínas transportadoras —> diminuição dos níveis de hormônio livre —> aumenta liberação de TSH pela adeno-hipófise —> aumenta liberação de T3 e T4 pela tireoide • Diminuição das proteínas transportadoras —> aumento dos níveis de hormônio livre —> diminui liberação de TSH pela adeno-hipófise —> diminui liberação de T3 e T4 pela tireoide Metabolismo dos Hormônios da Tireoide - Conforme assinalado anteriormente, a glândula tireoide libera principalmente T4 e quantidades muito pequenas de T3, apesar de a T3 ter maior atividade tireoidiana que a T4 - A principal fonte de T3 circulante consiste na desiodação periférica da T4 por desiodinases - O anel em que a desiodinase atua indica a atividade do T3: • Se atua no anel interno: formação de RT3 (forma inativa)- Desiodinases 1 e 3 • Se atua no anel externo: formação de T3 (forma ativa)- Desiodinases 1 e 2 - Após a conversão da T4 em T3 ou RT3, estas são convertidas em T2, um hormônio biologicamente inativo - Por conseguinte, o metabolismo periférico dos hormônios da tireoide consiste em um processo sequencial de desiodação, que leva, a princípio, a uma forma mais ativa do hormônio tireoidiano (T3) e, por fim, à inativação completa do hormônio (T2) - Foram identificados 3 tipos de desiodinase que diferem em sua distribuição tecidual, perfil catalítico, especificidade de substratos, funções fisiológicas e regulação: 1. Desiodinase tipo I • Catalisa tanto a desiodação do anel externo quanto do anel interno • Converte T4 em T3 e T3 em T2 • Encontrada predominantemente no fígado, rim e tireoide • A propiltiouracila e os agentes de contraste radiológicos iodados, como o ácido iopanoico, inibem a atividade dessa enzima e, consequentemente, a produção de T3 pela tireoide • Principal enzima nos pacientes hipertireoidianos 2. Desiodinase tipo II • Só possui ação no anel externo • Converte T4 em T3 • Expressa no cérebro, hipófise, tecido adiposo pardo, tireoide, placenta e nos músculos esquelético e cardíaco • Principal enzima nos pacientes eutireoidianos 3. Desiodinase tipo III • Só possui ação sobre o anel interno • Converte T4 em RT3 e T3 em T2 —> ou seja, seu principal papel é inativar os hormônios tireoidianos e, por isso, constitui um aspecto importante na proteção placentária do feto • Expressa no cérebro, placenta e na pele Receptores de T3 e T4 - Os receptores dos hormônios tireoidianos são nucleares e estão intimamente associados à cromatina - Esses receptores são expressos em praticamente todas as células do corpo (exceto na hemácia, justamente por não possuírem núcleo) - Seus efeitos são mediados principalmente pela regulação transcricional de genes-alvo, sendo, por isso, conhecidos como efeitos genômicos - Há pouco tempo, tornou-se evidente que os hormônios da tireoide também exercem efeitos não- genômicos, os quais não exigem a modificação da transcrição gênica - Os hormônios da tireoide penetram nas células por um processo mediado por carreadores e dependente de energia, temperatura e Na - Todos os receptores de T3 estão fixados em um lugar chamado elemento de resposta - O elemento de resposta mais os receptores formam um complexo que é denominado fator de transcrição ativado por ligante, ou seja, quando o hormônio se liga nesse complexo pode ativar ou reprimir a transcrição gênica - Há muito mais afinidade do receptor pelo T3 do que pelo T4, - Os receptores possuem ↑ afinidade ↓ capacidade - Como os receptores de hormônios da tireoide estão presentes em virtualmente todos os tecidos, os hormônios tireoidianos desempenham um papel vital no metabolismo celular: • Aumenta o metabolismo da célula a qual se liga • Transcrição na+/k+-atpase (com aumento do consumo de oxigênio) • Transcrição de proteína que permite desacoplamento de ácido graxo e geração de calor sem gasto de ATP • Síntese e degradação proteica • Produção e uso de glicose induzida por insulina • Síntese de colesterol • Regulação de receptores de lipoproteína de baixa densidade Efeitos Específicos dos Hormônios da Tireoide sobre os Órgãos Ossos - O hormônio tireoidiano é essencial para o crescimento e o desenvolvimento dos ossos por meio da ativação dos osteoclastos e osteoblastos - Sua deficiência na infância afeta o crescimento - Nos adultos, a presença de níveis excessivos desses hormônios está associada a um risco aumentado de osteoporose Sistema Cardiovascular - Aumentam o débito cardíaco e o volume sanguíneo - Diminuem a resistência vascular sistêmica Tecido Adiposo - Induzem a diferenciação do tecido adiposo branco, as enzimas lipogênicas e o acúmulo intracelular de lipídeos - Estimulam a proliferação dos adipócitos - O hipertireoidismo aumenta a lipólise,enquanto o hipotireoidismo a diminui por diferentes mecanismos Fígado - Regulam o metabolismo dos triglicerídeos e do colesterol, bem como a homeostasia das lipoproteínas - Eles também modulam a proliferação celular e a respiração mitocondrial Hipófise - Regulam a síntese dos hormônios hipofisários - Estimulam a produção do GH - Inibem o TSH Cérebro - São necessários para o crescimento e desenvolvimento dos axônios (controlam a mielinização) Efeito de Wolff-Chaikoff - Como visto, o TSH regula a síntese de T3 e T4 por um mecanismo de feedback negativo clássico - Todavia, o metabolismo do iodo no interior da tireoide também pode ser regulado de modo independente pelo TSH - Esse mecanismo é importante quando os níveis plasmáticos de iodeto estão elevados, visto que essa elevação inibe a ligação orgânica do iodo dentro da tireoide - Esse fenômeno autorregulador, que consiste na inibição da organificação do iodo pelos níveis circulantes elevados de iodeto, é conhecido como efeito de Wolff-Chaikoff - Esse efeito estende-se por alguns dias, sendo seguido do chamado fenômeno de escape, quando recomeça a organificação do iodo intratireoidiano, com o restabelecimento da síntese normal de T4 e T3 Metabolização - A maior parte do hormônio tireoidiano é eliminado pelo fígado Doenças Relacionadas aos Hormônios da Tireoide HIPOTIREOIDISMO: - Insuficiência da ação dos hormônios da tireoide - Mais comum em mulheres - São reconhecidos 2 tipos: • Hipotireoidismo Primário • Corresponde à 95% dos casos • Consiste em doença da glândula tireoide, o que acarreta na diminuição de T3 e T4 • Por um mecanismo compensatório, há elevação do TSH • Quando ocorre in utero (hipotireoidismo congênito), a consequência consiste em grave deficiência mental ou cretinismo • Hipotireoidismo Secundários • Caracteriza-se por diminuição da secreção do TSH e, subsequentemente, redução da liberação de T3 e T4 • Resulta de distúrbios da adeno-hipófise ou do hipotálamo • O hipotireoidismo secundário não é devido a alterações no nível da própria glândula tireoide, sendo estritamente causado por uma falta de estimulação do receptor de TSH em virtude da redução da liberação de TSH - Existe também o chamado Hipotireoidismo sub-clínico • Consiste na alteração de TSH sem manifestação clínica • Não há necessidade de reposição hormonal, pois estudos mostraram que o tratamento é mais maléfico do que benéfico nesses casos - Ainda, existe uma condição denominada resistência ao hormônio tireoidiano: • Distúrbio genético raro, em que o paciente apresenta sinais e sintomas de hipotireoidismo, porém sem diminuição dos níveis circulantes de hormônios tireoidianos HIPERTIREOIDISMO - Refere-se a um estado de atividade funcional excessiva da glândula tireoide, caracterizado por aumento do metabolismo basal e distúrbios do sistema nervoso autônomo, em consequência da produção excessiva dos hormônios tireoidianos - Incidência maior em mulheres - Várias afecções podem levar ao hipertireoidismo, entretanto, a causa mais comum de em adultos é o bócio tóxico difuso ou doença de Graves • Doença de Graves • Afecção autoimune que leva à secreção autônoma excessiva de hormônio tireoidiano, devido à estimulação dos receptores de TSH pela imunoglobulina G • A estimulação contínua do receptor de TSH por anticorpos semelhantes ao TSH resulta em produção excessiva de T3 e T4 • Consequentemente, por um mecanismo compensatório, há baixa produção de TSH • Clinicamente, cerca de 40 a 50% dos pacientes com hipertireoidismo apresentam protrusão dos olhos (exoftalmia) em consequência da infiltração dos tecidos e dos músculos extraoculares por linfócitos e fibroblastos, bem como do acúmulo de hialuronato, um glicosaminoglicano produzido pelos fibroblastos nos tecidos e nos músculos • Hipertireoidismo Secundário • Causado por um aumento na liberação do hormônio tireoidiano pela glândula tireoide em resposta a níveis elevados de TSH derivados de adenomas hipofisários secretores de TSH • O perfil hormonal caracteriza-se pela incapacidade de suprimir o TSH, apesar dos níveis elevados dos hormônios tireoidianos livres (T3 e T4) METABOLISMO DO CÁLCIO E FOSFATO Distribuição do Cálcio e Fosfato no Organismo - O cálcio extracelular pode ser dividido em 3 estados: 1. Cálcio ionizado livre • Faz parte da cascata de coagulação • Desempenha importante papel nas reações intracelulares • Utilizado na dosagem de calcemia 2. Cálcio não ionizado • Fração ligada à albumina 3. Cálcio complexado • É a primeira reserva de cálcio a ser utilizada nos casos de hipocalcemia Reservatórios de Cálcio - Perceba que fora a parte ionizada livre, todo o resto do cálcio no organismo serve como reserva - Essa quantidade enorme de reserva é justificada pela função vital que o cálcio exerce (desde cascata de coagulação até comunicação celular) - Ordem de uso dos reservatórios: 1. Cálcio complexado 2. Cálcio intracelular 3. Margem dos ossos (canalículos) 4. Ossos propriamente ditos (destruição dos cristais de hidroxiapatita) Dosagem de Cálcio - Dosagem em jejum de 4 horas para adultos e 2 horas para recém-nascidos: • Cálcio Total • É a soma de todas as formas do cálcio extracelular (ionizado livre, não ionizado e complexado) • Concentrações muito baixas de cálcio total costumam ser letais • Cálcio ionizado • Só mede a fração livre do cálcio Importância do Cálcio Extracelular - Formação dos ossos e dentes - Produção de leite - Coagulação sanguínea - Adesão celular Intracelular - Contração muscular - Divisão celular - Atividades enzimática - Vias de segundos mensageiros Cálcio e Atividade Neuronal Hipercalcemia - Diminuição da atividade neuronal: • Parada cardíaca • Constipação • Perda do apetite Hipocalcemia - Aumento da atividade neuronal: • Hiperexcitabilidade neuronal • Tetania • Convulsões Sinais de Tetania - Sinal de Trousseau (espasmo carpopédico): • Provocado ao se manter o manguito do aparelho de pressão insuflado, por 3 min, 20 mm de mercúrio acima da pressão sistólica do paciente • Nos casos de hipocalcemia, ocorrem flexão do punho, extensão das articulações interfalangianas e adução do polegar, configurando o que se costuma chamar de "mão de parteiro" - Sinal de Chvostek: • É pesquisado pela percussão do nervo facial, adiante do pavilhão auditivo • Quando há hipocalcemia, aparece contração da musculatura da face e do lábio superior no lado em que se fez a percussão • É importante ressaltar que o sinal de Chvostek ocorre em 10% da população normal - Como visto, o cálcio é essencial na contração muscular, logo, seria coerente pensar que a hipocalcemia causasse diminuição da atividade neuronal e relaxamento muscular - No entanto, quando há quedas dos níveis de cálcio ocorre um mecanismo compensatório que aumenta a permeabilidade dos neurônios ao sódio - Consequentemente, há aumento da despolarização e contração muscular Absorção e Excreção do Cálcio - Perceba que há um equilíbrio: o 1g que é proveniente da dieta é, no final das contas, eliminado via urina (0,1g) e fezes (0,9g) - O cálcio é depositado nos ossos na forma de cristais de hidroxiapatita - Se durante a formação desses cristais ocorre a ingestão de estrôncio, urânio, plutônio, chumbo e ouro, esses outros elementos são depositados junto com esse complexo de cristais nos ossos • Por isso, pessoas que são expostas à radiação ficam liberando material radioativo durante anos Mecanismo de Calcificação Óssea 1. O osteoblasto produz monômeros de colágeno e substância fundamental 2. Esses monômeros de colágeno sofrem polimerização e formam fibras colágenas 3. Essas fibras colágenas se juntam com a substância fundamental e formam o osteoide 4. Existe uma chuva de sais de cálcio e fosfato, que forma: • Cristais de hidroxiapatita (parte inorgânica) • Compostos não cristalinos amorfos (sem formadefinida) 5. Os osteoblastos começam a ficar aprisionados nessa matriz óssea produzida por eles mesmos, e passam a ser chamados de osteócitos 6. O osteócito muda sua morfologia, e adquire várias projeções em direção à matriz óssea 7. Essas projeções estabelecem comunicação entre elas 8. Existe um fluído que percorre esse mecanismo de comunicação (sistema de membrana osteocítica) 9. Esse fluído é rico em cálcio, e é a primeira reserva de Ca do organismo Controle da Concentração do Cálcio Ionizado Livre - Existem 2 mecanismos: 1. Controle por Tamponamento • O cálcio é retirado dos ossos, através do sistema de membrana osteocítica • Retirado também das mitocôndrias (principalmente do fígado e intestino) 2. Controle Hormonal • Controle dos níveis de cálcio através dos seguintes hormônios: • Vitamina D • Paratormônio (PTH) • Calcitonina Vitamina D - A vitamina D foi descoberta como um agente presente no óleo de fígado de bacalhau - A vitamina D3 não é mais considerada uma vitamina verdadeira e sim um pró-hormônio - Existem duas fontes de vitamina D: • Via alimentação (10 a 20%) • Origem animal (D3) • Origem vegetal (D2) • Via endógena, através dos raios Uv (80 a 90%) • Quando exposto ao sol, a 7-dehidrocolesterol é convertida em pré-D3 e depois em D3 (ou seja, a maior parte da D3 é formada pela ação dos raios Uv) Metabolismo da Vitamina D 1. O D3 (proveniente da fotossíntese e de fontes alimentares animais) e o D2 (proveniente de fontes alimentares vegetais) vão para a corrente sanguínea e chegam no fígado • Nome técnico da vitamina D3 = colecalciferol • Nome técnico da vitamina D2 = ergocalciferol 2. Dentro do hepatócito, existe ação da enzima 25-hidroxilase, que acrescenta uma hidroxila no carbono 25 do colecalciferol, que passa a ser denominado 25-hidroxicolecalciferol [ 25(OH)D3 ] 3. O 25-hidroxicolecalciferol passa agora pelos rins, e sofre ação da enzima 1-alfa-hidroxilase, que coloca uma hidroxila no carbono 1 do 25-hidroxicolecalciferol, que passa a ser denominado 1-alfa-25-dihidroxicolecalciferol, que é a vitamina D ativa ( a vitamina D ativa também pode ser chamada de calcitriol) OBS - Tratamento de hipovitaminose D: • Vitamina D3 (colecalciferol) • No entanto, se o paciente apresenta insuficiência hepática ou renal, esse colecalciferol não será convertido em vitamina D ativa e, por isso, nesses casos se prescreve 1-alfa-25- dihidroxicolecalciferol (que já é a vitamina D ativa) • Calcinose = excesso de cálcio, o que causa calcificação no fígado, artérias, etc • Por isso, raramente se utiliza vitamina D ativa (prefere-se deixar o fígado e rim regularem a necessidade) - Dosagem de vitamina D: • Para diagnosticar hipovitaminose D é dosado o 25-hidroxicolecalciferol [25(OH)D3], pois essa é a forma que ja passou pelo fígado e é a forma de reserva de vitamina D3 • O método mais utilizado para dosar vitamina D é o HPLC, que apresenta precisão e exatidão Ação da Vitamina D Ativa - Intestino: • Aumenta absorção de Ca e P - Osso: • Aumenta mineralização óssea - Células imunes: • Induz diferenciação do sistema imune - Proteção anti-tumoral: • Inibe proliferação • Induz diferenciação • Inibe angiogênese - Rins: • Diminui a excreção renal de Ca e P Fatores que Diminuem a Síntese Cutânea de D3 - Uso de creme com fator de proteção solar - Pigmentação da pele (absorção dos raios UV pela melanina) - Envelhecimento (redução do 7-dehidrocolesterol) - Hora do dia; estação do ano; latitude - Indivíduos com tatuagens e/ou queimaduras na pele Receptor de Calcitriol - É um receptor intracelular - Receptor para a vitamina D ativa (mas pode ocorrer da forma inativa também se ligar nesse receptor) - Quando há a ligação, ocorre alteração do DNA (fator de transcrição ativada por ligante), assim como no hormônio tireoidiano Outras Funções da Vitamina D - Síntese de ATBs naturais pelas células de defesa dos mamíferos (através dos hepatócitos) - Modulação da autoimunidade e síntese de interleucinas inflamatórias - Controle da PA em obesos (somente em obesos) - Papel antioncogênico - Controle do bom humor Profilaxia da Hipovitaminose D - Se faz com doses baixas, pois deve-se suprir apenas a necessidade diária - 600 UI/dia a 800 UI/ dia (em idosos) Tratamento de hipovitaminose D - Se faz com altíssimas doses, pois é necessário repor tanto o uso diário quando o déficit de reserva que esse paciente apresenta - 6.000 UI/dia até que sejam atingidos ou níveis necessário OU 50.000 UI/semana por 6-8 semanas - Doses elevadas anuais não são recomendadas Em quem avaliar vitamina D? - Idosos (com história de quedas ou fraturas não-traumáticas), principalmente os que estão em asilos - Paciente com osteoporose - Pacientes com doença renal e hepática crônicas - Síndrome de má-absorção - Doenças granulomatosas (doenças consumptivas) - Uso de • Anticonvulsivantes • Glicocorticoide • Anti-retrovirais • Antifúngicos - Crianças e adultos obesos • Pois esses pacientes apresentam maior incidência de hipovitaminose do que o restante da população • Pacientes hipertensos obesos, que utilizam vitamina D, apresentam diminuição da PA PARATORMÔNIO (PTH) Paratireoide - Glândula, geralmente localizada na face posterior da tireoide, responsável pela produção e liberação do PTH - A paratireoide é composta por 2 tipos celulares: • Células principais • Maioria • Produtoras de PTH • Células oxifílicas • Função desconhecida até o momento • As células principais são transformadas em células oxifílicas por transdiferenciação em pacientes com doenças renais, diminuindo assim a produção de PTH Paratormônio (PTH) - Peptídeo de 84 aa - Seus compostos menores (34 aa), também possuem atividade PTH e são menos removidos pelos rins - Liberado quando a ↓ [Ca] Liberação de PTH pelas Células Principais - Existe um receptor metabotrópico de cálcio nas células principais - Toda vez que o Ca se liga nesse receptor, há ativação de uma cascata, que aumenta a degradação de PTH, diminuindo sua liberação - Quando há falta de Ca, e o receptor está inativo, há liberação de PTH - Perceba que é um mecanismo “inverso” do que estamos acostumados: • A célula está constantemente produzindo PTH • Quando há falta de Ca, ele já está pronto e a liberação é imediata (mecanismo de segurança) • Se há cálcio, PTH é degradado - A presença de vitamina D indica que há Ca no sistema, logo, diminui a liberação de PTH Ativação da vitamina D pelo PTH para Obter Cálcio 1. Hipocalcemia (Ca não ligado no receptor nas células principais) 2. Aumenta liberação de PTH pelas células principais 3. PTH age nos rins 4. Aumenta expressão da alfa-1-hidroxilase, consequentemente formando mais vitamina D ativa 5. Vitamina D ativa aumenta a absorção de cálcio, incrementando a mineralização óssea 6. A própria presença de vitamina D ativa faz feedback negativo com os rins, diminuindo a síntese de alfa-1-hidroxilase - Pacientes com insuficiência renal produzem pouca alfa-1-hidroxilase; • Com baixa alfa-1-hidroxilase não ocorre feedback negativo, e o PTH continua sendo liberado - Para esse pacientes existe o medicamento Cinacalcet —> sensibilizador do receptor de Ca das células principais, que tentar corrigir esse desequilíbrio Ação do PTH Age sobre o tecido ósseo e renal (Receptores = PTH R1/R2/R3) - Renal: • ↑ reabsorção de Ca2+ (↑ a expressão de 1α-hidroxilase) • ↓ reabsorção de Pi - Ósseo: • ↑ mobilização de Ca2+ e de Pi • Por isso pacientes com insuficiência renal que possuem muito PTH podem apresentar problemas ósseos Ação do PTH na Célula Renal - Aumento da Reabsorção Transcelular de Ca • O PTH age sobre os canais de cálcio das células renais • A ação do PTH faz com que esses canais abram e ocorre influxo de Ca • Dentro da célula renal, o Ca é transportado pela calbindina (que é ativada pela vitaminaD) • A calbidina leva esse Ca até a membrana basolateral • Na membrana basolateral, esse cálcio entra para o espaço intersticial (através de uma bomba ou através de um trocador 3Na/Ca • Do espaço intersticial, o Ca atinge a corrente sanguínea - Diminuição da Reabsorção de P • Além disso, o PTH bloqueia o canal de P, diminuindo sua reabsorção Ação do PTH na Célula Intestinal (ação indireta) 1. PTH ativa a vitamina D 2. A vitamina D age no DNA das células intestinais 3. Ocorre aumento da transcrição de canais que transportam Ca e P para dentro da célula 4. Dentro da célula o Ca e P são transportados pela calbindina ativada por Vitamina D 5. Ca passa do lumen para a corrente sanguínea Mobilização do Ca e P dos ossos Fase Rápida: - No sistema de membranas osteocíticas existe o chamado líquido ósseo, rico em Ca - Esse líquido serve para repor Ca sem que seja necessário desmineralizar osso - Se o líquido ósseo não der conta, inicia-se a retirada de Ca dos ossos para o sangue - De forma contrária, também é possível passar o Ca desse liquido para o osso, sem que seja necessário tirar Ca do sangue Fase Lenta: - Ocorre destruição óssea - O osteoblasto produz o RANK ligante (RANK-L), também chamado de OPGL (ligante de osteoprotegerina) - RANK-L se liga no RANK dos macrófagos imaturos, amadurecendo essas células e fazendo com que elas se transformem em osteoclastos - O PTH aumenta a expressão do RANK-L, fazendo mais osteoclastos, aumentando, portanto, a desmineralização óssea, liberando Ca e P na corrente sanguínea - O osteoclasto necessita liberar 2 substâncias para destruir o osso: • Proteases (lisossomos) —> destrói a parte orgânica do osso • Secreção ácida —> destrói a parte inorgânica do osso - Perceba que ao mesmo tempo que o PTH desmineraliza o osso e libera Ca e P na corrente sanguínea, ele também aumenta a disponibilidade de vitamina D - A vitima D, por sua vez, aumenta a absorção de Ca no TGI e diminui a excreção renal Ca - Note, portanto, que é um sistema perfeitamente integrado Beta-Integrinas - Os osteoclastos possuem estruturas chamadas de Beta-integrinas, - As beta-interinas isolam os osteoclastos e impedem que as proteases e secreções acidas vazem da área de reabsorção e comecem a degradar a área óssea adjacente O que acontece quando não há mais falta de cálcio? - Quando o nível de Ca volta ao normal, o PTH para de ser liberado - Consequentemente, os osteoblastos param de liberar RANK-L, o que impede a formação de novos osteoclastos - O problema é que as moléculas de RANK-L que já foram liberadas, continuam agindo, produzindo novos osteoclastos - A solução foi o osteoblasto produzir uma substância chamada osteoprotegerina, que se liga no RANK-L, impedindo sua ação - Fatores que interferem na produção de osteoprotegerina: • PTH = diminui a produção • Glicocorticoide = diminui a produção (por isso, o uso prolongado de corticoide causa osteoporose) • Estrogênios = aumenta a produção (isso explica por que na menopausa, quando os níveis de estrogênios caem, as mulheres começam a apresentar osteoporose) Tumores Ósseos - Células tumorais secretam fatores que estimulam os osteoblastos a secretarem RANK-L, aumentando, portanto, a reabsorção óssea - A desmineralização libera fatores de crescimento da matriz óssea que nutrem as células tumorais - Perceba que é um processo cíclico Denosumabe - Denosumabe é um anticorpo que se liga no RANK-L - Isso bloqueia bloqueia a ação do RANK, diminuindo a produção de ostoclastos, consequentemente realizando menos desmineralização óssea - Por isso, é utilizado no tratamento de osteoporose - Mecanismo semelhante ao da osteoprotegerina Bisfosfonatos (alendronato®) - Os bisfofonatos entram na matriz óssea - Quando os osteoclastos começam a digerir a matriz óssea, os bisfosfonatos entram nos osteoclastos, causando apoptose da células hospedeira, diminuindo a desmineralização CALCITONINA - É um peptídeo de 32 aa - Produzido pelas células parafoliculares da tireoide Ação - Diminui a [ ] plasmática de Ca, colocando cálcio novamente no osso • Por isso, a calcitonina também foi pensada para o tratamento de osteoporose; o problema é causar hipocalcemia no paciente Liberação - O maior estímulo para sua ação é a elevação do Ca iônico Mecanismo de ação - Redução da atividade absortiva dos osteoclastos - Diminuição da formação de novos osteoclastos Importância - Controle da hipercalcemia - Agente anti-reabsortivo ósseo - Marcador tumoral para o diagnóstico e seguimento de pacientes portadores de carcinoma medular de tiróide (CMT) —> se a tireóide produz calcitonina, um tumor ali pode causar aumento da produção de calcitonina, se ela for dosada, pode-se fazer o Dx de um CA
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