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CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA MUSCULAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: Uma revisão bibliográfica Ramon Castro de Oliveira São Desiderio - BA 2021 Ramon Castro de Oliveira MUSCULAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: Uma revisão bibliográfica Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Unip como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Educação Física. Orientador: Prof. São Desiderio - BA 2021 RESUMO O presente estudo tem por objetivo identificar os benefícios que a atividade física, especificamente a musculação, desempenha na vida de adolescentes. Partindo incialmente na compreensão do que é a adolescência e como o cérebro do adolescente sofre influências hormonais, cognitivas, mudanças de estruturas cerebrais próprias dos estágios da sua faixa etária, e como estas transformações influenciam as mudanças físicas. Neste cenário, mostrar a musculação pode atuar como ferramenta complementar para ajudar o cérebro do adolescente a se reajusta à nova realidade corporal, e pode ser praticada por adolescentes, com o auxílio de um profissional qualificado na área. Trata-se de uma revisão bibliográfica, com uma abordagem predominantemente qualitativa, relacionada à busca de informações sobre a musculação na adolescência, sendo possível concluir que a musculação pode atuar como ferramenta complementar para ajudar o cérebro do adolescente a se reajustar à nova realidade corporal. Palavras-Chave: Adolescência, atividades esportivas, musculação na adolescência ABSTRACT This study aims to identify the benefits that physical activity, specifically weight training, plays in the lives of adolescents. Starting initially with the understanding of what adolescence is and how the adolescent's brain undergoes hormonal and cognitive influences, changes in brain structures specific to the stages of their age group, and how these transformations influence physical changes. In this scenario, showing weight training can act as a complementary tool to help the adolescent's brain readjust to the new body reality, and it can be practiced by adolescents, with the help of a qualified professional in the area. This is a literature review, with a predominantly qualitative approach, related to the search for information about bodybuilding in adolescence, and it is possible to conclude that bodybuilding can act as a complementary tool to help the adolescent's brain to readjust to the new body reality. Keywords: Adolescence, sports activities, weight training in adolescence SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 5 2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................. 7 2.1 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A FASE DA ADOLESCÊNCIA ....................... 7 2.2 ATIVIDADES ESPORTIVAS RELACIONADAS À MUSCULAÇÃO ....................... 9 2.3 PRÁTICA DA MUSCULAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA .......................................... 11 3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 15 4 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 15 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 17 5 1 INTRODUÇÃO Essencialmente o homem tem a necessidade de se movimentar. Desde os tempos primórdios desenvolveu interação com a natureza e seu corpo responde a estes instintos por meio de movimentos, como pular, correr, utilizar a força corporal entre outros. Com o desenvolvimento intelectual e social do homem, a prática de atividade físicas passa a ser vista pela ótica dos multibenefícios que proporciona no crescimento e desenvolvimento corporal. Estudos indicam claramente que a atividade física regular tem relação com a saúde, além de existir uma associação inversa entre os níveis desta atividade física e a incidência de diversas doença (DHHS, 2008). Em todo tempo de sua vida, o ser humano apresenta alterações físicas, psicológicas e emocionais, onde são desenvolvidas habilidades para socialização em uma comunidade, estas surgem de forma latente na adolescência. Assim, o desenvolvimento corporal sofre influência de acordo com as escolhas dos indivíduos em uma série de fatores, estes que já estão presentes no ser humano desde as fases iniciais do seu desenvolvimento, e apresentarão reflexos na fase adulta, pois uma criança ativa fisicamente apresenta a tendência de tornar-se também um adulto ativo (LAZZOLI et al, 1998). A prática de atividades físicas na adolescência aparece como um dos determinantes de um estilo de vida ativo na vida adulta. Desta forma, uma atenção especial à prática de atividades físicas neste período pode ser o primeiro passo para reverter o crescente quadro de sedentarismo e suas consequências entre as populações (TROST et al., 2002). A obesidade na adolescência é considerada uma pandemia. Jovens obesos apresentam maior probabilidade de desenvolver fatores de risco cardiometabólicos, diabetes, hipertensão, hepatopatia, doença articular, asma, problemas de saúde bucal, ansiedade, depressão, alterações ortopédicas e articulares, transtornos de déficit de atenção como hiperatividade, problemas de sono e percepção negativa de qualidade de vida (SBP, 2017). Dentre as práticas de atividades físicas, a musculação é uma tradicional procura. Pereira (2005) sustenta nos princípios de treinamento com pesos um eficiente mecanismo na indução de respostas fisiológicas ao exercício, assim, sendo 6 também considerada a atividade física mais eficiente para a modificação da composição corporal pelo aumento da massa muscular (MAESTÁ, 2000). Por muito tempo, a prática da musculação foi considerada inapropriada para adolescentes, por acreditarem que esta prejudicaria ou atrapalharia os níveis de desenvolvimento do adolescente, tendo em vista que é nessa faixa etária que assistimos à transição da fase infantil para a adolescência e com ela uma série de transformações. No entanto com a crescente procura dos adolescentes às práticas esportivas relacionadas musculação, a temática do presente estudo justifica-se em verificar os resultados na composição corporal, saúde e bem-estar dos adolescentes que fazem musculação, a fim de contribuir na identificação dos pontos positivos e os que podem ser melhorados no seu estilo de vida ativo, recebendo informações e tendo a possibilidade de tomar decisões que possam mudar a qualidade de vida atual. Em virtude da importância de levantamentos que evidenciem a temática proposta, o presente estudo tem por objetivo apresentar as principais orientações e cuidados quanto ao exercício da musculação para adolescentes mostrando as principais informações, a importância do estímulo à prática de atividades físicas na adolescência, analisar os benefícios das atividades físicas e esportivas na adolescência, bem como avaliar os riscos da musculação nessa faixa etária, a fim de maneira correta de execução. O estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, com uma abordagem predominantemente qualitativa, relacionada à busca de informações sobre a musculação na adolescência, onde a pesquisa se deu a partir de artigos, teses e dissertações de arquivos disponíveis na Scielo, PubMed, RBME – Revista Brasileira de Medicina de Esporte assim como em bibliotecas de outras unidades de ensino superior de renome. Os descritorespara a busca de dados foram: Musculação, Treino de força, adolescência, adolescente. 7 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A FASE DA ADOLESCÊNCIA O termo Adolescência vem do latim Adolescere, que significa crescer, e foi usada pela primeira vez na língua inglesa em 1430, referindo-se a idades entre 14 anos e 21 anos, para homens e, 12 anos a 21 anos para mulheres (SILVA, 2020). Na adolescência, definida como o período biopsicossocial que representa a segunda década da vida (10 aos 20 anos de idade), ocorre um desenvolvimento importante do ser humano, que engloba mudanças físicas e fisiológicas, desenvolvimento intelectual dos interesses e das atitudes, sendo um período evolutivo. Essas mudanças requerem reformulação da imagem, porém isso só é possível a partir da elaboração da perda do infantil e aceitação do novo (CATALAN, 2011). Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-americana de Saúde (OPS) a adolescência se constitui um processo biológico e vivências orgânicas, no qual se aceleram o desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade, abrangendo a pré-adolescência (entre 10 e 14 anos) e a adolescência dos 15 aos 19 anos (EISENSTEIN, 2005) A fase da adolescência é reconhecida em proporções universais, porém é uma experiência vivenciada de forma individual e diferenciada, a partir do contexto social, histórico e cultural no qual o indivíduo está inserido. Alguns estudiosos acreditam que a adolescência é um período que não existe realmente, ou seja, é uma construção social concebida pelas sociedades ocidentais (SILVA, 2020). No período da Grécia Antiga – 1100 a.C., a adolescência era considerada uma fase de impulsividade e excitabilidade. Aos jovens era indicado aprender as virtudes cívicas e militares, quando fizessem 16 anos poderiam falar em assembleias, e aos 18 anos alcançavam a maior idade e poderiam ser considerados cidadãos gregos (SCHOEN-FERREIRA et al., 2010). Na Roma Antiga, eram ordenadas atividades aos jovens a partir da sua classe social. Se fossem camponeses poderiam ter o ofício de agricultores ou guerreiros, se fossem de famílias abastadas tinham acesso à educação. Assim como na Grécia Antiga, não havia uma delimitação sobre o período da adolescência, pois esse 8 conceito não era concebido por eles, a maturidade da puberdade ditava as fases da vida dos jovens (SCHOEN-FERREIRA et al., 2010). Durante os séculos XVII e XVIII, em decorrência da mudança do contexto social de vida pública para vida privada a família se torna principal responsável pela educação dos jovens e pela preparação para a vida adulta. Estudos levam a acreditar que foi papel da família burguesa a separação entre as atividades da criança e a dos adultos (BERNI; ROSO, 2014). Durante o século XIX, no Brasil, a distinção das fases da vida também era feita por meio das mudanças físicas, e as repetições das obrigações sociais serão dadas também a partir do gênero e da maturação física. A adolescência da menina, por exemplo, era marcada por ritos como a primeira eucaristia e o casamento (que acontecia muito cedo com 12 anos, no máximo aos 14 anos), enquanto que os meninos tinham como pontos a primeira eucaristia e o bacharelado (SILVA, 2020). A revolução industrial trouxe impactos na organização do trabalho e comportamentos reprodutivos, séculos XIX e XX, que contribuíram na definição do período transitório entre infância e fase adulta. A preparação para o trabalho e a vida adulta, bem como a dedicação à educação e experimentação da vida para capacitar o sujeito ao trabalho, marcou a adolescência, tornando um tema relevante na para a psicologia, como uma nova categoria de desenvolvimento procuravam-se explicar o novo período, assim como o que esperar ou não dos adolescentes (FONSECA, 2011). O ser humano era composto por fases, e cada uma traria aprendizados para a vida do indivíduo. Para a fase da adolescência, Robert J. Havighurst propôs: Aceitar o próprio corpo ; estabelecer relações sociais mais maduras com os pares de ambos os sexos; desenvolver o papel social de gênero ;alcançar a independência financeira dos pais e outros adultos, com relação aos aspectos emocional, pessoal e econômico ; escolher uma ocupação e preparar-se para a mesma; preparar-se para o matrimônio e a vida em família ;desenvolver a cidadania e comportamentos sociais responsáveis ; além de conquistar uma identidade pessoal, uma escala de valores e uma filosofia de vida que guiem o comportamento do indivíduo (HAVIGHURST, 1974). Apesar do luto e da turbulência hormonal, acontecido do cérebro, o adolescente também se faz caracterizado pela indecisão - de um lado já não é mais criança, enquanto que do outro, ainda não é um adulto e, ao mesmo tempo, não consegue e nem sabe como fará para definir sua identidade perante os demais (JERUSALINSKY, 2004). 9 A adolescência é reflexo de um estirão de crescimento, onde a proporcionalidade do corpo fica totalmente desordenada. [...] a passagem da infância para a vida adulta não é marcada pelo único evento, mas por um longo período conhecido como adolescência (marcação dos autores) – uma transição no desenvolvimento que envolve mudanças físicas, cognitivas, emocionais e sociais e assume formas variadas em diferentes contextos sociais, culturais, e econômicos (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Em uma definição atual, a adolescência é dita como processo natural da vida parecem não valorizar ou esquecer que em todas as fases da vida o ser humano passa por transformações tanto no nível corporal quanto psicológico (BERNI; ROSO, 2014). Na última década o foco científico orientado para as tensões e faltas na adolescência começou a ser substituído por uma teoria associada ao desenvolvimento de recursos do indivíduo e do ecossistema, chamada de ponto de vista positivo. Sendo assim, é pretendido sobrepor a visão negativa associada a esse período, que por vezes prevalece na ciência nos campos da psicologia, sociologia e educação (SENNA; DESSEN, 2012). Ser adolescente é carregar uma marca de insuficiência em relação às competências dos adultos, eles não são livres para tomar decisões e são rotulados como incompetentes ou menos competentes a depender da função que forem exercer. A imaturidade emocional e biológica, menos responsáveis e por não terem trabalho são dependentes financeiramente (ALMEIDA; CUNHA; SANTOS, 2004). 2.2 ATIVIDADES ESPORTIVAS RELACIONADAS À MUSCULAÇÃO São vários os estudos que testificam os benefícios do exercício físico, para saúde do indivíduo, bem como os efeitos negativos pela inatividade física e, neste sentido os princípios biológicos do exercício físico também permitem uma compreensão da necessidade de ao executar um programa de exercício físico considerar os fatores que possibilitam uma prática segura e eficiente, sobretudo a realização concreta dos objetivos dos sujeitos praticantes (CARTIER et al., 2006). Dentre as várias modalidades de exercícios físicos, uma das mais comuns é a musculação que auxiliar na manutenção da saúde, promove o emagrecimento, o ganho de massa magra e melhora a resistência do organismo (SANTAREM, 2012). 10 Um corpo escultural com músculos arquitetados é mais que um desejo pessoal, é quase que uma imposição da atual sociedade, sendo considerado, por muitos, um importante elemento para o sucesso nas relações interpessoais (CROSSLEY, 2006; LÜDORF, 2009). Em um contexto onde é valorizada a aparência do corpo, não é espantoso que a gordura passe a ser vista quase como uma doença e que sejam travadas batalhas a fim de retardar ou camuflar as marcas do envelhecimento (GOLDENBERG; RAMOS, 2002). Assim, as práticas corporais e, também, um dos principais locais direcionados a essas práticas, como a academia de ginástica, ganham cada vez mais visibilidade na sociedadecontemporânea. Segundo Hansen e Vaz (2006), estes locais possuem seus próprios costumes e hierarquias, levando o corpo a alcançar "centralidade máxima". Na sociedade contemporânea observa-se poucas pessoas que pensam no ganho do corpo da forma correta, mas a juventude tem pressa para ocupar seu lugar social. O corpo não deve ser entendido como uma máquina, mas um templo que deve ser cultivado com responsabilidade, construindo-o com prática de exercícios físicos de forma coerente com seu objetivo e dando manutenção a sua saúde e qualidade de vida, sem a influência de fatores externos e social “toda a ordem política vai de encontro à ordem corpora. (Le Breton, 2006, p. 79). Existem vários motivos pelos quais as pessoas procuram ingressar em uma academia, a busca de atividade física, geralmente, se dá pelo fato de querer perder peso, ganhar massa magra (hipertrofia), resistência muscular, ou simplesmente para diminuir o estresse, sair do sedentarismo, combater e/ou diminuir o risco de algumas doenças, como: cardiovascular, pulmonar, entre outras. Pesquisas apontam que de 2009 a 2013, 11% das pessoas estão cada vez mais em busca de uma melhor qualidade de vida realizando exercícios físicos em tempos livres (Portal Brasil, 2014). A qualidade de vida da população hoje em dia está abalada tanto em nível físico quanto psicológico devido ao grande estresse e estafa, aliada a uma alimentação inadequada e pela não regularidade na prática de exercícios físicos. As pessoas estão cada vez mais sedentárias, sendo que justamente essas, seriam as mais beneficiadas pela prática regular da atividade física. (TAHARA; SCHWARTZ; SILVA, 2003) 11 A prática da musculação produz vários benefícios, assim como a academia proporciona uma melhor estabilidade articular, aumento do colesterol HDL, aumento da flexibilidade, força, resistência aeróbia e anaeróbia, facilitação da correção de vícios posturais, diminuição do estresse psicológico. Assim, entende-se que a pratica da atividade física, principalmente em ambiente específico e com profissionais especializados promove além de benefícios fisiológicos, benefícios psíquicos e sociais (RAMOS, 1997). O treinamento resistido é fundamental para manutenção da saúde e melhora de capacidades fundamentais, como a força, aptidão cardiorrespiratória e equilíbrio. A musculação, por ser um exercício de alta intensidade, auxilia na redução de peso, leva a um gasto calórico elevado, mas seu principal benefício está relacionado ao ganho de massa muscular, pois está, elevará o gasto calórico metabólico, já que os músculos são um dos principais responsáveis pelo consumo de energia, ajudando também na redução do que chamamos de “gordura localizada” (HANSEN; VAZ, 2006). A musculação é, portanto, considerada um exercício físico completo e seguro. Sua execução é indicada para todas as pessoas, desde que haja acompanhamento de um profissional de Educação Física (BALDISSERA, et al., 2017). Os exercícios e pesos variam de acordo com a idade, as condições físicas e os objetivos desejados com o treinamento. Esses exercícios auxiliam na manutenção da boa postura, melhoram o sistema cardiorrespiratório, fortalecem a musculatura, melhoram a mobilidade, flexibilidade e autoestima, proporcionam sensação de bem- estar, alívio do estresse e controle de peso, entre outros (SIMÕES et al., 2011). Em linhas gerais, essa prática esportiva auxilia na qualidade de vida. E durante a atividade de musculação, o aluno saia da academia com a sensação de bem-estar e, por vezes, esquecendo até de seus problemas. (TAHARA; SCHWARTS; SILVA, 2003). 2.3 PRÁTICA DA MUSCULAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA Estudos com crianças e adolescentes têm apontado uma associação direta entre desempenho motor e atividade física, onde um bom nível de desempenho motor e de aptidão física relacionada à saúde, nas fases iniciais da vida, apresenta-se associado a bons indicadores de saúde, tais como: baixos níveis de colesterol e 12 triglicerídeos, pressão arterial e sensibilidade à insulina equilibradas, risco menor de obesidade, baixa prevalência de lombalgias e desvios posturais, além de refletir em bom desempenho acadêmico (EISENMANN et al., 2007). Outras investigações prospectivas sugerem que a baixa aptidão física na infância e adolescência reflete negativamente na vida adulta (MIKKELSSON et al., 2006). Evidências indicam que a atividade física durante a infância e a adolescência pode contribuir para o enfrentamento da obesidade ao menos por três caminhos: I) A prática de atividade física na infância e adolescência auxilia no equilíbrio do balanço energético e, consequentemente, na prevenção e tratamento da obesidade e de doenças relacionadas à obesidade nesta fase da vida; II) Jovens ativos tendem a se tornar adultos ativos, aumentando o gasto energético durante todo o ciclo de vida; III) Jovens ativos possuem menor probabilidade de desenvolver obesidade e doenças relacionadas à obesidade na fase adulta (BARROS; SILVA, 2017). A discussão sobre a prática de musculação para adolescente vem desde a década de 50, no entanto só ganhou evidência a partir de 1980, quando pesquisadores constataram que essa prática não era prejudicial ao desenvolvimento desses indivíduos, exceto se for feita de forma indiscriminada sem levar em consideração a relação idade-peso do praticante (SILVA, 2020). Esse método de treinamento exige uma contração muscular que promove um aumento da atividade osteoblastica na região óssea, próxima aos locais onde os músculos se inserem gerando um aumento da mineração óssea. Esse mecanismo de carga imposto pelo exercício aumenta a densidade óssea, fortalece os tendões, ligamentos e articulações, gerando um aumento na estabilidade articular e resistência as sobrecargas, o que contribui para a prevenção e redução dos números e ou da gravidade de lesões musculares em atletas jovens independentemente do sexo e da idade de quem os pratica (DE CAMPOS, 2011). A prática ordenada da musculação entre adolescentes deve levar em consideração alguns cuidados como o uso de calçado apropriado, as cargas, execução mecânica do exercício, a idade do praticante e a intensidade. O treinamento resistido pode ser desenvolvido em adolescentes desde que o programa seja organizado e sistematizado para contribuir no desenvolvimento harmonioso dos movimentos e da parte estrutural de cada indivíduo. Deve-se ter muito cuidado na execução dos movimentos e na sobre carga utilizada para cada exercício 13 proposto, devendo o adolescente ser assistido por profissionais capacitados, e o programa básico não precisa exceder a 60 minutos de atividade, e ser aplicado mais que 3 vezes na semana (DE CAMPOS, 2011). Do ponto de vista de saúde pública, as crianças e adolescentes aparentemente saudáveis podem participar de atividades de baixa e moderada intensidade, lúdicas e de lazer, sem a obrigatoriedade de uma avaliação pré-participação formal. É importante que algumas condições básicas de saúde – como uma nutrição adequada – estejam atendidas para que a atividade física seja implementada (LAZZOLI et al., 1998). A densidade mineral óssea atinge cerca de 90% do seu pico no final da segunda década. Um quarto do osso adulto é acumulado durante os dois anos de pico de velocidade de crescimento (ELIAKIM; BEYTH, 2003). Enquanto é realizada a prática física, a contração muscular promove um aumento da atividade osteoblástica na região óssea próxima aos locais onde os músculos se inserem, levando ao aumento da mineralização óssea (SILVA; TEIXEIRA; GOLDBERG, 2003). Em contrapartida, a ausência de contração muscular, como nas situações de imobilização (por exemplo, paraplegia, fraturas) e de força gravitacional (por exemplo, voos espaciais), causa significativa perda óssea (ELIAKIM; BEYTH, 2003). Assim, a atividade física regulardurante a infância e adolescência pode atuar na prevenção de distúrbios ósseos, como a osteoporose. O treinamento de força com impacto proporciona maior incremento da densidade mineral óssea comparado ao de resistência aeróbica (LIMA et al., 2001). Musculação refere-se a contrações musculares repetitivas, com sobrecargas progressivas em um nível submáximo, enquanto halterofilismo é definido como um esporte competitivo no qual as contrações musculares são realizadas em carga máxima (BRODERICK; WINTER; ALLAN, 2006). Entretanto, na prática, muitas crianças e adolescentes realizam musculação sem orientação adequada, com carga máxima e por tempo prolongado, à semelhança do halterofilismo. A prática de musculação por crianças e no início da adolescência é um tópico controverso. Alguns autores afirmam ser essa atividade prejudicial a pré-adolescentes e outros mostram que pode ser benéfica se bem supervisionada (FAIGENBAUM et al., 1999). 14 Os que não indicam a prática por jovens prépúberes argumentam que, além de não aumentar a força muscular devido à quantidade insuficiente de andrógenos circulantes, ela ainda se associa a um potencial risco de lesão da cartilagem de crescimento e de fechamento precoce das epífises, como resultado da sobrecarga excessiva (LIMA et al., 2001). Há benefícios e riscos que a musculação pode gerar, conforme descrito na Tabela 1. Tabela 1: Benefícios e risco da prática da musculação para adolescentes Benefícios Riscos Promoção de crescimento físico Lesões musculares Estímulo do desenvolvimento motor Trauma Benefício cardiovascular Osteocondrose (apofisite de tração) Efeito positivo no perfil lipídico Fratura Redução do risco de diabetes melito tipo 2 Disfunção menstrual Incremento da massa óssea Escoliose Aumento de força e massa muscular Tendinite Fonte: Elaboração própria, a partir de (ALVES; LIMA, 2008) A musculação praticada por jovens pré-púberes pode ser prejudicial, somente se não for realizada sob supervisão, já que há um potencial risco de lesão na cartilagem de crescimento. Entretanto, quando bem supervisionada, pode levar a um aumento de força e resistência muscular. Além disso, estudo realizado com crianças obesas, concluíram que o exercício acarreta benefícios metabólicos durante a perda de massa corporal induzida pela dieta de baixa caloria. O programa de treinamento de força pode ser incluído no tratamento de controle de massa corporal para crianças pré-adolescentes, pois resultaram na redução da massa corporal, IMC e percentagem de gordura corporal (DUBOIS; HILL; BEATON, 2004). 15 3 METODOLOGIA O presente trabalho é de natureza qualitativa, pois se acredita que ela possibilita uma aproximação e uma compreensão mais fácil do problema que será investigado, quanto ao procedimento: a pesquisa é de ordem bibliográfica através de revisões de livros e artigos científicos, este tipo de pesquisa é uma fase essencial em todo trabalho de pesquisa, pois é a base para todas as outras etapas. Na visão de Carvalho et al (2002, p. 100) a pesquisa bibliográfica “é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de informação escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de determinado tema”. Este consiste no levantamento de literaturas, que abordam sobre atividade física, gestação e musculação, o período de referências e os critérios de inclusão dos artigos foram do ano 1994 até o ano 2012. 4 CONCLUSÃO As Com o presente estudo foi possível compreender que o conceito sobre a adolescência vem sendo lapidado há várias gerações e que sempre traz reciclagens em suas definições, tendo em vista que ela é construída a partir dos preceitos da sociedade em que está sendo elaborada. Na sociedade contemporânea a atividade física muitas vezes é a procura para atender as exigências físicas quem batem à porta cada vez mais cedo, fazendo com que a adolescência seja encarada cada vez mais rápida. O período de turbulência, decisões, mudanças no corpo e sentimentos aparecem como um vendaval. A musculação, que por muito tempo foi tratada como futilidade e expressamente proibida por médicos e especialistas da área de Educação Física, se torna refúgio para muitos adolescentes. Além de produzir inúmeros benefícios físicos como melhoria na postura, equilíbrio na ingestão e gasto calórico, menor propensão a doenças; também temos inúmeros benefícios psicossociais como criação de laços afetivos, melhoria nas relações interpessoais, diminuição da timidez, elevação da autoestima, sendo considerada um antídoto natural contra vícios. A sua prática deve ser realizada com o máximo de responsabilidade e sob supervisão especializada de profissionais da Educação Física, principalmente na faixa etária do crescimento, para não prejudicar o desenvolvimento do praticante. O 16 profissional deve sempre levar em consideração a idade e as condições estabelecidas para a prática da atividade física. Conclui-se que a musculação pode atuar como ferramenta complementar para ajudar o cérebro do adolescente a se reajusta à nova realidade corporal. O papel dos profissionais de Educação Física, nesse contexto, pode colaborar abordando e atuando sobre as contribuições da prática regular da musculação e como ela pode auxiliar no desenvolvimento físico e cognitivo do adolescente. 17 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. M. O., CUNHA, G. G., SANTOS, M. F. S. Formas contemporâneas de pensar a criança e o adolescente. Estudos. Goiânia: v.31, n.4, p.637 - 660, 2004. ALVES, Crésio; LIMA, Renata Villas Boas. Impacto da atividade física e esportes sobre o crescimento e puberdade de crianças e adolescentes. Rev Paul Pediatr 2008. BALDISSERA, Lais; MACHADO, Dionéia Lang; ALVES, Lucas Gomes Alves; FALEIRO, Deise Faleiro; ZAWADZKI, Patrick. Benefícios percebidos por praticantes de musculação para a saúde, estilo de vida e qualidade de vida. Unoesc & Ciência - ACBS Joaçaba, v. 8, n. 2, p. 117-124, jul./dez. 2017. BARROS Ricardo do Rêgo; SILVA, Luciana Rodrigues. Promoção da Atividade Física na Infância e Adolescência. 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