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DIREITO CIVIL V- DIREITO DAS FAMÍLIAS Professora Eline Santos 1 Professora Eline Santos Material de Direito de Família elinesantos.adv@gmail.com/@elinesantoss AULA 02 – CONCEITOS E PRINCÍPIOS Direito das Famílias: pertence ao ramo do Direito Civil que estuda as relações jurídicas patrimoniais e extrapatrimoniais advindas das relações de parentesco ou do matrimônio/união estável, bem como da tutela e curatela. A Constituição Federal inaugura uma nova forma de visualizar as famílias, pois traz a igualdade de gênero, tornando o poder sobre os filhos familiar e não mais patriarcal, a igualdade entre os filhos, seja eles nascidos do casamento civil ou não, a noção de família monoparental e derivada da união estável, e a possibilidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O Direito de Família, ramo do direito privado, se localiza na parte especial, do art. 1.511 até o art. 1.783-A. Características do Direito de Família: natureza personalíssima, intransmissível, intransferível, inalienável e irrenunciável. Princípios Constitucionais: • Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, CF): Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; DIREITO CIVIL V- DIREITO DAS FAMÍLIAS Professora Eline Santos 2 Professora Eline Santos Material de Direito de Família elinesantos.adv@gmail.com/@elinesantoss • Solidariedade Familiar (arts. 227 e 230, CF): Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (...) Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem- estar e garantindo-lhes o direito à vida. (...) • Pluralidade das Entidades Familiares (art. 226, §§ 3º e § 4º, CF): Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (Regulamento) § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. • Isonomia entre os cônjuges (art. 226, §5, CF): Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. • Isonomia entre os filhos (art. 227, § 6º, CF): Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) DIREITO CIVIL V- DIREITO DAS FAMÍLIAS Professora Eline Santos 3 Professora Eline Santos Material de Direito de Família elinesantos.adv@gmail.com/@elinesantoss § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. • Melhor Interesse da Criança e do Adolescente (art. 227, CF): Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) • Paternidade Responsável (art. 227, §7o, CF) Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. • Livre Planejamento Familiar (art. 226, §7o, CF) Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. • Monogamia (art. 1.521, VI, CC e art. 235, CP) Art. 1.521. Não podem casar: DIREITO CIVIL V- DIREITO DAS FAMÍLIAS Professora Eline Santos 4 Professora Eline Santos Material de Direito de Família elinesantos.adv@gmail.com/@elinesantoss I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Bigamia Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. § 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime. à Casamento: O casamento é a união afetiva entre pessoas físicas que, cumpridos os requisitos e solenidades previstos na lei, decidem constituir uma família, gerando entre elas comunhão plena de vida e um vínculo que produz inúmeras consequências jurídicas. Segundo Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald: “(...) o casamento é uma entidade familiar estabelecida entre pessoas humanas, merecedora de especial proteção estatal, constituída, formal e solenemente, formando uma comunhão de afetos (comunhão de vida) e produzindo diferentes efeitos no âmbito pessoal, social e patrimonial.” (Curso de Direito Civil. Vol. 6. 8a ed., Salvador: Juspodivm, 2016, p. 179). DIREITO CIVIL V- DIREITO DAS FAMÍLIAS Professora Eline Santos 5 Professora Eline Santos Material de Direito de Família elinesantos.adv@gmail.com/@elinesantoss à É possível o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Código Civil: afirma que o casamento envolve pessoas de sexos diferentes: Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. Doutrina: defende que o casamento pode ser celebrado entre pessoas de mesmo sexo. Nesse sentido: Enunciado 601 da VII Jornada de Direito Civil do CJF/STJ: É existente e válido o casamento entre pessoas do mesmo sexo. STJ:possui precedentes afirmando é juridicamente possível o casamento homoafetivo: STJ. 4a Turma. REsp 1183378/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/10/2011. STF: não possui um julgado específico sobre casamento, mas já afirmou que é perfeitamentepossívelauniãoestávelhomoafetiva:STF.Plenário.ADPF132,Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 05/05/2011. Cartórios de Registros Civis de Pessoais Naturais: são obrigados a realizar o casamento de pessoas do mesmo sexo, desde que, obviamente, estejam atendidos os demais requisitos legais. É o que determina a Resolução 175/2013 do CNJ: Art. 1o É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo. Art. 2o A recusa prevista no artigo 1o implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis. àIdade núbil: Como vimos acima, o casamento é uma união que produz efeitos jurídicos. Diante disso, o legislador entendeu por bem estipular uma idade mínima para que a pessoa possa celebrar este ato (casar). Isso é chamado de idade núbil (ou capacidade núbil). A idade núbil consiste, portanto, na idade mínima exigida pelo Código Civil para que a pessoa possa casar. à Qual é a idade núbil? 16 anos. Vale ressaltar, no entanto, que se a pessoa tiver menor que 18 anos, ela só poderá casar se tiver autorização dos pais. É o que prevê o art. 1.517 do Código Civil: DIREITO CIVIL V- DIREITO DAS FAMÍLIAS Professora Eline Santos 6 Professora Eline Santos Material de Direito de Família elinesantos.adv@gmail.com/@elinesantoss Art. 1.517: O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil. A maioridade civil é atingida com 18 anos completos (art. 5o do CC). à Ambos os pais: Vale ressaltar, mais uma vez, que a autorização deve ser dada por ambos (pai e mãe). à Somente será admitida a autorização unilateral se o outro genitor: • for falecido; • tiver sido declarado ausente; Ou • estiver destituído do poder familiar. àRevogação da autorização: O pai ou a mãe poderá revogar a autorização que deram, desde que isso seja feito antes da data da celebração do casamento (art. 1.518). à O que acontece se houver divergência entre os pais? Exemplo: a mãe autorizou, mas o pai não: Em caso de divergência, qualquer um dos dois poderá “recorrer ao juiz para solução do desacordo” (art. 1.517 c/c art. 1.631, parágrafo único). Em outras palavras, será possível ingressar com um pedido de “suprimento judicial de consentimento”. Trata-se de um requerimento formulado ao juiz em procedimento voluntário pedindo que o magistrado analise a situação e veja se as razões invocadas pelo genitor para negar a autorização são justificáveis. Se o juiz entender que os motivos alegados não são razoáveis, ele irá autorizar a celebração do casamento mesmo contra a vontade do pai ou da mãe. àE se ambos os pais não quiserem dar a autorização? Ainda haverá alguma chance de o casamento ocorrer? DIREITO CIVIL V- DIREITO DAS FAMÍLIAS Professora Eline Santos 7 Professora Eline Santos Material de Direito de Família elinesantos.adv@gmail.com/@elinesantoss SIM. Aqui também será possível iniciar um procedimento de jurisdição voluntária pedindo o suprimento judicial do consentimento. Veja o que diz o art. 1.519 do CC: Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz. Apesar de a lei não explicitar, a doutrina afirma que esse pedido de suprimento pode ser formulado: • pelo(a) filho(a) que não foi autorizado por seus pais; • pelo outro nubente que quer casar com ele(a); ou • pelo Ministério Público. àRegime da separação obrigatória Se um ou ambos os pais não autorizarem e o juiz entender que a recusa foi injusta, ele irá autorizar o casamento, expedindo um alvará judicial que será juntado no procedimento de habilitação no cartório de registro de pessoas naturais. Um ponto interessante a ser ressaltado é que, neste caso, o casamento terá que ser realizado sob o regime da separação obrigatória de bens (também chamada de separação legal de bens). É o que prevê o art. 1.641, III, do CC: Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: (...) III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. à O que acontece se o indivíduo maior de 16 e menor de 18 anos casar sem autorização dos pais e sem suprimento judicial? Esse casamento é anulável, consoante determina o art. 1.550, II, do CC: Art. 1.550. É anulável o casamento: (...) II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal; à A autorização dos pais é necessária mesmo que o indivíduo seja emancipado? A pessoa maior de 16 e menor de 18 anos, se for emancipada, precisará de autorização dos pais? Não há resposta na legislação. No entanto, a doutrina majoritária afirma que não: Enunciado 512-CJF/STJ: O art. 1.517 do Código Civil, que exige autorização dos pais ou responsáveis para casamento, enquanto não atingida a maioridade civil, não se aplica ao emancipado.
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