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Músculos – Contração Muscular Yasmin Azevedo Neves Anatomia e Histologia das Fibras Musculares – Estrutura do Sarcômero e Tipos de Fibras Musculares ANATOMIA: O corpo humano tem três tipos de tecido muscular: o músculo esquelético, o músculo cardíaco e o músculo liso. A maioria dos músculos esqueléticos está unida aos ossos do esqueleto, o que capacita esses músculos a controlarem os movimentos corporais. O músculo cardíaco é encontrado apenas no coração e movimenta o sangue pelo sistema circulatório. Os músculos esquelético e cardíaco são classificados como músculos estriados, devido ao padrão alternado de bandas claras e escuras observado na microscopia óptica. O músculo liso é o principal tipo de músculo dos órgãos e das estruturas tubulares internas, como o estômago, a bexiga e os vasos sanguíneos. A sua principal função envolve o movimento de substâncias para dentro e para fora do corpo e também dentro do próprio corpo. Um exemplo disso é a passagem de alimento pelo trato gastrintestinal. Os músculos esqueléticos, em geral, são descritos como músculos de contração voluntária, e os músculos liso e cardíaco, como involuntários. Músculo Esquelético: Os músculos esqueléticos constituem a maior parte da musculatura corporal e equivalem a cerca de 40% do peso corporal total. Eles são responsáveis pelo posicionamento e o movimento do esqueleto, como seu próprio nome sugere. Em geral, os músculos esqueléticos estão ligados aos ossos pelos tendões, estruturas constituídas por colágeno. Quando os ossos fixados a um músculo estão conectados por uma articulação móvel, a contração muscular movimenta o esqueleto. Um músculo é chamado de flexor se a porção central dos ossos conectados se aproximam quando o músculo contrai, e o movimento é chamado de flexão. Se os ossos se afastam quando o músculo contrai, o músculo é chamado de extensor, e o movimento associado é chamado de extensão. A maioria das articulações do corpo necessita de músculos flexores e extensores, pois a contração de um desses músculos pode puxar um osso em uma direção, mas é incapaz de empurrá-lo na direção oposta. Os pares de músculos extensores e flexores são denominados músculos antagonistas, pois exercem efeitos opostos. Os músculos antagonistas movem os ossos em direções opostas. A contração muscular é capaz de puxar um osso, mas não é capaz de o empurrar. A expressão sistema muscular se refere especificamente aos músculos estriados esqueléticos, que são os músculos que correspondem à parte “carnosa” do corpo e produzem muitos tipos de movimentos: o piscar de um olho, ficar em pé na ponta dos pés, deglutir o alimento, respirar e empunhar uma marreta são apenas alguns exemplos. Os músculos esqueléticos consistem em fascículos (feixes de fibras) suficientemente grandes para serem vistos a olho nu. Nos diferentes músculos, os fascículos estão alinhados em padrões distintos. A organização dos fascículos revela muita coisa a respeito da função do músculo. Os fascículos dispostos em anéis concêntricos formam um padrão circular. Os músculos com essa organização circundam as aberturas externas do corpo, que eles fecham por meio de contração. O nome genérico de um músculo com essa organização circular é esfíncter (“espremedor”) ou orbicular. Exemplos específicos incluem o músculo orbicular da boca e o músculo orbicular dos olhos. No padrão convergente de organização fascicular, a origem (ou inserção proximal) do músculo é ampla e os fascículos convergem para o tendão de inserção (ou inserção distal). Esse tipo de músculo pode ser triangular ou em forma de leque. O músculo peitoral maior anteriormente no tórax é um exemplo. Nos músculos convergentes, as fibras musculares se estendem por todo o comprimento do músculo, da origem até a inserção. Na organização paralela dos fascículos, os eixos longitudinais dos fascículos seguem em paralelo ao eixo longitudinal do músculo, e as fibras musculares se estendem da origem até a inserção. Os músculos com essa organização são fusiformes, com um ventre central ampliado, como o bíceps braquial, no membro superior, ou em forma de fita, como o músculo sartório no membro inferior. Em um padrão peniforme, os fascículos (e, portanto, as fibras musculares) são curtos e se conectam obliquamente a um tendão que se estende por todo o comprimento do músculo. Esse padrão faz com que o músculo se pareça com uma pena. Uma organização multipeniforme se parece com muitas penas lado a lado, com todas as suas extremidades inseridas em um tendão grande. O músculo deltoide, que confere o formato arredondado ao ombro, é um exemplo. Se os fascículos se inserirem no tendão em ambos os lados, essa organização se chama bipeniforme (bi = dois). É o caso do músculo reto femoral da coxa. Se os fascículos se inserirem em apenas um lado do tendão, o músculo é unipeniforme (uni = um). O músculo extensor longo dos dedos pertence a esse grupo. A organização dos fascículos influencia a quantidade de movimento produzida quando um músculo encurta, que é conhecida como intervalo de movimento, e a quantidade de força que o músculo emprega. As fibras musculares esqueléticas podem encurtar até um terço do seu comprimento em repouso quando contraem. Quanto mais paralelas forem as fibras em relação ao eixo longitudinal do músculo, mais esse músculo consegue encurtar, resultando em uma maior distância de movimento. A potência de um músculo depende mais da quantidade total de fibras que ele contém. Os músculos bipeniforme e multipeniforme contêm o maior número de fibras; assim, eles encurtam muito pouco, mas tendem a ser muito potentes. É fácil compreender que diferentes músculos trabalham juntos para realizar um único movimento. Porém, o que não é tão óbvio é que os músculos costumam trabalhar uns contra os outros de maneira produtiva. Nenhum músculo isoladamente consegue reverter o movimento que produz; assim, para qualquer ação que um músculo (ou grupo muscular) consiga realizar, deve haver outros músculos que “desfaçam” essa ação (ou que realizem uma ação oposta). Em geral, os grupos de músculos que produzem movimentos contrários se situam em lados opostos de uma determinada articulação. Fibras Musculares: Os músculos trabalham em conjunto, como uma unidade. Um músculo esquelético é um conjunto de células musculares, ou fibras musculares, assim como um nervo é um conjunto de axônios. Cada fibra muscular esquelética é uma célula longa e cilíndrica, que pode possuir até várias centenas de núcleos distribuídos próximos da superfície da fibra. As fibras musculares esqueléticas estão entre as maiores células do corpo e se originam da fusão de muitas células musculares embrionárias. Células-tronco comprometidas, chamadas de células satélites, localizam-se em justaposição à porção externa da membrana da fibra muscular. As células satélites tornam-se ativas e diferenciam-se em músculo quando necessário para o crescimento e para o reparo muscular. As fibras de cada músculo estão organizadas com seus eixos mais longos dispostos em paralelo. Cada fibra muscular esquelética está envolvida por tecido conectivo. O tecido conectivo também envolve grupos de fibras musculares adjacentes, as quais formam conjuntos, chamados de fascículos. Fibras colágenas e elásticas, nervos e vasos sanguíneos dispõem-se entre os fascículos. O músculo como um todo também está envolvido por uma bainha de tecido conectivo, a qual é contínua com o tecido conectivo que envolve as fibras musculares e os fascículos e também com os tendões que ligam osmúsculos aos ossos associados. A membrana plasmática de uma fibra muscular é chamada de sarcolema, e o citoplasma é chamado de sarcoplasma. As principais estruturas intracelulares dos músculos estriados são as miofibrilas, que são feixes extremamente organizados de proteínas contráteis e elásticas envolvidas no processo de contração. Os músculos esqueléticos também contêm um extenso retículo sarcoplasmático (RS). O retículo sarcoplasmático é um retículo endoplasmático modificado que envolve cada miofibrila e é formado por túbulos longitudinais com porções terminais alargados, chamadas de cisternas terminais. O retículo sarcoplasmático concentra e sequestra Ca2+ com o auxílio de uma Ca2+ - ATPase presente na membrana do RS. As cisternas terminais são adjacentes e intimamente associadas a uma rede ramificada de túbulos transversos, também chamados de túbulos T. O conjunto formado por um túbulo T e pelas duas cisternas terminais associadas a cada um de seus lados, constitui uma tríade. As membranas dos túbulos T são uma extensão da membrana plasmática da fibra muscular, o que torna o lúmen dos túbulos T contínuo com o líquido extracelular. Os túbulos T permitem que os potenciais de ação se movam rapidamente da superfície para o interior da fibra muscular, de forma a alcançar as cisternas terminais quase simultaneamente. Sem os túbulos T, os potenciais de ação alcançariam o centro da fibra somente pela condução do potencial de ação pelo citosol, um processo mais lento e menos direto, que retardaria o tempo de resposta da fibra muscular. O citosol entre as miofibrilas contém muitos grânulos de glicogênio e mitocôndrias. O glicogênio, a forma de armazenamento da glicose encontrada nos animais, é uma reserva energética. A mitocôndria contém as enzimas necessárias para a fosforilação oxidativa da glicose e de outras biomoléculas, sendo a organela responsável pela produção da maior parte de ATP necessário para a contração muscular. Cada fibra muscular contém milhares de miofibrilas que ocupam a maior parte do volume intracelular, deixando pouco espaço para o citosol e as organelas. Cada miofibrila é composta por diversos tipos de proteínas organizadas em estruturas contráteis repetidas, chamadas de sarcômeros. As proteínas das miofibrilas incluem a proteína motora miosina, que forma os filamentos grossos; os microfilamentos de actina, que formam os filamentos finos; as proteínas reguladoras tropomiosina e troponina; e duas proteínas acessórias gigantes, a titina. A miosina é uma proteína motora com capacidade de produzir movimento. Há várias isoformas de miosina em diferentes tipos de músculo, as quais influenciam a velocidade de contração do músculo. Cada molécula de miosina é composta de cadeias proteicas que se entrelaçam, formando uma longa cauda e um par de cabeças. A cauda do filamento grosso assemelha-se a um bastão de consistência rígida, mas as projeções que formam as cabeças da miosina possuem uma região elástica em dobradiça (móvel), no ponto onde as cabeças se unem à cauda. A região em dobradiça permite o movimento das cabeças em torno do ponto de fixação. Cada cabeça de miosina possui duas cadeias proteicas: uma cadeia pesada e uma cadeia leve, menor. A cadeia pesada é o domínio motor capaz de ligar o ATP e utilizar a energia da ligação fosfato de alta energia do ATP para gerar movimento. Como o domínio motor funciona como uma enzima, ele é considerado uma miosina-ATPase. A cadeia pesada também contém um sítio de ligação para a actina. No músculo esquelético, cerca de 250 moléculas de miosina unem-se para formar um filamento grosso. Cada filamento grosso está organizado de modo que as cabeças da miosina fiquem agrupadas nas extremidades do filamento e a região central seja formada por um feixe de caudas da miosina. A actina é a proteína que forma os filamentos finos da fibra muscular. Uma molécula isolada de actina é uma proteína globular (actina G). Normalmente, várias moléculas de actina G polimerizam para formar cadeias longas ou filamentos, chamados de actina F. No músculo esquelético, dois polímeros de actina F enrolam-se um no outro, como um colar de contas duplo, para formar os filamentos finos da miofibrila. Na maior parte do tempo, os filamentos grossos e finos de cada miofibrila, dispostos em paralelo, estão conectados por ligações cruzadas de miosina, as quais atravessam o espaço entre os filamentos. Cada molécula de actina G tem um único sítio de ligação à miosina. Cada cabeça da miosina tem um sítio de ligação à actina e um sítio de ligação ao ATP. As ligações cruzadas formam-se quando as cabeças de miosina dos filamentos grossos se ligam à actina dos filamentos finos. As ligações cruzadas têm dois estados: um estado de baixa energia (músculos relaxados) e um estado de alta energia (contração muscular). Visto ao microscópio óptico, o arranjo dos filamentos grossos e finos em uma miofibrila gera um padrão repetido de bandas claras e escuras alternadas. Uma única repetição do padrão forma um sarcômero, a unidade contrátil da miofibrila. Cada sarcômero é constituído pelos seguintes elementos: 1. Discos Z. Um sarcômero é formado por dois discos Z e pelos filamentos encontrados entre eles. Os discos Z são estruturas proteicas em ziguezague que servem como pontos de ancoragem para os filamentos finos. A abreviação Z provém de zwischen, a palavra do alemão para “entre”. 2. Banda I. É a banda de coloração mais clara do sarcômero e representa uma região ocupada apenas pelos filamentos finos. A abreviação I vem de isotrópico, uma descrição dos primeiros microscopistas, indicando que a região reflete a luz de maneira uniforme ao microscópio de polarização. Um disco Z atravessa o centro de cada banda I, de modo que cada metade de uma banda I pertence a um sarcômero diferente. 3. Banda A. É a banda mais escura do sarcômero e engloba todo o comprimento de um filamento grosso. Nas porções laterais da banda A, os filamentos grossos e finos estão sobrepostos. O centro da banda A é ocupado apenas por filamentos grossos. A abreviação A vem de anisotrópico, indicando que as proteínas dessa região desviam a luz de modo irregular. 4. Zona H. Essa região central da banda A é mais clara do que as porções laterais da banda A, uma vez que a zona H é ocupada apenas por filamentos grossos. O H vem de helles, a palavra alemã para “claro”. 5. Linha M. Essa banda representa as proteínas que formam o sítio de ancoragem dos filamentos grossos (equivalente ao disco Z para os filamentos finos). Cada linha M divide uma banda A ao meio. M é a abreviação para mittel, a palavra alemã para “meio”. O alinhamento adequado dos filamentos dentro de um sarcômero é assegurado por duas proteínas: titina e nebulina. A titina é uma molécula elástica muito grande, sendo a maior proteína conhecida, composta por mais de 25 mil aminoácidos. Uma única molécula de titina se estende desde um disco Z até a linha M vizinha. Para ter uma ideia do tamanho da titina, imagine que uma molécula de titina é um pedaço de uma corda muito grossa, com cerca de 2,4 metros de comprimento, usada para amarrar navios aos ancoradouros. Para efeitos de comparação, uma única molécula de actina teria o comprimento e o peso semelhantes a um único cílio das suas pálpebras. A titina tem duas funções:(1) estabilizar a posição dos filamentos contráteis; (2) fazer os músculos estirados retornarem ao seu comprimento de repouso, o que ocorre devido à sua elasticidade. A titina é auxiliada pela nebulina, uma proteína gigante não elástica que acompanha os filamentos finos e se prende ao disco Z. A nebulina auxilia no alinhamento dos filamentos de actina do sarcômero. A contração muscular é um processo extraordinário que permite a geração de força para mover ou resistir a uma carga. Em fisiologia muscular, a força produzida pela contração muscular é chamada de tensão muscular. A carga é o peso ou a força que se opõe à contração. A contração, a geração de tensão pelo músculo, é um processo ativo que necessita de energia fornecida pelo ATP. O relaxamento é a liberação da tensão que foi produzida durante a contração. 1.Os eventos que ocorrem na junção neuromuscular convertem um sinal químico (a acetilcolina liberada pelo neurônio motor somático) em um sinal elétrico na fibra muscular. 2. O acoplamento excitação-contração (E-C) é o processo pelo qual os potenciais de ação musculares produzem um sinal de cálcio, o qual, por sua vez, ativa o ciclo de contração-relaxamento. 3. No nível molecular, o ciclo de contração- relaxamento é explicado pela teoria dos filamentos deslizantes da contração muscular. Nos músculos intactos, um único ciclo de contração-relaxa. HISTOLOGIA: O tecido muscular é constituído por células alongadas, que contêm grande quantidade de filamentos citoplasmáticos de proteínas contráteis, as quais, por sua vez, geram as forças necessárias para a contração desse tecido, utilizando a energia contida nas moléculas de ATP. As células musculares têm origem mesodérmica, e sua diferenciação ocorre pela síntese de proteínas filamentosas, concomitantemente ao alongamento das células. De acordo com suas características morfológicas e funcionais, distinguem-se três tipos de tecido muscular: O músculo estriado esquelético é formado por feixes de células cilíndricas muito longas e multinucleadas, que apresentam estriações transversais. Essas células, ou fibras, têm contração rápida e vigorosa e estão sujeitas ao controle voluntário. O músculo estriado cardíaco, cujas células também apresentam estrias transversais, é formado por células alongadas e ramificadas, que se unem por meio dos discos intercalares, estruturas encontradas exclusivamente no músculo cardíaco. A contração das células musculares cardíacas é involuntária, vigorosa e rítmica. O músculo liso é formado por aglomerados de células fusiformes que não têm estrias transversais. No músculo liso, o processo de contração é lento e não está sujeito ao controle voluntário. Determinados componentes das células musculares receberam nomes especiais. A membrana celular é chamada de sarcolema; o citosol, de sarcoplasma, e o retículo endoplasmático liso, de retículo sarcoplasmático. Músculo Esquelético: O tecido muscular esquelético é formado por feixes de células muito longas (até 30 cm), cilíndricas, multinucleadas e que contêm muitos filamentos, as miofibrilas. O diâmetro das fibras musculares estriadas esqueléticas varia de 10 a 100 μm. Essas fibras se originam no embrião pela fusão de células alongadas, os mioblastos. Nas fibras musculares esqueléticas os numerosos núcleos se localizam na periferia das fibras, nas proximidades do sarcolema. Essa localização nuclear característica ajuda a distinguir o músculo esquelético do músculo cardíaco, ambos com estriações transversais, uma vez que, no músculo cardíaco, os núcleos são centrais. Em um músculo, como o bíceps ou o deltoide, por exemplo, as fibras musculares estão organizadas em grupos de feixes, sendo o conjunto de feixes envolvidos por uma camada de tecido conjuntivo chamada epimísio, que recobre o músculo inteiro. Do epimísio partem finos septos de tecido conjuntivo que se dirigem para o interior do músculo, separando os feixes. Esses septos constituem o perimísio. Assim, o perimísio envolve os feixes de fibras. Cada fibra muscular, individualmente, é envolvida pelo endomísio que é formado pela lâmina basal da fibra muscular, associada a fibras reticulares. O endomísio apresenta escassa população celular constituída por algumas células do conjuntivo, principalmente fibroblasto. O tecido conjuntivo mantém as fibras musculares unidas, possibilitando que a força de contração gerada por cada fibra individualmente atue sobre o músculo inteiro. Este papel do conjuntivo tem grande significado funcional porque na maioria das vezes as fibras não se estendem de uma extremidade do músculo até a outra. Além disso, a força da contração do músculo pode ser regulada pela variação do número de fibras estimuladas pelos nervos. É ainda por meio do tecido conjuntivo que a força de contração do músculo se transmite a outras estruturas, como tendões e ossos. Os vasos sanguíneos penetram o músculo através dos septos de tecido conjuntivo e formam extensa rede de capilares que correm entre as fibras musculares. O tecido conjuntivo do músculo contém, ainda, vasos linfáticos e nervos. Alguns músculos se afilam nas extremidades, observando-se uma transição gradual de músculo para tendão. Nessa região de transição, as fibras de colágeno do tendão inserem-se em dobras complexas do sarcolema. Quando observadas ao microscópio óptico, as fibras musculares esqueléticas mostram estriações transversais, pela alternância de faixas claras e escuras. Ao microscópio de polarização, a faixa escura é anisotrópica e, por isso, recebe o nome de banda A, enquanto a faixa clara, ou banda I, é isotrópica. No centro de cada banda I nota-se uma linha transversal escura – a linha Z. A estriação da miofibrila se deve à repetição de unidades iguais, chamadas sarcômeros. Cada sarcômero, que mede cerca de 2,5 μm, é formado pela parte da miofibrila que fica entre duas linhas Z sucessivas e contém uma banda A separando duas semibandas I. A banda A apresenta uma zona mais clara no seu centro, a banda H. A disposição dos sarcômeros coincide nas várias miofibrilas da fibra muscular, e as bandas formam um sistema de estriações transversais, paralelas, que é característico das fibras musculares estriadas. Cada fibra muscular contém muitos feixes cilíndricos de filamentos, as miofibrilas, que medem 1 a 2 μm de diâmetro, são paralelas ao eixo maior da fibra muscular e consistem no arranjo repetitivo de sarcômeros. O microscópio eletrônico revela a existência de filamentos finos de actina e filamentos grossos de miosina dispostos longitudinalmente nas miofibrilas e organizados em uma distribuição simétrica e paralela. Essa organização dos filamentos miofibrilares é mantida por diversas proteínas, como, por exemplo, filamentos intermediários de desmina, que ligam as miofibrilas umas às outras. O conjunto de miofibrilas (actina e miosina) é, por sua vez, preso à membrana plasmática da célula muscular por meio de diversas proteínas que têm afinidade pelos miofilamentos e por proteínas da membrana plasmática. Uma dessas proteínas, chamada distrofina, liga os filamentos de actina a proteínas do sarcolema. Da linha Z, partem os filamentos finos (actina) que vão até a borda externa da banda H. Os filamentos grossos (miosina) ocupam a região central do sarcômero. Como resultado dessa disposição, a banda I é formada somente por filamentos finos, a banda A é formada por filamentos finos e grossos, e a banda H, somente por filamentos grossos. Na região lateralda banda A, os filamentos finos e grossos se interdigitam. Um corte transversal nessa região lateral mostra uma disposição simétrica, tal que cada filamento grosso fica rodeado por seis filamentos finos, formando um hexágono. As miofibrilas do músculo estriado contêm quatro proteínas principais: miosina, actina, tropomiosina e troponina. Os filamentos grossos são formados de miosina e as outras três proteínas são encontradas nos filamentos finos. A miosina e a actina, juntas, representam 55% do total das proteínas do músculo estriado. A actina apresenta-se sob a forma de polímeros longos (actina F) formados por duas cadeias de monômeros globulares (actina G) torcidas uma sobre a outra, em hélice dupla. Cada monômero de actina (actina G) tem 5,6 nm de diâmetro. As moléculas de actina G são assimétricas (um lado é diferente do outro). Quando esses monômeros se polimerizam para formar a actina F, a frente de um monômero combina-se com a parte posterior do outro, produzindo um filamento que, como cada monômero de actina G, também é polarizado. Cada monômero globular de actina G tem uma região que interage com a miosina. Os filamentos de actina ancorados perpendicularmente em cada lado da linha Z exibem polaridade s opostas, em cada lado dessa linha. Processo de Contração Muscular – Junção Neuromuscular, Placa Motora, Acoplamento Excitação-Contração A liberação de cálcio do RS produz um sinal de cálcio que desempenha um papel-chave na contração de todos os tipos de músculo. O mecanismo que traduz o potencial de ação muscular em produção de tensão é o acoplamento excitação-contração. A Figura 1-24 mostra as relações temporais entre um potencial de ação, na fibra muscular esquelética, o subsequente aumento da concentração intracelular de Ca +2 livre (que é liberado do retículo sarcoplasmático) e a contração da fibra muscular. Essas relações temporais são críticas, já que o potencial de ação sempre precede o aumento da concentração intracelular de Ca 2+ que sempre precede a contração. Os passos envolvidos no acoplamento excitação-contração são descritos a seguir e mostrado na Figura 1-25: 1. Os potenciais de ação na membrana do miócito são propagados aos túbulos T pela dispersão de correntes locais. Assim, os túbulos T são contínuos à membrana sarcolêmica e carreiam a despolarização da superfície para o interior da fibra muscular. 2a.e b. Despolarização dos túbulos T produz alteração conformacional crítica em seus receptores de di- hidropiridina sensíveis à voltagem. Essa alteração conformacional abre os canais de liberação de Ca 2+ (receptores de rianodina) no retículo sarcoplasmático adjacente. (Como aparte, embora os receptores de di- hidropiridina dos túbulos T sejam canais de Ca 2+ voltagem-dependente do tipo L, o influxo dos íons para a célula, por esses canais, não é requerido no acoplamento excitação-contração da musculatura esquelética.). 3. Quando esses canais de liberação de Ca 2+ se abrem, o íon sai do retículo sarcoplasmático em direção ao LIC da fibra muscular, aumentando a concentração intracelular de Ca 2+ . Em repouso, a concentração intracelular de Ca 2+ livre é inferior a 10 −7 M. Após sua liberação dos retículos sarcoplasmáticos, essas concentrações aumentam de 10 −7 a 10 −6 M. 4. O Ca 2+ se liga à troponina C dos filamentos finos, produzindo alteração conformacional no complexo da troponina. A troponina C pode-se ligar a até quatro íons Ca 2+ por molécula de proteína. Uma vez que essa ligação é cooperativa, a união de um íon à molécula aumenta a afinidade da troponina C ao Ca 2+ . Assim, até mesmo pequeno aumento na concentração de Ca 2+ eleva a probabilidade de que todos os sítios de ligação sejam ocupados, de modo a produzir a alteração conformacional necessária do complexo da troponina. 5. A alteração conformacional da troponina faz com que a tropomiosina (que, antes, bloqueava a interação entre a actina e a miosina) se afaste de modo que o ciclo das pontes cruzadas possa ser iniciado. Quando a tropomiosina se afasta, os sítios de ligação da miosina na actina, até então cobertos, ficam expostos. 6. Ciclo das pontes cruzadas. Com o Ca 2+ ligado à troponina C e a tropomiosina afastada, as cabeças de miosina podem, agora, ligar-se à actina, formando as chamadas pontes cruzadas. A formação das pontes cruzadas está associada à hidrólise do ATP e à geração de força. A, No início do ciclo, não há ATP ligado à miosina e essa está bem unida à actina, na posição de “rigor”. No músculo em contração rápida, esse estado é breve. Porém, na ausência de ATP, este estado é permanente. B, A ligação ao ATP no sulco atrás da cabeça da miosina produz alteração conformacional na molécula, diminuindo sua afinidade pela actina; assim, a miosina é liberada do sítio original de ligação à actina. C, O sulco se fecha ao redor do ATP ligado, produzindo outra mudança conformacional que faz com que a miosina seja deslocada em direção à extremidade positiva da actina. O ATP é hidrolisado a ADP e Pi , que permanece ligado à miosina. D, A miosina se liga a novo sítio na actina (em direção a sua extremidade positiva), constituindo o passo de geração de força. Em cada ciclo das pontes cruzadas, a cabeça da miosina “caminha” por 10 nanômetros (10 −8 metros), ao longo do filamento de actina. E, O ADP é liberado e a miosina retorna a seu estado original, sem nucleotídeos ligados (A). O ciclo das pontes cruzadas continua, com a miosina “caminhando” em direção à extremidade positiva do filamento de actina, enquanto o Ca 2+ estiver ligado à troponina C. 7. O relaxamento ocorre quando o Ca 2+ volta a se acumular no retículo sarcoplasmático, graças à ação da Ca 2+ ATPase da membrana do retículo sarcoplasmático (SERCA). Quando a concentração intracelular de Ca 2+ cai a menos de 10 −7 M, não existem íons suficientes para a ligação à troponina C. Quando o Ca 2+ é liberado da troponina C, a tropomiosina retorna à sua posição de repouso, onde bloqueia o sítio de ligação da 85 miosina na actina. Enquanto a concentração intracelular de Ca 2+ é baixa, o ciclo das pontes cruzadas não pode ocorrer, e a musculatura fica relaxada. O ciclo de pontes cruzadas produz uma força (tensão) ao nível dos elementos contráteis. Para que essa força seja transmitida à superfície do músculo, os elementos elásticos da série (p. ex., titina) têm de primeiro ser estendidos. Como resultado, há um atraso na transmissão da força das pontes cruzadas à superfície do músculo. Depois de o ciclo das pontes cruzadas ser concluído, também há um atraso na queda da tensão muscular; os elementos elásticos da série permanecem esticados e, assim, a superfície de transmissão de força do músculo continua depois de Ca 2+ intracelular cair e o ciclo das pontes cruzadas cessar. Mecanismo do Tétano: Um só potencial de ação provoca a liberação de quantidade fixa de Ca 2+ do retículo sarcoplasmático produzindo uma contração única (abalo isolado). O abalo termina (ocorrendo relaxamento) quando o retículo sarcoplasmático volta a acumular Ca 2+. Quando o músculo é repetidamente estimulado, porém não há tempo suficiente para que o retículo sarcoplasmático volte a acumular Ca 2+ e a concentração intracelular do íon nunca retorna aos baixos níveis existentes duranteo relaxamento. Em vez disso, a concentração intracelular de Ca 2+ permanece alta, levando à ligação contínua do íon à troponina C e, consequentemente, do ciclo das pontes cruzadas. Nesse estado, ocorre a contração permanente, denominada tétano, em vez do abalo isolado. ARTIGO APG: ADAPTAÇÃO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO AO EXERCÍCIO FÍSICO: CONSIDERAÇÕES MOLECULARES E ENERGÉTICAS Artigo de 2017. Revelou-se uma complexa rede de vias de sinalização e moléculas reguladoras que coordenam a resposta adaptativa do músculo esquelético ao exercício. Elas incluem, de forma principal, a transcrição de genes relacionados aos fatores regulatórios da miogênese, ao metabolismo de carboidratos, à mobilização de gorduras, ao transporte e oxidação de substratos, ao metabolismo mitocondrial através da fosforilação oxidativa. O exercício físico regularmente executado é um fator de estímulo que induz a uma série de adaptações no músculo esquelético. Repetidos episódios de contração muscular promovidos pelo treinamento físico, são potentes estímulos para as adaptações moleculares. Em termos gerais, o músculo esquelético apresenta a destacada maleabilidade de adaptação funcional à atividade contrátil3. Estas adaptações são refletidas por mudanças na expressão de proteínas contráteis e por modificações na função contrátil. Estes mecanismos moleculares que governam estas conformações envolvem uma progressiva e gradual alteração no conteúdo de proteínas e atividade de enzimas. Estas adaptações moleculares sofridas pelo músculo esquelético refletem a progressiva adaptação e/ou repressão de vias específicas de sinalização que regulam a atividade transcricional e traducional. Assim, respostas agudas e adaptações crônicas do músculo esquelético induzidas pelo exercício físico promovem alterações no conteúdo de mRNA. Os efeitos do exercício e a complexidade das respostas moleculares sugerem que as múltiplas vias de sinalização convergem para promover uma conformação do músculo esquelético ao exercício.
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