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1 ESTUDO DIRIGIDO DA DISCIPLINA Planejamento Estratégico em Segurança Referência: CAETANO, Cristiano Israel; SAMPAIO, Pedro Paulo Porto de. Planejamento estratégico e administração em segurança. Curitiba: InterSaberes, 2016. Neste roteiro destacamos a importância para seus estudos de alguns temas diretamente relacionados ao contexto estudado nesta disciplina. Os temas sugeridos abrangem o conteúdo programático da sua disciplina nesta fase, e lhe proporcionarão maior fixação de tais assuntos, consequentemente, melhor preparo para o sistema avaliativo adotado pelo Grupo Uninter. Esse é apenas um material complementar, que juntamente com os vídeos e os slides das aulas compõem o referencial teórico que irá embasar o seu aprendizado. Utilize-os da melhor maneira possível. Bons estudos! Tema: ASPECTOS HISTÓRICOS ORIGEM DAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS Podemos citar como formas rudimentares e informais de polícia os códigos faraônicos instituídos por Menés, prevendo severas penas para aqueles que praticassem ilícitos, os spar palek pessoas imbuídas de funções policiais, instituídos pelos hebreus em suas tribos, responsáveis pela segurança de Jerusalém, na época divididaa em 4 grandes áreas, através das quais eram distribuídas as atribuições destes policiais. 2 Em 20 de 51 sociedades antigas, foram encontradas funções de policiamento, a exemplo dos maiori, lapp, riffian, thonga, sírios, ashanti, cheyenne, creek, cuna, crow e hopi. A nascente das polícias ocorreu quando cavaleiros, durante a Guerra dos Cem Anos (1337 - 1453), realizavam atividades policiais de fiscalização de seus próprios integrantes, capturando aqueles que eram desertores, além de manter a paz nas estradas, realizando assim a manutenção do exército do rei. A terminologia POLÍCIA do latim politia, tem origem grega, e se referia ao governo de uma sociedade, à administração das antigas polis. A concepção de polícia como uma entidade encarregada de manter a ordem pública tomou forma apenas no século XVIII. Um formato mais próximo do atual surgiu em Roma entre 63 a.C. e 14 a.C., com o imperador Augusto. Grupos de 100 homens do Exército Romano eram retirados, passando a ser denominados de Centúrias, pois permaneciam sob comando do Centurião. O Centurião era subordinado ao Edil, encarregado pelas funções judicantes, uma espécie de magistrado da época. A formatação policial autônoma como a conhecemos nos dias de hoje surgiu tão somente no século XIX, por uma razão muito simples. Na época, a justiça era privada, ou seja, aquele que fosse prejudicado deveria utilizar seus próprios meios para buscar a reparação devida, inclusive, aplicando punições com as próprias mãos. Esta regra ficou muito clara com a Lei de Talião segundo a qual “olho por olho, dente por dente”. As instituições policiais modernas seguiram, basicamente, dois modelos de organização, aos quais vamos chamar de escolas de polícia, sendo estas a Gendarmerie Francesa (Escola Latina) e o Modelo Inglês (Escola Anglo-Saxônica). Assim, desde a época de Roma, em que as centúrias obedeciam fielmente aos Imperadores para manter o domínio sobre as terras conquistadas ou durante a luta da classe trabalhadora por melhores condições de vida (Marx e Engels), as organizações policiais em vários momentos atenderam aos interesses daqueles 3 que detêm o poder econômico, sendo utilizadas como ferramentas de controle dos menos favorecidos. Note que desde suas origens e, infelizmente, até hoje, as polícias sempre estiveram sujeitas a indevidas interferências estatais, por vezes atendendo interesses de governantes e de grupos políticos e econômicos dominantes, não necessariamente em sintonia com a sociedade. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Peter Drucker, conhecido como o pai da administração moderna, definiu que “o planejamento não diz respeito às decisões futuras, mas às implicações futuras das decisões presentes”. Essa clássica definição de Drucker foi reforçada por Maximiano ao contradizer Oscar Wilde que citava que “o futuro é não apenas inevitável, mas também incerto”. Para Maximiano, “nem todo futuro é desconhecido ou incerto”, uma vez que poderá ser antevisto, justamente por ser uma consequência de decisões passadas. A partir disso, ganha espaço a clássica frase do filósofo Sêneca, para quem “não existem ventos favoráveis para barcos sem rumo”. Essa frase há quase dois mil anos sintetizou a ideia geral do planejamento estratégico, pautada na definição de um objetivo que deve orientar os agrupamentos sociais. Todas essas constatações nos confirmam que desde as eras mais primitivas o homem sempre se utilizou de processos, dos mais rudimentares, para se proteger das intempéries, da fome, dos animais predadores e dos grupos inimigos, sendo que devido à sua criatividade e capacidade de implementação, sempre soube se adaptar e se reinventar para superar toda sorte de adversidades. Evidentemente que essa evolução paulatinamente buscou afastar os processos aleatórios, derivados do acaso, da sorte. Mas foi a partir da definição clara de que os processos e métodos precisariam ser aperfeiçoados que o homem passou a superar com mais facilidade todos os desafios que o mundo lhe impunha. 4 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Patrimonialista O modelo patrimonialista remonta o período histórico chamado de Absolutista, em que havia uma grande concentração de poder na figura do soberano, personificando o próprio Estado. Grande parte desse poder era originado da transmissão hereditária do cargo, que se baseava fortemente no ideário coletivo de que o monarca era um representante de Deus na Terra. É dessa fase a célebre manifestação do monarca francês Luís XIV, “L’ Etat c’ moi”, ou seja, “o Estado sou eu” em que além de prevalecer uma vigorosa irresponsabilidade estatal nos danos causados aos particulares, toda concentração de patrimônio se dava em nome do próprio Estado, despojando assim o particular da titularidade de bens materiais e diversos outros direitos individuais. Burocrática A administração burocrática tem como um dos principais pensadores o filósofo Max Weber, que concebeu a burocracia como uma exigência da nova administração pública, sendo inseridos os conceitos de hierarquia, ascensão funcional pelo mérito, além de um sistema de controle do poder público. Gerencial Baseado amplamente nos conceitos de eficiência, o modelo gerencial adota diversas práticas e métodos da iniciativa privada. A partir disso se notabiliza uma expansão do chamado “Terceiro Estado”, retirando diversas das atribuições então concebidas no período burocrática, diante de severas críticas do chamado “aparelhamento do Estado”. 5 Contemporânea Os desafios contemporâneos da administração indicam, dentre diversas características, o fim do modelo de organizações burocráticas e a reformulação dos modelos de corporação, que cada dia se tornarão mais complexas e globalizadas. Nesse sentido, Kallás e Coutinho apontam como fundamental, dentro de uma formatação contemporânea de administração, a implementação da gestão estratégica em órgãos do governo. A partir disso, a administração policial contemporânea deverá se aliar a essas tendências, tomando por base conceitos modernos de policiamento orientado para solução de problemas e administração pacífica de conflitos. Essa nova abordagem terá como pressupostos o policiamento comunitário e o foco na qualidade. Tema: PRINCÍPIOS, CONCEITOS BÁSICOS E FASES DO PLANEJAMENTO Os princípios são o “núcleo duro” de uma área de estudo; são eles que irradiam, influenciam e norteiam as pesquisas, estudos e decisões de determinado ramo do conhecimento. Não há diferenças profundas nos princípios que informam a elaboração de umplanejamento estratégico de uma empresa ou de uma instituição pública, já que ambos irão se preocupar com os diagnósticos internos e externos, terão de definir a missão, a visão e os valores da organização, verificar os objetivos, criar, avaliar e escolher a melhor estratégia, e, ao final, estabelecer ferramentas de controle e avaliação. No Brasil, há princípios que dirigem toda atividade da administração pública e estão previstas no artigo 37, caput, da Constituição Federal, sendo eles: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, informalmente conhecidos na comunidade acadêmica como LIMPE. 6 Para Oliveira, os princípios gerais de um planejamento são: 1. Princípio da contribuição dos objetivos: o planejamento deve sempre visar aos objetivos da empresa. 2. Princípio da precedência do planejamento: corresponde a uma função administrativa que vem antes das outras (organização, direção e controle). 3. Princípio de maior penetração e abrangência: o planejamento pode provocar uma série de modificações nas características e atividades da empresa. 4. Princípio da eficiência, eficácia e efetividade: o planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as deficiências. Há outros princípios, que são desdobramentos dos enumerados e de importante objeto de estudo, sendo eles: • Hierarquia: definição clara e objetiva dos graus de autoridades, do poder de mando, as quais aumentam quanto mais se afastam da base da pirâmide. De maneira inversa, e caminhando junto à hierarquia, temos que a responsabilidade diminui conforme avança do ápice para a base. • Qualificação e divisão das tarefas: uma organização policial é formada por um complexo de indivíduos, cada qual com uma formação intelectual e/ou tendência, simpatia para o desenvolvimento de uma determinada tarefa. Importante estar consciente desta realidade, de forma a proceder a divisão de todas estas tarefas, e inserir o pessoal mais qualificado e com melhor perfil ao desempenho da função, o que irá atender a eficiência, eficácia e efetividade; • Qualidade do controle (ângulo da autoridade): bem próximo ao princípio da hierarquia, com a definição de quais tarefas serão divididas e quem serão os responsáveis por elas, necessário compreender que quanto maior o número de subordinados, mais dificultoso o controle, por outro lado, a criação de muitas divisões torna o processo burocrático, engessado e consequentemente ineficiente. Para o planejamento, Oliveira elenca quatro princípios específicos: • Planejamento participativo: o principal benefício do planejamento não é o seu produto, ou seja, o plano, mas o processo envolvido. O papel do responsável do planejamento não é o de apenas elaborá-lo, mas de facilitar o processo de sua elaboração pela própria organização, devendo ser realizado pelas áreas pertinentes ao processo. • Planejamento coordenado: todos os aspectos envolvidos devem ser projetados de forma que atuem interdependentemente, pois nenhuma parte ou aspecto de uma organização podem ser planejados 7 eficientemente se o for de maneira independente de qualquer outra parte ou aspecto. • Planejamento integrado: os vários escalões de uma organização devem ter seus planejamentos integrados. • Planejamento permanente: essa condição é exigida pela própria turbulência do ambiente, pois nenhum plano mantém seu valor com o tempo. Para Rezende “planejamento é o processo administrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a melhor direção a ser seguida pela empresa, visando ao otimizado grau de interação com o ambiente e atuando de forma inovadora e diferenciada.” Maximiano conceitua estratégia como “a seleção dos meios, de qualquer natureza, empregados para realizar objetivos. O conceito de estratégia nasceu da necessidade de realizar objetivos em situações complexas, principalmente nas quais uma concorrente procura frustrar o objetivo do outro”. Planejamento estratégico, para Oliveira, “é um conjunto de providências a serem tomadas pelo executivo para a situação em que o futuro tende a ser diferente do passado.” Chiavenato retrata que o “planejamento estratégico refere-se à maneira pela qual uma organização pretende aplicar uma determinada estratégia para alcançar os objetivos propostos.” Trata-se, portanto, de um planejamento mais amplo, que envolve toda uma organização, e que decorre de um plano de sua cúpula. Planejamento Estratégico: É considerado como um processo gerencial que possibilita ao agente público estabelecer o rumo a ser seguido pela instituição policial, com vistas a obter um nível de otimização na relação com seu ambiente. O planejamento estratégico é, normalmente, de responsabilidade dos níveis mais altos da organização e diz respeito tanto à formulação de objetivos quanto à seleção dos cursos de ação a serem seguidos para sua consecução, levando em conta as condições externas e internas à corporação e sua evolução esperada. Planejamento Tático: Tem por objetivo otimizar determinada área de resultado e não a instituição como um todo. Portanto, trabalha com decomposições dos 8 objetivos, estratégias e políticas estabelecidos no planejamento estratégico. O planejamento tático é desenvolvido em níveis organizacionais inferiores, tendo como principal finalidade a utilização eficiente dos recursos disponíveis para a consecução dos objetivos previamente fixados, segundo uma estratégia pré- determinada bem como as políticas orientativas para o processo decisório da organização. Planejamento Operacional: Pode ser considerado como a formalização, principalmente mediante documentos escritos, das metodologias de desenvolvimento e implantação estabelecidas. Portanto, nessa situação têm-se, basicamente, os planos de ação ou planos operacionais. Os planejamentos operacionais correspondem a um conjunto de partes homogêneas de planejamento tático. Cada um dos planejamentos operacionais deve conter com detalhes os recursos necessários para o seu desenvolvimento e implantação, os procedimentos básicos a serem adotados, os produtos ou resultados finais esperados, os prazos estabelecidos, os responsáveis pela sua execução e implantação. Segundo Chiavenato e Sapiro “a missão é o elemento que traduz as responsabilidades e pretensões da organização junto ao ambiente e define o ‘negócio’, delimitando seu ambiente de atuação.” Contrariamente à MISSÃO, o hoje, o agora, deve ser acentuado na elaboração da VISÃO, em que a corporação expõe uma projeção de futuro, descreve o que ela enxerga em longo prazo, suas perspectivas e em que lugar quer se posicionar. Significa que a entidade tem um desafio que deseja alcançar. Ao falar em valores, a organização expõe aquilo que acredita, sua fé, seus princípios, indica uma tábua de atributos vivenciados pelos seus integrantes. Normalmente estes códigos de conduta são fixados em lei própria para os servidores policiais, outras vezes estão inseridos junto ao Estatuto que disciplina todo o regime jurídico ou ainda, em Regulamentos Próprios, e, ao contrário de entidades privadas, estes dilemas morais e ações éticas são imposições legais e não meros referenciais. 9 Tema: GESTÃO ESTRATÉGICA A gestão estratégica é definida por Hunger e Wheelen “como o conjunto de decisões e ações estratégicas que determinam o desempenho de uma corporação a longo prazo. Este tipo de gestão inclui análise profunda dos ambientes interno e externo, formulação da estratégia (planejamento estratégico ou de longo prazo), implementação da estratégia, avaliação e controle.” Durante uma década Tellis e Golder (2002), na tentativa de desvendar os segredos de gerenciar com eficácia e inovação, dedicaram-se a uma pesquisa que procurava compreender as vantagens e desvantagens de organizações “pioneiras”em determinado ramo assim como dos “retardatários”, ou seja, dos que apesar de não terem iniciado a atividade buscavam seu lugar ao sol, desvelando as chances reais dos últimos em alcançar os desbravadores. Em capítulo dedicado ao que chamaram “inovação implacável”, Tellis e Golder (2002, p. 176 e 177) destacaram as seguintes inferências: • A tecnologia e os mercados mudam constantemente, tornando obsoletos os produtos de sucesso no passado. As posições das empresas nos mercados, até as mais entrincheiradas, são muito suscetíveis a mudanças. Assim, a empresa dominante deve manter-se propensa à inovação implacável, a fim de sustentar o sucesso. • Duas atitudes tolhem a busca incansável pela inovação: a complacência embalada pelo sucesso no passado e o medo de canibalizar os produtos existentes. • A complacência embalada pelo sucesso no passado por vezes leva a empresa a acreditar que é superior aos concorrentes ou que possui alguma fórmula vitoriosa que durará para sempre. Essa atitude leva a empresa a ignorar ou a negar oportunidades de inovação promissoras. • O medo de canibalizar os produtos existentes surge principalmente quando se desenvolvem novos produtos para servir a mercados ou atender a necessidades substancialmente semelhantes, apenas com mais vantagens para o usuário. As empresas relutam em tornar obsoletos os produtos existentes, em face de seus investimentos emocionais e financeiros neles efetuados. Tal atitude retarda ou impede a inovação. • Em contraste, as inovações bem-sucedidas decorrem de características culturais profundamente arraigadas na organização. Os gerentes seniores devem fomentar intensamente essa predisposição à inovação, zelando por sua difusão em toda a empresa. 10 • Um forte motivador da inovação é o medo ou paranoia de que as mudanças na tecnologia ou nas preferências dos consumidores tornem obsoletos os produtos existentes. Com efeito, as empresas que prosperam na inovação têm uma consciência aguda quanto à própria vulnerabilidade às inovações introduzidas pelos concorrentes. (Tellis e Golder, 2002, p. 176 e 177). As multinacionais, há tempos, abandonaram a ideia de uma gestão estratégica absolutamente centralizada, inflexível, uniforme e contínua para dar espaço à chamada learning organization (organização que aprende), o que significa (...) que as corporações devem desenvolver flexibilidade estratégica: capacidade de mudar de uma estratégia dominante para outra. A flexibilidade estratégica demanda um compromisso a longo prazo com o desenvolvimento, nutrindo-o com recursos cruciais. Demanda também que a empresa se torne uma learning organization: uma organização com habilidade para criar, adquirir e transferir conhecimento e modificar seu comportamento para refletir novos conhecimentos e ideias. As learning organizations evitam o engessamento por meio de auto-avaliação e experimentação contínuas. As pessoas – em todos os níveis, não apenas a alta administração – precisam estar envolvidas em gestão estratégica: fazer uma análise profunda e sistemática do ambiente para encontrar informações cruciais, propor mudanças nas estratégias e programas para se obter vantagem das mudanças ambientais e trabalhar com outras pessoas a fim de melhorar continuamente os métodos, os procedimentos e as técnicas de avaliação. (MINTZBERG, 1976, p. 56). LIDERANÇA O líder é aquele seguido pelos demais em razão de sua empatia, capacidade de organização, coordenação e inteligência. O verdadeiro líder detém as habilidades natas de ser comunicativo, de resolver conflitos internos e externos, transmitir confiança e motivação, além de convencer seus subordinados pela argumentação e não pela imposição. Estes guias, quando identificados, são agraciados com ascensão funcional nas instituições e posicionados a frente de importantes projetos. É intuitivo que inobstante os líderes possuam características comuns, cada qual atua de maneira particular. Ao distinguir o comportamento adotado por cada líder 11 Chiavenato, divide os modelos de liderança em autocrática, liberal e democrática. Cita o autor que durante uma experimentação científica quatro grupos de meninos foram submetidos aos três formatos de lideranças, em sistema de revezamento, chegando-se aos seguintes resultados: 1. Liderança autocrática. O líder centraliza as decisões e impõe suas ordens ao grupo. O comportamento dos grupos mostrou forte tensão, frustração e agressividade, de um lado, e, de outro, nenhuma espontaneidade, nem iniciativa, nem formação de grupos de amizade. Embora aparentemente gostassem das tarefas, não demonstraram satisfação em relação à situação. O trabalho somente se desenvolvia com a presença física do líder. Quando ele se ausentava, as atividades paravam e os grupos expandiam seus sentimentos reprimidos, chegando a explosões de indisciplina e agressividade. 2. Liderança liberal. O líder delega totalmente as decisões ao grupo e deixa-o completamente à vontade e sem controle algum. Embora a atividade dos grupos fosse intensa, a produção foi medíocre. As tarefas se desenvolviam ao acaso, com muitas oscilações, perdendo-se tempo com discussões por motivos pessoais e não relacionados com o trabalho. Notou-se forte individualismo agressivo e pouco respeito ao líder. 3. Liderança democrática. O líder conduz e orienta o grupo e incentiva a participação democrática das pessoas. Houve formação de grupos de amizade e relacionamentos cordiais entre os meninos. Líder e subordinados desenvolveram comunicações espontâneas, francas e cordiais. O trabalho mostrou um ritmo suave e seguro, sem alterações, mesmo quando o líder se ausentava. Houve um nítido sentido de responsabilidade e comprometimento pessoal além de uma impressionante integração grupal dentro de um clima de satisfação. O laboratório revelou que a liderança liberal apresentou resultados quantitativos e qualitativos medíocres, ao passo que a liderança autocrática demonstrou maior produção em termos quantitativos. Por fim, a liderança democrática foi a que obteve melhores resultados, gerando quantitativo equivalente à autocrática, porém com qualidade infinitamente superior. Evidente que não existe um estilo certo de liderança, cabendo ao gestor definir, conforme a demanda que se apresenta, e optar por um ou outro tipo de liderança, variando diante de circunstâncias e atividades. 12 EMPREENDEDORISMO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SEGURANÇA PÚBLICA Chiavenato e Sapiro apontam que o espírito empreendedor exige “(...) um profundo conhecimento da situação atual, seus desdobramentos, capacidade de análise, raciocínio lógico, forte intuição, faro sensível para as oportunidades (...)”. Afirmam ainda os autores que “essas características indicam que além de liderança, a elaboração e implementação do plano estratégico vão ser a função da manifestação do chamado espírito empreendedor”. Para Chiavenato e Sapiro “empreendedora é a pessoa que inicia e/ou opera um negócio ou empreendimento para realizar uma ideia original ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades e inovando continuamente”. Acima de tudo, empreendedoras são aquelas pessoas preocupadas em buscar oportunidades, que questionam e alcançam respostas para problemas não enfrentados por outras pessoas. Maximiano afirma que “inovação significa a capacidade de apresentar novos produtos e serviços”, que se revelam como um fator de competitividade, cujo pressuposto é a busca de novas ideias, para que organizações se mantenham atualizadas e com espaço no mercado em que estão inseridas. Chiavenato e Sapiro colocam que a inovação deve ser o coração de toda estratégia, atenta às necessidades do mercado, atendendo e satisfazendo seus clientes. Outro autor, Roger Born (2014), retrata que o planejamento estratégico é uma poderosa ferramenta de inovação. Bornindica ainda que o planejamento tradicional não abre espaço para o desenvolvimento de novas ideias, e que posturas convencionais desestimulam a criatividade e o pensamento estratégico. Falconi associa a inovação ao estabelecimento de metas audaciosas, e um comportamento perseverante, em que a imaginação e a criatividade são ferramentas poderosas, que podem colocar toda uma organização em sintonia para superar um desafio. Chiavenato e Sapiro, citando Peter Drucker, afirmam que “[...] o empreendedorismo está associado caracteristicamente à inovação, seja em um negócio já existente, em uma instituição pública de serviços ou em um novo empreendimento iniciado por um único indivíduo na cozinha da família.” Assim, a 13 inovação, cujo pressuposto envolve a busca por oportunidades e a assunção de riscos, está intimamente ligada a uma postura empreendedora. Ao lado de uma postura inovadora e empreendedora, os profissionais de segurança pública devem associar suas condutas às mais modernas ações sustentáveis. A literatura de Chiavenato e Sapiro, se valendo do Report of World Comission on Environment and Development, da Organização das Nações Unidas, conceitua desenvolvimento sustentável: Desenvolvimento sustentável corresponde a um padrão de uso de recursos que ao mesmo tempo que atenda às demandas humanas e organizacionais, preserva o ambiente de uma maneira que não comprometa os recursos e a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias demandas e necessidades. Tema: FERRAMENTAS E MÉTODOS DE GESTÃO DA SEGURANÇA PRIVADA Chiavenato (2003, p. 498), amparado nas lições de Dill, Burns e Stalker, Chandler, entre outros, afirma que a análise de ambiente é fundamental, uma vez que são os cenários que afetam a estrutura e o funcionamento presente e futuro das organizações. Assim, você deve compreender que qualquer planejamento eficiente ligado à segurança pública depende da análise do ambiente em que tais atividades são desenvolvidas; seja o ambiente interno, da própria agência que integra o sistema de segurança pública, e o ambiente externo, o local em que esses serviços são prestados. Além de favorecer a condição presente da atuação das organizações, esses dados são essenciais para a prospecção e o planejamento de futuro, diante das incertezas no cenário social e econômico, que podem influenciar os índices de violência e de criminalidade. Lembre-se que as decisões presentes podem repercutir nos acontecimentos a médio e longo prazo, motivo pelo qual a análise de ambientes e o estudo de cenários serão determinantes para o grau de sucesso de uma organização. 14 Com a realização de diagnósticos adequados, a organização obterá elementos aptos e lhe favorecer a tomada de decisão em prol das melhores ações a serem empreendidas no campo da segurança pública. Chiavenato e Sapiro afirmam que “cenários são estudos do futuro para se construir diferentes imagens e visões alternativas favoráveis ou desfavoráveis do ambiente futuro de negócios”. Chiavenato e Sapiro (2009, p. 149) explicam que a Construção de Cenários se inicia com a identificação do tema de que ser quer tratar, e que causa preocupação à organização em termos de futuro. Nessa discussão deverão ser evidenciadas as tendências que estão surgindo e os possíveis impactos que causarão um ramo ou negócio. Na sequência, deverão ser identificadas as principais forças de mudança, reconhecidas no diagnóstico interno e externo, e que poderão responder às preocupações inicialmente apresentadas. As forças de mudança decorrem principalmente de processos econômicos, políticos, socioculturais e tecnológicos. O grupo de planejamento estratégico deverá identificar, dentro da própria instituição, quais são os principais fatores a serem observados. As etapas seguintes estão ainda ligadas às forças de mudança, seja categorizando-as diante dos eventos a serem trabalhados e apurados. Em seguida, o fortalecimento das forças de mudança, agrupando-as aos elementos predeterminados, mediante o cotejo perante os mais relevantes. Chiavenato e Sapiro (2009, p. 152) apontam que a próxima etapa é alinhamento das incertezas críticas. Ou seja, nessa fase se cruzam as linhas das forças de mudança categorizadas, e o remanescente é justamente as incertezas no processo de construção de cenários. Todas essas etapas levam à criação de roteiros plausíveis, em que se criam cenários coerentes, cuidadosamente elaborados como um filme, com um enredo bem definido. 15 A avaliação das implicações é a etapa subsequente apontada por Chiavenato e Sapiro (2009, p. 153), e se revela a mais interessante de todas, uma vez que permite os desdobramentos e as interligações antes não observadas. E, por fim, a aplicação da metodologia. Nessa fase alguns cuidados devem ser tomados. Um deles é evitar a definição de vários cenários, reduzindo assim uma possível falta de objetividade. Em resumo, essas são as etapas da construção de cenários: Identificação do tema de que ser quer tratar; Categorização das forças de mudança; Fortalecimento das forças de mudança; Alinhamento das incertezas críticas; Criação de roteiros plausíveis; Avaliação das implicações; Aplicação da metodologia. Planejamento estratégico situacional é uma vertente do planejamento estratégico e tem uma ligação direta com o setor público, sendo que seus temas e interesses resultam das demandas sociais que impulsionam a atuação dos governos. Diferentemente da preocupação com produtos e sua aceitação nos mercados, o planejamento estratégico situacional se preocupa com a complexidade do sistema social e as análises econômicas não são preponderantes. MATRIZ SWOT Um dos modelos para tomada de decisão estratégica mais conhecidos é o da matriz SWOT, a qual traz em sua sigla, palavras em língua inglesa, representada num anagrama que indica seus principais elementos, a saber: Strenghs – forças Weaknesses – fraquezas Opportunities – oportunidades Threats – ameaças 16 Trata-se de um modelo adotado por organizações, com o propósito de tornálas capazes de compreender o ambiente interno, principalmente quanto às suas forças e fragilidades e o ambiente externo, quanto às ameaças e oportunidades. PDCA Vamos agora falar mais sobre uma das principais ferramentas de gestão, perfeitamente aplicável às organizações que integram o sistema de segurança pública, o ciclo PDCA. O método gerencial, oriundo dos japoneses, do Sistema Toyota de Produção, se destina à solução de problemas. Existem várias denominações, mas o mais difundido entre nós é o PDCA (PLAN – DO – CHECK – ACT). TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS Também conhecida por Broken Windows Theory, é uma filosofia de aplicação da atividade policial, um método utilizado com intensidade pelos norte-americanos de combate à criminalidade e que ganhou mídia com sua implementação na cidade de Nova York no denominado programa “Tolerância Zero”. Coutinho e Carvalho (2003, internet) resumem a teoria da seguinte forma: [...] baseada na premissa de que "desordem e crime estão, em geral, inextricavelmente ligadas, num tipo de desenvolvimento sequencial" (WILSON e KELLING, 1982, p. 31). Segundo eles, pequenos delitos (como vadiagem, jogar lixo nas ruas, beber em público, catar papel, e prostituição), se tolerados, podem levar a crimes maiores. A ideia não é complexa e faz adaptação do ditado popular "quem rouba um ovo, rouba um boi" (WACQUANT, 2001, p. 25): se um criminoso pequeno não é punido, o criminoso maior se sentirá seguro para atuar na região da desordem. Quando uma janela está quebrada e ninguém conserta, é sinal de que ninguém liga para o local; logo, outras janelas serão quebradas. 17 Tema: ESTRATÉGIAS INSTITUCIONAIS PARA O POLICIAMENTO Um dos grandes pesquisadoresem nível mundial sobre polícia é David H. Bayley, autor de diversas obras sobre o tema, dentre as quais o texto “O Futuro do Policiamento”. Segundo o pesquisador, é possível realizar previsões de futuro tendo por suporte os padrões da atividade policial encontrada ao redor do mundo, assim como seu desenvolvimento. O sistema de policiamento moderno é dominado por uma polícia administrada e gerida pelo Poder Público. A existência de uma polícia pública é o resultado de um paradigma histórico, em que a população passou a desacreditar a atividade privada, porém, não há evidências que este sistema se perpetue, aliás, a contrário senso, há indicativos de que este formato esteja se revertendo. O monopólio da polícia dominada pelo poder estatal deve-se a dois fatores. Inicialmente, pelo descrédito na atividade privada e segundo pela ameaça do poder político pela violência. Com isto em mente, explica Bayley, nada impede que a população diante do fracasso do atual mecanismo de segurança (público) volte-se para outro (privado). Não haverá drásticas mudanças nos atuais sistemas de controle da atividade policial. A mesma lógica que informa dificuldade em alterar a estrutura policial também se aplica a correição desta atividade. Para Bayley (2006, p. 232) “A principal lição é que as estruturas administrativas são muito menos importantes para o controle do que as imposições criadas por elas. A responsabilização não depende da estrutura da polícia ou dos mecanismos específicos escolhidos para controlá-la.” A resistência às mudanças dentro das organizações também é tema debatido por Rolim (2006, p. 93 e 94), ao falar sobre a implementação da filosofia de Polícia Comunitária, nas organizações policiais: Quase todos os estudos sobre esse assunto concluem que a estrutura e a cultura das organizações policiais são os maiores impedimentos, e aparecerão logo no momento de implementação dos projetos, porque os efeitos positivos das abordagens baseadas nas relações comunitárias só aparecem após um período de maturação. Isso pode significar, por exemplo, que os agentes políticos interessados 18 prefiram não investir em um projeto cujos eventuais bons resultados só poderão ser experimentados a longo prazo. Normalmente, os gestores motivados por objetivos de ordem político-eleitoral preferem apostar em abordagens que ofereçam perspectivas de êxito a curto prazo, o que, evidentemente, nunca funciona, mas pode parecer que sim, pelo menos até as eleições seguintes. Dificuldades ainda maiores poderão surgir sempre que a opinião pública estiver marcadamente influenciada por uma demanda punitiva. Tais situações são bastante comuns em sociedades como a brasileira, em que elevadas taxas de criminalidade convivem com índices também muito altos de impunidade e com a crescente exploração do fenômeno contemporâneo da violência por setores da mídia e por lideranças políticas. Parece evidente que, diante de pressões de toda ordem, do alarme ou da indignação pública provocados por crimes de larga repercussão, a polícia se incline quase naturalmente em direção a “resultados imediatos”. Isso é sempre associado ao número de prisões realizadas e, por mais incrível que possa parecer, também ao número de mortos pela polícia. Diante do horror e do medo generalizados, a razão costuma ser uma vítima não contabilizada, e qualquer discussão em torno de reformas mais complexas da estrutura policial será vista como “perda de tempo”. Em um ambiente assim, definido nos limites de uma ecologia do pânico, os espaços para a argumentação pública são drasticamente reduzidos – o que, por si só, isola a inteligência e o seu potencial transformador. As estratégias de policiamento no futuro serão variáveis em conformidade com os seguintes aspectos de cada país: “Em resumo, há três estratégias básicas que as forças policiais escolherão para atender a responsabilidade de promover ordem social, dependendo da incidência de violência coletiva perigosa para o regime, preocupação da população com os crimes comuns e a visão que se tem do indivíduo dentro da comunidade”. (Bayley, 2006, p. 241). Em países com cultura comunitária e preocupação com o crime, o governo irá reconhecer a necessidade de mobilização da população para sua própria proteção. Para tanto, as infrações penais serão desencorajadas através da disciplina informal (não relacionadas a lei), assim, o sistema judiciário de sanções formais será utilizado em segundo plano, em caso de fracasso da disciplina informal. Como resultado esperado, a polícia irá se preocupar em atender a comunidade com um raio de incidência que ultrapasse a mera coerção de crimes, contudo, ganhará respeito e confiança. O Japão é citado como exemplo desta estratégia. 19 • Pressman e Carol, Greenwood e Waycki, Cloninger e Stahura e Huff identificaram um vínculo positivo entre o quantitativo de policiais e os índices criminais; • Wellford, apesar de um percentual baixo, identificou uma relação negativa entre o número de policiais e a eficiência na redução de crimes; • Mathiesen e Passell, Philips et. al, Decker, em suas pesquisas, encontraram vínculo negativo entre indicadores criminais e quantitativo de policiais; • Por fim, Allison e Levine não encontraram qualquer relação entre o número de policiais e os índices criminais, enquanto Carr-Hill e Stern não conseguiram chegar a uma conclusão com as informações que portavam sobre uma possível relação entre indicadores criminais e o efetivo de policiais. Assim como Greene em sua obra, não podemos concluir com certeza que a contratação de grande quantitativo de policiais seria um fator preponderante para redução da criminalidade. Ainda a este respeito três pesquisadores do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) realizaram estudos sobre o crime de homicídio no Brasil, o qual cresce segundo Cerqueira, Lobão e Carvalho (2005) no percentual alarmante de 5,6%, chegando ao número de 800 mil mortes entre 1980 e 2005. Ao final, concluem que “os efeitos da alocação de mais recursos para a polícia tendem a ser pífios, em termos da diminuição da criminalidade. Isso não significa afirmar que o papel da polícia não seja crucial, mas que os dados captaram os efeitos de uma polícia obsoleta e viciada, [...]. Ou seja, falar em alocar mais recursos para a polícia só faz sentido após se discutir qual o modelo eficaz e eficiente”. ESTRATÉGIAS DE POLICIAMENTO VOLTADO PARA OS DIREITOS HUMANOS A polícia e os direitos humanos estão intimamente vinculados, pois está só subsiste quando aquela o fomenta, protege e guarda. O reconhecido defensor dos Direitos Humanos, ex-Secretário Nacional de Segurança, Ricardo Brisolla Balestreri, ao tratar da Segurança Pública dos Direitos Humanos em certo momento, relatou: É claro que a comunidade de direitos humanos não é um bloco monolítico e nem todos os segmentos se enquadram na categoria acima. Lamentavelmente, contudo, parece-me que a maior parte de nós – do ponto vista da compreensão, dos conhecimentos, da identificação com a causa da segurança pública como também uma causa popular e de direitos humanos encontra- 20 se paradigmaticamente paralisada nos anos setenta, quando vivíamos na zona de risco da ditadura mas igualmente na zona de conforto da aprovação popular, heróis e heroínas de um mundo bipolar. Tal crítica, a faço com respeito e compaixão, uma vez que, por anos, estive “preso” na mesma torre. Não foi fácil descer dela e ir para a planície da democracia, enfrentando a vida como a vida é, com sua complexidade, contradições e desafios suprapessoais. Não foi fácil, no início, encontrar, nas salas de aula, a polícia da qual eu tinha tantas vezes apanhado e muito menos aquela que por dois sofridos anos me havia processado. Foi, contudo, um enfrentamento desesquizofrenizante e necessário como serviço a uma democracia que precisadevolver a sua polícia ao povo. Mais do que parte do problema, optei, com vários outros companheiros e companheiras, por fazer parte das soluções. Creio que, a estas alturas, faz-se necessário o resgate de uma aparente obviedade que, contudo, é insuficientemente enfrentada: porquê o tema da segurança pública se tornou tão crucial para a nação brasileira, como revelam as pesquisas de opinião? Inicialmente, porque a maioria dessa nação se encontra, historicamente, na orfandade em relação aos poderes públicos, vivendo em áreas de carência ou mesmo de quase total ausência de políticas públicas alcançadoras não apenas dos direitos de ordem material mas também daqueles de ordem subjetiva: balizamentos legais e éticos, mediação de conflitos, educação pública de qualidade, liberdades de expressão, de organização, de ir e vir, de criar e empreender. Tal vácuo de presença do estado democrático de direito gerou ambiência para o estabelecimento de “governos” totalitários do crime organizado, que utilizam-se de tais áreas para estoque de armas e drogas, venda varejista e recrutamento de mão-de-obra barata, além de outras atividades criminosas associadas. Assim, grande parte dos pobres deste país se encontra, ainda, sob o tacão de uma ditadura empresarial ilícita, covarde e sanguinária. São eles, os que não possuem recursos para enclausurarem-se em condomínios privados e seguros, as maiores vítimas da insegurança pública. São, também eles, as maiores vítimas de padrões de policiamento equivocados, invasivos, reativos, truculentos, criminalizadores da pobreza. Os nossos eventuais “escrúpulos” em não nos aproximarmos da polícia não os ajudam em nada. Ao contrário, os mantêm presas de um sistema servil junto aos criminosos e de pânico quando da presença policial. Nossas meras atividades de denúncias, que sempre serão imprescindíveis para o aprimoramento democrático, têm se revelado insuficientes e mesmo pífias quando se trata da mudança de um sistema que, mais do que “consertado” pontualmente, precisa ser transformado. Se não tivermos disposição para entrar nos quartéis, delegacias, salas-de-aula de academias, conselhos comunitários de 21 segurança, postos de polícia comunitária, não para atacarmos os policiais (o que abreviaria muito nossa presença junto a eles) mas para ajudá-los a construir modelos alternativos de policiamento e atendimento das comunidades, modelos com a cara da democracia, sempre teremos algum programa de TV nos chamando para a crítica mas não teremos uma polícia de proximidade, cuidando com cidadania dos cidadãos. CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA (CONSEGS) O desdobramento lógico da polícia comunitária é a implantação do chamado Conselho Comunitário de Segurança (CONSEG), que para a SENASP (2008, p. 297) se traduz como: Entidade de direito privado, com vida própria e independente em relação aos segmentos da segurança pública ou a qualquer outro órgão público modalidade de associação comunitária, de utilidade pública, sem fins lucrativos, constituída no exercício do direito de associação garantido no art. 5.º, inciso XVII, da Constituição Federal, e que tem por objetivos mobilizar e congregar forças da comunidade para a discussão de problemas locais da segurança pública, no contexto municipal ou em subdivisão territorial de um Município. Para os autores (2008), o CONSEG é um meio para incentivar e organizar o voluntariado, além de revelar um local para a debate e a promoção humana, mediante a criação de redes de proteção. Por integrar a comunidade, o Conselho apresenta melhores condições de diagnosticar problemas locais, facilitando assim a elaboração de ações estratégicas na área de segurança, além de favorecer a análise, sob a perspectiva de que os problemas de violência e de criminalidade são responsabilidade de todos e não apenas dos órgãos policiais. Além de tudo isso, o CONSEG se caracteriza como um espaço plural, que “[...] satisfaz às demandas democráticas de participação dos cidadãos nas questões de seu interesse”. (SENASP, 2008, p. 297)
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