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PARECER JURIDICO EMENTA: ANALISE SOBRE INCIDENCIA DO TRIBUTO ICMS SOBRE EMPRESAS DE TRANSPORTES DE PASSAGEIROS. MEDIDAS CABÍVEIS. Interessado: Leo Transportes - Senhor Leomar. 1. RELATÓRIO Após um acidente ambiental que ocasionou uma crise no turismo e afetou significativamente a economia do Estado de Rochedo, a solução adotada pela Assembleia Legislativa, na tentativa de incrementar sua receita, foi aprovar a Lei Ordinária 999/2019, que em um dos seus artigos estabeleceu a cobrança de ICMS para às empresas de ônibus que faziam o transporte de passageiros dentro dos municípios do Estado. Com vigência após a sua publicação no Diário Oficial em 20/10/2019. A empresa Leo Transportes foi notificada por não recolher o ICMS, derivado do serviço de transportes prestado na cidade de Canoa Quebrada, e efetuar o pagamento do imposto e da sua referida multa sob pena de ser inscrito em Divida Ativa. É o breve relatório. Passo à análise da matéria. 2. FUNDAMENTOS JURIDICOS A questão trazida pelo consulente diz respeito à compreensão do campo de incidência do ICMS na prestação de serviço de transporte. O Imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicações (ICMS) possui competência constitucional alçada para os Estados e ao Distrito Federal, está previsto no artigo 155, II da CF. Conforme a previsão constitucional adveio a Lei Complementar nº 87 de 13 de setembro de 1996, disciplinando várias particularidades do referido imposto, tais como fato gerador, os casos de incidência e de não incidência, isenções, benefícios fiscais, e ainda fixa a base de cálculo, alíquotas, sujeito ativo (Estados e Distrito Federal), sujeito passivo (contribuinte), e ainda dispõe sobre a substituição tributária. Assim, a prestação de serviço de transporte interestadual e intermunicipal está sob o campo de incidência do ICMS. O art. 730 do Código Civil assim define o contrato de transporte: Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. É de suma importância esclarecer, que os princípios tributários previstos na Constituição Federal se aplicam para a defesa do contribuinte perante o Estado, para a proteção garantindo os direitos do cidadão. Desta feita, a constitucionalidade de um tributo deve seguir todos os princípios elencados na Constituição, para obter a segurança jurídica no ramo de direito tributário. No caso em comento, observou-se que a Assembleia Legislativa do Estado de Rochedo obedeceu ao princípio da legalidade que está previsto na Constituição Federal/1988, em seu artigo 5º, inciso II e o princípio de legalidade tributária no artigo 150, inciso I, onde triunfa o propósito do legislador, na qual, não haverá tributo instituído e/ou majorado, a não ser pela lei. Por conseguinte, ao definir a vigência da Lei 999/2019 para o dia posterior a sua publicação feriu o principio da anterioridade, previsto no Art. 150, Inciso III, alínea ‘b’, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), é exigido que a lei que crie ou que aumente o tributo seja anterior ao exercício financeiro em que o tributo será cobrado. Tal princípio busca evitar qualquer surpresa para o contribuinte, vedando a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Essa proteção foi aumentada com a chamada anterioridade nonagesimal, que passou a vigorar após a Emenda Constitucional nº 42/2003 (BRASIL, 2003b), a qual impediu que fossem cobrados tributos antes de decorridos 90 (noventa) dias da data em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Neste caso o Estado estive decretado caso de calamidade pública os impostos poderiam ser cobrados no mesmo exercício financeiro em que foram instituídos, conforme a norma jurídica, Art. 150, §1, da Constituição Federal. Assim, O Estado de Rochedo deveria ter aguardado o início do próximo exercício financeiro para iniciar a cobrança do tributo criado segundo a lei descrita acima. 3. CONCLUSÕES Diante de todo o exposto, pode-se concluir que, embora a cobrança do imposto fosse ilegal a orientação do contador Jonas não está correta, uma vez que não bastava senhor Leomar deixar de pagar o imposto cobrado. Posto isto, responda-se à consulente que tendo sido a lei publicada em 20/10/2019 e vigorado em 21/10/2019, é flagrante a violação ao princípio da anterioridade tributária, o que resulta na possibilidade deste ingressar com pedido de repetição do indébito tributário, com base na cobrança indevida acima apontada, tendo como fundamento os argumentos elencados acima e o art. 165 do CTN. Salvo melhor entendimento. É o parecer. Natal, 18 de janeiro de 2021 Nadja Dantas Advogada