Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
OABNAMEDIDA.COM.BR DIREITO CIVIL APOSTILA INTEGRADA COM O APP! XXXIII EXAME INCLUI: • Quadros de ATENÇÃO • Tabelas Comparativas • Esquemas Didáticos • Referências a temas cobrados em provas anteriores ATUALIZADO COM: • Lei nº 14.138/21 (DNA) • Lei nº 13.874/19 (Declaração de Direitos de Liberdade Econômica) OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL Alteração Legislativa Atenção Exemplo 2 SUMÁRIO 1. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (LINDB) 1.1. CONCEITO 1.2. VIGÊNCIA DA LEI 1.3. REVOGAÇÃO DA LEI 1.4. CONHECIMENTO DA LEI 1.5. INTEGRAÇÃO DA LEI 1.6. APLICAÇÃO DA LEI 2. PESSOAS NATURAIS 2.1. PERSONALIDADE JURÍDICA 2.2. DIREITOS DA PERSONALIDADE 2.3. TÉRMINO DA PERSONALIDADE 2.4. CAPACIDADE 3. PESSOAS JURÍDICAS 3.1. ASSOCIAÇÕES 3.2. FUNDAÇÕES 3.3. SOCIEDADES 3.4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 4. DOMICÍLIO 4.1. DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA 4.2. DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL 5. BENS 5.1. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS 5.2. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS 5.3. BENS SEGUNDO O DOMÍNIO 6. NEGÓCIO JURÍDICO 6.1. DISPOSIÇÕES GERAIS 6.2. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 6.2.1 ERRO 6.2.2 DOLO 6.2.3 COAÇÃO 6.2.4 ESTADO DE PERIGO 6.2.5 LESÃO 6.2.6 FRAUDE CONTRA CREDORES 6.2.7 SIMULAÇÃO 6.3. INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 3 7. ATO ILÍCITO 8. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 8.1. PRESCRIÇÃO 8.2. DECADÊNCIA 9. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 9.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS 9.2. ESPÉCIES DE OBRIGAÇÕES 9.2.1 OBRIGAÇÕES DE DAR 9.2.2 OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER 9.2.3 OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS 9.2.4 OBRIGAÇÕES FACULTATIVAS 9.2.5 OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS 9.2.6 OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS 9.3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES 9.3.1 CESSÃO DE CRÉDITO 9.3.2 ASSUNÇÃO DE DÍVIDA 9.4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 9.4.1 PAGAMENTO 9.4.2 PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO 9.4.3 IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO 9.4.4 PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO 9.4.5 DAÇÃO EM PAGAMENTO 9.4.6 NOVAÇÃO 9.4.7 COMPENSAÇÃO 9.4.8 CONFUSÃO 9.4.9 REMISSÃO DAS DÍVIDAS 9.5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES 9.5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 9.5.2 MORA 9.5.3 PERDAS E DANOS 9.5.4 CLÁUSULA PENAL 9.5.5 ARRAS 10. CONTRATOS 10.1. DISPOSIÇÕES GERAIS 10.1.1 PRINCÍPIOS 10.1.2 CLASSIFICAÇÃO 10.1.3 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 4 10.1.4 ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO 10.1.5 PROMESSA DE FATO DE TERCEIRO 10.1.6 VÍCIOS REDIBITÓRIOS 10.1.7 EVICÇÃO 10.1.8 CONTRATOS ALEATÓRIOS 10.1.9 CONTRATO PRELIMINAR 10.1.10 CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR 10.2. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 10.3. CONTRATOS EM ESPÉCIE 10.3.1 COMPRA E VENDA 10.3.2 TROCA OU PERMUTA 10.3.3 CONTRATO ESTIMATÓRIO 10.3.4 DOAÇÃO 10.3.5 LOCAÇÃO DE COISAS 10.3.6 LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS 10.3.7 EMPRÉSTIMO 10.3.8 PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 10.3.9 EMPREITADA 10.3.10 DEPÓSITO 10.3.11 MANDATO 10.3.12 COMISSÃO 10.3.13 AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO 10.3.14 CORRETAGEM 10.3.15 TRANSPORTE 10.3.16 JOGO E APOSTA 10.3.17 FIANÇA 10.3.18 TRANSAÇÃO 11. ATOS UNILATERAIS 11.1. PROMESSA DE RECOMPENSA 11.2. GESTÃO DE NEGÓCIOS 12. RESPONSABILIDADE CIVIL 13. DIREITO REAIS 13.1. DISPOSIÇÕES GERAIS 13.2. POSSE 13.3. PROPRIEDADE 13.3.1 FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE 13.3.2 PERDA DA PROPRIEDADE OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 5 13.3.3 DIREITO DE VIZINHANÇA 13.3.4 CONDOMÍNIO 13.4. SUPERFÍCIE 13.5. SERVIDÃO 13.6. USUFRUTO 13.7. USO 13.8. HABITAÇÃO 13.9. DIREITOS REAIS DE GARANTIA 13.9.1 PENHOR 13.9.2 HIPOTECA 13.9.3 ANTICRESE 14. DIREITO DE FAMÍLIA 14.1. CASAMENTO 14.2. PROTEÇÃO DOS FILHOS 14.2.1 GUARDA 14.2.2 ALIENAÇÃO PARENTAL 14.2.3 RELAÇÕES DE PARENTESCO 14.2.4 FILIAÇÃO 14.2.5 PODER FAMILIAR 14.3. DIREITO PATRIMONIAL 14.3.1 REGIME DE BENS 14.3.2 ALIMENTOS 14.3.3 BEM DE FAMÍLIA 14.3.4 UNIÃO ESTÁVEL 14.4. UNIÃO ESTÁVEL 14.5. TUTELA E CURATELA 14.5.1 TUTELA 14.5.2 CURATELA 14.6. TOMADA DE DECISÃO APOIADA 15. DIREITO DAS SUCESSÕES 15.1. DISPOSIÇÕES GERAIS 15.2. HERANÇA 15.2.1 CARACTERÍSTICAS DA HERANÇA 15.2.2 CAPACIDADE SUCESSÓRIA 15.2.3 INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO 15.2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA 15.2.5 HERANÇA JACENTE E VACANTE OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 6 15.3. SUCESSÃO LEGÍTIMA 15.3.1 VOCAÇÃO HEREDITÁRIA 15.3.2 DIREITO DE REPRESENTAÇÃO 15.4. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA 15.4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 15.4.2 FORMAS DE TESTAMENTO 15.4.3 REVOGAÇÃO DO TESTAMENTO 15.4.4 ROMPIMENTO DO TESTAMENTO 15.4.5 CODICILO 15.5. INVENTÁRIO E PARTILHA 1 OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 7 1. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO 1.1. CONCEITO O Decreto-Lei n. 4.657/42, conhecido como Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB), é considerado uma “norma sobre normas”, já que trata, de forma geral, sobre os aspectos mais importantes a respeito das normas, como vigência, validade, eficácia, aplicação, interpretação, etc. A LINDB, portanto, não integra o Código Civil. Trata-se de lei autônoma que estabelece as bases do Direito Brasileiro, sendo aplicada a todos os ramos indistintamente (Direito Civil, Penal, Tributário, etc.), salvo quando houver legislação específica sobre o tema pertencente a determinado ramo. Vejamos abaixo os temas mais importantes tratados na LINDB. 1.2. VIGÊNCIA DA LEI Considera-se vigência o período de atuação da lei, ou seja, o intervalo compreendido entre o início e o seu término. Vigência, entretanto, não se confunde com vigor, que é considerado o atributo que confere à lei obrigatoriedade. Desse modo, é possível que uma lei esteja vigendo, mas ainda não se encontre em vigor, ou seja, apesar de ter nascido, a lei não possui obrigatoriedade. Para compreender essa diferença, existe outro conceito extremamente importante: a vacatio legis, considerada o período entre o início da vigência da lei e a sua entrada em vigor. A vacatio legis destina-se sobretudo a dar conhecimento da lei para a sociedade. Como regra geral, o art. 1º da LINDB estabelece que, salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo Brasil quarenta e cinco (45) dias depois de oficialmente publicada e nos Estados Estrangeiros após 3 (três) meses depois de publicada. Desse modo, se não houver nada especificado na própria lei, o prazo de vacatio legis será de: 45 dias no Brasil e 3 meses no estrangeiro. BRASIL ESTRANGEIRO VACATIO LEGIS: 45 DIAS VACATIO LEGIS: 3 MESES OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 8 A LC nº 98/95, que se refere ao processo legislativo, estabelece, em seu art. 8º, §1º, que “a contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.” TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV. É importante destacar, ainda, que, se for necessário corrigir a lei antes de sua entrada em vigor, a correção pode ser feita por simples republicação do texto, devendo o prazo da vacatio legis começar a correr da nova publicação. No entanto, se a lei já estiver vigorando, a correção somente poderá ser feita por meio de nova lei (§§s 3º e 4º do art. 1º da LINDB). 1.3. REVOGAÇÃO DA LEI Se a lei não tiver vigência temporária, ou seja, caso não seja estipulado prazo para sua vigência, a lei vigorará até que outra a modifique ou a revogue (art. 2º, caput, da LINDB). A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior (§ 1º do art. 2º da LINDB). A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação), devendo-se ressaltar que, salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Não há, portanto, repristinação automática no ordenamento jurídico brasileiro.REPRISTINAÇÃO: entende-se por repristinação o fenômeno pelo qual uma norma revogada volta a entrar em vigor após ocorrer a revogação da lei que a revogou. No Brasil, não há repristinação automática, ocorrendo apenas quando a lei expressamente determinar. Lei “B” revoga a lei “A”. Se uma Lei “C” revogar a lei “B”, a Lei “A” não volta a produzir efeitos, salvo se a lei “B” estipular expressamente que isso irá ocorrer. 1.4. CONHECIMENTO DA LEI O art. 3º da LINDB dispõe que ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Trata-se de aplicação do princípio da obrigatoriedade da lei, de modo que ninguém poderá se beneficiar alegando que desconhecia o teor da lei. 1.5. INTEGRAÇÃO DA LEI O art. 4º da LINDB estabelece que quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 9 a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Assim, havendo lacuna, o juiz poderá se valer de fontes integradoras do direito, que irão auxiliá- lo a decidir o caso concreto. • Analogia: representa a aplicação da lei referente a um caso semelhante para suprir a ausência de lei sobre determinada matéria. A analogia pode ser legis (aplicação de uma norma existente) ou juris (aplicação de um conjunto de normas). • Costumes: são normas de conduta aceitas pela sociedade, mas não positivadas. • Princípios Gerais do Direito: são disposições genéricas que orientam a elaboração das leis, suprem lacunas e exercem importante função de interpretação das normas. A equidade representa o uso do bom senso e do equilíbrio, ou seja, da adaptação razoável da lei a um caso concreto, devendo o juiz, na aplicação da lei, atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum (art. 5º da LINDB). A equidade não representa um método de integração da lei e sim de sua aplicação, devendo ser utilizada quando expressamente determinado (art. 140, parágrafo único, do CPC/2015). 1.6. APLICAÇÃO DA LEI Conforme disposto no art. 6º da LINDB, a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. • Ato jurídico perfeito: é o ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. • Direito Adquirido: considera-se adquirido o direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como também aquele cujo começo do exercício tenha termo pré- fixado, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. • Coisa Julgada: representa a decisão judicial de que já não caiba recurso. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 10 2 2. PESSOAS NATURAIS 2.1. PERSONALIDADE JURÍDICA Entende-se por personalidade jurídica a aptidão genérica para ser titular de direitos e obrigações no campo civil. Conforme previsto no art. 2º do CC, a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Entre os direitos que o nascituro possui, podemos destacar o direito à vida (inclusive proteção contra o aborto), o direito de receber doação (art. 542 do CC) e herança (art. 1.799 do CC), bem como o direito de lhe ser nomeado curador de seus interesses. 2.2. DIREITOS DA PERSONALIDADE Direitos da Personalidade são os direitos subjetivos extrapatrimoniais que toda pessoa tem para proteger a sua própria integridade física, moral e intelectual. Os direitos da personalidade são também considerados direitos fundamentais, pois têm por base a dignidade da pessoa humana. o art. 52 do CC estabelece que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. As principais características dos direitos da personalidade são: • Absolutos: geram um dever geral de abstenção (oponíveis erga omnes), inclusive contra o próprio titular do direito (ex.: proibição da eutanásia) • Vitalícios: acompanham o seu titular até a morte (termo final); • Ilimitados: não há um rol exaustivo; • Imprescritíveis: não são extintos ou prejudicados pelo decurso do tempo. Também são imprescritíveis as pretensões de proteção dos direitos da personalidade (ex.: ação judicial para recolhimento de biografia não autorizada). Contudo, a prescrição incidirá com relação à pretensão de reparação dos danos morais, pois o direito à indenização por danos morais tem natureza patrimonial. • Intransmissíveis: não podem ser transmitidos em vida (contrato) nem após a morte (sucessão). • Irrenunciáveis: o titular dos direitos da personalidade não pode deles renunciar; Abaixo estudaremos alguns direitos da personalidade em espécie: OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 11 DIREITO AO TRATAMENTO MÉDICO E À RECUSA Art. 15 do CC: Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. O paciente tem direito ao tratamento médico e de recusar o tratamento quando houver risco de vida. Entretanto, se a ausência do tratamento representar risco de vida, o entendimento jurisprudencial é no sentido de que o médico tem o dever legal de agir. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS INTER VIVOS: permite-se a doação em vida de órgãos desde que estes estejam em duplicidade e a doação não cause mutilação ou deformação na pessoa doadora. O doador poderá indicar o beneficiário. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS APÓS A MORTE: toda pessoa pode dispor de seu corpo morto, permitindo-se a retratação a qualquer tempo. Na doação após a morte não é possível a indicação do beneficiário da doação. Para fins de transplante, o óbito deve ser atestado por dois médicos que não façam parte da equipe de remoção. Art. 14 do CC: É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV. Art. 4º da Lei n. 9.434/97: A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da morte. Art. 2° da Lei n. 8.801/92: O cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de trinta dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino e de pesquisa de caráter científico. DIREITO AO NOME Art. 16 do CC: Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Art. 17 do CC: O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18 do CC: Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Art. 19 do CC: O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 12 O nome é um direito e também uma obrigação, já que permite a segurança das relações jurídicas. É possível a cessão de uso do nome para fins comerciais ou publicitários, desde que haja autorização nesse sentido. O nome é composto pelos seguintes elementos: PRENOME Significa o primeiro nome da pessoa, podendo ser simples (Maria, Fábio, etc.) ou composto (Carlos Eduardo, Ana Cristina, etc.). Pode ser livremente escolhido pelos pais, mas a Lei n. 6.015 /73 (Lei dos Registros Públicos – LRP) estabelece que os oficiais do registro civil podem recusar o registro de nomes suscetíveis de expor o seu titular ao ridículo. SOBRENOME (PATRONÍMICO OU COGNOME) Representa o sinal que identifica a origem da pessoa, indicando a sua filiação, sendo recomendável que seja formado pelo sobrenome da mão e do pai. AGNOME O Agnome é a expressão que diferencia pessoas da mesma família com o mesmo prenome e sobrenome (filho, neto, júnior, etc). Destaca-se ainda que o pseudônimorepresenta o nome fictício utilizado para o exercício de determinada atividade profissional (ex.: Silvio Santos, Xuxa, etc.). O art. 19 do CC confere a mesma proteção do nome ao pseudônimo, desde que utilizado para atividades lícitas, ou seja, o seu uso em propaganda comercial depende de autorização, além do que a sua utilização indevida poderá gerar sanções, inclusive perdas e danos TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV. DIREITO À IMAGEM De acordo com o art. 20 do CC, salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes (art. 20, parágrafo único, do CC). 2.3. TÉRMINO DA PERSONALIDADE (MORTE) O término da personalidade civil ocorre com a morte, que pode ser real ou presumida. • Morte real: é aquela comprovada por atestado médico de óbito. Somente há morte real quando o corpo for localizado (prova direta da morte). O marco legal da morte é a paralisação a atividade encefálica (art. 3º da Lei n. 9.434/97) • Morte presumida: ocorre quando o corpo não é localizado, podendo ser com decretação de ausência ou sem decretação de ausência. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 13 • Morte presumida sem decretação de ausência: é a hipótese em que há uma enorme probabilidade da ocorrência da morte e não é necessário seguir o procedimento de ausência. Conforme art. 7º do CC, ocorre em duas situações: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida (catástrofe) TEMA COBRADO NOS EXAMES VI E XX DA OAB/FGV. Acidente aéreo ou naufrágio de navio em que as vítimas não são encontradas II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Importante destacar que, nesses casos (incisos I e II), a declaração da morte presumida, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. • Morte presumida com decretação de ausência: há probabilidade da morte, mas não uma “enorme” probabilidade. É utilizada quando uma pessoa desparece de seu domicílio sem deixar ou enviar notícias, devendo ser seguido o procedimento de ausência: PROCEDIMENTO DE AUSÊNCIA PRIMEIRA FASE: CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE: nessa fase, o juiz nomeará um curador para administrar provisoriamente os bens do ausente. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador. Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo. Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos. Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador. Ainda que o ausente não deixe bens, é possível realizar o procedimento de ausência, para declarar a morte presumida, favorecendo, por exemplo, o cônjuge que não queira simplesmente divorciar-se do ausente, mas ser reconhecido como viúvo. Decorrido 1 (um) ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando 3 (três) anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 14 SEGUNDA FASE: SUCESSÃO PROVISÓRIA: nessa fase, cessa a curatela e é realizada a partilha dos bens do ausente entre os herdeiros. Se o ausente deixou testamento, deverá ser realizada a sua abertura e cumprimento. Os herdeiros recebem apenas a posse provisória dos bens da herança e, para tanto, devem prestar caução (hipoteca ou penhor). Estão dispensados da caução os ascendentes, descendentes e cônjuges. Esta fase tem duração de 10 anos. TERCEIRA FASE SUCESSÃO DEFINITIVA: Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas. Se o ausente regressar no prazo de 10 anos da abertura da sucessão definitiva, terá direito aos bens no estado em que se encontrarem, aos sub-rogados em seu lugar ou ao produto obtido com a venda destes. Somente após esse prazo de 10 anos que a sucessão é considerada inabalável. O procedimento de decretação de ausência pode ser simplificado, indo direto para a sucessão definitiva, quando o ausente tiver pelo menos 80 anos de idade e estiver desaparecido há pelo menos 5 anos (art. 38 do CC) TEMA COBRADO NOS EXAMES XIV E XXIX DA OAB/FGV. Outro tema importante diz respeito à morte simultânea, denominada de comoriência. Quando duas ou mais pessoas falecerem na mesma ocasião (aspecto temporal, e não local), sem que se possa determinar qual faleceu primeiro, deverá ser presumida a morte simultânea (comoriência). A importância do tema é restrita ao Direito Sucessório, pois não há sucessão entre os comorientes. 2.4. CAPACIDADE A capacidade é considerada a “medida da personalidade”, ou seja, a capacidade serve para mensurar a personalidade, sendo classificada em capacidade de direito e de fato. CAPACIDADE DE DIREITO CAPACIDADE DE FATO A capacidade de direito é a capacidade genérica, para adquirir direitos e contrair deveres. Toda pessoa tem. A capacidade de fato é a aptidão para exercer pessoalmente (sem interferência de terceiro) atos na vida civil. Nem toda pessoa tem capacidade de fato. Conforme mencionada acima, nem todas as pessoas possuem capacidade de fato, já que algumas pessoas precisarão da interferência de terceiros para que os atos sejam exercidos. Essa interferência poderá ser feita pelos institutos da representação ou assistência, dependendo se a incapacidade for absoluta ou relativa. É importante registrar que o sistema da incapacidade do código civil foi sensivelmente alterado pela Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Com as alterações, a pessoa com deficiência não é considerada absolutamente incapaz, podendo ser considerada OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 15 relativamente incapaz apenas se, como qualquer pessoa, por causa transitória ou permanente, não puder exprimir sua vontade. Desse modo, a pessoa com deficiência nunca será considerada absolutamente incapaz. Vejamos agora quem são considerados absoluta e relativamente incapazes pelo código civil: Incapacidade Absoluta (art. 3º do CC): com a alteração promovida pela Lei nº 13.146/2015, a única hipótese de incapacidade absoluta é o caso dos menores de 16 anos. Para o absolutamente incapaz será nomeado um representante, que atuará sozinho nos interesses do incapaz. Incapacidade Relativa (art. 4º, do C. Civil): são relativamente incapazes a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos (são aqueles que possuem desvio de comportamento e gastam imoderadamente o seu patrimônio). Com as alterações promovidas pela Lei n. 13.146/2015, a pessoa com deficiência é considerada absolutamente capaz, podendo, como qualquer outra pessoa, ser considerada relativamente incapaz se, por causa transitória ou permanente, não puder exprimir sua vontade. Art. 6º da Lei n. 13.146/2015 - A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituirunião estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Enquanto que para o absolutamente incapaz será nomeado um representante, que atuará sozinho nos interesses do representado, para o relativamente incapaz, será nomeado um assistente, que atuará em conjunto com a vontade do assistido. Outra diferença importante entre relativamente e absolutamente incapaz diz respeito à validade do ato praticado sem a assistência ou representação, já que o negócio jurídico praticado pelo relativamente incapaz sem a participação do assistente é anulável (art. 171, I, do CC), enquanto que o negócio jurídico praticado pelo absolutamente incapaz sem o representante é nulo (art. 166, I, do CC) TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 16 Embora a regra geral seja que os atos praticados pelo relativamente incapaz sem assistência sejam anuláveis, há algumas situações que, mesmo quando praticados sozinhos, os atos serão válidos, como prestar depoimento como testemunha (art. 228, I, do CC), figurar como mandatário (art. 666 do CC) e fazer testamento (art. 1.860 do CC). REPRESENTAÇÃO ASSISTÊNCIA Absolutamente incapaz Relativamente incapaz Representante atua sozinho no interesse do absolutamente incapaz Assistente atua em conjunto com o relativamente incapaz Atos praticados sem o representante são nulos Atos praticados sem o assistente são anuláveis Além da representação e da assistência, a Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) acrescentou o art. 1.783-A ao CC prevendo a “tomada de decisão apoiada”, em que se permite à pessoa com deficiência nomear 2 (duas) pessoas de confiança para ajudá-lo no exercício de sua capacidade, por meio de pedido judicial. Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar (§ 1º do art. 1.783-A ao CC). Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão (§ 6º do art. 1.783-A ao CC). CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE Ocorre a cessação da incapacidade quando o motivo pelo qual a pessoa era considerada incapaz desaparece, como maioridade, cura de uma doença mental, etc. A cessação da incapacidade não se confunde com a emancipação, que é a antecipação da capacidade civil a uma pessoa com menos de 18 anos de idade. A emancipação possui efeitos civis, principalmente no que diz respeito aos atos e negócios jurídicos. Entretanto, as normas proibitivas referentes à idade continuam sendo aplicáveis ao emancipado até que ele atinja a maioridade. Assim, o emancipado continua sob a proteção do ECA, não poderá obter Carteira de Habilitação, trabalhar em local perigoso, insalubre, horário noturno, etc. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 17 A emancipação pode ser voluntária, judicial ou legal: EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA: é ato extrajudicial realizada por ambos os pais, em favor do filho menor com pelo menos 16 anos de idade, mediante escritura pública (cartório de notas), a qual deve ser posteriormente levada a registro (cartório de registro de pessoas naturais) Se houver divergência entre os pais, o menor poderá solicitar ao juiz que supra a vontade de um deles. Se ambos os pais recusarem, o menor não poderá solicitar ao juiz o suprimento. A emancipação voluntária não admite qualquer encargo ou termo (incondicional) e não poderá ser revogada pelos pais. TEMA COBRADO NO XXXI EXAME OAB/FGV. • Não confundir o suprimento da vontade na emancipação e no casamento, já que, para casar, o menor pode pedir suprimento judicial mesmo em caso de recusa de ambos os pais. Essa diferença se justifica porque a emancipação é uma concessão dos pais (direito potestativo dos pais), enquanto que o casamento é direito do filho. • Apenas na hipótese de emancipação voluntária, o STJ tem decidido que os pais continuam responsáveis civilmente pelos danos causados pelo filho emancipado, enquanto durar a menoridade. EMANCIPAÇÃO JUDICIAL: é aquela deferida pelo juiz ao menor tutelado com pelo menos 16 anos de idade, ouvido o tutor TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB/FGV). A sentença deve ser levada a registro. Pode ser requerida pelo menor ou pelo tutor. Os casos de tutela são aqueles enumerados no art. 1.728 do CC (morte ou ausência dos pais e perda do poder familiar). EMANCIPAÇÃO LEGAL: é aquela que ocorre de forma automática quando presente uma das hipóteses do art. 5º, inciso. II a V, do CC. Não depende de escritura pública, sentença ou registro. Hipóteses: • CASAMENTO (válido): a idade mínima para casar é 16 anos. Abaixo nessa idade não é possível casar. TEMA COBRADO NOS EXAMES X E XXXX DA OAB/FGV • Exercício de emprego público efetivo: não se exige idade mínima. Não basta a aprovação em concurso púbico nem a posse. É necessário o efetivo exercício; • Colação de grau em curso superior: não se exige idade mínima. Não basta a aprovação em vestibular e nem o fato de estar cursando a faculdade, devendo haver colação de grau • Estabelecimento civil (atividade empresária) ou comercial (atividade empresária) ou relação de emprego, desde que, o menor com 16 anos completos tenha economia própria: além de trabalhar o menor deve ter: (1) idade mínima de 16 anos completos; (2) economia própria (ser capaz de manter-se com sua própria renda): OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 18 3 3. PESSOAS JURÍDICAS Pessoa jurídica é o ente formado por bens ou pessoas (de forma individual ou coletiva), dotado de personalidade jurídica própria para o exercício dos fins estabelecidos em seus atos de constituição. As pessoas jurídicas são classificadas, conforme art. 40 do CC, em pessoas jurídicas de direito público, interno ou externo, e de direito privado. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO DIREITO PÚBLICO INTERNO: I - União; II - Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III - Municípios; V - Autarquias, inclusive as associações públicas; V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. DIREITO PÚBLICO EXTERNO: Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos. VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. ATENÇÃO: importante lembrar que as empresas públicas e as sociedades de economia mista, embora integrem a administração pública indireta, são pessoas jurídicas de direito privado. 3.1. ASSOCIAÇÕES As associações são pessoas jurídicas de direito privado formadas por uma coletividade de pessoas para desenvolver atividades não lucrativas. O fato de a associação não ter finalidade lucrativa não significa que ela não possa cobrar pelos serviços prestados ou produtos fornecidos. O que é proibido não é a cobrança de valores e sim a retirada de lucro da associação para beneficiar seus associados ou diretores. Desse modo, todo o valor auferido pela associação deve ser revertido para a própria associação. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 19 A criação da associação é estabelecida em estatuto, escrito em documentopúblico ou particular, que deverá ser levado a registrado e conter obrigatoriamente (art. 54 do CC) : I - a denominação, os fins e a sede da associação; II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; III - os direitos e deveres dos associados; IV - as fontes de recursos para sua manutenção; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução e VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. Sobre os associados, as principais características são: • Diferentemente das sociedades, entre os associados não há obrigações. As obrigações são diante da associação; • Os associados devem ter direitos iguais, mas o estatuto poderá estabelecer categorias com vantagens especiais (art. 55 do CC); • A qualidade de associado é, em regra, intransmissível. No entanto, o estatuto pode estabelecer o inverso. Além disso, o associado pode ser titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, mas a transferência da quota ou fração, por si só, não transfere a qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto (art. 56 do CC); • A exclusão do associado somente é possível se houver justa causa e mediante prévio procedimento administrativo em que seja garantido o direito ao contraditório e à ampla defesa (art. 57 do CC). Se o associado for excluído sem prévio procedimento, é possível a reintegração mediante processo judicial. Apenas a assembleia geral poderá destituir os administradores e alterar o estatuto. Para tanto, é exigido que a assembleia seja convocada para esse fim, devendo o quórum de votação ser estabelecido no estatuto. Os demais temas podem ser tratados pelos demais órgãos deliberativos, que podem ser convocados pela vontade de 1/5 (um quinto) dos associados. Se houver extinção da associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais dos associados, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes (art. 61, caput e § 1º, do CC). Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas acima, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União (art. 61, § 2º, do CC). 3.2. FUNDAÇÕES As fundações, assim como as associações, não podem ter finalidade lucrativa e são criadas por ato de um instituidor, por escritura pública (em vida) ou testamento (após a morte), onde será especificada a dotação de bens livres para o desempenho de uma das atividades listadas no parágrafo único do art. 62 do CC: I– assistência social, II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – educação; IV – saúde, V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 20 VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos e IX – atividades religiosas. A redação original do art. 62 do CC previa que a fundação somente poderia ser constituída para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. No entanto, a Lei nº 13.151/2015, seguindo o pensamento doutrinário majoritário, alterou substancialmente a redação do referido artigo, ampliando o rol das atividades que poderão ser desenvolvidas pelas fundações, conforme acima listado. Se os bens indicados pelo instituidor forem insuficientes para constituir a fundação, eles serão destinados, se de outro modo não dispuser o instituidor, para serem incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante (art. 63 do CC). TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV. Conforme mencionado anteriormente, a fundação pode ser instituída em vida, mediante escritura pública, ou após a morte, mediante testamento (o testamento não precisa ser público). No entanto, o ato de intuição não se confunde com o estatuto da fundação, que pode ser celebrado em momento posterior. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em 180 (cento e oitenta) dias, a incumbência caberá ao Ministério Público (art. 65 do CC). A respeito do estatuto, o art. 67 do CC estabelece que a sua alteração depende da observância dos seguintes requisitos: I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; II - não contrarie ou desvirtue o fim desta; III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. O Ministério Público, aliás, é o responsável pela fiscalização das fundações, cabendo, como regra geral, ao Ministério Público dos Estados essa incumbência. Se as fundações estenderem a atividade por mais de um Estado, a fiscalização será feita, em cada um deles, pelo respectivo Ministério Público Estadual. Entretanto, se a fundação funcionar no Distrito Federal, ou em Território, a fiscalização caberá ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (art. 66 do CC). O Ministério Público participa ativamente da existência e do funcionamento das fundações. Atua desde a constituição da fundação, aprova os estatutos e suas alterações, podendo ainda requerer a intervenção ou até mesmo a sua dissolução. Por fim, tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 21 no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante (art. 69 do CC). 3.3. SOCIEDADES Sobre as sociedades, remetemos o leitor ao livro de direito empresarial, onde o tema foi detalhadamente exposto. 3.4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA A desconsideração da personalidade jurídica é medida excepcional e de caráter processual, em que o juiz determina a inclusão dos sócios ou administradores no polo passivo da demanda para que respondam com seu patrimônio particular pelas dívidas da Pessoa Jurídica, possuindo previsão expressa no art. 50 do CC, recentemente alterado pela Lei nº 13.874/19 Art. 50 do CC. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. § 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. § 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensãodas obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. § 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. No direito civil, portanto, a desconsideração da personalidade jurídica da empresa exige a ocorrência de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial. Em outras palavras, para que a desconsideração da personalidade jurídica seja admitida é necessário demonstrar a ocorrência da prática de ato irregular envolvendo sócio ou administrador. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 22 Importante destacar que o §3º do art. 50 do CC, ao dispor que o disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica, passou a prever expressamente a desconsideração inversa da personalidade jurídica, ou seja, a possibilidade de responsabilização da sociedade pelas dívidas ou aos atos ilícitos praticados pelos sócios. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA: o Superior Tribunal de Justiça já admitia a desconsideração inversa da personalidade jurídica, ou seja, a possibilidade de se determinar a inclusão da Pessoa Jurídica no polo passivo da demanda movida em face de sócio ou administrador que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV O código de processo civil de 2015 disciplinou o procedimento a ser adotado no caso de desconsideração da personalidade jurídica, tratando-o como uma modalidade de intervenção de terceiro, já que, com a desconsideração, o sócio, que até então era considerado terceiro no processo, passará a integrar a lide. Conforme previsto no art. 133 do CPC/2015, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, sendo, portanto, vedada a desconsideração ex officio. No direito civil a desconsideração da personalidade jurídica não pode ser determinada de ofício pelo juiz. O incidente é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial. Entretanto, não haverá necessidade de instauração do incidente se a desconsideração for requerida na inicial, pois, neste caso, o processo já nasce contra as pessoas demandadas (art. 134 do CPC/2015). A instauração do incidente suspenderá o processo e o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória (arts. 135 e 136 do CPC/2015). TEORIA MENOR X TEORIA MAIOR: No direito civil, para que haja a desconsideração da personalidade jurídica deve restar caracterizada a gestão fraudulenta, pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial (art. 50 do CC), enquanto que no direito do consumidor a desconsideração da personalidade jurídica é mais simples, podendo inclusive ocorrer quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos aos consumidores (art. 28 do CDC). Desse modo, como a desconsideração da personalidade jurídica no direito civil exige mais requisitos do que no direito do consumidor, costuma-se dizer que o código civil adotou a teoria maior (mais requisitos), enquanto o código do consumidor adotou a teoria menor para desconsideração da personalidade jurídica. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 23 4 4. DOMICÍLIO A principal importância do conceito de domicilio no direito civil é estabelecer o lugar de exercício dos direitos e cumprimento das obrigações. 4.1. DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA O art. 75, I a III, do CC trata, incialmente, do domicílio dos entes políticos, estabelecendo que o domicílio da União é o Distrito Federal, o domicílio dos Estados e Territórios é as respectivas capitais e o domicilio do Município o lugar onde funcione a administração municipal. ENTE DOMICÍLIO União Distrito Federal Estados e territórios Respectiva capital Município Lugar da administração municipal Já em relação às demais pessoas jurídicas, o domicílio é lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, permitindo-se ainda a eleição de domicílio especial no seu estatuto ou ato constitutivo (art. 75, IV, do CC). Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados (§ 1º do art. 75 do CC). Além disso, se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder (§ 2º do art. 75 do CC). 4.2. DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL O art. 70 do CC estabelece que o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Existem, portanto, dois elementos que integram o conceito de domicílio: a) residência (local de moradia) e b) ânimo definitivo TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 24 ELEMENTO SUBJETIVO: INTENÇÃO DE FICAR POR PRAZO INDETERMINADO DOMICÍLIO DA PESSOA NATURAL ELEMENTO OBJETIVO: LUGAR DE RESIDÊNCIA ALTERAÇÃO DE DOMICÍLIO: Como o conceito de domicilio exige a intenção de permanecer na residência por tempo indeterminado, se a pessoa natural mudar de residência com ânimo definitivo, o domicílio também será alterado (art. 74 do CC). Se João muda do Rio de Janeiro para São Paulo porque pretende arrumar um novo emprego e constituir família, haverá a mudança de domicílio, uma vez que há intenção de ficar definitivamente em São Paulo. Por outro lado, se a mudança tivesse ocorrido apenas para fazer um curso ou uma faculdade, não haveria alteração de domicílio, já que a mudança de residência terá caráter temporário. VÁRIAS RESIDÊNCIAS COM ÂNIMO DEFINITIVO: Por outro lado, se a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á o seu domicílio qualquer delas (art. 71 do CC). PESSOA NATURAL SEM RESIDÊNCIA HABITUAL: Já a pessoa natural que não tiver residência habitual, o código civil estabelece que o seu domicílio será o local onde ela for encontrada (art. 73 do CC). DOMICÍLIO DE ELEIÇÃO O código civil permite, nos contratos escritos, a eleição de domicílio, ou seja, os contratantes poderão eleger um determinado local para que se exercitem e cumpram os direitos e obrigações derivados do contrato (art. 78 do CC). DOMICÍLIO PROFISSIONAL No que diz respeito às relações profissionais, o domicílio pode ser tanto o local da residência definitiva, quando aquele onde a profissão é exercida. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem (art. 72 do CC). OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 25 DOMICÍLIO NECESSÁRIO Para algumas pessoas em situação especial as regras acima não são aplicadas, tendo o código civil estabelecido o denominado “domicílio necessário”, que independe da vontade dessas pessoas. De acordo com o art. 76 do CC, têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso, conforme quadro abaixo. PESSOA DOMICÍLIO NECESSÁRIO INCAPAZ Domicílio do seu representante ou assistente SERVIDOR PÚBLICO Lugar em que exercer permanentemente suas funções MILITAR Lugar onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado PRESOLugar em que cumprir a sentença OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 26 5 5. BENS Bens são valores materiais e imateriais que podem ser objeto de uma relação jurídica, tendo, portanto, valor econômico. Abaixo trazemos a classificação de bens adotada pelo código civil. 5.1. BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS • BENS IMÓVEIS Como regra geral, são considerados bens imóveis aqueles que não puderem ser transportados de um lugar para outro sem sofrerem modificação ou danificação. De acordo com o art. 79 do CC, são bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural (acessão natural: plantas, fontes, etc.) ou artificialmente (acessão artificial: construções, plantações, etc.). O art. 81 do CC estabelece ainda que não perdem o caráter de imóveis: I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local; II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. Além disso, o art. 80 do CC estabelece que são considerados imóveis por expressa determinação legal: I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram e II - o direito à sucessão aberta. • BENS MÓVEIS O art. 82 do CC define bens móveis como aqueles suscetíveis de movimento próprio (semoventes, por exemplo), ou de remoção por força alheia (carros, por exemplo), sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Já o art. 83 do CC estabelece que são considerados bens móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor econômico; II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. O art. 84 do CC, por sua vez, dispõe que os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 27 • BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS Bens fungíveis são os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 85 do CC), como no caso de uma caneta comum, dinheiro, etc. Em sentido contrários, são considerados bens infungíveis aqueles que que não podem ser substituídos por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade. A infungibilidade pode ocorrer em razão da própria natureza da coisa (ex: taça de campeão de futebol) ou da vontade das partes, que convencionam que determinado bem não pode ser substituído. • BENS CONSUMÍVEIS E INCONSUMÍVEIS São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância (bebida, cigarro, etc), sendo também considerados tais os destinados à alienação, ou seja, colocados à venda (art. 86 do CC). Os bens inconsumíveis, por sua vez, são aqueles que permitem o uso reiterado, sem que haja destruição imediata da sua substância, como no caso de um livro ou automóvel. • BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS São bens divisíveis os que podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam (art. 87 do CC). Já os bens indivisíveis são aqueles que não podem ser divididos sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam (são exemplos de bens indivisíveis os semoventes, automóveis, joias, etc). Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes (art. 88 do CC) • BENS SINGULARES E COLETIVOS São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais (art. 89 do CC), como no caso de um livro ou de um boi. Os bens coletivos, por sua vez, são aqueles constituídos por dois ou mais bens singulares que se encontram agregados num todo, podendo constituir uma universalidade de fato ou de direito. • Universalidade de fato: constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária (art. 91 do CC). Em outras palavras, São bens que pertencem a uma pessoa e que, por sua vontade, são reunidos para uma destinação única. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 28 Determinada pessoa reúne os seus livros, forma uma biblioteca, e aceita apenas negociá-la de forma integral. A reunião dos bens singulares (livros), portanto, ocorre em razão da vontade do titular desses bens. • Universalidade de Direito: constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico (art. 91 do CC). Em outras palavras, são bens que pertencem à mesma pessoa, mas reunidos e tratados de forma coletiva em razão de determinação legal, como no caso da massa falida e do espólio. 5.2. BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS Quando se fala em bens reciprocamente considerados significa dizer que eles serão analisados uns em face dos outros. Nesse aspecto, os bens poderão ser principais e acessórios. Bem principal é aquele que existe sobre si, abstrata ou concretamente, enquanto o bem acessório é aquele cuja existência supõe a do principal (art. 92 do CC). São considerados bens acessórios os seguintes: • Frutos: é a produção normal e periódica de determinado bem, como os frutos de uma árvore ou a cria dos animais (frutos naturais), mercadorias de uma fábrica (frutos industriais), ou ainda os alugueis de um imóvel (frutos civis). • Produtos: são as utilidades retiradas de determinado bem, mas que acarretam sua diminuição, como no caso dos minerais retirados de uma mina. O art. 95 do CC estabelece que, apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico. • Benfeitorias: são as obras efetuadas em determinado bem, para conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo. São classificadas em necessárias, úteis e voluptuárias. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 29 NECESSÁRIAS ÚTEIS VOLUPTUÁRIAS Têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore (conserto do telhado). TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV Possuidor de boa-fé: tem direito a receber indenização e retenção do bem até o seu pagamento (art. 1.219 do CC). Possuidor de má-fé: tem direito apenas a indenização, mas não pode reter o bem (art. 1.220 do CC). As que aumentam ou facilitam o uso do bem (aumento da garagem). Possuidor de boa-fé: se autorizada, tem direito a receber indenização e retenção do bem até o seu pagamento (art. 1.219 do CC) Possuidor de má-fé: não tem direito a indenização nem a retenção (art. 1.220 do CC). As de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor (construção de uma sauna ou piscina). Possuidor de boa-fé: caso não seja paga, pode levar a benfeitoria (levantar o bem), se não houver deterioração da coisa (art. 1.219 do CC). Possuidor de má-fé: não tem direito a indenização nem a retenção (art. 1.220 do CC). • Acessões: é a junção de uma coisa a outra por força externa, como no caso da formação de uma ilha (acessão natural), ou da construção de um prédio em um terreno (acessão Artificial). • Pertenças: são pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro, como no caso dos aparelhos de ar-condicionado ou quadros de uma residência. A principal regra referente aos bens reciprocamente considerados é que o “acessório segue o principal”, também conhecida como “princípio da gravitação jurídica”, cujas principais consequências são: • A natureza do bem acessório será a mesma do bem principal. • O proprietário do bem principal também será o proprietário do bem acessório. • O bem acessório segue o bem principal, ou seja, caso o bem principal seja vendido, o acessório também será. A principal exceção ao princípio da gravitação jurídica são aspertenças que, de acordo com o art. 94 do CC, não seguem o bem principal, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. Se “A” vender sua residência para “B”, os aparelhos de ar-condicionado do imóvel poderão ser retirados por “A”, uma vez que são pertenças e não seguem o principal. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 30 5.3. BENS SEGUNDO O DOMÍNIO Os bens de acordo com o domínio podem ser públicos ou particulares. De acordo com o art. 98 do CC, são públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, enquanto que os bens particulares, por exclusão, são todos aqueles que não são públicos. Há discussão sobre a natureza dos bens de empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos, mas a OAB já se posicionou no sentido de que esses bens teriam natureza privada. Com relação às exploradoras de atividade econômica, não há divergência, os bens serão considerados privados. O art. 99 do CC classifica os bens públicos em: I – bens de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II - bens de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; III – bens dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Sobre as principais características de cada uma das espécies de bens públicos, o tema foi tratado de forma minuciosa do livro de direito administrativo. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 31 6 6. NEGÓCIO JURÍDICO 6.1. DISPOSIÇÕES GERAIS Considera-se fato jurídico todos os acontecimentos que possuem consequências jurídicas. Esses fatos podem decorrer da natureza (fatos jurídicos naturais, ou fatos jurídicos em sentido estrito, como morte, nascimento etc.) ou da conduta humana (atos jurídicos em sentido amplo). ATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO FATOS JURÍDICOS FATOS JURÍDICOS NATURAIS (EM SENTIDO ESTRITO) Os atos jurídicos em sentido amplo, por sua vez, podem ou não possuir intenção negocial. Se o ato jurídico não tiver intenção negocial é considerado um ato jurídico em sentido estrito ou não negocial (exemplo: apropriação de um bem abandonado). Por outro lado, se o ato tiver intenção negocial é considerado um negócio jurídico. ATOS JURÍDICOS EM SENTIDO AMPLO (decorrem da conduta humana) NEGÓCIO JURÍDICO (com intenção negocial) FATOS JURÍDICOS FATOS JURÍDICOS NATURAIS (não decorrem da conduta humana) ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO (sem intenção negocial) OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 32 Desse modo, o negócio jurídico é espécie de ato jurídico em sentido amplo e sua principal característica é a existência da intenção negocial, ou seja, a vontade de produzir efeitos jurídicos. Esses efeitos podem ser caracterizados pelos atos de adquirir (comprar um carro, por exemplo), extinguir (vender um carro, por exemplo), modificar (alterar um contrato para prorrogar o prazo de pagamento, por exemplo) ou conservar direitos (multa por descumprimento de contrato, por exemplo). Segundo a doutrina, o negócio jurídico pode ser dividido em três planos, o que é conhecido também por escada ponteana, uma vez que baseada na doutrina de Pontes de Miranda: PLANO DA EXISTÊNCIA PLANO DA VALIDADE PLANO DA EFICÁCIA Compostos por 3 (três) elementos, sem os quais o negócio jurídico nem existe. Os elementos são: Agente (pessoa): apenas pessoa poderá declarar ou receber a vontade. Não é existente, portanto, uma doação para um animal de estimação. Vontade: Sem vontade, o negócio jurídico é inexistente. Assim, um negócio jurídico celebrado por uma pessoa coagida fisicamente não existe, porque ausente o elemento vontade. Objeto: o negócio jurídico deverá tratar de um objeto, sobre o qual recairá a obrigação. Além de existir, para que o negócio jurídico seja válido, são exigidos 4 (quatro requisitos): Agente capaz: o agente deve ter capacidade de fato. Vontade livre e consciente: se o negócio jurídico for celebrado com vício no consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão), ele será inválido. Objeto lícito, possível e determinado: Além do objeto ser lícito, deve ser possível fisicamente e juridicamente (não é possível vender o ar, por exemplo), bem como determinado. Forma prescrita ou não defesa em lei: como regra geral o negócio jurídico não tem forma determinada. No entanto, quando a lei determinar a forma, ela deve ser seguida, sob pena de invalidade. Os negócios jurídicos podem produzir efeitos imediatamente ou condicionados a termo, condição ou encargo. Termo: a eficácia do negócio jurídico depende de evento futuro e certo (exemplo: morte para o testamento produzir efeitos). Condição (art. 121 do CC): a eficácia do negócio jurídico depende de evento futuro e INCERTO (exemplo: pai doará um carro ao filho se ele passar na faculdade). TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV. Encargo: impõe um ônus ou uma obrigação ao contemplado pelo negócio jurídico. Considera- se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico Importante destacar que negócio jurídico celebrado com cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato, significando dizer que a ausência do referido instrumento é motivo de nulidade absoluta do negócio (art. 109 do CC). Além disso, de acordo com o art. 108 do CC, não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo no País. Sobre o plano de validade, o art. 166 do CC estabelece que será o nulo o negócio jurídico OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 33 quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; Se o negócio jurídico for celebrado por pessoa absolutamente incapaz, haverá nulidade absoluta. No entanto, tratando-se de pessoa relativamente incapaz, haverá nulidade relativa (anulabiliidade - art. 171 , I, do CC). Entretanto, se o menor entre 16 e 18 anos esconde maliciosamente a sua idade para celebrar o negócio, neste caso o negócio jurídico será válido, conforme art. 180 do CC). II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. No que diz respeito ao elemento da vontade do negócio jurídico, há algumas regras muito importantes para serem memorizadas para a prova da OAB/FGV: • A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento (art. 110 do CC). TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB/FGV • O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111 do CC). • Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112 do CC). • Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, caput, do CC). • A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; II - corresponder aos usos, costumes e práticas domercado relativas ao tipo de negócio; III - corresponder à boa-fé; IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração (art. 113, § 1º, do CC, acrescentado pela Lei nº 13.874/19). OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 34 • As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei (art. 113, § 2º, do CC, acrescentado pela Lei nº 13.874/19 ) • Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente (art. 114 do CC). 6.2. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Conforme estudado acima, há situações que prejudicam a livre manifestação de vontade nos negócios jurídicos, sendo denominadas de defeitos do negócio jurídico. Analisaremos agora cada um desses defeitos. 6.2.1. ERRO (OU IGNORÂNCIA) Erro significa falsa percepção da realidade, enquanto que ignorância é o completo desconhecimento da realidade. A diferença, entretanto, é apenas conceitual, já que o legislador não fez qualquer distinção entre ambas as figuras. A principal consequência da ocorrência do erro é a anulabilidade do negócio jurídico, o que pode ser pretendido por meio de ação anulatória, com prazo decadencial de 4 anos a contar da celebração do negócio. Para que o negócio jurídico seja anulável, o art. 138 do CC determina que as declarações de vontade devem emanar de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Entende-se por erro substancial aquele que recai sobre aspecto determinante do negócio e, de acordo art. 139 do CC, ocorre quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. O inciso III do art. 139 do CC permite a alegação de erro de direito para anular o negócio jurídico (entre as partes), o que não se confunde com art. 3º da LINDB que proíbe a alegação de erro de direito, para afastar a aplicação da lei (interesse público). Assim, imaginemos a hipótese de uma fábrica importar do Paraguai farinha para produzir seus produtos, desconhecendo que aquela farinha possui substâncias proibidas pela ANVISA. Nesse caso, o negócio jurídico entre as empresas do Brasil e do Paraguai poderá ser anulado (interesse das partes), mas a fábrica brasileira não poderá alegar o desconhecimento da lei para não ser punida administrativamente pela ANVISA (interesse público). OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 35 Muito importante registar que o erro não irá prejudicar a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante (art. 144 do CC). TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV 6.2.2. DOLO Dolo significa o induzimento malicioso de uma pessoa a erro. Assim, enquanto no erro o engano ocorre sem interferência de terceiros, no dolo alguém maliciosamente induz outra pessoa a erro. A principal consequência da ocorrência do dolo, assim como do erro, é a anulabilidade do negócio jurídico, o que pode ser pretendido por meio de ação anulatória, com prazo decadencial de 4 anos a contar da celebração do negócio. Para ser considerado defeito do negócio jurídico e passível de anulação, o dolo deve ser do tipo dolus malus (com a intenção de prejudicar). Tratando-se de dolus bonus (intenção de ajudar ou lábia comum dos comerciantes), o negócio não será anulado. Além disso, o dolo deve ser essencial, ou seja, deve recair sobre aspecto determinante do negócio, sem o qual o negócio não seria celebrado. Se o dolo for acidental, ou seja, recair sobre aspecto secundário, o negócio jurídico não será anulado, mas o prejudicado poderá pleitear perdas e danos. 6.2.3. COAÇÃO Coação significa pressão ou ameaça exercida sobre a pessoa para que realize um determinado negócio jurídico. Para que esteja caracterizada a coação, a ameaça deve ser séria, iminente e causar fundado temor de danos à própria pessoa, um familiar, ou ao patrimônio do coagido TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do coagido, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação (art. 151 do CC). Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial (art. 153 do CC). Caso um terceiro realize a coação, há duas possibilidades: a) Se o beneficiado tinha ou devia ter conhecimento da coação, o negócio jurídico poderá ser anulado, e o coator e a parte beneficiada respondem solidariamente por perdas e danos (art. 154 do CC). b) Se o beneficiado não tinha conhecimento da coação, o negócio jurídico não será anulado e o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto (art. 155 do CC). OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 36 6.2.4. ESTADO DE PERIGO Conforme previsto no art. 156 do CC, configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. No caso da parte celebrar negócio jurídico em estado de perigo para salvar pessoa não pertencente à família, o juiz decidirá segundo as circunstâncias. Desse modo, são requisitos para a configuração do estado de perigo os seguintes: • Dano grave e atual • O intuito de salvar a si próprio, um familiar ou um terceiro • Conhecimento do fato de perigo pela parte contrária • Assunção de uma obrigação de excessiva onerosidade Caracterizado o estado de perigo, a parte prejudicada poderá requerer a anulabilidade do negócio jurídico no prazo decadencial de 4 anos, a contar da data da celebração TEMA COBRADO NO XIX EXAME DA OAB/FGV 6.2.5. LESÃO De acordo com o art. 157 do CC, ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta, sendo que a desproporção deve ser verificada segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico TEMA COBRADO NOS EXAMES XXVI E XXXI DA OAB/FGV. A principal diferença entre estado de perigo e lesão, portanto, é que na lesão não é necessário o dolo da parte contrária, enquanto que no estado de perigo sim. Caracterizada a lesão, a parte prejudicada poderá requerer a anulabilidade do negócio jurídico no prazo decadencial de 4 anos, a contar da data da celebração. Entretanto, não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito (art. 157, §2º, do CC). TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV 6.2.6. FRAUDE CONTRA CREDORES Ocorre fraude contra credores quando o negócio jurídico é maliciosamente celebrado por devedor insolvente, ou na iminência de se tornar, para se desfazer de seu patrimônio, prejudicando os seus credores. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 37 São, portanto, requisitos da fraude contra credores: • Evento danoso (eventus damni): o negócio jurídico fraudulento deve reduzir o devedor à condição se insolvente; • Conluio Fraudulento (consilium fraudis): deve ser provada a má-fé do adquirente, ou seja, a existência de conluio entre o devedor/alienante e o adquirente para prejudicar terceiros. Para desfazer a fraude, os credores poderão ajuizar, no prazo decadencial de 4 anos da celebraçãodo negócio jurídico, a denominada ação pauliana (ou revocatória), objetivando a anulabilidade dos atos praticados. Apenas o credor quirografário ou aquele cuja garantia se tornou insuficiente é que poderão ajuizar ação pauliana. Sendo procedente a ação, os bens do devedor retornam ao seu patrimônio, para garantir o pagamento dos créditos dos seus credores. 6.2.7. SIMULAÇÃO A Simulação representa a exteriorização enganosa, objetivando formular negócio jurídico fictício para prejudicar terceiro. Embora esteja prevista no capítulo referente à invalidade do negócio jurídico, a doutrina majoritária entende que se trata de vício social. O caput do art. 167 do CC estabelece que é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma TEMA COBRADO NOS EXAMES VIII E XXVII DA OAB/FGV. “A” pretende doar um imóvel para seu filho. No entanto, para pagar menos impostos, simula um contrato de compra e venda, mediante escritura pública, entregando o bem ao herdeiro, sem, contudo, receber qualquer valor. Neste caso, o contrato de compra e venda será nulo, mas subsistirá a doação, que foi o negócio jurídico que se dissimulou. O § 1º, por, sua vez, dispõe que haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 38 Já o § 2º assegura os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Diferentemente das demais espécies de defeitos do negócio jurídico (todos anuláveis), havendo simulação o negócio jurídico será nulo, o que poderá ser pleiteado por ação declaratória de nulidade, que é imprescritível. 1.1. INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO A invalidade do negócio compreende os atos nulos e anuláveis, conforme artigo 166 ao 184 do CC Vejamos as principais diferenças no quadro abaixo: NEGÓCIOS NULOS ATOS ANULÁVEIS Interesse Público Interesse Privado. Ocorre principalmente quando não há elemento essencial do negócio jurídico, ou quando afetar interesse público (simulação) Ocorre principalmente quando há incapacidade relativa ou vício de consentimento. Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz Somente pode ser reconhecida pela provocação das partes Não é suscetível de confirmação nem convalesce pelo decurso do tempo, podendo ser requerida mediante ação declaratória de nulidade, que é imprescritível. No entanto, se o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade (art. 170 do CC). ATENÇÃO: Diferentemente das demais espécies de defeitos do negócio jurídico (todos anuláveis), havendo simulação o negócio jurídico será nulo, o que poderá ser pleiteado por ação declaratória de nulidade, que é imprescritível É suscetível de confirmação e convalesce pelo decurso do tempo. O art. 178 do CC dispõe que é de 4 (quatro) anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. Obs: Se a lei não dispuser sobre o prazo decadencial, a regra geral é que ele será de 2 (dois) anos. A declaração da nulidade possui efeitos ex tunc, ou seja, os efeitos retroagem. Efeitos ex nunc, ou seja, a aprtir da sentença. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 39 7 7. ATO ILÍCITO Conforme previsto no art. 186 do CC, comete ato ilícito aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Além disso, também pratica ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (art. 187 do CC), ou seja, o abuso de direito também é considerado ato ilícito TEMA COBRADO NOS EXAMES XI E XXVII DA OAB/FGV O art. 188 do CC, por sua vez, trata das situações que são consideradas excludentes de ilicitudes, ou seja, as hipóteses em que, apesar de haver dano a outrem, o ato não é considerado ilícito, a saber: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. No caso do inciso II (estado de necessidade) o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Além disso, ainda que o ato seja considerado lícito, se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram, podendo o autor do dano ajuizar ação regressiva em face do culpado (artigos 929 e 930 do CC). No caso de legítima defesa (art. 188, I), caberá ação de regresso contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 930, parágrafo único). São hipóteses de responsabilidade civil pela prática de ato lícito TEMA COBRADO NOS EXAMES III E XXIX DA OAB/FGV OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 40 8 8. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA 8.1. PRESCRIÇÃO Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206. Prescrição significa a perda da pretensão de ter o direito violado reparado em razão da inércia de seu titular. A prescrição, portanto, atinge apenas a pretensão e não a dívida. As principais regras sobre a prescrição estão dispostas nos artigos 190 a 196 do CC: • A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão (art. 190 do CC). • A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição (art. 191 do CC) • Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes (art. 192 do CC) • A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita (art. 193) • Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente (art. 194 do CC) • A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor (art. 195 do CC). Os prazos prescricionais, por sua vez, estão previstos nos arts. 205 e 206 do CC, conforme sistematizado no quadro abaixo: PRAZO HIPÓTESE 10 ANOS A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor (art. 205 do CC). Trata-se, portanto, da regra geral. 5 ANOS a) Pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; b) pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; c) pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo. OA B N A M ED ID A | D IR EI TO C IV IL 41 4 ANOS Pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas. 3 ANOS a) Pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; b) pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; c) para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; d) pretensão
Compartilhar