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Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 1 🥠 Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) Quais são as duas partes que compõe o sangue? É composto de duas partes: plasma (55% do volume total; 90% composto de água), meio aquoso com sais minerais, proteínas, gorduras, fatores de coagulação, hormônios, fibrinogênio, dentre outras substâncias imersas; e elementos celulares, que são os glóbulos vermelhos e brancos e as plaquetas ou trombócitos. De que forma se usa a eletroforese para separar as proteínas e em quais grupos elas são separadas? A técnica de eletroforese corresponde a um processo de separação das proteínas plasmáticas em campo elétrico em função das suas diferenças em relação à carga elétrica e massa molecular. Após a separação eletroforética, corantes revelaram cinco bandas principais que foram designadas como frações: albumina, α1-globulina, α2-globulina, β-globulina e γ-globulina. Cada uma dessas frações representa um grupo de proteínas que migram na mesma distância, ou seja, cada fração engloba várias proteínas, visto que se sabe atualmente que o plasma contém pelo menos 300 tipos diferentes de proteínas já identificadas. Quais as principais características e funções da albumina? Proteína simples, apresentando na sua estrutura apenas aminoácidos (cadeia única). A fração albumina, sintetizada pelo fígado, constitui a maior parte das proteínas plasmáticas (mais de 50%). Com isso, patologias hepáticas comprometem, em graus variados, a sua síntese. Possui baixo peso molecular, além de vários grupos ionizáveis em sua molécula. Por tais propriedades, possui alta solubilidade e migração rápida na eletroforese. Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 2 É uma molécula globular elíptica e simétrica e, por isso, provoca menos viscosidade no sangue do que as moléculas de outras proteínas. É a principal responsável pela pressão oncótica do plasma (pressão osmótica exercida pelas proteínas do plasma que são importantes na regulação da troca de fluidos ao nível dos capilares). Em torno de 80% da ação osmótica do plasma é exercida pela albumina. Isto se deve ao seu baixo peso molecular e à sua carga negativa intensa, que torna a molécula fortemente hidrofílica e capaz de reter grande quantidade de líquido. Participa do transporte de diversos ligantes, tais como ácidos graxos livres, cálcio, certos hormônios esteróides, bilirrubina, cobre, parte do triptofano plasmático e diversos fármacos (sulfonamidas, penicilina G e ácido acetilsalicílico). Constitui uma reserva de proteínas para o organismo, podendo ser consumida em casos de desnutrição. O que é a hipoalbuminemia e quais as suas principais causas? É uma diminuição da concentração de albumina no plasma. A hipoalbuminemia é uma condição altamente inespecífica e acompanha inúmeras doenças, já que suas causas são fatores comuns a diversos agravos. Pode ocorrer por déficit de sua síntese (cirrose hepática e hepatite viral), aumento do catabolismo (infecção bacteriana grave, neoplasias malignas, insuficiência cardíaca congestiva, doenças inflamatórias e infecciosas crônicas), ingesta proteíca inadequada (desnutrição proteica kwashiorkor) e perdas por meio dos glomérulos renais e intestinos (como na síndrome nefrótica ou em enteropatias). Como sintomas, pode gerar ocorrência de edemas, icterícia, bradicardia, hipotensão e hipotermia, além de cardiomegalia, esplenomegalia e hepatomegalia. Em que casos ocorre a hiperalbuminemia? É uma condição rara e pode ocorrer em casos de desidratação O que é a alfa-fetoglobulina? É uma glicoproteína que configura o principal componente proteico do plasma do feto humano. Está presente também no líquido amniótico. Possui as mesmas funções da albumina no organismo do feto e a sequência de aminoácidos das duas proteínas é muito semelhante. Após o nascimento a sua concentração vai diminuindo no plasma enquanto vai aumentando a concentração de albumina, de maneira que ela está presente em baixas quantidades no plasma dos Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 3 adultos. Sua concentração plasmática, porém, se eleva durante a gravidez e nos pacientes com hepatoma (sendo a sua dosagem útil neste diagnóstico). Quais as duas proteínas presentes na fração pré-albumina? Algumas eletroforeses conseguem identificar a fração pré-albumina, que migra mais que a albumina na direção do pólo positivo. Nela estão presentes duas proteínas: Pré-albumina ligante de tiroxina, que transporta a tiroxina pelo sangue. Proteína ligante de retinol, que transporta a vitamina A no plasma e é essencial ao metabolismo da mesma. Ambas são bons marcadores do estado nutricional, já que possuem curta meia vida (em torno de 12 horas). Se ocorrer uma desnutrição aguda, haverá imediata alteração em sua concentração, bem como rápida recuperação quando o estado nutricional é restaurado. Quais são as principais Alfa-1 globulinas e suas funções? Alfa-1 Antitripsina (Antiproteinase): Principal componente da fração alfa- 1. Tem síntese hepática e sua função principal é a inibição de enzimas proteolíticas, tais como tripsina, quimotripsina e elastase, além daquelas presentes nos leucócitos polimorfonucleares. Com esta ação, protege os tecidos saudáveis do consumo proteolítico. Seus níveis sanguíneos normais oscilam entre 200 a 400 mg/dl, aumentando na fase aguda de inflamações e diminuindo na vigência de qualquer patologia que provoque insuficiência hepática, alterando sua síntese (exemplos: cirrose ou hepatocarcinoma). Pacientes com enfisema pulmonar apresentam deficiência genética da alfa- 1 antitripsina. Nos alvéolos, a alfa-1 antitripsina, ao inibir proteases liberadas por leucócitos e outras células que fazem fagocitose, como os macrófagos, protege o parênquima da lise ou destruição que pode ocorrer se ela estiver deficiente ou ausente. Na vigência de infecções (exemplo: pneumonia) ocorre um afluxo de leucócitos para os pulmões e um aumento de liberação de enzimas proteolíticas e, se houver algum grau de deficiência de alfa-1 antitripsina, pode ocorrer injúria proteolítica do parênquima pulmonar. O ato de fumar oxida a metionina a sulfóxido e a torna inativa, impedindo a formação de complexos com as enzimas proteolíticas. Assim, nos fumantes existe, em graus variados, uma deficiência adquirida de alfa-1 antitripsina podendo provocar a destruição do parênquima pulmonar e o surgimento do enfisema. Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 4 Alfa-1 Glicoproteína Ácida: Capaz de se ligar ao estrógeno para fazer o seu transporte sanguíneo. É uma mucoproteína (possui elevado teor de carboidrato) e, por isso, faz parte do grupo das “proteínas de fase aguda”, que podem ser dosadas no sangue fora da eletroforese. Quais são as principais Alfa-2 globulinas e suas funções? Alfa 2-Macroglobulina Proteína inibidora de proteases. Possui grande peso molecular e, por isso, não é perdida pelo rim em agravos renais como na síndrome nefrótica. Haptoglobina Mucoproteína e uma das proteínas de fase aguda. Atua na captação de hemoglobina sanguínea fora dos eritrócitos, se ligando a moléculas de Hb extracorpuscular e formando, assim, um complexo estável (Hb-Hp). Com isso, reduz a perda de ferro associada à hemoglobina extracorpuscular e previne a formação de precipitados nocivos nos rins, já que a hemoglobina extracorpuscular livre é suficientemente pequena para atravessar o glomérulo renal para o interior dos túbulos, onde tende a se precipitar, tendo grande nefrotoxicidade. O complexo Hb-Hp, por sua vez, é grande demais para atravessar o glomérulo. O nível plasmático de haptoglobina é reduzido em casos de doenças hepáticas (pois esta proteína é sintetizada no fígado) e em episódios de hemólise, visto que os complexos formados com a hemoglobina são rapidamente retirados de circulação pelo sistema retículo endotelial (S.R.E.). Isto ocorre porque enquantoa meia vida da haptoglobina é de 5 dias , a meia vida do complexo haptoglobina- hemoglobina é de 90 minutos; portanto, o desaparecimento do plasma da haptoglobina enquanto ligada à hemoglobina é 80 vezes mais rápido do que o normal. Ceruloplasmina Capaz de se ligar fortemente a 6 átomos de cobre. Entretanto a ligação do cobre na molécula da albumina não é tão forte como na ceruloplasmina; conseqüentemente, a albumina doa o cobre aos tecidos mais facilmente do que a ceruloplasmina e é aparentemente mais importante no transporte de cobre no sangue, apesar de transportar apenas cerca de 10% do conteúdo deste metal , enquanto 90% do mesmo circula ligado à ceruloplasmina. Quais são as principais beta-globinas e suas funções? Transferrina Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 5 Com função de transportar o íon férrico dos estoques intracelulares ou da ferritina para a medula óssea onde haverão células (entre elas os precursores de eritrócitos) que possuem receptores de superfície para a transferrina. É sintetizada no fígado. Sua concentração sanguínea normal é de 200 a 400 mg/dl e a saturação pelo ferro é de 20 a 50%. Nas anemias agudas , por falta de ferro, em resposta à deficiência aguda deste metal sua concentração sérica se eleva em duas vezes ou mais o nível normal. Fração C3 Um dos 9 componentes principais do sistema complemento e atua na resposta imune humoral. A queda de sua concentração sanguínea está relacionada às doenças glomerulares. Beta-lipoproteína Atua no transporte de lipídios (apolar) no meio aquoso que é o plasma sanguíneo. A icterícia obstrutiva, o hipotireoidismo, alguns casos de Diabetes mellitus e ateromatose podem apresentar excesso de colesterol sérico e, consequentemente, aumento das beta-lipoproteínas. A diminuição dessa fração é rara e, em geral, é utilizada como elemento de valor prognóstico, principalmente, nos processos de evolução crônica. Beta-2-microglobulina Proteína de baixa massa molecular facilmente filtrada pelo glomérulo e quase totalmente reabsorvida pelos túbulos renais. Os níveis dessa proteína se elevam na insuficiência renal, em inflamações e neoplasias. O aumento das betaglobulinas representa perturbação do metabolismo dos lipídeos ou dificuldade na excreção biliar, verificadas nas colestases; pode representar ainda casos de anemia ferropriva, por aumento da síntese de transferrina. A queda em seus níveis, entretanto, pode ter valor prognóstico nos processos de evolução crônica. Quais as principais gama-globulinas e suas funções? Imunoglobulinas: anticorpos humorais sintetizados por linfócitos B, células do sistema imune adaptativo. Podem formar complexos antígeno-anticorpo se ligando a bactérias, vírus ou proteínas/substâncias estranhas ao organismo. Desta forma, as moléculas de anticorpos podem ser determinadas em nosso plasma sanguíneo. As imunoglobulinas humanas são todas formadas por duas Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 6 cadeias pesadas (G, A, M, D e E) e duas cadeias leves (kappa ou lambda) e podem ser agrupadas em cinco classes: IgG, mais abundante (75% do total plasmático das Ig´s); abrange a maior parte dos anticorpos contra bactérias, vírus e toxinas e aqueles contra o antígeno Rh e constitui a única classe de imunoglobulinas que atravessa a barreira placentária; IgA, que engloba os anticorpos anti-insulina; encontrada nas secreções do sistema digestório, nasofaríngeas e traqueobrônquicas e também na lágrima e no leite (muitas células secretam um polipeptídeo, denominado componente secretor que se liga ao fragmento Fc da IgA e promove o transporte desta imunoglobulina à superfície das células que secretam a chamada IgA secretora, o que explica sua presença em secreções); IgM, que engloba os anticorpos produzidos contra os antígenos do sistema ABO; IgE, ligada aos processos alérgicos (apresentada em quantidades muito pequenas nos indivíduos normais (2,8% do total) e em quantidades aumentadas nos indivíduos alérgicos); IgD, representando apenas 0,2% do total, sem funções específicas conhecidas. Quais as principais proteínas ligadas a coagulação sanguínea e suas funções? Protrombina Glicoproteína que é fator II da coagulação e proenzima da trombina. No momento da coagulação se converte em trombina às custas de cálcio e outros fatores da coagulação, com concentração plasmática normal em torno de 20 mg/dl. É sintetizada no fígado e sua síntese é dependente de vitamina K; Trombina Enzima que vai atuar no processo de conversão do fibrinogênio em fibrina; Fibrinogênio Glicoproteína sintetizada pelo fígado que atua como substrato para a ação da enzima trombina (fator I da coagulação sanguínea). Sua concentração plasmática é de 0,3 g/dl, o que corresponde a 4 a 8 % do total de proteínas do plasma e se eleva na fase aguda de inflamações de um modo geral (é Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 7 uma das proteínas de fase aguda). No momento da coagulação, se converte em fibrina, glicoproteína insolúvel no plasma. O que é a hipoprotrombinemia e como ela ocorre? A hipoprotrombinemia pode ser encontrada em pacientes com doenças hepáticas e com quadros de carência de vitamina K. A principal fonte de vitamina K para o organismo humano é a síntese da mesma pelas bactérias intestinais; nos primeiros dias de vida, porém, ainda não existem bactérias em quantidade razoável colonizando o nosso tubo digestivo. Por isso, nesta fase da vida pode haver carência de tal vitamina no organismo, o que comprometeria a coagulação normal. Assim, os recém-nascidos são susceptíveis ao surgimento da chamada doença hemorrágica do recém-nascido, que pode ser prevenida com a administração de vitamina K por via injetável. Qual a importância das lipoproteínas e como elas realizam o seu transporte? Os lipídios são encontrados em diversas formas e, por seu caráter hidrofóbico, não são solúveis no sangue. Em razão disso, precisam de auxílio para que seu transporte possa ser realizado, o que pode envolver tanto a ligação à albumina plasmática, que se liga principalmente a ácidos graxos livres, pigmentos biliares e a vitamina A, quanto a organização de lipoproteínas. Tais estruturas contém parte proteica (apoproteínas, que podem ser apo A, apo B, apo C ou apo E) e formam verdadeiras micelas que permitem o transporte sanguíneo dos lipídeos nelas imersos por seu caráter anfipático: um núcleo de lipídeos apolares, triacil glicerol e éster de colesterol, circundado por uma camada superficial de fosfolipídios anfipáticos e moléculas de colesterol. Assim, os grupos polares estão voltados para fora (plasma), o que permite seu transporte pela corrente sanguínea. A concentração de lipídios altera a densidade da lipoproteínas e acaba por separá-las em classes com funções específicas. Quanto maior a proporção de lipídios em uma lipoproteína, menor será sua densidade. Os quilomícrons e VLDL possuem majoritariamente TAG. Após os processos de digestão, os triglicérides, os fosfolípides e o colesterol oriundos da ressíntese nas células da mucosa intestinal se associam com apoproteínas e formam os quilomícrons (90% de conteúdo lipídico e 1 a 2% de apoproteínas) que seguem através dos vasos linfáticos até o ducto torácico e a veia cava superior. Além disso, nosso organismo pode sintetizar triglicérides no fígado a partir de carboidratos ou de ácidos graxos livres (vindos da dieta ou liberados dos adipócitos). Estas moléculas endógenas juntamente com Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 8 colesterol, fosfolipídios e apoproteínas formam a VLDL (60% de conteúdo lipídico) no fígado, que é lançada ao sangue. Assim, as duas partículas seguem o mesmo caminho: quando passam pelos capilares dos tecidos adiposo e muscular sofrem a ação da enzima lipase lipoproteica, secretada pelo endotélio desses capilares. Esta enzima catalisa a retirada de ácidos graxos de triglicérides e tambémde fosfolípides, os quais podem ser estocados no tecido adiposo (formam triglicérides com o glicerol endógeno dos adipócitos) ou usados para produzir energia no tecido muscular. Após esta etapa, quilomícrons e VLDL passam a ser remanescentes, possuindo menor quantidade de triglicérides e maior quantidade de colesterol. Os remanescentes de quilomícrons são lipoproteínas de vida curta no sangue, pois são logo captadas pelo fígado onde serão catabolizadas. Os remanescentes de VLDL ficam com a densidade mais elevada e de valor intermediário entre VLDL e LDL, formando a lipoproteína IDL que também tem vida curta no sangue. Metade de sua concentração é captada pelo fígado para catabolismo e metade se transforma em LDL pela captação de colesterol livre na circulação (proveniente da reciclagem de células e membranas celulares). Esta última (LDL), juntamente com a HDL, configuram lipoproteínas ricas em colesterol. A primeira é formada no plasma e é importante fonte de colesterol para todas as células do organismo, as quais possuem receptores para a apoproteína B da LDL. A HDL, por sua vez, apresenta apenas apoproteínas AI e AII e não provoca o depósito do colesterol nas paredes arteriais. Esta partícula é produzida no fígado e, ao atingir a circulação sanguínea, capta colesterol livre no sangue para ser encaminhado ao fígado para utilização. Por que o LDL é o "colesterol ruim" e o HDL o "colesterol bom"? LDL e VLDL são conhecidas como lipoproteínas aterogênicas por sua capacidade de provocar o depósito de colesterol nas paredes das artérias e, assim, formar placas ateroscleróticas (ateromas). Assim, o LDL é considerado “colesterol ruim” na linguagem popular. Como ocorre uma competição entre HDL e IDL por moléculas de colesterol na corrente sanguínea, já que ambos captam tal molécula, o HDL acaba por prevenir que altas concentrações de LDL sejam formadas no plasma. Assim, é referenciado na linguagem popular como "colesterol bom”. O que é hipercolesterolemia familiar e como ela ocorre? A hipercolesterolemia familiar é uma doença genética caracterizada pela ausência ou diminuição de receptores de LDL nos tecidos em geral. Este fator Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 9 ocasiona um aumento da concentração plasmática de LDL. Além disso, menos moléculas de IDL entram nas células hepáticas porque necessitam dos mesmos receptores de LDL. Assim as moléculas de IDL permanecem mais tempo no sangue e mais delas se convertem em LDL do que no indivíduo normal. Como resultado ocorre hipercolesterolemia e o colesterol é depositado em vários tecidos. Este depósito também pode ocorrer em placas ateroscleróticas (ateromas) causando estreitamento arterial e levando a ataques cardíacos. Qual a alteração bioquímica marcante quando há um estímulo estressante no corpo (inflamação)? Bioquímicamente há alterações mediante a presença de um estímulo estressante, seja esse um agente ou uma lesão, com o aumento dos níveis das chamadas proteínas de fase aguda. São aquelas que em conjunto têm a sua concentração sanguínea aumentada em resposta a estresse orgânico e ou inflamação devido a infecção, cirurgia, trauma ou outra causa de necrose tecidual. São elas a alfa -1 glicoproteína ácida, a alfa -1 antitripsina, a haptoglobina, a alfa -2 macroglobulina, o fibrinogênio e a proteína C reativa. Qual a importância da Proteína C reativa nos diagnósticos? A Proteína C reativa (PCR) em específico é um importante marcador bioquímico, já que, na vigência de um processo de injúria tecidual ou infecção, é liberada dentro de 4 a 6 horas, ajudando na detecção precoce de inflamação em pacientes sintomáticos e no acompanhamento do quadro inflamatório ao longo dos dias, bem como para avaliar a eficácia do tratamento instituído. É sintetizada pelo fígado e seu nome se deve ao fato de reagir e formar um precipitado contra o polissacarídeo C da parede bacteriana do pneumococo. Os níveis da proteína C reativa podem aumentar de 50% a até 1.000 vezes (no caso da PCR) durante estados inflamatórios crônicos e em pacientes com câncer. Baseado neste fato, a PCR pode ser considerada um biomarcador não- específico de lesão tecidual, infecção e inflamação. Nas infecções bacterianas a PCR plasmática tem uma tendência a se encontrar mais elevada do que nas viroses, em que seu nível sanguíneo tende a ser mais baixo, auxiliando no diagnóstico Por que ocorre o aumento do nível séricos das proteínas de fase aguda na inflamação? O nível sérico destas proteínas está aumentado nestas situações porque a inflamação provoca liberação de enzimas proteolíticas de leucócitos, dos capilares, nos tecidos, demandando ação das proteínas inibidoras de proteases; Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 10 além disso, pela degradação e produção de restos celulares, há necessidade da ação da haptoglobina e proteína C reativa para coleta e transporte de tais materiais para o sistema retículo endotelial; ainda, para cicatrização dos tecidos é necessária a fibrina, proteína que provém do fibrinogênio. Assim, as proteínas de fase aguda podem ser vistas como um fenômeno de aumento coletivo de proteínas que visa limitar as reações de uma infecção ou de uma inflamação. Há situações em que nem todas são necessárias, mas seu nível sérico aumenta em conjunto. Principais avaliações laboratoriais de proteínas plasmáticas e suas funções: Método de Biureto O método se baseia na reação do reativo do biureto, que é constituído de uma mistura de cobre e hidróxido de sódio com um complexante que estabiliza o cobre em solução, sendo o tartarato de sódio o recomendado por Gornall e cols.9. O cobre, em meio alcalino, reage com proteínas formando um complexo quadrado planar com a ligação peptídica. O produto de reação apresenta duas bandas de absorção. Tal reação apresenta baixa sensibilidade quando comparada a métodos mais modernos, mas ainda apresenta bons resultados com plasma e tem amplo uso por sua rapidez, baixo custo de reagentes e pelo fato de não apresentar grande variação da absortividade específica para diferentes proteínas. Verde de Bromocresol É amplamente utilizado como agente de coloração de proteínas; pode combinar a albumina em pH 4,0 ~ 4,2 para formar um complexo de albumina-BCG, de coloração esverdeada. A profundidade da cor é proporcional à concentração de albumina. Eletroforese Técnica utilizada para separação das proteínas plasmáticas em função das suas diferenças em relação à carga elétrica e massa molecular. Consiste na colocação do plasma em um campo elétrico, embebido solução tampão de pH = 8,6 (meio alcalino). As moléculas proteicas do plasma adquirem carga negativa e irão migrar neste campo elétrico em direção ao pólo positivo, percorrendo diferentes distâncias ligadas ao ponto isoelétrico de cada uma delas. A trajetória de migração de cada proteína está diretamente ligada às suas características avaliadas pelo processo. Como a albumina é a de Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 11 ponto isoelétrico (pI) mais baixo e rica em cargas elétricas, apresenta maior migração. Já as gamaglobulinas, por exemplo, possuem pI = 7 em média (mais próximo do pH do tampão empregado) e, portanto, migram menos no campo elétrico. Proteína C reativa Ultra Sensível Consiste na mesma PCR convencional, contudo utiliza uma técnica de dosagem capaz de detectar taxas muito menores de PCR. Recentemente, tem sido utilizada como um estratificador de risco cardiovascular ou na detecção de doença arterial coronariana (DAC), contudo devido à falta de evidências científicas ainda é um exame questionável mesmo para os portadores de doença cardiovascular. Seu uso na DAC seria justificado pelo fato de na gênese dessa afecção múltiplos processos inflamatórios serem desencadeados para a formação da aterosclerose. Velocidade de Hemossedimentação Consiste na medida laboratorial a partir de uma propriedade inerente ao sangue,a sedimentação. Em um tubo em repouso, com anticoagulante, os eritrócitos irão gradualmente se depositar pela ação da gravidade, portanto, o método do VHS consiste em medir o grau dessa sedimentação em um determinado intervalo de tempo (geralmente duas horas). A eritrosedimentação ocorre pela agregação de hemácias e formação do rouleaux ou empilhamento. Esse processo de empilhamento é limitado pelas cargas negativas repulsivas nas membranas eritrocitárias ricas em ácido siálico. A presença de proteínas plasmáticas modifica esse caráter repulsivo favorecendo a formação do rouleaux aumentando o VHS. Portanto, com o aumento de proteínas positivas como fibrinogênio e gamaglobulinas teremos aumento do VHS por diminuição da repulsão elétrica entre os eritrócitos (proteínas que aumentam VHS: Fibrinogênio > Alfaglobulinas > Gamaglobulinas/ proteínas que diminuem o VHS: Albumina). O método exige preparações como jejum de pelo menos quatro horas, temperatura do local de teste constante (20 a 25°C), tubo de sedimentação mantido exatamente na vertical, bancada livre de vibrações e utilização de uma pipeta de Westergren bem lavada. É um teste muito sensível, porém não específico, que é frequentemente o primeiro indicador de doença quando outros sinais químicos e físicos estão normais. Teremos seus valores aumentados tanto em situações patológicas como inflamações crônicas ou agudas, tuberculose, anemia macrocítica, quanto em situações fisiológicas como a gravidez e idosos. Seus valores podem nos sugerir Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 12 etiologias. Valores significativamente elevados sugerem doenças inflamatórias disseminadas, já valores menos intensos sugerem inflamações localizadas e câncer. Contudo, vale sempre lembrar que a clínica é soberana. O VHS está sujeito a inconvenientes na sua mensuração como, por exemplo, o tamanho, forma e número das hemácias interferirem na sua dosagem. Hemácias macrocíticas (com tamanho acima do normal) apresentam sedimentação mais intensa e hemácias microcíticas (com tamanho abaixo do normal) sedimentam mais lentamente. Quais fatores podem estar associados a uma Hipoproteinemia? Ligada a casos de desnutrição grave (Kwashiorkor), hipertireoidismo, hemorragia grave, síndrome nefrótica, distúrbios da síntese proteica, deficiência de cálcio e vitamina D, síndrome de má absorção, gravidez, hemodiluição ou hiper-hidratação, queimaduras severas, cirrose hepática e alcoolismo crônico; Quais fatores podem estar associados a uma Hiperproteinemia? Ligada a casos de desidratação (vômito, diarreia ou acidose diabética), mieloma múltiplo, macroglobulinemia, hepatite autoimune crônica, lúpus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatoide e endocardite bacteriana subaguda, dentre outros agravos mais raros. O que é a proteinúria e o que ela indica? Na avaliação de um exame de urina, pode surgir ainda a proteinúria, indicativo de comprometimento renal. Está presente no estágio inicial da doença renal antes de o comprometimento da função poder ser detectado. A perda de função renal está diretamente relacionada à quantidade de proteinúria e, quando associada à hipertensão arterial e/ou diabetes melito, agrava o prognóstico da doença renal. Em indivíduos normais, proteínas de baixo peso molecular e uma pequena quantidade de albumina são filtradas pelo glomérulo e são totalmente reabsorvidas no túbulo contornado proximal. Algumas dessas (incluindo a albumina) podem ser excretadas em pequenas quantidades na urina e não são detectadas pelo exame de urina simples de fita (EAS/urina tipo I), mas apenas por métodos cromatográficos. Assim, considera-se normal uma excreção diária de proteína de até 300 mg/dia ou, se ajustada pela creatinina, de 200 mg/g2 . Quanto à albumina, sua excreção normal não ultrapassa 20 mg/dia. Quando a excreção de albumina se encontra na faixa de 30-300 mg/dia, é chamada de microalbuminúria, ou seja, presença de pequena quantidade anormal de albumina na urina. Essa alteração apresenta especial interesse em pacientes portadores de diabetes mellitus (DM), pois a sua presença é um marcador de Proteínas plasmáticas, estresse e inflamação (Aula prática 4) 13 nefropatia incipiente. Em indivíduos não diabéticos é também um marcador precoce de doença renal e se associa a maior risco de doença cardiovascular (DCV). Valores superiores a 300 mg/dia são chamados de proteinúria ou macroalbuminúria. Nesse nível, o exame da fita já detecta a eliminação anormal de proteínas.
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