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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO 
UNISAL – CAMPUS MARIA AUXILIADORA 
 
Rafaela Milena Cabral Aguilera 
 
 
 
 
 
 
O Visitador no Programa Criança Feliz: Uma visão sobre o 
trabalho com as famílias num município do interior do Estado de 
São Paulo-SP 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Americana - SP 
2019 
 
 
 
Rafaela Milena Cabral Aguilera 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Visitador no Programa Criança Feliz: Uma visão sobre o 
trabalho com as famílias num município do interior do Estado de 
São Paulo-SP 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de curso apresentado como 
exigência parcial para obtenção do grau de 
Especialista em Gestão de Política de Assistência 
Social e trabalho com famílias – Pós-Graduação no 
Centro Universitário Salesiano de São Paulo. 
Orientadora: Profa. Ma. Elizabeth Rossin 
 
 
 
Americana – SP 
2019 
 
 
 
RESUMO 
 
 Esta pesquisa analisará a práxis do Programa Criança Feliz num município 
do interior do Estado de São Paulo-SP, abordando o desafio da atuação do 
visitador do Programa no seu trabalho com famílias. Será discorrido sobre o 
histórico da primeira infância e posteriormente sobre famílias com suas novas 
dinâmicas sociofamiliares. Ademais, será problematizado as contradições do 
referido Programa no contexto das políticas públicas, especialmente do Sistema 
único de Assistência Social (SUAS). 
 
Palavras-chave: Políticas Públicas. Assistência Social. Visitador Social. Primeira 
Infância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research will analyze the practice experienced in the Happy Child Program in a 
municipality in the interior of the state of São Paulo-SP, addressing the challenge of the 
Program visitor's performance in their work with families. It will be discussed about the 
history of early childhood and later about families with their new socio-family dynamics. In 
addition, the contradictions of this Program will be problematized in the context of public 
policies, especially the Single Social Assistance System (SUAS). 
 
Keywords: Public Policies. Social Assistance.Social visitor. Early Childhood 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
BPC – Benefício de Prestação Continuada 
CDC – Cuidados para o Desenvolvimento da Criança 
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social 
CREAS – Centro de Referência Especializado em Assistência Social 
OSC – Organização da Sociedade Civil 
PBF – Programa Bolsa Família 
PCF – Programa Criança Feliz 
SUAS – Sistema Único de Assistência Social 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO......................................................................................................................07 
1 METÓDO.............................................................................................................................11 
2 CAPÍTULO..........................................................................................................................14 
2.1 O HISTÓRICO DA PRIMEIRA INFÂNCIA...................................................................14 
2.2 FAMÍLIAS E SUAS DINÂMICAS NA VIDA SOCIAL.................................................16 
 
2.3 O CUIDADO NA PRIMEIRA INFÂNCIA......................................................................18 
3 O VISITADOR NO PROGRAMA CRIANÇA FELIZ NUM MUNICÍPIO DO 
INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO-SP E O TRABALHO COM FAMÍLIAS.21 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................30 
REFERÊNCIAS......................................................................................................................33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 INTRODUÇÃO 
 
 O Programa Criança Feliz compõe a esfera do Governo Federal com foco 
na primeira infância. Destarte, o município do interior do Estado de São Paulo-SP, 
objeto dessa pesquisa, fez adesão ao Programa no ano de 2017. Destina-se as 
gestantes e crianças de 0 a 03 anos de idade e suas famílias beneficiarias do PBF 
(Programa Bolsa Família) e crianças de 0 a 06 seis anos de idade e suas famílias 
beneficiarias do BPC (Benefício de Prestação Continuada). As visitas são 
realizadas mensalmente para as gestantes e quinzenalmente para as crianças de 03 
a 06 anos de idade beneficiárias do BPC e semanalmente para crianças de 0 a 03 
anos de idade beneficiarias do PBF e BPC. Desse modo, registra-se a importância 
do trabalho realizado com famílias, no âmbito da proteção social. De início 
abordaremos o histórico da infância, bem como das famílias e suas dinâmicas na 
vida social para em seguida tecer mediações sobre a atuação do visitador do 
Programa Criança Feliz. 
As recentes descobertas no campo cientifico contribuíram para alertar 
sobre a importância dos vínculos afetivos e dos cuidados desde a infância para o 
desenvolvimento humano. Recentemente o Programa Criança Feliz, instituído 
através do decreto 8.869 de 05 de outubro de 2016, do ex-presidente da República 
Michel Temer, tem como fundamento o Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 
13.257, de 08 de março de 2016) e integra o SUAS (Sistema Único da Assistência 
Social). 
O Programa está em funcionamento desde 2006 (Lei Estadual nº 12.544) 
no Rio Grande do Sul, ofertado pela Secretaria Estadual de Saúde, hoje 
reformulado no Estado de São Paulo intitulado como Criança Feliz. Vale destacar 
que o Programa em tela é executado em parceria com três OSCs (Organizações da 
Sociedade Civil) que possuem convenio firmado oriundo de chamamento público 
com a Prefeitura Municipal, as organizações são responsáveis pela gestão do 
Criança Feliz em cada território de abrangência. 
De acordo com o documento Guia da Visita Domiciliar, disponibilizado pelo 
Ministério do Desenvolvimento Social (2017) são os objetivos do Programa 
Criança Feliz, apoiar e acompanhar o desenvolvimento na primeira infância, 
8 
 
colaborar no fortalecimento de vínculos e com o papel das famílias nos cuidados 
com as crianças, mediar o acesso das famílias às políticas e serviços públicos que 
necessitem e integrar e ampliar ações voltadas para as gestantes, crianças na 
primeira infância e suas famílias. 
No que tange ao desafio da atuação do visitador no Programa Criança Feliz, 
vale destacar que esse é o profissional responsável por planejar e realizar a visita 
domiciliar às famílias atendidas com o apoio e acompanhamento do supervisor. É 
exigência do Programa que o visitador seja profissional de nível médio (educador 
social/ orientador social/ cuidador social) conforme disposto na Resolução CNAS 
nº 9/2014 ou profissional de nível superior, conforme consta na Resolução CNAS 
nº 17/2011. 
É importante ressaltar que uma especificidade do Programa Criança Feliz 
deste município do interior do Estado de São Paulo-SP, se refere a contratação de 
visitadores para o Programa, todos deverão estar cursando ensino superior em 
uma das áreas: Psicologia, Serviço Social ou Pedagogia. Todos os profissionais 
passarão pelo processo seletivo que inclui prova escrita e entrevista para 
identificar o perfil, é importante que o visitador tenha afinidade para atuar na área 
social, tendo em vista que o visitador terá como atribuições identificar e discutir 
com o supervisor demandas e situações que requeiram encaminhamentos para a 
rede como educação, cultura, justiça, saúde ou assistência social, visando sua 
efetivação. 
Os principais motivos que nos fizeram pesquisar sobre o papel do visitador no 
Programa Criança Feliz se deve ao fato de ser esse o profissional responsável por 
realizar as visitas domiciliares às famílias atendidas pelo Programa, orientando-as 
para o fortalecimento de vínculo, capacitando-as para realizar as atividadesde 
estimulação para o desenvolvimento integral da criança desde a gestação e 
informando ao supervisor sobre situações identificadas que indicam “problemas” 
nas famílias, como suspeita de violência doméstica e dificuldades ao acesso aos 
serviços e direitos sociais. 
 
O foco do Programa é na primeira infância, pois de acordo com pesquisas 
recentes é neste momento que a arquitetura de cérebro está se formando e 
problemas graves enfrentados logo no início da vida tais como: violência 
9 
 
doméstica, pobreza extrema, desnutrição, falta de acesso à educação e a saúde 
dentre outros, podem interromper o desenvolvimento saudável do cérebro. 
 
A medida que o tempo passa fica mais difícil modificar a arquitetura do 
cérebro e o comportamento. Os acontecimentos, a família e a comunidade afetam 
de maneira considerável o desenvolvimento da criança. Pensando nisso surge a 
necessidade da implantação e efetivação de políticas públicas que geram grande 
impacto. 
 A criança que cresce em uma comunidade mais segura, com um 
aprendizado de qualidade e com investimentos na saúde, terá uma arquitetura 
cerebral mais sólida e uma estrutura mais apta para superar as dificuldades. Isso 
vai preparar a criança para ter sucesso na alfabetização e desenvolver outras 
habilidades. Posteriormente gera o maior aproveitamento das aulas e menos 
evasão escolar, todavia há que se considerar o contexto socioeconômico em que a 
família vive e a presença do Estado como ente protetivo e afiançador de direitos 
sociais. Portanto, análises mais aprofundadas são requeridas quando se trata de 
aprendizagem e evasão escolar. 
Segundo a ciência o estresse tóxico prejudica o desenvolvimento saudável 
da criança, quando vivenciam a experiência do estresse, o sistema de resposta é 
ativado, o corpo e o cérebro ficam em alerta, quando o estresse é aliviado e a 
criança recebe apoio de um adulto a resposta do estresse desacelera e o corpo 
rapidamente volta ao normal. Em situações severas como o abuso e negligência 
contínua ou quando não há um adulto acolhedor para amortecer os impactos do 
estresse a resposta ao estresse fica ativada, sobrecarregando os sistemas em 
desenvolvimento com consequências serias e duradouras para a criança, isso é 
conhecido como estresse tóxico. 
 
Neste sentido, o objetivo principal deste trabalho consistiu em pôr em 
análise a atuação do visitador que compõe a equipe do Programa Criança Feliz no 
município do interior do Estado de São Paulo-SP; discorrer acerca do trabalho 
realizado no Programa Criança Feliz no município; compreender as atribuições do 
visitador para atuar no fortalecimento de vínculos das crianças e suas famílias. 
 
10 
 
O trabalho foi dividido em quatro capítulos. No primeiro capítulo 
abordamos o método que foi utilizado na pesquisa, o diário de campo, que 
consistiu em coletar as informações acerca dos visitadores sociais, tomamos a 
realidade social como critério para analisar o papel dos visitadores sociais, 
enquanto profissionais de relevância na execução do Programa em tela. 
No segundo capítulo discorremos acerca do histórico da primeira infância, 
das famílias e suas dinâmicas na vida social e sobre o cuidado na primeira 
infância. Desse modo, problematizamos os desafios da atuação do visitador no 
trabalho com famílias atendidas no Programa Criança Feliz num município do 
interior do Estado de São Paulo-SP. 
 
No terceiro capítulo foi discutido sobre a atuação do visitador no Programa 
Criança Feliz e o trabalho com famílias, apresentamos as metodologias pautadas 
do Programa, dados relevantes e as especificidades do Programa bem como, o 
resultado das anotações registradas no diário de campo do pesquisador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1 MÉTODO 
 
O estudo em questão tem como fundamento de investigação 
bibliográfica/documental o método materialista histórico e dialético em que o 
ponto de partida é o fenômeno na sua aparência, imediaticidade ainda carente das 
múltiplas determinações da realidade nas suas dimensões econômicas, políticas, 
sociais, ideológicas. Com as mediações das leituras bibliográficas, documentos 
oficiais serão tecidas análises concretas do Programa Criança Feliz no contexto 
social, histórico em que vivem as famílias de crianças, gestantes, “alvo” das 
atividades. Desse modo, retornaremos ao ponto de partida com o pensado 
concreto. 
Para melhor compreensão do método, dialogamos com Paulo Netto (2011, 
p.13), em que assevera: 
[...] é necessário voltar a estudar toda a história, devem 
examinar-se em todos os detalhes as condições de existência 
das diversas formações sociais antes de procurar deduzir delas 
as ideias políticas, jurídicas, estéticas, filosóficas, religiosas etc. 
que lhes correspondem. (NETTO, 2011, p. 13 apud MARX-
ENGELS, 2010, p. 107). 
 
O autor Paulo Netto (2011, p. 18) salienta que Em Marx, “a crítica do 
conhecimento acumulado consiste em trazer ao exame racional, tornando-os 
conscientes, os seus fundamentos, os seus condicionamentos e os seus limites”, na 
mesma etapa em que se faz a análise dos conteúdos desse entendimento a partir 
dos processos históricos reais. O autor ainda acrescenta que “A teoria é, para 
Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa: 
pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do 
objeto que pesquisa”. No que tange ao objetivo do pesquisador: 
[...] indo além da aparência fenomênica, imediata e empírica-
por onde necessariamente se inicia o conhecimento, sendo essa 
aparência um nível da realidade e, portanto, algo importante e 
não descartável-, é apreender a essência (ou seja: a estrutura e a 
dinâmica) do objeto. Numa palavra: o método de pesquisa que 
propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa 
alcançar a essência do objeto. Alcançando a essência do objeto, 
isto é: capturando a sua estrutura e dinâmica, por meio de 
procedimentos analíticos e operando a sua síntese, o 
pesquisador a reproduz no plano do pensamento; mediante a 
pesquisa, viabilizada pelo método, o pesquisador reproduz, no 
12 
 
plano ideal, a essência do objeto que investigou. (NETTO, 
2011, p. 22). 
 
 
Ainda de acordo com Netto (2011, p. 25) “para Marx, o papel do sujeito é 
essencialmente ativo [...] deve ser capaz de mobilizar um máximo de 
conhecimentos, criticá-los, revisá-los e deve ser dotado de criatividade”. O autor 
ainda salienta que: 
 
[...] como bom materialista, Marx distingue claramente o que é 
da ordem da realidade, do objeto, do que é da ordem do 
pensamento (o conhecimento operado pelo sujeito): começa-se 
"pelo real e pelo concreto", que aparecem como dados; pela 
análise, um e outro elementos são abstraídos e, 
progressivamente, com o avanço da análise, chega-se a 
conceitos, a abstrações que remetem a determinações as mais 
simples. (NETTO, 2011, p. 42). 
 
 
Nessa esteira de análise tomamos a realidade social como critério para 
analisar o papel dos visitadores sociais, enquanto profissionais de relevância na 
execução do Programa em tela. 
O perfil dos visitadores do Programa Criança Feliz no município do 
interior do Estado de São Paulo-SP, são graduandos de Serviço Social, Psicologia 
e Pedagogia, ambos os sexos, com idades variadas e voltados para a área social. É 
importante salientar que todos atuam nas três OSCs (Organizações da Sociedade 
Civil) que executam o Programa Criança Feliz em parceria com a Prefeitura 
municipal. 
Para coleta de informações acerca da atuação dos visitadores sociais, 
utilizamos o diário de campo, o qual de acordo com os autores: 
[...] o analista qualitativo observa tudo, o que é ou não dito: os 
gestos, o olhar, o balanço, o meneio do corpo, o vaivém das 
mãos, a cara de quem fala ou deixe de falar, porque tudo pode 
estar imbuído de sentido e expressar mais do que a própria fala, 
pois a comunicaçãohumana é feita de sutilezas, não de 
grosserias. Por isso, é impossível reduzir o entrevistado a 
objeto. (OLIVEIRA 2014 apud DEMO, 2012, p. 33) 
 
 
13 
 
Ainda de acordo com Oliveira (2014, p.71 apud Geertz, 2008) a descrição 
deve ser consistente para distinguir as expressões, espaços, tempos, saberes e 
regras de um grupo social, esclarecendo melhor os conceitos culturais. Assim, 
vamos entendendo a relevância de utilizar o diário de campo como instrumento de 
investigação na pesquisa. A autora releva que: 
[...] quanto ao uso do diário de campo, é possível entender que 
foi no século XIX que este dispositivo passou a ser utilizado por 
determinadas ciências/pesquisadores, principalmente por este 
ser um século fecundo2 para o surgimento de novas ciências. 
Entretanto, sua utilização nos séculos XX e XXI foi/é feita nos 
diversos campos e aspectos de pesquisa que perpassam pela 
Psicologia, Serviço Social, História, Antropologia, Sociologia, 
Educação entre outras. (OLIVEIRA 2014, p.72 apud 
ZACCARELLI e GODOY 2010). 
 
A autora Oliveira (2014, p.83) acrescenta que na maioria das vezes, não é 
possível, observar, dialogar e fazer as anotações ao mesmo tempo, podendo causar 
desconforto para os participantes da pesquisa. Evidencia que é importante 
aprender a “criar notas mentais e termos à mão um pequeno bloco para anotarmos 
as palavras chaves, é um recurso de grande ajuda”, orienta. E aponta que: 
[...] além de ser utilizado como instrumento reflexivo para o 
pesquisador, o gênero diário é, em geral, utilizado como forma 
de conhecer o vivido dos atores pesquisados, quando a 
problemática da pesquisa aponta para a apreensão dos 
significados que os atores sociais dão à situação vivida. O diário 
é um dispositivo na investigação, pelo seu caráter subjetivo, 
intimista. (OLIVEIRA, 2014, p.74 apud MACEDO, 2010, p. 
134) 
 
Oliveira (2014, p.76 apud Bertaux, 2010 p. 39) discorre sobre algumas 
competências do pesquisador e faz orientações “Na pesquisa de campo o 
pesquisador tem o cuidado de, antes de tudo, abrir seus olhos, seus ouvidos, sua 
inteligência e sua sensibilidade ao que poderá lhe ser dito ou mostrado. [...]”. É 
possível notar que é necessário comprometimento e dedicação na construção 
desse processo. 
 
 
14 
 
2 CAPITULO 
 
Nesse capítulo discorremos acerca do histórico da primeira infância, das 
famílias e suas dinâmicas na vida social. Desse modo, problematizamos os 
desafios da atuação do visitador no trabalho com famílias atendidas no Programa 
Criança Feliz num município do interior do Estado de São Paulo-SP. 
 
2.1 O histórico da Primeira Infância 
 
O autor Ariès (1978) evidencia que na Idade Média a maneira de se educar as 
crianças se resumia em deixá-las nas casas de outras famílias, para que as mesmas 
pudessem aprender hábitos relacionados à educação e cultura com outros adultos, 
pois acreditavam também que as crianças pudessem servir melhor outros adultos 
que não fossem os seus pais. 
Nessa época acreditava-se que não existia o sentimento de infância, pois uma 
criança era desprovida de afeto materno e incluída no mesmo mundo dos adultos. 
No fim do século XVI e no século XVII a criança passou a se tornar o centro das 
atenções, muito mimada, porém ao completar sete anos de idade a postura dos 
responsáveis mudava com a relação aos filhos lhes eram cobrados deveres de 
adultos: 
[...] ainda no século XVII começou na Europa a mentalidade de 
que era importante desenvolver uma disciplina muito rígida e 
austera a fim de fazer com que se tornassem homens honrados e 
racionais. Nas escolas, no início dos tempos modernos (século 
XVII) tornam-se um meio de isolar os meninos durante um 
período de formação moral e intelectual, separando-os da 
sociedade dos adultos. (ALBERTON, 2005 p.41). 
 
Ariés evidencia que “a partir do século XV as realidades e os sentimentos das 
famílias se transformariam” (1978, p. 231). Neste sentido o autor discorre que a 
educação passou a ser proporcionada com mais frequência pelas escolas com isso 
houve uma aproximação maior das famílias para com a infância tendo em vista a 
preocupação dos pais em vigiar seus filhos, porém todo este sentimento pareceu 
surgir ao mesmo tempo em que o da escola. 
15 
 
Numa breve abordagem histórica, destaca-se que, a vitimização de crianças 
ocorre desde os primórdios: 
[...] quando o Brasil foi descoberto por volta de 1530 chegaram 
as primeiras expedições de portugueses com o intuito de 
conquistar novas terras por isso haviam muitos homens e não 
muitas mulheres, porém o número de crianças eram até maior 
do que a quantidade de adultos e infelizmente com a desculpa 
de que não havia mulheres a bordo os grumetes (crianças 
judias) e pajens (filhos de famílias portuguesas pobres) sofriam 
todo tipo de abuso sexual, quanto as órfãos eram trancafiadas 
para chegarem virgens até o Brasil, as condições que tais 
crianças e adolescentes viviam eram precárias e havia um alto 
número de mortalidade. (ALBERTON, 2005, p.42) 
 
No início do século XX o judeu Janusz Korczak, seu nome verdadeiro era 
Henryk Goldzmit, filho de um conceituado advogado, denunciou o mundo de 
opressão infantil através de sua vasta obra e evidenciou que: 
[...] a criança tem o direito de reclamar, de exigir. Tem o direito 
de progredir e, chegando à maturidade, de dar o seu fruto. Ora, 
a educação a reduz a: não fazer barulho, não arrastar os sapatos, 
escutar e executar ordens, não criticar e acreditar que todos têm 
em vista apenas o seu “bem”. (KORCZAK, 1983 apud 
AZEVEDO e GUERRA, 1998, p. 107). 
 
 
No que se refere aos fatores ligados à questão da família Azevedo e Guerra (1995) 
discorrem que as dificuldades socioeconômicas oriundas da crise e do capitalismo são 
favorecedoras da violência doméstica contra crianças e adolescentes, pois são fatores 
estressantes decorrentes do contexto econômico e cultural de uma sociedade marcada ao 
longo de sua história de opressão e luta de classes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
2.2 Famílias e suas dinâmicas na vida social 
 
Azevedo e Guerra (1997) discorrem que oriundo do crescimento 
econômico da época foi gerado uma das distribuições de renda mais desiguais já 
vista, causando a miséria de várias famílias do campo e também da cidade. De 
acordo com Carvalho em uma sociedade pobre e desigual haverá grandes 
impactos sobre a família e sobre as crianças e jovens ainda não foi avaliado 
suficientemente, pois “a mulher tem tido um significativo papel no mundo do 
trabalho, e o adolescente ingressa cada vez mais cedo no mercado” (1997, p. 14) o 
trabalho muitas das vezes é de maneira informal resultando em ganhos 
insuficientes. 
No final do século XIX Roque e Ferriari (2002) discorrem que oriundo de 
discursos em jornais e revistas depositava-se a culpa do abandono e falta de 
proteção das crianças às suas famílias, porém na primeira metade do século XX os 
juristas apontavam que o abandono era decorrente das condições econômicas e a 
desagregação familiar, a partir de então houve a concepção que era o Estado 
responsável em implantar tais políticas de proteções aos mais vulneráveis. 
Segundo Carvalho (1997) a mulher assume cada vez mais o papel de 
provedora da família, em famílias monoparentais. No que se refere à questão do 
novo papel da mulher em nossa sociedade, quando a esposa: 
[...] torna-se produtora de rendimentos, pode ocorrer a redução 
da autoridade marital, mas isso nem sempre se concretiza, uma 
vez que a crença na superioridade do marido ou companheiro 
continua a ser sustentada por representações diversas. Mesmo 
quando a contribuição financeira da esposa equipara-se à do 
parceiro, ainda assim este tende a preservar sua posição 
hierárquica, mantendo sua dominância no interior da família. 
(ROMANELLI, 1995, p. 83). 
 
A crise da família pode possuir relação com a sociedade capitalista, pois: 
[...] o crescimentodas profissões assistenciais, educacionais e 
de saúde termina por tirar dos pais e da família qualquer 
autoridade na reprodução. Os pais abdicam de seus juízos e 
emoções em prol do conhecimento técnico dos especialistas. A 
autoridade se impõe de fora para dentro e os efeitos são vários, 
tanto do ponto de vista sociológico quanto psicanalítico. 
(BILAC, 1995 p. 33). 
17 
 
Quanto às mudanças ocorridas na família, Sarti afirma que tais mudanças 
possuem relação com a perda do sentido da tradição “vivemos em uma sociedade 
onde a tradição vem sendo abandonada como em nenhuma outra época da 
História” (1997, p.43) desta forma a individualidade vem se tornando cada vez 
mais importante. 
Em nossa sociedade há necessidade de uma nova construção do modelo da 
família, pois em algumas ainda ocorrem à autocracia, ou seja, muitas das vezes 
possuem a figura do pai-patrão, porém é possível tal modelo ser substituído e 
haver a democracia familiar, pois: 
[...] toda relação educativa implica numa exigência de 
participação.... Uma criança não é jamais objeto de uma ação, 
mas dela participa totalmente. Colabora em seu projeto de 
desenvolvimento pessoal (...) os pais continuam aprendendo. 
Eles são verdadeiramente educados por seus filhos. Neste 
sentido, a educação é, portanto, um ato comum a pais e filhos. 
(AZEVEDO E GUERRA, 1995 p.81 apud FIZE, 1990). 
 
Azevedo e Guerra (1995) ressaltam que em famílias que há um 
planejamento familiar há maiores possibilidades de educar melhor os filhos, pois 
quando a gravidez a indesejada os filhos correm o risco de serem mal amados, 
cabe aos casais se conscientizarem de que nem todos são obrigados a terem filhos, 
não devem ceder às pressões da sociedade, afinal sempre há uma escolha 
adequada para cada caso, as autoras discorrem que é necessário preparação para o 
papel de mães e pais para haver maiores garantias no sucesso ao que se refere a 
educação dos filhos. 
Segundo Mioto (2004) Neder (1996) os assistentes sociais são 
profissionais que têm a família como objeto principal de suas ações. No que tange 
a atuação profissional com famílias é relevante salientar sobre a necessidade de 
haver mais abordagens sobre a temática, tendo em vista que a dinâmica familiar é 
decorrente do processo histórico marcado por contradições e que se organizam em 
busca da sobrevivência. O trabalho com famílias tem se tornado preocupante para 
os profissionais da Assistência Social, tema atual e muito complexo. 
Recentemente a realidade nos apresenta várias configurações familiares. 
 
18 
 
2.3 O cuidado na Primeira Infância 
 
O ser humano é um ser inacabado que precisa de cuidados. A autora 
Valente (2013, p. 234 apud Winnicott, 1999) fala que “tem seu início em uma 
relação de dependência absoluta, passando para a dependência relativa, rumo à 
autonomia” e que apesar do todos os estudos, as crianças continuam se 
desenvolvendo há muito tempo e seus pais e educadores ainda continuam 
participando do processo de desenvolvimento. Valente (2013) traz a concepção do 
amor para discorrer sobre a importância do cuidado 
O amor é a emoção central na história evolutiva humana desde 
o início, e toda ela se dá como uma história em que a 
conservação de um modo de vida no qual o amor, a aceitação 
do outro como legitimo outro na convivência, é uma condição 
necessária para o desenvolvimento físico, comportamental, 
psíquico, social e espiritual normal da criança, assim como para 
a conservação da saúde física, comportamental, psíquica social 
e espiritual do adulto. Num sentido estrito, nós, seres humanos, 
nos originamos no amor e somos dependentes dele. 
(VALENTE, 2013, p. 236 apud MATURANA, 2001, p.25) 
 
Valente (2013, p.234) acrescenta que “ainda que a tendência à integração seja 
inata no ser humano, não se pode dizer que ela ocorra automaticamente, depende 
de uma mera passagem de tempo” a autora também afirma que “um bebê depende 
totalmente de outra pessoa que lhe ofereça um ambiente suficientemente bom e 
que lhe forneça os cuidados e sustentação necessários”. 
O cuidado é essencial para o desenvolvimento, Valente (2013, p. 235) fala que 
segundo Winnicott “a ruptura dessa continuidade, principalmente no início da 
vida, leva o ser humano a uma existência difícil, podendo gerar graves distúrbios 
psíquicos, como psicoses e esquizofrenias”. Os autores salientam que: 
 
[...] ainda segundo Winnicott, para que a integração do ser 
humano ocorra, [...] o bebê depende fundamentalmente da 
presença de um ambiente facilitador que forneça cuidados 
suficientemente bons. [...] os lactentes humanos não podem 
começar a ser, exceto sob certas condições. Afirma ainda que 
nenhum bebê, nenhuma criança, pode vir a tornar-se uma 
pessoa real, a não ser sob os cuidados de um ambiente que lhe 
ofereça sustentação e facilite os processos de seu 
amadurecimento. Os bebês que não recebem esses cuidados 
19 
 
suficientemente bons “não conseguem se realizar nem mesmo 
como bebês. Os genes não são suficientes” (VALENTE, 2013, 
p. 234 apud DIAS, 2003:96). 
 
É importante salientar que Valente (2013, p. 237) além de trazer questões 
relevantes sobre o cuidado à autora também ressalta a importância do perfil 
profissional para a realização do trabalho, aponta que a seleção devera ser de 
qualidade “exige, por um lado, uma formação profissional compatível com o tipo 
de ações cotidianas necessárias para cuidar das demandas relacionadas às 
vulnerabilidades que lhes são próprias”. A autora também reflete que: 
 
 [...] para o exercício do cuidado é necessário que o ser no 
mundo supere as atitudes parciais e fragmentadas, que têm por 
base apenas o procedimento racional e estratégico, de modo a 
desenvolver uma autocompreensão da ação realizada como algo 
que incide sobre a sua vida em sua totalidade. (VALENTE, 
2013, p. 248 apud Dalbosco, 2006, p. 125). 
 
No que tange ao vínculo afetivo, Valente (2013, p.253 apud Costa 2009) 
discorre que de acordo com Bowbly “o núcleo daquilo que eu chamo de “vínculo 
afetivo” é a atração que um indivíduo sente por outro indivíduo”. De acordo com 
os autores essa atração é o que vai fazer com que duas pessoas se mantenham 
próximas em uma relação de correspondência. A autora evidencia que as relações 
de apego na infância favorecem de maneira relevante para o amadurecimento 
fundamental para viver a autonomia e que: 
 
[...] todas as relações vividas desde o berço – alegrias, 
incertezas, frustrações, amorosidade, ternura, limites, 
consideração – são com o que colocadas em uma bolsa 
individual, a que o ser adulto recorre, e as encontra ou não, 
diante das vicissitudes da vida. Podem-se ver adultos 
remexendo, virando suas bolsas e não encontrando elementos 
de suporte para permanecer em estados que implicam tomadas 
de decisões e permanência, ou não, nelas. (VALENTE, 2013 p. 
275). 
 
Valente (2013, p. 278 apud Bowlby, 2006, p.14) salienta sobre a importância do 
cuidado nos primeiros anos de vida e que “as experiências passadas de uma criança 
desempenham papel vital em seu desenvolvimento, e continuam sendo 
importantes para ela...”. A autora ainda afirma que: 
20 
 
[...] uma criança para continuar um desenvolvimento 
harmonioso após o seu nascimento, precisa encontrar um 
ambiente de aconchego, de continência ás suas necessidades; 
que ela possa sentir-se o ser mais importante do mundo, onde, 
apesar dos limites nítidos e necessários ao seu crescimento, 
exista disposição de cuidado expresso nas suas relações 
cotidianas. (VALENTE, 2013, p. 275). 
 
Vale ressaltar que segundo Valente (2013, p. 275) “uma criança precisa de 
sustentação para olhar o seu mundo e ter coragem de experimentar, de sair e de 
voltar tantas vezes quantas necessárias”, pois é desta maneira que a criança vai em 
busca do novo e do aprendizado que lhe prepara a outras etapas fundamentais da 
vida humana.21 
 
3 O Visitador no Programa Criança Feliz num município do interior do Estado de São 
Paulo-SP e o trabalho com famílias 
 
O Programa fundamenta-se no cuidado a criança nas diferentes idades e nos 
vínculos estabelecidos entre elas e seus cuidadores. É, portanto uma metodologia 
pautada na orientação e no apoio aos esforços das famílias sobre vinculação e 
cuidados para o desenvolvimento da criança. Sendo assim, valoriza as interações 
familiares com a criança, identifica e recomenda brincadeiras e atividades 
comunicativas que estimulam os vínculos e o desenvolvimento infantil. 
Alhures, o Programa provoca debates que problematizam o arcabouço das 
políticas sociais, as quais já trazem, historicamente, nas suas diretrizes e 
concepções a integralidade das ações, em especial na Política de Assistência 
Social. Segundo a pesquisadora Sposati (2017, p. 533) não existe inovação que 
justifique a integração do Programa no SUAS- Sistema Único de Assistência 
Social, “os sistemas públicos de atenção social já operam quanto ao estímulo aos 
cuidados familiares das crianças”, a autora discorre que: 
 [...] a ausência de articulações potentes que envolvam 
responsabilidades públicas na garantia de direitos e proteção 
integral a crianças e adolescentes poderão trazer marcas 
paradoxais ao PCF como a de ferramenta de criminalização da 
pobreza, culpabilização das famílias pelas suas necessidades, 
subordinação da mulher, e pior, fragilização de direitos à 
proteção integral de crianças e adolescentes. (SPOSATI, 2017, 
p. 530). 
 
 Registra-se na documentação oficial da primeira infância, que a metodologia 
do Programa Criança Feliz foi baseada no referencial teórico Cuidados para o 
Desenvolvimento da Criança (CDC) manual de orientações às famílias, disponível 
pelo Ministério do Desenvolvimento Social (2012), o qual valoriza o 
protagonismo e a autonomia da família na proteção e cuidado com a criança. Para 
isso o visitador do Programa Criança Feliz utiliza-se da acolhida, de observações, 
de perguntas orientadoras e da escuta sobre as práticas de cuidado que as famílias 
já desenvolvem. 
O método possui como pilares o foco a interação do cuidador e criança e a 
ludicidade no brincar. Vale destacar que de acordo com o método CDC, é por 
22 
 
meio de brincadeiras e comunicação o cuidador aprende a perceber e responder às 
necessidades da criança. As atividades também estimulam a família a aprender 
novas formas de cuidar da criança. 
No debate sério e rigoroso acerca do Programa, não há controvérsias a respeito 
da importância da autonomia e cuidados com a primeira infância, todavia o 
principal eixo problematizador são as ausências das políticas sociais estruturantes 
de caráter público para a proteção das famílias da classe trabalhadora. Na 
imediaticidade o estímulo dos vínculos mãe e bebê são salutares, entretanto, na 
realidade miúda dessas famílias não há serviços/programas que as atendam no 
campo dos direitos sociais. 
São territórios marcados pela insuficiência ou ausência de bens e serviços 
essenciais para a sobrevivência humana. Segundo dados do IBGE/Pnad-2017 
“[...]entre as crianças de 0 a 3 anos que pertencem aos 20% com a renda domiciliar per 
capita mais baixa do país, 33,9% estão fora da escola porque não existe vaga ou creche 
perto delas. Se analisarmos a política habitacional nos deparamos com déficit de 7,757 
milhões de moradias, de acordo com estudos da Fundação Getúlio Vargas, o qual teve 
como base IBGE/Pnad-2015. 
Se nos determos nas condições de saneamento básico das moradias brasileiras, os 
dados revelam que epidemias de doenças ligadas a ausência desse direito humano 
atingiram 34,7% dos municípios (MUNIC,2017). Assim, constata-se que a 
deficiência no tratamento e destinação adequada do esgoto ainda causa milhares 
de doenças no país, especialmente em crianças. 
O Plano Nacional de Saneamento Básico1 estabeleceu como meta atender 
90% do território com o tratamento e destinação adequada de esgoto até́ 2033, 
dada a constatação de tratar-se de um problema crônico e histórico no país. No 
entanto, atualmente, quase metade da população (43%) ainda vive em cidades 
sem rede de tratamento de esgoto, ameaçando em ritmo acelerado a saúde 
pública. 
 
1 https://www.fenae.org.br/portal/fama-2018/noticias/a-falta-de-saneamento-basico-e-grande-ameaca-a-saude-
publica-no-brasil.htm, dados acessados em 06/09/2019 
https://www.fenae.org.br/portal/fama-2018/noticias/a-falta-de-saneamento-basico-e-grande-ameaca-a-saude-publica-no-brasil.htm
https://www.fenae.org.br/portal/fama-2018/noticias/a-falta-de-saneamento-basico-e-grande-ameaca-a-saude-publica-no-brasil.htm
23 
 
Evidências como essas nas políticas públicas desvelam a importância de não 
tomarmos os fenômenos na sua imediaticidade e nesse pseudoconhecimento 
construirmos análises que não se sustentam na sua essência. 
Pois bem, na análise das estratégias do Programa destacamos a visita 
domiciliar realizada pelos visitadores do Programa Criança Feliz e nos reportamos 
a pesquisadora Sposati (2017, p. 534) a qual problematiza que “O PCF parece 
dispensar permissão para que um estranho adentre a intimidade da dinâmica da 
convivência familiar”. A pesquisadora acrescenta que uma das determinações do 
PCF é adentrar as casas das famílias, no sentido de ensiná‑las a educar os filhos. 
Entrementes, no que se refere ao vínculo inicial e o desenvolvimento infantil 
Brum e Schermann discorrem que o psicanalista Bowlby analisa a importância 
das primeiras relações para o desenvolvimento, formulando a teoria do apego: 
Nessa perspectiva, o vínculo da criança com a mãe, chamado 
por ele de apego, tem uma função biológica que lhe é especifica 
e é o produto da atividade desses sistemas comportamentais que 
têm a proximidade com a mãe como resultado previsível. 
Portanto, ao longo do desenvolvimento, a criança passa a 
revelar um comportamento de apego que é facilmente 
observado e que evidencia a formação de uma relação afetiva 
com as principais figuras desse ambiente. (BRUM e 
SCHERMANN, 2003, p.459). 
 
Conforme citado anteriormente o brincar também possui grande relevância 
no desenvolvimento infantil, de acordo com Vygotski: 
[...] o brinquedo fornece a estrutura básica para as mudanças 
das necessidades da consciência. O desenvolvimento da criança 
é determinado pela ação na esfera imaginativa (...) do ponto de 
vista psicológico, pode-se observar que as crianças que não tem 
oportunidade de brincar, não conseguem conquistar o domínio 
sobre o mundo exterior. O brincar pois assume duas facetas: a 
de passado, através da resolução simbólica de problemas não 
resolvidos; e a de futuro na forma de preparação para a vida. 
(VYGOTSKI, 1998, p. 69). 
 
 
É importante salientar que quando se tratam de direitos de crianças e 
adolescentes, especialmente com os direitos violados, “até o início do século XX 
(...) tudo o que foi feito em termos de assistência foi obra quase exclusiva da 
Igreja Católica”. (ALBERTON, 2005, p.47) 
24 
 
Neste sentido, um grande avanço foi a Constituição Federal de 1988 que 
determina que “não era mais a criança que estaria em situação irregular, mas sim 
sua família, a sociedade, e o Estado”, logo a seguir é sancionado a Lei Federal nº 
8.069/90 ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) através do mesmo é 
reconhecido os direitos das crianças e adolescentes. 
A família é a principal mediadora da relação da criança com o mundo e a 
principal facilitadora dos processos de desenvolvimento. A nova legislação (Lei nº 
13.257/ 2016), reforça o papel da família no exercício da função de cuidado, 
proteção das crianças na primeira infância. No que tange ao acesso e inclusão das 
famílias ao Programa Criança Feliz é pertinente destacar que as mesmas são livres 
para aderir ou não as ações do Programa. 
No que se refere ao mapeamento do território inicialmente as equipes do 
Programarealizaram o diagnóstico, porque de acordo com Santos: 
O território tem que ser entendido como o território usado, não 
o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. 
A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos 
pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da 
residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da 
vida. (SANTOS, 2007, p. 22). 
 
O município em tela é considerado de grande porte e disponibiliza de 08 
CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) e 01 CREAS (Centro 
Especializado de Assistência Social). Através da caracterização do território foi 
possível constatar as vulnerabilidades tais como: altos índices de pobreza e 
extrema pobreza, alto índice de desemprego, baixo nível de escolaridade das 
famílias, dificultoso acesso das famílias à rede de serviços, presença de tráfico de 
drogas, alto índice de violência urbana e ausência ou insuficiência de serviços e 
ofertas de lazer e cultura. 
A adesão ao Programa no município ocorreu em fevereiro de 2017, a 
construção do Plano Municipal em abril de 2017. Para a execução do Programa 
Criança Feliz houve parceria com três OSC´s (Organização da Sociedade Civil). 
Vale ressaltar que a composição geral das equipes do Programa Criança 
Feliz no município em tela totaliza 03 coordenadores, 06 supervisores com 
formação em Serviço Social, 21 visitadores (estagiários em Serviço Social, 
Pedagogia ou Psicologia), 03 motoristas, 01 Coordenador Municipal e 01 Comitê 
25 
 
Gestor Municipal (com membros representantes das Secretarias Municipais, 
Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e 
Organizações Sociais). 
Cabe destacar, retornando à Sposati (2017, p. 535) “ao ser operado por um 
agente indefinido, um visitador com baixa remuneração, dificilmente o PCF 
poderá ser eficaz assegurando direito socioassistencial”. A autora ainda ressalta 
que: 
Ao determinar que visitadores de nível médio compareçam 
semanalmente à moradia de uma família marcada pela 
precariedade de condições e necessidades, o Estado brasileiro, 
pelo PCF, financia uma operação no campo social sem provê‑la 
de formação técnica qualificada, o que reforça a ideia de que 
sua preocupação é maior com o exercício de vigilância 
disciplinadora sobre as famílias, as mães e as mulheres pelo 
agente do Estado. (SPOSATI, 2017, p. 536). 
 
 Atualmente são 600 indivíduos atendidos pelo Programa no município, o 
público elegível ao Programa são gestantes e criança de 0 a 03 anos de idade 
beneficiários do Programa Bolsa-Família e crianças de 0 a 06 anos beneficiários 
do BPC (Benefício de Prestação Continuada). O Programa Criança Feliz busca 
promover a atenção às gestantes, crianças na primeira infância e suas famílias, de 
caráter intersetorial para proporcionar aos profissionais envolvidos estratégias de 
integração que qualifiquem as ações. 
O Programa prevê a capacitação continuada dos profissionais envolvidos e 
as visitas são realizadas pelos visitadores que buscam contribuir no fortalecimento 
de vínculo entre cuidador e criança para promover o desenvolvimento saudável na 
primeira infância, tendo em vista que pesquisas recentes alertam sobre 
importância do brincar no ambiente familiar. 
Vale salientar que na etapa da primeira infância as dimensões físicas, 
cognitivas, emocionais e sociais são construídas. O Programa também apoia às 
famílias orientando sobre o acesso a Rede de Serviços Socioassistenciais, assim 
como busca promover a participação das famílias em ações que visem aprofundar 
a consciência social sobre o significado da primeira infância no desenvolvimento 
do ser humano. 
26 
 
Nesse contexto, outro eixo da problemática apontada por Sposati (2017, p. 
542) é “a superposição por visitadores sem vínculo profissional com os órgãos 
públicos responsáveis poderá causar a desqualificação dos profissionais que 
operam com políticas referenciadas”. A autora ainda evidencia que: 
[...] cuidar de pessoas não significa apenas cuidar de crianças, 
mas também mães, pois, uma mãe que tem na divisão de tarefas 
e cuidados o Estado como seu aliado, será muito mais feliz e 
criará filhos felizes [...]. Ao determinar o lugar da mulher na 
esfera doméstica, e não como sujeito da história, afirma 
indiretamente que ela não é capaz de decidir sobre o cuidado e a 
orientação de seus filhos. (SPOSATI, 2017, p. 536). 
 
Os motivos que nos fizeram pesquisar o trabalho realizado no Programa 
Criança Feliz no município do interior do Estado de São Paulo-SP, identificando o 
papel e as competências do visitador, são justificados para alcançarmos maior 
compreensão sobre a visão que esses profissionais possuem sobre as famílias e 
desta forma inferir uma breve avaliação acerca da efetividade das visitas no 
Programa. 
Sobre as situações vivenciadas no Programa Criança Feliz num município 
do interior do Estado de São Paulo e de acordo com as anotações do diário de 
campo registradas por esta pesquisadora, foi possível constatar o desafio inicial do 
Programa, como por exemplo, o acesso e a instabilidade do Sistema Eletrônico 
Prontuário SUAS (Sistema Único de Assistência Social) utilizado para armazenar 
as informações dos usuários atendidos pela Assistência Social e utilizado pelo 
supervisor do Programa Criança Feliz para inserir as visitas realizadas pelo 
visitador às famílias atendidas. 
É notório que os visitadores vivem momentos intensos, a cada busca ativa 
e visita, o medo e a insegurança de adentrar no âmbito de cada lar, mas também a 
oportunidade de fazer a diferença na vida daquelas famílias que carregavam 
consigo sentimentos como o de desamparo pela Política de Assistência Social e 
angústia de ter que criar seus filhos diante de tantos obstáculos. Foi possível 
constatar que as famílias que aceitam participar do Programa, reconhecem a 
necessidade de compartilhar suas angústias e têm o desejo de fortalecer o vínculo 
com seus filhos. 
27 
 
Constatamos que todos os visitadores passaram pelo processo seletivo que 
incluiu prova escrita e entrevista para identificar o perfil de cada um. Sendo 
relevante que o profissional tivesse afinidade para atuar na área social, tendo em 
vista que teria como atribuições identificar e discutir com o supervisor do 
Programa demandas e situações que demandavam encaminhamentos para a rede 
socioassistencial, visando à defesa e garantia dos direitos das famílias. 
Vale salientar que outro notável desafio se refere à periodicidade das 
visitas realizadas pelo visitador às famílias atendidas pelo Programa Criança 
Feliz, considerando que as visitas são realizadas na residência de cada família em 
sua maioria semanalmente. Em muitos casos foi possível notar que os visitadores 
agendaram as visitas, mas ao chegar ao local havia grande dificuldade em 
encontrar a família, pois tratam-se de famílias da classe trabalhadora que, 
inexoravelmente, buscam meios de sobrevivência em empregos precarizados, 
intermitentes. 
A intersetorialidade compreende a proposta de articulação, diante da 
realidade em que muitas políticas sociais caminham solitárias, negligenciando a 
ação das demais políticas e a totalidade de cada indivíduo. Devido à 
intersetorialidade do Programa Criança Feliz, se faz necessário à articulação da 
Rede de Assistência Social para a defesa e garantia dos direitos. 
A intersetorialidade torna-se essencial, nos casos em que as famílias 
atendidas pelo Programa encontravam-se em situação risco e vulnerabilidade 
social, a Rede de Assistência Social era acionada, mas foi possível notar a 
fragilidade existente, havia grande dificuldade em obter o retorno das demandas 
encaminhadas ao órgão responsável. 
Foi possível notar o grande desafio do Terceiro Setor na Gestão da Política 
de Assistência Social. De acordo com Junqueira (1999, p. 61) “a cidade constitui 
um espaço privilegiado para realizar a açãointersetorial (...) é nela que as pessoas 
e grupos se relacionam para construírem seu futuro” afirma. 
Os problemas sociais crescem e sua complexidade requer a cooperação de 
organizações públicas e privadas, exigindo a integração de ambos. Contudo 
podemos afirmar que acompanhar os sujeitos, de um mesmo território e suas 
demandas de maneira geral, exige planejamento e articulação das ações. 
 
28 
 
No que tange ao conceito de gestão intersetorial o autor discorre: 
(...) cria novas possibilidade de intervenção gerando em cada 
um de seus membros a participação que viabiliza a reconstrução 
da sociedade civil. Ocasiona a criação de respostas novas aos 
problemas sociais, tornando mais eficaz a gestão social, que se 
caracteriza por intersetorial, articulando instituições e pessoas 
para construírem projetos, recuperar a vida e a utopia. 
(JUNQUEIRA, 2004, p. 30). 
 
Com a reforma do Estado brasileiro iniciada na década de 1990 pelo então 
presidente Fernando Henrique Cardoso, uma das prioridades foi a livre presença 
do mercado nas políticas econômica e social em que a privatização tem lugar 
privilegiado. No campo da seguridade social, a mercantilização ocorreu em larga 
escala nas áreas da saúde e previdência, expressa nos planos privados de saúde e 
previdência privada. No âmbito da assistência social surge a presença ativa das 
organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP), o que 
posteriormente passou a ser denominada OSC (organização da sociedade civil), 
consolidando a relação da filantropia com o Estado na perspectiva de redução da 
função estatal para execução de programas sociais. 
Desta forma, a descentralização desenvolve um fator relevante para 
impulsionar a dinâmica da interação e diálogo entre as organizações. Entretanto 
de acordo com Junqueira (1996, p. 32) “a descentralização não garante 
automaticamente a participação, podendo, em algumas circunstancias, reiterar as 
diferenças” salienta. 
De acordo com Cançado, Tenório, Pereira (2011, p.697) a Gestão Social 
deve ser apresentada como a tomada de decisão coletiva, sem coerção, baseada no 
diálogo e no entendimento esclarecido no processo na transparência das ações e 
na emancipação enquanto fim último. 
Diante de tamanho desafio foi constatado que a gestão/ coordenação do 
Programa, possibilitou a realização de cada passo, desde o diagnóstico de cada 
território de atuação, as primeiras capacitações para os profissionais SUAS 
(Sistema Único da Assistência Social) e para as equipes de supervisores e 
visitadores do Programa. 
Vale salientar que se faz notório o desafio da intersetorialidade na parceria 
da gestão pública do município com as OSCs, torna-se essencial o respeito às 
diferenças e à participação de cada um na política social, para que a rede não se 
degenere. Nas articulações do Programa Criança Feliz com a rede 
29 
 
socioassistencial foi possível notar a insuficiência de recursos humanos e 
materiais para atender as demandas apresentadas do território. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Para adentrarmos nas considerações finais faz-se necessário entendermos 
alguns aspectos sobre a primeira infância e acerca do visitador no Programa 
Criança Feliz para compreender sua visão do trabalho realizado com as famílias. 
 
A primeira infância é uma etapa do desenvolvimento humano marcada por 
importantes aquisições físicas, cognitivas, emocionais e sociais. É também 
marcado pela imaturidade e vulnerabilidade da criança e por sua condição peculiar 
de dependência do ambiente e de cuidados de outras pessoas. Processo dinâmico e 
permanente, o desenvolvimento humano está permeado pelas relações sociais, 
econômicas e culturais, bem como pelo contexto territorial existente. 
 
Na metodologia do Programa Criança Feliz, o papel de ponta no acesso e 
contato com as famílias é desempenhado pelo visitador2. Ele é o profissional 
responsável por planejar e realizar a visitação às famílias com apoio e 
acompanhamento do supervisor. O supervisor, por sua vez, figura como ponto de 
apoio do visitador, apoiando o trabalho das visitas, orientando e estimulando as 
reflexões conjuntas acerca das demandas provenientes das famílias atendidas. 
 
No que tange a atuação do Programa Criança Feliz no município do 
interior do Estado de São Paulo-SP, pode-se afirmar que as famílias são motivadas 
pelos visitadores a potencializar suas competências para o cuidado, proteção e 
promoção às crianças. É notório que ao serem acompanhadas compartilham seus 
desafios diários e se fortalecem enquanto sujeitos de direitos. 
 
Face ao exposto é importante que os visitadores que são profissionais em 
processo de formação participem de formação continuada com temáticas 
pertinentes à primeira infância, crianças com deficiência, gestantes e sobre o 
 
2 Aqui caberia ampla problematização acerca da subsunção da atuação dos profissionais das diferentes áreas 
do conhecimento que compõem os serviços do SUAS, tais como da psicologia, serviço social, direito, sociologia, 
dentre outros. Pois, registra-se uma relevante diretriz do PCF que prioriza a atuação do visitador social em 
detrimento dos demais profissionais. Entretanto, não aprofundaremos essa temática no presente trabalho. 
31 
 
SUAS (Sistema Único de Assistência Social) para a implementação e qualificação 
da atenção às famílias. 
 
É importante salientar que se faz necessário a formação continuada 
também dos supervisores, tendo em vista que esse profissional de Serviço Social 
exerce o papel fundamental no processo de gestão das equipes do Programa e são 
responsáveis pelo acompanhamento das famílias atendidas no Programa. 
A supervisão sistemática é fundamental para se viabilizar e qualificar as atenções 
contempladas pelo Programa, porém torna-se imprescindível o apoio dos 
Coordenadores do Programa, Comitê Gestor e Gestão Municipal. 
 
As pesquisas que foram realizadas até esse momento estão de acordo com 
o documento Avaliação de Implementação do Programa Criança Feliz (2019, p. 
11) nos permitindo inferir que uma das fragilidades do PCF se refere à forma de 
contratação dos visitadores do Programa, considerando que “os vínculos frágeis 
(contrato temporário, estágio) e o baixo valor da remuneração fazem com que a 
rotatividade entre os visitadores seja muito alta”. Portanto, perde-se o acúmulo de 
experiência, o investimento material e humano realizado através das capacitações, 
assim como o vínculo com as famílias é rompido pela constante mudança nas 
equipes. 
É pertinente destacarmos que a periodicidade das visitas domiciliares 
realizada pelos visitadores do Programa precisa ser repensada, de modo que os 
visitadores juntamente com os supervisores possam planejar, refletir e avaliar o 
impacto de sua ação: 
(...) há situações em que as famílias não desejam receber uma 
visita por semana, por diversos motivos. Em alguns casos, 
consideram que é invasivo ou que atrapalha a dinâmica familiar. 
Há ainda os casos em que se observa grande desenvolvimento 
das crianças em pouco tempo, sendo que as visitas semanais 
acabam por serem repetitivas e cansativas. Dessa forma, as 
famílias começam a se desestimular com o Programa. 
(AVALIAÇÃO DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA 
CRIANÇA FELIZ, 2019, p.13). 
 
 
32 
 
É possível afirmarmos que o PCF (Programa Criança Feliz) se mostrou um 
satisfatório canal de ligação e informação entre as famílias atendidas e o CRAS 
(Centro de Referência de Assistência Social) foi notório o aumento na procura dos 
serviços da assistência, por meio da ação dos visitadores de prestação de 
informação e encaminhamentos. 
Alhures, é inescapável problematizar indo a raiz das questões fundantes 
que atravessam a estruturação das políticas públicas, especialmente o Sistema 
Único de Assistência Social, em que, se por um lado,há alguns resultados do 
Programa Criança Feliz, por outro é preocupante o déficit no orçamento da 
Assistência Social anunciado pelo Governo Federal para o exercício do próximo 
ano (2020). 
De acordo com dados veiculados pelo Ministério da Cidadania “[...] 
orçamento do governo federal para o programa Criança Feliz, que atende em 
domicílio famílias com crianças na primeira idade, deverá passar dos atuais R$ 
350 milhões anuais para cerca de R$ 700 milhões a R$ 800 milhões em 2020”. 3 
Isso significa que a ampliação de recursos para o Programa em tela incide, 
inequivocamente, na retirada de orçamento do SUAS, atacando conquistas 
civilizatórias dessa política pública no âmbito da seguridade social. 
É pertinente destacar que isso implicará na interrupção de muitos serviços 
socioassistenciais ofertados nos CRAS e CREAS entre outros que atuam 
diretamente em situações de vulnerabilidade e risco social. Nesse contexto, 
tomando a realidade como critério da verdade, como nos propõe o método 
materialista histórico, os rebatimentos nos serviços do SUAS já demonstram isso. 
Como por exemplo, o fechamento de quatro CRAS pela Prefeitura de São 
Gonçalo –RJ em que cerca de 20 mil pessoas foram afetadas. 4 Evidencia-se, 
portanto, a prioridade da luta por políticas sociais que garantam o acesso aos 
diretos básicos como saúde e educação com qualidade, para que possibilitem às 
famílias o cuidado e atenção especial na primeira infância. 
 
3 https://www.istoedinheiro.com.br/programa-crianca-feliz-tera-orcamento-de-r-800-milhoes-diz-ministro/, 
acesso em 10 de novembro de 2019. 
4 https://www.osaogoncalo.com.br/geral/61059/prefeitura-de-sao-goncalo-fecha-quatro-cras-na-cidade, 
acesso em 10 de novembro de 2019. 
https://www.istoedinheiro.com.br/programa-crianca-feliz-tera-orcamento-de-r-800-milhoes-diz-ministro/
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