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Aula 6 - A expansão banta no Sudão ocidental e as sociedades descentralizadas

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História da África Pré-colonização
Aula 6: A expansão banta no Sudão ocidental e as sociedades
descentralizadas
Apresentação
Estudante, como estamos no aprendizado? Tem feito os exercícios? O que veremos hoje é muito importante por conta da
expansão de povos com um tronco linguístico e étnico comum que acabou multiplicando-se pela África na região do
Sudão Ocidental. Esses povos tiveram grande conexão com o Brasil, pois alguns deles serviram de base para a escravidão.
Assim, muito de sua cultura repercutiu e tem in�uências até hoje na formação da identidade brasileira.
Objetivo
Analisar a expansão banta na África subsaariana;
Identi�car a organização política, econômica e cultural de sociedades descentralizadas e de povos mais
centralizados, como os hauçás.
As comunidades
Conhecemos até o momento muitos reinos e impérios. No entanto, você viu em aulas anteriores que não só esses conceitos
foram “emprestados” da Europa, como nem só de sociedade centralizada viveu a África.
Qual a alternativa para os reinos e impérios? Muitos povos organizaram-se em comunidades aldeãs, algo que foi muito comum
ao sul do Saara, as também chamadas de comunidades tradicionais.
 Fonte: G1.
Não julgue o fato de essas sociedades não serem centralizadas ou de serem organizadas em aldeias, pois isso não as torna
menos desenvolvidas. Houve uma adaptação ao meio geográ�co que habitaram, uma vez que não tinham necessidade de se
tornarem sedentários. O deslocamento era visto com normalidade, de acordo com as regras da natureza — secas, cheias, calor,
solo perdeu a fertilidade etc.  
Outro ponto é que o fato de serem englobadas como comunidades tradicionais não signi�ca que eram padronizadas ou que
tais características eram comuns a todas. Em sua opinião, povos nômades do deserto teriam o mesmo comportamento dos
povos que habitavam as �orestas equatoriais?
As semelhanças, como você acabou de ler, não apagaram as diferenças e as
diferenças não conseguiam ser resolvidas somente por meio de diálogo ou
de entendimento entre lideranças. A disputa por um rio, por uma terra fértil
era motivo de guerras. Quanto mais migração, mais guerras, pois os
territórios sempre já tinham sido ocupados por alguém antes.
O controle sobre a água foi um dos motivos de maior con�ito entres essas comunidades. Essa região tem um clima úmido e
quente, com uma quantidade de �orestas e savanas que são atraentes para esses povos. Por último, mas não menos
importante, essa área é próxima do Saara, algo que tornava-se interessante, tendo em vista o comércio com o Magreb.
Comentário
Um ponto que sempre é importante lembrar e que já foi dito em aulas anteriores: não havia uma identidade uni�cadora do que era
ser africano. O que chamamos de “africano” não era uma construção dos povos da África até o século XX. Portanto, as guerras
entre os povos não eram guerras civis ou algo irracional, mas aconteciam por questões estratégicas para a sobrevivência da
comunidade.
Havia, porém, um centro uni�cador, que era a ancestralidade comum, como veremos em relação aos povos bantos.
Nas comunidades tradicionais, qual seria o elo de
pertencimento se não havia um rei ou uma só divindade? A
família. Por meio da família havia ligação entre os indivíduos
e a sociedade. Famílias muito extensas, com rami�cações
por conta de casamentos, não são consideradas mais
apenas uma família, mas uma linhagem.
A família é necessária para o indivíduo pelo pertencimento,
pela sobrevivência, por gestos de solidariedade, pelo
contato permanente com sua história e tradição. As redes
de solidariedade familiares ou por linhagem tinham como
função o apoio a idosos e crianças, seja pela manutenção
da vida física ou pela transmissão de valores e
conhecimentos culturais.
 Fonte: Muhammadtaha Ibrahim Ma'aji / Pexels.
Os anciãos tinham liderança e respeito, geralmente reuniam-se em conselhos, algo que você já viu em aulas anteriores em
relação a outras comunidades mais centralizadas. Cabia aos anciãos a transmissão oral e a iniciação dos mais jovens em ritos
de passagem.
As crianças tinham noção dessa autoridade e �cavam na condição de ouvintes, sabendo que no futuro seria aquele seu papel
com relação às futuras gerações.
Saiba mais
Outro ponto importante a destacar sobre essas comunidades é a poligamia. A perspectiva de realizar vários casamentos para
obter garantia de aumento ou, ao menos, de permanência das linhagens e de uma ampla rede de parentesco — o que signi�cava
aumento de trocas comerciais, segurança física individual e coletiva — era de grande importância para vários povos.
O fato de não haver centralização não signi�ca ausência de liderança. Cuidado! Os anciãos sobre os quais você acabou de ler
tinham um papel importante. Se não eram o voto decisivo, eram consultados a respeito do novo líder.
Cabia a esse líder uma grande responsabilidade: a administração, a realização de atos de justiça de tempos em tempos, de
geração em geração, a segurança da comunidade e a garantia de que os valores tradicionais seriam perpetuados.
 A economia, a religião e o papel da mulher nessa sociedade
 Clique no botão acima.
Como era, em termos gerais, a economia dessas comunidades? Era baseada em pesca, caça, extrativismo, artesanato
e também em algo muito importante: o uso do ferro. A metalurgia é uma característica marcante desses povos. Suas
técnicas, mão de obra especializada para o fabrico de instrumentos para a lavoura ou, mais timidamente, para guerras,
foram uma marca positiva para essas comunidades. 
No entanto, essa atividade lhes custou um preço alto, pois os escravos ferreiros enviados para serem vendidos nas
Américas valiam muito por conta da cobiça dos plantadores no Brasil, na América Inglesa ou no Caribe.
 
Acerca do papel da mulher, diferentemente de sociedades africanas que se islamizaram ou se cristianizaram, o
protagonismo era bem destacado. Quase todas as atividades ligadas à subsistência, como catar da lenha para
aquecer comida até a produção agrícola era responsabilidade feminina, mas não só.
 
Havia nessas comunidades, mesmo que com nomes ou funções diferentes, divindades femininas ligadas à fertilidade
e a ações da natureza, como evitar a estiagem de um rio ou garantir chuvas para irrigar o solo. Ademais, as mulheres
tinham grande envolvimento com o comércio local, algo mais raro nas comunidades já estudadas.
 
Em caso de haver excedente agrícola as mulheres levavam esse excedente para as vilas e feiras vizinhas e
pechinchavam, negociavam as melhores trocas e garantiam diversidade de roupas, alimentos e ferramentas. A
autonomia das mulheres chegava ao ponto de terem liberdade para navegar em embarcações pelos rios, que eram
corredores comerciais entre as vilas.
 
A respeito da religiosidade, é bom frisar que as comunidades tinham uma variedade de divindades. Não eram religiões
únicas e coesas, como no caso do islamismo. O que havia de comum nas centenas de comunidades mais tradicionais
é que o contato com o poder divino estava vinculado ao cotidiano, como defesa em meio a guerra, busca por uma
colheita melhor, indicação de um local fértil, que a escolha do líder pelos anciãos fosse abençoada pelos deuses.
A religião dessas comunidades pregava a divisão entre o mundo dos vivos e o do mundo dos mortos — os
antepassados, que seriam intermediários entre os vivos e os deuses. Como os mortos eram os antepassados e
tinham tal poder de conexão, a morte era uma festa, uma manifestação de alegria com cantos e danças, com pessoas
em transe recebendo mensagens dos deuses ou dos mortos.
 
Por �m, sobre o tema religião, cabe destacar a simbiose entre a humanidade e a natureza. O homem não está acima
dos elementos naturais, tudo faz parte, segundo essa cosmovisão, de uma mesma criação. A natureza não pode ser
agredida por conta disso, pois ela carrega uma aura de respeito, é um santuário a ser preservado.  
Essa visão não é diferente daquelas que conhecemos em certas comunidades ameríndias, e serviu, por exemplo, de
inspiração para o �lme Avatar, de JamesCameron.
O uso do ferro era incorporado aos rituais religiosos. O manejo do ferro, seu manuseio para criar formas distintas fazia
do ferreiro uma espécie de feiticeiro da aldeia. O ferro, que precisava de muita lenha e de um forno de altíssima
temperatura, era algo para ser manuseado por poucos.  
Não à toa muitas comunidades criaram mitos fundadores onde deuses que deram início à sua comunidade eram
manipuladores do ferro, algo que seria correspondente ao domínio do fogo na mitologia grega. Não é por acaso que
muitos negros no Brasil na época colonial cultuavam São Jorge, posto que ele empunha uma espada!
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
A expansão Banta
Segundo o historiador, escritor e compositor Nei Lopes:
"os bantos são todos os povos que no período pré-colonial
viviam e possuíam atividades parecidas nas partes
Meridional, Central e Oriental da África. Congo, Angola,
Uganda, Moçambique e África do Sul são áreas de etnia
banto. Existem várias línguas banto, então pode-se dizer que
banto é uma designação apenas linguística. Pelo uso,
entretanto, a denominação estendeu-se e hoje, sob a
denominação de bantos estão compreendidos praticamente
todos os grupos étnicos negros africanos do centro, do sul e
do leste do continente, que apresentam características
linguísticas comuns e modo de vida determinado por
atividades a�ns.”
A expansão banta tem poucas fontes acerca de seu
começo. Vestígios arqueológicos, fósseis — o trabalho
magní�co dos griôs, por exemplo —, permitem que você
saiba um pouco sobre povos que têm muita ligação com a
formação da sociedade brasileira em virtude do escravismo
colonial, que estendeu-se ao Império no século XIX.
Há certo consenso sobre a expansão banta ter surgido por
volta de 4.000 anos atrás. O povo banto concentrava-se
próximo a rios, como o litoral dos rios Níger e Congo. Isso
não quer dizer que o “povo banto” fosse homogêneo,
uniforme, padronizado. Na verdade, havia uma diferença de
línguas e dialetos.
 Expansão banta e seus territórios. Fonte: Wikipédia (2020).
Com o aumento populacional houve deslocamento para diversas áreas. Esse processo foi lento e gradativo. O aumento da
população sobre terras escassas foi um dos motivos para a expansão banta.  
Os primeiros núcleos bantos surgiram na atual Nigéria, em direção ao leste e ao sul do continente. No sul, houve a organização,
no rio Congo, de um núcleo mais centralizado por volta de 1500 AEC. Entre 1000 e 500 AEC houve migração do leste, que havia
se �xado no Lago Vitória e avançou para o sul, também em busca de acesso ao rio Congo.
Dessa forma, qual a sua análise acerca dessas migrações?
Certamente, que houve con�itos armados entre os povos que haviam se
estabelecido primeiro na região do Congo com aqueles que surgiram depois.
Tanto aqui quanto em outros contatos decorrentes de migrações há uma
situação importante para seu estudo: con�itos podem ter sido a marca
inicial, mas houve depois acomodações.
Povos que viviam do extrativismo acabavam por ser dominados por outros ligados à caça, por exemplo, mas depois houve
integração cultural, fosse de ordem linguística ou religiosa. Assim, esses povos passaram a ter pontos em comum. O que os
uniu gerou o que você leu acima: ancestralidade em comum.
O povo Iorubá
Um dos povos derivado do tronco banto é o famoso povo iorubá, um dos maiores da África Ocidental. O iorubá ou ioruba (Èdè
Yorùbá, "idioma iorubá") é um idioma da família linguística nigero-congolesa, e é falado ao sul do Saara, na África, dentro de um
contínuo cultural-linguístico, por 22 milhões a 30 milhões de falantes.  
O povo iorubá teve grande in�uência na formação da sociedade brasileira, por conta da presença de escravos dessa origem.
Tinham autoestima elevada e visão muito positiva sobre sua comunidade. Isso é nítido quando você descobre que “iorubá”
signi�ca “umbigo do mundo”, ou seja, o centro da criação do Universo.
 Os Iorubás. Fonte: Civilizações Africanas
Seu mito de origem tem um deus supremo, Olodumaré, que enviou ao mundo terreno um semideus, Odudua, com um saco
cheio de terra, uma palmeira de dendê e uma galinha (algo típico da natureza em que viviam). Ao colocar a palmeira de dendê
Olodumaré esqueceu-se de tomar conta da galinha, que acabou por ciscar a terra por todos os lados.
As terras espalhadas geraram a formação do mundo. A palmeira engendrou 16 troncos, que seriam os reinos iorubás. O local
onde Olodumaré plantou a palmeira foi Ifé.
Esse é o mito de origem que foi perpetuado pela tradição oral. Ilê-Ifé ou Ifé era uma cidade-estado formada a partir do século
VI dentro da �oresta tropical e próxima do rio Níger, na atual Nigéria. Ifé desenvolveu-se, mas não suportou a pressão do
reino vizinho, o Império de Oyó, que possuía um exército dominante e mais poder político entre 1600 e 1800.
Assim, prezado estudante, veja como são a criação do mito de origem e os fatos históricos. Segundo o mito, o povo iorubá
estava presente desde o início dos tempos imemoriais, mas, de acordo com os fatos, houve uma força advinda de invasão por
parte de um reino vizinho — além de ignorar as várias migrações que levaram centenas e centenas de anos como você viu
anteriormente.
Após a queda Ilê-Ifé foi criado não um império, mas uma
confederação de cidades-estado na região, com destaque
maior para a cidade-estado de Oyó. A maioria dessas
cidades era comandada pelos obás (líderes políticos,
militares e religiosos). Nas cidades iorubás, o palácio do obá
�ca no centro e ao seu redor estão as habitações de seus
descendentes.  
O reino é hereditário a partir da ascendência paterna. Os
descendentes vivem juntos, partilham alguns nomes e tabus
e também participam de diversas associações, como a aro,
uma associação de ajuda aos trabalhadores da terra.  
1
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
 Mulher iorubá com criança. Fonte: Wikipédia – Tropenmuseum (2020).
 O artesanato
 Clique no botão acima.
https://estacio.webaula.com.br/cursos/gon213/aula6.html
Uma das marcas mais impressionantes desse povo foi sua produção artesanal. Eles nos deixaram como legados
estátuas de terracota, esculturas de bronze, muito trabalho com tecidos (especialmente de algodão), madeira, vidro e o
já citado na aula de hoje, o ferro.
Os rostos das máscaras e esculturas iorubás impressionam pelo equilíbrio e pela harmonia, algo que sensibilizou o
pinto espanhol Pablo Picasso e lhe serviu de referência em várias de suas telas no século XX.  
A arte iorubá permite um paralelo muito grande com a arte do Renascimento europeu do século XVI. A busca pela
perfeição do corpo humano, especialmente do rosto, a simetria, as emoções retratadas, as mais variadas técnicas
usadas para uma única obra de arte, cabeças pintadas como na Grécia Antiga. 
Muito de sua arte foi conectada à sua religião. Esculturas, pinturas ou máscaras de Oxum, Ogum, Obatalá, por
exemplo, são frequentes.
Essas divindades chegaram ao Brasil por conta do contato com os europeus durante a expansão marítima do século
XVI, que estabeleceu feitorias , em portos, principalmente de portugueses, para o escoamento do trá�co humano. A
in�uência portuguesa foi tão grande que rebatizou de Lagos uma das cidades iorubás em homenagem a uma cidade
de Portugal. Lagos é atualmente a maior cidade da Nigéria, situada no sudoeste desse país.
 Arte iorubá. Fonte: Wikipédia (2020).
Os povos iorubás têm maioria formada por cristãos atualmente (católicos, metodistas, anglicanos, presbiterianos etc.), cerca
de 25% de muçulmanos e um pequeno resíduo de seguidores da religião nativa.
O povo Hauçá
O povo hauçá localizava-se no Sudão central, cercado ao norte pelos montes Air e ao sul pelo Planalto de Jos, o Vale do Rio
Níger. A língua hauçá era dominante nas savanas do Sudão. Houve grande miscigenação de povos por conta do Vale do Níger
ter sido um grande polo de atração para os vizinhos. Assim os povos falavam o hausawa (“aquele que fala o hauçá”).  
Há hipóteses para a origem desse povo. Uma dasmais frequentes remete à migração de povos que viviam ao sul do Saara
antes de sua deserti�cação e que foram para o sul em busca de água. Como o local era pouco povoado, com povos de culturas
tradicionais, não houve lutas por territórios.  
Nada pode ser muito comprovado sobre os hauçás em virtude de haver poucas fontes até o século XVI.
A organização do poder era baseada em famílias, que eram
responsáveis por pequenas aldeias. O território foi dividido em um
agrupamento de aldeias que formavam vilas (gari) comandadas por
um magajin gari (chefe da vila) que, por sua vez, eram subordinadas
ao sarkin kasa, o chefe do território uni�cado.
Assim, podemos dizer que os hauçás organizaram-se no
território de Kano, que começou com lideranças locais, mas
acabou por submeter-se a um poder central em meados do
século XIV, com exceção do território de Santolo.
Para sufocar a rebeldia de Santolo, o líder de Kano, Yaji
(1349–1385), pediu ajuda aos árabes que praticavam
comércio pelo Saara. A presença árabe trouxe a
consolidação de Kano sobre seus vizinhos, mas também
uma mudança em seu per�l.
 Localização do reino de Kano. Fonte: Wikipédia (2020).
Durante o governo de Dauda (1421–1438) in�uência estrangeira aumentou, especialmente com a chegada a Kano de um
príncipe refugiado do Bornu, um reino do século XIV situado em parte dos atuais Nigéria, Chade e Camarões. Com seus
homens e muitos estudiosos do Islã, além de presentes como cavalos, tambores, trombetas e bandeiras, o povo de Bornu
trouxe conceitos mais so�sticados de administração e, a partir desta época, referências de cargos muçulmanos passaram a
ser usadas em Kano. 
Com o Reino de Kano centralizado e cobrando tributos das cidades hauçá vizinhas houve prosperidade, o que permitiu a Kano
lançar-se ao comércio transaariano ligado à noz-de-cola ou abajá — fruto cujo extrato de suas sementes (ricas em cafeína com
efeito no sistema nervoso e muscular) era muito útil para as longas travessias das caravanas no deserto. Logo, os árabes
passaram a ter mais interesse no Reino de Kano.
Com a presença de um grupo de estudiosos como já visto, os árabes in�uenciaram na islamização de grupos dirigentes. Além
de cargos políticos e sacerdotais, houve leituras do Corão, instituição do Ramadã e criação de haréns.
Saiba mais
No entanto, a islamização foi restrita às classes dirigentes, aos líderes, família real, burocratas (muitos eram eunucos, de acordo
com a tradição islâmica, como você já estudou) e comerciantes (para estreitarem relações no comércio transaariano) com um
conselho chamado de “os 9 de Kano”, que funcionava como se fosse um ministério.
É importante destacar que a islamização não signi�cou repressão interna de caráter religioso, pois os islâmicos não exigiram
monopólio religioso. A população rural continuou a usar magia e práticas rituais, consideradas “heréticas” pela elite local.
 O Islã apoiava a centralização política para obter certeza de suas transações comerciais. A partir dessa centralização, as
culturas aldeãs gradativamente começaram a perder força, principalmente entre os mais jovens, o que di�cultou a transmissão
de seus cultos milenares.
Atenção
A introdução do islamismo trouxe para os hauçás uma mudança signi�cativa, que já foi vista em aulas anteriores. Uma sociedade
que tinha agra�a (ausência de escrita) como marca, passou a ser letrada (em árabe) pelos eruditos de origem árabe ou nativos
convertidos. 
Para aumentar a conversão, com o passar das décadas surgiu a escrita em hauçá. O letramento acabou por ser um mecanismo
de controle do Estado de Kano (controle de tributos, por exemplo) e de distinção social.
A economia hauçá tinha grande inclinação para a metalurgia, pois os hauçás tinham jazidas de ferro e muita madeira para a
construção de fornos. Seus solos eram férteis pela proximidade do rio Níger, onde havia plantações de arroz, sorgo, algodão e
índigo, por exemplo. 
As práticas agrícolas eram as mais importantes na economia hauçá. O ferro, mesmo sendo importante como você viu ao
estudar os iorubás, não permitia a fabricação de grandes armas ou equipamentos, voltando-se para utensílios de cozinha,
facas e machados.  
Suas vilas tinham grande número de pessoas, ruas organizadas e casas construídas sob a supervisão do Estado. As cidades
tinham funções especí�cas, como as que eram ligadas ao comércio, à agricultura ou à defesa militar.
Comentário
Quanto ao comércio é importante atentar para um detalhe: por ser um reino entre o Sahel e a �oresta tropical, tinha possibilidade
de fazer parte das rotas do comércio transaariano, o que consolidou-se com a presença de comerciantes árabes na região.
Artigos como tecidos feitos de algodão, couro, penas de animais, borracha eram trocados por mercadorias que vinham do
Magreb ou do Saara, como sal, cavalos, pérolas, vidros.  
Os hauçás participaram do comércio interno de escravos que viviam em comunidades mais ao sul para vendê-los para a
Península Arábica ou para o norte da África. Também havia escravidão nas cidades hauçás para serviços domésticos ou na
agricultura.
Do sul, do atual território da República de Gana, vinha a noz-de-cola das quais os hauçás eram intermediários, uma
característica forte em suas cidades comerciais — o papel de entreposto de mercadorias entre as regiões norte e sul da África.
Atividade
1. As sociedades tradicionais estudadas neste capítulo apresentam muitas semelhanças, como a tradição oral, o apoio aos
anciãos, a família como núcleo principal de organização. Porém, mesmo com tantas semelhanças havia um número razoável de
con�itos ocorridos por séculos. Apresente o principal motivo para os con�itos entre essas sociedades.
2. Uma das características do Reino de Kano após a islamização de suas elites foi desenvolver um Estado cada vez mais
centralizado. Aponte um efeito negativo e um outro efeito positivo dessa centralização.
3. Mitologia é um componente essencial para discutir as sociedades e a partir dela podemos elaborar diversas re�exões.
Discuta a relação entre mito e história utilizando exemplos africanos.
Notas
Ilê-Ifé 1
Sobre as cidades iorubás, uma questão é importante: a queda de Ilê-Ifé não signi�cou sua extinção. Ao contrário, tornou-se um
centro religioso para os iorubás e motivo de peregrinação, como Jerusalém ou Meca.
Referências
BENISTE, J. Mitos Yorubás: o outro lado do conhecimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
LOPES, N. Bantos, Males e identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
OGOT, B. A. História geral da África, V: África do século XVI ao XVIII. Unesco. Disponível em:
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000190253. Acesso em: 15 out. 2020.
SILVA, A. C. A Manilha e o Libambo: a África e a escravidão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
Próxima aula
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Identi�car a estrutura organizacional do Reino do Congo e de povos da África Oriental subsaariana;
Analisar as características políticas, econômicas e sociais do Reino do Congo e da África Oriental;
Relacionar a presença portuguesa com o trá�co negreiro no início da Idade Moderna.
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