Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
- -1 HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I A FORMAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA: PRIMAVERA DOS POVOS - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1- Definir a Primavera dos Povos; 2- Comparar os movimentos de 1830 e 1848; 3- Analisar a importância desses movimentos para a formação da classe operária. Introdução Nesta aula, veremos os movimentos revolucionários de 1830 e 1848, articulando os interesses da classe trabalhadora e da burguesia e identificando a importância das teorias socialistas nesse contexto. 1 A onda liberal O grande marco do século XVIII na Europa foi, certamente, a , que consolidou um século deRevolução Francesa conquistas burguesas. As revoluções burguesas1 sacramentaram de forma definitiva as demandas políticas da burguesia europeia. Um dos principais saldos dos processos revolucionários foi o fim do sistema absolutista. 1Os cujos exemplos mais significativos foram as revoluções Inglesa e Francesa de 1640 e 1789 respectivamente. O Antigo Regime, porém, deixou resquícios nos estados europeus, que seriam responsáveis pela nova onda revolucionária que eclodiria durante o século XIX. O século XIX é a época do triunfo do liberalismo. Atenção Não foi à toa que os diversos movimentos que percorreram o mundo ficaram conhecidos como onda liberal. Seus efeitos foram sentidos não só na Europa, palco privilegiado desses eventos, mas em todo o mundo. Como exemplo podemos citar a Revolução Liberal do Porto, de 1820. - -3 Figura 1 - Revolução Francesa 2 Família real no Brasil Quando a família real veio para o Brasil, em 1808, Portugal foi deixado à própria sorte, com um imenso vazio de poder. Com a abertura dos portos às nações amigas, todo o comércio ultramarino português passou a se dar por meio dos portos brasileiros, levando a (Notadamente as que comercializavam pelos portos deburguesia mercantil Lisboa e da cidade do Porto.) portuguesa a uma grave crise financeira. Em agosto de 1820, os militares estabeleceram a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino e rapidamente conseguiram a adesão não só da população mas também do clero. - -4 Figura 2 - Família Real A Vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil foi um acontecimento inédito na história mundial, já que nunca antes uma corte completa havia deixado seu reino para se alojar em uma colônia, especialmente em terras tão distantes quanto o Brasil. Partiram do porto de Lisboa em 29 de novembro de 1807 a (Conhecidarainha Maria I como “A Louca” pois tinha problemas mentais.), o príncipe regente D. João, sua esposa, a princesa Carlota Joaquina, e outras centenas de nobres e (cerca de dez mil pessoas.).funcionários reais A partida foi feita com urgência, quase uma fuga, já que a família real estava sob ameaças do imperador da França, Napoleão Bonaparte, que prometera invadir Portugal, aprisionar a corte e destituir o príncipe regente. Eles embarcaram em mais de 50 navios que tinham como destino a maior colônia portuguesa, o Brasil. Os revoltosos reivindicavam a volta imediata da corte a Portugal, uma nova Constituição baseada em princípios liberais e a recolonização do Brasil, que havia sido elevado a Reino Unido de Portugal e Algarves. Diante das pressões da sociedade portuguesa, não restou outra saída a Dom João VI a não ser o retorno imediato a Portugal, deixando seu filho Dom Pedro I como regente do Brasil. Atenção A demanda revolucionária pela recolonização, por sua vez, precipitou a independência, proclamada em 7 de setembro de 1822. - -5 Figura 3 - Dom Pedro I 3 Liberalismo Como podemos ver, a onda liberal de fato se alastrou pelo planeta. Quando falamos em , pensamos imediatamente em e no estabelecimento de umliberalismo1 Adam Smith sistema econômico baseado sobretudo na autorregulação do mercado. 1Frequentemente, liberal tem sido usado como oposição a conservador, tendo este o significado relacionado ao Antigo Regime. Na política, o liberalismo, a exemplo do que se percebe na economia, prega o Estado mínimo, com atribuições definidas e limitadas. Essa concepção seria fundamental para o pleno desenvolvimento dos estados contemporâneos. Como corrente filosófica, o liberalismo pode ser localizado no contexto do movimento iluminista, que, por sua vez, seria a base ideológica dos mais diversos movimentos, da independência dos Estados Unidos à Revolução Francesa. Esquecemos, no entanto, que o liberalismo é, acima de tudo, uma filosofia política cuja premissa fundamental é a .defesa da liberdade Segundo René Rémond: Trata-se também de uma , na medida em que coloca o indivíduo àfilosofia social individualista frente da razão do Estado, dos interesses de grupo, das exigências da coletividade; o liberalismo não conhece nem sequer os grupos sociais, e basta lembrar a hostilidade da Revolução no que dizia respeito às organizações, às ordens, à desconfiança que lhe inspirava o fenômeno da associação, sua - -6 repugnância para reconhecer a liberdade de associação, de medo que o indivíduo fosse absorvido, escravizado pelo grupo (1974, p. 26). 4 Era Napoleônica Na França, após a revolução de 1789, tem início a , que tem como um dos saldos maisEra Napoleônica importantes a redefinição do mapa geopolítico europeu. Napoleão havia invadido e conquistado diversos reinos. Quando deixa o poder, é necessária uma nova definição das fronteiras desses reinos, bem como a reorganização interna desses estados. Esse novo arranjo foi feito pelo , entre 1814 e 1815, que reconduziu diversos monarcas aoCongresso de Viena trono. Napoleão inaugurou uma nova era que, ao terminar, reconfigurou o mapa político da Europa e mudou toda a sua história, refletindo até mesmo em outros continentes. Após a derrota de Napoleão, a monarquia na França foi restaurada pela dinastia Bourbon, assumindo o trono o rei Luís XVIII. Havia, porém, muitos desafios nesse processo de restauração monárquica para o Estado dar conta. Era necessário conciliar os interesses da aristocracia e da burguesia, as mais influentes classes políticas desse período. Isso implicou uma disputa pelo poder entre essas classes. Com a progressiva industrialização da França, outra classe social surge no cenário político também para reivindicar direitos: o proletariado. Atenção Devemos lembrar que, embora a Revolução Industrial tenha ocorrido primeiramente na Inglaterra no século XVIII, no século seguinte ela se espalha por diversos países, sendo esse momento chamado de Segunda Revolução Industrial. - -7 Figura 4 - Luís XVIII 5 A nova Constituição Luís XVIII outorgou uma nova Constituição, que aliava conquistas obtidas na Revolução Francesa, como a e a , com princípios remanescentes do Antigo Regime.liberdade de pensamento igualdade jurídica Ainda que tenha mantido a divisão dos três poderes, exercendo apenas o Poder Executivo, a Constituição real estabeleceu o (Por renda.), o que fez cair radicalmente o número de eleitores na França.voto censitário Nesse contexto, podemos destacar a atuação de três grupos: Ultrarrealista Grupo constituído pela nobreza e liderado por Carlos de Bourbon, o Conde de Artois. Liberais Liderados por La Fayette, que defendiam as conquistas da Revolução Francesa. Constitucionalistas Desejavam a obediência irrestrita à Constituição, liderados por Guizot. Luís XVIII morre em 1824, e seu irmão, líder dos ultrarrealistas, sobe ao trono com o título de Carlos X. O rei contava com grande apoio dos nobres, ao qual retribuía estabelecendo (Como exemplo podemos citar a leileis das indenizações.) que os favorecessem. - -8 Quando ocorreu a Revolução Francesa, muitos nobres foram perseguidos e alguns deles fugiram para outros reinos. Seus bens foram confiscados e incorporados ao patrimônio do Estado. Com a restauração, esses nobres puderam retornar à França fazendo parte dos ultrarrealistas. A lei das indenizações previa que a nobreza deveria receber pagamento pelos bens que os revolucionários haviam confiscado. Figura 5 - Carlos X 6 A Revolução de 1830 Apesar doapoio dos nobres, não podemos esquecer que havia eleições para as câmaras. Em 1830, essas eleições garantiram a vitória aos liberais, que, com isso, passaram a fazer oposição aos privilégios da nobreza. O rei suprimiu a oposição com vigor: determinou o fim da liberdade de imprensa, dissolveu a Câmara e convocou novas eleições. O que o Carlos X parecia não compreender é que as revoluções burguesas deram um fim ao absolutismo monárquico e as tentativas de restaurá-lo implicariam conflito. Diante das medidas autoritárias do Estado, o povo se revoltou. A imprensa recusou-se a seguir as leis e continuou exercendo a liberdade de expressão que havia sido tão duramente conquistada. - -9 As ruas de Paris foram tomadas pelas barricadas, reprimidas com violência pelas forças repressivas. Entre 27 e 29 de julho, houve uma intensa luta na capital francesa, que ficou conhecida como os três dias gloriosos. Ao final, o rei foi deposto e obrigado a fugir. Segundo George Rudé: Depois de três dias de luta ― ― o pretendente orleanista, Luís Felipe, foiles Trois Glorieuses elevado ao trono por um acordo político de banqueiros e jornalistas, e aclamado pelo povo na Municipalidade. Esse é o resumo da narrativa tradicional da revolução. Mas é claro que ela encerra outros aspectos, como os historiadores modernos ― muitos dos quais norte-americanos ― bem mostraram. Em primeiro lugar, o resultado não agradou a todos: dos dois aliados, la blouse et le redingote, como os chamou Edgar Newman, a blouse (trabalhadores) foram enganados, e a vitória explorada no interesse exclusivo do redingote (os empregadores). Mas os trabalhadores se recusaram a tirar al castanhas do fogo para a burguesia e, tendo desempenhado seu papel, começaram a apresentar reivindicações próprias. Foram os tipógrafos, cujos empregos dependiam da sobrevivência dos jornais de Paris, que deram o exemplo: ficaram tão alarmados com as antiliberais Ordenanças de Saint-Cloud de Carlos X quanto os jornalistas e políticos burgueses. Por isso, foram os primeiros a sair às ruas, liderando os outros trabalhadores de Paris (...) (1982, p. 108). A importância da Revolução de 1830 A Revolução de 1830 na França é importante para entendermos a consolidação do poder burguês. Esse evento inspirou diversas obras. Entre as mais importantes está , de Victor Hugo, que emOs miseráveis 2012 ganhou uma nova adaptação ― a terceira ― para o cinema, recebendo diversos prêmios. Sua história destaca a resistência dos rebeldes e a repressão feroz do exército. A deposição do rei permitiria a instalação de um regime republicano na França, a exemplo do que ocorrera em 1792, quando o país viveu sua Primeira República, mas não foi o que se deu. Apesar das simpatias pela república, a burguesia apoiou a monarquia constitucional e teve início a monarquia de julho, cujo governo foi entregue ao Duque de Orléans, que assumiu o trono com o título de Luís Felipe I. Os miseráveis é uma das principais obras escritas pelo escritor francês Victor Hugo, publicada em 3 de abril de 1862 simultaneamente em Leipzig, Bruxelas, Budapeste, Milão, Roterdã, Varsóvia, Rio de Janeiro e (EmParis Paris forma vendidos 7 mil exemplares em 24 horas.). A história passa-se na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a (1815) e os Batalha de Waterloo .motins de junho de 1832 Victor Hugo é também autor de Os trabalhadores do mar e O corcunda de Notre-Dame, entre outras obras. - -10 A importância da leitura O governo de Luís Felipe I foi uma monarquia constitucional, como desejavam os burgueses. Não à toa, seu reinado pode ser considerado a era de ouro da burguesia. O regime adotado tinha claras inspirações liberais, o que foi fundamental para o desenvolvimento da revolução industrial francesa. Segundo Eric Hobsbawm: Teoricamente, a França de Luís Felipe devia ter partilhado da flexibilidade política da Grã-Bretanha, da Bélgica, da Holanda e dos países escandinavos. Na prática, isto não aconteceu, pois, embora fosse claro que a classe governante da França ― os banqueiros, financistas e um ou dois grandes industriais ― representava somente uma parcela dos interesses da classe média e, além disso, uma parcela cuja política econômica não era apreciada pelos elementos industriais mais dinâmicos, bem como pelos diversos velhos resíduos feudais, a lembrança da Revolução de 1789 se constituía em um obstáculo para a reforma. A oposição consistia não só de uma burguesia descontente, mas também de uma classe média inferior politicamente decisiva, especialmente em Paris (1982, p. 330). Apesar do estabelecimento de uma monarquia constitucional, os ideais republicanos não esmoreceram e, embora de início esse reinado tenha assumido uma aparência democrática, aos poucos, à medida que surgiam novos conflitos de interesses ― entre burgueses e operários, por exemplo ― e cresciam os movimentos republicanos, a política repressiva do Estado endureceu, causando grande descontentamento entre a população, o que levou à sua deposição em 1848 e à instauração da Segunda República francesa. 7 O Congresso de Viena No rastro da Revolução de 1830 na França, outros movimentos eclodiram na Europa. Fique ligado Assista a versão 2012 de Os miseráveis. - -11 O Congresso de Viena havia reunido Holanda e Bélgica em um único reino denominado Países Baixos. Entretanto, as diferenças entre eles eram visíveis e, aparentemente, irreconciliáveis. Como obstáculos podemos destacar não só o idioma e a (Os belgas eram católicos e os holandesesreligião protestantes.), mas também a marcada diferença acerca do papel do Estado no tocante à economia. Os monarcas europeus discutem a reorganização do mapa político da Europa pós-Napoleônica. Obra que retrata o Congresso de Viena (1814 - 1815), que redefiniu o mapa da Europa. A eclosão da Revolução Belga Enquanto os holandeses já detinham um sistema mercantil organizado e, por isso, eram adeptos do liberalismo, os belgas ainda necessitavam do controle e do protecionismo estatal para desenvolver sua indústria nacional. Além disso, o rei Guilherme I favorecia claramente os holandeses em detrimento dos belgas. Em 1830, eclodiu a , que desejava a independência do reino.Revolução Belga2 2A Revolução Belga foi o conflito que levou à secessão das províncias do sul do Reino Unido dos Países Baixos e estabeleceu o independente Reino da Bélgica. A revolução belga de 1830 fez os habitantes das províncias do sul do Reino dos Países Baixos rebelarem-se contra a hegemonia das províncias do norte, principalmente protestantes. Grande parte da população do sul eram católicos romanos, de língua francesa, ou liberais, que consideravam o governo do rei Guilherme I como despótico. Houve altos níveis de desemprego e inquietação industrial entre as classes trabalhadoras. Dentro de algumas semanas de agosto e setembro resultou-se a revolta e secessão de Flandres, Valônia e a formação da Bélgica. Apenas parte de Luxemburgo permaneceu até 1890, em união pessoal com o Reino Unido dos Países Baixos. Em 1831, os belgas empossaram Leopoldo I como rei, aderindo ao regime de monarquia constitucional. O conflito com os holandeses se arrastou até 1839, quando a foi finalmente reconhecida.independência belga - -12 Figura 6 - Episódio da revolução belga de 1830, Gustaj Wappers (1834) – Museu de Arte Moderna, em Bruxelas. 8 A Primavera dos Povos As revoluções de 1830 foram o ponto de partida para a Primavera dos Povos, ocorrida em 1848, que podemos definir como uma onda revolucionária em diversos reinos europeus. Se, no caso das revoluções de 1830, podemos destacar o conflito de interesses entre os burgueses e a aristocracia, nas revoluções de 1848, podemos apontar a disputa entre projetos de Estado: liberal, nacionalista e socialista. Como em qualquer movimento, não é possível apontar uma única causa para sua ocorrência. Ele é fruto da conjuntura e das mudanças, incluindo as formas de pensamento, que percorriam a Europa no século XIX. Embora hajaa tendência de olhar a Primavera dos Povos do ponto de vista político ou econômico, esse movimento demanda outros olhares, tendo sido importante para a formação da sociedade europeia contemporânea. - -13 Figura 7 - Barricadas nas ruas de Paris durante a Revolução de junho de 1848. Ainda que a Revolução Industrial tenha ocorrido no século XIX, a agricultura se mantinha como um dos pilares econômicos. Entre 1846 e 1848, o continente sofreu uma severa crise agrária, resultando em parcas colheitas. A escassez de alimento fez com que este tivesse seu , causando uma enorme entre apreço aumentado fome população mais pobre. Temos de encarar essa questão como um ciclo: Se a população não conseguia comprar os gêneros básicos para sua sobrevivência, tampouco poderia arcar com o custo de gêneros que não são indispensáveis, como tecidos e manufaturados. Como um castelo de cartas, a crise agrária afetou toda a economia, já que implicou a diminuição da produção industrial, que encalharia por falta de compradores. Segue-se então outro ciclo: se as fábricas produzem menos, precisam de menos trabalhadores, gerando o desemprego. Sem salário, a população comprava cada vez menos, o que, por sua vez, gerava ainda mais desemprego, pois provocava o fechamento das fábricas. - -14 Podemos entender a economia como o mecanismo de um relógio. Se uma peça para de funcionar, toda a máquina entra em colapso, pois todos os aspectos estão interligados. Segundo Eric Hobsbawm: A terceira maior das ondas revolucionárias, a de 1848, foi o produto desta crise. Quase que simultaneamente, a revolução explodiu e venceu, temporariamente, na França, em toda a Itália, nos Estados alemães, na maior parte do império dos Habsburgo e na Suíça (1847). De forma menos aguda, a intranquilidade também afetou a Espanha, a Dinamarca e a Romênia; de forma esporádica, a Irlanda, a Grécia e a Grã-Bretanha. Nunca houve nada tão próximo da revolução mundial com que sonhavam os insurretos do que esta conflagração espontânea e geral, que conclui a era analisada neste livro. O que em 1789 fora o levante de uma só nação era agora, assim parecia, “a primavera dos povos” de todo um continente (Hobsbawm, 1982). Analisando os impactos na Itália, França e Alemanha Itália O movimento de 1848 teve início na , que ainda não havia se unificado.Itália3 A partir de 1846, tanto o papa Pio IX quanto o rei Carlos Alberto, do Piemonte-Sardenha, estabeleceram .reformas liberais4 A partir de então, diversos movimentos, procurando instaurar a República e estabelecer o liberalismo, espalharam-se pelos estados italianos. As revoltas só puderam ser contidas com o apoio de outras potências, como a França e a Áustria, que restauraram a ordem anterior. 3O caso italiano é peculiar, pois, além dos reinos, havia os estados papais, sob o domínio da Igreja. Os estados do Norte e do Centro eram mais industrializados, e o Sul italiano marcadamente agrário. Essa diferença regional era também um entrave ao processo de unificação. 4Essas reformas inspiraram a eclosão de movimentos no Sul, cuja política era ainda bastante conservadora, especialmente no que tange às liberdades fundamentais, como o direito à liberdade de expressão. Atenção - -15 É importante ressaltar que as monarquias não tinham, é claro, interesses republicanos e buscavam reprimir esses movimentos onde quer que ocorressem para que pudessem manter a ordem estabelecida. Embora esses reis tenham feito reformas, adotado novas constituições e se inspirado no liberalismo, a ordem monárquica permanecia intacta, o que ia de encontro aos interesses democráticos da população. França Na França, o movimento de 1848 culminou com a deposição do rei e a instauração da República. Três correntes principais se opunham ao rei Luís Felipe: - - que defendiam a volta de um Bourbon ao trono ― o rei era da casa Real de Orléans;Legitimistas - - que apoiavam Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão.Republicanos e os bonapartistas A crescente crise política e econômica de que já falamos acabou por levar Luís Bonaparte ao poder, em um .regime republicano Seguindo os passos de seu tio Napoleão Bonaparte, Luís deu um golpe de estado em 1851 e restaurou novamente a monarquia, sagrando-se imperador. Alemanha A Alemanha, a exemplo da Itália, também não havia se unificado, mas vigorava, desde 1834, o .Zollverein5 As monarquias alemãs possuíam forte influência absolutista, e as reformas liberais eram poucas ou insuficientes para suprir as necessidades de um mercado em constante expansão. Tanto no caso da Itália quanto no da Alemanha, o nacionalismo foi uma nota em comum. Mais do que o liberalismo, os anseios nacionalistas estiveram na base dos movimentos que afetaram não só a Prússia, mas também a Áustria, a Hungria e outros estados. 5Autor de "uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações”, a sua obra mais conhecida, e que continua sendo usada como referência para gerações de economistas, na qual procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos inclusive pelo seu próprio interesse, promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica. A participação da classe trabalhadora Em comum, todos esses movimentos possuem a participação ativa da classe trabalhadora. Dessa forma, seu caráter é diferente daquele percebido nas revoluções burguesas. Os trabalhadores reivindicam melhores condições de vida e, mais tarde, direitos trabalhistas. Essas demandas ganham força especialmente após a Revolução Industrial, pois o desenvolvimento econômico não implicou a melhoria das condições de vida dessa classe. Atenção - -16 É importante ressaltar que o desenvolvimento do capitalismo evidenciou as contradições sociais. Por um lado, uma que enriquecia; por outro, uma ― que gerava a riqueza ― cada vez maisburguesia classe operária empobrecida. As ideias socialistas Foi nesse contexto apresentado que as ideias socialistas ganharam força; embora o socialismo científico tenha sido sistematizado sobretudo por (A crítica à propriedade privada, que tomaria corpo com Marx,Karl Marx também pode ser encontrada em Rousseau e em Proudhon, entre outros.), as ideias socialistas podem ser encontradas em (Como de Thomas Morus, que atribuía à propriedade privada a origem daobras A utopia, injustiça social.) que remontam ao século XVI. Diferentemente dos chamados (Analisam as causas da injustiça e da desigualdade social,socialistas utópicos sem estimular meios para exterminá-las.), Marx propõe, em O capital, o socialismo científico, ou seja, estabelece propostas e mudanças sociais que implicam a substituição do capitalismo pelo socialismo. Em 1848, o ano da , é publicada uma de suas obras mais conhecidas, O manifestoPrimavera dos Povos comunista, escrita em parceria com Friedrich Engels. Nela, Marx chama o operariado à união pela luta de seus direitos e pela transformação social em busca de melhores condições de vida e de trabalho. Em O manifesto comunista, Marx e Engels afirmam que: A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão, velhas formas de luta por outras novas. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado (Marx; Engels, 2012). 9 Finalizando Por que o socialismo foi tão importante e alcançou rapidamente a classe trabalhadora? Porque falava diretamente acerca das condições de vida e de trabalho às quais esses indivíduos eram submetidos. Se o iluminismo vinha ao encontro dos anseios burgueses, o socialismo era a resposta ideológica às necessidades do proletariado que surgia. - -17 A Primavera dos Povos foi rapidamente suprimida pelos estados europeus, mas ficoupara a história como um levante que demonstrava não a insatisfação de uma classe burguesa, que desejava mais poder político, mas de uma classe trabalhadora que se havia mantido calada até então e cujos movimentos eram suprimidos com violência. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você vai estudar: • Resistência operária: luddismo e cartismo; • A Comuna de Paris; • Nacionalismo: as unificações italiana e alemã. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Identificou os princípios do liberalismo; • Comparou os movimentos de 1830 e 1848; • Relacionou argumentos para compreender a importância do surgimento do socialismo científico no século XIX. Saiba mais Foi por seu caráter popular e de insatisfação com a ordem estabelecida que os movimentos ocorridos nos países árabes recentemente ficaram conhecidos como Primavera Árabe, em uma clara alusão à Primavera dos Povos. Tanto aquele movimento do século XIX quanto esse do século XXI exigem a mudança de um regime que ficou estagnado no poder e não acompanhou as mudanças sociais que ocorreram a seu redor. • • • • • • Olá! 1 A onda liberal 2 Família real no Brasil 3 Liberalismo 4 Era Napoleônica 5 A nova Constituição 6 A Revolução de 1830 7 O Congresso de Viena 8 A Primavera dos Povos 9 Finalizando O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
Compartilhar