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Educação Inclusiva Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências • Refletir sobre a complexidade de lidar com as diferenças e com as pessoas com deficiência; • Reconhecer os indivíduos como tais, a partir de suas potências, e não a partir das diferenças e das deficiências que ele apresenta, como se isso fosse um limite; • Discutir os estigmas internalizados pelo corpo social que geram discriminação e preconceito para com as pessoas com diferenças e deficiências em relação à norma de conduta social; • Estabelecer parâmetros para a definição de deficiência, as modalidades e os níveis de prevenção (primária, secundária e terciária), bem como a atuação do profissional da Área de Educação. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Deficiência Auditiva; • Deficiência Neuromotora ou Física; • Deficiência Visual; • Surdocegueira; • Deficiência Intelectual; • Deficiência Mental; • Deficiência Múltipla; • Transtornos do Espectro Autista; • Como Vencer as Barreiras do Preconceito? UNIDADE Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências Contextualização Como já dissemos na Unidade anterior, o contato com a diferença/deficiência não é algo tão simples, porque nem sempre faz parte do cotidiano da maioria das pessoas. Estar frente ao diferente/deficiente nos coloca diante das nossas próprias limita- ções, da ferida narcísica de cada um de nós. Geralmente, mantemos uma postura defensiva e acionamos os mecanismos de defesa, como forma de nos protegermos diante do desconhecido ou da ameaça da imperfeição ou da deficiência, que teme- mos que possa nos atingir. 8 9 Introdução Os conceitos, em geral, são produzidos em contato com o conhecimento científico de sua época e com as condições de vida social e cultural das Sociedades em ques- tão. Esse processo leva em conta fatores econômicos, sociais, culturais e históricos. Não é incomum, por exemplo, que as pessoas enxerguem a deficiência inte- lectual a partir da ótica da limitação, entendendo essa questão a partir do que supostamente as pessoas com deficiência não são capazes de fazer, dando ênfase, portanto, às dificuldades. Essa conceituação tem vínculo histórico com um sistema de crenças antigo, que era sustentando, dentre outras causas, por compêndios médicos que descreviam a deficiência intelectual como limitadora dos sujeitos, que enfatizavam um déficit cogni- tivo apresentado e que projetavam como consequência a incapacidade de adaptação desse indivíduo nos círculos sociais de aprendizado. Essa visada conceitual é notadamente marcada por uma expectativa de normati- zação da Sociedade e de seus indivíduos. Há, nessa perspectiva, uma forte homogeneização social, que cria tipos e mode- los a serem seguidos, que condiciona o comportamento, os hábitos e a cultura, de modo geral. Esse processo normativo tende, portanto, a criar cisões sociais e processos dis- criminatórios, na medida que classifica e qualifica indivíduos como normais e outros como fora dos padrões dessa normalidade. Figura 1 – Bicycle Wheel, 1951, de Marcel Duchamp Fonte: moma.org 9 UNIDADE Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências Ter uma deficiência não é o fator preponderante que torna difícil a existência do indivíduo, permeada invariavelmente por situações nas quais estão presentes o preconceito e o estigma. Nesse sentido, voltamos a questionar como lidar com as ati- tudes sociais que adotam formas de classificação para distinguir e separar as pessoas, categorizando-as entre duas posições opostas – capazes e incapazes, rápidos e lentos ou competentes e incompetentes? Perfeitos e imperfeitos? Para Amaral (1995, p. 67-8), a deficiência primária engloba a deficiência propria- mente dita (dano ou anormalidade de estrutura ou função) e a incapacidade (restri- ção/perda de atividade). Refere-se, efetivamente, a fatores intrínsecos, à deficiência propriamente dita, en- volvendo a díade pessoa e corpo, ou seja, a limitação que o indivíduo possui. Assim, para Amaral (1995), a deficiência secundária refere-se a fatores extrínsecos, responsável principal pelo impedimento do desenvolvimento do indivíduo, que se torna aprisionado na rede das significações sociais com seu rol de implicações, como preconceitos, estereótipos, discriminação e exclusão, e que culmina legitimando a diferença/deficiência. Assim, segundo a autora, o preconceito nada mais é que uma atitude favorável ou desfavorável, positiva ou negativa, anterior a qualquer conhecimento. Nesse sentido, o desconhecimento é a matéria-prima do preconceito, que con- tribui de forma considerável para a manutenção das atitudes preconceituosas e das leituras estereotipadas, tanto acerca das diferenças quanto das deficiências, gerando distorções em relação à deficiência em si e à própria pessoa com deficiência: o estereó- tipo refere-se à concretização de um julgamento qualitativo, baseado no preconceito, podendo ser, também, anterior à experiência pessoal (AMARAL, 1995, p. 120). Já o estigma refere-se à: A situação do indivíduo que está inabilitado para a aceitação social plena e, consequentemente, promove uma generalização e a desumanização da pessoa que possui algum tipo de diferença ou uma deficiência. (AMARAL, 1995, p. 121) Nesse contexto, de produção de estereótipos e de sedimentação de estigmas, a deficiência e a diferença são caracterizadas por sua disjunção aos padrões sociais construídos historicamente para a normalidade. Essa teia de sentidos que configura hábitos empurra a deficiência/diferença para a marginalidade, tratando-a como um elemento anormal, como uma doença e que, para tanto, é preciso que se encontrem as causas desse desvio e se efetive o trata- mento de reparação e recondicionamento à norma. Esse modo de proceder se consolidou ao longo da História, criando estruturas institucionais, simbólicas, psicológicas etc. que agem reproduzindo as suas formas em diversas instâncias da vida social, incluindo até mesmo a nossa percepção sobre a deficiência e a diferença. 10 11 Não é incomum que, diante de pessoas com deficiência ou alguma diferença, nós reproduzamos, mesmo sem ter a consciência do fato, estigmas e estereótipos, como, por exemplo: • Tratar as pessoas com deficiência/diferença como se fossem culpadas por suas características que destoam dos padrões atribuídos à normalidade; • Sentir pena das pessoas com deficiência/diferença superprotegendo-as, como se elas estivessem sempre aquém das possibilidades de produzir a sua própria vida; • Ignorar as dificuldades sociais impostas às pessoas com deficiência/diferença, clas- sificando seus questionamentos sobre o ordenamento social como “vitimismo”. É importante, portanto, um exame de autocrítica sobre a maneira como enxerga- mos as pessoas com deficiência/diferença, que tipo de critérios essa relação tem e como podemos superá-los. Numa construção inclusiva, a dinâmica social é entendida como múltipla e demo- crática, e se deve fazer valer pela valorização da diferença. Nesse sentido, o tecido social é formado pela possibilidade de convivência igualitá- ria entre os diferentes e não pela segregação ou normatização homogeneizante, isto é, as singularidades são entendidas como fundamentais, necessárias, a Sociedade é fruto da convivência da multiplicidade dessas singularidades, e para que os indivídu- os possam ser respeitados, é preciso que sua identidade seja garantida e valorizada tanto nos aspectos estritamente particulares quanto nos aspectos públicos, na sua esfera como cidadão e cidadã. Assim, é fundamental que essa superação se dê, também, a partir de práticas públicas, como planejamento urbano, escolar e socialno sentido mais amplo, para que as pessoas com deficiência/diferença possam usufruir e produzir a vida social em igualdade de oportunidades. No âmbito escolar, a perspectiva inclusiva segue a pauta democrática e igualitária de garantia dos direitos de todos e garantia do acesso e do suporte – com práticas e tratamentos diferenciados – para que esses direitos sejam efetivados e, além disso, ela também se coloca como responsável por fomentar o debate e a reflexão sobre a diferença e a construção social pautada nesses termos. Figura 2 – Coreografi a do Candoco Dance Company Fonte: Wikimedia Commons 11 UNIDADE Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências A seguir, trataremos da conceituação de algumas deficiências/diferenças presen- tes no ambiente escolar, bem como a possibilidade de práticas pedagógicas que visem à integração e ao desenvolvimento dos estudantes numa perspectiva inclusiva. Deficiência Auditiva Apresenta-se como uma privação sensorial auditiva que interfere de modo decisi- vo nos processos de comunicação dessas pessoas. Essas interferências podem gerar problemas graves para o desenvolvimento de uma criança, a depender do nível de sua escassez auditiva. As causas podem ser hereditárias ou adquiridas. Em 2006, o Ministério da Educação, por meio do projeto Desenvolvendo Competências para o Atendimento às Necessidades Educacionais Especiais de Alunos Surdos (BRASIL, 2006, p. 17), classificou os níveis de perda auditiva em leve, moderada, severa e profunda. Diante dessas características, o Ministério da Educação ressalta a importância de que professores e professoras observem sinais de comportamento das crianças, entre os quais: apresentar dificuldade na pronúncia das palavras; apresentar pre- guiça ou desânimo; ao atender aos chamados, inclinar a cabeça procurando ouvir melhor; usar palavras muito distintas se comparadas às palavras utilizadas por outras crianças da mesma idade; não se interessar pelas atividades ou jogos em grupo; falar muito alto ou muito baixo e pedir repetição frequentemente. Existem duas abordagens primordiais para o processo de comunicação educativa com as pessoas com surdez: as oralistas e as gestuais. Nas oralistas, a fala é usada como elemento comunicativo com essas pessoas. Esse tipo de abordagem pretende realizar a inclusão das pessoas com deficiência auditiva dentro da Sociedade, utilizando a fala e a leitura labial. A gestual utiliza uma língua de sinais. Esse procedimento vem ganhando cada vez mais espaço na Sociedade, e no Brasil destaca-se a Língua Brasileira de Sinais (Libras) que se tornou a Língua oficial da pessoa surda a partir da publicação da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. É importante destacar que se faz necessária uma parceria entre o professor ou professora de Libras e o professor ou professora de Língua Portuguesa, de modo que suas ações pedagógicas sejam coordenadas a fim de realizar um processo eficaz na perspectiva da inclusão. Alfabeto em Libras: https://bit.ly/2Mj9Taz 12 13 Deficiência N euromotora ou Física O Ministério da Cultura define deficiência física como: [...] diferentes condições motoras que acometem as pessoas comprome- tendo a mobilidade, a coordenação motora geral e a fala, em conse- quência de lesões neurológicas, neuromusculares, ortopédicas, ou más formações congênitas ou adquiridas (MEC, 2004). A lguns exemplos de deficiências neuromotoras ou físicas são: • Paraplegia: paralisia total ou parcial dos membros inferiores, comprometendo a função das pernas, tronco e outras funções fisiológicas; • Tetraparesia: paralisia total ou parcial do corpo, comprometendo a função dos braços e pernas, sendo que o grau de comprometimento depende da altura da lesão; • Hemiparesia: paralisia total ou parcial das funções de um lado do corpo (direito ou esquerdo); • Paralisia cerebral: termo amplo que designa o grupo de limitações motoras resultantes de uma lesão no Sistema Nervoso Central; • Amputação: perda total ou parcial de um membro do corpo pode ser congênita ou adquirida. Na perspectiva inclusiva, fazem-se necessárias diversas reformas e adequações nas estruturas físicas das Escolas para que elas possam receber qualificadamente os alunos com deficiências neuromotoras ou físicas, como, por exemplo: i mplementa- ção de rampas, corrimões, portas largas, tapetes antiderrapantes, recursos técnicos especiais para os materiais de salas de aula, ampliação do espaço de circulação e convivência, modificação do mobiliário etc. A lém das reformas estruturais, é importante e necessário que professores e pro- fessoras levem em conta a dinâmica de aprendizado. Nesse sentido, é preciso levar em conta que determinadas lesões cerebrais deter- minam dificuldades perceptivas e, portanto, demandam ações pedagógicas de esti- mulação psicomotora. Para crianças que apresentam dificuldades de apreensão conceitual, dado algum distúrbio motor, é necessário que se trabalhe começando com experiências mais concretas para depois passar para possíveis abstrações. É fundamental, também, o convite à participação no debate em sala de aula e na construção das ideias produ- zidas no processo de aprendizagem. Meninos assistindo uma partida de futebol: https://bit.ly/2ZY77Q0 13 UNIDADE Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências Deficiência Visual A deficiência visual se classifica de duas formas: cegueira e baixa visão. O Ministério da Educação as classifica da seguinte maneira: Baixa Visão é a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados, tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações cor- ticais e/ou sensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenho visual do indivíduo. A perda da função visual pode se dar em nível severo, moderado ou leve, podendo ser influenciada também por fatores ambientais inadequados. Cegueira é a perda total da visão, até a ausência de projeção de luz. Do ponto de vista educacional, deve-se evitar o conceito de cegueira legal (acuidade visual igual ou menor que 20/200 ou campo visual inferior a 20º no menor olho), utilizada apenas para fins sociais, pois não revelam o potencial visual útil para a execução de tarefas. (BRASIL, 2006, p. 16) Para a inclusão dos alunos com baixa visão, é necessário o acompanhamento mé- dico de um oftalmologista para que o diagnóstico seja realizado e aí sim as medidas cabíveis possam ser tomadas. Para isso, é necessário que a Escola tenha lupas, materiais de ampliação visual, telescópios, lentes, boa iluminação, sobretudo, nas salas de aula e bibliotecas etc. E como Práticas Pedagógicas são importantes, as atividades lúdicas que auxiliam e ampliam a capacidade do aprendizado, a compreensão do esforço que se faz neces- sária para esses alunos acompanharem as leituras em sala de aula, incentivar o uso de canetas fluorescentes, apresentar os conteúdos de formas variadas etc. Para as crianças cegas, é salutar que elas estejam incluídas nas Escolas Regula- res, mas também e faz necessária, dada a sua eficácia, a aprendizagem do sistema de leitura e a escrita Braile. Exercícios lúdicos, músicas, evocação da memória, re- presentação mental e temporal e jogos de representação são exemplos de práticas inclusivas para essas crianças. Boa parte dos alunos cegos no Brasil são alfabetizadas em Escolas Especiais ou em Escolas Regulares que contam com sala de recursos e/ou professores itinerantes. Para que o avanço da Escola Inclusiva ocorra é necessário que as Escolas Regu- lares possam ser capazes de fornecer a alfabetização em Braile e que, portanto, as atividades especializadas e regulares possam ser combinadas e não apartadas. 14 15 Figura 3 – Campo de Flores, 1996, foto do fotógrafo cego Evgen Bavcar Fonte: Evgen Bavcar, 1996 Surdocegueira É uma deficiência única que apresenta as deficiênciasauditiva e visual concomi- tantes, em diferentes graus. Para interagir com as pessoas e o ambiente, a pessoa surda cega desenvolve diferentes formas de comunicação. Deficiência Intelectual S egundo a definição adotada pela American Association on Intellectual and Development Disabilites – AAIDD (Associação Americana de Deficiência Intelectual e do Desenvolvimento), deficiência intelectual é: [ ...] funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, oriun- do do período de desenvolvimento, concomitante com limitações asso- ciadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa, ou da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho. As pessoas com deficiência intelectual têm limitações para as atividades de vida diária, tais como, vestir-se ou fazer sua higiene pessoal. A condição de desvantagem (handcap) é um contínuo, significando que ocorre em vários graus de dificuldade, ou seja, de acordo com cada indivíduo. 15 UNIDADE Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências Deficiência Mental A deficiência mental não possui um conceito exclusivo e específico; ao contrário, é fruto de muitos estudos e debates constantes em áreas como a Saúde, a Psicologia, a Psicanálise, a Antropologia, as Ciências Sociais etc. Dada a essa complexidade e à variação das abordagens e dos enfoques do conceito, a implementação de práticas educacionais inclusivas torna-se um desafio. Além das limitações intelectuais – que mesmo assim são muito questionáveis e sempre devem ser ponderadas e analisadas em contextos específicos – as pessoas com deficiência apresentam alguns outros traços comportamentais. Um desses que é fundamental é a rigidez comportamental, que estabelece uma fixação na realização das tarefas por parte dessas pessoas. Outro aspecto relevante é a relativa dependência afetiva e emocional, ampliando a responsabilidade do am- biente escolar como um espaço acolhedor e inclusivo. O déficit cognitivo dificulta o autorreferenciamento para esses sujeitos, gerando, assim, dificuldades de reflexão e percepção sobre si mesmo. A capacidade de apreensão dos conhecimentos também se mostra relativamente limitada e, em geral, adquirida de modo mais lento. A dificuldade de abstração e generalização também se coloca como um empecilho para a absorção e a produção de conceitos, conexões do pensamento e processos de memorização. Ainda, assim, é preciso entender esses processos de forma contextualizada e cui- dadosa, para que rótulos não sejam empreendidos e que as análises generalizantes não se coloquem como um obstáculo para a inclusão e desenvolvimento desses alu- nos com Necessidades Educacionais Especiais, sobretudo porque essas dificuldades não são intransponíveis. De acordo com Glat (2007), os apoios às pessoas com deficiência mental são fundamentais e divididos em duas categorias: os naturais e os de serviços, e podem ser classificados em quatro níveis em função de suas necessidades e intensidades: intermitente, limitado, extensivo e pervasivo ou generalizado. Numa perspectiva de Escola Regular Inclusiva, os alunos com deficiências mentais não são separados do restante dos alunos durante os múltiplos processos de apren- dizado, mas os professores e professoras precisam estar atentos para não criar um espaço de homogeneização do conhecimento sem levar em conta as características individuas e sobretudo as necessidades de seus alunos. Nesse sentido, a prática da cooperação que, inclusive, transcende o limite dos professores e também deve ser incorporada por todos os alunos e funcionários da Escola, deve ser o norte do trabalho pedagógico. Além da Escola Regular, é necessário perceber, de acordo com as necessidades de cada aluno, o uso do atendimento especializado, que deve ocorrer de forma 16 17 concomitante à Escola Regular, complementando-a, ou seja, as atividades especiali- zadas devem ocorrer em horários distintos aos da Escola Regular, criando, assim, um espaço amplo e não restrito para o desenvolvimento desses alunos. Deficiência Múltipla É a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (intelectual/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam conse- quências no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa. Transtornos do Espectro Autista Transtornos do Espectro Autista (TEA) são uma nova categoria no DSM-V no entendimento de que três distúrbios anteriormente listados separados sob a rubrica Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) no DSM-IV são mais bem conceitu- ados como diferentes níveis de gravidade de uma condição única. Assim, d e acordo com o DSM-V, o TEA inclui o Transtorno de Autismo, a Sín- drome de Asperger e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento não especificado. Segundo o DSM-V, o TEA é uma condição geral para um grupo de desordens complexas do desenvolvimento do cérebro, antes, durante ou logo após o nascimento. Esses distúrbios se caracterizam pela dificuldade na comunicação social e com- portamentos repetitivos. E mbora todas a s pessoas com TEA partilhem essas difi- culdades, o seu estado irá afetá-las com intensidades diferentes. Dessa forma, essas diferenças podem existir desde o nascimento e serem óbvias para todos; ou podem ser mais sutis e se tornarem mais visíveis ao longo do desenvolvimento. D entro do Paradigma da Inclusão, esses alunos precisam participar ativamente de todas as atividades na Escola e na Comunidade, assim como terem respeitadas as suas diferenças no que se refere ao estilo e ao ritmo da aprendizagem. A Escola Inclusiva entende esses alunos como pessoas que apresentam desafios à formação dos professores e de toda a Equipe Escolar (gestores e demais colabo- radores) para oferecer uma Educação para todos, respeitando a necessidade e a diversidade de cada um. Como Vencer as Barreiras do Preconceito? P ara ajudar a vencer a barreira do preconceito, é importante d esenvolver diretri- zes inclusivas norteadas pelo cuidado, inclusão, reconhecimento e relacionamento entre as pessoas com necessidades especiais e as demais pessoas que frequentam o ambiente educacional. 17 UNIDADE Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências Esse processo da Educação Inclusiva é pautado por bases democráticas e comuni- tárias, porque seus desdobramentos incluem todas as estruturas e necessitam da par- ticipação de todos os atores sociais envolvidos no espaço em que a Educação se situa. Então, a Educação Inclusiva, visa à garantia de acesso aos direitos e ao valor às pessoas com necessidades especiais, mas também reconfigura a atuação pedagó- gica de educadores e educadoras, colocando o desafio da inclusão como coletivo, bem como a própria formação das alunas e dos alunos que não demandam neces- sidades especiais. É um processo de grande transformação pedagógica que tem a cidadania e a valorização da democracia, a partir do convívio e da valorização dos diferentes, como grande fundamento e que tem como objetivo uma Educação de qualidade e para todos. Figura 4 – Escultura da tribo Makonde, da África Oriental, c. 1974 Fonte: Wikimedia Commons O projeto da Educação Inclusiva necessita de cooperação e apoio de muitos seto- res da Sociedade e, sem dúvida, a Escola é um dos espaços mais valiosos e preciosos desse projeto. Uma Escola Inclusiva é dimensionada para ser um espaço pedagógico justo, aco- lhedor, igualitário, de qualidade, em que as diferenças sejam respeitadas e valorizadas. Esse valor às diferenças promove a necessidade que a Escola desenvolva, tanto em sua estrutura física como no quadro de seus profissionais e alunos, um ambiente para todos, em que a diversidade e a pluralidade dos educandos não é um entrave, e sim uma potência. 18 19 Esse processo da Escola Inclusiva necessitada colaboração e da cooperação de pais, alunos, professores, funcionários da Escola, ele forja um ambiente escolar mais flexível, estabelece novos métodos de avaliação, desenvolve espaços de convivência e acesso mais adequados e qualificados, faz-se valer de pesquisas e estudos de ponta para orientar suas atividades escolares. A Escola inclusiva é uma Escola direcionada para a Comunidade que a envolve e se torna também uma referência para essa mesma Comunidade, ao respeitar a hete- rogeneidade e valorizar a diferença como princípio fundamental de uma Sociedade justa, igualitária e democrática. O filme “A Teoria de Tudo”, de James Marsh, foi inspirado no livro “Travelling to Infinity: My Life with Stephen e Jane Hawking”, e narra seu relacionamento com um dos mais importantes astrofísicos de todos os tempos, Stephen Hawking, que é diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, uma doença incurável e degenerativa, que leva à perda permanente de movimento muscular. 19 UNIDADE Identificando as Necessidades Educacionais Especiais: Especificidades das Deficiências Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Ciência Sem Limites | Dança inclusiva https://youtu.be/MpDoUrx5uzM Companhia de Dança Pulsar https://youtu.be/ds44tRSX6Kw Leitura Língua Brasileira de Sinais (Libras) https://bit.ly/371lWD4 Transtorno do Espectro Autista (TEA) https://bit.ly/3dKkMP3 Deficiência Intelectual na Perspectiva Histórico-cultural: Contribuições ao Estudo do Desenvolvimento Adulto https://bit.ly/2AAZbcY 20 21 Referências AMARAL, L. A. Conhecendo a deficiência em companhia de Hércules. São Paulo: Robe,1995. BELTHER, J. M. Educação especial. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado. Deficiência Mental. Brasília: SE- ESP/SEED, 2007. _______. Secretaria de Educação Especial. Marcos Políticos-Legal da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Secretaria de Educação Especial, 2010. _______. Secretaria de Educação Especial. Sala de Recursos Multifuncionais: espa- ços para o Atendimento Educacional Especializado. Brasília: MEC/SEESP, 2006. CAPELLINI, V. L. M. F.; RODRIGUES, O. M. P. R. (org.). Educação inclusiva: fundamentos históricos, conceituais e legais. Bauru: UNESP/FC, 2012. (Coleção: Práticas educacionais inclusivas). 201p. il. v. 2. GLAT, R. (org.) Educação Inclusiva: cultura e cotidiano escolar. Rio de Janeiro: 7 letras, 2007. MANTOAN, M. T. É. Inclusão Escolar. 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