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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL, ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO DEFICIÊNCIA INTELECTUAL, ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES editorafamart@famart.edu.br TUTORIA ONLINE Segunda a Sexta de 09:30 às 17:30 Acesse a aba Tutoria EaD em seu portal do aluno SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO........................................................................... 03 UNIDADE 2 – DA DEFICIÊNCIA MENTAL À INTELECTUAL ....................... 08 2.1 História ....................................................................................................... 08 2.2 Conceito ..................................................................................................... 12 UNIDADE 3 – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ................................................. 14 3.1 Etiologia da deficiência intelectual.............................................................. 14 3.2 Classificação .............................................................................................. 22 UNIDADE 4 – ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO ............................. 27 UNIDADE 5 – ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO .............. 38 5.1 Conceito e definição ................................................................................... 40 5.2 As salas de recursos .................................................................................. 43 5.3 A sala de recurso para deficiência intelectual ............................................ 46 5.4 Atribuições do professor no AEE................................................................ 47 5.5 A importância da revisão do PPP e do currículo escolar............................ 49 UNIDADE 6 – IDENTIFICAÇÃO/CARACTERIZAÇÃO E TRABALHO COM ALTAS HABILIDADES .................................................................................... 50 UNIDADE 7 – CUIDADOS COM ATIVIDADES FÍSICAS E FATORES DE RISCO DE DOENÇAS PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ................................................................................................ 57 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 63 UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO A inclusão social tem sido um desafio para todas as esferas da sociedade, principalmente para as pessoas portadoras de necessidades especiais que, muito além de poderem exercer a cidadania, deparam com a dificuldade de acesso em todos os sentidos. Segundo Mantoan (2006), a inclusão escolar está articulada a movimentos sociais mais amplos, que exigem maior igualdade e mecanismos mais equitativos no acesso a bens e serviços. Ligada a sociedades democráticas que estão pautadas no mérito individual e na igualdade de oportunidades, a inclusão propõe a desigualdade de tratamento como forma de restituir uma igualdade que foi rompida por formas segregadoras de ensino especial e regular. A questão política e social da inclusão é assunto que rende muitas discussões, assim como entender que o tratamento dispensado à diferença não quer dizer tratá- los como iguais, ao contrário, a diferença propõe o conflito, o dissenso, a imprevisibilidade, a impossibilidade do cálculo. O certo é jamais desvalorizar e inferiorizar os cidadãos/alunos por suas diferenças, seja nas escolas comuns ou nas especiais. Vale enfatizar de imediato que a inclusão de indivíduos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino não consiste apenas na permanência junto aos demais alunos, nem na negação dos serviços especializados àqueles que deles necessitem. Ao contrário, implica uma reorganização do sistema educacional, o que acarreta a revisão de antigas concepções e paradigmas educacionais na busca de se possibilitar o desenvolvimento cognitivo, cultural e social desses alunos, respeitando suas diferenças e atendendo suas necessidades (GLAT; NOGUEIRA, 2002, p. 26). Alguns devem estar se perguntando por que a apostila tem como título “Deficiência intelectual” e não “Deficiência mental”?. Pois bem, vamos de pronto deixar claro que a deficiência intelectual, outrora conhecida como deficiência mental, não é uma doença, não pode ser contraída pelo contato com uma pessoa sadia ou outra com a deficiência. Não é uma doença mental, portanto, não há cura e para entender melhor a diferença entre doença e deficiência, a OMS – Organização Mundial da Saúde – propôs três níveis para esclarecer todas as deficiências, a saber: deficiência, incapacidade e desvantagem social. Deficiência – perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão. Incapacidade – restrição, resultante de uma deficiência, da habilidade para desempenhar uma atividade considerada normal para o ser humano. Surge como consequência direta ou é resposta do indivíduo a uma deficiência psicológica, física, sensorial ou outra. Representa a objetivação da deficiência e reflete os distúrbios da própria pessoa, nas atividades e comportamentos essenciais à vida diária. Desvantagem – prejuízo para o indivíduo, resultante de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais. Caracteriza-se por uma discordância entre a capacidade individual de realização e as expectativas do indivíduo ou do seu grupo social. Representa a socialização da deficiência e relaciona-se às dificuldades nas habilidades de sobrevivência. Em 2001, essa classificação foi revista e reeditada não contendo mais uma sucessão linear dos níveis, mas indicando a interação entre as funções orgânicas, as atividades e a participação social (BATISTA; MANTOAN, 2006). O importante dessa nova definição é que ela destaca o funcionamento global da pessoa em relação aos fatores contextuais e do meio, re-situando-a entre as demais e rompendo o seu isolamento. Essa definição motivou a proposta de substituir a terminologia “pessoa deficiente” por “pessoa em situação de deficiência” (ASSANTE, 2000 apud BRASIL, 2006). Mais recentemente tem-se visto o uso do termo deficiência intelectual. Sassaki (2004) justifica, com muita propriedade, o uso do termo deficiência intelectual: 1) é mais apropriado o termo “intelectual” por referir-se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo; 2) o seu uso consiste em podermos melhor distinguir entre “deficiência mental” e “doença mental”, dois termos que têm gerado muita confusão há décadas, principalmente na mídia. Os dois fenômenos trazem o adjetivo “mental” e muita gente pensa que “deficiência mental” e “doença mental” são a mesma coisa. Então, em boa hora, vamos separar os dois fenômenos. Também no campo da saúde mental (área psiquiátrica), está ocorrendo uma mudança terminológica importante, substituindo o termo “doença mental” por “transtorno mental”. Permanece, sim, o adjetivo “mental” (o que é correto), mas o grande avanço científico foi mudar para “transtorno”. Aqui também se aplica o critério do número (singular e não plural) para a palavra “transtorno”. Dizemos: “pessoa(s) com transtorno mental”, e não “pessoa(s) com transtornos mentais”, mesmo que existam vários transtornos mentais. Segundo especialistas, o transtorno mental pode ocorrer em 20% ou até 30% dos casos de deficiência intelectual, configurando-se aqui um exemplode deficiência múltipla; 3) hoje em dia cada vez mais se substitui o adjetivo “mental” por “intelectual”. A Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde realizaram um evento (no qual o Brasil participou) em Montreal, Canadá, em outubro de 2004, evento esse que aprovou o documento DECLARAÇÃO DE MONTREAL SOBRE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL. O termo “intelectual” foi utilizado também em francês e inglês: Déclaration de Montreal sur la Déficiénce Intelectuelle, Montreal Declaration on Intelectual Disability; 4) a expressão “deficiência intelectual” foi oficialmente utilizada já em 1995, quando a Organização das Nações Unidas (juntamente com The National Institute of Child Health and Human Development, The Joseph P. Kennedy, Jr. Foundation, e The 1995 Special Olympics World Games) realizou em Nova York o simpósio chamado INTELECTUAL DISABILITY: PROGRAMS, POLICIES, AND PLANNING FOR THE FUTURE (Deficiência Intelectual: Programas, Políticas e Planejamento para o Futuro); 5) esta substituição ocorreu também na Espanha, conforme notícia publicada em 2002, que se segue: “Espanha – Resolução exige a substituição do termo deficiência mental por deficiência intelectual. A Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Mental aprovou por unanimidade uma resolução substituindo a expressão “deficiência mental” por “deficiência intelectual”. Isto significa que agora a Confederação passa a ser chamada Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Intelectual (Confederación Española de Organizaciones en favor de Personas con Discapacidad Intelectual). Esta organização aprovou também o novo Plano Estratégico de quatro anos para melhorar a qualidade de vida, o apoio institucional e os esforços de inclusão para pessoas com deficiência intelectual”. Fonte: Digital Disnnet Press Agency, Digital Solidarity, n° 535, Bogotá, 3 de setembro de 2002. Nesse contexto, o desejo de trabalhar com os portadores de deficiência intelectual requer num primeiro momento conhecer os caminhos percorridos pela sociedade desde os primeiros conceitos sobre exclusão, inclusão e deficiência, para num segundo momento manter avivado nos interessados e envolvidos, o desejo de lutar e buscar uma escola melhor, um espaço onde todos sejam vistos por suas habilidades, possibilidades e não por suas deficiências. Além da deficiência intelectual, abordaremos também as altas habilidades e superdotados. O caminho que percorreremos será este: promover uma breve evolução histórica da deficiência mental até a intelectual ao longo dos últimos séculos; conceituar, definir, caracterizar e classificar essa deficiência de acordo com a CID-10 e DSM-IV. O Atendimento Educacional Especializado (AEE), a sala de recursos multifuncionais, a avaliação e identificação e os cuidados com as atividades físicas e os fatores de risco de doenças completam nossos estudos sobre o trabalho com os portadores de deficiência intelectual. Por ora, deixamos uma mensagem inicial para aqueles que buscam capacitação para trabalhar as diferenças e as deficiências, com foco na deficiência intelectual (DI): os espaços escolares não devem ser lugares de discriminação, e mesmo que o grau de deficiência se imponha como limite da capacidade de aprendizagem e adaptação ao mundo, todos são cidadãos de pleno direito, considerando as várias dimensões como a dignidade humana. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. UNIDADE 2 – DA DEFICIÊNCIA MENTAL À INTELECTUAL Evolutivamente, o conceito de deficiência mental tem uma estreita relação com as concepções socioeconômicas e ideais que nortearam cada período da história do homem. Conhecer essas ideias abre um horizonte para se compreender a deficiência intelectual, clarear o conceito o que, por conseguinte, permite oferecer melhores serviços de atendimento para esse público. 2.1 História Pessoti (1984) promove uma ampla revisão histórica a respeito da deficiência mental, destacando as concepções adotadas, em cada período, que influenciaram as atitudes da sociedade em relação à deficiência. Aranha (1995) também se reporta à história para descrever como a integração social do deficiente foi associada à concepção de deficiência, a qual merece destaque. Na sociedade antiga, as crianças deficientes eram deixadas ao relento para que morressem. Essa atitude era fruto dos ideais morais da época em que a eugenia1 e a perfeição do indivíduo eram considerados valores preponderantes. Já no final do século XV, com os ideais burgueses vigentes nesse período, imperou a visão de que a deficiência era um atributo do indivíduo, tendo, portanto, uma relação direta com o capital, ou seja, o deficiente era considerado improdutivo, do ponto de vista econômico. Até cerca de 1800, a Dl – Deficiência Intelectual – não era considerada um problema científico, embora, de acordo com Woolfson (s.d. apud MORATO, 1993), 1 Ciência que estuda as condições mais propícias à reprodução e melhoramento genético da espécie humana. devam-se considerar algumas referências, segundo as quais a Dl era analisada criteriosamente como distinta da doença mental com rigor descritivo de diferentes tipos, diagnósticos, prognósticos e terapêuticos. Segundo Morato (1993), a investigação sobre a Dl pode resumir-se a três períodos. O primeiro período teve início em 1800, perdurando um século, e caracterizou- se por ser um período de grande desenvolvimento científico ao nível da biologia e da psicologia, cujo impacto social é constatável pela evidência das propostas de identificação e classificação da Dl relativamente a outras deficiências, em particular, na distinção da doença mental (DETTERMAN, 1983, 1987; PERRON, 1976; RYNDERS, 1987; apud MORATO, 1993). O segundo período, que se estendeu desde os finais do séc. XIX até à 2ª grande guerra, compreendeu uma fase caracterizada pelas preocupações de definição e classificação da Dl, através da qual emergiram posições e contraposições teóricas de conturbadas consequências sociais e educacionais. O terceiro e último período, com início no pós-guerra, prolongando-se até a atualidade, é caracterizado por uma atitude de mudança marcada pela evolução científica e pelo reforço do movimento humanitário em prol dos direitos pela reivindicação em defesa dos grupos minoritários na sociedade, pelos deficientes de guerra, e pelos movimentos associativos de pais de crianças e jovens com deficiência (MORATO, 1993). Desde 1959, a referência ao comportamento adaptativo surge como elemento de definição da Dl da American Association on Mental Retardation (AAMR), sendo a entidade científica mais antiga e prestigiada na abordagem da problemática da Dl (AAMR, 2006). Posteriormente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reforçou a relação entre adaptaçãoe aprendizagem. A classificação publicada pela AAMR, em 1983, classificava a Dl, até então DM, em função do Coeficiente de Inteligência (Q.l) – obtido a partir da multiplicação por cem do quociente obtido pela divisão da idade mental pela idade cronológica, da seguinte forma: 1. deficiência Mental Leve - Q.l entre 55 e 50; 2. deficiência Mental Moderada - Q.l entre 55/50 e 40/35; 3. deficiência Mental Severa - Q.l entre 40/35 e 25/20; 4. deficiência Mental Profunda - Q.l menor que 25/20. Com o passar dos séculos, as concepções sobre DM foram se ampliando, em parte como consequência das mudanças ocorridas nas sociedades e no campo científico. Mas, foi somente no século XIX que se percebeu uma postura de responsabilidade pública com relação às necessidades dos deficientes. No século XX, as ações se tornaram mais concretas, havendo uma multiplicidade de modos de encarar a DM, acarretando o surgimento de vários modelos explicativos, como o metafísico, o médico, o educacional, o da determinação social e o sócio-construtivista ou sócio-histórico (ARANHA, 1995). Para esta autora, a deficiência mental deve ser encarada como uma construção social, não alheia à concepção de homem e de sociedade vigentes e deve ser tratada como um fenômeno multideterminado. Contudo, segundo Nunes e Ferreira (1994), a DM ainda continua sendo considerada como estando dentro do indivíduo, descontextualizada e sem nexo social como mostra o discurso da maior parte dos órgãos públicos. A conceituação e caracterização da DM adotada no Brasil pelo Ministério da Educação (MEC) segue o modelo proposto pela Associação Americana de Deficiência Mental (AAMR), divulgado em 1992, segundo o qual, a DM se caracteriza pelo funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade, nos seguintes aspectos: comunicação, cuidados pessoais, habilidades sociais, desempenho na família e comunidade, independência na locomoção, saúde e segurança, desempenho escolar, lazer e trabalho (MENEZES; SANTOS, 2002). Este conceito serve como ponto de partida para a implementação de políticas públicas pelo governo brasileiro, que visa um atendimento especializado a estas crianças. Contudo, o próprio governo tem revelado um atendimento precário às pessoas deficientes, em diversas partes do país, apesar de salientar a importância deste tipo de atendimento desde a mais tenra idade da criança. Para o governo brasileiro, o trabalho precoce com crianças deficientes tem o objetivo de “[...] proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo” (BRASIL, MEC, 1995, p. 11). Voltando um pouco à evolução do conceito, antigamente a própria denominação desvalorizava os sujeitos com deficiência. As atribuições de nomes depreciativos como idiota, imbecil, oligofrênico, anormal, débil mental, inválido, atrasado mental, entre outros, eram comuns para distingui-los dos indivíduos com desenvolvimento típico (COELHO; COELHO, 2001; ALONSO; BERMEJO, 2001). Conforme Morato (1998), a população em geral negligenciava-os por não se enquadrarem no ideal de perfeição. Na Idade Média assistiu-se a um tratamento ambivalente para com estes indivíduos, pois, por um lado, com base na crença cristã, a deficiência era vista como algo divino e estes eram acolhidos e protegidos em instituições de caridade. Por outro lado, eram considerados demônios e sofriam de práticas de ostracismo (MORATO; 1998, SILVA; DESSEN, 2001). O século XV marcou o início de uma mudança de paradigma em relação a estes indivíduos que foi consolidada nos séculos XVII e XVIII, sendo a institucionalização destes uma realidade (SILVA; DESSEN, 2001). Em paralelo, no século XVIII surgiram as primeiras classificações referentes às causas de morte. Este é o marco histórico para o início das classificações das doenças e transtornos mentais (OMS, 2001). A partir do século XIX até meados do século XX, os estudos sobre a deficiência intelectual tornaram-se de caráter mais científico e verificou-se uma sistematização do conceito, apesar da rotulagem negativa subjacente ao mesmo. O autor Pinel caracterizou a deficiência intelectual de idiotismo, com conotação de carência ou insuficiência intelectual (CARVALHO; MACIEL, 2003). Na mesma linha de pensamento, Esquirol referiu que a imbecilidade e o idiotismo devem-se a causas maturacionais e que os órgãos responsáveis pela atividade intelectual apresentam um desenvolvimento atípico. Empiricamente. começa-se a diferenciar a doença mental da deficiência intelectual (MORATO; 1998). Esta perspectiva é reforçada por Beaugrand que considerou idiota um estado de insuficiência de algumas aptidões intelectuais e morais, sendo as suas causas de ordem orgânica e/ou congênita com origem encefálica e, consequentemente, suscitavam um desenvolvimento deficitário. Nesta altura, a concepção de deficiência intelectual estava associada à perspectiva organicista de origem neurológica, identificada pelo atraso no desenvolvimento dos processos cognitivos (CARVALHO; MACIEL, 2003). 2.2 Conceito Segundo Sarno (2006), os termos deficiência e pessoa deficiente apresentam diferentes conotações na literatura acadêmica. Além disso, tais conceitos mudam ao longo da história, segundo os valores particulares de cada cultura e, até mesmo, em função de valores individuais. Para Ribas (2003), a deficiência é um estado físico ou mental eventualmente limitador que deve ser entendido a partir do ambiente sociocultural e físico em que o indivíduo está inserido e, também, de como a própria pessoa se vê. Segundo a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, elaborada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975, pessoa com deficiência é aquela incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. A pessoa com deficiência mental é conceituada como aquela que tem necessidades para atuar nas dez áreas de habilidades adaptativas: 1) da comunicação; 2) do autocuidado; 3) das habilidades sociais; 4) da vida familiar; 5) do uso comunitário; 6) da autonomia; 7) da saúde; 8) da segurança; 9) da funcionalidade acadêmica; 10) do lazer e trabalho (Decreto nº 5.296/04, art. 5º, §1º, I, “d”; e Decreto nº 3.298/99, art. 4º, I). A ideia da deficiência como uma característica do indivíduo que pode ter graus diferentes de limitação, a depender da interferência do ambiente, reflete o conceito usado no cotidiano. Segundo Carreira (1992), as instituições de profissionalização de deficientes e administradores de empresas brasileiras entendem o deficiente mental como a pessoa portadora de distúrbios de aprendizagem e adaptação global. Além de Pessoti et al., Lancillotti (2003) e Marques (2001) também demonstraram como a deficiência mental vem sendo rodeada de preconceitos desde a Grécia Antiga. UNIDADE 3 – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A deficiência intelectual é uma condição bastante complexa no que se refere a sua definição conceitual e também nomenclatura. O termo “deficiência intelectual”é de uso recente na literatura e veio substituir os termos deficiência mental e retardo mental. Possivelmente esta mudança atende a múltiplas demandas, pois retrata mudanças conceituais mais recentes e é um termo mais preciso para denominar a condição, além dessa ser uma reivindicação de associações dos próprios indivíduos com este tipo de deficiência (VELTRONE; MENDES, 2011). A deficiência intelectual é uma categoria dos diferentes tipos de deficiência existentes. Surge num contínuo da normalidade e não como um estado qualitativamente diferente desta, em que os indivíduos apresentam um conjunto de características comuns, enquadradas no baixo desempenho nos testes psicológicos, nas dificuldades de aprendizagem escolar, nas reações imaturas aos estímulos ambientais e no desempenho social abaixo de média (ALONSO; BERMEJO, 2001; COELHO; COELHO, 2001). 3.1 Etiologia da deficiência intelectual Os fatores etiológicos da Deficiência intelectual podem ser de origem genética, ambiental, multifatorial e de causa desconhecida. Embora esses fatores etiológicos sejam muito variáveis, podem ser, ainda, subdivididos em fatores pré-natais (de origem genética, ambiental e multifatorial), perinatais (ambiental) e pós-natais (ambiental). A ocorrência da Deficiência intelectual de etiologia desconhecida apresenta uma prevalência de 28 a 30% dos casos. Os fatores que atuam no período pré-natal envolvem causas genéticas e ambientais, consistindo nos fatores etiológicos mais importantes no surgimento da DI, com cifras ao redor de 50% dessa população. Fatores genéticos Monogênicos: 1 a 2% dos nascidos vivos. Herança dominante: Neuroectodermatoses (Esclerose tuberosa, Angiomatoses cerebrais, Deficiências mentais com alterações ósseas, Disostose craniofacial, Oligrofenia com acrocéfalo, Oligrofenia com aracnodactilia, Oligrofenia com discondroplasia). Herança recessiva: Distúrbio de metabolismo lipídico (Idiota amaurótica, Doença de Bielschowsky-Jansky, Doença de Spielmeyr-Vogt, Doença de Kufs, Doença de Normann-Wood, Síndrome de Niemann-Pick, Doença de Gaucher); Distúrbio do metabolismo de mucopolissacarídeo (Doença de Hurler, Doença de Morquio, Doença de Scheie, Doença de Sanfilipo, Doença de Matoteaux); Distúrbio do metabolismo glicídio (Glicogenose, Galactosemia); Distúrbios de metabolismo protídico (Fenilcetonúria, Doença do carope de bordo, Cistationinuria, Doença de Wilson, Doença de Hartnup); Outras formas (Microcefalia familiar, Doença de Sjögren-Larson, Síndrome de Laurence Moon). Herança ligada ao sexo: Doença de Hunter, Doença de Pelizaeus Merzbacher. Fatores genéticos ligados a vários genes, Fatores cromossômicos Anomalias de número de cromossomos somáticos: Trissomia do 21 (Síndrome de Down), Trissomia do 18 (Síndrome de Edward), Trissomia do 13-15 (Síndrome de Patau). Anomalias do número de cromossomos sexuais: Síndrome de Klinefelter, Microcefalia com malformações múltiplas e criptorquidia (Cariótipo XXXY), Disgenesia gonádica e oligofrenia (Síndrome de Turner), Superfêmea (Cariótipo XXX). Fatores Ambientais: fatores pré-natais – agentes infecciosos (citomegalovírus, toxoplasmose congênita, rubéola congênita, sífilis congênita, varicela); fatores nutricionais; fatores físicos – radiação; fatores imunológicos; intoxicações pré-natais (álcool e drogas, gases anestésicos, anticonvulsivantes); transtornos endócrinos maternos – diabetes materna, alterações tireoidianas; hipóxia intrauterina (causada por hemorragia uterina, insuficiência placentária, anemia grave, administração de anestésicos e envenenamento com dióxido de carbono). Fatores perinatais: anóxia neonatal; traumatismo obstétrico (distócicos de parto com hipoxemia ou anoxemia); prematuridade (anóxia, hemorragia cerebral). Fatores pós-natais: infecções – meningoencefalites bacterianas e as virais, principalmente por herpesvírus; traumatismos crânio-encafálicos; alterações vasculares ou degenerativas encefálicas; fatores químicos – oxigênio utilizado na incubadora; intoxicação pelo chumbo; fatores nutricionais – graves condições de hipoglicemia, hipernatremia, hipoxemia, envenenamentos, estados convulsivos crônicos. Causas Multifatorial As causas multifatoriais são desconhecidas (28 a 30% dos casos), mas o Citomegalovírus é um dos agentes infecciosos mais comuns, podendo ocasionar retardo no crescimento intrauterino, microftalmia, corioretinite, surdez, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e hepatoesplenomegalia. A Sífilis apresenta como fator etiológico o Treponema pallidum, e caso a gestante tenha contato até a 20ª semana, pode acarretar a lues congênita, com malformações físicas (tíbia em sabre, nariz em sela, fronte olímpica e dentes de Hutchinson). Além disso, a sífilis pode acarretar outras alterações, como por exemplo, a surdez, malformações de dentes, alteração óssea, hidrocefalia e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor. Infecções por varicela podem acarretar, dependendo da idade gestacional, alterações musculares e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor. Contato com Toxoplasma gondi pode ter como repercussão a toxoplasmose, e da mesma maneira, dependendo da idade gestacional, ter como consequência a toxoplasmose congênita com a manifestação da tétrade de Sabin (deficiência mental, microcefalia, calcificações intracranianas e corioretinite). Para a prevenção da toxoplasmose, deve-se evitar carne crua e o contato com animais. A rubéola congênita ocorre pelo efeito teratogênico do vírus da rubéola. A infecção do feto é o resultado de infecção primária materna na gravidez ou até o terceiro mês antes do parto. A infecção durante as primeiras 8 semanas produz uma taxa de infecção fetal de 50%, depois disso, diminui progressivamente. As lesões mais frequentes no momento do nascimento sãos as cardiovasculares, hematológicas, baixo peso ao nascer, alterações esqueléticas, hepáticas, defeitos oculares (retinopatia, microftalmia, hipoplasia da íris, glaucoma congênito e cataratas), lesões no Sistema Nervoso Central (perda da audição, deficiências intelectuais e motoras, meningoencefalite crônica), complicações pulmonares. Os distúrbios de audição são a manifestação mais comum, provavelmente por uma infecção no final do segundo ou terceiro mês de gestação. Em relação ao uso de drogas, deve-se observar que o uso de substâncias alcaloides como a nicotina e cafeína pela gestante, dependendo da quantidade e da idade gestacional, pode levar a retardo no crescimento intrauterino pela anóxia e uma maior probabilidade de parto prematuro (2 vezes mais) e baixo peso. O uso de álcool pela gestante afeta 1 a 2% das mulheres férteis, podendo acarretar a síndrome alcoólica fetal, caracterizada pela deficiência mental, deficiência no crescimento pré e pós-natal, alterações de Sistema Nervoso Central, anomalias craniofaciais como epicantus, ponte nasal baixa, filtrum hipoplásico e face achatada. A Paralisia Cerebral, lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tem como consequência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência mental. A lesão causadora de Paralisia Cerebral não é progressiva, mas o fato de afetar o sistema nervoso em desenvolvimento vai dar origem a um conjunto complexo de sinais e sintomas, que vão tornar difícil o diagnóstico. As formas de Paralisia Cerebralapresentam uma grande diversidade de perturbações neuromotoras, cuja classificação proposta por Hagberg et al. (1975 apud ANDRADA, 1997) é a que reúne maior consenso. Quanto aos efeitos funcionais, a Paralisia Cerebral é classificada de tipo espástico, disquinésia atetose, ataxia. Andrada (1997) diz que se pode considerar ainda uma forma rara de paralisia cerebral hipotônica ou atônica que é referida por alguns autores. Basil (1995) descreve que a espasticidade consiste num aumento do tônus muscular, como consequência de uma lesão no feixe piramidal. As contrações musculares podem ser de dois tipos: a) ocorrendo em repouso, b) ocorrendo quando a criança faz um esforço, se emociona ou se surpreende. A criança ao tentar flexionar uma parte do corpo não o pode fazer sem flexionar todo o corpo o que vai interferir na execução da tarefa. Nas crianças que apresentam este tipo de paralisia, quando seguras pelas axilas ou quando tentam caminhar, os membros inferiores encontram-se em extensão, os pés em ponta e pernas cruzadas em tesoura, os membros superiores apresentam, hipertonia, o braço em rotação interna, cotovelo semiflexionado, o polegar unido à palma da mão. Existem alterações a nível da expressão facial, ocorrendo por vezes ausência de linguagem oral. A atetose caracteriza-se pela dificuldade em controlar e em coordenar os movimentos. Os movimentos são espasmódicos e incontrolados, ocorrendo no nível dos membros da cabeça, músculos da respiração e deglutição. Estes movimentos podem ser atenuados pelo repouso, sonolência e determinadas posturas, verificando- se o seu aumento em momentos de excitação, insegurança e posição de pé. Estes indivíduos apresentam um tônus muscular que varia entre o hipertônico e hipotônico. Cahuzac (1985 apud SANTOS; SANCHES, 2005) define ataxia como uma perturbação da coordenação e da estática, onde observa-se instabilidade do equilíbrio, mau controle da cabeça, do tronco e dos membros. Basil (1995) refere ser uma síndrome cerebelar, em que existe dificuldade em medir a força, a distância e a direção dos movimentos, que costumam ser lentos e torpes, desviando-se com facilidade do objetivo pretendido. Existe instabilidade no controle do tronco o que vai provocar dificuldade em coordenar os movimentos dos braços e como consequência dificultar o caminhar que se apresenta inseguro, rígido e com quedas frequentes. A Paralisia Cerebral é ainda referida quanto à topografia corporal em paraplegia, tetraplegia, monoplegia, diplegia, triplegia. Em relação à topografia corporal, Basil (1995) menciona que a paraplegia se refere a situações em que estão comprometidos os dois membros inferiores; a tetraplegia em que há compromisso dos membros inferiores e superiores, a monoplegia em que existe o comprometimento de uma extremidade; a diplegia refere-se a situações em que existe maior comprometimento dos membros inferiores que superiores; a triplegia são situações de comprometimento de três membros, a hemiplegia o comprometimento da parte direita ou esquerda do corpo. Basil (1995) chama a atenção para o fato de que raramente encontramos uma criança que apresente uma tipologia pura, mas antes quadros mistos. Os diferentes tipos clínicos referidos têm intervenções diferentes, e cada criança é por si um ser individual com características muito próprias, com graus de deficiência e incapacidades diferentes, o que exige uma avaliação individualizada. As crianças com Paralisia Cerebral apresentam com frequência, alterações no seu desenvolvimento, devido a deficiências associadas, ou ao fato do seu comprometimento motor impedir a realização de atividades motoras, como manipular, gatinhar, andar, falar, escrever, que estão dependentes da capacidade de efetuar determinados movimentos. A disfunção motora impede a criança de efetuar experiências e de provocar efeitos no ambiente de modo a produzirem respostas consistentes que a ajudem a estruturar o pensamento. Assim, determinadas fases do desenvolvimento vão emergir mais tarde, ou podem até não vir a surgir o que afeta a evolução do desenvolvimento. Segundo Bobaty e Bobath (1976,1987 apud SANTOS; SANCHES, 2005), a lesão cerebral vai afetar o desenvolvimento psicomotor da criança, pela interferência na maturação normal do cérebro e pelas alterações no desenvolvimento devido à permanência de esquemas anormais de atitudes e movimentos, pela persistência de reflexos primitivos que a criança é incapaz de inibir. A área da linguagem está quase sempre afetada na criança com Paralisia Cerebral, estando afetadas as formas de expressão como a mímica e o gesto, que precisam da coordenação de movimentos finos para se efetuarem, e a expressão oral. A limitação ou impedimento da expressão oral vai impedir que os pais e educadores estabeleçam com a criança um processo interativo, em que se fornecem modelos e onde a criança não intervém apenas aprendendo, mas através das suas respostas mantém os pais ativos num processo de estimulação. Quando existem obstáculos a este processo, gera-se um sentimento de incompetência e de fracasso em ambas as partes, visto nenhuma conseguir responder às necessidades da outra. Basil (1995) também ressalta que a lesão cerebral afeta quase sempre os órgãos da fala, devido a uma perturbação mais ou menos grave no controle dos órgãos motores bucofonatórios, que podem afetar o ato de falar ou até impedi-lo por completo. Esta dificuldade pode também manifestar-se no nível da mastigação, deglutição, controle da saliva ou respiração. Estes problemas em nível da linguagem expressiva não impedem a compreensão da linguagem, que em alguns casos não se encontra afetada. Contudo, se existirem problemas cognitivos ou de audição, o desenvolvimento da linguagem compreensiva pode ficar comprometido, tornando mais complexo e difícil o processo de aquisição da linguagem. Nas situações de paralisia cerebral, nem sempre é possível avaliar com precisão a existência ou não de atraso mental, porque na avaliação de crianças com perfis complexos de desenvolvimento, as medidas estandardizadas não são as mais adequadas, devido às limitações motoras e de linguagem que dificultam a sua aplicabilidade. Autores como Dalmau (1984 apud BASIL, 1995), baseando-se em estatísticas efetuadas na Inglaterra, afirmam que 50% das crianças com paralisia cerebral deveriam ser consideradas deficientes mentais e que 40% destas apresentam déficits sensoriais associados, o que irá ter consequências sobre o desenvolvimento cognitivo. O fato destas crianças estarem impedidas de manipular e de agir fisicamente sobre o mundo que as rodeia, explorando-o livremente, vai interferir no desenvolvimento da inteligência sensório-motora e como consequência influenciar negativamente o desenvolvimento do pensamento pré-operatório, operatório e formal. No entanto, há opiniões em que a dificuldade de avaliação das reais capacidades da criança penaliza os resultados encontrados na aplicação de testes e provas. A criança com lesão cerebral vai ter, desde o início, dificuldades na interação com os outros, pelo fato de não conseguir produzir os gestos e os sons a que o meio social dá valor e reconhece como funções comunicativas. Segundo Basil (1995), a criança encontra dificuldades em produzir mudanças no comportamento das outras pessoas, no sentido de as fazer interagir com elas e este déficit comunicativo limita a criança no desenvolvimento cognitivo e social e na construção da sua personalidade. Segundo o mesmo autor, a criança que experimenta o fracasso quando age sobre o meio, sente-se frustrada, diminui a motivação e o investimento necessário a qualquer atividade.O fato de se sentir inapta pode levá-la a desistir, porque sente que não é capaz ou que o próprio ambiente não lhe é responsivo. Temos que concordar com Santos e Sanches (2005) quando dizem que o desenvolvimento do ser humano assenta na sua capacidade de interagir com os outros da sua espécie e de atuar sobre o mundo, sendo que a qualidade e a quantidade das interações proporcionadas a uma criança são determinantes no seu desenvolvimento social e emocional. A criança com Paralisia Cerebral tem o seu desenvolvimento afetado, quer pelas lesões de que é portadora quer pelas limitações que daí advém, impedindo-a de experimentar e aprender como os demais, prejudicando o seu desenvolvimento. É importante ter em mente que o conceito de deficiência inclui a incapacidade relativa, parcial ou total, para o desempenho da atividade dentro do padrão considerado normal para o ser humano, mas também é preciso deixar claro que a pessoa com deficiência pode desenvolver atividades laborais desde que tenha condições e apoios adequados às suas características. 3.2 Classificação Coelho e Coelho (2001) ressaltam que, a partir do século XX, iniciou-se uma série de tentativas para sistematizar o conceito de deficiência mental. Inicialmente, as principais definições contemplavam o déficit intelectual e do comportamento adaptativo, além da imaturidade no que tange ao desenvolvimento e à questão da incurabilidade. Desde então, as principais mudanças acerca da definição de deficiência mental foram realizadas pela American Association on Mental Deficiency (atualmente denominada de American Association on Intellectual and Development Disability – AAIDD). Esta associação foi criada em 1876 e desde então lidera o campo de estudos sobre o tema. A AAIDD tem influência sobre os sistemas de classificação internacionalmente conhecidos como CID-10 e o DSM-IV. A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, conhecida como Classificação Internacional de Doenças ou simplesmente CID, tem por objetivo categorizar as descrições diagnósticas com base na organização das síndromes. A CID é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo revista periodicamente e encontra-se na sua décima edição. O DSM-IV, abreviatura de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth Edition (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais – Quarta Edição), é publicado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA). Assim como a CID, usa um sistema categórico. No entanto, considera-se um modelo ateórico, tendo por inspiração o modelo organicista. Além da CID, a OMS publicou, em 1976, a International Classification of Impairment, Disabilities and Handicaps (Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens – CIDID). Nesta, Impairment (deficiência) é descrita como as anormalidades nos órgãos e sistemas e nas estruturas do corpo; disability (incapacidade) é caracterizada como as consequências da deficiência do ponto de vista do rendimento funcional, ou seja, no desempenho das atividades; handicap (desvantagem) reflete a adaptação do indivíduo ao meio ambiente resultante da deficiência e incapacidade (FARIAS; BUCHALLA, 2005, p. 189). Posterior a várias versões e inúmeros testes, a OMS publicou, em 2001, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF (International Classification of Functioning, Disability and Health). A CIF é baseada, portanto, numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes de saúde nos níveis corporais e sociais. Assim, na avaliação de uma pessoa com deficiência, esse modelo destaca-se do biomédico, baseado no diagnóstico etiológico da disfunção, evoluindo para um modelo que incorpora as três dimensões: a biomédica, a psicológica (dimensão individual) e a social. Sendo que (...) os conceitos apresentados na classificação introduzem um novo paradigma para pensar e trabalhar a deficiência e a incapacidade: elas não são apenas uma consequência das condições de saúde/doença, mas são determinadas também pelo contexto do meio ambiente físico e social, pelas diferentes percepções culturais e atitudes em relação à deficiência, pela disponibilidade de serviços e de legislação (FARIAS; BUCHALLA, 2005, p. 189-190). Em 2002, a AAMR, atualmente AAIDD, definiu retardo mental (expressão adotada, à época, por seus proponentes) como sendo uma deficiência originada antes dos dezoito anos de idade, caracterizando-se por significativas limitações no que tange ao funcionamento intelectual, ao comportamento adaptativo e às habilidades práticas, sociais e conceituais (CARVALHO; MACIEL, 2003). Os autores acima destacam que o Sistema 2002 da AAMR é a referência para a classificação da deficiência mental e tem influenciado ainda outros importantes documentos, não apenas internacionais como também nacionais. A OMS lançou, em outubro de 2007, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em versão para crianças e jovens (CIF – CJ). Esta é uma versão derivada da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) desenvolvida para contemplar as características do desenvolvimento da criança e da influência dos ambientes que a cercam. A CIF – CJ pertence à “família” das classificações internacionais desenvolvidas pela OMS para aplicação em diversos aspectos relacionados à saúde. Atualmente, a classificação da Dl baseia-se mais em critérios adaptativos do que nos índices numéricos de QI. O comportamento adaptativo tem-se revelado fundamental na avaliação e classificação da Dl, associando a participação na vida ativa com a vida escolar, sem descuidar o aspecto sócio-emocional do deficiente intelectual (MORATO; SANTOS, 2002). Este conceito alarga os aspectos a serem avaliados após o diagnóstico da Dl, uma vez que anteriormente se utilizava apenas o QI do indivíduo como referência que os classifica em leve, moderado, severo ou profundo (LUCKASSON et al. 1997 apud SOUSA, 2010). Abaixo temos uma breve comparação das classificações para deficiência mental/intelectual. 1) AAIDD Definição: deficiência caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo – habilidades práticas, sociais e conceituais – originando-se antes dos dezoito anos de idade. Tipos de Apoio: • intermitente (Episódico) – o apoio se efetua apenas quando necessário. Caracteriza-se por sua natureza episódica, com duração limitada, ou seja, nem sempre a pessoa necessita de apoio, mas durante momentos, em determinados ciclos da vida; • limitado (consistente) – apoios intensivos caracterizados por duração contínua, por tempo limitado, mas não intermitente. Como por exemplo, o treinamento do deficiente para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios durante o período entre a escola, a instituição e a vida adulta; • extensivo (contínuo) – trata-se de um apoio caracterizado pela regularidade, normalmente diária em pelo menos em alguma área de atuação, tais como na vida familiar, social ou profissional. Nesse caso não existe uma limitação temporal para o apoio, normalmente se dá em longo prazo; • permanente (constante) – é o apoio constante e intenso, necessário em diferentes áreas de atividade da vida. Estes apoios exigem mais pessoal e maior intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado. 2) CID-10 Definição: F70-F79 – parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual, caracterizadosessencialmente por um comprometimento, durante o período de desenvolvimento, das faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, das funções cognitivas, de linguagem, da motricidade e do comportamento social. O retardo mental pode acompanhar um outro transtorno mental ou físico, ou ocorrer de modo independentemente. As categorias são: F70 – retardo mental leve; F71 – retardo mental moderado; F72 – retardo mental grave; F73 – retardo mental profundo; F78 – outro retardo mental; F79 – retardo mental não especificado. 3) DSM-IV Definição: a característica essencial do Retardo Mental é um funcionamento intelectual significativamente inferior à média (Critério A), acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança (Critério B). O início deve ocorrer antes dos 18 anos (Critério C). Um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média é definido como um QI de cerca de 70 ou menos. Inversamente, o Retardo Mental não deve ser diagnosticado em um indivíduo com um QI inferior a 70, se não existirem déficits ou prejuízos significativos no funcionamento adaptativo. Nível de gravidade refletindo nível de prejuízo intelectual: • F70.9 - 317 retardo mental leve (QI de 50-55 a aproximadamente 70); • F71.9 - 318.0 retardo mental moderado (QI de 35-40 a 50-55); • F72.9 - 318.1 retardo mental severo (QI de 20-25 a 35-40); • F73.9 - 318.2 retardo mental profundo (QI abaixo de 20 ou 25); • F79.9 - 319 retardo mental, gravidade inespecificada – quando existe forte suposição de Retardo Mental, mas a inteligência da pessoa não pode ser testada por instrumentos padronizados. 4) CIF Definição: deficiências são problemas nas funções ou nas estruturas do corpo, tais como, um desvio importante ou uma perda significativa (AMIRALIAN et al., 2000). Classificação: • 0 - sem deficiência; • 1- deficiência leve; • 2 - deficiência moderada; • 3 - deficiência grave; • 4 - deficiência completa; • 8 - sem especificação; • 9 - sem aplicação. UNIDADE 4 – ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO Quando se fala em necessidades especiais e educação inclusiva, pensa-se, num primeiro momento, que ela está relacionada apenas a alunos com deficiência mental, auditiva, visual ou física, mas não podemos nos esquecer que as crianças superdotadas, talentosas e portadoras de altas habilidades existem e acabam fazendo parte do grupo de portadores de necessidades especiais por uma gama de justificativas, a primeira delas, porque não são compreendidas pelos professores e demais profissionais da educação, os quais geralmente não estão preparados para atender a esse público. Tentaremos identificá-los e mostrar como podemos atendê-los no cotidiano da escola, mas primeiro, vamos a alguns conceitos e definições que auxiliarão muito na detecção dessas crianças. PRECOCIDADE – chamamos precoce a criança que apresenta alguma habilidade específica prematuramente desenvolvida em qualquer área do conhecimento. GÊNIO – é aquele que não apenas possui um talento relevante como também utiliza de forma produtiva, gerando obras de valor. A superdotação intelectual não pode ser tratada como sinônimo de genialidade, pois indica apenas um dado tipo de capacidade mental, enquanto que a genialidade resulta de uma condição de intelecto, condições socioeconômico culturais, motivação e trabalho duro (AVELAR, 2009). SUPERDOTADOS – seriam, de acordo com essa definição, aquelas pessoas que apresentam traços consistentemente superiores em relação a uma média e que sejam permanentes, podendo ser identificados em épocas diferentes (AVELAR, 2009). No Brasil, em 1995, a partir das Diretrizes Gerais para o Atendimento Educacional aos Alunos Portadores de Altas Habilidades, Superdotação e Talentos, estabelecidas pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e Desporto, foi proposta a seguinte definição: altas habilidades referem-se aos comportamentos observados e/ou relatados que confirmam a expressão de ‘traços consistentemente superiores’ em relação a uma média (por exemplo: idade, produção ou série escolar) em qualquer campo do saber ou do fazer. Deve-se entender por ‘traços’ as formas consistentes, ou seja, aquelas que permanecem com frequência e duração no repertório dos comportamentos da pessoa, de forma a poderem ser registradas em épocas diferentes e situações semelhantes (BRASIL, 1995, p. 13). Podemos ressaltar que essa definição destaca os traços e comportamentos acima da média relacionando-os à permanência e duração dos mesmos. A definição de superdotação que consta na Política Nacional de Educação Especial de 1994 diz que crianças superdotadas e talentosas são as que apresentam notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados (quadro abaixo). capacidade que envolve rapidez de pensamento, Capacidade intelectual geral compreensão e memória elevadas, capacidade de pensamento abstrato. Aptidão acadêmica específica atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória, motivação por disciplinas acadêmicas do seu interesse, capacidade de produção acadêmica. Pensamento criador ou produtivo originalidade de pensamento, imaginação, capacidade de resolver problemas de forma diferente e inovadora. Capacidade de liderança sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, capacidade de resolver situações sociais complexas, poder de persuasão e de influência no grupo. Talento especial para as artes alto desempenho em artes plásticas, musicais, dramáticas, literárias ou cênicas. Capacidade psicomotora desempenho superior em velocidade, agilidade de movimentos, forçam resistência, controle e coordenação motora. Um superdotado pode se destacar em uma área ou combinar várias, pode também apresentar graus de habilidades diferenciadas. Destaca-se aqui a questão das características e dos perfis individuais que são aspectos relevantes com relação à superdotação. Assim como nós, os superdotados podem apresentar sentimentos, atitudes e comportamentos diversificados, o que os caracteriza e os diferencia enquanto pessoa. Os pesquisadores George Betts e Maureen Neihart, após anos de estudos, pesquisas e observações, distinguiram os perfis dos alunos com altas habilidades em 6 tipos: bem sucedido, desafiante, escondido, desistente, rótulo duplo e autônomo (tipos explicados ao final da unidade). Essa tipificação não é um modelo diagnóstico de classificação, mas sim um referencial teórico que tem o objetivo de conscientizar-nos de que esses alunos são influenciados pela educação recebida pela família, pelas vivências, por seus relacionamentos, sentimentos e pelo desenvolvimento pessoal de cada um. Conhecer esses perfis e tipos é importante, pois, a partir deles o educador poderá traçar objetivos educacionais apropriados para o aluno superdotado e talentoso. Joseph Renzulli foi pioneiro ao dizer que os comportamentos de superdotação consistem de inter-relação de três traços humanos que são: habilidade acima da média em alguma área do conhecimento– não necessariamente muito superior à média. Um dos pilares fundamentais que manifesta a potencialidade superior em todo e qualquer campo do desempenho humano e envolve duas dimensões: a) habilidades gerais – incidem na aptidão de processar/apreender informações, agregar experiências que resultem em respostas apropriadas e adequadas a novas situações e na capacidade de se engajar às experiências abstratas; e, b) habilidades específicas – constituem-se na habilidade de adquirir conhecimento, prática e agilidade para atuar em uma ou mais atividades de determinadas áreas do saber e/ou fazer; envolvimento com a tarefa – motivação, vontade de realizar, perseverança, concentração. Refere-se a uma forma depurada e direcionada de motivação, uma força motriz canalizada para uma tarefa em particular ou uma área específica de atuação. Neste pilar, algumas palavras têm destaque especial para definir o envolvimento com a tarefa: perseverança, persistência, dedicação e autoconfiança; criatividade – pensar algo diferente, ver novos significados, retirar ideias de um contexto e usá-las. Envolve aspectos que geralmente aparecem juntos, como fluência, flexibilidade, originalidade de pensamento, abertura a novas experiências, curiosidade, sensibilidade e coragem para correr riscos. Conforme Alencar & Fleith (2001), na criatividade, constata-se uma multiplicidade de concepção. No entanto, as teóricas, por meio da análise de várias definições, enfatizam que um ponto fulcral é comum a todas: a elaboração de um produto novo, que venha atender às necessidades de uma dada cultura. Fonte: Renzulli (2004) Para ele, superdotados são aqueles que possuem esse conjunto de traços concomitantemente. Segundo estudos de Guenther (1995), para identificar um superdotado pode- se usar o teste de QI e a técnica de autoidentificação, conforme apresentamos abaixo: A – Testes de Inteligência2 (QI) Até algumas décadas atrás, o processo de identificação era relativamente fácil, pois, para tanto, bastava-se aplicar os testes de inteligência (QI). Entretanto, nos últimos anos, observou-se a ineficácia desses testes. Winner (1998, p. 15) diz que os testes de QI medem uma estreita gama de habilidades humanas, principalmente facilidade com linguagem e número. Há poucas evidências de que superdotação em áreas não acadêmicas, como artes ou música, requeiram um QI excepcional. Nesse sentido, há uma parcela da população que não está incluída nessas estatísticas, já que os testes padronizados não privilegiam áreas mais subjetivas, por exemplo, habilidades sinestésicas. A partir desse conhecimento, percebe-se que para a identificação de crianças superdotadas, múltiplos critérios devem ser utilizados considerando-se informações obtidas de fontes variadas, incluindo tanto a criança, como seus professores, pais e colegas, além, naturalmente, daquelas obtidas pelo psicólogo através do uso de testes. Além disso, existem muitos fatores que podem afetar sua pontuação, como o cansaço, doenças ou distração. Talento musical, artístico e vários outros não são medidos, mas os testes dão uma boa indicação de sua habilidade de pensar, raciocinar e resolver problemas, o que acaba sendo um fator crítico para o sucesso na vida. 2 QI é um rateio geral de sua habilidade de pensar e raciocinar. Sua pontuação é realmente uma indicação de como você se compara em relação à maioria das pessoas em seu grupo de idade. Uma pontuação de 100, por exemplo, significa que, quando comparado à maioria das pessoas em seu grupo de idade, você tem um nível de inteligência normal. Muitos psicólogos consideram aqueles que oscilam entre 95 e 100 como tendo QI normal ou médio. B – Técnica de autoidentificação A técnica de autoidentificação é uma das técnicas sugeridas por Guenther (1995) para ajudar nesse processo de identificação. Ela consiste em perguntar à criança sobre seus hobbies e interesses principais, as atividades desenvolvidas fora da escola, formas de pensamento preferidas, bem como reações a elementos de seu ambiente. A nomeação pelos companheiros de sala de aula, dos alunos que se destacam em alguns traços é outro critério que deve ser utilizado no processo de identificação. É muito importante o julgamento, a avaliação e a observação do professor. Este desempenha um papel significativo no processo de identificação, no sentido de atender às necessidades desses alunos e favorecer o seu desenvolvimento. Para facilitar essa identificação, Antipoff (1992, p. 23) sugere ao professor atentar-se: ao melhor aluno; àquele com vocabulário maior; ao aluno mais criativo e original; ao aluno com maior capacidade de liderança; ao aluno com pensamento crítico mais desenvolvido; ao aluno com maior motivação para aprender; ao aluno que os colegas mais gostam; ao aluno com maior interesse nas áreas das ciências; ao aluno que está mais avançado na escola em relação à idade. Winner (1998) ressalta também algumas características apresentadas em relação às habilidades escolares, algumas atitudes às quais todo professor deve ficar atento: leitura precoce por volta dos quatro anos, ou antes, com instrução mínima; fascínio por números e relações numéricas; memória prodigiosa para informações verbais e/ou matemáticas; frequentemente brincam sozinhas e apreciam a solidão; preferem amigos mais velhos, próximos a ela em idade mental; interessam-se por problemas filosóficos, morais, políticos e sociais; apresentam alto senso de humor em decorrência de habilidades verbais. Visto que o conceito de superdotação é multidimensional, deve-se observar também aqueles alunos que se destacam em artes, criatividade, esporte, dança, música e não somente em talentos acadêmicos (AVELAR, 2009). Existem muitos mitos com relação às crianças superdotadas e talentosas tais como: elas conseguem se desenvolver sozinhas sem ajuda, elas são fisicamente fracas, são emocionalmente instáveis, elas não são produtivas por muito tempo, ou seja, o talento desaparece na vida adulta. Dizem também que a criança nasce assim e nada poderá modificá-la, que a criança superdotada continuará a demonstrar habilidade intelectual superior independentemente das condições ambientais, que a boa dotação é sinônimo de alta produtividade na vida, que superdotação é um fenômeno muito raro, sendo poucas as crianças e jovens de nossas escolas que podem ser de fato consideradas superdotadas, a criança superdotada necessariamente terá um bom rendimento na escola, entre outros (WINNER, 1998). Para Avelar (2009), esses fatos precisam ser revistos e repensados por todos e cabe aos educadores, uma parcela importante no sentido de reconhecer capacidades e talentos especiais dos alunos. É preciso que se aprenda a educar no sentido de orientar as crianças superdotadas de modo a aumentar, desenvolver, crescer e aperfeiçoar sua capacidade e talento. Segundo Gallagher (s.d apud Guenther, 2000), três elementos são de uma maneira geral essenciais para atender a esses alunos dentro do contexto educacional: 1.Modificação do ambiente agrupar os alunos mais capazes em grupos compatíveis para a realização de atividades paralelas ou integradas no trabalho regular da sala de aula. 2.Modificação da postura do professor o professor na maioria das vezes procura e oferece respostas para problemas, conceitos e conteúdos colocados em sala de aula, essa posição deve serrevista. Por que não colocar questões para os alunos ao invés de oferecer respostas prontas e acabadas? Dessa maneira eles procurarão por soluções. O ensino deve ser centrado na compreensão da natureza do problema ao invés de respostas certas. 3.Modificação do conteúdo ensinado os conteúdos devem enfocar temas maiores, ideias abrangentes que integram uma gama maior de conhecimento, dentro de diversas matérias e disciplinas do currículo. As estratégias mais comuns para modificação do conteúdo curricular estão centradas na aceleração, no enriquecimento, sofisticação e novidade. Muito pode ser feito para os alunos superdotados talentosos. Ainda é Avelar (2009) quem nos dá boas dicas: caso você seja um professor consciente e deseja estimular ao máximo o potencial e talento de seus alunos mais capazes com ações que desenvolvam a criatividade, que estimulem a vontade do querer aprender e conhecer sempre mais e mais, nunca se esqueça de respeitar os interesses, características e áreas de talentos de cada um, pois somente dessa maneira, você poderá oportunizar que as potencialidades desses alunos germinem por todo o sempre. Nos dois quadros abaixo apresentamos os tipos de superdotados, de acordo com estudos de Betts e Neihat (citados anteriormente), mais a título de curiosidade e enriquecimento do que para uso como diagnóstico, pois as características podem Variar de indivíduo para indivíduo. 37 UNIDADE 5 - ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO – AEE O atendimento educacional especializado é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, graus e etapas do percurso escolar e tem como objetivos, entre outros, identificar as necessidades e possibilidades do aluno com deficiência, elaborar planos de atendimento, visando ao acesso e à participação no processo de escolarização em escolas comuns, atender o aluno com deficiências no turno oposto àquele em que ele frequenta a sala comum, produzir e/ou indicar materiais e recursos didáticos que garantam a acessibilidade do aluno com deficiência aos conteúdos curriculares, acompanhar o uso desses recursos em sala de aula, verificando sua funcionalidade, sua aplicabilidade e a necessidade de eventuais ajustes, e orientar as famílias e professores quanto aos recursos utilizados pelo aluno (SARTORETTO; SARTORETTO, 2008). O atendimento educacional especializado disponibiliza programas de enriquecimento curricular no caso de altas habilidades, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização, ajudas técnicas e recursos de tecnologia assistiva, dentre outros. Ao longo de todo processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físico, cognitivo, emocional, psicomotor e social e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Nesse sentido, o atendimento educacional especializado deve estar presente em todas as etapas e modalidades da educação básica, e se destina a apoiar o desenvolvimento dos alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. De oferta obrigatória dos sistemas de ensino, deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou em centro especializado que realize esse serviço educacional. O atendimento educacional especializado é realizado mediante a atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. O atendimento educacional especializado destina-se normalmente aos alunos da escola que apresentam algum tipo de deficiência, mas pode estender-se também aos alunos de escolas próximas, nas quais esse tipo de serviço ainda não esteja organizado. Pode ser realizado individualmente ou em pequenos grupos, em horário diferente daquele em que frequentam a classe comum. O Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008, além da sua disposição sobre o apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, ele tem como finalidade a ampliação da oferta do Atendimento Educacional Especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. De acordo com o disposto neste documento, considera-se Atendimento Educacional Especializado – AEE – o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação do ensino regular. Neste sentido, são objetivos do atendimento educacional especializado: I – prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos referidos no artigo 1°; II – garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III – fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e, IV – assegurar condições para a continuidade de estudos e nos demais níveis de ensino. 5.1 Conceito e definição O Atendimento Educacional Especializado (AEE), segundo Mantoan (2004), refere-se ao serviço de apoio para melhor atender às especificidades dos alunos com deficiência, complementando a educação escolar e devendo estar disponível em todos os níveis de ensino. A autora diz que a Constituição admite ainda que o atendimento educacional especializado deve ser, preferencialmente, oferecido na rede regular de ensino, no entanto, também pode ser oferecido fora da rede regular, já que é um complemento e não um substitutivo do ensino ministrado na escola comum para todos os alunos. Ele deve ser oferecido em horários distintos das aulas das escolas comuns, com outros objetivos, metas e procedimentos educacionais. Suas ações são definidas conforme o tipo de deficiência que se propõe a atender. O AEE, é de acordo com o MEC e a Secretaria de Educação Especial, um serviço da Educação Especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plenaparticipação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas. Fávero (2007, p.15 - 16) afirma que: [...] o simples fato de referir a pessoas com deficiência e seu direito à educação faz com que surja, de imediato, a noção de que é uma diferenciação mais que válida, necessária de tão acostumados que todos estão a identificar tais pessoas como titulares de um ensino especial. [...] este verdadeiro desafio, que coloca em xeque o costume de associar pessoas com deficiência a um ensino diferente apartado, porque as soluções que podem surgir disso, além de garantir as pessoas com deficiência o seu direito de igualdade, talvez seja uma contribuição para melhoria da qualidade de ensino em geral. Pode-se então compreender que de fato o AEE está garantido na legislação, contudo não há práticas de ensino específicas para inclusão, a não ser recursos que podem auxiliar os processos de ensino e de aprendizagem. O professor, de um modo geral, deve considerar as possibilidades de desenvolvimento de cada aluno e explorar sua capacidade de aprender. Os alunos com deficiências e condutas típicas, devido às suas particularidades, podem necessitar de estratégias, ações e recursos diferenciados para que o seu direito à educação seja assegurado. O conjunto desses serviços também é oferecido pelo Atendimento Educacional Especializado, que devem ser organizados institucionalmente em escolas públicas, mas podendo também atender alunos de escolas particulares, atendendo alunos da educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, para apoiar e complementar os serviços educacionais comuns de forma a favorecer o desenvolvimento desses alunos (BRASIL, 2007). Assim, o AEE complementa ou suplementa a formação do aluno com vistas à sua autonomia e independência na escola e fora dela. E sob o ponto de vista da legalidade, um dos pontos de discussão é garantir a aplicação da igualdade de acesso à educação formal, assim entramos num dilema que é saber [...] em qual hipótese “tratar igualmente o igual e desigualmente o desigual”, fórmula proposta ainda na Antiguidade, por Aristóteles. A utilização da fórmula aristotélica, pura e simplesmente, já demonstrou que, em certos casos, pode até configurar uma conduta discriminatória. Esta fórmula, em razão de sua sabedoria, jamais foi alterada, mas vem sendo constantemente aprimorada. A doutrina e jurisprudência existentes oferecem como solução o imperativo de tratamento igual para todos, admitindo-se os tratamentos diferenciados apenas como exceção e desde que eles tenham um fundamento razoável para sua adoção (FÁVERO, 2007, p.13). Portanto, o AEE é um recurso educacional que propõe estratégias de apoio e complementação colocados à disposição dos alunos com deficiências e condutas típicas, proporcionando diferentes alternativas de atendimento, de acordo com as necessidades educacionais especiais de cada aluno, podendo assim de fato garantir o direito à educação plena e de qualidade (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2010). O Atendimento Educacional Especializado na forma de apoio representa os atendimentos que favorecem o acesso ao currículo, podendo ser oferecidos dentro, como apoio ao professor relacionado a estratégias em sala de aula, ou fora da sala de aula no contraturno da escolarização, no caso para atendimento do aluno. Segundo Silva e Maciel (2005), o AEE na forma de complementação representa um trabalho pedagógico complementar necessário ao desenvolvimento de competências e habilidades próprias nos diferentes níveis de ensino, deve ser realizado no contraturno da escolarização do aluno e se efetiva por meio dos seguintes serviços: salas de recursos; oficinas pedagógicas de formação e capacitação profissional. Em linhas gerais, o objetivo do AEE, é o de oferecer o que não é próprio dos currículos da base nacional comum, possuindo outros objetivos, metas e procedimentos educacionais. Segundo Silva; Maciel (2005, p. 5), suas ações são definidas conforme o tipo de deficiência ou condutas típicas que se propõe a atender, bem como deve contemplar as necessidades educacionais especiais de cada aluno, as quais devem estar fundamentadas na avaliação pedagógica. De todo modo, o Atendimento Educacional Especializado não deve ser confundido com o reforço escolar nem como atendimento clínico, ou como substituto dos serviços educacionais comuns. Ressalta-se que a escolarização dos alunos com deficiências e condutas típicas deve ser um compromisso da escola e compete à classe comum, que deve responder às necessidades dos educandos com práticas que respeitem as diferenças (SILVA; MACIEL, 2005). No que se refere à formação do profissional para atuar na sala de recursos, o professor da sala de recursos deverá ter curso de graduação, pós-graduação e/ou formação continuada que o habilite para atuar em áreas da educação especial para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos. Essa formação é específica para cada deficiência ou condutas típicas (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2010). Portanto, o AEE se valida, de acordo com Fávero (2007), por ser um tratamento diferenciado, que tem sede constitucional, e que não exclui as pessoas com deficiência dos demais princípios e garantias relativos à educação. Assim, o Atendimento Educacional Especializado será válido somente se de fato levar o direito à educação. 5.2 As salas de recursos Lócus privilegiado do atendimento educacional especializado, a sala de recursos multifuncionais torna palpáveis e concretos, em nível de escola, os objetivos da política nacional de educação especial, seja pelo conjunto de meios e recursos que nela são colocados à disposição do aluno com deficiências, seja, sobretudo, pelo fato de que é na escola comum que a sala de recursos multifuncionais deve funcionar (SARTORETTO; SARTORETTO, 2010). As salas de recursos são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado de alunos com necessidades educacionais especiais, matriculados na escola comum. O atendimento em salas de recursos constitui um serviço educacional de natureza pedagógica, feito por professor especializado, num espaço dotado de materiais, equipamentos e recursos pedagógicos adequados às necessidades educacionais dos alunos da escola que apresentam dificuldades acentuadas em relação à aprendizagem, vinculadas a algum tipo de deficiência ou não. A sala de recursos multifuncionais é, portanto, um espaço da escola comum provido de materiais didáticos, pedagógicos e de tecnologia assistiva, onde trabalham profissionais com formação específica para o atendimento dos alunos com dificuldades educacionais especiais em razão de algum tipo de deficiência (auditiva, visual, motora, cognitiva, verbal), de transtornos globais de desenvolvimento ou de altas habilidades/superdotação. Chama-se sala de recursos multifuncionais, precisamente, porque nela se concentram materiais didáticos, equipamentos e profissionais aptos a atender, de forma flexível, aos diversos tipos de necessidades educacionais especiais (SARTORETTO; SARTORETTO, 2010). A sala de recursos é parte do Atendimento Educacional Especializado que propõe a complementação do atendimento educacional comum. As atividades nesta sala devem ocorrer em horário diferente ao turno do ensino regular, para alunos com quadros de deficiências (auditiva, visual, física, mental ou múltipla) ou de condutas típicas (síndromes e quadros psicológicos complexos, neurológicos ou psiquiátricos persistentes) matriculados em escolas
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