Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
S- RJBEIRO-COSTA & ROSANA MoREIRA DA RoCHA (COOrds) MOLLUSCA Cibele S. Ribeiro-Costa & Luciane Marinoni Depto de Zoologia, UFPR Entre os Mollusca estao incluidos os animals conhe- ;w caramujos, caracois, lestnas, mexilhoes, ostras, L lulas e polvos. Existe o registro de aproximadamente IX' especies de moluscos viventes em todo o mundo, i que para a costa brasileira, estao registradas cerca de I especies marinhas. Esse grupo e considerado o se- maior em numero de especies apos os Arthropoda lo previsoes da existencia de pelo menos mais 50.000 • descritas. Devido a presenca de conchas calcarias, !C esta amplamente representado no registro fossilifero •adesde o Cambriano. O numero de especies extintas Krde 50.000 a 60.000. D filo comp5e-se de sete classes: Aplacophora, iacophora (quitons), Monoplacophora, Scaphopoda las). Bivalvia (mexilh5es, ostras e vieiras), Gastropoda ois e lesmas) e Cephalopoda (Mas e polvos) (Ruppert nes. 1996; Brusca & Brusca, 2003). Autores como '95) e Salvini-Plawen & Steiner (1996) consideram e^a formado por oito classes, separando os Aplaco- i on duas classes distintas, Solenogastres e Caudofo- . Ruppert & Barnes, (1996) e Brusca & Brusca (2003) Jeram esses dois grupos em nivel de subclasse deno- ido-os Neomeniomorpha e Chaetodermomorpha res- omente, tomando como referenda os nomes dos ge- •nenia e Chaetoderma. Os moluscos sao invertebrados com grande radia- sfaptativa, estando representados nos mais variados de ambiente e com habitos os mais diversos. A maioria . .es e marinha; alguns gastropodes e bivalves atin- ,o ambiente de agua doce e apenas parte dos primeiros L o ambiente terrestre. Ha grupos de gastropodes - comensais e gastropodes endoparasiticos, estes • modificados, reconhecidos como moluscos principal- rpelas caracteristicas larvais. Os moluscos possuem importancia economica prin- ate no que se refere a alimentacao, ao comercio de • e a confec§ao de joias. Na alimentacao, mexilhoes, . vieiras, lulas e escargots sao os mais utilizados. O Je conchas e realizado principalmente entre cole- s, que pagam valores variados, dependendo da aridade da concha. Para a confeccao de joias, sao principalmente as famosas e cobigadas perolas e olas, produzidas por bivalves. Sua importancia :a baseada no fato de que ha gastropodes hospe- intermediarios de vermes que transmitem doencas . como a esquistossomose. Sao varias as hipoteses sobre a origem dos Mollusca. ; considera o grupo como tendo se originado de um ancestral acelomado semelhante a um platielminto turbelario. Outra defende que seu ancestral seria um animal celomado com corpo segmentado, semelhante a um anelideo (poliquetos, minhocas e sanguessugas). Uma terceira hipotese diz que eles seriam descendentes de uma especie celomada, mas nao metamerizada. Segundo Brusca & Brusca (2003), os Mollusca aproximam-se filogeneticamente dos filos de protostomios Sipuncula, Echiura e Annelida por compartilhar com estes a presen§a de clivagem do tipo espiral. celoma esquizocelico e larva trocofora. Estudos moleculares tambem suportam a afi- nidade entre moluscos e esses tres grupos que formam o taxon Trochozoa. Ainda. segundo Scheltema (1993), eviden- cias embriologicas e moleculares situam o Filo Sipuncula como sendo o mais aproximado de Mollusca. Dentre os filos discutidos ate agora neste livro, este e o primeiro a apresentar celoma. ou seja, uma cavidade no corpo originada a partir do terceiro folheto embrionario, a mesoderme. No caso dos moluscos essa cavidade tern ori- gem a partir de fendas em um agregado de celulas mesenquimais que constituem faixas mesodermicas solidas, recebendo esse processo a denominacao de esquizocelia (Ruppert & Barnes, 1996). Os Mollusca constituem um grupo monofiletico e as sinapomorfias indicadas por Ruppert et al. (2005) com base em estudos de varios autores sao: presenca de manto com espfculas calcarias; radula; pe com musculos retratores pe- dais pares; branquias bipectinadas; e sistema nervoso tetraneuro. O manto e uma area ampla de epitelio dorsal com cuticula engrossada, que produz espfculas ou uma ou mais conchas calcarias; usualmente expande-se em dobras peri- fericas que protegem as areas laterals do corpo, algumas vezes cobrindo-o completamente. A radula localiza-se na cavidade bucal e e formada por uma faixa de denies quitinosos curves, tendo como principals funfoes a raspa- gem e coleta de alimentos (Figura 50A). Aradula ocorre em todos os moluscos, com excecao dos bivalves em sua maio- ria animals filtradores. O pe, quando completamente desen- volvido, assemelha-se a uma ampla sola rastejadora ventral, recoberta por epitelio ciliado e com glandulas mucosas (Fi- gura 48). Estas ultimas produzem o muco que lubrifica a superficie de rastejamento, auxiliando no processo de loco- mo§ao por ondas de contra§ao muscular. Em alguns casos, o pe pode estar reduzido, restringir-se a um sulco ventral ou estar ausente, como no caso dos aplacoforos. Alem desses caracteres, a concha e uma caracteristi- ca marcante dos moluscos (Figura 45). E produzida por glan- dulas no manto e, quando completamente desenvolvida, recobre a maior parte do corpo do animal protegendo-o con- 81 Invertebrados. Manual de Aulas Pratt tra predadores. Em Neomeniomorpha o manto secreta espfculas isoladas, enquanto que em Chaetodermomorpha ocorrem escamas. Nos poliplacoforos, ocorrem oito placas calcarias imbricadas entre si e, nos Monoplacophora, Scaphopoda, Bivalvia, Gastropoda e Cephalopoda, a con- cha pode ser unica ou com duas valvas, interna ou externa, ou mesmo ausente como no caso dos polvos. Com respeito ao relacionamento filogenetico entre as classes de Mollusca, segundo Brusca & Brusca (2003) os grupos mais basais sao os Chaetodermomorpha e os Neomeniomorpha que compoem a Classe Aplacophora. Os demais moluscos formam um grande grupo monofiletico. Nesse grupo, os Polyplacophora corresponderiam a um ramo basal isolado, tendo como um dos caracteres exclusivos a presen9a de oito placas calcarias imbricadas. O restante das classes, ou seja, os Monoplacophora, Gastropoda, Cephalopoda, Scaphopoda e Bivalvia formam um grupo monofiletico denominado Conchifera, definido principalmen- te pela presenca de concha em pe9a unica, com periostraco e camadas calcarias, uma sinapomorfia para esse grupo. Monoplacophora, ramo basal de Conchifera, caracteriza-se pela presen9a de seriacao de estruturas de varies sistemas, uma caracteristica semelhante em alguns aspectos com os Annelida. Os Gastropoda e Cephalopoda sao grupos-irmaos, compartilhando a presen9a de uma cabe9a extensivel e con- cha conica, alta. As conchas dessas classes diferenciam-se quanto aos septos internes, presentes e separando camaras utilizadas para flutua9ao nos Cephalopoda, e ausentes em Gastropoda. Os Scaphopoda e os Bivalvia formam um grupo monofiletico, pois apresentam manto, branquias e cavidade do manto desenvolvida lateralmente, e pe adaptado para es- cava9ao. A concha tubular de Scaphopoda e a presen9a de duas valvas articuladas em Bivalvia sao, respectivamente, caracteres autapomorficos para cada um desses grupos. Os orgaos internes dos Mollusca estao concentra- dos em uma massa visceral. O tubo digestive e complete. O estomago dos Conchifera apresenta um escudo quitinoso e uma area ciliada de sele9ao de partfculas. Aregiao posterior do estomago possui um saco onde fica alojado o estilete cristalino, composto por protemas e enzimas (amilases) que auxiliam na digestao. Arota9ao desse estilete contra o escu- do quitinoso, juntamente com o batimento dos cflios, pro- move o movimento giratorio do muco e alimento, formando um cordao denominado protdstilo. A acidez do estomago reduz a viscosidade do muco, liberando as partfculas ali- mentares que sao posteriormente triadas. O intestine tende a ser mais enovelado nos grupos mais apicais. Como a maioria dos moluscos e marinha, a principal estrutura para trocas gasosas e a branquia tambem chama- da de ctenidio, que pode ser monopectinada (Monoplaco- phora) ou bipectinada. As branquias ocorremisoladamente ou aos pares, sendo o numero variavel em certos grupos. Na cavidade do manto ou no sulco palial, area formada pela invagina9ao do manto, localizam-se as branquias, bem como as aberturas dos sistemas digestive, excretor e reprodutor (Figura 39D). Nessas mesmas areas ocorre a circula9§o de agua produzida pela movimenta9ao de cflios das branquias, que formam uma corrente inalante e outra exalante. Apri- meira traz agua para dentro da cavidade e banha as branquias 82 que retiram o oxigenio da agua. A segunda leva ao extern produtos provenientes do anus, nefridios e gonadas. ! caso dos gastropodes nudibranquios, as branquias locafc zam-se externamente. E, no caso dos gastropodes pulrno«» dos terrestres, a branquia foi perdida e houve o apare to de um "pulmao". Com exce9§o dos Cephalopoda, o aistema circ rio e aberto e, na maioria das vezes, o corac.ao esta pre e dividido em camaras que, no caso dos monoplacof* chegam a 10. Frequentemente o cora9ao e formado por ventriculo e duas auriculas. Quando a agua contendo genio penetra na cavidade do manto pela abertura inal flui na branquia, o sangue no interior da mesma flui em 930 oposta. O sangue, com sua afinidade com o oxigi aumentada pela hemocianina em solu9ao, recebe o oxigi por difusao a partir da corrente de agua e e coletado em vaso eferente em dire9ao as auriculas e, do ventriculo px- tern uma aorta anterior e outra posterior, que distribuem sangue nos espa9os celomicos, oxigenando os tecidos. sangue venose drenado por varies capilares dirige-se i branquias atraves de um vaso aferente. Os metanefridios, de aspecto tubular, variam de um; sete pares, sendo que em moluscos mais derivados poda estar ausentes. Tern como fun9ao filtrar o liquido celomia da cavidade pericardica, ocorrendo reabsor9ao seletiva n paredes do nefridio. O nefrostoma abre-se na cavidad pericardica e o nefridioporo, na cavidade do manto. ( excretas sao entao descarregados na cavidade do man! por um duto que tambem pode transportar gametxi Moluscos aquaticos excretam principalmente amonia c maioria das especies marinhas sao isotonicas com relaq ao meio; os de agua doce excretam urina hiposmotica. poi reabsorvem sais. No caso dos animais terrestres, a ureiaet produto excretado. O sistema nervoso e composto por um anel de oat se originam dois pares de cordoes nervosos longitudina (chamado de tetraneuro). Nos grupos mais apicais, e tipi mente ganglionar, havendo varia9ao no grau de fusao ganglios; o mais alto grau e encontrado em Cephalopod Os ganglios ocorrem aos pares e sao basicamente cina cerebral, pleural, visceral, parietal e pedal. Nos Cephalopod Bivalvia e Gastropoda mais derivados os ganglios cerebra e pleurais estao fusionados. Com exce9§o dos grupos mais basais (Chaetodenn morpha e Neomeniomorpha), as estruturas sensoriais ma comuns nos moluscos sao tentaculos fotorreceptores. esa tocistos e osfradios. Estes ultimos localizam-se proximosl branquias e atuam monitorando a presen9a de substanci qufmicas e talvez partfculas que penetram na cavidade pal com a corrente inalante. A maioria das especies e dioica, porem podem exia especies hermafroditas, como o gastropodo terrestre escargt no qual a fecunda9ao e interna. Na maioria das especies aqd ticas, os gametas sao eliminados na agua e a fecundad ocorre externamente. Nas especies marinhas, o desenvofr mento e indireto, sendo a larva do tipo trocofora livre-nataa podendo seguir-se a fase de larva veliger. Apos essa larva fixa-se ao substrata, onde ocorre a metamorfose, mindo posteriormente o habito do adulto. Nos animais A: ROSANA MOREIRA DA ROCHA (coords) volvimento e quase que exclusivamente desenvolvimento tambem pode ser obser- ie-s e gastropodes terrestres. Ifpiacophora sao animals conhecidos como nsiderados como um dos ramos mais basais >a dos moluscos, com placas calcarias rigi- jnte resultantes da fusao das espiculas B^jlacoforos. O nome do grapo esta relaciona- placas, que sao dorsals e em numero ban registrados individuos anomalos com cin- • nove placas, mas sao raros. Existem cerca de ;s, cerca da metade em aguas rasas, sen- mns na zona entremares onde vivem fixadas as Brasil. sao mais freqiientemente encontradas nas •es da regiao Nordeste e, mesmo assim, nao sao KSmtes. Sao mais ativas durante a noite, quando cwa de alimento, que se constitui principalmente bodas por raspagem de rochas, com o uso da » caracteres desse grupo estao claramente rela- rpo de ambiente em que vivem. O pe musculo- o cinturao formado pelo manto, o achatamento x Jo corpo e a reduijao da cabe£a sao adapta- .10 rochoso. As placas calcarias imbricadas . •::; si po^sibilitain ao animal melhort 'i\acao ar< Jtmvexas; quando ameac.ado, tern a capacida- - >mo me.canismo de prote£ao. Ischnochiton sp. (Figura 39) enero Ischnochiton distribui-se na costa brasilei- •tmente nas regioes Sul e Sudeste. O habitat e •ento das especies desse gemero sao semelhan- scriTos para os Polyplacophora como um todo. io ao tamanho, variam de 0,5 cm a 4 cm de compri- igico: especimes previamente anestesiados sp., conservados em alcool 70% e laminas :n montagem das placas calcarias e da radula. 1 aboratorio: microscopic optico, estereomi- maria, cuba de dissec§ao, pin§as de ponta Externa (Figuras 39A-D) o estudo da morfologia externa deve-se obser- submerso em agua. Em vista dorsal sao reco- ficilmente as oito placas calcarias imbricadas. O L que consiste de parte do manto recoberto por es- ferola. contorna as placas (Figura 39A). Entre os antes de poliplacoforos, o cinturao varia em largu- o. em alguns casos, recobrir totalmente as placas. interior ou cefalica e a posterior ou anal sao serni- i. a primeira sendo levemente emarginada posteri- ormente e a segunda apresentando-se com margem anterior quase reta (Figuras 39A, C). As placas intermediarias sao semelhantes entre si, apresentando forma retangular. Nessa especie tanto as placas quanto o cinturao apresentam-se ornamentados. Especificamente no cinturao, devem ser ob- servadas as escamas e espinhos calcarios, sob estereomi- croscopio e em maior aumento (Figura 39B). Ventralmente a estrutura que mais chama a aten9ao e o pe, pois e amplo, em forma de sola achatada, ocupando a maior parte da regiao (Figura 39D). Logo a frente do pe pode ser diferenciada a regiao cefalica com a boca localizada cen- tralmente. Entre o pe e o cinturao localiza-se um sulco perife- rico, denominado sulco palial. Nesse sulco alojam-se branquias bipectinadas dispostas aos pares. O numero de branquias e variavel. A corrente de agua penetra por duas areas laterals a cabeca, formadas pela elevacao do manto. Em seguida, a agua banha as branquias, para sair posterior- mente por uma area proxima a regiao anal. Um gonoporo e um nefridioporo estao presentes de cada lado no tergo pos- terior do sulco palial, nao sendo facilmente visualizados. Tambem nem sempre visivel encontra-se o anus, posicionado na extremidade posterior do sulco palial. Com relacao as camadas da concha em poliplacofo- ros, Haas (1982) e Haas et al. (1979) comentaram que a formagao das camadas em quitons e Conchifera sao funda- mentalmente semelhantes, ocorrendo tres camadas. Eles re- conheceram pequena diferenga na secrecao da camada mais externa, considerando a area do manto envolvida na secre- 530, homologa a prega externa da margem do manto que secreta o periostraco dos Conchifera. Ao contrario desses autores. Ruppert et al. (2005) consideram a presenca de qua- tro camadas nas placas de poliplacoforos o que suporta a origem independente das placas e das conhcas nos polipla- coforos e nos conchiferos. Para melhor compreensao da articula9ao entre as pla- cas e suas camadas, deve-se utilizar laminas permanentes previamente preparadas, visto que as areas de articula^ao ficam inseridas dentro do manto, nao sendo visualizadas sem que a placa seja removida do especime. Observando a seqiiencia das placas, nota-se que, excetuando-se a cefalica, todas apresentam duas areas projetadas anteriormente, de colora5ao mais clara, denominadas apofises(Figura 39C). Exceto nessas areas, o restante das placas apresentam a camada mais externa, o periostraco, diffcil de ser visualizada, pois sua espessura e micrometrica. A camada abaixo do periostraco, o tegumento, e constituida por uma matriz orga- nica (conchiolina) impregnada de carbonate de calcio. O tegumento apresenta-se perfurado por canals ramificados onde ficam alojados numerosos orgaos sensoriais, chama- dos estetos, nao visiveis. A func.ao dessa estrutura ainda nao e clara, apontada como sendo foto, mecano ou quimiossensorial. As apofises sao formadas pela articula- ^ao e pelo hipostraco, camadas inteiramente calcarias e que tambem ocorrem na area do tegumento. Morfologia Interna (Figuras 39E,F) Como esses animals nao sao encontrados com fre- qiiencia em todas as regioes do pais, torna-se dificil sua utiliza9ao para um estudo morfologico interne em aulas pra- 83 •»HRO-COSTA & ROSANA MoREIRA DA RoCHA (cOOrds) io entanto, e interessante que se estude ao menos a . previamente montada em lamina permanente. Essa i surgiu anteriormente na filogenia de Mollusca, na ancestral de todo o grupo, mas seu estudo em foros e dificultado por possufrem tamanho em torno imm e nao serem facilmente coletados. A radula e longa e compoe-se de diversas fileiras is de denies, apresentando geralmente 17 denies Kada uma delas. Porem, nem sempre lodos os denies sao j_- - rr.ie visfveis, pois a radula fica alojada denlro do saco . iula. e suas margens laterals tendem a se enrolar. So- •e durante a alimenlacao e que a radula ao se projelar : . da boca. altera seu t'ormato, tornando-se mais acha- •LI e expondo lodos os denies. Alguns denies das fileiras erais eslao impregnados com magnelita, conferindo-lhes - .nracao escura. Caracten'siicas como radula longa e . enJurecidos evidenciarn adaplacoes ao habito qua- oontinuo de raspagem de subslralo duro para oblen^ao _:mento. Qwstdes L Quais sao as caracleristicas morfologicas exlernas dos quftons que represenlam adaptagoes ao ambienle onde vivem? nine os quilons oblem seu alimenlo? 5. Como apresenla-se o manlo exlernamenle? I, Em moluscos, as Irocas gasosas podem ser realizadas airaves do manto, branquias ou "pulmoes". Discorra sobre a respira9ao nos quftons e caracierize as estruiu- ras que participam desle processo. i. No que o piano geral dos Polyplacophora parece mais avangado que os Aplacophora ? 6. Desenhe a superficie ventral de um Polyplacophora e, por meio de setas, indique a dire9§o das correntes inalante e exalanle. Sugestoes Comparar em especies diferenles de quilons o lipo de omamenla9ao, lanlo nas placas quanlo no cinlurao do man- to. Com base na lileralura, denominar tais ornamentacoes. BIVALVIA Os Bivalvia, (Pelecypoda ou Lamellibranchiata), com- preendem os animais freqiienlemente conhecidos como mexilhoes, oslras, vieiras, berbig5es e sururus, entre outros. E a segunda classe em nurnero de especies, depois dos Gastropoda, com cerca de 20.000 especies viventes descri- las. Ocorrem nos ambienles marinho e de agua doce, possu- indo tamanho variavel de 2 mm a 1 m de comprimenlo. Tridacna gigas e a maior especie, pesando cerca de 1.100 kg. Como comenlado anleriormenle, os Bivalvia perten- cem ao laxon Conchifera, que compreende lambem as clas- ses Monoplacophora, Scaphopoda, Gaslropoda e Cephalo- poda. Um dos caracleres que definem a monofilia do grupo e a presen9a da concha, formada por Ires camadas. A mais exlerna, o periostraco, compoe-se de material proleico de- nominado conchiolina ou conchina, e pode ser muito espes- so como em mariscos de agua doce ou muito fino e ate estar desgastado. A camada intermediaria constilui-se de uma matriz proteica impregnada de crislais de carbonalo de cal- cio disposlos verticalmente, denominada de ostraco. A ca- mada mais interna, que tambem e constituida de crislais de carbonalo de calcic, mas disposlos em lamelas, recebe o nome de hipostraco (Figura42G). Onacaroumadreperolaeo revestimento liso, perlado e interne de muilas conchas, ou seja, o hipostraco nacarado que se compoe por crislais de aragonita em placas achatadas, dispostas em camadas paralelas. Os Bivalvia, como o nome ja diz, sao caracterizados pela presen9a de duas valvas articuladas enlre si. O corpo sofreu modifica95es importantes sob o ponlo de visla adaplativo, como a compressao lateral, a expansao da cavi- dade do manlo, abrigando branquias amplas com Iratos ciliares elaborados, redu9ao da cabe9a e a forma mais espatulada do pe, caracleristicas evidentes naqueles de ha- bilo escavador. Esse ultimo caraler e uma sinapomorfia de Bivalvia e Scaphopoda (denlalios), que apresenlam o habi- to escavador. A perda da radula nos Bivalvia e unica dentre os moluscos e representa uma autapomorfia para esse gru- po. Com a ausencia da radula, as branquias desempenham a fungao de filtra9ao de agua para a caplura de alimento, alem de efeluarem as Irocas gasosas. Os bivalves sao predominantemenle habitantes se- denlarios de fundo aqualico. Ocorrem na linha de mares, em aguas rasas, mas alguns alingem ale 5.400 melros de pro- fundidade. Sofreram grande radia9ao adaptativa, ocorrendo tanto na infauna como na epifauna. Os habitantes da infauna sao escavadores de fundo mole, vivendo abaixo da superfi- cie; os habitantes da epifauna podem ser sesseis, presos a substrates como madeira, conchas e rochas, ou ainda de vida livre. A principal adapta9ao das especies da infauna e a forma9ao de sifoes, que atuam na capta9ao da agua da su- perficie, livre de sedimento. Alem disso, o pe e grandemente desenvolvido e, sob 3930 de musculos, atua no processo de penelra9§o no subslralo, sendo a concha puxada para denlro dele. No caso dos animais presos a superficie, as caracte- risticas mais marcantes sao aquelas relacionadas ao modo de fixa^ao, tendo o pe sofrido grande redufao, pois perdeu sua fun9ao escavadora. O mexilhao apresenla filamenlos corneos que prendem o animal ao coslao rochoso, denomi- nado bisso, enquanlo que as oslras sao sesseis e lem a propriedade de cimentar uma de suas valvas ao substrate. Como exemplo de bivalves nao fixos, encontram-se as vieiras, que apenas se fixam por um bisso quando jovens. Mais tarde, quando adultas, deslocam-se ativamente por meio de jato propulsao ao ejetar agua pelo rapido fechamen- lo de suas valvas. Esse modo de Iocomo9ao e importante no que diz respeilo a fuga de predadores. Ha ainda especies perfuradoras de madeira, como os teredos. Eles exercem fun9ao ecologica importante na de- grada9ao da madeira presenle no mar, mas tambem podem causar series prejuizos, destruindo, por exemplo, pilares de ancoradouros. Esses animais lem corpo alongado, sifoes curtos e valvas pequenas com denticulos nas margens que atuam na raspagem da madeira. Possuem em seu trato diges- tive baclerias simbiontes para a digestao da celulose. 85 Invertebrados. Manual de Aulas Praticas As perolas podem ser produzidas pela maioria dos moluscos com concha, mas apenas aqueles em que o hipostraco compoe-se de cristais tabulares espessos, perlados, e que sao responsaveis pela produfao de perolas com valor comercial. O nacar e encontrado nos monoplaco- foros, gastropodes, cefalopodes e bivalves. Quando uma partfcula (um grao de areia, um peque- no organismo, etc.) aloja-se entre o manto e a concha, a camada mais interna da concha, o hipostraco passa a depo- sitar nacar sobre a partfcula, resultando na forma9ao de uma perola, mas a maioria delas e pequena e/ou irregular, nao tendo valor como joia. As perolas naturais mais valiosas sao produzidas pela ostra Pinctada margaritifera, conhecida como "ostra- dos-labios-negros", que produz a perola negra. As perolas variam de cinza escuro ao negro sendo as negras extrema- mente raras, o que contribui para torna-las caras, alem da selefao por tamanho e brilho. A Polinesia Francesa destaca- se com alta produfao dessas perolas. Ja o maior produtor de perolas cultivadas e o Japao, onde a especie mais utilizada para este fim e Pinctada fucata, comumente chamada de "ostra akoya". Com brilho caracteristico,as perolas akoya sao mais utilizadas na confec9ao de colares. Sua coloracao geralmente e branca ou creme, podendo possuir tonalida- des que variam entre rosa, amarelo ou verde. Entre os bivalves, encontram-se ainda especies de importancia na alimenta9ao humana, como mexilhoes, os- tras, sururus e vieiras. O cultivo de mexilhoes ou mitilicultura. e ostras ou ostreicultura, e bastante desenvolvido no sul do Brasil, principalmente em Santa Catarina. Especies com maior importancia economica sao o mexilhao Pemapema e a ostra Crassostrea gigas. O cultivo de vieiras, principal- mente da especie Nodipecten nodosus, encontra-se ainda em fase inicial no Brasil, concentrando-se principalmente no Rio de Janeiro. Diversidade Morfologica de Conchas de Bivalvia (Figura 40) As conchas de Bivalvia sao caracterizadas pela presenca de duas valvas, geralmente convexas e articu- ladas entre si. Apresentam-se com diferentes formas, ta- manhos. cores e ornamenta§6es, o que atrai tanto ama- dores como pesquisadores. Como os bivalves possuem ampla radiacao adaptativa, ha grande varia9§o na morfologia externa de suas conchas, sendo que muitas das caracten'sticas apresentadas sao importantes na taxonomia do grupo. inclusive indicando tipos de habitat e habitos desses animais. E possivel que as ornamenta- coes, como carenas e costelas. que acarretam certo engrossamento da concha, atuem como adapta^oes con- tra a 3930 de predadores. A colora9ao da concha resultante da deposi9ao de pigmentos em suas camadas, e muito variavel. desde tons claros, com ou sem manchas, a tons escuros fortemente bri- Ihantes, normalmente responsaveis por afugentar predado- res. Podem possuir tambem, como estrategia de defesa, co- res em tons capazes de camuflar o animal no ambiente em que se encontra. Material Bioldgico: conchas de berbigao (Anomalocardia brasiliana), mexilhao (Pernapema) e vieira (Euvola ziczacl Material de Laboratdrio: estereomicroscopio e luminaria. Morfologia Externa (Figuras 40A-G) Ao estudar um bivalve depara-se com um primeire desafio: a identifica9ao das valvas direita e esquerda. Para isso, deve-se inicialmente reconhecer as regioes da concha. A regiao dorsal geralmente e definida pela presen9a do umbo (Figura 40A), uma protuberancia que representa a regiao mais antiga da concha e a mais espessada. Nesses casos. a regiao ventral e a oposta a do umbo. Nos mexilhoes, habi- tantes fixos de superffcie, o umbo encontra-se deslocado e define a regiao anterior (Figura 40D); a regiao ventral e aquela por onde sai o pe nas especies cavadoras de fundo mole, como o berbigao e ainda o bisso, em especies que sc fixam ao substrate (Pernapema). Nas especies cavadoras de fundo mole, como o berbigao, na face interna da concha ha uma cicatriz sino- osa, o seio palial (Figura 40B). Essa reentrancia identifies a regiao posterior, de onde partem para o exterior os si- foes. Nesse caso, para se identificar qual das valvas e a direita, deve-se posicionar a concha com o umbo par* cima e a cicatriz do seio palial direcionada para tr valva deve ficar com a face externa acomodada na palma da mao direita. Nem sempre este modo de identificacaoi efetivo devido a grande variabilidade de formas de i chas em bivalves. No mexilhao e na vieira o seio palui esta ausente em fun9ao do habito de vida que apresea- tam. O mexilhao e um habitante fixo de superffcie, e com o umbo esta deslocado para a regiao anterior, a repi oposta e a posterior. Na vieira, que e um bivalve de vid livre, a regiao posterior somente pode ser identificadi pela ampla cicatriz do musculo adutor posterior i F • . . - 40G). Nesses bivalves, a valva esquerda e achata, direita convexa. Na face externa das valvas ha diferentes tipos 4 ornamenta9oes (costelas, escamas, espinhos, estrias* No berbigao pode-se observar costelas concentric proeminentes e radiais, menos proeminentes; na \ costelas tambem estao presentes, conspfcuas. do-se radialmente. Ainda externamente situam-se ̂ nhas de crescimento que sao marcas concentricas. p co elevadas, especialmente visfveis nos mexilhoe* vieiras (Figuras 40D,F). A area definida por duas defl linhas representa a deposi9ao das camadas da cond partir da margem do manto. Como o crescimento do mal da-se juntamente com o crescimento da concha.! idade pode ser estimada pelo numero de linhas. dendo da especie o crescimento ocorre apenas em 4 minadas esta96es do ano. Para melhor entendimento das estruturas nadas lunula e ligamento, deve-se observar as va berbigao fechadas e em vista dorsal. A lunula e uma i cordiforme situada anteriormente aos umbos, e o I to, uma regiao escurecida e posterior a eles (Fis Essa estrutura elastica compoe-se de material recoberto pelo periostraco e atua na abertura das < 86 i A ROSANA MOREIRA DA ROCHA (coords) MOLLUSCA - BIVALVIA umbo charneira \ ligamento ANTERIOR cicatriz do musculo adutor anterior linha palial cicatriz do musculo adutor posterior B seio palial lunula C ligamento POSTERIOR cicatriz do musculo mediano retrator do bisso ligamento cicatriz do musculo retrator do pe cicatriz do musculo posterior retrator do bisso cicatriz do musculo anterior retrator do bisso linha palial cicatriz do musculo adutor posterior fosseta resilifera \ linhas de cicatriz do crescimento musculo adutor posterior costelas radiais linha palial 4§. Anomalocardia brasiliana. A. Vista externa da valva esquerda. B. Vista interna da valva direita. C. Vista dorsal - a. Pema perna. D. Vista externa da valva esquerda. E. Vista interna da valva direita. Euvola ziczac. F. Vista externa i direita. G. Vista interna da valva esquerda. 87 Invertebrados. Manual de Ante Ml * No caso do mexilhao o ligamento e visivel quando as valvas estao abertas, pois ele esta localizado internamente em toda metade anterior dorsal (Figura 40E). No caso das vieiras, em conchas abertas e preservadas por longo tempo, o liga- mento nao e visivel, porem e possfvel identificar-se o local de sua insercao. Para isso, deve-se observar a face interna dorsal da concha direita e reconhecer uma depressao subtriangular, denominada fosseta resilifera (Figura 40G). As valvas articulam-se tanto pela a?ao do ligamento quan- to pela acao dos miisculos adutores anterior e posterior, que unem uma valva a outra (Figuras 40B,E,G). Quando estes ultimos encontram-se contraidos, o ligamento exter- no distendido, as valvas estao fechadas; a a?ao inversa faz com que as valvas se abram. Para identificafao das cicatrizes dos musculos adutores deve-se observar a face interna de uma das valvas do berbigao, ja que os outros especimes estuda- dos, a vieira e o mexilhao, possuem somente o musculo adutor posterior. Em todos os especimes estudados pode- se observar uma cicatriz fina, a linha palial. seguindo a margem ventral da valva. Essa e a cicatriz de inserfao da musculatura palial (Figuras 40B. E e G). Como comenta- do anteriormente, essa linha forma uma reentrancia na regiao posterior, o seio palial, que representa a cicatriz dos musculos retratores dos sifoes. Apenas no mexilhao ocorrem outras cicatrizes de musculos na face interna das valvas (Figura 40E). Esses musculos atuam no pe e no bisso. A cicatriz do musculo anterior retrator do bisso situa-se proximo a regiao do umbo; a do musculo mediano retrator do bisso situa-se dorso-medianamente e encontra-se aproximado da cicatriz do musculo retrator do pe e a cicatriz do musculo posteri- or retrator do bisso situa-se acima da cicatriz do musculo adutor posterior. No berbigao podem ser observadas estruturas que evitam o deslizamento das valvas na face interna das mes- mas, como os dentes e suas respectivas fossetas. A lamina dorsal abaixo dos umbos, onde se localizam os dentes e fossetas denomina-se charneira (Figura 40B) e encontra-se reduzida no mexilhao e ausente na vieira. QuestSes 1. Quais as hipoteses que podem ser levantadas com rela- 530 ao habitat e ao habito dos Bivalvia apenas analisan- do-se suas valvas? 2. Por que as regioes do corpo dos Bivalvia tomam diferen- tes posicionamentos? 3. Como identificam-seas valvas direita e esquerda? 4. Com base na literatura, explique como os musculos e o ligamento atuam no abrir e fechar das valvas. Sugestao Com a finalidade de melhor reconhecer as camadas da concha, periostraco (externa), ostraco (intermediaria) e hipostraco (interna), deve-se observar sob estereomicros- copio parte de uma concha quebrada. O periostraco e mais conspicuo no mexilhao, possuindo aparencia amarronzada; o hipostraco nacarado e iridescente no mexilhao e o ostraco sempre tern aparencia esbranquigada. Pernaperna (Linnaeus, 17581 (Figuras 41-43) Essa especie, frequentemente conhecida lhao, possui colora£ao castanha escura e habita a do Atlantico desde a Venezuela ate o Uruguai. E nas regioes Sul e Sudeste do Brasil, onde tern significativa por seu consume como alimento. E na zona de mares, fixada firmemente ao substrate por meio de filamentos. Podem formar bane e abrigaruma fauna acompanhante vagil. Seu tamad de 5 a 8 cm de comprimento por 3 a 4 cm de largura e'. de espessura, podendo alcanc,ar ate 14 cm de corr.rr Material Biologico: especimes de Pernaperna \ te conservados em alcool 70%. Material de Laboratorio: microscopic optico, < copio. luminaria, bacia, laminas, lamfnulas, pincas d grossa e fina, tesoura e estiletes. Morfologia Externa (Figuras 41A,B) Para iniciar o estudo das caracteristicas eaoHBB Perna perna, observa-se o animal inteiro em visa imerso em cuba com agua. O que chama mais a atenfao nos mexilb filamentos corneos, denominados de bisso. Na e* livre de cada filamento, ha um disco de fixacao.' para a adesao do animal ao substrato rochosc do corpo e a ventral (Figura 41 A). Oposta a esta. < quer estrutura aparente, encontra-se a regiao dorsaL situa-se na parte mais afilada da concha e reprcsc* giao anterior. A regiao posterior e a mais arredondada na face externa das valvas, observam-se as linbasd cimento, que fornecem informagoes sobre a idade A e as condicoes ambientais em que o crescinu O revestimento externo da concha, denci periostraco, e de coloracao marrom. Antes do inicio do processo de disseccao. posterior, deve-se ainda reconhecer as areas de ft lobos do manto (Figura 4IB). A maior area de fosi em toda a regiao dorsal e, a menor, em pequena regiao posterior. Como Perna perna e um habitan superffcie, a agua circula livremente no interior pela regiao ventral para banhar as branquias. E be o nome de abertura inalante e a margem do mai Posteriormente pode-se observar a abertura exabM sao eliminados, com a corrente de agua. os prod sistemas digestive, excretor e reprodutor. Morfologia Interna (Figuras 41C, 42A-G. 43 Deve-se retirar uma das valvas para o efl morfologia interna. Para isso, insere-se uma pinca dl grossa na regiao posterior, entre as valvas, foread mente sua abertura. Com a phi9a de ponta iiiOL i entao, desprender o manto da valva, tomando para nao arrebenta-lo. Nas regioes dorsal e pas certa resistencia devido a musculatura que se {• valvas. Nesse caso, pode-se utilizar uma tesouradl 88 RIBEIRO-COSTA & ROSANA MOREIRA DA ROCHA (cOOrds) MOLLUSCA - BIVALVIA DORSAL valva esquerda inhas de crescimento POSTERIOR abertura inalante B bordo livre do manto liaamento musculo retrator musculo mediano do pe retrator do bisso \ ^^ / cavidade glandula \ \gg£S3t£toZ>^' pericardica digestiva ligamento musculo anterior retrator do bisso vaso sangumeo musculo posterior retrator do bisso musculo adutor posterior musculatura palial (ou radial) manto com foliculos gonadais bordo manto do valva 41. Perna perna. A. Vista externa (pe retraido). B. Vista posterior (val vas semi-abertas). C. Vista lateral apos a retirada iatva esquerda. 89 Invertebrados. Manual de Aulas Praticas MOLLUSCA - BIVALVIA cavidade pericardica glandula digestiva manto com foliculos gonadais linha de corte filamento branquial valva D ciliar interfilamentar branquias sulco alimentar ventriculo reto manto epitelio do manto prega intema anus abertura exalante Pre9a media prega externa' hipostracx palpos labials pe regiao da sulco do glandula bisso bissogenica feixe da musculatura palial prega interna' (muscular) prega media (sensorial) prega externa (secretora) Figura 42. Pemaperna. A. Vista lateral apos a retirada da valva esquerda e metade ventral do lobo esquerdo do manto. B. Vista ventral anterior com detalhe da regiao da boca. C. Detalhe da margem ventral da demibranquia sob estereomicroscopio. D. Detalhe de uma area da demibranquia, nao marginal, sob microscopio optico. E. Semelhante a A, com a retirada adicional de parte do manto. F. Corte de parte da margem livre do manto sob estereomicroscopio. G. Corte transversal esquematico proximo a margem da concha e manto, com as pregas do manto (modificado de Hickman Jr., 2003). 90 S. RlBEIRO-CoSTA & ROSANA MOREIRA DA ROCHA (COOrds) MOLLUSCA - BIVALVIA juncao interlamelar massa visceral demibranquia branquia manto linha de corte valva jun$6es interfilamentares filamentos branquiais sulco alimentar A musculo retrator do pe musculos medianos retratores do bisso musculos anteriores retratores do bisso musculos posteriores retratores do bisso musculo adutor posterior pe linha palial B bisso Figura 43. Pemapema. A. Corte longitudinal esquematico (modificado de Hickman Jr., 2003). B. Musculatura. fina. Em seguida, separam-se as valvas e, nesse momento, deve-se observar a charneira, anteriormente, muito reduzi- da e o ligamento alongado, em toda a metade anterior dorsal (Figura41C). A valva, contendo o manto e a massa visceral, deve ser colocada em cuba com agua para observafao de suas estruturas sob o estereomicroscopio. A face interna da valva descartada apresenta varias cicatrizes de musculos e o hipostraco nacarado. Na superficie de todo o animal encontra-se o manto com seu bordo bem definido (Figura 41C). Nos animais se- xualmente maduros, o manto apresenta-se volumoso, com foliculos gonadais, de colora£ao amarelada nos machos e alaranjada nas femeas. As celulas sexuais sao eliminadas pela abertura exalante juntamente com os produtos dos nefridios e tubo digestive. Ainda nessa fase da disseccao, outras estruturas podem ser visualizadas por transparencia, como a glandula digestiva e a cavidade pericardica; o res- tante das estruturas referem-se a musculatura, que sera es- tudada mais adiante. Com auxflio de uma pinija de ponta fina, deve-se le- vantar o manto pela regiao da abertura inalante e corta-lo longitudinalmente. Dessa forma, pode ser observada a branquia que se estende por todo o comprimento da cavida- 91 Invertebrados. Manual de Aulas Praia de do manto. Dentre os Mollusca, as branquias de bivalves sao as mais amplas (Figura 42A). Em cada lado do corpo, ha uma branquia, formada por uma serie de filamentos branquiais. cada um dobrado formando um "W", que tern como fun9ao o aumento da superficie para trocas gasosas, bem como para a captura de alimento. A branquia, entao, e representada por uma seqiiencia longitudinal de "W's" em cada lado do corpo, sendo esses formados por duas demibranquias ("V's") (Fi- gura 43A). Dificilmente observa-se a forma de "W" devido a aproxima9ao das hastes dos filamentos branquiais. Na posi- 930 em que o animal se encontra, sao reconhecidas, em um primeiro momenta, apenas as hastes verticals da demibranquia esquerda, a mais externa (Figuras 43A,D). Os filamentos e as demibranquias estao unidos por junc.oes interlamelares e interfilamentares (Figura 43A). As primeiras unem as hastes de cada demibranquia. As jun- 95es interfilamentares encontram-se entre os filamentos branquiais e, em Perna perna, estas junfSes sao ciliares. Branquias desse tipo sao conhecidas como filibranquias. As branquias apresentam dupla funcao, a de trocas gasosas e alimentacao. A alimenta9ao ocorre por meio de filtra9§o e os cilios das branquias sao fundamentals nesse processo. Atuam promovendo a circula9ao da agua, aprisio- nam e selecionam particulas do plancton adequadas a ali- menta9ao, bem como transportam aquelas selecionadas em dire9ao a boca.As particulas mais leves sao encaminhadas para os sulcos alimentares e as mais pesadas caem na cavi- dade do manto e sao eliminadas pela abertura inalante (Fi- guras 41B, 42C, 43 A). Um dos sulcos alimentares pode ser visualizado sob o estereomicroscopio segurando-se, com auxilio de pin9a de ponta fina, uma das demibranquias com o vertice do "V" voltado para cima. Algumas vezes, e possivel, inclusive, visualizar-se as particulas com muco aderidas ao sulco. O numero de sulcos alimentares e variavel em Bivalvia e, no caso de Perna pema, sao em numero de cinco, tres localiza- dos superiormente e dois inferiormente, no "W". Nos sul- cos alimentares portanto, sao acumuladas particulas alimen- tares com muco, que sao encaminhadas a boca por tratos ciliares especiais. A boca e ladeada por dois pares de palpos labials, um par interno e outro externo, provides de cilios, que tambem selecionam o alimento de acordo com seu tama- nho (Figura 42B). As particulas rejeitadas tanto pelos palpos labiais como pelas branquias recebem o nome de pseudofezes e sao eliminadas pela abertura inalante. Em seguida deve-se retirar parte da haste externa da demibranquia, na regiao mediana. Esta deve ser colocada sobre lamina, coberta com lamfnula e levada ao microscopic optico. Observa-se que as diversas hastes verticals da demibranquia estao unidas por jun9oes interfilamentares (Figura 42D) que, no caso de Pema perna, sao compostas por discos ciliares em numero de 15 a 20. Ao retirarem-se por completo as branquias desse lado do corpo com auxilio de tesoura de ponta fina e pin9a, evi- denciam-se outras estruturas (Figura 42E): a massa visceral. onde estao concentradas partes de diversos sistemas; o pe, reduzido, com aspecto tubular; e a regiao onde se localiza a glandula bissogenica, responsavel por secretar uma subs- tancia, ao longo de um sulco no pe, que, em contato com a agua do mar, da origem aos filamentos do bisso. Retirando-se parte do manto da regiao dorsal ff ainda restou da dissecfao inicial e mantendo-se a mu>c tura intacta, observam-se partes do tubo digestive e a ca dade pericardica. Na regiao dorsal, anteriormente esta a dula digestiva de colora9ao esverdeada. Se essa regia dissecada com pin9a de ponta fina, encontrar-se-a o mago -pequeno e arredondado- e, dentro deste. o cristalino, que se alonga posteriormente e atua na digeai Proximo a regiao dorsal, situa-se a parte final do tubo dua tivo, que penetra no ventriculo, contorna a musculaoBi posterior e se abre no anus, na abertura exalante. O coracii possui um ventriculo e duas auriculas laterais. Para melhor entendimento do modo de deposicio concha deve-se observar, sob estereomicroscopio. j r-pi da abertura inalante, nos bordos livres do mant' area, com auxilio de pin9a de ponta fina, deve-se recootao as tres pregas (Figuras 42F.G). Aprega externa esta em oa tato intimo com a concha, estando especialmente envoh na sua secre9ao. E a mais longa, com aspecto liso. As o3 las da margem externa da prega depositam o periosmci que se apresenta escurecido, e as mais internas junto a *ata o ostraco. A hipostraco e depositado por toda a supern do manto, excetuando-se seu' bordo. Aprega media te~ ~. 9§o sensorial. Em Perna perna, apregainterna. m_< tern uma aparencia franjada e contem a musculatura paia que deixa a cicatriz na valva internamente, conhecida ro linha palial. O estudo da musculatura tern especial imponi na taxonomia de Bivalvia. Em Perna perna, apos a reta das estruturas relacionadas a todos os outro^ - - . . deixando-se apenas o pe e o bisso, distinguem-se parcn musculos desenvolvidos nessa especie (Figura - culos anteriores e musculos posteriores retratores do hiim que sao os mais alongados, e os medianos. proximos giao do pe; os musculos retratores pedals sao os ma nos, geralmente muito proximos, quase indistintos retratores medianos do bisso. O unico musculo impori miisculo adutor posterior, que une as valvas e - e atras dos musculos posteriores retratores do bisso. C culo adutor anterior esta ausente nessa especie. Questoes 1. Todos os bivalves sao animais com habito filt a hipotese para explicar o surgimento desse tipo « menta9ao durante a evolu9ao do grupo? 2. Existe alguma relacao entre o sistema circulatorioi gestivo em Bivalvia? 3. Qual a importancia da existencia de ampla abertura i em Perna perna ? Qual a rela9ao existente com o i te em que vivem? 4. Quais caracteristicas definem os Conchifera? porque Bivalvia e um Conchifera e apresenta doasi 5. No que o piano geral do corpo de Bivalvia se dife piano basico dos Conchifera? Sugestoes Com especimes de Perna pema vivos ] zar um experimento simples para a constatacao da « 92 CmB-E S. RIBEIRO-COSTA & ROSANA MoREIRA DA RoCHA (cOOfds) correntes ciliares nas branquias e de seu direcionamento. nra-se uma das valvas mantendo-se o animal vivo em : agua do mar. Em seguida, deve-se colocar peque- quantidades de po de giz sobre suas branquias. Apos instantes, as particulas do giz comegam a deslocar- direcao aos sulcos alimentares e, em seguida, a boca. Iphigenia brasiliensis (Lamarck, 1828) (Figura 44) Iphigenia brasiliensis ou "tarioba", como e vulgar- • conhecida, distribui-se na costa oeste do Atlantico, as Antilhas ate o sul do Brasil. Caracteriza-se por apresentar forma subtriangular, coloragao geral clara e com- acraento aproximado de 5,5 cm. E encontrada em fundo areno- asiloso ou lodoso de aguas calmas, como baias e ensea- .es-- a aproximadamente 15 cm de profundidade, nao ocor- Eodo mobilidade horizontal. A coleta e mais facilmente rea- Enda durante a mare baixa, quando os animais podem ser tocalizados pela observacao de dois pequenos orificios na •BBcerficie do substrate, que correspondem as aberturas dos •Bes. Em algumas regioes, e consumida como alimento. Ao lado de Pema perna essa especie foi seleciona- ja com o objetivo de realizar um estudo morfologico compa- odo entre ambas, enfatizando as principais modificacoes jssociadas ao ambiente em que vivem. rial Biologico: especimes previamente conservados _ . : ol 70% de Iphigenia brasiliensis. Material de Laboratorio: estereomicroscopio, luminaria, tana. pingas de ponta grossa e fina, tesoura e estiletes. Morfoiogia Externa (Figura 44A) Inicialmente deve-se observar o animal inteiro e dis- •miir as diferentes regioes do corpo. Ao contrario do obser- em Perna perna, o umbo localiza-se na regiao dorsal e o ha bisso, ventralmente. A regiao anterior e mais dificil de .- ;nciada. mas a posterior e a que coniem o l i g a m e n u i i especie. A regiao posterior pode ser confirmada iden- ^se a presenca do seio palial na face interna da valva, ifue corresponde a posigao dos sifoes, ou mesmo por sua pesenca quando distendidos. Na superficie das valvas ob- ; as linhas de crescimento, irrcgu lares. Nessa espe- o periostraco e delgado, brilhante e de cor marrom. Morfologia Interna (Figuras 44B,C) Para o estudo da morfologia interna deve-se seguir Kmesmos procedimentos descritos em Perna perna para a ; uma das valvas. Antes do reconhecimento das esiniiuras internas deve-se observar na valva direita, a charoeira. composta por dois dentes, mais desenvolvida jpaodo comparada a de Pema perna. Outra caracteristica a ser observada sao as quatro jfEfc de fusao dos lobos do manto. Uma delas encontra-se aaeiionnente, dorsal ao musculo adutor anterior, outra pos- rjormente sobre o sifao exalante, outra entre os dois sifoes caobima em curta area abaixo do sifao inalante. Nessa espe- cie, a prega media do manto e moderadamente desenvolvida e compoe-se por duas fileiras de pequenas papilas. Os sifoes sao estruturas provenientes da fusao dos lobos do manto e, nessa especie, sao longos e evidentes. Em alguns casos, conforme o anestesico e o fixador utiliza- dos, os sifoes, pe e branquias podem se encontrar retraidos. O sifao inferior, proximo a regiao ventral, e o sifao inalante e o superior e o sifao exalante (Figura 44B). Em Perna perna, habitante fixo de superficie, nao existem sifoes. O manto propriamente dito e fino, semitransparentee nao contem foliculos gonadais como em Perna perna. Pre- so ao manto observa-se medianamente o ample musculo esquerdo retrator dos sifoes e os miisculos adutores ante- rior e posterior, sendo nessa especie o anterior ligeiramen- te mais desenvolvido que o posterior (Figura 44B). Outras estruturas sao visiveis por transparencia, mas para seu melhor reconhecimento deve-se retirar o manto, sen- do necessario realizar cortes com tesoura de ponta fina proxi- mos aos sifoes e ao musculo adutor anterior (Figura 44B). Os miisculos adutores permanecem na preparacao, sendo ainda possivel distinguir o musculo anterior retrator do pe muito proximo do adutor anterior e o musculo posteri- or retrator do pe, acima do adutor posterior (Figura 44C). Em Pema perna, habitante fixo de superficie, o musculo adutor anterior e os musculos retratores dos sifoes estao ausentes. Na regiao mediana encontra-se o pe, extremamente desenvolvido se comparado ao de Perna perna, tendo como principal fun9ao a escavacao de fundo mole. Acima do pe situa-se uma branquia ampla que em especimes mais relaxa- dos alcanga a base dos sifoes. De forma semelhante aos mexilhoes, a branquia e composta por duas demibranquias, uma de cada lado. Grande parte do tubo digestive pode ser identificada acompanhando a maior parte da margem dorsal. A boca nao e visivel, apenas os palpos labiais. Acima dos palpos labiais (Pigura 44C), esta a glandula digestiva continuando-se como um tubo delgado. O reto passa por dentro da cavidade pericardica, abrindo-se no anus, localizado junto ao muscu- lo adutor posterior. Primitivamente, o pe atua no processo de escavagao. Inicialmente as valvas abrem-se em fungao do relaxamento dos musculos adutores. Em <^2uida, o pe projeta-se no substrate pela agao dos muscui circulares do pe e ocorre o fechamento das valvas em funcao da contragao dos mus- culos adutores. Nessa circunstancia, a agua da cavidade do manto e expelida e o sangue do corpo e impulsionado para a hemocele, que passa a atuar como esqueleto hidrostatico, dilatando o pe, que ancora o animal ao substrato. Os muscu- los retratores pedais encarregam-se de puxar a concha para dentro do substrato mole e, por ultimo, o pe retrai-se e as valvas fecham-se. Os sifoes estendem-se para a superficie para entrar em contato com a agua livre de sedimento. Questoes 1. Comente sobre os problemas que os bivalves de fundo mole enfrentam com relagao a circula?ao hidrica e como esses problemas sao solucionados. 2. Compare os habitats, habitos e caracteristicas estudadas em Perna perna e Iphigenia brasiliensis. Cite quais des- 93 Invertebrados. Manual de Aulas Praticas Questoes 1. Quais seriam as vantagens evolutivas da aquisigao de uma concha internalizada e cornea, como no caso de Aplysia brasilianal 2. O que e "parapodio" e qual e sua fungao em Aplysia brasilianal Pesquise na literatura que outro grupo ani- mal tambem apresenta estruturas chamadas de parapo- dio. Sao estruturas homologas? Sugestoes Para um estudo mais detalhado da concha interna, deve-se realizar um corte a partir da abertura do manto e retirar partes dele. Dessa forma, a concha torna-se visivel e pode ser retirada com auxflio de uma pinca de ponta fina, pois e muito delgada. cornea e transparente; o enrolamento ocorre apenas no estagio larval. O crescimento ocorre na regiao anterior que e arredondada. sendo visiveis as linhas de crescimento (Figura 51B). E interessante obsenar animals vivos de Aplysia brasiliana ou outras especies do genero. Para isso, deve- se colocar o animal recem capturado em um aquario ou tan- que, de preferencia com paredes transparentes, contendo agua do mar. Aconselha-se a elabora?ao de um roteiro com as observances a serem realizadas. Alguns dos itens a se- rem estudados sao: - direcao das ondas musculares do pe: se o animal estiver rastejando na parede do recipiente, observe as ondas musculares ao longo do pe e com auxflio de bibliografia identifique-as: - movimentos natalorios: observe como os parapodios atu- am e verifique se estao sincronizados; - secrecao de tinta: para que os animals eliminem a secregao violacea. devem ser perturbados. CEPHALOPODA Na Classe Cephalopoda (Siphonopoda) estao inclu- idos os maiores invertebrados. A maior lula conhecida, Architeuthis sp. tern 16 m. incluindo os tentaculos e a menor possui 1,5 cm. A este grupo tambem pertencem os polvos, nautilus e as sepias. Atualmente sao conhecidas 650 espe- cies viventes sendo seu registro fossilifero bastante repre- sentative com aproximadamente 7.500 especies. Todos os seus representantes sao marinhos. distribuindo-se desde a regiao costeira a aguas mais profundas e frias. Pode-se divi- dir os cefalopodes em uma fauna mesopelagica que se con- centra acima de 1.000 m de profundidade. e uma inferior, batipelagica, concentrada abaixo de 1.000 m em lugares bas- tante escuros, sem luz solar. A maior abundancia e varieda- de de especies esta na regiao mesopelagica. Todos os especimes desse grupo caracterizam-se por serem carnivores vorazes. Adieta compoe-se principalmen- te de crustaceos e peixes, alimentando-se eventualmente de outros cefalopodes; ha registros inclusive de especies ca- nibais. As lulas pelagicas aprisionam e levam suas presas em diregao a boca atraves de seus tentaculos e braces orais. Os polvos bentonicos ainda realizam um ferimento na presa com auxflio das mandlbulas, inserindo uma substancia ve- nenosa que a paralisa para posteriormente ingeri-la. Os representantes da classe desenvolveram dois ti- pos caracteristicos de locomosao: a flutuabilidade, pela emis- sao de gases no interior das camaras da concha, como em Nautilus, permitindo o deslocamento vertical na coluna d'agua e, a locomogao a jato d'agua, mais eficaz nas lulas que podem atingir alias velocidades. Esta locomogao por jato-propulsao, portanto e fator importante na obtencao do alimento e fuga de predadores e acarreta alto gasto energetico. A alta taxa metabolica levou o grupo a modifica- coes morfo-fisiologicas importantes. Os cefalopodes apresentam os maiores cerebros de todos os invertebrados e por isso tern grande capacidade de aprendizagem e memoria. Acomplexidade de comportamen- tos pode ser verificada desde a captura do alimento ate o modo como se comunicam ou afugentam seus predadores. Varios elementos estao envolvidos nesses processes, como os cromatoforos, orgaos compostos por celulas que con- tern melanina rodeadas por fibras musculares, a bolsa de tinta, que elimina melanina na agua, e a bioluminescencia. As conchas dos animais extintos do grupo eram ex- ternas, retas ou enroladas em espiral. Nos animais atuais a concha modificou-se de diversas maneiras e evidencia-se uma tendencia a diminuigao de seu peso para facilitar a loco- mogao. O linico cefalopode vivente com concha externa e o Nautilus. No restante a concha e interna, podendo estar completamente ausente nos polvos. O enrolamento da con- cha juntamente com a cabe§a bem desenvolvida sao caracteres compartilhados com os gastropodes. Por outro lado, os cefalopodes diferenciam-se marcadamente por duas caracteristicas: a presenga de septos internes nas conchas (tanto as enroladas quanto as retas), dividindo-as em cama- ras internas e a presenga de sifunculo, um cordao de tecido do corpo com revestimento calcario poroso que passa pelas camaras e septos, atuando na locomocao por flutuabilidade. devido a capacidade de eliminar gases para o interior das camaras. A partir de um ancestral comum com os Gastropoda os cefalopodes sofreram um alongamento dorsoventral de seu corpo, que devido a locomogao, passou a ser o eixo antero-posterior funcional. Os cefalopodes, como outros grupos de moluscos. tambem sao consumidos na alimentacao humana. A captura desses animais e realizada atraves da pesca com rede de arrasto pelagico ou demersal. Esta pratica e costumeira em varias regioes do mundo, destacando-se a Asia. Lolliguncula brevis (Blainville, 1823) (Figuras 52-54) Lolliguncula brevis e uma lula bastante comum em. nossos mares, sendo frequentementeencontrada em redes de Pescadores. Sua distribui?ao e ampla, desde a costa leste da America do Norte ate a regiao do Rio da Praia na Argen- tina. Variam muito em lamanho: os machos sao menores que as femeas e eslas, quando atinjem a maturidade sexual, po- dem alcan^ar ate 7 cm de comprimento, excluindo os tenta- culos. A dieta alimentar constitui-se de peixes, crustaceos e 108 S. RIBEIRO-COSTA & ROSANA MOREIRA DA RoCHA (coords) •rsmo de outras lulas. Possuem grande importancia econo- mci relacionada a alimenta9ao humana. Material Biologico: especimes de Lolliguncula brevis previ- jnKnte fixados em formol 4% e conservados em alcool 70%. Material de Laboratorio: microscopico optico, estereomi- cscopio. luminaria, cuba de dissecfao com fundo de para- Mi, laminas, laminulas, pinfas de ponta fina, tesoura, lami- ti de bisturi, alfinetes com cabeca recoberta e estiletes. farfoJogia Externa (Figuras 52A-F) Para que se possa estudar morfologicamente igungula brevis e importante reconhecer as diferentes ; seu corpo. Para melhor compreensao da orienta- animal deve-se imaginar um molusco com pe amplo e e concha dorsal sofrendo um alongamento do corpo MO dorsoventral. Como resultado deste processo a con- tocnar-se-ia um cone muito longo e o pe sairia por uma abertura ventral. Extrapolando-se esta ideia para a • ofosen a-se que neste animal o manto adquire a forma •ka e e externo, envolvendo a concha; a regiao anterior pe origina a cabec,a, com seus tentaculos e bracos orais, posterior, o funil (Figura 52A). O eixo originalmen- JoRoventral passa a ser funcionalmente o eixo antero- Menor. devido a dire9ao de Iocomo9ao nas lulas. A con- m. interna. que identifica a regiao dorsal, pode ser •airrarh por transparencia como uma linha escurecida e inmi mbular. define a regiao ventral. O corpo de Lolligungula brevis diferencia-se clara- •R em duas partes, cabeca e tronco. O manto reveste ins as regioes e possui coloracao geral clara com varias de contornos irregulares devido a presenca de pig- Estes se encontram em celulas dos cromatdforos mem melanina e que podem aumentar ou diminuir de •acoc pela contra^ao ou relaxamento de fibras muscula- -;u redor. Estas acnes s;io controladas pelo DBB nervoso e, assim, a lula pode mudar sua coloragao :. ficando mais clara ou mais escura dependendo exterior. Para observar o cromatoforo com mais pode-se retirar com auxilio de pin?a de ponta fina, delgada do manto da regiao do tronco e coloca- •e lamina e laminula para observacao ao microscopic \- fibras musculares serao observadas como raios J»daconcentracao escura de melanina (Figura 52B). A cabeca encontra-se bem desenvolvida com um par .at dhi* Lueiais que se assemelham aos dos vertebrados, mt In in formar imagem. Na cabe§a, ainda, ha um e quatro pares de bracos orais, tres deles ventral. Os tentaculos sao mais longos que os c possuem grande quantidade de ventosas na (Figura 52C). As ventosas variam de de acordo com sua posi§ao: quanto mais apicais, i entosas sao pedunculadas e possuem de coloracao castanha. Os bragos orais sao t os tentaculos e possuem ventosas em toda Ja face interna. No macho, um dos brafos orais para a copula e recebe o nome de Blesie as ventosas apresentam-se com menor tamanho e com pedunculos mais alongados. Essas modifi- cacoes, porem, sao normalmente pouco conspicuas. Os bra- §os orais e tentaculos sao sensoriais, funcionando como apendices de apreensao e direcionamento do alimento a boca, ja que o habito desses animais e predador. Observando-se a cabeca em vista frontal e afastando-se os tentaculos e bra- 905 orais, encontra-se a boca e parte das mandibulas (bico- de-papagaio), que sao contornadas pela membrana peristomial (Figura 52D). Entre a cabe?a e o tronco, ventralmente, localiza-se o funil, uma das estruturas que atuam na locomocao por meio da propulsao a jato, caracteristica dos cefalopodes (Figuras 52A,F). No tronco encontram-se duas nadadeiras semicircu- lares, laterals e posteriores, que atingem menos que a meta- de do comprimento do tronco. Atuam como estabilizadoras atraves de um movimento ondulante e podem propulsionar o animal em baixas velocidades. Morfologia Interna (Figuras 53A-F, 54A-D) Para o estudo dos orgaos internes o animal deve ficar posicionado com a regiao ventral voltada para cima na cuba de disseccao. Com auxilio de tesoura de ponta fina o manto deve ser cortado longitudinalmente desde a regiao do funil ate o final do tronco. Dois pequenos cortes trans- versais sao necessanos na regiao posterior para que as pa- redes do manto possam ser rebatidas e fixadas a cuba com auxilio de alfinetes de cabeca recoberta. Durante a realiza- cao do corte, deve-se tomar cuidado para nao danificar as estruturas interaas. A preparacao deve estar recoberta por agua para o estudo ao estereomicroscopio. As estruturas que compoem a massa visceral rom- pem-se com facilidade e estao envoltas pelo peritonio. Por- tanto, utilizam-se pin9as de ponta fina para, com cuidado, rasgar esta membrana delicada. As estruturas tambem de- vem ser manuseadas com muita cautela. Tanto machos quanto femeas sao semelhantes em varias estruturas internas (Figuras 53A,B). A primeira vista pode-se identificar em ambos os sexos: (1) o funil, com o aparelho de oclusao; (2) um par de miisculos retratores do funil; (3) entre estes ultimos e mais abaixo, aglandula diges- tiva (figado), uma massa sem contornos definidos; (4) a par- te final do tubo digestivo, que termina no anus, provido de papilas anais e direcionado para o funil; (5) junto ao reto e abrindo-se nele, a bolsa de tinta diferenciada pelo aspecto azul-prateado; (6) um par de branquias laterals em forma de pena, direcionadas para cima e que atuam no processo de trocas gasosas; (7) dois coracoes branquiais (ou acessori- os), localizados na base de cada branquia, sendo responsa- veis pelo bombeamento de sangue atraves delas. Um pouco mais djficil e a identifica9ao dos nefridios entre os cora9oes proximos a base do reto, de textura glomerular. O corac,ao sistemico esta presente em ambos os sexos entre os cora- 9oes acessorios e e mais facilmente observado nos machos, estando encoberto pelas glandulas nidamentares nas fe- meas. A presen9a de um coracao sistemico e dois cora9oes branquiais, bem como capilares e arterias contrateis, estao relacionadas diretamente a alta taxa metabolica desses ani- 109 Invertebrados. Manual de Aulas Pianos tronco MOLLUSCA -CEPHALOPODA DORSAL cabega nadadeira manto bragos orais tentaculos POSTERIOR ANTERIOR contraido VENTRAL celulas musculares lisas expandido boca e mandibulas regiao da pena cabega tronco membrana peristomial funil linha de corte Figura 52. Lolliguncula brevis. A. Vista lateral direita. B. Detalhe dos cromatoforos. C. Detalhe das ventosas. D. Detalhe > regiao oral. E. Vista dorsal. F. Vista ventral. mais, principalmente devido a sua grande capacidade de deslocamento, comparativamente aos demais moluscos, necessitando de maior pressao sangufnea para uma oxigena§ao mais eficiente dos tecidos. Em ambos os sexos, distinguem-se, alem da glandula 110 digestiva, duas estruturas do aparelho digestivo, o estoma- j go e o ceco pilorico, estando localizadas logo posteriormeii- te aos coracoes. De maneira geral, pode-se distingui-las pete tamanho, colora§ao e posi5ao, sendo o estomago menot opaco e a esquerda do ceco. Alem disso, algumas veze- : JRO-COSTA & ROSANA MOREIRA DA ROCHA (coords) MOLLUSCA - CEPHALOPODA testfculo B linha de corte funil papila anal musculo retrator do funil reto "penis" coragao branquial ou acessorio estomago 'orgao \ . espermatoforico saco de Needham membrana valvular I H linha de corte C glandula nidamentar nefridio glandula acessoria ou oviducal coracao sistemico ceco pilorico bvario ' , . - - ---.'-.^ filamento do capuz massa espermatica D pena ganglio estrelado nervos S3. Lottiguncula brevis. A. Macho, apos corte longitudinal do manto na regiao ventral do tronco. B. Semelhante a mea. C. Detalhe da membrana valvularapos corte do funil. D. Detalhe de um espermatoforo. E. Pena. F. Ganglio c nervos apos a retirada do funil e visceras. 111 Invertebrados. Manual de Aulas Pi possfvel observar as lamelas no interior do ceco pilorico, que atuam na selegao de particulas alimentares. Nesse memento da dissec§ao, pode-se tentar dife- renciar machos e femeas. Com relafao ao aparelho reprodutor feminine, alem das glandulas nidamentares, responsaveis pela secrecao da membrana dos ovos, algumas vezes evi- dencia-se, proximo ao cora9ao acessorio direito, a glandula acessoria ou oviducal. que atua na forma9ao da casca dos ovos (Figura 53B). Ainda. em femeas dissecadas logo apos a copula, pode-se observar a presen9a de um ramalhete de espermatoforos, no manto. A vagina e a abertura genital situam-se junto a glandula nidamentar direita e dificilmente sao visiveis. Do aparelho reprodutor masculino, o "penis", tubular e curto, pode ser encontrado entre o reto e a branquia esquerda. A gonada -testiculo ou ovario- localiza-se abaixo do estomago e do ceco pilorico e atinge a margem posteri- or do corpo. O ovario pode ficar repleto de ovos e, nessa situa?ao, ha certa dificuldade para a identifica9ao das ou- tras estruturas do interior do peritonio. O testiculo e saculiforme. Ainda no macho, proximo ao cora§ao acesso- rio esquerdo do animal, encontra-se uma estrutura com aspecto enovelado. o orgao espermatoforico. Junto a este esta o saco de Needham, que tern como funfao o armazenamento de espermatoforos. O espermatoforo pos- sui a forma de um bastao e constitui-se de uma massa espermatica. uma estrutura em forma de mola, o orgao ejaculatorio. responsavel pela ejacula9ao dos espermato- zoides, e um capuz com um filamento que funciona como uma tampa do espermatoforo (Figura 53D). No interior do funil, ha uma membrana valvular que atua durante o processo de Iocomo9ao (Figura 53C). Para visualiza-la deve-se realizar um corte longitudinal no funil. O principal e mais interessante meio de Iocomo9ao das lulas, como foi comentado, e realizado por propulsao a jato d'agua. Os responsaveis por esse movimento sao os mus- culos do manto. Durante a fase inalante a musculatura circular da parede do manto encontra-se relaxada e a mus- culatura radial contrafda, permitindo que a agua penetre na cavidade do manto por suas margens, entre a cabefa e o tronco. Nessa fase a membrana da valvula fecha a aber- tura do funil. Durante a fase exalante a musculatura circu- lar contrai-se e a radial relaxa. fazendo com que as margens do manto se unam ao funil por meio de cartilagens que constituem o aparelho de oclusao. A agua, nessa situa§ao, so podera sair pelo funil. empurrando a membrana da val- vula de encontro a parede do funil. Como o funil possui mobilidade, o jato d'agua pode ser direcionado para frente ou para tras; a direcao do movimento do animal e evidente- mente oposta ao dojato d'agua. Como elemento auxiliarna fuga contra predadores, a melanina. proveniente da bolsa de tinta, pode ser eliminada junto com a corrente exalante de agua, formando uma nuvem que confunde o pretenso predador. Acredita-se, ainda, que esta substancia tenha a capacidade de "anestesiar" os predadores, dificultando sua percepcao quimiorreceptora. Para a observa9ao de estruturas do sistema nervoso e da concha, toda a massa visceral deve ser descartada com cuidado. Na regiao mediana central da parede do manto, ao longo do eixo longitudinal, esta localizada a pena 53E). Esta estrutura e o remanescente da concha. possuM constituifao bem mais delgada e cornea, servindo come! cal para inser9ao da musculatura e manuten^ao da forma.! sistema nervoso dos cefalopodes e bastante compkaw desenvolvido, mas nem todos os seus elementos podenu observados em Lolliguncula brevis. Diretamente fi\ parede do manto, na regiao anterior do animal, podem s \ isualizados os dois ganglios estrelados, com suas i cacoes nervosas, que atuam na musculatura circular e i do manto (Figura 53F). Para o estudo da radula e das mandibula^ sario fazer a dissec£ao da cabefa ate encontrar uma i tura globosa, o bulbo faringeal (Figura 54A). Com: de pincas de ponta fina, deve-se dissecar o bulbo ale i contrar as mandibulas, inconfundiveis, em forma de I de-papagaio, bastante rfgidas e escurecidas no apioe < gura 54C). Nesse momento da dissec9ao, deve-se to cuidado, pois entre as mandibulas que tern como rasgar a presa, encontra-se uma estrutura semi-t rente, brilhante, a radula (Figuras 54B,D). A radula* brevis atua como uma lingua, enviando partes do all em dire9ao ao tubo digestive. Para melhor visualu sua constitui9ao, e necessario coloca-la entre laminx laminula sob microscopic optico. Octopus sp. (Figura 55) Esse conhecido representante de Cephalopoda < em ambientes bentonicos, ao contraiio de Lolligu brevis, que e um animal tipicamente pelagico. Prefere; gar-se em fendas nas rochas ou construir sua propria" com pedras e cascalhos, que encontra no fundo do Apresenta comportamento territorial. As excursoes eml ca de alimento, basicamente constituida de crustaceosi peixes, sao realizadas a noite. Em geral, medem cercadej cm. Entretanto, um dos maiores polvos conhec Enteroctopus dofleini, atinge em media cerca de 9.6 m_i cluindo os bra9os. E utilizado na alimenta9ao humana, podendo serai do durante mares extremamente baixas ou por meio de rnza- Iho. Raramente sao encontrados junto a redes de pescadi Material Biologico: especimes de Octopus sp. pre\ iame fixados em formol 10% e conservados em alcool 7(Fr Material de Laboratorio: luminaria, bacia, pin9as de pa grossa. Morfologia Externa (Figuras 55 A,B) Octopus sp. destaca-se pelo aspecto gei, muito diferenciado de lulas e sepias e de varies a moluscos, alem da perda total de concha. O corpo I mato globoso, sacular onde fica alojada a massa vis O manto e provide de cromatoforos e seus bordo^^H fusionados dorsal e lateralmente a cabe9a, sendo peon: a abertura que da acesso a cavidade do manto. Em iM 112 .••EKO-COSTA & ROSANA MOREIRA DA ROCHA (COOrds) MOLLUSCA - CEPHALOPODA boca membrana peristomial mandfbula superior dente radula B igura 54. Lolliguncula brevis. A. Cabe^a, apos corte . B. Mandlbulas e radula em vista lateral apos dissecgao do bulbo •ingeal. C. Detalhe das mandlbulas. D. Detalhe de parte dos denies da radula. uicula brevis, os bordos do manto sao livres, sendo, jrtanto, a abertura para a corrente inalante mais ampla. omo na lula, o funil esta presente e participa na locomo- k> a jato d'agua, porem com menos frequencia. Na cabe- L ha dois olhos amplos, laterals, e apresenta oito brakes : igual tamanho, caracteristica que deu origem ao nome ? genero. Ao contrario de Lolliguncula brevis, as vento- sas sao sesseis, sem pedunculos e aneis corneos. Os bra- §os sao utilizados para a locomogao por rastejamento, que e lenta. Quando ha necessidade de fuga de predadores, Octopus sp. Ian9a mao da locomocao a jato d'agua, e pode formar uma nuvem escura na agua ao eliminar melanina produzida pela bolsa de tinta. Abrindo-se os bra§os, encontra-se centralmente a 113 Invertebrados. Manual de Aulas PraDc» boca e, na maioria das vezes, pode-se observar o apice das 2. Quais os mecanismos utilizados pelos cefalopodes contn mandibulas, fortemente esclerotizadas. predadores? 3. For que os cefalopodes sao considerados filogenetka- Questoes mente relacionados com os Gastropoda? 1. Quais as diferer^as morfologicas mais marcantes entre 4. Quais seriam as vantagens e desvantagens da perda tool Lolliguncula brevis e Octopus sp.? da concha? MOLLUSCA - CEPHALOPODA B manto bragos Figura 55. Octopus sp. A. Vista externa. B. Detalhe das ventosas (modificado de Ruppert & Barnes, 1996). 114
Compartilhar