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Apostila_saude ambiental e Epidemiologia
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uma dada visão do seu desenvolvimento e dentro dela indicar os aspectos relevantes para a elaboração de propostas de intervenção. Epidemiologia e Saúde Ambiental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 Figura 1 – Esquema da história natural das doenças. Fonte: Waldman e Rosa (1998). O início do processo de adoecimento an- tes que o homem seja afetado foi designado pe- los autores como pré-patogênico e outro, que se inicia com o aparecimento dos sintomas clínicos, denominado período patogênico. Esse modelo tem sido muito criticado porque, por um lado, re- força a ideia da unicausalidade e, por outro, induz a pensar que, uma vez desencadeado o processo de adoecimento, este não pode mais ser inter- rompido. Mesmo assim, esse modelo tem servido de referência para o estabelecimento de ações de prevenção e controle de doenças até os dias atuais. No período pré-patogênico, são indicadas medidas de redução do risco (gerais, de promo- ção da saúde e específicas de prevenção de cada doença), chamadas medidas de prevenção pri- mária. No período patogênico, estão situadas as medidas de prevenção secundária, que incluem diagnóstico precoce, tratamento, recuperação de incapacidades e prevenção da morte. Modelo Sistêmico é aquele baseado no conjunto formado por agente, suscetível e am- biente, dotado de uma organização interna que regula as interações entre os determinantes da produção da doença, juntamente aos fatores vin- culados a cada um dos elementos do sistema. Esse modelo utiliza a definição de sistema como “um conjunto de elementos de tal forma relacionados que uma mudança de qualquer elemento provo- ca mudança no estado dos demais elementos.” (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2006). Quando envolve seres vivos, costuma ser designado como ecossistema. O entendimento de agente nesse modelo explicativo do processo saúde e doença é mais amplo do que no Modelo Biomédico. O agente, aqui, pode ser um microrganismo vivo, um po- luente químico ou um gene. A ideia de multifatorialidade e da ação si- nérgica entre fatores determinantes de um dado processo de saúde e doença busca descrever os eventos da saúde humana de diversas naturezas. Um indivíduo suscetível é exposto ao vírus do sarampo e desenvolve a doença, sabe-se que a determinação da doença foi a infecção pelo vírus do sarampo; em um indivíduo exposto ao amian- to por determinado tempo diagnosticado com asbestose, considera-se a causa do adoecimento a deposição das fibras do amianto nos alvéolos pulmonares como determinante da doença; um indivíduo pertencente a uma família de hiperten- sos tem chances comprovadamente maiores de desenvolver a mesma doença de seus pais deter- minada pela carga genética familiar. Entretanto, há doenças cujo aparecimento resulta da con- fluência de diferentes fatores capazes de criar um sistema favorável ao seu desenvolvimento. Como exemplo pode-se citar a depressão. Voltando ao exemplo da anemia ferropriva em gestantes, o Modelo Sistêmico envolveria o subsistema social no qual estão inseridas as gestantes na descrição do ambiente, o subsistema biológico para descre- ver os processos fisiopatológicos de desencadea- Hogla Cardozo Murai Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 mento da anemia ferropriva e a gestação como o agente desencadeador do processo. Pelo Modelo Sistêmico, o homem é consi- derado suscetível a grande número de agentes presentes no meio ambiente com os quais inte- rage continuamente, desempenhando diferentes papéis nessa relação. O termo ‘suscetível’ é aplicado ao indivíduo no qual a doença tem oportunidade de se desen- volver e se manifestar. Esse conceito é diferente de ‘hospedeiro’, que se aplica ao ser vivo, humano ou outros animais, que oferece em condições na- turais subsistência ou alojamento a um agente infeccioso. Os seres vivos podem ser hospedeiros primários ou definitivos e hospedeiros secundá- rios ou intermediários. Os hospedeiros primários são aqueles nos quais o parasito alojado atinge sua maturidade ou passa sua fase sexuada, en- quanto, nos hospedeiros secundários, esses parasi- tos se encontram na fase larvária e assexuada. Al- guns parasitos passam alternadamente suas fases em diferentes espécies e o homem pode desem- penhar papéis tanto de hospedeiro primário ou definitivo quanto secundário ou intermediário. Um exemplo dessa relação agente-indivíduo-am- biente pode ser descrito quando um indivíduo é acometido por teníase (infecção pela forma adul- ta da Taenia, um parasito intestinal) e atua como hospedeiro primário. Entretanto, se for infectado pela forma larvária da mesma Taenia, poderá de- senvolver uma doença grave, chamada cisticerco- se. Nesse caso, o homem terá atuado como hos- pedeiro secundário ou intermediário. O terceiro componente descrito no Mo- delo Sistêmico é o ambiente, compreendendo o ambiente físico – que abriga os seres vivos –, o ambiente biológico – que abrange todos os seres vivos – e o ambiente social – que abrange fatores e processos que podem estar associados a doen- ças. Objetivamente, fazem parte do ambiente físico o solo, a água e o ar e suas variações, que podem ser de natureza geográfica, climática e de poluição. O ambiente biológico é constituído por to- dos os seres vivos que participam e influenciam a relação agente suscetível e ambiente, tendo maior importância os fatores do ambiente que interagem sobre os agentes e hospedeiros, favo- recendo o aparecimento de doenças, principal- mente aqueles que mantêm estoques de agentes patogênicos e os veiculam até o ser humano. Para descrever a interação entre ambiente biológico, suscetível e agente, foram formulados alguns conceitos, como: reservatório, designação dada ao ser humano, animal, artrópode, planta, solo ou matéria inanimada ou uma combinação desses elementos que albergam agentes infec- ciosos em condições de dependência primor- dial para a sobrevivência, no qual se reproduz de modo que possa ser transmitido a um hospedeiro suscetível. As doenças nas quais somente o homem é o único a desempenhar papéis de reservatório, hospedeiro e suscetível, sem a participação de ne- nhum outro elemento, são chamadas antropono- ses. É o caso da gripe, do sarampo e das doenças sexualmente transmissíveis. As infecções comuns ao homem e outros animais são denominadas zoonoses. As antropozoonoses são as doenças nas quais os animais são os reservatórios. As fitonoses são as doenças nas quais as espécies vegetais são reservatório e o homem o suscetível. Além desses, há uma multiplicidade de con- ceitos elaborados para descrever a interação dos elementos relativos ao agente, ambiente e sus- cetível e que podem ser encontrados nos bons livros de epidemiologia. O conceito de saúde e doença acompa- nhou as descobertas científicas, que, por sua vez, desencadearam a formulação de novos modelos explicativos para esse processo. A realização de estudos de observação, descritivos, de teste, de hipóteses e de relação causa e efeito, sobretudo a AtençãoAtenção A alteração de qualquer um desses subsistemas não restringe as modificações em si próprias, mas interfere nos demais, provocando uma mudança em todo o processo de produção de saúde ou de doença. Epidemiologia e Saúde Ambiental Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 partir da segunda metade do século XVII, resulta- ram no nascimento de uma nova área de estudos – a Epidemiologia –, que será o tema discutido em nosso próximo capítulo. Complemente e revise seus conhecimentos: Localize na internet e leia o texto a seguir. SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Phy- sis: Revista Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2007, v. 17, n. 1, p. 29-41. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/physis/v17n1/v17n1a03. pdf>. Acesso em: