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1 Stefannie Novaes – TUTORIA “A biópsia” Problema 4 – M1 Debater sobre fatores de risco, rastreamento/prevenção de câncer de mama (BRCA1 e BRCA2, recomendações de prevenção baseadas no status genético, discutir BIRADS da mamografia: O câncer de mama decorre da proliferação maligna de células epiteliais que revestem os duetos ou lóbulos da mama. As neoplasias epiteliais da mama são a causa mais comum de câncer em mulheres (excluindo o câncer de pele), sendo responsáveis por aproximadamente 33% de todos os cânceres em mulheres. Em consequência dos avanços no tratamento e na detecção precoce, a taxa de mortalidade pelo câncer de mama começou a declinar substancialmente nos EUA. Fatores de risco: O câncer de mama não tem uma causa única. Diversos fatores estão relacionados ao aumento do risco de desenvolver a doença, tais como: idade, fatores endócrinos/história reprodutiva, fatores comportamentais/ambientais e fatores genéticos/hereditários. Mulheres mais velhas, sobretudo a partir dos 50 anos de idade, têm maior risco de desenvolver câncer de mama. O acúmulo de exposições ao longo da vida e as próprias alterações biológicas com o envelhecimento aumentam, de modo geral, esse risco. Os fatores endócrinos/história reprodutiva estão relacionados principalmente ao estímulo estrogênico, seja endógeno ou exógeno, com aumento do risco quanto maior for a exposição. Esses fatores incluem: história de menarca precoce (idade da primeira menstruação menor que 12 anos), menopausa tardia (após os 55 anos), primeira gravidez após os 30 anos, nuliparidade, uso de contraceptivos orais (estrogênio-progesterona) e terapia de reposição hormonal pós-menopausa (estrogênio-progesterona). Os fatores comportamentais/ambientais bem estabelecidos incluem a ingesta de bebida alcoólica, sobrepeso e obesidade na pós-menopausa, e exposição à radiação ionizante. O tabagismo, fator estudado ao longo dos anos com resultados contraditórios, é atualmente classificado pela International Agency for Research on Cancer (IARC) como agente carcinogênico com limitada evidência para câncer de mama em humanos. São evidências sugestivas, mas não conclusivas, de que ele possivelmente aumenta o risco desse tipo de câncer. O risco de câncer de mama devido à radiação ionizante é proporcional à dose e à frequência. Doses altas ou moderadas de radiação ionizante (como as que ocorrem nas mulheres expostas a tratamento de radioterapia no tórax em idade jovem) ou mesmo doses baixas e frequentes (como as que ocorrem em mulheres expostas a dezenas de exames de mamografia) aumentam o risco de desenvolvimento do câncer de mama. Os fatores genéticos/hereditários foram relacionados à presença de mutações em determinados genes. Essas mutações são mais comumente encontradas nos genes BRCA1 e BRCA2, mas também são frequentes em outros genes como: PALB2, CHEK2, BARD1, ATM, RAD51C, RAD51D e TP53. Mulheres que possuem vários casos de câncer de mama e/ou pelo menos um caso de câncer de ovário em parentes 2 Stefannie Novaes – TUTORIA consanguíneos, sobretudo em idade jovem, ou câncer de mama em homem também em parente consanguíneo, podem ter predisposição hereditária e são consideradas de risco elevado para a doença. O câncer de mama de caráter hereditário corresponde, por sua vez, a apenas 5% a 10% do total de casos. Diagnóstico Precoce: A estratégia de diagnóstico precoce contribui para a redução do estágio de apresentação do câncer (WHO, 2007). Nessa estratégia, destaca-se a importância da educação da mulher e dos profissionais de saúde para o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama, bem como do acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde tanto na atenção primária quanto nos serviços de referência para investigação diagnóstica. São considerados sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama e de referência urgente para a confirmação diagnóstica: Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos. Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual. Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade. Descarga papilar sanguinolenta unilateral. Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos. Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral. Presença de linfadenopatia axilar. Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja. Retração na pele da mama. Mudança no formato do mamilo. Na década de 1950, nos Estados Unidos, o autoexame das mamas surgiu como estratégia para diminuir o diagnóstico de tumores de mama em fase avançada. Ao final da década de 1990, ensaios clínicos mostraram que o autoexame não reduzia a mortalidade pelo câncer de mama. A partir de então, diversos países passaram a adotar a estratégia de breast awareness, que significa estar consciente para a saúde das mamas (Thornton e Pillarisetti, 2008). Essa estratégia de conscientização destaca a importância do diagnóstico precoce e busca orientar a população feminina sobre as mudanças habituais das mamas em diferentes momentos do ciclo de vida e os principais sinais suspeitos de câncer de mama. A orientação é que a mulher observe e palpe suas mamas sempre que se sentir confortável para tal (seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano), sem necessidade de aprender um técnica de autoexame ou de seguir uma periodicidade regular e fixa, valorizando a descoberta casual de pequenas alterações mamárias suspeitas. É necessário que a mulher seja estimulada a procurar esclarecimento médico, em qualquer idade, sempre que perceber alguma alteração suspeita em suas mamas. O sistema de saúde precisa adequar-se para acolher, informar e realizar os exames diagnósticos em tempo oportuno. Prioridade na marcação de exames deve ser dada às mulheres sintomáticas, que já apresentam lesão palpável na mama ou outro sinal de alerta. A estratégia do diagnóstico precoce é especialmente importante em contextos de apresentação avançada do câncer de mama. 3 Stefannie Novaes – TUTORIA Rastreamento O rastreamento do câncer de mama é uma estratégia que deve ser dirigida às mulheres na faixa etária e periodicidade em que há evidência conclusiva sobre redução da mortalidade por câncer de mama e na qual o balanço entre benefícios e danos à saúde dessa prática é mais favorável. Os potenciais benefícios do rastreamento bienal com mamografia em mulheres de 50 a 69 anos são o melhor prognóstico da doença, com tratamento mais efetivo e menor morbidade associada. Os riscos ou malefícios incluem os resultados falso-positivos, que geram ansiedade e excesso de exames; os resultados falso-negativos, que resultam em falsa tranquilidade para a mulher; o sobrediagnóstico e o sobretratamento, relacionados à identificação de tumores de comportamento indolente (diagnosticados e tratados sem que representem uma ameaça à vida); e, em menor grau, o risco da exposição à radiação ionizante em baixas doses, especialmente se for realizado com frequência acima da recomendada ou sem controle de qualidade (INCA, 2015). O rastreamento pode ser oportunístico ou organizado. No primeiro, o exame de rastreio é ofertado às mulheres que oportunamente chegam às unidades de saúde, enquanto o modelo organizado convida formalmente as mulheres na faixa etária alvo para os exames periódicos, além de garantir controle de qualidade, seguimento oportuno e monitoramento em todas as etapas do processo. A experiência internacional tem mostrado que o segundo modelo apresenta melhores resultados e menores custos (Brasil, 2010). Em países que implantaram programas efetivos de rastreamento, com cobertura da população-alvo, qualidade dos exames e, sobretudo, tratamento adequado e oportuno, a mortalidade por câncer de mama vem diminuindo.O impacto do rastreamento na mortalidade por essa neoplasia justifica sua adoção como política de saúde pública, tal como recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (Iarc, 2016). No Brasil, conforme as Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama, a mamografia é o único exame cuja aplicação em programas de rastreamento apresenta eficácia comprovada na redução da mortalidade por câncer de mama. A mamografia de rotina é recomendada para as mulheres de 50 a 69 anos uma vez a cada dois anos. A mamografia nessa faixa etária na periodicidade bienal são rotinas adotadas na maioria dos países que implantaram o rastreamento organizado do câncer de mama e baseiam-se na evidência científica do benefício dessa estratégia na redução da mortalidade nesse grupo e no balanço favorável entre riscos e benefícios. Em outras faixas etárias e periodicidades, o balanço entre riscos e benefícios do rastreamento com mamografia é desfavorável. Aproximadamente 5% dos casos de câncer de mama ocorrem em mulheres com alto risco para desenvolvimento dessa neoplasia. Ainda não existem ensaios clínicos que tenham identificado estratégias de rastreamento diferenciadas e eficazes para redução de mortalidade nesse subgrupo. Portanto, recomenda-se acompanhamento clínico individualizado para essas mulheres. Alto risco de câncer de mama relaciona-se à forte predisposição hereditária decorrente de mutações genéticas. As mais comumente associadas são as dos genes BRCA 1 e 2 (síndrome de câncer de mama e ovário hereditários), que representam de 30 a 50% dos casos. Mas mutações genéticas também foram encontradas em outros genes como: PALB2, CHEK2, BARD1, ATM, RAD51C e RAD51D (Breast Cancer Association Consortium, 2021), TP53 (síndrome de Li-Fraumeni) e PTEN (síndrome de Cowden) (Mitchell et al, 2017; Migowski et al. 2018a). Também constitui alto risco o histórico de radioterapia supra diafragmática antes dos 36 anos de idade para tratamento de linfoma de Hodgkin (Swerdlow, 2012; Migowski et al. 2018a). 4 Stefannie Novaes – TUTORIA O êxito das ações de rastreamento depende dos seguintes pilares: • Informar e mobilizar a população e a sociedade civil organizada. • Alcançar a meta de cobertura da população-alvo. • Garantir acesso a diagnóstico e tratamento oportuno. • Garantir a qualidade das ações. • Monitorar e gerenciar continuamente as ações. A existência de rastreamento mesmo com boa cobertura não prescinde das estratégias de diagnóstico precoce, pois são abordagens complementares (Migowski et al. 2018). Atualmente devem ser consideradas as Recomendações para detecção precoce de câncer durante a pandemia de Covid-19 em 2021(abre em nova janela) (Migowski e Corrêa, 2020). É necessário avaliar criteriosamente o cenário epidemiológico local para avaliar os riscos e benefícios envolvidos na manutenção das ações de rastreamento. Prioridade deve ser dada às ações de diagnóstico precoce. http://www2.ufjf.br/ppgsaudecoletiva/wp-content/uploads/sites/143/2021/03/33510-Texto-do-artigo-135458-1-6-20210301-PRL.pdf http://www2.ufjf.br/ppgsaudecoletiva/wp-content/uploads/sites/143/2021/03/33510-Texto-do-artigo-135458-1-6-20210301-PRL.pdf 5 Stefannie Novaes – TUTORIA BRCA1 e BRCA2: O gene BRCA1 atua no processo de apoptose relacionado à proliferação das células epiteliais em resposta à estimulação hormonal, no controle da recombinação e na manutenção de integridade do genoma. Já o gene BRCA2 tem atividade relacionada à ativação da transcrição e sistema de reparo do DNA. Dessa forma, mutações em BRCA1/2 conferem um alto risco de câncer, pois esses genes atuam como “cuidadores do genoma” (caretakers) e, quando inativados, deixam de preservar a estabilidade genômica, permitindo o acúmulo de mutações em múltiplos genes. Estudos retrospectivos e prospectivos demonstraram que a mastectomia bilateral profilática é a intervenção de maior redução do risco de câncer de mama em mulheres com mutações em BRCA1 e BRCA2, e deve ser considerada uma opção especialmente quando há história prévia de hiperplasia atípica e mamas de difícil avaliação pelos exames de imagem. 6 Stefannie Novaes – TUTORIA Conduta em caso de portadores de mutação em BRCA: Há várias estratégias para redução do risco entre portadores de mutação em BRCA. A mastectomia bilateral profilática, o método mais efetivo para reduzir o risco de câncer de mama entre portadoras, deve ser oferecida a todas as mulheres com mutação em BRCA1 ou BRCA2.O risco residual de câncer de mama após a cirurgia é < 10%. Anotação: adenomastectomia que confere risco residual de aprox. 10% A salpingo-oforectomia bilateral (SOB) profilática também deve ser oferecida às mulheres com mutação em BRCA1 ou BRCA2. Além da redução no risco de câncer de ovário em 90%, demonstrou-se que a SOB reduz o risco de câncer de mama em aproximadamente 50% em portadoras pré-menopáusicas de mutação que não tenham sido submetidas à cirurgia profilática. As pacientes que optem por não realizar mastectomias profiláticas devem ser acompanhadas de perto com rastreamento para câncer de mama. Em geral, as diretrizes para portadoras de mutação sugerem mamografias anuais com início entre 25 e 30 anos de idade, exames clínicos da mama duas vezes ao ano e autoexame das mamas uma vez por mês. A ressonância magnética (RM) da mama é mais sensível que a mamografia para detecção de câncer de mama em pacientes de alto risco, ao custo de maior taxa de resultados falso-positivos. As diretrizes da American Cancer Society para rastreamento de câncer de mama recomendam exame de RM anual associada à mamografia em pacientes portadoras de mutação em BRCA. As diretrizes clínicas sugerem iniciar com os exames de RM aos 25 anos de idade. Para as pacientes que optem por não realizar SOB profilática, recomenda-se rastreamento para câncer de ovário duas vezes ao ano com ultrassonografia transvaginal e dosagem de CA-125. Contudo, é necessário advertir que essas medidas não têm eficácia comprovada. Prevenção de câncer de mama Atualmente as estratégias de prevenção são baseadas nas seguintes abordagens: Mastectomia e Ooforectomia profilática: a realização da mastectomia profilática (retirada de uma ou ambas as mamas) pode reduzir em torno de 90% o risco de desenvolvimento de câncer de mama naqueles indivíduos com alto risco – forte histórico familiar ou portadores de uma mutação de linhagem germinativa BRCA1 ou BRCA2. Existem duas situações em que a mastectomia profilática pode ser indicada: mulheres com alto risco de câncer de mama ou mulheres já diagnosticadas com câncer de mama. Além disso, a ooforectomia profilática (remoção dos ovários) em portadores da mutação BRCA reduziu em 50% a incidência do câncer de mama, isso por causa da redução nos esteroides ovarianos. Apesar de todos esses benefícios é importante alertar a paciente de que o câncer pode se desenvolver em remanescentes do tecido mamário (mesmo após a mastectomia profilática). Quimioprevenção: em geral, as mulheres com câncer de mama apresentam risco de desenvolver câncer de mama contralateral em torno de 0,5% ao ano. A associação do tamoxifeno com terapia adjuvante nessas pacientes demonstrou diminuição nessa taxa. Além disso, o tamoxifeno também provocou efeitos benéficos semelhantes aos do estrogênio: preservação da densidade mineral óssea e redução duradoura do colesterol. Porém, assim como o estrogênio, o tamoxifeno também eleva os riscos para câncer uterino, além de aumentar o risco na formação de catarata. Mulheres de alto risco confirmam uma redução de 38% no câncer de 7 Stefannie Novaes – TUTORIA mama invasivo com o tamoxifeno. Outro modulador seletivo do receptor estrogênico é o raloxifeno, este também possui uma potência semelhante na prevenção do câncer de mama. Porém, algumas diferenças devem ser consideradas: o raloxifeno se mostrou com menos efeitos tromboembólicos e cânceres de endométrio, entretanto ele nãoreduz a incidência de cânceres não invasivos com a mesma eficácia do tamoxifeno. Modificações do estilo de vida: cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com adoção de hábitos saudáveis: dietas com baixo teor de gordura, exercícios regulares (principalmente durante a adolescência), peso corporal adequado, evitar consumo de bebidas alcóolicas, amamentar, evitar o uso de hormônios sintéticos (anticoncepcionais e terapias de reposição hormonal). BI-RADS na mamografia: A classificação BI-RADS (Breast Imaging Reporting and Data System), criado pelo Colégio Americano de Radiologia, tem o intuito de fornecer uma linguagem padronizada na avaliação mamária, na interpretação do exame e na conduta orientada nas imagens de mamografia e ultrassonografia. BI-RADS 0 (inconclusivo): nessas situações, é necessária uma avaliação adicional, pois o resultado da mamografia não foi suficiente para chegar a uma conclusão. Pode ocorrer por mama não posicionada de forma adequada ou por movimentação durante a realização do exame. BI-RADS 1 (negativo): o exame não evidenciou nenhuma anormalidade, sendo, portanto, considerado negativo. Continua-se com o rastreamento de rotina. BI-RADS 2 (benigno): são identificadas lesões benignas, sem qualquer sinal de malignidade. Exemplos: fibroadenoma, cistos ou calcificações benignas. A mulher continua com o rastreamento de rotina, sem necessidade de avaliações adicionais. BI-RADS 3 (provavelmente benigno): são achados com um caráter benigno duvidoso, mas com baixa probabilidade de malignidade, como por exemplo, assimetrias parenquimatosas. Deve ser solicitada uma nova mamografia em 6 meses, para acompanhamento da lesão. BI-RADS 4 (achado suspeito): mamografia evidenciando uma anormalidade com características suspeitas. Indica-se biópsia da lesão. BI-RADS 5 (altamente suspeito): achados com características malignas, como lesões espiculadas, calcificações pleomórficas e retrações de pele. Indica-se biópsia para confirmar a natureza da lesão. BI-RADS 6 (malignidade comprovada por biópsia): o câncer já foi confirmado e a mamografia é realizada para controle ou avaliação da resposta ao tratamento. A conduta será específica para cada caso. Compreender manifestações clinicas, diagnostico, classificação (grau e histoquímica), estadiamento e fatores prognósticos de tumor de mama: Achados clínicos: A maioria das pacientes com câncer de mama é diagnosticada como resultado de uma mamografia anormal e com menos frequência devido a uma massa palpável. A avaliação inicial deve incluir avaliação da lesão local, incluindo uma mamografia bilateral, se não foi realizada previamente, e ultrassonografia da mama conforme indicado. O exame inicial deve incluir testes laboratoriais como hemograma total, testes de função hepática e fosfatase alcalina. A busca por propagação distante só 8 Stefannie Novaes – TUTORIA deve ser reservada para cânceres de mama localmente avançados ou se sinais/sintomas de propagação distante estiverem presentes. Sintomas: Quando a história é obtida, observação especial deve ser feita sobre o início e a duração da menarca, gestações, paridade, menopausa artificial ou natural, data da última menstruação, lesões prévias na mama e/ou biópsias, suplementação hormonal, exposição à radioterapia e uma história familiar de câncer de mama. Dor nas costas ou em outro osso pode ser resultado de metástases ósseas. Queixas sistêmicas ou perda de peso devem levantar suspeita de metástases, que podem envolver qualquer órgão, porém envolvem com mais frequência os ossos, o fígado e os pulmões. Quanto mais avançado o câncer em termos de características histológicas, tamanho da lesão primária, invasão local e extensão do envolvimento de nódulo regional, maior é a incidência de propagação metastática para locais distantes. O envolvimento de linfonodo é a única característica prognóstica mais significativa e aumenta com o crescimento do tamanho do tumor e características histológicas agressivas como grau patológico. Muitas pacientes com cânceres de mama palpáveis apresentam massas indolores na mama, muitas das quais são descobertas pela própria paciente. Sintomas menos frequentes são dor na mama, secreção do mamilo, erosão, retração, aumento ou coceira do mamilo e vermelhidão, rigidez generalizada, aumento ou contração da mama. Raramente, uma massa axilar, edema do braço ou dor óssea (de metástases) podem ser os primeiros sintomas. Devido a programas de rastreamento organizados, menos de 10% dos cânceres de mama são detectados unicamente no exame físico e mais de 90% são detectados como um resultado de uma mamografia anormal. Sinais: A inspeção da mama é a primeira etapa do exame físico e deve ser realizada com a paciente sentada, com os braços nas laterais do corpo e depois acima da cabeça. Variações anormais no tamanho da mama e no contorno, mínima retração de mamilo e leve edema, vermelhidão ou retração da pele podem ser identificados. Assimetria das mamas e retração ou formação de covas na pele podem muitas vezes ser acentuadas, com a paciente tendo que elevar os braços acima da cabeça ou pressionar as mãos nos quadris a fim de contrair os músculos peitorais. Áreas axilares e supraclaviculares devem ser palpadas inteiramente para procurar nódulos aumentados com a paciente sentada. A palpação da mama em busca de massas ou outras alterações deve ser realizada com a paciente sentada e em posição supina com o braço abduzido. O câncer de mama em geral consiste em uma protuberância insensível, firme ou rígida com margens mal delineadas geralmente causada por infiltração local. Leve retração da pele ou do mamilo é um sinal importante visto que pode afetar o estadiamento. Assimetria mínima das mamas pode ser observada. Erosões muito pequenas (1 a 2 mm) do epitélio do mamilo podem ser a única manifestação de carcinoma de Paget. Secreção aquosa, serosa ou sanguinolenta do mamilo é um sinal precoce ocasional, mas muitas vezes é associado com doença benigna, conforme abordado anteriormente. Uma lesão menor do que 1 cm de diâmetro pode ser difícil ou impossível para um examinador clínico sentir; porém, pode ser descoberta pelo autoexame da paciente. 9 Stefannie Novaes – TUTORIA Durante a fase pré-menstrual do ciclo, nodularidade inócua aumentada pode sugerir neoplasia ou pode esconder uma lesão subjacente. Se houver alguma dúvida quanto à natureza de uma anormalidade sob essas circunstâncias, a paciente deve ser solicitada a retornar após seu ciclo menstrual. As características de carcinoma avançado são: edema, vermelhidão, nodularidade ou ulceração da pele; a presença de um tumor primário grande (maior que 5 cm); fixação na parede torácica; aumento, contração ou retração da mama; linfadenopatia axilar acentuada; edema do braço ipsilateral; linfadenopatia supraclavicular e metástases distantes. Mais frequentemente, as metástases inicialmente tendem a envolver linfonodos regionais primeiro, que podem ser clinicamente palpáveis, antes de se propagarem para locais distantes. Os linfonodos axilares recebem mais de 85% da drenagem linfática da mama. Um ou dois linfonodos móveis, insensíveis, não particularmente firmes, de 5 mm ou menos de diâmetro, estão muitas vezes presentes e em geral não possuem importância clínica. Qualquer nódulo firme ou rígido maior do que 5 mm de diâmetro é altamente suspeito de metástase nodal. Os nódulos axilares que são emaranhados ou fixados à pele ou a estruturas profundas indicam doença localmente avançada (pelo menos estágio III). Estudos histológicos mostram que metástases microscópicas estão presentes em aproximadamente 40% das pacientes com nódulos clinicamente negativos. Por outro lado, se o examinador achar que os nódulos axilares estão envolvidos, isso é confirmado em cerca de 85% dos casos no exame patológico. A incidência de nódulos axilares positivos aumenta com o tamanho do tumor primário,o grau de invasão local da neoplasia e determinadas características histológicas agressivas como o grau do tumor. Geralmente nenhum nódulo é palpável na fossa supraclavicular. Nódulos firmes ou rígidos de qualquer tamanho nessa localização ou apenas abaixo da clavícula (nódulos infraclaviculares) são indicativos de doença localmente avançada e sugerem a forte possibilidade de locais metastáticos distantes de câncer. É importante fazer biópsia ou aspiração com agulha fina para confirmar o envolvimento nodal nessas áreas. Nódulos supraclaviculares ipsilaterais contendo câncer indicam que a paciente está em um estágio avançado da doença (estágio IIIC). Edema do braço ipsilateral — comumente causado por infiltração metastática de linfáticos regionais — também é sinal de câncer avançado. Doença de Paget da mama: A doença de Paget da mama refere-se à erupção e à ulceração eczematoide que surge do ma-milo, pode se propagar para a aréola e está associada com um carcinoma subjacente. Uma massa subjacente é palpável em cerca de 50% das pacientes com doença de Paget. Dessas massas, 95% são consideradas câncer invasivo, a maioria das vezes ductal infiltrante. Para pacientes com doença de Paget e sem massa palpável subjacente, um câncer de mama não invasivo ou carcinoma ductal in situ é encontrado em 75% dos casos. Dor, prurido e/ou queimação são muitas vezes os sintomas presentes, junto com uma erosão superficial ou ulceração. Menos frequentemente, uma secreção sanguinolenta e retração do mamilo são observadas. O diagnóstico é estabelecido muitas vezes por biópsia de espessura total da lesão, que revela as células intraepiteliais patognomônicas do adenocarcinoma ou células de Paget dentro da epiderme do mamilo. Em 12 a 15% das pacientes com doença de Paget da mama não foi encontrado câncer de mama intraparenquimal subjacente associado. A doença de Paget é rara, sendo responsável por aproximadamente 1% de todos os cânceres de mama. Ela é muitas vezes diagnosticada erroneamente e tratada como 10 Stefannie Novaes – TUTORIA dermatite ou infecção bacteriana, levando a um retardo desastroso na detecção. A mastectomia tem sido tradicionalmente o suporte do tratamento, embora a conservação da mama seguida por radioterapia em toda a mama possa ser feita se for realizada excisão ampla da massa palpável ou da área de anormalidade mamográfica do mamilo e da aréola com um resultado cosmético. Como para outras formas de câncer de mama, as pacientes com apenas doença in situ não precisam ter avaliação axilar, que é reservada para pacientes com uma massa palpável subjacente/carcinoma invasivo ou se uma mastectomia é planejada. Carcinoma inflamatório: O carcinoma inflamatório é uma forma agressiva de câncer de mama que é caracterizado por edema difuso, escurecido da pele da mama com uma borda erisipeloide, geralmente sem uma massa palpável subjacente. Em geral, esse é um diagnóstico clínico com confirmação pa-tológica de embolização do tumor nos linfáticos dérmicos por biópsia da pele adjacente e não deve ser confundido com câncer de mama localmente avançado não inflamatório. O câncer de mama inflamatório é uma forma agressiva porém rara de câncer de mama, representando menos de 5% dos casos. Na apresenta-ção, quase 35% das pacientes com câncer de mama inflamatório possuem evidência de metástases. O componente inflamatório, muitas vezes confundido por um processo infeccioso, é causado pelo bloqueio dos linfáticos dérmicos por êmbolos tumorais, que resulta em linfedema e hiperemia. Se uma infecção cutânea suspeita não responde rapidamente (1 a 2 semanas) a um curso de antibióticos, deve-se realizar biópsia. Em geral o tratamento consiste em vários ciclos de quimioterapia adjuvante seguida por cirurgia e/ou radioterapia, dependendo da resposta do tumor. Uma mastectomia radical modificada geralmente é recomen-dada para controle locorregional contanto que uma ressecção completa do tumor possa ser realizada. Câncer de mama bilateral: O câncer de mama bilateral simultâneo clinicamente evidente ocorre em menos de 1% dos casos, mas há uma incidência de ocorrência tardia de câncer na segunda mama. A bilateralidade ocorre com mais frequência em mulheres com menos de 50 anos e é muitas vezes associado com um carcinoma lobular e em pacientes com síndromes he-reditárias de câncer de mama como a síndrome de Li-Frau-meni. A incidência de câncer na segunda mama aumenta diretamente com o período de tempo que a paciente está viva após seu primeiro câncer, cerca de 1,0% ao ano, e é significati-vamente mais alta em pacientes com síndromes hereditárias de câncer de mama. Em pacientes com câncer de mama, indica-se rastreamento cuidadoso da mama contralateral no momento do diagnóstico inicial e em intervalos regulares posteriormente. A biópsia de rotina da mama oposta geralmente não é indicada. Diagnóstico: O diagnóstico do câncer de mama é fornecido basicamente pela clínica, radiologia, citologia e histopatologia. Estudos por imuno-histoquímica e hibridização in situ do material da biópsia também fazem parte da elucidação preditiva e prognóstica dos tumores. O mapeamento da expressão gênica em tumores iniciais da mama tem sido realizado em grandes centros de tratamento no mundo, com o objetivo de melhor predizer o tratamento adjuvante do câncer de mama e sua avaliação prognóstica em 5 e 10 anos. 11 Stefannie Novaes – TUTORIA Clínico: Fazem parte do diagnóstico clínico a anamnese e o exame físico. Na primeira tem-se a história de aparecimento de lesão na mama, com crescimento progressivo, e os fatores de risco. Na segunda têm-se os sinais suspeitos de lesão maligna. Na inspeção: abaulamento do contorno mamário, retração de pele, edema de pele, hiperemia, nódulos cutâneos e ulceração. Na palpação: nódulo irregular, densidade assimétrica, consistência endurecida do tumor, mobilidade restrita ou fixa a planos profundos, axilas e/ou fossas supraclaviculares e infraclaviculares com nódulos endurecidos e/ou coalescidos. Na expressão do mamilo: descarga sanguínea/incolor, unilateral, uniductal, espontânea. Radiológico: O padrão ouro para rastreamento do câncer de mama é a mamografia. É um exame que consegue detectar lesões em fase pré-clínica, nódulos a partir de 2 mm e microcalcificações até menores que 0,5 mm. A sensibilidade da mamografia para rastrear câncer de mama aumenta com a idade. Ela oscila em torno de 77,3% entre 30-39 anos; 86,7% entre 40-49 anos; 93,6% entre 50-59 anos e 94% entre 60-69 anos³. A especificidade é similar para todas as idades,variando entre 92,6% e 95,2%³. Hoje, a padronização dos laudos através do sistema BI-RADS é uma realidade e visa facilitar a interpretação dos laudos, tornando-os mais objetivos e permitindo a boa comunicação entre os profissionais médicos. A classificação BI- -RADS (5a edição9 ) também é um léxico utilizado para a ultrassonografia mamária e ressonância nuclear magnética de mamas: 0 - Achado inconclusivo, necessita avaliação adicional de imagem 1 - Achado negativo, não existe nenhuma alteração de imagem 2 - Achados benignos 3 - Achados provavelmente benignos, risco de malignidade menor que 2%, sugere reavaliação em curto intervalo, geralmente em 6 meses. 4 - Achado suspeito, risco de malignidade varia de 2% a 95%, dividido em: a - baixo índice de suspeição, b - médio índice de suspeição e c - alto índice de suspeição, porém sem os achados clássicos de malignidade. 5 - Achado altamente suspeito, risco de malignidade maior que 95% 6 - Achado maligno conhecido e comprovado por biópsia. A tomossíntese, ou mamografia 3D, tem sido utilizada em grandes centros e vem se consolidando como uma excelente arma diagnóstica, principalmente em mamas densas e na avaliação de sobreposição de imagens. A ultrassonografia mamária é exame complementar à mamografia. É examinador dependente e sua sensibilidade depende da experiência do ecografista. Ela é variável, chegando a 83% para detecçãode lesões, mas a especificidade é baixa, chegando a 34%10. Têm ajudado principalmente na evidenciação de nódulos quanto a sua natureza, se cístico, sólido ou tumor misto; quanto a sua morfologia e extensão; e quanto a sua transmissão sonora e compressibilidade. Avalia o sistema ductal, assim como as distorções do parênquima. É exame complementar muito útil em mamas densas. Estudos vêm mostrando que a associação de ultrassonografia à mamografia em mamas heterogêneas e jovens, aumenta a sensibilidade para detecção de lesões para 96%10. A ressonância nuclear magnética das mamas (RNM) com contraste (gadolínio) é exame complementar indicado: 1 - Nas mamas densas; 2 - Em pacientes de alto risco/risco genético para câncer de mama; 3 - Para análise da morfologia das lesões e sua extensão; 4 - Para identificação de multifocalidade e multicentricidade das lesões; 5 - Na avaliação da bilateralidade; 6 - Na avaliação de recorrência local; 7 - Na avaliação de câncer oculto da mama; 8 - No monitoramento de resposta à quimioterapia neoadjuvante; e 9 - No planejamento cirúrgico do tratamento do câncer de mama. Em mamas jovens e densas, a RNM complementar à mamografia e ao exame físico aumenta a sensibilidade de 73% para 99,4%11, para detecção de lesão. Os achados incidentais à RNM chegam a 30% na maioria dos estudos. Isto quer dizer que achados negativos através de outros métodos de imagem foram positivos na RNM, entretanto a especificidade do método isolado é baixa. Novos métodos diagnósticos estão surgindo e sendo utilizados para melhor avaliação da extensão da lesão e resposta ao tratamento 12 Stefannie Novaes – TUTORIA quimioterápico, como mamografia com contraste e cintilografia mamária ou MBI. Diante da lesão e diagnóstico suspeito na imagem, inicia-se a investigação através da biópsia. Diagnóstico histopatológico: Os carcinomas ductais invasivos são responsáveis, por mais de 60% dos carcinomas infiltrantes. É seguido de longe pelo carcinoma lobular infiltrante perfazendo juntos mais de 70% dos carcinomas invasivos. Após o advento do exame mamográfico e dos programas de rastreamento, cresceu o diagnóstico de carcinoma ductal in situ, que varia de 15% a 25 % dos cânceres de mama 14. No presente capítulo enfatizaremos o tratamento dos tipos histológicos mais frequentes. A seguir, demonstraremos um resumo da classificação dos tumores da mama para conhecimento. Graus do tumor de câncer de mama: Grau I: O tumor está em fase inicial, crescendo lentamente e suas células ainda se parecem com as células normais, saudáveis. Nessa fase, a taxa de sobrevida é de 100% e o tumor pode ser completamente removido por cirurgia. Grau II: nessa fase, o tumor apresenta características tanto do grau I quanto do grau II. O tumor cresce lentamente, porém suas células já apresentam uma deformação maior e existe o risco de se espalhar para os tecidos próximos – metástase. Nessa fase, a chance de sobrevida de 05 anos após o tratamento é de 93%. Grau III: O tumor já cresce rapidamente, apresentando maiores resistências a tratamentos e com grandes probabilidades de se espalhar para tecidos próximos. As chances de sucesso do tratamento de câncer de mama nesse estágio são de aproximadamente 72% e, nessa fase, já se necessitam de tratamentos mais agressivos além da cirurgia. Grau IV: é o estágio mais avançado do tumor. Nessa fase ele já cresce de forma muito mais agressiva, com suas células totalmente diferentes das células saudáveis. Muito provavelmente já existem metástases, isto é, outros tecidos desenvolvendo novos tumores e os tratamentos são mais difíceis. As chances de total recuperação do câncer de mama nesse estágio são baixas, aproximadamente 22%. Classificação imuno-histoquímica do câncer de mama: O exame de imuno-histoquímica para tumores mamários utiliza uma painel específico de anticorpos que indicam o prognóstico do câncer de mama e auxiliam na determinação do tratamento. Por meio deste exame, é possível definir o perfil molecular tumoral, ou seja, determinar o tipo de mutação genética e as proteínas expressas, possibilitando assim uma conduta terapêutica personalizada. Luminal A: Representa 60% dos carcinomas de mama e têm um melhor prognóstico. Na imuno-histoquímica apresentam positividade para RE e/ou RP e negatividade para HER-2, sendo o índice de ki-67 menor que 14%. Em sua maioria, trata-se de tumores de baixo grau histológico e são responsivos a terapias-alvo à base de tamoxifeno e inibidores de aromatase. Luminal B: Em sua maioria possuem receptores hormonais em baixos níveis, expressam genes associados ao HER-2 e maior número de genes de proliferação celular, como o ki-67, levando a um pior prognostico. A expressão de HER-2 e ki-67, 13 Stefannie Novaes – TUTORIA é diagnóstico diferencial para esse subtipo. Os tumores são mais responsivos a antiestrogênicos do que os do tipo luminal A. Superexpressão de HER-2: Os tumores desse subtipo superexpressam HER-2 e são negativos para receptores hormonais, possuem o segundo pior prognostico em relação aos demais. Há uma elevada taxa de recorrência, mas a terapia-alvo com trastuzumabe melhora o prognostico Triplo negativo / Basaloide: Têm como característica a expressão de vários genes expressos em células basais, são de alto grau histológico e possuem alto índice mitótico. Apresentam negatividade para receptores hormonais e para superexpressão de HER-2 além de baixa expressão de BRCA1. Na imuno- histoqúimica possuem um padrão triplo negativo pois há ausência de imunomarcação para RE, RP e HER-2, porém podem apresentar positividade para citoqueratina 5 ou 5/6 e para receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR). Prognostico: O estágio do câncer de mama é o único indicador mais confiável do prognóstico. As pacientes com doença localizada na mama e sem evidência de disseminação regional após exame microscópico dos linfonodos possuem o prognóstico mais favorável. REs e RPs parecem ser variáveis prognósticas importantes porque as pacientes com tumores negativos para receptores hormonais e sem evidência de metástases para os linfonodos axilares possuem uma taxa de recidiva muito mais alta do que as pacientes com tumores positivos para receptores hormonais e sem metástases regionais. O subtipo histológico do câncer de mama (p. ex., medular, lobular, comedão) parece ter pouca importância no prognóstico uma vez que esses tumores são verdadeiramente invasivos. Muitas pacientes que desenvolvem câncer de mama por fim morrerão de câncer de mama. A taxa de mortalidade de pacientes com câncer de mama excede aquela dos controles normais combinados por idade em quase 20 anos. Consequentemente, as taxas de mortalidade são iguais, embora as mortes que ocorrem entre as pacientes com câncer de mama são muitas vezes diretamente o resultado do tumor. Estatísticas de cinco anos não refletem com precisão o resultado final do tratamento. Quando o câncer é localizado na mama, sem evidência de disseminação regional após exame patológico, a taxa de cura clí-nica com métodos de tratamento mais aceitos é de 75 a 80%. Exceções podem estar relacionadas ao conteúdo de receptor hormonal do tumor, tamanho do tumor, resistência do hospedeiro ou doença associada. Os pacientes com pequenos tumores positivos para RE e RP e sem evidência de disseminação axilar provavelmente possuem uma taxa de sobrevida de cinco anos de quase 90%. Quando os linfonodos axilares são envolvidos com o tumor, a taxa de sobrevida cai para 50 a 60% em cinco anos e provavelmente para menos de 25% em 10 anos. Em geral, o câncer de mama parece ser um pouco mais agressivo em mulheres mais jovens do que em mulheres mais velhas, o que pode estar relacionado ao fato de que relativamente menos mulheres jovens possuem tumores positivos para RE. Discutir hormonioterapia no câncer de mama com efeitos colaterais: A doença disseminada pode responder à terapia endócrina prolongada tal como ablação ovarianaou administração de fármacos que bloqueiam os locais receptores de hormônios ou que bloqueiam a síntese ou a produção de hormônios. A manipulação hormonal é geralmente mais bem-sucedida em mulheres na pós- menopausa. Uma resposta favorável à manipulação hormonal ocorre em cerca de 14 Stefannie Novaes – TUTORIA um terço das pacientes com câncer de mama metastático. Em pacientes cujos tumores contêm REs, a resposta é de aproximadamente 60% e talvez até 80% para pacientes cujos tumores contêm RPs também. Os tumores negativos para REs e RPs possuem taxas de resposta à terapia hormonal de 10% ou menos. Como a qualidade de vida durante uma remissão induzida por manipulação endócrina é em geral superior a uma remissão após quimioterapia citotóxica, pode ser melhor tentar manipulação endócrina como um tratamento sistêmico de primeira linha para recidiva do tumor ou paliação. Contudo, é melhor abandonar a terapia endócrina em pacientes com metástases viscerais de crescimento rápido, nas quais um período de terapia ineficaz pode levar a um declínio significativo na função do órgão e no desempenho físico. Assim, a terapia endócrina de salvação é melhor reservada para pacientes com sintomas mínimos, sem envolvimento visceral e com tumores de crescimento lento. Como uma regra geral, apenas um tipo de terapia sistêmica deve ser administrado a cada vez. A modalidade sistêmica pode ser fornecida em combinação com um tratamento local ou regional se lesões sintomáticas se desenvolverem. Por exemplo, pode ser necessário irradiar uma lesão destrutiva de osso de sustentação de peso enquanto a paciente está tomando um agente hormonal ou quimioterapia. O regime sistêmico paliativo deve ser alterado apenas se a doença estiver progredindo claramente, mas não se a doença parecer estável. Isso é especialmente importante para pacientes com metástases ósseas destrutivas, porque alterações menores no estado dessas lesões são difíceis de determinar radiograficamente. Um plano de tratamento que simultaneamente minimizaria a toxicidade e maximizaria os benefícios é muitas vezes mais bem atingido por manipulação hormonal. A escolha da terapia endócrina depende do estado menopáusico da paciente. As mulheres dentro de um ano da data da última menstruação são consideradas estando na pré-menopausa, ao passo que as mulheres cuja menstruação cessou há mais de um ano geralmente são classificadas na pós-menopausa. No passado, ablação ovariana, em geral por ooforectomia cirúrgica bilateral ou radioterapia, era o método-padrão de manipulação hormonal utilizado em mulheres na pré- menopausa com câncer de mama avançado. Contudo, mais tarde ficou mais claro que o tamoxifeno é igualmente eficaz e não tem os riscos concomitantes da ablação cirúrgica dos ovários. O tamoxifeno é recomendado como o tratamento de escolha para terapia hormonal na mulher na pré-menopausa com câncer de mama avançado. Para pacientes na pós-meno-pausa, IAs e tamoxifeno são a terapia de escolha inicial para câncer de mama metastático tratável por manipulação endócrina, e uma resposta favorável à terapia hormonal inicial com tamoxifeno é preditiva de futuras respostas às manobras hormonais. O uso de IAs, que trabalham bloqueando a conversão de tes-tosterona para estradiol e de androstenediona para estrogênio no córtex suprarrenal e no tecido periférico, incluindo os próprios cânceres de mama, é eficaz em pacientes na pós- menopausa. Outros agentes hormonais foram considerados eficazes em pacientes na pré- menopausa. Os agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) que agem na hipófise para eventualmente suprimir o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH) e o eixo hipófise-ova-riano, diminuindo assim a produção de estrogênio, têm sido usados desde os anos 1980. Eles são uma alternativa à ooforec-tomia se utilizados sozinhos, ou podem ser combinados com tamoxifeno ou IAS. 15 Stefannie Novaes – TUTORIA Progestogênios, acetato de megestrol e acetato de medroxi-progesterona são agentes alternativos reservados principalmente para casos resistentes ao tamoxifeno e IAs.
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