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ENTENDER A FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER DE MAMA O câncer de mama é mundialmente considerado o mais comum dentre os cânceres femininos e, portanto, o conhecimento de sua etiologia, apresentação clínica, prognóstico e tratamento são de fundamental importância para a saúde pública e de grande interesse para os profissionais de saúde, das mais variadas especialidades. Atualmente, o panorama desta patologia tem sofrido mudanças significativas, suportadas pelos avanços tanto de especialidades médicas (cirurgia, radioterapia, oncologia, radiologia, medicina nuclear, entre outras), como especialidades da equipe multidisciplinar (psicologia, nutrição, farmácia, enfermagem, fisioterapia) que, através de estudos envolvidos na gênese, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados de suporte tem promovido um aumento da sobrevida e uma melhora da qualidade de vida do paciente oncológico. A nível molecular, há evidências que mostram que o câncer da mama evolui ao longo de duas vias moleculares divergentes de progressão, relacionadas principalmente com a expressão do receptor de estrógeno, e com o grau e proliferação do tumor. Alterações epigenéticas estão envolvidas na carcinogênese e progressão da mama. No câncer de mama, os genes podem ser globalmente • hipometilados - levando à ativação genética, regulação positiva de oncogenes e instabilidade cromossômica; ou, • menos frequentemente, hipermetilados focalmente (específico do locus) - levando à repressão genética e instabilidade genética devido ao silenciamento do reparo do DNA. Os principais fatores de risco para câncer de mama esporádico estão ligados à exposição hormonal. O estrogênio é claramente um promotor do câncer de mama, através da sua ligação ao receptor de estrógeno localizado no núcleo (codificado por ESR1), que é um fator de transcrição ativado por ligante. Os hormônios estimulam o desenvolvimento dos seios durante a puberdade, ciclos menstruais e gravidez. Durante os ciclos menstruais, um desequilíbrio entre estrogênio e progesterona aumenta a proliferação celular e pode causar acumulação de danos no DNA. Com a repetição do processo a cada ciclo, pode ocorrer um processo de reparo defeituoso, levando a mutações em células pré-malignas e depois em células malignas. GEOVANA CAVALCANTE - 6º P - UNIVASF Nesta fase, o estrogênio estimula o crescimento destas células e a proliferação de células estromais que apoiam o desenvolvimento do câncer. Quando ativado pela ligação do ligante, o receptor de estrógeno pode modular a expressão gênica interagindo com elementos de resposta ao estrogênio localizados na região promotora de genes específicos. Além disso, o receptor de estrógeno também pode interagir diretamente com proteínas, como os receptores de fatores de crescimento, para aumentar a expressão genética relacionada à proliferação e sobrevivência celular. O câncer de mama se desenvolve em um microambiente complexo que compreende vários tipos de células benignas e a matriz extracelular (que fornece suporte mecânico ao tumor e permite a interação celular de forma parácrina). O tipo de célula mais abundante são os fibroblastos associados ao câncer, mas o microambiente do câncer de mama também contém células de linhagem leucocitária (incluindo linfócitos, macrófagos e células estromais derivadas de mieloides), a maioria das quais estão envolvidas na resposta imune. O microambiente imunológico influencia o desenvolvimento e progressão do câncer de mama de acordo com a vigilância imunológica e os princípios de edição imunológica. Na fase inicial da carcinogênese, o microambiente imunológico exerce principalmente ação antitumoral, através do meio de citocinas derivado de células T CD8+ e CD4+ ativadas. Por outro lado, uma vez que um tumor se torna invasivo, a composição celular do microambiente, incluindo fibroblastos associados ao câncer e conteúdo de citocinas, é promotora do tumor, “hackeada” pelas células do câncer de mama. As células malignas podem suprimir a resposta imune expressando reguladores do ponto de controle imunológico (por exemplo, proteína 4 associada a linfócitos T citotóxicos (CTLA-4) e ligante 1 de morte celular programada 1 (PD-L1)), que são regulados positivamente por células T efetoras como uma consequência da exposição crônica a antígenos tumorais (exaustão de células T). A resposta imune antitumoral reduzida por moléculas de ponto de controle imunológico reguladas positivamente estabelece um microambiente pró-tumoral, que é ainda enriquecido pelo recrutamento de células imunossupressoras, células T reguladoras (Treg) e células estromais derivadas de mieloides (MDSCs). A classificação intrínseca influencia o perfil (momento, locais) da doença metastática. Os tumores luminais A tendem a recidivar tardiamente (após 5 anos da primeira apresentação) e têm tropismo por ossos e linfonodos (assim como os tumores luminais B, HER2-negativos). Os tumores triplo negativos são propensos a recorrências precoces (dentro de 2 a 3 anos após a primeira apresentação) e tendem a formar metástases viscerais (pulmonares) e cerebrais. FATORES DE CRESCIMENTO EPIDÉRMICO O receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) é um receptor de tirosina- quinase (RTK) que é frequentemente expresso em tumores epiteliais. Uma grande variedade de funções celulares é modulada pelos quatro membros da família do EGFR, e ela desempenha um papel importante na proliferação e crescimento maligno das células cancerígenas da mama. Essa família de receptores é composta por quatro receptores homólogos: EGFR (ErbB1 / EGFR / HER-1); ErbB2 (HER - 2/neu); ErbB3 (HER-3) e ErbB4 (HER-4). Esses receptores ancorados na membrana citoplasmática são compostos por um domínio extracelular de ligação, um segmento transmembrana e um domínio intracelular de proteína TK com um segmento regulador COOH-terminal. HER-3, no entanto, é diferente dos outros membros na medida em que tem um domínio deficiente de TK. Há pelo menos seis ligantes diferentes, conhecidos como ligantes do tipo EGF, ligados ao EGFR. Após a ligação ao ligante, o receptor ErbB torna-se ativado pela dimerização entre dois receptores idênticos (homodimerização) ou entre diferentes receptores da mesma família (heterodimerização). Após a dimerização do receptor, ocorre uma cascata de ativação de múltiplas proteínas quinase e autofosforilação de tirosina, fosforilando diversos substratos intracelulares, incluindo o Ras-Raf-MAPK, PI3K-Akt e outra sinalização importante que regula a apoptose e as vias de proliferação celular. A ativação de vias EGFR tem sido associada a muitos processos cruciais para a progressão do tumor, como metástases e sobrevivência, proliferação, aderência, diferenciação, migração, transformação e motilidade celular. Vários tumores sólidos diferentes expressam EGFR excessivamente, incluindo os de mama, cabeça e pescoço, pulmão não pequenas células, ovário, cólon, glioblastoma, pâncreas e bexiga. No câncer de mama, frequentemente há hiperexpressão de EGFR ou HER-2, conferindo comportamento clínico agressivo ao tumor e desfecho clínico reservado. A hiperexpressão de EGFR é encontrada em 14 a 91% dos cânceres de mama e isso tem sido correlacionado com a progressão da doença. No entanto, não há um padrão de métodos para a detecção do receptor EGFR, e existe uma ampla variabilidade nos resultados. O carcinoma in situ de mama é uma doença heterogênea com variado potencial de malignidade. A classificação TNM da União Internacional Contra o Câncer divide o carcinoma in situ de mama em ductal (CDIS) e lobular (CLIS). CARCINOMA DUCTAL IN SITU A definição de carcinoma ductal in situ (CDIS) é a de uma proliferação epitelial maligna limitada ao interior de um espaço tipo ducto, sem evidências de invasão estromal. É um diagnóstico de exclusão: se não for encontrada invasão do estroma pela neoplasia, o tumor é não invasivo ou intraductal. Clinicamente esse tumor se manifesta em 80% das vezesatravés de microcalcificações na mamografia. Sendo uma doença heterogênea, definir os fatores preditivos associados com recorrência local é muito importante. Considerando o padrão arquitetural das células (sólido, comedo, cribiforme, micropapilar e papilar), a presença ou ausência de necrose, o grau nuclear, a ploidia do DNA, os marcadores de proliferação e produtos oncogenes, define-se o tratamento. Na abordagem terapêutica do CDIS deve-se planejar o tratamento cirúrgico mamário e axilar; radioterápico; medicamentoso e seguimento. CARCINOMA LOBULAR IN SITU O carcinoma lobular in situ (CLIS) é uma lesão subclínica que costuma ser diagnosticada ao acaso em uma biópsia mamária. Caracterizado por proliferação sólida de células pequenas com pequena e uniforme distribuição de núcleos ovais, geralmente envolvendo múltiplos lóbulos (multifocais ou difusos). É considerado um marcador biológico. Diversos estudos já demonstraram que somente uma minoria das mulheres com esse diagnóstico desenvolve doenças invasoras, ocorrendo na maioria das vezes após 12 anos de seguimento. O risco para desenvolver câncer de mama (ductal ou lobular) é 1 a 1,5% por ano. O tratamento do CLIS é controverso. Existem hoje basicamente duas alternativas: mastectomia ou seguimento rigoroso, com ou sem medicamento. O tipo histopatológico invasivo mais comum (observado em mais de 90% dos casos) é o carcinoma ductal infiltrante (CD1) e o segundo mais comum (em 5% a 10% dos casos), o carcinoma lobular infiltrante (CLI). Estas Diretrizes referem-se a estes dois tipos, sendo o termo Câncer de Mama utilizado como seus sinônimos. Existem algumas diferenças clínicas entre o carcinoma ductal e o lobular em relação ao prognóstico e à história natural da doença. Os CLI possuem maior tendência a apresentarem-se, ao diagnóstico, com doença em ambas as mamas e com maior frequência de doença multicêntrica. A maioria dos CLI acomete mulheres mais idosas, a sua variante clássica comumente apresenta positividade para receptores hormonais (RH) e o seu prognóstico parece ser mais favorável do que o das pacientes acometidas por CDI. As pacientes com CLI podem apresentar doença metastática tardiamente para sítios característicos como meninge, peritônio e trato gastrointestinal. A classificação molecular do câncer de mama pode ser realizada no material histopatológico por análise genética e, mais comumente, por imuno-histoquímica. Estão descritos diferentes subtipos moleculares de câncer de mama que diferem na sua evolução clínica e prognóstico. Os cinco subtipos moleculares são: luminal A, luminal B, luminal híbrido, receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER-2) e basal-símile; contudo, na prática clínica, para a definição do tratamento do câncer de mama, utiliza-se principalmente, além dos critérios clinico-patológicos, o status dos receptores hormonais de estrógeno (RE) e progesterona (RP) e a avaliação do status do HER-2. COMPREENDER OS FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER DE MAMA (ONCOLOGIA: UMA ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR) Há vários fatores de risco relacionados ao câncer de mama, tais como, sexo feminino, aumento da idade, história familiar de câncer de mama em mulheres jovens, menarca precoce, menopausa tardia, primeira gravidez tardia, uso prolongado de reposição hormonal, exposição prévia à radioterapia em parede torácica, aumento da densidade mamográfica, doença proliferativa benigna das mamas e mutações genéticas como BRCA1/BRCA2. Por tal razão, existem na literatura algumas tentativas de se propor modelos ou escores, que combinem diversos parâmetros de risco. O modelo mais conhecido foi o de Michell Gail, estatístico norte-americano que, em função de alguns dados, fornece a probabilidade de a mulher vir a apresentar câncer de mama nos cinco anos seguintes e durante toda a sua vida. Os parâmetros considerados nos testes são: idade, número de parentes de primeiro grau com câncer de mama, nuliparidade ou idade do primeiro parto, idade da menarca e diagnóstico prévio de hiperplasia atípica. Estes dados são calculados em instantes, além de serem validados em várias casuísticas. • Estilo de vida e Dieta: o consumo de álcool e o aumento de risco para o câncer de mama são fatores bem estabelecidos. Alguns estudos mais antigos correlacionam o aumento da ingestão de gordura e a baixa ingestão de frutas e vegetais como fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama. No entanto, estudos prospectivos mais recentes falharam em confirmar estas observações. A obesidade está associada a um risco duas vezes maior de câncer de mama na mulher pós- menopausada e o tabagismo, até o presente, não apresenta importância na etiologia da neoplasia maligna das mamas. • História familiar: é um importante fator de risco para o câncer de mama, especialmente se um ou mais parentes de primeiro grau (mãe ou irmã) foram acometidas antes dos 50 anos de idade. Entretanto, o câncer de mama de caráter familiar corresponde a aproximadamente 10% do total de casos de cânceres de mama. A idade constitui um outro importante fator de risco, havendo um aumento rápido da incidência com o aumento da idade. • Antecedentes ginecológicos: a menarca precoce, a menopausa tardia (instalada após os 50 anos de idade), a ocorrência da primeira gravidez após os 30 anos de idade e a nuliparidade, constituem fatores de risco para a neoplasia maligna da mama. O uso de contraceptivos orais ainda é controverso, quando na associação com o câncer de mama, sendo o risco aumentado naquelas que usaram anovulatórios com dosagens elevadas de estrogênio, nas que fizeram uso por longo período e nas que iniciaram ainda muito jovens. • Reposição hormonal: a Women’s Health Initiative desenvolveu um estudo randomizado sobre terapia de reposição hormonal em mulheres pós- menopausadas e demonstrou um aumento do risco de carcinoma invasivo de mama naquelas que usaram terapia combinada de estrogênio e progesterona. Outros estudos têm demonstrado que o risco de câncer de mama não dependem somente do risco da hormonioterapia empregada (estrogênio isolado X combinação), mas também do período de início do tratamento, pois o risco está aumentado quando iniciado logo após a menopausa. • Mutações genéticas: o BRCA-1 e o BRCA-2 são genes que codificam a síntese de proteínas envolvidas com a estabilidade genômica, a resposta celular ao DNA lesado, a regulação da transcrição e da proliferação celular. As mulheres que apresentam mutações germinativas nestes genes possuem um risco de 50 a 80% de desenvolver cancer de mama em algum momento da vida. (INCA) Mulheres mais velhas, sobretudo a partir dos 50 anos de idade, têm maior risco de desenvolver câncer de mama. O acúmulo de exposições ao longo da vida e as próprias alterações biológicas com o envelhecimento aumentam, de modo geral, esse risco (Silva e Silva, 2005; WHO, 2018). Os fatores endócrinos/história reprodutiva estão relacionados principalmente ao estímulo estrogênico, seja endógeno ou exógeno, com aumento do risco quanto maior for a exposição. Esses fatores incluem: história de menarca precoce (idade da primeira menstruação menor que 12 anos), menopausa tardia (após os 55 anos), primeira gravidez após os 30 anos, nuliparidade, uso de contraceptivos orais (estrogênio-progesterona) e terapia de reposição hormonal pós-menopausa (estrogênio-progesterona) (Silva e Silva, 2005; WHO, 2018; Iarc, 2021). Os fatores comportamentais/ambientais bem estabelecidos incluem a ingesta de bebida alcoólica, sobrepeso e obesidade, inatividade física e exposição à radiação ionizante (Inumaru et al., 2011; Anothaisintawee et al., 2013; WHO, 2018; WCRF/ AICR, 2018; INCA, 2020, IARC, 2021a e b). O tabagismo, fator estudado ao longo dos anos com resultados contraditórios, é atualmente classificado pela International Agency for Research on Cancer (IARC) como agente carcinogênico com limitada evidência para câncer de mama em humanos (Iarc, 2021). São evidências sugestivas,mas não conclusivas, de que ele possivelmente aumenta o risco desse tipo de câncer (Jemal et al., 2019; Drope et al., 2018). A exposição a determinadas substâncias e ambientes, como agrotóxicos, benzeno, campos eletromagnéticos de baixa frequência, campos magnéticos, compostos orgânicos voláteis (componentes químicos presentes em diversos tipos de materiais sintéticos ou naturais, caracterizados por sua alta pressão de vapor sob condições normais, fazendo com que se transformem em gás ao entrar em contato com a atmosfera, hormônios e dioxinas (poluentes orgânicos altamente tóxicos ao ambiente e que demoram muitos anos para serem eliminados, oriundos de subprodutos de processos industriais e de combustão) pode também estar associada ao desenvolvimento do câncer de mama. Os profissionais que apresentam risco aumentado de desenvolvimento da doença são os cabeleireiros, operadores de rádio e telefone, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, comissários de bordo e trabalhadores noturnos. As atividades econômicas que mais se relacionam ao desenvolvimento da doença são as da indústria da borracha e plástico, química e refinaria de petróleo. O risco de câncer de mama devido à radiação ionizante é proporcional à dose e à frequência (Adami et al., 2008). Doses altas ou moderadas de radiação ionizante (como as que ocorrem nas mulheres expostas a tratamento de radioterapia no tórax em idade jovem) ou mesmo doses baixas e frequentes (como as que ocorrem em mulheres expostas a dezenas de exames de mamografia) aumentam o risco de desenvolvimento do câncer de mama. Os fatores genéticos/hereditários foram relacionados à presença de mutações em determinados genes. Essas mutações são mais comumente encontradas nos genes BRCA1 e BRCA2, mas também são frequentes em outros genes como: PALB2, CHEK2, BARD1, ATM, RAD51C, RAD51D e TP53 (Breast Cancer Association Consortium, 2021; Garber et al., 1991). Mulheres que possuem vários casos de câncer de mama e/ou pelo menos um caso de câncer de ovário em parentes consanguíneos, sobretudo em idade jovem, ou câncer de mama em homem também em parente consanguíneo, podem ter predisposição hereditária e são consideradas de risco elevado para a doença. O câncer de mama de caráter hereditário corresponde, por sua vez, a apenas 5% a 10% do total de casos (Adami et al., 2008). FATORES GENÉTICOS A predisposição genética a tumores é mediada pela herança da inativação de genes supressores de tumores, particularmente em famílias de alto risco. Os mais importantes genes supressores de tumor associados com o câncer de mama são os citados, genes BRCA1 e BRCA2. Mulheres portadoras de mutações no BRCA1 possuem até 80% de chance de desenvolver câncer de mama, e até 60% de desenvolver câncer de ovário em sua vida. Em indivíduos portadores de mutações germinativas nos genes BRCA1 e BRCA2, 90% dos casos são caracterizados como “triplo-negativo”, ou seja, existe uma deficiência nos três receptores celulares, como: receptor de fatores de crescimento epidermal (HER2/Erb2), receptor de progesterona (PR), e receptor de estrógeno (ER). Dados moleculares dos genes BRCA1 e BRCA2 Os genes BRCA1 e BRCA2 possuem estruturas que são complexas com aproximadamente 100Kb. O gene BRCA1 se encontra no braço longo do cromossomo 17, composto de 22 éxons codificantes, e codifica para uma proteína de 1.863 aminoácidos. Já o gene BRCA2 se encontra no braço longo do cromossomo 13, composto de 27 éxons codificantes, dos quais 26 codificam uma proteína com 3.418 aminoácidos. Os genes BRCA1 e BRCA2 codificam proteínas nucleares expressas que são conservadas com integridade genômica por regular o reparo de DNA. A função desses genes é impedir a formação de tumores por meio do reparo de DNA que estão alterados. Assim, as proteínas que são codificadas pelos genes interagem com outras proteínas para reparar as quebras de DNA, mas, se não há a interação, induzem a apoptose celular. Outra função é a diferenciação em processos celulares. As proteínas BRCA1 e BRCA2 são responsáveis também pela regularização da atividade de outros genes e também exercem um papel importante para o desenvolvimento embrionário. Quando os genes BRCAs têm um polimorfismo perdem sua capacidade de impedir o aparecimento de neoplasias de ovário e mama, e possivelmente a perda da função de BRCA1 e BRCA2 que permitem outras mutações que são absolutamente responsáveis pela neoplasia. Essa suposição é compatível com carcinomas de mama e ovário de pacientes com mutações desses genes e que têm instabilidade cromossômica e frequentes mutações em outros genes supressores tumorais. Outro aspecto importante é que esses genes mutantes podem ser transmitidos de geração a geração e com isso pode-se explicar a existência de histórico familiar para essa mutação. A prevalência populacional de mutações germinativas desses genes é variável e sugere um efeito fundador. Por exemplo, entre judeus Ashkenazi as mutações patogênicas mais frequentes são do tipo INDEL. No gene BRCA1 aparecem na região do éxon: -185delAG (efeito dominante, com deleção dos nucleotídeos AG) e 5382inC (mutação de efeito dominante, com inserção do nucleotídeo C. No gene BRCA2, a mutação -6174delT (efeito dominante com deleção do nucleotídeo T), que está presente em pelo menos um quarto das mulheres com câncer de mama e principalmente em idade jovem. ENTENDER O RASTREIO E DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA RASTREIO (FEBRASGO) O autoexame das mamas não é recomendado como forma de rastreamento do câncer de mama. A consistência dos resultados dos dois grandes ensaios clínicos e das revisões sistemáticas sobre o tema fez com que, nos últimos 10 anos, o ensino do autoexame deixasse de ser recomendado no meio acadêmico e pelos programas de rastreamento na maior parte do mundo. Não há efeito de tal prática sobre a redução da mortalidade por câncer de mama. O exame clínico das mamas, realizado pelo profissional de saúde, demonstrou reduzir a mortalidade por câncer de mama, entre 50 e 60 anos, em virtude da lipossubstituição adiposa, que aumenta a sensibilidade na palpação. Mulheres abaixo de 40 anos MAMOGRAFIA - Nessa faixa etária em geral não se recomenda a realização da mamografia, exceto, de forma individualizada, em mulheres com alto risco para cân- cer de mama ULTRASSONOGRAFIA - Nessa faixa etária não se recomenda a realização de rastreamento por ultrassonografia, exceto, de forma individualizada, em mulheres com alto risco para câncer de mama nas quais o rastreamento por ressonância mag- nética pode ser apropriado mas não pode ser realizado por qualquer razão. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA - Nessa faixa etária não se recomenda a realiza- ção de rastreamento por ressonância magnética, exceto, de forma individualizada, em mulheres com alto risco para câncer de mama Mulheres entre 40 e 69 anos MAMOGRAFIA - Nessa faixa etária recomenda-se a realização da mamografia para todas as mulheres, com a periodicidade anual. ULTRASSONOGRAFIA - Nessa faixa etária em geral não se recomenda a realiza- ção do rastreamento por ultrassonografia, exceto, de forma individualizada. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA - Nessa faixa etária, em geral, não se recomenda o rastreamento por ressonância magnética, exceto, de forma individualizada, em mulheres com alto risco para câncer de mama Mulheres acima de 70 anos MAMOGRAFIA - Nessa faixa etária recomenda-se a realização do rastreamento com a mamografia, de forma individualizada. O rastreamento do câncer de mama visa à detecção de pequenos tumores assinto- máticos, tendo como objetivo primário a redução da mortalidade pela doença. Os objetivos secundários do rastreamento do câncer de mama são: aumentar a sobre- vida pela doença e reduzir a extensão do tratamento cirúrgico, permitindo cirurgi- as menos mutiladoras e a necessidade da quimioterapia. A mamografia é o único método de rastreamento que demonstrou ser capaz de promover uma redução ab- soluta da mortalidade. A ultrassonografia e a ressonânciamagnética demonstraram capacidade semelhante na detecção do câncer de mama inicial, entretanto não há estudos randomizados e prospectivos que tenham testado o impacto na redução da mortalidade. • MAMOGRAFIA - BI-RADS O sistema BI-RADS - Breast Imaging Reporting and Data System - criado pelo colégio Americano de Radiologia, consiste em um léxico de terminologia com definições para fornecer uma linguagem padronizada, uma estrutura de laudo e uma abordagem (conduta) orientada nas imagens de diagnóstico mamário: na mamografia, ultrassonografia e na ressonância magnética. No Brasil, o Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) realizou adaptação do BI- RADS, de acordo com particularidades da língua portuguesa. O laudo deve ser estruturado em quatro fases: 1 - Fase Clínica: Anamnese e exame clínico (não precisa constar no laudo) 2 - Fase Descritiva: Baseada no vocabulário do BI-RADS 3 - Fase Diagnóstica: Conclusão diagnóstica, sem correlação histológica Categoria 0 - Avaliação incompleta Categoria 1 - Normal Categoria 2 - Achados benignos Categoria 3 - Achados provavelmente benignos Categoria 4 - Achados suspeitos Categoria 5 - Achados altamente sugestivos Categoria 6 - Malignidade conhecida comprovada por biópsia 4 - Fase de Recomendação de Conduta: conforme as categorias Categoria 0: Necessita de exames complementares ou comparação com exames prévios. Categoria 1 e 2: Acompanhamento anual ou bianual. Categoria 3: Acompanhamento em 6 meses. Categoria 4 e 5: Sugestão/Indicação de investigação cito-histológica. Uma pequena parcela das mamografias de rastreamento positivas tem a confirmação posterior de câncer de mama, algo em torno de 5 a 10%. Portanto em 90% a 95% das mulheres com mamografias anormais que iniciam a complementação propedêutica (exame clínico, mamografias adicionais, ultrassonografia e biópsias com agulha), não se confirma o diagnóstico de câncer. (MINISTÉRIO DA SAÚDE) De acordo com o Ministério da Saúde (MS) e o Instituto do Câncer (INCA), publicado em 2015, não se recomenda o rastreamento mamográfico em pacientes com menos de 49 anos por evidências menores do benefício na redução da mortalidade. Na faixa etária entre 50 a 69 anos, recomendam a mamografia a cada dois anos, isto é, bianual. Após os 70 anos, não há recomendação para o rastreamento mamográfico. AUTOEXAME DAS MAMAS: O MS recomenda contra o ensino do AEM como método de rastreamento do câncer de mama (os possíveis danos provavelmente superam os possíveis benefícios). EXAME CLÍNICO DAS MAMAS: Ausência de recomendação - o balanço entre possíveis danos e benefícios é incerto. RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA: O MS recomenda contra o rastreamento do câncer de mama com RNM em mulheres com risco padrão de desenvolvimento desse câncer, seja isoladamente, seja como complemento à mamografia (os possíveis danos provavelmente superam os possíveis benefícios). ULTRASSONOGRAFIA: O MS recomenda contra o rastreamento do câncer de mama com USG das mamas, seja isoladamente, seja em conjunto com a mamografia (os possíveis danos provavelmente superam os possíveis benefícios). • ACONSELHAMENTO GENÉTICO Risco elevado para câncer de mama hereditário: Nesses casos, há indicação de aconselhamento genético e de solicitação de testes para pesquisa de mutações, pois os resultados podem interferir nas condutas relativamente à paciente em questão (seja rastreamento diferenciado para outros tumores, cirurgias redutoras de risco etc.) e também aos familiares. Nas famílias de alto risco, mas sem informações sobre mutações, o teste deve ser feito em um dos membros afetados, preferencialmente naqueles nos quais mais provavelmente pode ocorrer uma mutação: jovens, câncer de mama bilateral ou com outros tumores associados. Uma vez detectada a mutação, pesquisa-se apenas a mutação específica no restante da família. Quando realizado em um indivíduo não acometido, mas com forte história familiar, o resultado negativo não deve ser considerado conclusivo. Para a confirmação diagnóstica, impõe-se uma biópsia, que quase sempre é feita por meio de punção percutânea por agulha grossa. As vezes, as lesões de risco podem também ser reconhecidas microscopicamente como achados incidentais, amiúde análise de parênquima retirado em cirurgias plásticas mamárias. Dentre as síndromes relacionadas ao câncer de mama, destacam-se a síndrome da predisposição hereditária ao câncer de mama e ovário (mutações de BRCA1 e BRCA2), síndrome de Li-Fraumeni (mutação de TP53), síndrome de Cowden (mutação de PTEN), síndrome de câncer gástrico difuso hereditário (mutação de CDH1) e síndrome de Peutz-Jeghers (mutação de STK11). Outros genes com mutações associadas ao câncer de mama, embora mais raras, são PALB2, CHECK2, ATM, BRIP1, RAD51C, RAD51D e NBN. Para as mutações com alta penetrância, como BRCA1 e BRCA 2, TP53, PTEN e PALB2, a probabilidade em desenvolver câncer de mama no decorrer da vida é acima de 50%. Já quando a penetrância é moderada, a chance é de 25% a 50% (CHECK2, BARD1, ATM). As mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 relacionam- se a mais de 50% dos casos de câncer de mama hereditário e determinam risco cumulativo alto no decorrer da vida para o desenvolvimento de câncer de mama e ovário. No caso de BRCA1 o risco cumulativo é de 72% e 44%, respectivamente, e para BRCA2 é de 69% e 17%, respectivamente. Além disso, há maior prevalência de câncer de pâncreas, melanoma e próstata na população mutada. COMPREENDER A INDICAÇÃO, OS PROCEDIMENTOS PERIOPERATÓRIOS DA MASTECTOMIA PREVENTIVA E RELAÇÃO CUSTO BENEFÍCIO PARA O SUS Define-se com alto risco para câncer de mama quando um indivíduo apresenta risco cumulativo no decorrer da vida de desenvolver a doença acima de 20% a 30% ou quando o risco relativo é maior do que 2,5. As cirurgias redutoras de risco, assim como a quimioprevenção, são formas de prevenção primária do câncer de mama, em que se entende o conjunto de medidas que buscam evitar que a mulher venha a ter a doença. O termo "cirurgias redutoras de risco" é mais adequado do que "cirurgias profiláticas", porque, na prática, essas cirurgias não são capazes de excluir totalmente o evento câncer. Apesar disso, os dois termos ainda são utilizados. A população candidata a essas medidas são mulheres que apresentam alto risco para o câncer de mama, mais propriamente aquelas com risco de síndromes hereditárias associadas aos cânceres de mama e/ou ovário, como as portadoras de mutações deletérias nos genes BRCA, lesões de alto risco na impossibilidade de quimioprevenção e nas mulheres que foram submetidas a radioterapia em tórax antes dos 30 anos, para tratamento de doenças linfoproliferativas. As três formas de cirurgias redutoras de risco são: as mastectomias bilaterais redutoras de risco (MBRR), indicadas em mulheres sem câncer de mama; as mastectomias contralaterais redutoras de risco (MCRR), indicadas em pacientes com câncer de mama unilateral; e a salpingooforectomia bilateral redutora de risco (SOBRR), realizada em mulheres com ou sem câncer de mama. Mastectomias bilaterais redutoras de risco Os primeiros relatos de mastectomias "subcutâneas profiláticas" foram apresentados na década de 1960. Nessa época, o procedimento era indicado para diversas situações: dor mamária, mamas multinodulares, cancerofobia, carcinoma lobular in situ, antecedente familiar para câncer de mama, entre outras. Desde então, surgiu um dos principais problemas dessa intervenção: a padronização da técnica. A técnica cirúrgica mais realizada passou a ser a "mastectomia subcutânea", que orientava a preservação da pele da mama, bem como do complexo areolopapilar. Atualmente, a cirurgia conhecida como adenectomia, adenomastectomia ou, ainda, mastectomia com preservação do complexo areolopapilar (nipple sparing mastectomy) é a preferencial para esse procedimento. Preconiza-se nessa cirurgia maior cuidado em termos da ressecção do máximo de tecido mamário possível, bem como a busca de espessuras de retalhos maisfinos. A espessura de retalho cutâneo menor ou igual a 5 mm é a recomendada, o que parece ser o mais adequado em termos de segurança oncológica. Em 2010, Lostumbo et al. realizaram uma revisão de artigos publicados até aquela data a respeito das MBRRs. Foram mais de 7.000 mulheres estudadas, e eles concluíram que a cirurgia como prevenção primária diminui o risco de câncer de mama e a mortalidade por essa doença de forma significativa, principalmente em mulheres de alto risco como as portadoras de mutações deletérias em BRCA1 e/ou BRCA2. Mais recentemente, Li et al., em 2016, realizaram uma metanálise em 15 estudos até 2014 e observaram também redução significativa de incidência e morte por câncer de mama em mulheres sadias portadoras de BRCA1 e/ou BRCA2. Dessa forma, apesar de não terem sido publicados ensaios clínicos referentes a esse tema e a totalidade dos dados ser proveniente de avaliações retrospectivas, a MBRR em mulheres de risco muito elevado como as portadoras de mutações em BRCA deve ser considerada. Mastectomia contralateral redutora de risco A MCRR é indicada para as pacientes que têm câncer de mama já tratado ou não e desejam ser submetidas a mastectomia na mama oposta como medida de diminuição de risco de novo câncer. Existem vários fatores associados a essa escolha por parte das pacientes como idade jovem, antecedente familiar de câncer de mama, reconstrução mamária imediata, desejo de simetrização, dificuldade de rastreamento, cancerofobia, entre outros. Porém, as pacientes que são realmente beneficiadas são as que apresentam alto risco para câncer de mama hereditário. Quando a MCRR é realizada na população geral de pacientes com câncer de mama, os dados não demonstram benefício em termos de prognóstico. A cirurgia conservadora com avaliação do status linfonodal axilar pela técnica do linfonodo sentinela deve ser considerada o tratamento-padrão para todas as pacientes em estádios precoces. A OBRIGATORIEDADE da cirurgia plástica reparadora da mama pela rede de unidades integrantes do Sistema Único de Saúde - SUS nos casos de mutilação decorrentes de tratamento de câncer é garantida às mulheres que sofrerem mutilação total ou parcial de mama, decorrente de utilização de técnica de tratamento de câncer, conforme estabelecido em lei. O tipo mais comum de mastectomia é a mastectomia radical modificada, que compreende a retirada total da mama e o esvaziamento axilar, normalmente nos níveis I, II e III, e que pode ser classificada como mastectomia “a Patey”, quando é preservado o músculo peitoral maior, ou “a “Madden”, quando há preservação dos músculos peitorais. As cirurgias parciais recebem nomes variáveis, dependendo do volume mamário retirado: quadrantectomia, segmentectomia, centralectomia, tumorectomia, excisão ampla e adenomastectomia, entre outros, e são associadas ou não a esvaziamentos axilares de primeiro nível. EXPLICAR OS IMPACTOS BIOPSICOSSOCIAIS DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA PARA O PACIENTE E SEU CICLO FAMILIAR Durante toda a vida a mulher aprende que o corpo feminino é particularizado por alguns caracteres sexuais secundários que o diferenciam do masculino, sendo as mamas um dos mais proeminentes marcadores da diferença sexual. Assim, ao se submeter à mastectomia, a mulher vivencia a cirurgia como um ato agressivo, um ataque à estética e imagem corporal que construiu ao longo da vida, o que a faz perceber com estranheza o seu corpo após a intervenção cirúrgica. Dessa forma, havendo a percepção dos desdobramentos psicológicos dessa patologia, form desenvolvidas diversas escalas para melhor entender a forma com que as mulheres com câncer de mama se veem e enxergam seus corpos na tentativa de, criando um perfil epidemiológico, traçar políticas e ações efetivas ao tratamento multidisciplinar. Estratégias de atendimento psicológico podem ajudar pacientes a lidarem com o câncer e os efeitos dos tratamentos. Dentre as intervenções psicológicas mais utilizadas no cenário do câncer de mama, figuram o grupo de apoio, a psicoterapia de grupo suportivo-expressiva e o grupo psicoeducativo. Lidar com doença não é fácil e quando se trata de uma doença que mexe com todo o funcionamento da paciente, isso se torna ainda mais penoso. O câncer e suas fases, sua evolução, interferem diretamente com todos envolvidos, desde família, parentes, amigos, enfim, com todas as pessoas que presenciam o sofrimento de seu ente querido. Entretanto, compreender as representações familiares e a maneira como lidamos com tais representações frente à iminência da perda, pode gerar um conflito com ideias e ações que irão mesclar tensões no contexto familiar contribuindo para modificação de nossas crenças. Reforça-se a importância ao suporte familiar acerca das dificuldades e os aspectos psicossociais que a paciente enfrenta. Portanto, o auxílio dos familiares a lidar com esta fase tão delicada é de suma importância para o enfrentamento da patologia, contribuindo assim, para uma melhor qualidade de vida a paciente diante ao tratamento paliativo. O diagnóstico traz ansiedade, dúvidas e interrompe os planos que a pessoa tem, de repente se dá conta que a morte está cada vez mais presente na sua vida, sendo assim, a presença da família neste momento desempenha um papel indispensável contribuindo para que o grau de sofrimento seja diminuído. CONHECER O TRATAMENTO PARA O CÂNCER DE MAMA Tratamento cirúrgico: As finalidades do tratamento cirúrgico do câncer de mama são proporcionar o máximo de controle locorregional, de informações prognósticas, de orientação terapêutica e o mínimo de mutilação. Dentro desse panorama, são inúmeras as opções, sendo que, cada vez mais, indvidualizam-se as indicações, tendo em vista estadiamento clínico, planejamento oncoplástico, propedêutica imageológica, fatores prognósticos, idade, condições clínicas, tratamento neoadjuvante e, fundamental, a opinião do paciente. Para efeito prático, podem-se classificar as cirurgias para o câncer de mama em dois tipos: cirurgias ablativas de todo o corpo glandular mamário; e cirurgias conservadoras da mama, com retirada parcial do órgão. Terapia adjuvante: A decisão do uso do tratamento adjuvante deve levar em consideração o risco de recorrência da doença apenas com o tratamento local, a magnitude do benefício com a aplicação da terapia adjuvante e a toxicidade do tratamento, incluindo as condições gerais da paciente. Diversos fatores prognósticos são capazes de predizer o risco de recorrência futura ou morte por câncer de mama. Os principais são: idade da paciente, comorbidades, tamanho do tumor, grau histológico, número de linfonodos axilares envolvidos, expressão de receptores hormonais e o status HER-2. Quimioterapia: Em princípio, a QT adjuvante é recomendada para mulheres sem evidência de doença metastática com carcinoma ductal ou lobular invasivo, com linfonodos positivos ou T > 1 cm (exceto T > 1 cm e < ou igual a 2 cm, grau 1), devendo ser considerada em pacientes jovens (< 40 anos) com T de 0,6cm a 1cm e com invasão angiolinfática, ou grau 3 (nuclear ou histológico) ou HER-2 positivo (critérios do National Compreensive Cancer Network, 2006). O ganho absoluto com QT adjuvante depende diretamente do risco de recorrência e morte. A grande dificuldade na escolha dos esquemas de tratamento reside em pesar a magnitude do ganho absoluto à luz da toxicidade inerente a cada tratamento. Diversas combinações de regimes quimioterápicos são consideradas apropriadas na adjuvância, sendo capazes de reduzir o risco de recorrência do câncer de mama e aumentar a SG. Atualmente, a QT neoadjuvante é considerada a modalidade padrão no tratamento dos casos não metastáticos de doença irressecável, câncer de mama inflamatório (CMI) e, mais recentemente, dos tumores localmente avançados operáveis, com objetivo de procurar permitir a realização de cirurgia conservadora. O tempo para início da quimioterapia deve ser inferior a 12/16 semanasapós a cirurgia, embora diversos estudos mostrem dados divergentes. A quimioterapia neoadjuvante tem sido associada a um aumento na taxa de cirurgias conservadoras, o estudo B-18 do NSABP (National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project), que comparou o valor da quimioterapia neoadjuvante com o da adjuvante usando o esquema AC, demonstrou que a sobrevida das pacientes era a mesma se o tratamento fosse administrado antes ou depois da cirurgia. A pesquisa de linfonodo sentinela no momento da cirurgia, após quimioterapia neoadjuvante, resulta em taxas mais baixas de identificação do linfonodo e maior taxa de falso negativo, em comparação com o mesmo procedimento realizado antes dessa terapia. Os mesmos esquemas de quimioterapia descritos para adjuvancia podem ser utilizados para a quimioterapia neo-adjuvante. Hormonioterapia: Tumores de mama com positividade para receptores hormonais podem se apresentar como doença localmente avançada, sendo candidatos à terapia neoadjuvante com intuito de permitir cirurgia conservadora de mama. No entanto, estudos prévios demonstram que a QT neoadjuvante apresenta menor RCp em tumores com positividade para receptores de estrógeno (RE) e progesterona (RP) em relação a tumores com expressão negativa de receptores. Estes apresentam chance 12 vezes maior de atingir RCp quando expostos à QT baseada em taxanos e antracíclicos, em comparação com tumores RE/RP positivos. Radioterapia: Com o surgimento do tratamento conservador que se fundamenta na exérese cirúrgica do tumor (setorectomia ou quadrantectomia) e no manejo axilar (linfonodo sentinela com ou sem dissecção axilar), seguida de RI, há a opção de preservação da mama sem acarretar prejuízo em termos de sobrevida. O tratamento conservador é seguro, do ponto de vista oncológico, para os tumores iniciais e constitui a opção cirúrgica preferencial para doença em estádios iniciais. Pelo menos seis estudos randomizados compararam a mastectomia radical com o tratamento conservador (cirurgia associada à RT complementar) e mostraram taxas de SG equivalentes, independente da modalidade terapêutica empregada. REFERÊNCIAS OBJETIVO 1: • HARBECK, Nadia et al. Breast Cancer. Nat Rev Dis Primers, [s. l.], v. 5, 23 set. 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31548545/. Acesso em: 17 nov. 2023. • FERNANDES, César Eduardo; DE SÁ, Marcos Felip Silva. Tratado de ginecologia da Febrasgo. 1º ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. • HOFF, Paulo Marcelo Gehm. Tratado de Oncologia. São Paulo: Atheneu, 2013. OBJETIVO 2: • BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Sistema BI- RADS: condutas. Portal de boas práticas em saúde da mulher, da criança e do adolescente. 6 set. 2018. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/ bitstream/handle/icict/29924/SISTEMA%20BI- RADS_CONDUTAS.pdf;jsessionid=231C0075B5F5F7E8E101A61385F1 DA07?sequence=2 . Acesso em: 17 nov. 2023. • MARQUES, Cristina de Lima Tavares de Queiroz et. al. Oncologia uma abordagem multidisciplinar. Recife: Carpe Diem Edições e Produções Ltda, 2015. • MAHDAVI, Morteza et al. Hereditary breast cancer; Genetic penetrance and current status with BRCA. Journal of cellular physiology. vol. 234, p. 5741-5750, Maio, 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/ 30552672/. Acesso em: 17. Nov. 2023. • FERNANDES, César Eduardo; DE SÁ, Marcos Felip Silva. Tratado de ginecologia da Febrasgo. 1º ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. OBJETIVO 3: • CONITEC. Protocolo - Diretrizes diagnósticas e terapêuticas do carcinoma de mama. Relatório de recomendação. Julho de 2018. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/ relatorios/2018/relatorio_ddt_carcionomademama_julho_2018.pdf. Acesso em 17 nov. 2023. • COELHO, Aline Silva, et. al. Predisposição hereditária ao câncer de mama e sua relação com os genes BRCA1 e BRCA2: revisão da literatura. Revista brasileira de análises clínicas. Disponível em: https://www.rbac.org.br/ artigos/predisposicao-hereditaria-ao-cancer-de-mama-e-sua-relacao-com- os-genes-brca1-e-brca2-revisao-da-literatura/ #:~:text=Os%20mais%20importantes%20genes%20supressores,de%20ov% C3%A1rio%20em%20sua%20vida . Acesso em: 17 nov. 2023. • BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil – Rio de Janeiro: INCA, 2015. Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/ document//diretrizes_deteccao_precoce_cancer_mama_brasil.pdf . Acesso em: 17 nov. 2023. • MIGOWSKI, Arn et al. Diretrizes para detecção precoce do câncer de mama no Brasil. II – Novas recomendações nacionais, principais evidências e controvérsias. Cadernos de Saúde Pública. v. 34, n. 6. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/ 8gGyb5s9Nt3nSsw5GFnnPQb/# . Acesso em: 18 nov. 2023. OBJETIVO 4 e 6: • PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. PORTARIA CONJUNTA No 5, DE 18 DE ABRIL DE 2019. Aprova as Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Carcinoma de Mama. 2019. Disponível em: https:// bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2019/poc0005_29_04_2019.html. Acesso em: 18 Nov. 2023. • FERNANDES, César Eduardo; DE SÁ, Marcos Felip Silva. Tratado de ginecologia da Febrasgo. 1º ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. • HOFF, Paulo Marcelo Gehm. Tratado de Oncologia. São Paulo: Atheneu, 2013. OBJETIVO 5: • PORTELA, R. S. et. al. O câncer de mama e o seu impacto psicossocial e sexual em mulheres: uma revisão bibliográfica da literatura / Breast cancer and its psychosocial and sexual impact on women: a literature literature review. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 4, n. 6, p. 28005– 28015, 2021. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/ index.php/BJHR/article/view/41429. Acesso em:18 nov. 2023.
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