Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Guilherme Rios – Módulo II – p5 1. DISCUTIR A ANATOMIA DO FÍGADO, DUCTO E VESÍCULA BILIAR (PRINCIPALMENTE EXCREÇÃO BILIAR): FÍGADO → ASPECTOS GERAIS DO FÍGADO: ○ Consiste em um órgão acessório multifuncional do TGI. ○ Realiza funções as funções de desintoxicação, síntese de proteínas, produção bioquímica, armazenamento de nutrientes, entre outros. ○ É a maior glândula do corpo humano, pesando, aproximadamente, 1,5kg. ○ Sua superfície é quase que completamente revestida pelo peritônio visceral, exceto na região de encontro com o diafragma (área nua). → ANATOMIA DE SUPERFÍCIE: ○ Localização → QSD (especialmente região do hipocôndrio direito e epigástrio), abaixo do diafragma. ○ Situa-se profundamente da 7ª à 11ª costela no lado direito e cruza a linha mediana em direção à papila mamária esquerda. OBJETIVOS: 1. Discutir a anatomia do fígado, ducto e vesícula biliar (principalmente excreção biliar). 2. Definir colecistite. 3. Compreender a epidemiologia, etiologia, fatores de risco, quadro clínico e diagnóstico e tratamento (cirurgia precoce x eletiva x tratamento conservador) da colecistite. 4. Estabelecer a diferença entre colecistite, colelitíase e colangite quanto a fisiopatologia e o quadro clínico. 5. Elucidar a fisiopatologia e as principais causas de icterícia (diferenciar hiperbilirrubinemia direta e indireta). Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Quando se pede à pessoa para inspirar profundamente, o fígado pode ser palpado devido ao movimento do diafragma que o impulsiona para baixo. OBS: Manobras para palpação hepática → MATHIEU e LEMOS TORRES. ○ O fígado tem íntima relação com o estômago (em especial, seu lobo esquerdo), com a vesícula biliar, diafragma (superior e lateralmente), estruturas de retroperitônio (rim direito, aorta abdominal e veia cava inferior), duodeno, pâncreas e baço. → LIGAMENTOS HEPÁTICOS: ○ O fígado, por ser um órgão sólido e pesado, necessita de uma série de ligamentos para se manter posicionado fixamente na cavidade abdominal. → LOBOS E SEGUIMENTOS DO FÍGADO: ○ ANATOMICAMENTE: Lobo direito, lobo esquerdo, lobo caudado e lobo quadrado. ○ FUNCIONALMENTE: Parte hepática direita e esquerda (lobos portais). • A parte hepática esquerda inclui o lobo caudado anatômico e a maior parte do lobo quadrado. • Cada parte hepática tem seu próprio suprimento sanguíneo, proveniente da artéria hepática e da veia porta do fígado, e sua própria drenagem venosa e biliar. ○ Na face visceral, a fissura sagital direita e esquerda e a porta do fígado delimitam o LOBO CAUDADO (posterior e superior) e o LOBO QUADRADO (posterior e inferior), ambos fazendo parte do lobo hepático direito. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ A FISSURA SAGITAL DIREITA é um sulco contínuo que apresenta em sua porção mais inferior (anteriormente) a fossa da vesícula biliar e, superior (posteriormente), o sulco da veia cava. ○ A FISSURA UMBILICAL (sagital esquerda) é um sulco contínuo que apresenta e, sua porção mais inferior (anteriormente) a fissura do ligamento redondo (remanescente obliterado da veia umbilical) e superiormente (posteriormente), fissura do ligamento venoso (remanescente do ducto venoso fetal). ○ As partes hepáticas (lobos portais) são subdivididas em oito segmentos. A segmentação hepática baseia-se nos ramos principais das artérias hepáticas direita e esquerda, tributárias da veia porta do fígado e ductos hepáticos. ○ Cada segmento é suprido por um ramo da artéria hepática direita ou esquerda e veia porta do fígado, e drenado por um ramo do ducto hepático direito ou esquerdo. As veias hepáticas intersegmentares passam no meio e, assim, demarcam mais os segmentos no seu caminho para a veia cava inferior. Guilherme Rios – Módulo II – p5 → VASOS E NERVOS: ○ O fígado recebe sangue de duas fontes: • VEIA PORTA DO FÍGADO (75% a 80%): Conduz sangue desoxigenado da parte abdominopélvica do trato gastrintestinal. • ARTÉRIA HEPÁTICA (20% a 25%): É um ramo do tronco celíaco, conduz sangue rico em oxigênio proveniente da aorta. ○ Na porta do fígado, ou próximo dela, a artéria hepática e a veia porta do fígado terminam dividindo-se em ramos direito e esquerdo, que suprem as partes hepáticas direita e esquerda, respectivamente. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Veia porta do fígado → Ramo primário → Veia hepática esquerda, intermédia e direita. ○ As VEIAS HEPÁTICAS drenam para a VCI, imediatamente abaixo do diafragma. OBS: O fígado é o maior produtor de linfa. Cerca de ¼ a ½ desse material que chega ao ducto torácico advém desse órgão. ○ Os vasos linfáticos hepáticos, a depender da sua localização podem drenar para linfonodos hepáticos, linfonodos celíacos, linfonodos frênicos e linfonodos mediastinais posteriores. ○ Os nervos do fígado derivam do plexo hepático (o maior derivado do plexo celíaco) e acompanham os ramos da artéria hepática e da veia porta do fígado até o fígado. ○ O plexo é formado por fibras simpática, provenientes do plexo celíaco e por fibras parassimpáticas, provenientes dos troncos vagais anterior e posterior. DUCTOS BILÍFEROS E VESÍCULA BILIAR: → BILE: ○ A bile é produzida continuamente pelo fígado e armazenada, bem como concentrada, na vesícula biliar. ○ Quando a gordura entra no duodeno, a vesícula biliar envia a bile concentrada pelo ducto cístico e colédoco para o duodeno. Esse estímulo é garantido, entre outras coisas, pela liberação do hormônio colecistocinina (CCK). OBS: A CCK é secretada pelas células do intestino delgado superior. Sua secreção é estimulada pela introdução de ácido clorídrico (promove a liberação de bicarbonato), aminoácidos ou ácidos graxos no estômago ou no duodeno. A CCK estimula a vesícula biliar a contrair e liberar bile no intestino. ○ A bile emulsifica a gordura (não é uma enzima), de modo que possa ser absorvida na parte distal do intestino. → PERCURSO DA BILE: ○ Os hepatócitos secretam a bile nos canalículos biliares formados entre eles. ○ Os canalículos drenam para os pequenos ductos biliares interlobulares e, em seguida, para os grandes ductos biliares coletores da tríade portal intra-hepática, que se funde para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo (esses drenam as partes direita e esquerda do fígado). ○ Logo após deixarem a porta do fígado, os ductos hepáticos direito e esquerdo se unem para formar o ducto hepático comum, que recebe no seu lado direito o ducto cístico para formar o ducto colédoco. → DUCTO COLÉDOCO: ○ Forma-se por meio da união dos ductos cístico e hepático comum. ○ O ducto colédoco desce posteriormente à parte superior do duodeno e se situa em um sulco na face posterior da cabeça do pâncreas. ○ No lado esquerdo da parte descendente do duodeno, o ducto colédoco entra em contato com o ducto pancreático principal. ○ Um pouco mais abaixo, esses ductos se unem para formar a ampola hepatopancreática (ampola de Vater). ○ A extremidade distal da ampola abre-se no duodeno através da papila maior do duodeno. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ O músculo em torno da extremidade distal do ducto colédoco torna-se espesso para formar o músculo esfíncter do ducto colédoco (esfíncter de Oddi). OBS: Quando esse músculo esfíncter se contrai, a bile não consegue entrar na ampola e/ou no duodeno; por essa razão, a bile reflui e segue pelo ducto cístico até a vesícula biliar, onde é concentrada e armazenada. OBS: Existe uma importante região para a colecistectomia que consiste no trigono cisto-hepático (de Calot). Esse trígono é formado pelo ducto cístico (inferiormente), ducto hepático comum (medialmente) e a face inferior do fígado (superiormente), mantendo íntima relação com a artéria cística (irriga o fundo da vesícula biliar). Guilherme Rios – Módulo II – p5 → VESÍCULA BILIAR: ○ Apresenta formato piriforme, medindo de 7 a 10cm. ○ Localizada na fossa da vesículabiliar, na face visceral do fígado. ○ O peritônio envolve completamente seu fundo e liga seu corpo e colo ao fígado. ○ DIVISÃO ANATÔMICA: • FUNDO: Extremidade larga, projeta-se da margem inferior do fígado e, em geral está localizada na 9ª cartilagem costal direita, na linha medioclavicular. • CORPO: Toca a face visceral do fígado, na linha medioclavicular. • COLO: É estreito, afilado e direcionado para a porta do fígado, onde faz uma curva em forma de S e se une ao ducto cístico. Internamente, a túnica do colo forma a prega espiral, que mantém o ducto cístico aberto, assim a bile pode ser facilmente desviada para o seu interior, bem como seja eliminada durante a contração da vesícula. ○ O DUCTO CÍSTICO (aprox. 4 cm), une o colo da vesícula biliar ao ducto hepático comum. 2. DEFINIR COLECISTITE: → É a complicação mais frequente da litíase biliar, mais especificamente da colecistolitíase. → É decorrente de resposta inflamatória oriundas de causas mecânicas, químicas ou bacterianas com consequente isquemia da mucosa e da parede da vesícula biliar em razão do aumento da pressão intraluminal e da distensão da vesícula. → É a doença inflamatória/infecciosa da vesícula biliar. → É um abdome agudo inflamatório. → É resultado de uma oclusão permanente do ducto cístico (ou do infundíbulo) que favorece a estase biliar, com posterior colonização da vesícula por agentes infecciosos. 3. COMPREENDER A EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA, FATORES DE RISCO, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO (CIRURGIA PRECOCE X ELETIVA/ TRATAMENTO CONSERVADOR) DA COLECISTITE: COLECISTITE AGUDA: → EPIDEMIOLOGIA: ○ Responsável por 14 a 30% das colecistectomias. ○ Maior incidência no sexo feminino (calculosa), entretanto muda com o avançar da idade. ○ Mais de 90% têm relação com a litíase biliar. → ETIOLOGIA: ○ Em geral, é decorrente da obstrução do ducto cístico ou até do infundíbulo da vesícula biliar. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Essa obstrução tem duração >6h. ○ A principal causa da obstrução do ducto cístico é a litíase vesicular e lama biliar. ○ Dentre as causas menos comuns destacam-se a neoplasia da vesícula biliar, pólipos da vesícula biliar, parasitas ou corpos estranhos. ○ O principal espectro de microrganismos que infectam a vesícula consiste em: • Bactérias Gram-negativas. • Anaeróbias. ○ Na minoria dos casos, pode ocorrer colecistite acalculosa. → FISIOPATOLOGIA: ○ A impactação do cálculo leva à incapacidade do esvaziamento da bile. ○ Essa estase biliar prolongada vai favorecer a translocação e colonização bacteriana, resultando em infecção e INFLAMAÇÃO. → FATORES DE RISCO: ○ Pacientes diabéticos, que foram submetidos à instrumentação biliar e casos graves (p. ex., sepse), apresentam facilidade para a contaminação pelos microrganismos que levarão à colecistite. ○ Obesidade. ○ Perda abrupta de peso. ○ Alguns medicamentos. ○ Histórico familiar. ○ Hábitos alimentares (p. ex., dieta, jejuns prolongados). ○ Sexo feminino. ○ Pacientes idosos. → QUADRO CLÍNICO: ○ Dor abdominal contínua e de muitas horas de duração (>5/6h). ○ Localizada no QSD (mais especificamente no hipocôndrio direito) ou no epigástrio, na maioria absoluta dos casos. ○ Pode apresentar irradiação em faixa para o dorso (interescapular), que diminui gradualmente. ○ Os pacientes descrevem, normalmente, episódios prévios de dor biliar (dor abdominal contínua no QSD ou epigástrio, de início abrupto, de intensidade moderada a intensa). ○ Comumente, a dor apresenta caráter pós-prandial, particularmente após refeições gordurosas (relacionadas à liberação de CCK). ○ Náuseas, vômitos e anorexia são comumente associados à colecistite aguda. ○ Normalmente, paciente apresenta febre. Guilherme Rios – Módulo II – p5 → DIAGNÓSTICO: ○ EXAME FÍSICO: • Paciente pode apresentar febre, taquicardia e sensibilidade à palpação da região epigástrica ou do QSE. • Parada álgica da inspiração após palpação do ponto cístico → SINAL DE MURPHY + ○ EXAMES LABORATORIAIS: • Leucocitose (51 a 53% dos pacientes). • Podem estar alteradas: ♦ Transaminases (AST e ALT). ♦ Fosfatase alcalina (FA). ♦ gGT ♦ Bilirrubinas (em especial, a fração conjugada). • Frequentemente encontra-se elevação moderada de amilase. • Elevação da PCR. ○ EXAME DE IMAGEM: • ULTRASSONOGRAFIA: ♦ É o exame de escolha inicial para a investigação, pois é eficaz, prático, barato, não invasivo e de fácil acesso. . ♦ ASPECTO DA INFLAMAÇÃO DA VESÍCULA À USG: Parede espessada (> 4/6 mm) e hiperecogênica, presença cálculo ou de lama biliar, líquido livre pericolecístico e vesícula dilatada, área de alta densidade na gordura peri-vesicular. ♦ ASPECTO DO CÁLCULO BILIAR À USG: Imagem ovalada, hiperecogênica, presença de sombra acústica posterior, cálculo impactado no infundíbulo ou ducto cístico que não se move com a alteração de posição do paciente. ♦ Apresenta sensibilidade de 90 a 95%. ♦ Apresenta como pontos negativos o fato de ser operador dependente e ter dificuldades para realização em pacientes obesos. OBS: Pode ser realizado o Murphy-ultrassonográfico (especificidade >90%); • COLECINTIGRAFIA COM DISIDA (cintilografia): ♦ Padrão ouro. ♦ É um método de imagem alternativo que utiliza o 2,6-dimetil-ácido iminodiacético (HIDA ou DISIDA) para a visualização do sistema biliar. ♦ Esse radioisótopo será administrado no paciente e irá ser excretado pelo fígado na bile, fazendo com o que seja possível realizar o mapeamento da arvore biliar. ♦ Em caso de obstrução do ducto cístico, como tipicamente encontrado na colecistite aguda, a vesícula biliar não é visualizada. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ♦ Possui sensibilidade superior (78 a 100%) em relação à US para o diagnóstico de colecistite. ♦ É um exame de exceção, não sendo utilizado em todo os pacientes, apenas naqueles com quadros atípicos e que se pretende comprovar que não é colecistite aguda. • COLÂNGIO-RM: ♦ Vem sendo amplamente utilizada para o estudo hepatobiliar, com sensibilidade de 50 a 91%. ♦ Tem as vantagens de fornecer informações do abdome na totalidade, além do sistema biliar, e não utilizar radiação ionizante. ○ BIÓPSIA: • O exame padrão-ouro para o diagnóstico definitivo é o exame anatomopatológico da vesícula biliar. (ROTINA) → CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE PARA COLECISTITE AGUDA: → TRATAMENTO: ○ MANEJO INICIAL: Guilherme Rios – Módulo II – p5 • Compensação clínica com hidratação, controle álgico e uso de antieméticos. ○ ANTIBIÓTICOTERAPIA: • Normalmente, as infecções acontecem por bactérias Gram-negativo e anaeróbias. • Esquemas: 1. AMOXACILINA + CLAVULANATO ♦ Para casos mais leves. ♦ Quando em associação, aumenta o espectro, entretanto ainda não cobre todos os patógenos que deveria. 2. CEFTRIAXONA + METRONIDAZOL ♦ Padrão (pode ser utilizado em qualquer caso). ♦ O primeiro cobre Gram-negativo e o segundo, anaeróbios. 3. CIPROFLOXACINO + METRONIDAZOL ♦ Reservado para casos especiais (falha da ceftriaxona ou hipersensibilidade a ela), pois o ciprofloxacino apresenta maior espectro que a ceftriaxona, entretanto possui mais efeitos adversos. ○ O padrão-ouro para o tratamento de colecistite aguda é a COLECISTECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA (CVL). ○ Ainda no preparo para a intervenção, deve ser iniciada a administração de antibióticos com espectro para Gram-negativos e, conforme os achados cirúrgicos e intercorrências, poderão ser suspensos ou mantidos e adequados aos resultados das culturas realizadas. ○ COLECISTECTOMIA LAPAROSCÓPICA PRECOCE (CLP): • É recomendada para pacientes que apresentam colecistite aguda leve. • O procedimento é realizado dentro de 72 horas (nesse intervalo entre o diagnósticoe as 72h, o paciente segue tomando os antibióticos). • Tem como objetivo reduzir o tempo de internação e subsequentes readmissões secundárias por colecistites ou colelitíase sintomática, menor perda sanguínea, menor taxa de complicações, cirurgia mais fácil, tratamento definitivo e etc. ○ COLECISTECTOMIA LAPAROSCPÓPICA TARDIA (CLT): • Nessa conduta, inicialmente, o paciente recebe antibioticoterapia endovenosa e é submetido a cirurgia cerca de 4 a 8 semanas após o agravo inicial. • Na CLT, cerca de 20% dos pacientes necessitaram de cirurgia de emergência pela persistência de sintomas, com maior risco de conversão para cirurgia aberta (laparotomia em 15 a 20%). OBS: Para a colecistite aguda moderada, a diretriz de Tóquio expõe que CLP ou CLT pode ser realizada, porém a intervenção deve ser conduzida somente por um cirurgião experiente e capaz de converter o procedimento para a cirurgia aberta diante condições operatórias que dificultem as identificações anatômicas. Guilherme Rios – Módulo II – p5 OBS: Em pacientes com colecistite aguda GRAVE, é recomendado o manejo inicial conservador com antibioticoterapia, com a realização de colecistostomia percutânea, conforme a evolução, ficando a cirurgia reservada para os pacientes que não respondem a esta terapia. • A colecistostomia percutânea consiste na colocação percutânea de dreno no interior da vesícula biliar, para aspiração de conteúdo purulento e estabilização do quadro clínico, visando melhores condições cirúrgicas subsequente. OBS: INDICAÇÕES PARA COLECISTECTOMIA PROFILÁTICA COLECISTITE AGUDA ACALCULOSA: → EPIDEMIOLOGIA: ○ Responsável por 2 a 15% dos casos de colecistite aguda não relacionada à litíase biliar. ○ Relacionada à mortalidade acima de 41%. ○ Apresenta elevada taxa de complicação (40 a 100%) • P. ex., perfuração da vesícula, vesícula gangrenosa e vesícula enfisematosa. → ETIOLOGIA: ○ É decorrente da estase biliar e isquemia da mucosa da vesícula biliar. ○ Sua fisiopatologia não é bem esclarecida. → FATORES DE RISCO: ○ Pacientes criticamente enfermos (p. ex. choque séptico, trauma grave, grandes queimados e cirurgias de grande porte não biliares). ○ A estase biliar pode ser precipitada por: • Jejum prolongado. • Hiperalimentação. ○ Pacientes jovens. ○ Portadores de AIDS, associada à infecção por citomegalovírus e/ou Criptosporidium. → QUADRO CLÍNICO: Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Pode se manifestar desde uma leve dor abdominal até quadro semelhante à colecistite calculosa. ○ Dor no QSD, náuseas, vômitos, anorexia e febre. → DIAGNÓSTICO: ○ USG com alguns achados semelhantes à colecistite calculosa (p. ex. Espessamento da parede da vesícula biliar, fluido pericolecístico e distensão da vesícula biliar), entretanto estão ausentes os cálculos e a lama biliar. → TRATAMENTO: ○ O tratamento de escolha é a colecistectomia, entretanto, a maioria dos pacientes críticos não é candidata à intervenção cirúrgica pela gravidade da doença de base. ○ Para pacientes idosos, com alto risco cirúrgico e/ou críticos, a colecistostomia percutânea é uma opção, permitindo a drenagem da bile e a redução da pressão no interior da vesícula, entretanto, apresenta maior chance de recidiva. COLECISTITE CRÔNICA: → EPIDEMIOLOGIA: ○ Condição pouco compreendida e de existência controversa. ○ Acomete, principalmente, pacientes do sexo feminino. → ETIOLOGIA: ○ Ocorre devido a episódios repetidos de distensão e inflamação da vesícula biliar, levando à gradual fibrose e disfunção da vesícula biliar. ○ A principal causa é a obstrução intermitente do ducto cístico por cálculos biliares. → FATORES DE RISCO: ○ Episódios frequentes de colecistite e/ou colelitíase sintomática. → QUADRO CLÍNICO: ○ Pode se manifestar como dor biliar ou com episódios intermitentes de dor ou desconforto epigástrico que podem ocorrer em ciclos por meses ou anos. ○ Pode ocorrer náuseas, vômitos e hiporexia. → DIAGNÓSTICO: ○ USG ABDOMINAL: É o principal exame de imagem para diagnóstico de colecistite crônica e evidencia a presença de cálculos biliares, entretanto, nem sempre há sinais de inflamação na vesícula biliar. → TRATAMENTO: ○ Está indicada a colecistectomia eletiva. Guilherme Rios – Módulo II – p5 4. ESTABELECER A DIFERENÇA ENTRE COLECISTITE, COLELITÍASE E COLANGITE QUANTO A FISIOPATOLOGIA E O QUADRO CLÍNICO: COLELITÍASE: → DEFINIÇÃO: ○ A colelitíase é uma doença hepatobiliar crônica recorrente que consiste na formação de cálculos biliares no ducto biliar hepático, ducto biliar comum ou na vesícula biliar. ○ Consiste na presença de cálculo biliar independentemente da localização. OBS: A litíase da vesícula biliar é a COLECISTOLITÍASE. • É a forma mais comum. • Causa sintomas apenas quando ocorre oclusão do ducto cístico (< 6h). • Normalmente, é a “fonte de cálculo” para todas as outras formas de litíases biliares. → FATORES DE RISCO: • Olhar tabela em colelitíase. → FISIOPATOLOGIA: ○ LITÍASE DE COLESTEROL: • >80% dos casos. • Cálculos compostos puramente de colesterol (cristais de colesterol) ou é o seu principal constituinte (>50%) associado a uma mistura de sais de cálcio, pigmentos da bile, proteína e ácidos graxos. • A composição básica da bile é de ácidos biliares (72%), fosfolipídeos (24%), principalmente lecitina, colesterol não esterificado (4%) e outros (bilirrubina conjugada, proteínas, eletrólitos, muco, raramente drogas e seus metabólitos). ♦ Quando a [ ] de colesterol excede a solubilidade, pode precipitar, formando os cálculos biliares. • A formação de cristais de colesterol requer a presença de um ou mais dos seguintes fatores: ♦ SUPERSATURAÇÃO DE COLESTEROL: ↑ [ ] colesterol e/ou ↑ [ ] sais biliares. Em indivíduos normais, não é o suficiente para gerar cálculos, necessitando de outros componentes, como alterações genéticas e/ou fatores ambientais, como obesidade, idade, efeito de drogas e etc. ♦ ACELERAÇÃO DA NUCLEAÇÃO: Consiste no aumento da velocidade de união de cristais de colesterol submicroscópicos em cristais maiores, capazes de formar os cálculos. Está associada à um ↑ [ ] de mucina da vesícula biliar. ♦ HIPOMOTIBILIDADE/ESTASE DA VESÍCULA BILIAR: Resulta em esvaziamento incompleto da vesícula (p. ex., durante jejuns prolongados). Essa estase favorece a aglomeração de cristais e formação de cálculos biliares. ○ LAMA BILIAR: Guilherme Rios – Módulo II – p5 • Consiste em fluido viscoso composto pela mistura de partículas e bile que ocorre quando os solutos se precipitam na bile. • Microscopicamente, é composto por cristais de colesterol, cristais de colesterol-lecitina e grânulos de bilirrubinato de cálcio, envolto por gel de mucina (aqui ocorre um desequilíbrio entre a sua produção e eliminação). Pode ainda conter complexos proteína-lipídeos e xenobióticos (como ceftriaxona). • Geralmente apresenta resolução espontânea, entretanto, pode evoluir para litíase biliar, colecistite, pancreatite, colangite, entre outros. ○ LITÍASE PIGMENTAR: • ≅ 20% dos casos. • Os cálculos pigmentares são subclassificados em tipo preto e marrom. • São formados por precipitação da bile devido ao ↑ [ ] de cálcio ionizado (p. ex. hiperparatireoidismo) ou pelo ↑ de ânions de bilirrubina desconjugada na bile. • Os cálculos de pigmentos pretos são compostos primariamente por bilirrubinato de cálcio puro (únicos que são radiopacos na radiografia), mas contém também carbonato e fosfato de cálcio (pacientes hemolíticos crônicos). • Os cálculos de pigmentos marrons são compostos por sais de cálcio de bilirrubina desconjugada com variáveis quantidades de colesterol e proteínas (infecção por bactérias anaeróbias na bile). → DIAGNÓSTICO: ○ Muitas vezes, os cálculos são descobertos incidentalmente durante uma USG ou TC de abdome. ○ Cerca de 10-20% dos assintomáticostornam-se sintomáticos em períodos de 5 a 20 anos após o diagnóstico. ○ A descoberta de litíase biliar nos estudos de imagem não significa a presença de doença (assunto polêmico!). → QUADRO CLÍNICO: ○ Normalmente, o primeiro sintoma referido pelo paciente é a dor biliar (dor abdominal contínua no hipocôndrio direito ou epigástrio, de início abrupto, de intensidade moderada a intensa, devido à obstrução e, consequentemente, distensão transitória do ducto cístico ou colédoco por um cálculo). ○ A dor atinge seu pico em 1 hora e se resolve gradativamente após uma a cinco horas, quando o cálculo se desloca. ○ Comumente, apresenta náuseas e vômitos. ○ A dor pode ser precipitada pela ingestão de alimentos gordurosos. OBS: Se a dor se prolongar (>5/6h), deve-se suspeitar de complicações, como COLECISTITE AGUDA, pancreatite biliar aguda ou obstrução biliar (por algum outro fator). ○ O exame físico encontra-se geralmente normal, podendo apresentar leve dor ou sensibilidade no abdome superior. Guilherme Rios – Módulo II – p5 COLANGITE: → DEFINIÇÃO: ○ Consiste na infecção do trato biliar. ○ A colangite aguda é uma GRAVE complicação decorrente da estase da bile e de infecção bacteriana da via biliar que deve ser tratada rapidamente, com risco de evolução para sepse e óbito. → ETIOLOGIA: ○ OBSTRUÇÃO BILIAR: • Cálculos (coledocolitíase) → Principal etiologia. • Tumores. • Outras causas menos comuns incluem: Estenose cicatricial pós-cirúrgica ou parasitose da via biliar. • A estase leva à colonização bacteriana e posterior infecção. → FISIOPATOLOGIA: ○ COLECISTOLITÍASE → Migração do cálculo para o colédoco → Obstrução do ducto colédoco. ○ O efeito obstrutivo, ainda que o paciente esteja assintomático, leva à COLESTASE. ○ A estase biliar leva à colonização por bactérias entéricas. ○ Essa infecção do trato biliar resulta na COLANGITE. → QUADRO CLÍNICO: ○ Síndrome colestática: • Icterícia (por bilirrubina direta) vista, principalmente na esclerótica, unhas e pele do paciente. • Acolia fecal (fezes brancas, prateadas, devido à ausência de estercobilina). • Colúria (devido ao aumento de bilirrubina conjugada na urina). ○ Dor abdominal • Hipocôndrio direito, principalmente, mas pode referir, também no epigástrio. ○ Sintomas inflamatórios/ infecciosos: • Febre. • Taquicardia. • Taquipneia. • Pode apresentar, em casos mais graves, sepse. OBS: Febre + Icterícia + Dor abdominal → TRÍADE DE CHARCOT. Guilherme Rios – Módulo II – p5 OBS: TRÍADE DE CHARCOT + Alteração do nível de consciência + hipotensão → PÊNTADE DE REYNOLDS (indicativo de sepse). → DIAGNÓSTICO: ○ A clínica do paciente pode ser sugestiva. ○ EXAMES LABORATORIAIS: • Hemograma: Leucocitose. • Bioquímica hepatobiliopancreática: Elevação da FA, gGT, TGO, TGP e Bilirrubina (às custas da conjugada). ○ EXAMES DE IMAGEM: • USG: ♦ Pode-se evidenciar a colecistolitíase. ♦ A USG não é muito eficaz para visualizar colédoco devido à interposição gasosa. ♦ Pode-se, em alguns casos, observar a dilatação do colédoco (>6mm). OBS: Na colangite, não se deve perder tempo tentando firmar o diagnóstico de coledocolitíase com precisão. Se a clínica é favorável, os exames laboratoriais evidenciam alterações colestáticas e inflamatórias e até mesmo é possível visualizar cálculos na vesícula → DIAGNÓSTICO DE COLANGITE! → TRATAMENTO: ○ Compensação clínica → Hidratação, controle sintomático (analgésico, antiemético e etc) e estabilização clínica (p.ex., uso de droga vasoativa, IOT, UTI e etc). ○ ANTIBIÓTICOTERAPIA: • Normalmente, as infecções acontecem por bactérias Gram-negativo e anaeróbias. • Esquemas: 1. AMPICILINA + SULBACTAM ♦ Para casos mais leves. 2. CEFTRIAXONA + METRONIDAZOL ♦ Padrão (pode ser utilizado em qualquer caso). ♦ O primeiro cobre Gram-negativo e o segundo, anaeróbios. 3. CIPROFLOXACINO + METRONIDAZOL ♦ Reservado para casos especiais, pois o ciprofloxacino apresenta maior espectro que a ceftriaxona, entretanto possui mais efeitos adversos. ○ COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGRADA ENDOSCÓPICA (CPRE): • Nesse momento, essa técnica é utilizada para fazer uma descompressão biliar, removendo o cálculo impactado que está proporcionando o ambiente para a colonização bacteriana. Guilherme Rios – Módulo II – p5 OBS: Outras patologias que podem surgir da colelitíase são: → SÍNDROME DE MIRIZZI: Cálculo grande da vesícula que compromete a via biliar comum, podendo desde obstruir o ducto hepático comum, até originar uma fístula entre eles. → COLEDOCOLITÍASE: Cálculo biliar obstruindo o ducto colédoco. → HEPATOLITÍASE: Impactação de cálculos biliares dentro nos ductos biliares intra-hepáticos, apresentando a mesma sintomatologia da colestase da coledocolitíase. → ÍLIO BILIAR: Ocorre quando o cálculo biliar ulcera a vesícula, faz uma fístula colecistoduodenal, percorre o trajeto do intestino delgado e obstrui a válvula ileocecal, gerando um abdome agudo obstrutivo. 5. ELUCIDAR A FISIOPATOLOGIA E AS PRINCIPAIS CAUSAS DE ICTERÍCIA (DIFERENCIAR HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA E INDIRETA): DEFINIÇÃO: → A icterícia é um sinal propedêutico, caracterizado pela coloração amarelada da pele, escleróticas e membranas mucosas devido à deposição, nesses locais, de pigmento biliar (bilirrubina), o qual se encontra em níveis elevados no plasma (hiperbilirrubinemia). → A icterícia é clinicamente detectada quando a concentração sérica de bilirrubina ultrapassa 2- 3mg/100ml (valor normal: 0,3-1 mg/100ml). OBS: Quando a bilirrubinemia está em queda, a icterícia ainda pode ser observada em pacientes com valores de bilirrubinemia em torno de 1,5mg/100ml. Isso decorre do fato de que, para ser clinicamente evidente, a bilirrubina deve ligar-se a escleroproteínas da pele e das mucosas, processo que dura em torno de 1 a 2 dias. Entretanto, a eliminação do pigmento fixado nos tecidos é mais lenta e gradual. → Pode ser manifestações de numerosas patologias hepáticas e não-hepáticas. → A hiperbilirrubinemia pode decorrer de defeitos em qualquer uma das etapas do metabolismo da bilirrubina e é classicamente dividida em conjugada/direta e não conjugada/indireta, de acordo com a fração de bilirrubina predominante. DIAGNÓSTICO: → Necessita de uma história clínica detalhada, exame físico (p. ex., observação da presença da cor amarelada) e exames laboratoriais. → O exame de imagem é também é indispensável, principalmente quando houver suspeita de icterícia obstrutiva. → Identificar qual é o possível mecanismo responsável pela icterícia é essencial para estabelecer a conduta terapêutica. FORMAÇÃO DA BILIRRUBINA: → A bilirrubina é o produto final da quebra do heme. OBS: A ½ vida de uma hemácia é de, aproximadamente, 120 dias (hemocaterese). → CAPTAÇÃO: Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Cerca de 80% da bilirrubina é proveniente da degradação da hemoglobina no sistema reticuloendotelial (Sistema mononuclear fagocitário). • Sistema orgânico constituído por células que, situadas em diferentes locais do organismo, têm características reticulares e endoteliais e são dotadas de capacidade fagocitária, intervindo, desse modo, na formação de células sanguíneas, no metabolismo do ferro, além de desempenharem funções de defesa contra infecções generalizadas. ○ Os demais 20% são oriundos da eritropoiese ineficaz na medula óssea e da degradação de outras proteínas heme, como isoenzimas do citocromo P450 e mioglobina. ○ A degradação do heme gera a BILIVERDINA, que por sua vez é rapidamente convertida em BILIRRUBINA (indireta) pela biliverdina-redutase. ○ Esse processo produz cerca de 250 a 400 mg de bilirrubina em adultos saudáveis. ○ A bilirrubina indireta, produzida nessa fase é liberada no plasma e, por ser insolúvel em água, necessita ligar-se à ALBUMINA para ser transportada.○ Essa bilirrubina não conjugada segue na corrente sanguínea até chegar nos sinusoides hepáticos, onde se dissocia da albumina no espaço de Disse. ○ O mecanismo de captação hepática da bilirrubina ainda não foi completamente desvendado, entretanto parece haver difusão passiva transmembrana, combinada ao transporte ativo mediado por vários transportadores sinusoidais. → CONJUGAÇÃO: ○ No citoplasma dos hepatócitos, a bilirrubina não conjugada liga-se a proteínas citosólicas de armazenamento, denominadas LIGANDINA e PROTEÍNA Z, e em seguida é transportada para o retículo endoplasmático (RE). • Essas proteínas são úteis para não haver escape de bilirrubina novamente para o sangue. ○ No RE, ocorre a conjugação da bilirrubina com os resíduos de ÁCIDO GLUCURÔNICO. ○ Essa conjugação é catalisada pela enzima uridina difosfato-glucoronosil-transferase (UGT) e origina os monoglucuronídeos e diglucuronídeos de bilirrubina, também chamados BILIRRUBINA DIRETA ou BILIRRUBINA CONJUGADA. OBS: O diglucuronídeo de bilirrubina é o pigmento predominante na bile do adulto normal. ○ Depois de conjugada, a bilirrubina torna-se solúvel em água e pode ser eliminada na bile. → EXCREÇÃO: ○ Ocorre por meio de transporte ativo através de um transportador presentes na membrana apical (canalicular) dos hepatócitos, principalmente o multidrug resistance proteins 2 (MRP2) e ATP-binding cassette (ABCC2). OBS: Ainda fisiologicamente, uma fração substancial da bilirrubina conjugada intracelular é reencaminhada para o sangue sinusoidal pelo transportador multidrug resistance proteins 3 (MRP3), localizado na membrana basolateral (sinusoidal) do hepatócito. Em seguida, a bilirrubina no espaço sinusoidal é recaptada por hepatócitos a jusante, por meio de dois transportadores na membrana sinusoidal: organic anion-transporting polypeptide (OATP1B1 e o OATP1B3). ○ Parte da bilirrubina conjugada presente no sangue sinusoidal é excretada na bile e outra fração pode ser eliminada na urina. https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula https://pt.wikipedia.org/wiki/Organismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Endot%C3%A9lio https://pt.wikipedia.org/wiki/Fagocitose https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9lula https://pt.wikipedia.org/wiki/Sangue https://pt.wikipedia.org/wiki/Metabolismo https://pt.wikipedia.org/wiki/Ferro https://pt.wikipedia.org/wiki/Infec%C3%A7%C3%A3o Guilherme Rios – Módulo II – p5 DEGRADAÇÃO DA BILIRRUBINA NO TRATO DIGESTIVO: → Mais de 98% da bilirrubina conjugada aparece na bile e não é reabsorvida pelo intestino delgado. → A bilirrubina não conjugada, por sua vez, é reabsorvida e participa da circulação entero-hepática. → No cólon, as bactérias reduzem a molécula de bilirrubina, formando o UROBILINOGÊNIO, responsável pela pigmentação das fezes. OBS: Nas situações em que há obstrução completa do trato biliar ou colestase intra-hepática grave, as fezes adquirem coloração esbranquiçada, a chamada acolia fecal. → O urobilinogênio e seus derivados são parcialmente absorvidos no intestino, também participando da circulação entero-hepática, e, eventualmente, podem ser excretados na urina, sob a forma de UROBILINA. → O urobilinogênio, quando permanece no cólon, é metabolizado em ESTERCOBILINOGÊNIO, e este é oxidado em ESTERCOBILINA, liberada nas fezes. ETIOLOGIAS DA HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA: → AUMENTO DA DESTRUIÇÃO DOS ERITRÓCITOS: ○ Primeiro passo a se fazer quando observar que a bilirrubina INdireta está elevada → Hemograma e provas de função hepática. ○ Observar o nível de hemoglobina: • BAIXO → Provável doença hemolítica. • NORMAL → Pode-se descartar uma causa hemolítica. ○ O nível de reticulócitos (desvio à esquerda) e desidrogenase lática (DHL) também ajudam a determinar processo hemolítico. Guilherme Rios – Módulo II – p5 ○ Se estiver ocorrendo uma hemólise, deve-se definir se ela é extra ou intravascular através da HAPTOGLOBINA (proteína que normalmente se liga aos produtos da lise dos eritrócitos). • BAIXA → Provável hemólise intravascular. • NORMAL → Provável hemólise extravascular. ○ A hiperbilirrubinemia indireta pode ocorrer, também, por alterações constitutivas do eritrócito (doenças genéticas), absorção de um hematoma ou após a transfusão sanguínea. • Nessas condições ocorre uma rápida elevação de bilirrubina indireta que sobrecarrega a capacidade de conjugação hepática, produzindo icterícia transitória. ○ Algumas outras condições que cursam com eritropoiese ineficaz são: Talassemias, deficiências de cobalamina, folato e ferro, entre outras. → PREJUÍZO DA CAPTAÇÃO DE BILIRRUBINA: ○ Entre outras coisas, pode estar prejudicada nos casos de: • Insuficiência cardíaca congestiva (ICC), sepse e administração de contraste ou certas drogas. → DEFEITOS NO METABOLISMO DA BILIRRUBINA COM PREJUÍZO NA CONJUGAÇÃO: ○ A suspeita recai sobre algum problema em sua conjugação quando as enzimas hepáticas (ALT, AST, FA, gGT) encontram-se normais. ○ Entre as principais causas encontram-se: • Síndrome de Crigler-Najjar I (CN-I) → Ausência da atividade da enzima UGT (níveis séricos de bilirrubina >20 mg/100ml [fatal]) • Síndrome de Crigler-Najjar II (CN-II) → Moderada diminuição da atividade da enzima UGT (níveis séricos de bilirrubina >6mg/100ml) • Síndrome de Gilbert → Leve diminuição da atividade da enzima UGT (níveis séricos de bilirrubina <6mg/100ml [mais frequente]). OBS: Todas essas síndromes são decorrentes de mutações no gene UGT1A1, responsável por codificar a enzima uridina difosfato gluconil transferase (UGT), responsável pela conjugação hepática da bilirrubina. Guilherme Rios – Módulo II – p5 OBS: Outra causa importante de hiperbilirrubinemia indireta são doenças ou injúrias hepáticas que possam comprometer a conjugação. ETIOLOGIAS DA HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA: → Resulta da deficiência no transporte da bilirrubina conjugada para fora do hepatócito e/ou prejuízo na saída da bile do sistema biliar. → Alguns sinais clínicos indicam ↑ da bilirrubina direta, como a presença de prurido e colúria pela bilirrubina direta (solúvel em água) na urina. Nesses casos, também é comum encontrar ↑ de FA e GGT séricas (devido, entre outras coisas, ao fato de poder ser resultado de uma obstrução do colédoco). • Porém, quando há ↑ da bilirrubina direta com FA normal, deve-se suspeitar de defeitos no transporte da bilirrubina conjugada para fora do hepatócito, como ocorre nas síndromes de Dubin- Johnson e de Rotor. → CAUSAS INTRA-HEPÁTICAS: ○ A excreção da bilirrubina conjugada está prejudicada em uma série de condições adquiridas, como na sepse, nas hepatites virais ou alcoólicas, na colestase da gestação e associada a uma variedade de drogas. → CAUSAS EXTRA-HEPÁTICAS DE AUMENTO DA BILIRRUBINA DIRETA: ○ Pode ser resultado de obstrução mecânica das vias biliares extra-hepáticas, por: • Cálculo, estenoses e tumores (cânceres das vias biliares, câncer da cabeça do pâncreas, câncer de papila ou do duodeno e linfomas).
Compartilhar