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Carolina Lucchesi | Medicina Unit 1 Tutoria 04 Gastro Anatomia do Fígado O fígado é a maior glândula do corpo e, depois da pele, o maior órgão. Pesa cerca de 1500g e representa aproximadamente 2,5% do peso corporal do adulto Além de suas muitas atividades metabólicas, o fígado armazena glicogênio e secreta bile, um líquido amarelo-acastanhado ou verde que ajuda na emulsificação das gorduras. A bile sai do fígado pelos ductos biliares — ductos hepáticos direito e esquerdo — que se unem para formar o ducto hepático comum, que se une ao ducto cístico para formar o ducto colédoco. A produção hepática de bile é contínua; no entanto, entre as refeições ela se acumula e é armazenada na vesícula biliar, que também concentra a bile por meio da absorção de água e sais. Quando o alimento chega ao duodeno, a vesícula biliar envia a bile concentrada pelas vias biliares até o duodeno. O fígado está situado principalmente no quadrante superior direito do abdome, onde é protegido pela caixa torácica e pelo diafragma. O fígado ocupa a maior parte do hipocôndrio direito e do epigástrio superior e estende-se até o hipocôndrio esquerdo. A face diafragmática do fígado é lisa e tem forma de cúpula, onde se relaciona com a concavidade da face inferior do diafragma, que a separa das pleuras, pulmões, pericárdio e coração. A face diafragmática do fígado é coberta por peritônio visceral, exceto posteriormente na área nua do fígado, onde está em contato direto com o diafragma. A face visceral do fígado também é coberta por peritônio, exceto na fossa da vesícula biliar e na porta do fígado — uma fissura transversal por onde entram e saem os vasos (veia porta, artéria hepática e vasos linfáticos), o plexo nervoso hepático e os ductos hepáticos que suprem e drenam o fígado. Ao contrário da face diafragmática lisa, a face visceral tem muitas fissuras e impressões resultantes do contato com outros órgãos. **O ligamento redondo do fígado é o remanescente fibroso da veia umbilical, que levava o sangue oxigenado e rico em nutrientes da placenta para o feto **O ligamento venoso é o remanescente fibroso do ducto venoso fetal, que desviava sangue da veia umbilical para a VCI, passando ao largo do fígado. **Tríade portal (ducto colédoco, artéria hepática e veia porta) Lobos Anatômicos do Fígado Externamente, o fígado é dividido em dois lobos anatômicos e dois lobos acessórios O plano essencialmente mediano definido pela fixação do ligamento falciforme e a fissura sagital esquerda separa um lobo hepático direito grande de um lobo hepático esquerdo muito menor Na face visceral inclinada, as fissuras sagitais direita e esquerda passam de cada lado dos — e a porta do fígado transversal separa — dois lobos acessórios (partes do lobo hepático direito anatômico): o lobo quadrado anterior e inferiormente, e o lobo caudado posterior e superiormente. O lobo caudado foi assim denominado não em vista de sua posição caudal (não é), mas porque muitas vezes dá origem a uma ―cauda‖ na forma de um processo papilar alongado Carolina Lucchesi | Medicina Unit 2 Tutoria 04 Gastro Subdivisão Funcional do Fígado Existe uma divisão em partes independentes do ponto de vista funcional, a parte direita e a parte esquerda do fígado (partes ou lobos portais) Cada parte recebe seu próprio ramo primário da artéria hepática e veia porta, e é drenada por seu próprio ducto hepático. Na verdade, o lobo caudado pode ser considerado um terceiro fígado; sua vascularização é independente da bifurcação da tríade portal (recebe vasos de ambos os feixes) e é drenado por uma ou duas pequenas veias hepáticas, que entram diretamente na VCI distalmente às veias hepáticas principais. O fígado pode ser ainda subdividido em quatro divisões e depois em oito segmentos hepáticos cirurgicamente ressecáveis, sendo cada um deles servido independentemente por um ramo secundário ou terciário da tríade portal, respectivamente Vasos Sanguíneos do Fígado O fígado, como os pulmões, tem irrigação dupla (vasos aferentes): uma venosa dominante e uma arterial menor A veia porta traz 75 a 80% do sangue para o fígado. O sangue porta, que contém aproximadamente 40% mais oxigênio do que o sangue que retorna ao coração pelo circuito sistêmico, sustenta o parênquima hepático (células hepáticas ou hepatócitos) A veia porta conduz praticamente todos os nutrientes absorvidos pelo sistema digestório para os sinusoides hepáticos. A exceção são os lipídios, que são absorvidos pelo sistema linfático e passam ao largo do fígado A artéria hepática, um ramo do tronco celíaco, pode ser dividida em artéria hepática comum, do tronco celíaco até a origem da artéria gastroduodenal, e artéria hepática própria, da origem da artéria gastroduodenal até a bifurcação da artéria hepática Na porta do fígado, ou perto dela, a artéria hepática e a veia porta terminam dividindo-se em ramos direito e esquerdo; esses ramos primários suprem as partes direita e esquerda do fígado, respectivamente Drenagem Linfática e Inervação do Fígado Os vasos linfáticos do fígado ocorrem como linfáticos superficiais na cápsula fibrosa do fígado subperitoneal (cápsula de Glisson), que forma sua face externa, e como linfáticos profundos no tecido conjuntivo, que acompanham as ramificações da tríade portal e veias hepática. A maior parte da linfa é formada nos espaços perissinusoidais (de Disse) e drena para os linfáticos profundos nas tríades portais intralobulares adjacentes Os vasos linfáticos superficiais das partes anteriores das faces diafragmática e visceral do fígado e os vasos linfáticos profundos que acompanham as tríades portais convergem em direção à porta do fígado. Os vasos linfáticos superficiais drenam → linfonodos hepáticos → Linfonodos celíacos → Cisterna do quilo Os vasos linfáticos superficiais das partes posteriores das faces diafragmática e visceral → área nua → linfonodos frênico → linfonodos mediastinais posteriores **Os nervos do fígado são derivados do plexo hepático Anatomia das Vias Biliares Os ductos biliares conduzem bile do fígado para o duodeno. A bile é produzida continuamente pelo fígado, armazenada e concentrada na vesícula biliar, que a libera de modo intermitente quando a gordura entra no duodeno. A bile emulsifica a gordura para que possa ser absorvida na parte distal do intestino. Carolina Lucchesi | Medicina Unit 3 Tutoria 04 Gastro Os hepatócitos secretam bile para os canalículos biliares formados entre eles. Os canalículos drenam para os pequenos ductos biliares interlobulares e depois para os grandes ductos biliares coletores da tríade portal intra-hepática, que se fundem para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo Os ductos hepáticos direito e esquerdo drenam as partes direita e esquerda do fígado, respectivamente. Logo depois de deixar a porta do fígado, esses ductos hepáticos unem- se para formar o ducto hepático comum, que recebe no lado direito o ducto cístico para formar o ducto colédoco (parte da tríade portal extra-hepática do omento menor), que conduz a bile para o duodeno. O ducto cístico (3 a 4 cm de comprimento) une o colo da vesícula biliar ao ducto hepático comum Vasos sanguíneos A irrigação arterial da vesícula biliar e do ducto cístico provém principalmente da artéria cística. A artéria cística normalmente origina-se da artéria hepática direita no triângulo entre o ducto hepático comum, o ducto cístico e a face visceral do fígado, o trígono cisto-hepático (triângulo de Calot) A drenagem venosa do colo da vesícula biliar e do ducto cístico flui pelas veias císticas Fisiologia do Fígado e Vias Biliares Uma das muitas funções do fígado é a de secretar bile, normalmente entre 600 e 1.000 mL/dia.A bile serve a duas funções importantes: Primeira, a bile tem papel importante na digestão e na absorção de gorduras, não porque exista nela alguma enzima que provoque a digestão de gorduras, mas porque os ácidos biliares contidos na bile: (1) ajudam a emulsificar as grandes partículas de gordura, nos alimentos, a muitas partículas diminutas, cujas superfícies são atacadas pelas lipases secretadas no suco pancreático e (2) ajudam a absorção dos produtos finais da digestão das gordura através da membrana mucosa intestinal. Segunda, a bile serve como meio de excreção de diversos produtos do sangue, incluindo, especialmente, a bilirrubina, produto final da destruição da hemoglobina e o colesterol em excesso. Anatomia fisiológica da Secreção biliar A bile é secretada pelo fígado em duas etapas: A solução inicial é secretada pelos hepatócitos e contém grande quantidade de ácidos biliares, colesterol e outros constituintes orgânicos. É secretada para os canalículos biliares, que se originam entre as células hepáticas. Em seguida, a bile flui pelos canalículos biliares, em direção aos septos interlobulares, para desembocar nos ductos biliares terminais, fluindo, então, para o ducto hepático e ducto biliar comum. Por eles, a bile flui diretamente para o duodeno ou é armazenada por minutos ou horas na vesícula biliar,onde chega pelo dueto cístico Nesse percurso pelos duetos biliares, segunda porção da secreção hepática é acrescentada à bile inicial. Essa secreção adicional é solução aquosa de íons sódio e bicarbonato, secretada pelas células epiteliais que revestem os canalículos e duetos. Essa segunda secreção, às vezes, aumenta a quantidade total de bile por 100% ou mais. A segunda secreção é estimulada, especialmente, pela secretina, que leva à secreção de íons bicarbonato para suplementar a secreção pancreática (para neutralizar o ácido que chega ao duodeno, vindo do estômago) Armazenamento e Concentração da Bile na Vesícula Biliar A bile é secretada continuamente pelas células hepáticas, mas sua maior parte é, nas condições normais, armazenada na vesícula biliar, até ser secretada para o duodeno. O volume máximo que a vesícula biliar consegue armazenar é de apenas 30 a 60 mililitros. Grande parte da absorção na vesícula biliar é causada pelo transporte ativo de sódio através do epitélio da vesícula biliar, seguido pela absorção secundária de íons cloreto, água e muitos outros constituintes difusíveis Composição da bile As substâncias mais abundantes, secretadas na bile, são os sais biliares Carolina Lucchesi | Medicina Unit 4 Tutoria 04 Gastro Também secretados ou excretados, em grandes concentrações, são a bilirrubina,o colesterol,a lecitina e os eletrólitos usuais do plasma. No processo de concentração na vesícula biliar, a água e grandes frações dos eletrólitos (exceto íons cálcio) são reabsorvidas pela mucosa da vesícula biliar; essencialmente, todos os outros constituintes, não são reabsorvidos e, portanto, ficam concentrados na bile da vesícula biliar. Esvaziamento da Vesícula Biliar — O Papel Estimulador da Colecistocinina Quando o alimento começa a ser digerido no trato gastrointestinal superior, a vesícula biliar começa a se esvaziar, especialmente quando alimentos gordurosos chegam ao duodeno, cerca de 30 minutos depois da ingestão da refeição. O esvaziamento da vesícula biliar se dá por contrações rítmicas da parede da vesícula biliar, com o relaxamento simultâneo do esfíncter de Oddi,que controla a entrada do dueto biliar comum no duodeno. Sem dúvida, o estímulo mais potente para as contrações da vesícula biliar é o hormônio CCK. O estímulo principal para a liberação de CCK no sangue, pela mucosa duodenal, é a presença de alimentos gordurosos no duodeno. Função dos Sais Biliares na digestão e Absorção de gordura O precursor dos sais biliares é o colesterol,presente na dieta ou sintetizado nas células hepáticas, durante o curso do metabolismo de gorduras O colesterol é, primeiro, convertido em ácido cólico ou ácido quenodesoxicólico. Esses ácidos, por sua vez, se combinam, em sua maior parte, com glicina e, em menor escala, com taurina, para formar ácidos biliares glico e tauroconjugados. Os sais desses ácidos, especialmente os sais de sódio, são, então, secretados para a bile. Duas ações principais no TGI: Ação detergente sobre as partículas de gordura Essa ação diminui a tensão superficial das gotas de gordura e permite que a agitação no trato intestinal as quebre em partículas diminutas, o que é denominado função emulsificante ou detergente dos sais biliares. Os sais biliares ajudam na absorção de ácidos graxos, monoglicerídeos, colesterol e outros lipídios pelo TGI Os sais biliares fazem isso ao formar complexos físicos bem pequenos com esses lipídios; os complexos são denominados micelas e são semissolúveis no quimo. Os lipídios intestinais são ―carregados‖ nessa forma para a mucosa intestinal, de onde são, então, absorvidos pelo sangue Papel da Secretina no controle da secreção de bile A secretina, que também estimula a secreção pancreática, aumenta a produção de bile, as vezes mais do que duplicando, por horas depois da refeição Esse aumento é quase inteiramente por secreção de solução aquosa rica em bicarbonato de sódio, pelas células epiteliais dos ductos, sem aumento da secreção pelas próprias células do parênquima hepático Icterícia cterícia significa colora ão amarelada de pele e mucosas, consequente ao ac mulo de ilirru ina no soro e tecidos. Representa sinal clínico de e trema import ncia no diagn stico e estadiamento das doen as hepato iliares, podendo ocorrer tam ém como consequ ncia de doen as e trínsecas a essas estruturas anifesta-se clinicamente quando os níveis séricos de Carolina Lucchesi | Medicina Unit 5 Tutoria 04 Gastro bilirrubina excedem 2,5 mg/dl, no adulto, e 8 a 9 mg/ dl, no neonato (Gastroenterologia essencial) Metabolismo da Bilirrubina A icterícia resulta de distúrbios em uma ou mais etapas do metabolismo da bilirrubina, com elevação das concentrações de bilirrubina direta e/ou indireta. Bilirrubina são catabolitos potencialmente tóxico cuja metabolização depense de um mecanismo fisiológico complexo. As bilirrubinas participam da regulação do metabolismo do colesterol, dos níveis de adipocinas e da expressão do PPAR gama. Existem três etapas principais do metabolismo das bilirrubinas: pré-hepática, intra-hepática e pós-hepática Fase pré-hepática A bilirrubina provém do heme liberado com a degradação da hemoglobina, proteína que atua no transporte e no metabolismo do oxigênio das hemácias. A produção diária de bilirrubina no adulto é de aproximadamente 4 mg/kg de massa corpórea, 70 a 90% provenientes da reciclagem de hemácias senescentes degradadas em baço e fígado. O restante provém de outras fontes, como mioglobina, citocromo P-450, catalase e peroxidase. Na periferia, o heme é convertido em biliverdina pela enzima heme-oxigenase; posteriormente, transforma-se em bilirrubina sob atuação da biliverdina-redutase. Nessa etapa, a bilirrubina está na forma não conjugada, também denominada forma indireta. Cerca de 96% da bilirrubina plasmática está na forma indireta, que, não sendo hidrossolúvel, liga-se à albumina para chegar ao fígado. Fase intra-Hepática No fígado, a bilirrubina indireta é captada por um processo de transporte facilitado e também por difusão. No interior do hepatócito, permanece ligada às proteínas da família da glutationa-S-transferase. Sofre, então, o processo de conjugação com ácido glicurônico pela ação da enzima UGT1A1, que é uma UDP- glicuronosil-transferase, e converte-se em mono e diglicuronato de bilirrubina, também denominadas bilirrubina direta. A conjugação tornahidrossolúvel e, portanto, incapaz de se difundir através de membranas celulares. A atividade enzimática total da UGT1A1 deve ser reduzida a menos de 50% do normal para chegar a produzir hiperbilirrubinemia não conjugada. A excreção biliar depende de uma ATPase transportadora de bilirrubina, conjugada através da membrana do polo biliar do hepatócito, denominada MRP2 (proteína associada à resistência a múltiplas drogas 2) ou cMOAT (transportador canalicular multiespecífico de ânions orgânicos). Fase Pós-Hepatica Na bile, a fração direta representa 95% das bilirrubinas, 90% constituída por diglicuronato. A bilirrubina é conduzida pelos ductos biliar e cístico, atingindo a vesícula, onde pode permanecer armazenada. Pode, também, prosseguir através da ampola de Vater e atingir a luz do duodeno. Nos intestinos, parte da bilirrubina é excretada com o bolo fecal; o restante é metabolizado pela flora intestinal em urobilinogênios e é reabsorvido. A maior parte dos urobilinogênios do sangue é filtrada pelos rins e excretada na urina. Apenas uma pequena fração dos urobilinogênios é reabsorvida nos intestinos e novamente excretada para a bile. Carolina Lucchesi | Medicina Unit 6 Tutoria 04 Gastro Hiperbilirrubinemia não conjugada (indireta) Aumento da produção do heme Hiperbilirrubinemia indireta resulta de um desbalanço entre a massa de bilirrubina produzida a partir do heme e seu ritmo de conjugação em nível hepático. Em situações de estresse, a eritropoiese (e, por conseguinte, a produção de bilirrubina indireta) pode aumentar em até 10 vezes, mas a excreção de bilirrubina encontra limitações na capacidade hepática de conjugação. A icterícia é considerada pré-hepática quando o distúrbio antecede a entrada da bilirrubina indireta no hepatócito, como nos pacientes com aumento da produção do heme, hemólise, reabsorção de grandes hematomas ou transfusões sanguíneas rápidas. Resumindo: Hemólise (esferocitose, anemia falciforme) Eritropoiese ineficaz Diminuição da captação de bilirrubina pelo hepatocito O fígado pode ter sua capacidade de captar bilirrubina inibida pelo efeito competitivo de medicamentos como rifampicina, ácido flavaspídico, novobiocina e contrastes colecistográficos. Esse efeito desaparece em até 48 horas após a interrupção da medicação Resumindo: Drogas (rifampicina, ácido flavaspídico) Jejum Sépsis Diminuição da capacidade de conjugação da bilirrubina Síndrome de Gilbert Atividade diminuída da enzima glicuronosil transferase Os portadores da síndrome de Gilbert preservam de 10 a 33% de atividade da enzima Caracteristicamente, os níveis de hiperbilirrubinemia são reduzidos, não ultrapassam 3 a 4 mg/dL, mas se elevam em situações de estresse como jejum prolongado, infecções intercorrentes e uso de drogas de metabolização hepática. Não há alteração das demais provas hepáticas, e a administração de fenobarbital pode normalizar os níveis de bilirrubina. Embora seja condição benigna, que não requer tratamento, os clínicos devem ser prudentes na prescrição de medicações cuja metabolização depende de glicuronidação. Síndrome de Crigler-Najjar tipo I Ausência da atividade da enzima A icterícia à custa de hiperbilirrubinemia indireta já surge no período neonatal situa-se em níveis entre 18 e 45 mg/dL e não é responsiva ao fenobarbital. Síndrome de Crigler-Najjar tipo II Moderada diminuição da atividade da enzima A icterícia é mais branda, com bilirrubinemias entre 6 e 25 mg/dL, que se reduzem em até 75% com a administração de fenobarbital Hiperbilirrubinemia conjugada (direta) Diminuição da capacidade de excreção da bile conjugada Síndrome de Dubin-Johnson Decorre de mutações no gene MPR2/cMOAT que codifica o transportador canalicular de ânions orgânicos dependente de ATP. Os portadores dessa síndrome podem eventualmente apresentar hepatoesplenomegalia. O fígado apresenta-se enegrecido, e a pigmentação centrolobular é escura e espessa, mas a biópsia hepática não é essencial para o diagnóstico. Síndrome de Rotor Também se caracteriza por hiperbilirrubinemia predominantemente conjugada ou mista. O defeito molecular da síndrome de Rotor continua desconhecido; acredita-se que esteja situado em nível pré-canalicular, porque é o processo de secreção ou armazenamento hepático da bilirrubina conjugada que está prejudicado. Doenças Hepatocelulares As hepatopatias por vírus, álcool, medicamentos e autoimunidade podem causar icterícia. A inflamação lobular lesa o sistema de transporte das bilirrubinas Carolina Lucchesi | Medicina Unit 7 Tutoria 04 Gastro conjugadas, bem como libera as bilirrubinas armazenadas no interior do hepatócito. Obstrução biliar extra-hepática Obstrução mecânica das vias biliares extra-hepaticas, por calculo, estenoses e tumores Litíase Biliar O termo ―calculose‖ ou ―litíase iliar‖ pode ser definido no seu conceito mais amplo como a presença de concreções, sejam elas cálculos (> 3 mm) ou barro biliares (< 3 mm) na vesícula, nos ductos biliares ou em ambos. **Tipos de cálculos biliares Cálculos de colesterol Cálculos negros: formados de colesterol + bilirrubina não conjugada + mucina Cálculos marrons: formados de bilirrubinato de cálcio + sais de cálcio + colesterol e ácidos graxos Fatores de risco Não evitáveis: Idade, sexo feminino, fatores genéticos, etnia Evitáveis: Obesidade, perda rápida de peso (normal ou cirúrgica), gravidez e multiparidade, hipertrigliceridemia, nutrição parenteral, uso de hormônios femininos, diabetes, hiperinsulinemia, síndrome metabólica, uso de cefalosporinas de terceira geração, octreotide e drogas antilipêmicas, fumo e sedentarismo. Fisiopatologia Litogênese Os sais biliares organizam- se em micelas simples e o colesterol agrega- se aos fosfolípides formando vesículas unilamelares, semiestáveis; sob essa forma o colesterol é transportado para a vesícula e, durante o processo de passagem pelo trato biliar, vários agregados lipídicos são convertidos em micelas mistas que promovem a solubilização do colesterol. Se o teor de colesterol na bile exceder a capacidade de solubilização pelas micelas mistas, ocorre a formação de bile supersaturada ou litogênica, com vesículas multilamelares menos estáveis e ricas em colesterol, que podem se fundir e propiciar a formação de cristais de mono-hidrato de colesterol Circulação Êntero-Hepática Esta é caracterizada pela passagem de ácidos biliares do fígado para o intestino delgado com posterior retorno hepático. Os sais biliares são secretados no duodeno e ativamente reabsorvidos no nível do íleo terminal (~95%) para o sistema venoso através da veia mesentérica, alcançando a veia portal e em seguida os sinusoides hepáticos. Na fase entérica, os ácidos biliares sofrem reações de biotransformação, com hidroxilação e desconjugação, através de enzimas produzidas pelas bactérias da flora intestinal como a hidrolase de sais biliares (HSB) e a desidrogenase hidroxiesteroide de ácidos biliares (DHAB). A HSB catalisa a hidrolise dos ácidos biliares conjugados em formas desconjugadas (cólico e quenodesoxicólico), conhecidas como ácidos biliares primários. Estes sofrem desidroxilação pela enzima DHAB, sendo convertidos nos ácidos biliares secundários (desoxicólico e litocólico). O desequilíbrio do ciclo êntero-hepático pode precipitar a formação de cálculos biliares. Resumindo: Desequilíbrio da secreção do colesterol biliar Reação inflamatória do epitélio da vesícula Produção de mucina Distúrbios de motilidade da vesícula biliar Alterações na circulação enterro-hepatica dos sais biliares Quadro clínico Cerca de 60 a 85% dos portadores de calculose biliar são assintomáticos e não requerem tratamento preventivamenteUm estudo de metanálise indica que apenas a dor no HD, náuseas e vômitos são sintomas característicos da colecistolitíase sintomática e caracterizam a cólica biliar, que traduz a impactação de cálculo no cístico, provocando espasmos da vesícula. Diagnóstico Carolina Lucchesi | Medicina Unit 8 Tutoria 04 Gastro Ultrassonografia (US): o exame mais utilizado e eficaz, principalmente na colecistolitíase. Ultrassonografia endoscópica (US-EDA): utilizada para diagnóstico de microlitíase. Colangiopancreatografia retrógrada (CPRE): empregada quando se pretende avaliar a árvore biliar ou como procedimento terapêutico. Tomografia computadorizada (TC): avalia a árvore biliar quando a CPRE não é possível. Colangiopancreatografia por ressonância nuclear magnética (CPRNM): substitui a CPRE no diagnóstico, mas não permite a realização de procedimentos, exceto quando associada a outros métodos. Tratamento Colecistite Aguda Constitui um processo patológico inflamatório da vesícula biliar consequente a obstrução aguda do ducto cístico Mais frequente no sexo feminino Etiopatogenia Litíase: responsável por 90% dos casos Obstrução por câncer de vesícula Jejum prolongado Alteração da perfusão sanguínea Colocação de próteses biliares Citomegalovirus Fisiopatologia O mecanismo pelo qual se desencadeia a colecistite aguda é a impactação de cálculo no infundíbulo da vesícula ou no ducto cístico, causando distensão do órgão e fortes contrações que se traduzem clinicamente por cólica biliar. O cálculo, comprimindo a mucosa, acarreta edema e ulceração local. A parede da vesícula produz fosfolipase-A, que age sobre as lecitinas da bile, produzindo lisolecitina (que é irritante de mucosas) e provavelmente prostaglandinas, via ácido araquidônico, que desencadeiam o processo inflamatório A inflamação aumenta o edema da vesícula e acaba por comprimir as circulações venosa e linfática, formando um círculo vicioso que mantém o processo e propicia complicações A infecção secundária pode ser verificada em 50% das culturas de bile colhidas da vesícula durante a operação − chegando a 80% nos casos em que há gangrena de vesícula. São encontrados patógenos intestinais aeróbios e anaeróbios. Os aeróbios mais frequentes são Escherichia coli, Klebsiella, Proteus e Streptococcus faecalis. Os anaeróbios, presentes em 10% dos casos, mais frequentes são Peptostreptococcus, Clostridium perfringens e Bacteroides fragilis. A infecção pode evoluir para empiema da vesícula, necrose em áreas delimitadas ou gangrena enfisematosa, em razão da presença de anaeróbios. A colecistite enfisematosa é característica de pacientes diabéticos, idosos ou que apresentem outras causas de imunodeficiência As áreas necróticas podem apresentar perfuração na parede posterior da vesícula, aderida ao fígado, causando abscesso intra-hepático, ou na parede anterior, livre, causando peritonite. A coalescência inflamatória do infundíbulo da vesícula com a via biliar é conhecida como síndrome de Mirizzi, cuja apresentação mais característica é icterícia obstrutiva Resumindo: Obstrução sustentada do ducto cístico (infundíbulo ou luminal) Aumento da pressão intraluminal da vesícula Obstrução venosa e linfática Carolina Lucchesi | Medicina Unit 9 Tutoria 04 Gastro Isquemia e edema Ulceração da parede Infecção secundária Quadro clínico Dor epigástrica forte, em cólica, irradiada para o hipocôndrio direito ou esquerdo, as vezes até para escápula, precórdio ou dorso, acompanhada de náuseas e vômitos reflexos Dor persiste por mais de 12 hrs, com poucamelhora com analgésicos Durante a evolução, quando a serosa é acometida, a dor localiza-se no hipocôndrio direito e piora com a movimentação e inspiração profunda A icterícia é observada em apenas 20% dos pacientes adultos e é mais frequente em crianças Sinal de Murphy é patognomônico Diagnóstico O diagn stico de colecistite aguda é feito habitualmente com ase em uma anamnese característica e um om e ame físico tríade de início s ito de hipersensi ilidade no , fe re e leucocitose é altamente sugestiva leucocitose fica entre 1 e células por microlitro com um desvio para a esquerda na contagem diferencial ilirru ina sérica torna-se levemente elevada [< 85,5 mol L mg dL) em menos da metade dos pacientes, enquanto cerca de evidenciam eleva es moderadas das aminotransferases séricas em geral, eleva ão inferior a vezes) ultrassonografia demonstra a presen a de cálculos em a dos casos, sendo til na identifica ão dos sinais de infla- ma ão da vesícula, como o espessamento da parede, líquido pericolecístico e dilata ão do ducto iliar cintilografia iliar com radionuclídio p e , ) poderá confirmar o diagn stico se for visualizada a imagem do ducto iliar sem a visualiza ão da vesícula iliar Tratamento Colecistoctomia preferencialmente Internação Hidratação Venosa Analgesia Dieta Zero Antibioticoterapia o Cefalosporina de 3º geração o Ampicilina + Aminoglicosídeo o Ampicilina-sulbactam Coledocolitíase Obstrução do colédoco por cálculo, seja ele originário da vesícula ou do próprio canal biliar. Normalmente, na colelitíase, ocorre trânsito silencioso de cálculos da vesícula para o duodeno através do colédoco e, eventualmente, em uma dessas passagens, poderá haver obstrução. Quadro clínico Dor em cólica Icterícia Colúria Acolia Fecal Diagnóstico Clínico, laboratorial e imagem La oratorial: iper ilirru inemia >3mg dl), ↑F > U L) e ↑ minotransferases Ultrassonografia é o exame mais importante para o diagnóstico Colangiografia endoscópica também poderá ser utilizada e tem alta sensibilidade e especificidade. Esse método permite não apenas o diagnóstico, mas também a medida terapêutica básica, que é a retirada do cálculo A colangiorressonância, menos agressiva e com excelente resolução, tem sido o método escolhido, desde que disponível no local. CPRE padrão ouro Tratamento Gastroenterologia Essencial PCRE utilizando balões do tipo Fogarty e cestas do tipo Dormia. a impossi ilidade da remo ão de todos eles, reco- menda-se colocar sonda nasocoledociana e proceder Carolina Lucchesi | Medicina Unit 10 Tutoria 04 Gastro irriga ão contínua da árvore iliar com soro fisiol gico, para prevenir colangite e sepse, repetindo as tentativas de retirada da totalidade dos cálculos Colangite O termo colangite define a infecção bacteriana do trato biliar, quase sempre associada a uma síndrome obstrutiva. Na prática, o termo colangite aguda é aplicado para designar os sinais e sintomas produzidos por uma inflamação biliar, sem se ater muito à presença ou não de alterações patológicas na parede dos ductos biliares ou parênquima hepático– ou seja, trata-se de um diagnóstico essencialmente clínico. Etiopatogenia O desenvolvimento de colangite necessita de presença de bactérias no trato biliar e obstrução biliar parcial ou completa A origem das bactérias é incerta e a teoria mais aceita é a de que algumas bactérias, vindas do intestino, ganham o sistema porta e alcançam o trato biliar passando pelo fígado. Assim, quando existe uma lesão, ou até mesmo um corpo estranho no trato biliar, é frequente a contaminação bacteriana. **Colangite Aguda: A maior incidência de colangite aguda ocorre entre os 55 e 70 anos, refletindo, na verdade, a incidência das doenças associadas (e também a maior propensão à bacterbilia que ocorre naturalmente com a idade). **Colangite Tóxica Aguda: Forma mais grave. A presunção é que este tipo de colangite esteja associado a um processo de “sepse contínua”, devido ao fenômeno de “pus sob alta pressão”no trato biliar. Quadro Clínico Dor abdominal Ictericia Febre A tríade de Charcot completa, com febre, icterícia e dor abdominal, ocorre em 60% dos paciente com colangite. O sintoma mais frequente é a febre (90%). A dor abdominal costuma ser moderada e se localiza principalmente no QSD Diagnóstico Clínico Os achados laboratoriais refletem: A natureza infecciosa e inflamatória; a obstrução biliar associada Leucocitose com desvio a esquerda, associada a hiperbilirrubinemia, aumento da fosfatase alcalina, GGT, AST e ALT. Os organismos mais encontrados são, em ordem de frequência: 1. E. coli; 2. Klebsiella; 3. Enterococcus faecalis; 4. B. fragilis Diagnóstico Diferencial A condição mais comumente confundida com colangite é a colecistite, já que os sintomas de febre, dor abdominal em Quadrante Superior Direito (QSD) e leucocitose são comuns a ambas. Abscesso hepático piogênico deve ser considerado no diagnóstico diferencial de colangite aguda. O abscesso de fígado pode ser identificado por US, TC ou cintigrafia Hepatite também se manifesta com os critérios da tríade de charcot. A diferença se faz prontamente com as provas de função hepática Pancreatite aguda Ulcera duodenal Tratamento Os princípios do tratamento da colangite são: 1. Controlar o processo séptico (antibioticoterapia) Tríade de Charcot Carolina Lucchesi | Medicina Unit 11 Tutoria 04 Gastro 2. Corrigir a condição subjacente (desobstrução biliar) Não existe um esquema ideal, e a escolha dos antibióticos deve se basear nos organismos Pode-se optar pela monoterapia com drogas de amplo espectro, como betalactâmicos + inibidores de betalactamase (ex.: amoxicilina + clavulanato, ampicilina + sulbactam), ou pela associação de cefalosporina de terceira geração (ex.: ceftriaxone) ou quinolona (ex.: ciprofloxacina, levofloxacina) com metronidazol.
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