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1 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 8 CASO CLÍNICO Paciente do sexo feminino com 33 anos, 54kg, 155 cm, e adenoma hepático, apresentou-se para hepatectomia esquerda eletiva. Após a indução da anestesia, um cateter venoso central de lúmen duplo foi inserido na VJID, com o uso de referências anatômicas e da técnica de Seldinger. A inserção foi feita em uma tentativa por um anestesiologista experiente e de acordo com o protocolo de conduta do hospital. Nesse momento, o retorno sanguíneo foi observado a partir da porta proximal, mas não na distal. Todas as portas foram facilmente lavadas. O cateter foi fixado em 12cm de comprimento. No fim do procedimento, a paciente estava acordada, sem sinais de distúrbios respiratório. Posteriormente, na sala de recuperação pós-anestésicas (SRPA), seis horas após a cirurgia, queixou-se de dor no peito direito e dispneia. À ausculta, não havia sons respiratórios no hemitórax direito com embotamento da percussão. O cateter venoso central não estava permeável e não havia retorno sanguíneo. H.D.: Não se pensa tanto em pneumotórax porque na percussão do caso tem um som mais maciço e no pneumo o som é mais timpânico. Informação que deve ser valorizada: durante o teste de funcionamento desse cateter, ele só funcionou na via proximal e não na distal, ou seja, estava fluindo e refluindo na via proximal e na distal não estava e isso traduz, muito provavelmente, uma transfixação do vaso e a extremidade avançou, mas existe um espaço dentro do vaso que está funcionando essa via mais proximal. O QUE FAZER Raio X: hemitórax completamente velado, traduzindo um preenchimento do espaço pleural provavelmente por um conteúdo líquido, conhecido vulgarmente como sorotórax, isso porque provavelmente todo o fluido que foi administrado nessa via foi pro tórax. Então vamos raciocinar da seguinte forma: 1. O que poderia ter sido feito para evitar a complicação? Talvez, nesse caos, pudesse ser suspeitado o porquê que está funcionando uma via e não está funcionando a outra, se passou ou não com a técnica adequada. Talvez se questionasse se o cateter estava bem posicionado, não ter liberado, ter refeito a punção... Tudo isso poderia ter evitado essa complicação. 2. Podemos liberar o uso do cateter antes da radiografia de controle? Pode! Não é obrigatório que a radiografia seja feita, até porque no centro cirúrgico se um anestesista punciona um cateter central, o médico não vai esperar uma radiografia para confirmar e só depois liberar para ele usar e posteriormente começar o procedimento. Isso não faz sentido se você testou o cateter e ele está funcionando. Radiografia serve para análise de complicações e em alguns casos específicos do uso eletivo do cateter que se avalia o posicionamento antes de iniciar. 3. Quais as principais complicações associadas ao implante de CVC? Será discutido ao decorrer da aula. TÉCNICA DE SELDINGER Punção do vaso → progressão do fio guia → retira a agulha → passa o dilatador → passa o cateter → retira o fio guia sempre Radiografia de Controle de Cateter Venoso Central e Sonda Nasogástrica/Nasoentérica 2 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 8 e aí com o cateter no espaço intravascular o médico vai testar o funcionamento dele. POSICIONAMENTO ADEQUADO • Em uma veia central; • Fora do saco pericárdico; • Paralela ao longo do eixo da veia; • Não deve encostar na parede da veia (pode colabar) ou do coração (induz arritmia). Relembrar a anatomia vascular! Uma inserção da veia jugular interna direita espera-se que a ponta do cateter se posicione, de forma mais precisa, na junção cavo-atrial. Então, a veia subclávia, veia jugular interna, tronco braquicefálico, VCS e o átrio direito são as localizações onde esse cateter vai atravessar em uma punção da veia jugular direita, porém, obviamente, isso vai variar de cada veia que o médico irá puncionar. POR QUE O POSICIONAMENTO ADEQUADO É IMPORTANTE? 1. Para garantir a diluição máxima de drogas vasoativas irritantes; Principalmente quando elas atingirem a periferia. 2. Para evitar mistura de medicamentos incompatíveis; 3. Para evitar recirculação de sangue em circuitos de diálises de alto fluxo; 4. Para medição fidedigna da saturação venosa de O2. Só mostrando estatisticamente onde se encontra a ponta desses cateteres a partir de cada sítio que ele foi implantado. Átrio direito → porção cavo-atrial e VCS são os locais mais comumente encontrados em todos os sítios superiores, por exemplo, subclávia e jugular. COMPLICAÇÕES • Punção/Inserção; Principalmente as punções, onde se faz complicações mecânicas. Punções arteriais, punções que levam a lesão grande de veia gerando hematoma, punções de estruturas não adequadas (por exemplo: punção pleural; pneumotórax é uma das principais complicações). Enfim, todas essas punções inadequadas podem gerar algum tipo de complicação. • Complicações mecânicas; • Inserção mal sucedida – exemplo do caso; • Erro de posicionamento. Uso do CVC <-> Manutenção <-> remoção do CVC • Complicações infecciosas; • Complicações trombóticas - a presença do cateter pode induzir algum tipo de lesão endotelial; • Perda da função; • Deslocamento. Durante a remoção faz principalmente um hematoma (o local que o cateter estava inserido pode ficar sangrando e causar algum tipo de hematoma). ERRO DE POSICIONAMENTO INTRAVASCULAR • Artéria carótida – se puncionar inadequadamente a jugular. Dificilmente o médico, principalmente com experiência, vai puncionar uma carótida e não identificar, mas pacientes muito chocados, muito hipotensos, podem causar confusão, então é sempre bom tomar muito cuidado. • Veias ázigos; • Veia cava superior esquerda persistente – que é uma variação anatômica um pouco mais rara; • Veia torácica interna (mamária); • Veia vertebral. Imagem: relação dos vasos com as estruturas que normalmente se posiciona o cateter. A veia ázigo deriva da 3 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 8 VCS, então se o fio guia acabar entrando dentro dela pode ser que o cateter seja posicionado lá. Aqui mostra a imagem de uma VCS esquerda persistente. Na imagem do meio ela meio que é a única VC, sem a VCS direita, e no lado esquerdo com as duas. São variações anatômicas, anomalias vasculares que podem gerar, em algum momento, algum tipo de confusão com o seu posicionamento principalmente se for puncionado um vaso esquerdo. A torácica interna, assim como a veia ázigo, deriva da veia cava superior. Aqui a veia vertebral que sai da região mais próxima a subclávia, mais comum em punções subclávias. Tomar muito cuidado porque quando se faz solução hiperosmolar isso pode induzir algum tipo de encefalopatia, alguma complicação, principalmente, com NPT. Então se vai fazer NPT é importante confirmar a localização do cateter para evitar esse tipo de complicação. Imagem: mostra a relação íntima da carótida com a jugular. Muitas vezes pode acontecer de se puncionar diretamente a carótida; às vezes pode acontecer de transfixar uma jugular ao se inserir demais a agulha. Dessa forma, deve-se lembrar que por mais que a jugular seja mais lateral e se puncione mais para fora em direção ao mamilo, podem existir variações anatômicas em que a jugular fica mais anterior, posicionada de uma forma sobreposta, podendo acontecer de confundir o médico. CASO CLÍNICO • Erro de posicionamento extravascular → são mais raros; • Espaço extradural (ou espaço epidural); • Pericárdio; • Cavidade pleural; • Mediastino; • Duto torácico. São situações anedóticas, mas é preciso saber que existem. SELECIONANDO A VEIA IDEAL • A incidência de mau posicionamento é maior no sistema venosotorácico esquerdo do que no lado direito; • O lado direito da circulação deve ser considerado de primeira preferência para a inserção do CVC, a menos que esses locais de inserção sejam contraindicados; • Use ultrassom para selecionar o vaso adequado para inserção. Em relação a variação anatômica, um escaneamento com USG pode ajudar a observar se existe alguma variação. Às vezes existe uma carótida muito anterior que dificulte achar um ângulo adequado para punção; às vezes ao olhar o outro lado se percebe que é mais tranquilo. SEGURANÇA • Orientação de ultrassom → sempre ajuda muito; • ECG intracavitário (intravascular); • Raio-X do tórax → sempre para conferir; • Outros métodos/técnicas de apoio: eletromagnético, manometria (agulha e cateter), análise de forma de onda de pressão, análise de gases sanguíneos. Esses outros métodos é mais para saber que existem; na prática se precisa ter domínio da radiografia de tórax e da orientação por USG. RAIO X • Confirmar posicionamento; • Detecção de complicações; 4 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 8 • 2 dimensões (limitação). Por ser bidimensional, às vezes só se observa apenas a sobreposição dele sobre alguma estrutura, a sobreposição do cateter, mas não se consegue observar no eixo anteroposterior onde ele está de fato, a não ser que se faça um raio-X de tórax em perfil e anteroposterior também. Essa imagem é a que se deve gravar como referência de um posicionamento adequado. É possível ver um cateter inserido através da veia jugular interna esquerda e posicionado na junção cavo-atrial – talvez até dentro do átrio direito – e com a ponta do cateter visível. ULTRASSONOGRAFIA • O ultrassom pode ser usado para avaliar as veias jugular, femoral, axilar e do braço para ajudar na inserção de um CVC, mas é de valor limitado na confirmação da posição da ponta na junção cavoatrial. • O ultrassom transesofágico pode ser usado, se disponível, mas tem limitações práticas devido à disponibilidade e treinamento do operador. • O eco transtorácico pode identificar cateteres no átrio direito, mas não é usado na prática de rotina. A avaliação da subclávia é mais difícil pelo fato dela estar posterior a clavícula, ficando difícil a avaliação ultrassonográfica de forma segura. Existe também a possibilidade de confirmar o posicionamento da ponta do cateter com o ultrassom, mas é mais difícil, nem sempre sendo possível. A imagem acima é de uma USG e evidencia as estruturas que devem ser identificadas: carótida, jugular interna e o esternocleidomastóideo. É preciso fazer essa avaliação e a diferenciação dos vasos é feita da seguinte maneira: normalmente a veia é compressiva, ela colaba ao se fazer algum tipo de pressão, diferente da artéria. Às vezes é possível ver a artéria pulsando também. Essa outra imagem mostra no eixo transversal a agulha penetranda o espaço intravascular, conseguindo observar (às vezes) a presença do fio guia no espaço intravascular e observar o cateter. POSICIONAMENTOS INADEQUADOS O paciente teve uma punção jugular direita, mostrando que quando era para esse cateter ganhar o trajeto do tronco braquiocefálico em direção a veia cava superior, ele acabou fazendo uma dobra sobre ele mesmo e não desceu de forma adequada. Esse paciente provavelmente foi um paciente que fez uma punção na jugular interna direita e a ponta do cateter em vez de descer, ela ganhou a região lateral e entrou 5 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 8 através da subclávia. É um cateter que também, apesar de estar no espaço intravascular, não está com o seu posicionamento adequado. A imagem mostra um fio guia que acabou sendo embolizado, sendo uma complicação que é muito chata, porque não é apenas remover o cateter e repassar; vai acabar gerando um transtorno grande para o paciente, necessitando ir para hemodinâmica para tentar remover esse fio guia. O fio guia também vai migrando progressivamente, pode formar trombo (complicação). Nunca perder o fio guia!!! A figura mostra um pneumotórax. É a complicação mais comum relacionada à punção em si. Por isso é tão importante a radiografia após o procedimento. Derrame pleural extenso, possivelmente associado a um hemotórax (pode ser um quilotórax, mas geralmente nesses casos é mais à esquerda). Essa TC (TC de pescoço) mostra a traqueia desviada para o lado contralateral, além de ver uma área com densificação dos planos adiposos, totalmente em expansão. Isso normalmente está associado a presença de algum hematoma, provavelmente associado ao sítio de punção. Esse desvio das estruturas contralaterais pode levar, inclusive, o paciente a uma insuficiência respiratória, podendo evoluir para necessidade de garantir via aérea por desconforto. CASO CLÍNICO Paciente 77 anos, submetido a colectomia direita, em vigência de íleo adinâmico, uma semana após a cirurgia, requereu uma SNE para nutrição enteral. A inserção da sonda ocorreu sem complicações e o posicionamento do tubo foi confirmado pelo método auscultatório e pela observação de resíduo amarelado. Não houve suspeita de extravio. Foi iniciada nutrição enteral e, após infusão de 1.000 mL, o paciente apresentou diminuição da saturação de oxigênio, dispneia e dor torácica. A radiografia demonstrada seguir: Hipótese diagnóstica: a sonda foi colocada erroneamente no pulmão, jogando a dieta enteral. Não houve confirmação com RX, houve confirmação pelo método auscultatório. Conduta: retirar a sonda da via aérea e reinseri- lá no trato digestivo, além de realizar broncoscopia - lavado brônquico (realizada por cirurgião torácico e alguns pneumologistas). Esse paciente pode vir a fazer uma pneumonite, sendo necessário entrar com antibiótico. Visualizamos o sombreamento esofágico, até a região da cárdia, cúpula diafragmática. Observamos que essa sonda ganhou o trajeto lateral muito antes, acabando entrando no brônquio. Deveria ter sio feita confirmação radiológica. 6 Beatriz Machado de Almeida Radiologia – Aula 8 POSICIONAMENTO A nasofaringe, orofaringe são estruturas muito próximas, quando essa sonda ganha a cavidade oral, pode muitas vezes pegar um trajeto errado (a sonda que era para ir para o esôfago, pode acabar ganhando a via aérea). Localização correta de uma sonda, atravessando a cúpula diafragmática, em média 10cm (podendo ser mais) abaixo da cúpula para que haja segurança de que ela tenha ganhado a cavidade gástrica. Se essa sonda ficar em região pós-pilórica melhor para o paciente, nem sempre precisa disso de fato. A sonda nasogástrica é utilizada mais para aspiração, podendo dispensar muitas vezes, a imagem radiológica (se aspirar vai retornar conteúdo gástrico, não vai injetar nenhum tipo de substância, sendo, por isso, mais tranquilo). CASO 1 A sonda está dobrando na cavidade oral do paciente, não chegou a descer. Isso pode ser avaliado, inclusive, clinicamente. CASO 2 Essa foi uma complicação em que o paciente teve a sonda inserida e acabou indo para VA, acabou ganhando o brônquio fonte e parou na região da cúpula diafragmática direita, ou seja, provavelmente ela até perfurou ou não, acabando indo para o bronquíolo bem mais proximal e ganhou essa região, ou perfurou ele. CASO 3 Nesse caso, observa-se a sonda no brônquio fonte direito, posicionamento inadequado. CASO 4 Megaesófago, possui nível hidroaéreo, representado pela parte radiopaca. Nesses pacientes, a sonda pode não descer, ficar dobrando, paciente com conteúdo alimentar, tem grande chance de broncoaspiração. Normalmente essas sondas precisam ser passadas por via endoscópica. CASO 5 A sonda entrou no brônquiodireito, dobrou e foi para o esquerdo.
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