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RESENHA DO DOCUMENTÁRIO O RENASCIMENTO DO PARTO

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RESENHA
As principais autoridades de saúde nacionais e internacionais recomendam que todo recém-nascido de baixo risco e reativo seja colocado em contato pele a pele com a mãe logo após o nascimento, permanecendo ali na sua primeira hora de vida e que procedimentos e exames de rotina só devem ser realizados após a instauração desse contato, a não ser em caso de indicação médica (GÓES et al., 2020; SBP, 2020; BARROS; DIAS; GOMES JR, 2018).
Nesta diretiva, partindo das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), preconiza-se que os recém-nascidos sejam colocados despidos em contato pele a pele com suas mães, imediatamente após o nascimento, por no mínimo uma hora, encorajando-as a perceber quando seus filhos estão preparados para mamar, provendo auxílio, caso necessite (TERRA et al., 2020; BRASIL, 2017). Estas práticas associadas (contato pele a pele precoce e a amamentação na primeira hora de vida) correspondem ao quarto passo da Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) e corroboram para a elevação da prevalência e a duração do AME, além da diminuição da morbimortalidade neonatal e infantil (TERRA et al., 2020; AYRES et al., 2020).
Outros benefícios dessas práticas consistem na promoção do vínculo entre mãe e bebê, regulação térmica, estabilização da respiração e preservação do equilíbrio ácido básico na adaptação do recém-nascido à vida extrauterina, bem como estímulo do reflexo de sucção, prevenção da hipoglicemia neonatal e colonização bacteriana pela microbiota cutânea da mãe (TERRA et al., 2020; AYRES et al., 2020; KOLOGESKI et al., 2017; CETINKAYA; ERTEM, 2017). Aumenta-se ainda a probabilidade da criança consumir o colostro, que é altamente nutritivo e de fácil digestão, além de conter consideráveis propriedades imunológicas (SILVA et al., 2018).
Análises globais indicam que apenas cerca da metade dos recém-nascidos inicia a amamentação na primeira hora de vida (VICTORA et al., 2016). Em alguns casos, as instituições de saúde seguem ações equivocadas, por exemplo, separando as mães de seus filhos imediatamente após o nascimento e/ou fornecendo ao bebê outros alimentos e/ou bebidas. Assim, em 2017, aproximadamente 78 milhões de recém-nascidos no mundo esperaram mais de uma hora para serem colocados no seio da mãe. Portanto, apenas dois em cada cinco bebês (42%) foram colocados no peito na primeira hora de vida (UNICEF, 2018).
Além disso, atualmente o Brasil apresenta um elevado grau de medicalização e excesso de práticas invasivas, devido ao modelo de assistência obstétrica. O crescimento desse modelo está diretamente ligado ao rumo tomado pelo processo de medicalização da sociedade brasileira, quando se propiciou o surgimento de um modelo intervencionista e curativo de assistência médica. Diversos especialistas apontam este modelo de assistência obstétrica como uma das principais razões para o alto índice de cesáreas no país. Porém, mais do que diminuir o número de cesáreas, é necessário humanizar o parto (REDE NACIONAL FEMINISTA DE SAÚDE, 2002).
Diante do exposto, o documentário “O Renascimento do Parto” retrata nitidamente os achados dessas evidências científicas, onde nos primeiros minutos já aparece uma mãe relatando sobre sua filha ter ficado sozinha na sala de parto, passado por procedimentos desnecessários (por exemplo aspiração, que só deve ser realizada quando há obstrução das vias aéreas por excesso de secreção) (BRASIL, 2012), quando, na verdade, é sabido que bebês com boa vitalidade devem ser entregues para a mãe. Precisa-se enxugar o recém-nascido sem remover o vérnix caseoso (não realizar o banho até que haja estabilidade térmica e cardiorrespiratória), realizar o clampeamento do cordão umbilical oportuno (entre 1 e 3 minutos após o nascimento), aquecer e entregá-lo para a puérpera, onde o índice de apgar pode ser avaliado no colo da mesma, relata um especialista da produção.
Com o excesso de procedimentos desnecessários o bebê não é colocado em contato pele a pele, tampouco para mamar na sala de parto, o que corrobora com o desmame precoce. Além disso, a mesma pediu para ser desamarrada e foi ignorada, mostrando que a vontade da puérpera muitas vezes não é respeitada no modelo biomédico de atendimento. A obra também relatou que não separar o bebê da mãe imediatamente após ao parto é crucial para que não ocorra a depressão pós-parto. 
Na época em que o documentário foi produzido (2013), os partos cesáreas compreendiam 52% dos partos realizados no país, o que tornou o parto um evento cirúrgico ao invés de fisiológico, como deveria ser. Especialistas explicitam na obra que não há indicativo para que o índice de cesáreas seja maior que 20% em nenhum país, o que revela um interesse econômico por trás. 
O tempo de duração da cirurgia varia entre 15 e 20 minutos, possibilitando o retorno do obstetra ao seu consultório. Para ele o parto vaginal não é economicamente vantajoso, pois teria que desmarcar um dia inteiro de consultas. Inclusive, foi mostrado na obra que o número de partos cesáreos aumenta em vésperas de feriado a fim de que não haja chamado durante o feriado, o que revela falta de compromisso com a profissão, pois deve-se estar preparado para plantões de emergência a qualquer momento. Além disso, 80% dos partos realizados pelos médicos são cesáreos, o que faz com que se “esqueça” como o parto vaginal é realizado.
Evidenciou-se, ainda, que os cirurgiões obstetras recebiam na época do documentário, em média, R$180,00 por parto, ou seja, quanto mais partos, melhor, o que traz à tona a cena em que uma mãe relata que na ultrassonografia do seu filho a imagem estava congelada, onde o bebê estava com circular de cordão umbilical no pescoço e o médico diz que seria necessária a realização da cesariana. A mãe, desconfiada, foi a outro médico realizar outra ultrassonografia e descobriu que a imagem anterior era falsa. Desta forma, muitos médicos cometem crimes, forjando imagens, colocando seus interesses pessoais à frente dos desejos e saúde da mulher e do bebê. 
O avanço tecnológico trouxe a entrada do médico na sala de parto (que antes era realizado por parteiras), parto horizontal e procedimentos invasivos como a episiotomia, Manobra de Kristeller, uso de fórceps. O ambiente familiar, com conhecidos, conforto, foi transformado em um ambiente assustador, frio, solitário e com desconhecidos. Muitas mulheres começam a ter intercorrências quando chegam no ambiente hospitalar. Com isso, as mulheres foram se acostumado a parir no padrão médico.
Criou-se um estigma de que as mulheres precisam de intervenção e de auxílio para parir, que não são capazes de conseguir passar por um parto sem intervenção médica. Uma minoria de mulheres deseja o parto cesárea e ao longo da gravidez/pré-natal essa vontade vai aumentando, pois muitas condutas médicas não são baseadas em evidências científicas sólidas, o que é percebido quando os especialistas do documentário relatam que muitos médicos indicam a cesárea em momentos que essa não é a recomendação, como: mulheres com idade mais avançada, sedentárias, acima do peso, abaixo do peso, com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, pouco líquido, muito líquido, circular de cordão, bebês GIG, falta de dilatação, “se o bebê esperar mais tempo será pior para ele”, entre outros.
Portanto, há uma falsa sensação de que a cesárea “salvou” o bebê. Contudo, cerca de 40% dos bebês nascem com o cordão enrolado no pescoço e, não se pode dizer que a mulher não tem dilatação suficiente se não se esperou o tempo necessário, deve-se aguardar o início do trabalho de parto de maneira fisiológica. Deste modo, quando se realiza o procedimento sem a indicação correta, o bebê é colocado em risco, por exemplo, a prematuridade.
Ademais, outras complicações da cirurgia sem indicação podem ser observadas, como o aumento de complicações respiratórias, aumento da chance de internação em UTI neonatal e aumento da mortalidade neonatal. Para a mãe há um maior risco de complicações hemorrágicas e infecciosase repercussões a longo prazo, o que torna mais seguro respeitar as condições fisiológicas do nascimento.
Os especialistas do documentário relatam que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o lugar adequado para uma mulher parir é o lugar onde ela se sente segura. Partindo desse pressuposto, o modelo centrado na obstetriz ou no enfermeiro obstetra possui várias vantagens para as parturientes de baixo risco em relação aos partos assistidos no modelo tradicional, centrado no médico. A maioria dos partos e nascimentos acontece nos hospitais e este ambiente não é o ideal para que a mulher esteja plena de suas capacidades e empoderada para expressar seus desejos.
Muitas mulheres passam toda sua gestação sendo acompanhadas por Doulas. Estas são acompanhantes de parto, treinadas que não substituem os médicos, enfermeiros, nem os acompanhantes. Possuem um olhar profissional sobre o parto mesmo sem realizar procedimentos e dão informações para a mulher pesquisar e fazer seu plano de parto, melhorando a informação de qualidade das mulheres e contribuindo para o empoderamento das mesmas. Além disso, o documentário cita um estudo que mostrou que a presença de uma doula durante o parto reduz o tempo do trabalho de parto, o número de intervenções e traz melhores resultados para todos.
Desse modo, evidenciou-se a importância sobre o conhecimento a respeito da fisiologia do parto normal e a relevância dele em diversos aspectos. À vista disso, algumas ações podem melhorar esse cenário e diminuir o número de cesarianas realizadas desnecessariamente. Um exemplo simples é oferecer informação de qualidade para a família, em linguagem usual, com cartilhas de fácil compreensão, para que a mulher adquira conhecimento e autonomia sobre seu próprio corpo. Pois, como o documentário diz: “A ideia não é o bebê sobreviver ao nascimento e a mulher sobreviver ao parto. A ideia é a qualidade dele”. 
REFERÊNCIAS
AYRES, L.F.A. et al. Fatores associados ao contato pele a pele imediato em uma maternidade. Escola Anna Nery, v. 25, n. 2, 2020. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0116>. Acesso em: 19 ago. 2021.
BARROS, G.M.; DIAS, M.A.B.; GOMES JR, S.C.S. O uso das boas práticas de atenção ao recém-nascido na primeira hora de vida nos diferentes modelos de atenção ao parto. Revista da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras, v. 18, n. 1, p. 21-8, 2018. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.31508/1676-3793201800004>. Acesso em: 19 ago. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido. Guia para os profissionais de saúde. Cuidados gerais. Brasília: Ministério da Saúde, 2 ed., v. 1, 2012. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_saude_recem_nascido_profissionais_v1.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2021.
CETINKAYA, E.; ERTEM, G. The effects of skin-to-skin contact on maternal-preterm infants: a systematic review. Journal of Education and Research in Nursing, v. 14, n. 2, p. 167-75, 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5222/HEAD.2017.167>. Acesso em: 19 ago. 2021.
GÓES, F.G.B. et al. Boas práticas no cuidado ao recém-nascido em tempos de COVID-19: Revisão Integrativa. Texto & Contexto Enfermagem, v. 29, p. 1-17, 2020. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1980-265x-tce-2020-0242>. Acesso em: 19 ago. 2021.
KOLOGESKI, T.K. et al. Contato pele a pele do recém-nascido com sua mãe na perspectiva da equipe multiprofissional. Revista de Enfermagem UFPE (Online), v. 11, n. 1, p. 94-101, 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5205/reuol.9978-88449-6-1101201712>. Acesso em: 19 ago. 2021.
O RENASCIMENTO DO PARTO. Eduardo Chauvet. Eduardo Chauvet, Érica de Paula. Brasil: Netflix, 2013.
REDE NACIONAL FEMINISTA DE SAÚDE. Dossiê Humanização do Parto. São Paulo, 2002. Disponível em:
<https://redesaude.org.br/wp-content/uploads/2021/01/Dossie_Humanizacao-do-parto.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2021.
SILVA, J.L.P. et al. Fatores associados ao aleitamento materno na primeira hora de vida em um hospital amigo da criança. Texto & Contexto Enfermagem, v. 27, n. 4, 2018. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072018004190017>. Acesso em: 19 ago. 2021.
Sociedade Brasileira de Pediatria. Nota de Alerta. Aleitamento Materno em tempos de Covid19 – recomendações na maternidade e após a alta, 2020. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22467f-NA_-_AleitMat_tempos Covid-19-_na_matern_e_apos_alta.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2021.
TERRA, N.O. et al. Fatores intervenientes na adesão à amamentação na primeira hora de vida: revisão integrativa. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 22, p. 62254, 2020. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5216/ree.v22.62254>. Acesso em: 19 ago. 2021.
UNICEF, WHO. Capture the Moment – Early initiation of breastfeeding: The best start for every newborn. New York: UNICEF; 2018. Disponível em: <https://www.unicef.org/publications/files/UNICEF_WHO_Capture_the_moment_EIBF_2018.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2021.
VICTORA, C.G. et al. Amamentação no século 21: epidemiologia, mecanismos, e efeitos ao longo da vida. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2016. Disponível em: <http://scielo.iec.gov.br/pdf/ess/v25n1/Amamentacao1.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2021.

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