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Rosana Franklin

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ROSANA CRISTINA FRANKLIN DA SILVA 
 
 
 
 
 
Serviço Social: os limites e as possibilidades do assistente social no 
atendimento às famílias de presos do sistema prisional do Rio de Janeiro 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
ROSANA CRISTINA FRANKLIN DA SILVA 
 
 
 
Serviço Social: os limites e as possibilidades do assistente social no 
atendimento às famílias de presos do sistema prisional do Rio de Janeiro 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial para 
obtenção do título de bacharel em 
Serviço Social pela Universidade 
Federal do Estado do Rio de Janeiro. 
Orientadora: Profª. Doutora Lobelia da 
Silva Faceira 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
 
 
 
ROSANA CRISTINA FRANKLIN DA SILVA 
 
 
Serviço Social: os limites e as possibilidades do assistente social no 
atendimento às famílias de presos do sistema prisional do Rio de Janeiro 
 
 
Aprovado em: _____/_____/_____ 
 
 
_____________________________________________________________ 
Profa. Dra. Lobelia da Silva Faceira - Orientadora 
Professora de Graduação do Curso de Serviço Social – UNIRIO 
 
______________________________________________________________ 
Profa.Dra. Janaina Bilate Martins 
Professora de Graduação do Curso de Serviço Social – UNIRIO 
 
______________________________________________________________ 
Profa Dra. Susidarley Fidelis da Mota 
Professor de Graduação do Curso de Serviço Social – UNIRIO 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2019 
 
 
 
Agradecimentos 
 
Dedico este trabalho à Deus que me fortalece todos os dias, e a toda minha 
família que, de perto ou de longe acreditaram na minha força e determinação. Aos meus 
amigos que entenderam e apoiaram a minha escolha de abrir mão de muitos momentos 
junto com eles em detrimento a minha formação. 
Agradeço a Escola de Serviço Social da UNIRIO e a todos os docentes com suas 
reflexões e provocações em sala de aula que me proporcionaram um crescimento não 
só como discente, mas como pessoa. Em especial a professora doutora Lobelia Faceira, 
minha orientadora, que percebeu ainda antes que eu mesma tivesse percebido, o meu 
interesse pelo atendimento às famílias. Sua paciência, eficiência e organização ao 
mesmo tempo que me transmitia segurança também me deu medo de falhar com a 
professora e agora amiga. 
Aos meus colegas de turma que foram uma família e tornaram o meu processo de 
formação mais leve e prazeroso. Não vou citar nominalmente todos, mas para 
representá-los exemplarmente, agradeço a minha amiga Lílian Melo, que sempre nos 
incentivou e motivou com sua alegria e energia contagiante. 
Não posso deixar de agradecer a todos que, por não acreditarem, me fizeram ser 
mais determinada e mostrar a mim mesma que, sim eu sou capaz! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Dentre as características do pensamento conservador, destaca-se sua vocação 
para o passado, terreno, germinativo da inspiração para a interpretação do presente. O 
passado é experimentado como virtualmente presente. A sociedade tende a ser 
apreendida como constitutiva de entidades orgânicas, funcionalmente articuladas, cujo 
modelo é família e a corporação. Os pequenos grupos são tidos como fonte de relações 
interpessoais, da sociedade e da moralidade. Os elementos sagrados, irracionais, não 
utilitários da existência, são valorizados, em contraposição ao primado da razão. 
tradição e costumes legitimam a autoridade. O conservador pensa à base do “nós”; o 
indivíduo não é uma partícula isolada e atomizada na sociedade, mas é parte de 
unidades mais amplas, dos grupos sociais básicos Reage a toda igualdade externa, que 
desconheça as particularidades individuais. Radicaliza-se a individualidade: os homens 
são seres essencialmente desiguais, porquanto particulares. A liberdade é subjetivada: 
consiste na habilidade de cada indivíduo em desenvolver-se de acordo com as 
possibilidades e limitações de sua personalidade, com o núcleo de seu ser O ser mais 
profundo do homem é sua individualidade e sua essência moral. Assim a liberdade é 
levada, restritivamente, à esfera privada e subjetiva da vida, enquanto as relações 
“externas” e sociais devem ser subordinadas aos princípios da ordem, da hierarquia e da 
disciplina”. 
Marilda Villela Iamamoto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo 
 
A monografia tem o objetivo de estudar o trabalho do assistente Social com 
famílias no sistema penitenciário do estado do Rio de Janeiro, problematizando os 
limites e as possibilidades no âmbito do exercício profissional e da consolidação do 
projeto ético político. O estudo tem os objetivos específicos deestudar a trajetória 
histórica do Serviço Social no cenário brasileiro; e identificar os limites e possibilidades 
do trabalho do Assistente Social junto às famílias no sistema penitenciário do Rio de 
Janeiro. A pesquisa é de natureza qualitativa, sendo desenvolvida por meio de revisão 
bibliográfica e da análise do documentário “Do lado de fora”, produzido por Paula 
Zanettini e Mônica Marques, que retrata a situação de seis mulheres, mães, 
companheiras e esposas de presos do Sistema Prisional do Rio de Janeiro. A pesquisa 
também realizou a análise de conteúdo do documento “Programa de assistência às 
famílias, elaborado por Elisabeth Queiroga e Leila Moraes Freire (2004) e que orienta a 
organização do trabalho do serviço social com famílias no sistema penitenciário. 
 
Palavras-chave: Serviço Social - Família - Prisão 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abstract 
 
This monograph aims to analyze the work of a social assistant towards families 
dealing with incarceration in the State of Rio de Janeiro's penitentiary system. By that, 
the scenario's limitations and possibilities are provoked in light of the professional 
practice and setting of an ethic and political project. Moreover, in order to specifically 
study the historical path of the Social Work in the Brazilian context, the limits and 
possibilities of the social assistant's work together with those families were identified. 
This study is of a bibliographic nature and it's developed primarily based on the analysis 
of the documentary Do Lado de Fora, produced by Paula Zanettini and Mônica Marques. 
The film portrays the condition of six women, mothers, partners and wives of inmates in 
Rio de Janeiro's penitentiary system. Furthermore, the study also counts on the analysis 
of the document Programa de Assitência às famílias, elaborated by Elisabeth Queiroga 
and Leila Moraes Freire (2004) which guides the social assistant's work with families in 
incarceration conditions. 
Keywords: Social Work - Family - Incarceration 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Siglas: 
 
ABAS - A Associação Brasileira de Assistentes Sociais 
ABESS - Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social 
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
APAS - Associação Profissional de Assistentes Sociais 
ANAS - Associação Nacional Sindical dos Assistentes Sociais 
CBAS - Congresso Brasileiro de Assistente Sociais 
CBCISS - Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social 
CEAS - Conselho Estadual de Assistência Social 
CENEAS - Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais de Assistentes 
Sociais 
CFAS - Conselho Federal de Assistentes Sociais 
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social 
CRAS - Conselhos Regionais de Assistentes Sociais 
CRESS – Conselho Regional de Serviço Social 
ECA - Estatuto da Criança e Adolescente 
ENPESS – Encontro Nacional de Pesquisadoras (es) em Serviço Social 
LBA - Legião Brasileira de AssistênciaLEP - Lei de Execução Penal 
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social 
ONG - Organização Não governamental 
SEAP - Secretaria de Estado de Administração Penitenciária 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Introdução......................................................................................................... 10 
1. Dimensões sócio histórica do Serviço Social no Brasil..................................13 
1.1. Serviço Social e o Movimento de Reconceituação no cenário brasileiro........19 
1.2. A importância do Movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino Americano 
na Renovação do Serviço Social brasileiro: processo de construção de uma nova 
imagem.............................................................................................................. 24 
1.2.1 Perspectiva Renovadora - Intenção de Ruptura........................................ 30 
1.3. A construção do Projeto Ético-Político..........................................................42 
2. Serviço Social e Família na Contemporaneidade.............................................58 
2.1. Família e a relação com o sistema de privação de liberdade ........................65 
Considerações Finais......................................................................................... 79 
Referência..........................................................................................................84
 
10 
 
Introdução 
 
 A motivação e o interesse inicial do Trabalho de Conclusão de Curso foi 
desenvolver um estudo sobre os limites e aspossibilidades do trabalho dos Assistentes 
Sociais do sistema prisional em atendimento às famílias dos presos. A partir da minha 
inserção como bolsista de Iniciação Científica, vinculada ao Projeto de Pesquisa 
Memória Social e Prisão: reflexões sobre as políticas públicas no âmbito da execução 
penal, e da minha participação na disciplina de Família no Brasil, comecei a me 
interessar pelos temas prisão e família. A partir desse interesse inicial, assisti o 
documentário “Do Lado de Fora”, que relata a situação de mulheres que passam a ter a 
sua realidade social caracterizada pela restrição da liberdade dos seus maridos, 
companheiros, filhos e amigos. Coincidentemente, comecei a observar no Bairro em que 
moro situação similar a apresentada no referido documentário. Por residir próximo ao 
Presídio Ary1 Franco, no bairro de Água Santa, observar as filas que se formavam ainda 
na noite anterior a visita, fila essa formada por pessoas de várias idades, em grande 
maioria mulheres. A partir desta observação empírica, comecei a questionar que pouca 
coisa mudou desde a produção do documentário no ano de 2004 até 2019, ano em que 
este Trabalho de Conclusão de Curso é desenvolvido. 
Neste sentido, o interesse era em desenvolver uma pesquisa teórico empírica na 
Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro 
Porém, os limites foram impostos ainda no início da pesquisa, a partir da 
dificuldade em obter as devidas autorizações, junto a Secretaria de Estado de 
Administração Penitenciária - SEAP RJ e ao comitê de ética em pesquisa - A partir deste 
entrave, reorganizarmos os procedimentos metodológicos, no sentido de problematizar o 
objeto de estudo por meio de análise documental e revisão bibliográfica. 
Em função da impossibilidade de construção da pesquisa de campo, o estudo foi 
realizado inicialmente a partir das publicaçõe de : Behring e Boschetti (2011) , 
Iamamoto (2014), Mioto (2010), Netto (1999-2015), Ortiz (2010), Faceira e Farias (2015), 
 
1
O Presídio Ary Franco, porta de entrada do sistema penitenciário do Rio de Janeiro, foi inaugurado em 1974 no 
governo Chagas Freitas quando a cidade do Rio de Janeiro ainda tinha seu território no estado da Guanabara. Fica 
localizado na Rua Violeta n°15 no bairro da Água Santa, nas proximidades do pedágio da Linha 
Amarela.https://pt.wikipedia.org/wiki/Pres%C3%ADdio_Ary_Franco (visualizado em 06/07/2019) 
 
11 
 
Sales, Matos e Leal (2006). A pesquisa é de natureza qualitativa, sendo desenvolvida 
por uma revisão de literatura sobre as categorias teóricas do Serviço Social, Família e 
Projeto Ético Político. Além da revisão de literatura, realizamos uma análise do 
documentário “Do Lado de Fora”, e do Programa de Atendimento à família de SEAP. O 
documentário foi produzido por Paula Zanettini e Mônica Marques em 2004, 
problematizando a situação de seis mulheres que acompanham suas famílias em 
privação de liberdade. O programa de atendimento à família da Coordenação de Serviço 
Social da SEAP foi produzido no mesmo ano.. Logo, consideramos relevante analisar os 
dois documentos, que foram produzidos no mesmo ano, um abordando o olhar das 
famílias sobre a prisão, e outro que expressa o esforço de sistematização do trabalho 
com famílias, realizado pelo Serviço Social e assistentes sociais da Secretaria de Estado 
de Administração Penitenciária do Estado do Rio de Janeiro. Ressaltamos que não 
temos informação se o programa de atendimento à família foi operacionalizado em todas 
as unidades prisionais e se o mesmo está em vigor na atualidade. A pesquisa se 
restringe a análise documental e sua problematização frente a literatura. 
O programa foi elaborado para estabelecer e instituir novas diretrizes técnicas e 
políticas para o processo de trabalho dos assistentes sociais junto às famílias do sistema 
Penitenciário do Rio de Janeiro, e o documentário foi produzido para mostrar a situação 
das mulheres que visitam os presos no Sistema Prisional do Rio de Janeiro. 
Utilizamos como técnica de análise de dados a análise de conteúdo que é 
caracterizada pela atenção ao “nível de realidade que não pode ser quantificado”, pois 
trabalha com as “ações e relações humanas”(Minayo, 2002). 
A pesquisa tem o objetivo geral de estudar e problematizar o trabalho do 
assistente Social com famílias no Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro, tendo como 
objetivos específicos:Estudar a trajetória histórica do Serviço Social no cenário brasileiro; 
Identificar os limites e as possibilidades do trabalho do Assistente Social junto às 
famílias no sistema penitenciário do Rio de Janeiro. Gostaríamos de ressaltar ainda a 
limitação de bibliografias sobre o trabalho com famílias no sistema penitenciário, o que 
também conferiu limites para o processo de elaboração da presente monografia. 
O trabalho está dividido em dois capítulos. No primeiro capítulo apresentamos 
brevemente a históriado Serviço Social no Brasil, destacando o Movimento de 
 
12 
 
Reconceituação e a discussões sobre o fazer profissional como uma profissão produtora 
e reprodutora das relações sociais, e como o movimento de Intenção de Ruptura foi 
crucial para a renovação da profissão e para a construção do Projeto Ético Político. 
No segundo capítulo abordaremos a atuação do Serviço Social com as famílias e 
os novos arranjos familiares. Em um segundo momento problematizamos os limites e as 
possibilidades do trabalho com famílias de presos do Sistema Prisional do Rio de 
Janeiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
1 Dimensão Sócio Histórica do Serviço Social no Brasil. 
 
 
Neste primeiro capítulo foi traçado brevemente a historicidade do Serviço Social 
no Brasil. Esclarecemos que não é a proposta do capítulo analisar minuciosamente os 
fatos históricos da profissão no cenário brasileiro, mas destacar momentos que são 
importantes para a compreensão do trabalho do Serviço Social com famílias do Serviço 
Social. Ou seja, a proposta do capítulo é rememorar períodos históricos da profissão e 
as modificações no âmbito do trabalho com famílias. 
 A primeira parte relatando a gênese da profissão no Brasil a partir do trabalho 
caritativo das mulheres burguesas e da igreja, e a criação do Centro de Estudos da Ação 
Social (CEAS), considerado o “embrião” doServiço Social, e todo o processo de 
desenvolvimento da profissão, com a criação da primeira escola do Serviço Social no 
Brasil e a inclusão dos profissionais no funcionalismo público para atender as demandas 
do agravamento da „questão social‟, como executores das políticas sociais, que o Estado 
começa a implantar em atendimento à essas demandas. A importância da criação do 
CEAS, da Associação Brasileira de Escolas do Serviço Social (ABESS), da Associação 
Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), entre outras associações no amadurecimento 
da profissão, e a elaboração do 1º código de Ética que legitimou a profissão sob a Lei nº 
1889/1953. 
 Logo após, será abordado o Movimento de Reconceituação no cenário 
brasileiro contextualizando o Serviço Social no período da ditadura militar. A 
reformulação da profissão em consonância às necessidades da classe trabalhadora e os 
seminários que avançam no debate teórico-metodológico da profissão. 
 Finalizando o capítulo, falaremos sobre o importante Movimento de 
Reconceituação e Renovação do Serviço Social para construção de uma nova imagem 
da profissão e, abordando a análise de Netto (2015) sobre literatura do Serviço Social de 
Iamamoto e Raul de Carvalho (2014), literatura que utilizou método dialético de Marx 
traçando a historicidade do Serviço Social, e discutindo a consonância do Serviço Social 
com a pluralidade da vida social e a construção do Projeto Ético-Político do Serviço 
Social. 
 
14 
 
 
O Serviço Social brasileiro surge no contexto histórico da transição do capital 
concorrencial para a fase monopolista, quando o Estado passa a intervir mais fortemente 
no processo econômico e permite a ampliação da acumulação de capital, ampliando 
também as contradições trazidas por elas, implantando políticas que acabam 
reproduzindo a desigualdade social. 
Ainda na década de 1920 surgem as instituições assitenciais onde as atividades de 
caridade desenvolvidas pelas mulheres brasileiras das famílias burguesas em prol dos 
“pobres” é desenvolvida de de forma organizada e com uma importante contribuição do 
Estado, possibilitam uma ampliação das obras sociais realizadas. Iamamoto destaca 
duas instituições criadas neste contexto: a Associação das Senhoras Brasileiras, criada 
em 1923 no Rio de janeiro, e a Liga das Senhoras Católicas, em 1923 em São Paulo. 
Ambas surgem para atender as demandas do crescimento capitalista, e segundo a 
autora, são de extrema importância na ação que pode ser chamada como o “embrião” 
do Serviço Social brasileiro. 
A importância dessas instituições e obras, e de sua centralização, a partir 
da cúpula da hierarquia, não pode ser subestimada na análise da gênese 
do Serviço Social do Brasil. Se sua ação concreta é limitada, se seu 
conteúdo é assistencial e paternalista, será a partir do seu lento 
desenvolvimento que se criarão as bases materiais e organizacionais, e 
principalmente humanas, que a partir da década seguinte permitirão a 
expansão da Ação Social e o surgimento das primeiras escolas de 
Serviço Social. (IAMAMOTO, 2014, p.177) 
 
A partir dessas ações surge o Centro de Estudos e Ação Social - CEAS, 
considerado o começo da profissionalização do Serviço Social no Brasil. 
[...] o trabalho de organização e preparação dos leigos se apóia numa 
base social feminina de origem burguesa, respaldada por Assistentes 
Sociais belgas que oferecem a sua experiência para possibilitar a 
fundação da primeira escola católica do serviço Social. (CASTRO, 2011, 
P.102). 
 
Percebe-se então como a origem do Serviço Social brasileiro está imbricado à igreja 
católica e seu posicionamento moralizador. A profissão surge no momento “maduro” do 
capital exigindo do Estado uma ação, exigência essa também solicitada pela classe 
trabalhadora, e torna-se institucional entre as décadas de 1930-1940. 
 
15 
 
Em 1936 a primeira Escola de Serviço Social do Brasil é criada por iniciativa da 
Maria Kiehl e Albertina Ramos, que se formaram na Escola de Serviço Social de 
Bruxelas. O curso era técnico e com influência neotomista2 que imputa à sociedade uma 
opinião formulada de “bem comum” e fundamentou as primeiras escolas da época com 
essa herança conservadora. 
A partir dos anos de 1940, com a aproximação do Serviço Social norte americano, o 
Serviço Social brasileiro começa a apresentar mudanças principalmente no que tange ao 
conservadorismo católico do seu início, trazendo uma reorganização da profissão. Esta 
reorganização vem atender o desenvolvimento capitalista qualificando-se para os 
diversos campos de atuação, visando atender às solicitações de um Estado que inicia 
um novo tipo de intervenção na questão social. A partir daí o profissional do Serviço 
Social é legitimado não só pela sua remuneração salarial, mas também pela ramificação 
sociotécnica do trabalho inserido o então emergente Serviço Social brasileiro à matriz 
positivista, ampliando suas referências técnicas para a profissão. Tal processo é 
denominado por Iamamoto (1982), como “arranjo teórico doutrinário”, que se caracteriza 
pelo discurso humanista cristão com o suporte técnico científico da teoria social 
positivista. 
Na década de 1940, os assistentes sociais já são incluídos pelo Estado no 
funcionalismo público, porém as ações sociais ainda eram implementadas pelo setor 
privado sob o “patrocínio” da igreja e o surgimento das grandes instituições sociais. O 
Estado surge como mediador, mas ao mesmo tempo se “isentando” da responsabilidade 
no que tange ao agravamento da „questão social‟. Com o aumento das demandas por 
esse “agravamento”, uma ação conjunta entre o Estado, a igreja e a classe dominante é 
articulada. O Estado então passa a criar políticas sociais para responder à essas 
questões. Neste momento começa a se evidenciar as organizações da classe operária, 
quando os trabalhadores sentem-se ameaçados nas fábricas. O Estado passa a intervir 
 
2
O neotomismo é uma corrente filosófica surgida no século XIX com o objetivo de reviver a filosofia de Santo 
Tomás de Aquino, do século XIII, o tomismo, a fim de atender aos problemas contemporâneos. A condição de 
exploração e miséria em que vivem os operários na Europa do final do século XIX, decorrentes da industrialização e 
do desenvolvimento do capitalismo, leva a Igreja a se posicionar, pois este momento era visto por esta como de crise 
e decadência da moral e dos costumes cristãos. A Igreja vê, então, no ressurgimento das ideias de Tomás de Aquino 
o caminho para o enfrentamento desta realidade.(https://pt.wikipedia.org/wiki/Neoescol, visualizado em 
06/07/2019) 
 
 
16 
 
através da igreja, criando ações de assistência, e, a primeira delas é a Legião Brasileira 
de Assistência (LBA), no governo Vargas em 1942. 
Em 1946 foi criada a Associação Brasileira das Escolas do Serviço Social (ABESS), 
como veremos mais adiante. No ano anterior, é realizado no Chile, o 1º Congresso Pan-
Americano de Serviço Social, com representatividade de 14 delegações estrangeiras, 
entre elas a do Brasil. É neste Congresso que o Serviço Social começa a mostrar um 
posicionamento político e ideológico em supremacia, mas ainda com um viés de 
“neutralidade” diante da relação capital-trabalho. É importante enfatizar, que o Brasil já 
se apresentava em posição mais “adiantada” na defesa de um Serviço Social que 
atendesse as classes operárias. 
[...] segundo a expressão de um dos participantes da delegação oficial 
brasileira – que se posicionava a favor de um Serviço Social ao lado dos 
operários, afirmando, inclusive, que as organizações operárias são as 
únicas legítimas fontes mantenedoras dos Assistentes Sociais. Prevalece 
amplamente a posição que afirma o caráter de neutralidade, conciliação 
entre o capital e o trabalho, ação educativa e valorização integral do 
homem como fundamento do Serviço Social, e que este deve contar com 
a colaboração dos setores patronal eoperária [...] (IAMAMOTO, 2014, 
p.347). 
 
No mesmo Congresso foi discutido também, como tema central e mais importante, a 
formação para o Serviço Social, buscando definições de normas para o funcionamento 
das escolas especializadas, partindo-se de um “padrão mínimo de exigência”, condições 
essas que eram: currículo básico, plano de trabalho prático entre outros, que fosse 
representativo para todos. Com isso, a luta pela regulamentação do ensino e o 
reconhecimento da profissão foram de profunda importância para a criação da 
Associação Brasileira de Escolas do Serviço Social (ABESS) e da Associação Brasileira 
de Assistentes Sociais (ABAS), que juntas tiveram um importante papel no 
desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, e na instauração do primeiro Código de 
Ética Profissional dos Assistentes Sociais brasileiros. 
Em 1947 o CEAS organiza o primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social, 
reunindo representantes de entidades particulares e governamentais ligados ao Serviço 
Social e à Assistência, sendo assim uma preliminar ao 2º Congresso Pan-Americano 
que aconteceria no Brasil em 1949. Segundo Iamamoto, “A leitura dos Anais do Primeiro 
Congresso Brasileiro de Serviço Social mostra a ausência de uma temática central”, foi 
 
17 
 
apresentado um grande número de temas a serem discutidos, sem que se chegasse a 
um consenso central. Desta forma, os debates foram direcionados de forma a atender os 
“seis grandes campos” (Serviço Social e Família, Serviço Social de Menores, Serviço 
Social de Educação Popular e Lazeres, Serviço Social Médico, Serviço Social da 
Indústria, Agricultura e Comércio, e os Agentes do Serviço Social). “Essa diversidade de 
temas e de experiências – permitida pela organização bastante aberta do Congresso – é 
bem reflexo da situação do Serviço Social do Brasil”, conclui a autora. No mesmo ano, 
em Assembléia Geral da Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), é 
aprovado o 1º Código de Ética profissional do Assistente Social, que é considerado um 
marco do Serviço Social em função de atribuir legitimidade à profissão, caracterizando-
se como código pautado e orientado por princípios éticos religiosos, com respeito às 
Leis de Deus. Prima pela manutenção do sigilo absoluto, quase confessional, trata dos 
usuários como “pessoa humanas desajustadas” ou de forma individualista que deveria 
ser adaptadas à sociedade e a aceitar sua condição social. Todas essas características 
no Primeiro Código de Ética mantém a profissão ainda com teor cristão assistencialista e 
direciona seus profissionais a ter conduta espelhada nas pioneiras do Serviço Social e 
apresenta apenas os deveres do Assistente Social no seu relacionamento com os 
colegas e na organização de trabalho. 
Dois anos depois, em 1949, o 2º Congresso Pan-Americano de Serviço Social é 
realizado no Rio de Janeiro, e tem como tema central a Família - “O Serviço Social e a 
Família”(IAMAMOTO, 2014, p.351) onde pouco é apresentado de novo, porém já com 
um discurso menos apostolar, mas com relevante discurso psicologizante da técnica e 
com definição dos atributos para um Assistente Social: “deve ser equilibrado psico-
afetivamente para eliminar os conflitos e não ser causa dos mesmos”(IAMAMOTO, 
2014, p.351), e passa a ser denominado como um profissional “utilizador das técnicas de 
base científica, nos problemas de ajustamento do homem à coletividade e de integração 
do mesmo em si próprio”. Neste momento também já passa a enfatizar a importância da 
instrumentalidade do trabalho, elencando a entrevista como o principal instrumento. 
Inicia-se aí um afastamento do Serviço Social americano, ajustando-se à situação 
brasileira, buscando uma reformulação curricular, inserindo matérias como a economia, 
 
18 
 
sociologia urbana e rural, planejamento e psicologia social, estudo sobre pesquisa 
social, planejamento etc. 
Já nos anos de 1950, o chamado Serviço Social Tradicional traça sua ação através 
de um viés de formação social, moralizadora e intelectual das famílias, culpabilizando o 
sujeito pela sua condição. Baseava-se em atendimentos individualizados e de longa 
duração, buscando “adequar” o indivíduo ao comportamento moral esperado. Era o que 
pautava o Serviço Social de Casos, onde o “cliente”3 era submetido a um tratamento, já 
que seus problemas de adaptação com o chamado “normal” para a sociedade eram 
rotulados como “doença” e o sujeito tinha que entender a sua anomalia. O problema 
nunca era observado pela sua causa, isto é, de forma ampla, mas sim pelo “desajuste” 
do sujeito à sociedade. 
No período de consolidação da profissão, o trabalho com as famílias foi 
impulsionado através do desenvolvimento de técnicas que teve como direcionamento o 
conceitual do Serviço social americano - Método do serviço Social de Casos, que 
objetivava o “ajustamento” dos indivíduos ao seu meio social. Neste período os “clientes” 
eram submetidos a um método de ações imediatistas e individualizados que culpabiliza 
o “cliente”, sem levar em consideração as interferências do meio onde estavam 
inseridos. Partindo desta perspectiva para acessar auxílios e serviços oferecidos pelas 
instituições, os indivíduos e as famílias, após várias avaliações, eram orientados a 
realizar mudanças no seu modo de vida para se ajustarem ao modo de vida social 
estabelecido, consolidando assim uma perspectiva moralizadora onde os estudos 
sociais eram utilizados como instrumentos de julgamento moral e a real condição da 
família não eram considerados, o auxílio público só era disponibilizado temporariamente 
e apenas depois de comprovado e ter sido esgotado todas as possibilidades de 
utilização dos “recursos próprios do ambiente material e imaterial” (MIOTO, 210). Desta 
forma e sob essa orientação, os instrumentos e técnicas utilizados pelos assistentes 
sociais eram direcionados ao controle das famílias junto a um processo burocratizado 
que abrange tanto os procedimentos quanto à regulamentação para seus atendimentos. 
 
3
Terminologia utilizada pelos assistentes sociais na época, aos usuários atendidos. 
 
 
19 
 
Apesar da vertente tradicional impressa no atendimento, o Serviço Social consegue 
avançar no que se refere à legitimação da profissão, com a Lei nº 1.889, de 13 de junho 
de 1953 que dispõe sobre a estrutura do curso Superior de Serviço Social e o direito a 
diplomação dos agentes sociais em Assistentes Sociais. No ano seguinte o curso de 
Serviço Social passa a ter um currículo mínimo, resultante da luta das Associações 
ABESS e ABAS, o que foi de extrema importância para a formação dos profissionais que 
se formariam a partir daí. 
Nos anos de 1960-70, a autocracia burguesa ditava as regras quanto à formação 
e atuação dos Assistentes Sociais através das Universidades Católicas com seu 
conservadorismo e fortalecido pela política social e econômica implantada pela ditadura. 
É nesse cenário que o Serviço Social Latino Americano começa a esquadrinhar uma 
ruptura com a herança conservadora. 
As lutas sociais que se ampliaram por toda América Latina refletiram também nas 
universidades e estendem-se por várias vertentes sociais, trazendo um novo 
questionamento à profissão. Tais questões perpassam pelos fundamentos da profissão, 
assim como seu comprometimento ético, político e técnico-operativo, como também os 
fundamentos da formação profissional. Contudo, cada país tinha e tem sua 
particularidade, porém, a unidade de pensamento no esforço de estruturar um Serviço 
Social latino americano sem a interferência de métodos e teorias estranhos a sua 
realidade, buscando o comprometimento com as lutas sociais dos “oprimidos” e pela 
renovação social e dos métodos científicos para as atividades sociais. E assim surgia 
um movimento que teve início no 1º Seminário Regional Latino-Americano de Serviço 
Social, como veremos a seguir. 
 
1.1 Serviço Sociale o Movimento de Reconceituação no cenário brasileiro 
 
Com a retomada do desenvolvimentismo após o golpe militar de 1964, o avanço 
do crescimento industrial foi aprofundando desigualdade de classes. A partir daí, o 
Serviço Social vê a necessidade de reformulação de sua formação e ação para atender 
às novas necessidades da classe trabalhadora. Iniciam-se aí as primeiras manifestações 
de uma corrente de pensamento de um grupo ainda em minoria, que começam a 
 
20 
 
vislumbrar a necessidade de uma mudança na “prática da instituição Serviço Social”. 
Pelo cenário político que se apresentava naquele momento, essas manifestações não se 
espraiam pela categoria e ainda são muito restritas. Além disso, o discurso conservador 
ainda é hegemônico entre os Assistentes Sociais. 
A ruptura com a herança conservadora se expressa como uma procura, 
por uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação 
profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições 
sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca colocar-
se, objetivamente, a serviço dos interesses dos usuários, isto é, dos 
setores dominados da sociedade. Não se reproduz a um movimento 
“interno” da profissão. Faz parte de um movimento social mais geral, 
determinado pelo confronto e a correlação de forças entre as classes 
fundamentais da sociedade, o que não exclui a responsabilidade da 
categoria pelo rumo dado às suas atividades e pela forma de conduzi-las. 
(IAMAMOTO, 2013, p.42). 
 
Foi a partir do I Seminário Regional Latino-Americano de Serviço Social, realizado 
em Porto Alegre em 1965, que desencadeou o Movimento de Reconceituação na 
América Latina e no Brasil. 
 
A Reconceituação questionava o papel dos assistentes sociais no 
processo de superação da condição de subdesenvolvimento dos países 
latino-americanos em um cenário no qual os projetos desenvolvimentistas 
nacionais de corte democrático-liberal davam claros sinais de ineficiência 
e incompatibilidade com os reais interesses e necessidades da 
população […] Questionavam, portanto a condição e a posição dos 
países latino-americanos no contexto de dominação burguesa está 
fundamentada no grande monopólio internacional. Ou seja, pode-se 
afirmar que a Reconceituação foi, indubitavelmente, um fenômeno 
organicamente vinculado à conjuntura da sua época marcada 
mundialmente por uma crise em precedentes da ordem capitalista em 
sua fase monopólica. (ORTIZ, 2010, p.162) 
 
Esse movimento trouxe uma visão crítica sobre a profissão levando a reflexões 
sobre o impacto causado pela consolidação do capitalismo monopolista sob a classe 
trabalhadora dos países em condições de subalternidade. 
Com toda efervescência política do país, na América Latina e no mundo, com a 
mudança moral e cultural que começava a avançar, o Serviço Social começa a 
vislumbrar mudanças nos seus valores éticos e na atuação dos seus profissionais, 
despertando assim uma consciência crítica na profissão, e neste mesmo ano, foi 
definido pelo Conselho Federal dos Assistentes Sociais, o Segundo Código de Ética 
(1965). Um código que já aceita o pluralismo de seus profissionais e da sociedade, 
 
21 
 
identificando um novo perfil profissional que até então era totalmente voltado às 
pioneiras formadas pela igreja católica. Passa a certificar os Assistentes Sociais como 
profissionais liberais e entende que o sigilo profissional é primordial, porém, abrem 
precedentes quando o mesmo pode evitar um dano grave ao “cliente”, ao assistente 
social e ou a terceiros. Objetiva o cumprimento dos deveres cívicos sempre enfatizando 
a pátria e a humanidade, ainda envoltas no tradicionalismo e conservadorismo. Neste 
código de ética a necessidade do aperfeiçoamento profissional visando o progresso e a 
atualização do Serviço Social torna-se imprescindível. No que tange aos atendimentos e, 
dentro da lógica do conservadorismo, trata as categorias Clientes, Grupos e 
Comunidades, de forma a se manter um “julgamento” justo para solução dos “problemas 
sociais”. Em relação aos deveres dos profissionais, direcionam para um trabalho pela 
busca do “bem comum”, do estabelecimento da “ordem social”, contribuição para o 
“atenuamento das diferenças sociais” e defesa dos programas nacionais e 
internacionais. Com isso, o dever dos assistentes sociais ainda colocava-os em uma 
posição de subordinação a instituição e o caráter prioritário era a produtividade, isto é, 
completamente a serviço do capital; uma das marcas da contradição da profissão. 
 No Brasil, o projeto de desenvolvimento adotado pela ditadura, sobretudo 
associado aos grandes monopólios de origem norte americana, buscando atrair 
investimento externo objetivando um maior desenvolvimento industrial e inserir a 
economia brasileira na nova divisão internacional do trabalho, foi adotado uma política 
de arrocho salarial aumentando assim a exploração da força de trabalho que levou à 
“queda do padrão de vida dos trabalhadores”, aumentando as expressões da “questão 
social”. Para o enfrentamento da “questão social”, a ditadura utilizou-se do Estado e o 
empresariado como instrumentos para as práticas de repressão e de assistencialismo. 
Contraditoriamente, o Estado e as empresas privadas são os grandes empregadores do 
Serviço Social, o que reforçava o conservadorismo na atuação profissional imposto por 
estas instituições. 
O processo de Reconceituação do Serviço Social brasileiro vem acompanhando o 
movimento latino americano - com a intensa efervescência política do continente que 
sofre com o subjugo dos países periférico dependente imposto pelos países centrais, 
mas sempre de acordo com as particularidades brasileiras no âmbito do avanço do 
 
22 
 
capitalismo, que gera uma forma própria de responder às demandas. Mesmo com esse 
movimento, ainda há um veio muito forte de elementos tradicionais que 
contraditoriamente ainda foram mantidos por trazer em sua origem de formação os 
princípios conservadores e justificadores da ordem social burguesa. 
Toda essa movimentação começa a emergir nos meados nos anos de 1960 com 
a efervescência do momento político em que o país estava inserido. Com o golpe de 
1964 e o estabelecimento da ditadura, a categoria já mostra um engajamento político 
próprio, embora sempre em disputa com o eixo da vertente tradicionalista. 
A ditadura chancelou o chamado Serviço Social tradicional, buscando conter 
qualquer posicionamento/ação mais combativos, garantindo a atuação de profissionais 
funcionais ao sistema. Contraditoriamente, este processo trouxe uma ampliação na área 
de atuação profissional (mesmo que para reprodução de controle social já imposta pelo 
Estado), mas elevando a profissão do Serviço Social a uma formação acadêmica de 
nível superior. Com o chamado “milagre econômico” ocorrido da época, as empresas 
privadas passam a ser o grande empregador dos assistentes sociais com o intuito de 
controlar e vigiar a força de trabalho. O mesmo se deu com as organizações filantrópicas 
que se viram com dificuldades de atender às crescentes demandas das expressões da 
“questão social”, que, naquele momento, se agravou no contexto da ditadura. Não 
podemos negar que o mercado de trabalho para a categoria se ampliou sensivelmente 
diante desse contexto. Com essa ampliação de mercado surge a necessidade de um 
“novo” perfil profissional, mais “propositivo” para atender as demandas, porém 
corroborando com a manutenção funcional para o capitalismo. A partir daí o curso 
superior de Serviço social é inserido, com a reforma de 1968. 
A partir do Movimento de Reconceituação uma nova imagem começa a ser 
“desenhada”, pensando em um profissional com uma atuação voltada aos interesses da 
classe trabalhadora, com uma “vinculação orgânica” às demandas dos trabalhadores e 
com a luta para garantia de direitos. Para Netto (2015), nos anos de 1960 e 
especialmente pós-64, a “Renovação do Serviço Social” foi o marcomais importante 
para a profissão. 
A partir da aproximação do Serviço Social com as bases da teoria social de Marx, 
inicia-se um avanço no debate teórico-metodológico da profissão, o que levou a uma 
 
23 
 
“nova forma de pensar e trabalhar a família”. O novo paradigma traz a necessidade de 
considerar as necessidades apresentadas pelos “sujeitos singulares”, onde não se 
identifica mais o problema individual/família, como Mioto descreve. 
[...] tais demandas são interpretadas como expressão de necessidades 
humanas não satisfeitas, decorrentes da desigualdade social própria da 
organização capitalista. Assim, torna-se possível desvincular-se da ideia 
que as necessidades expressas nas famílias e pelas famílias são “casos 
de família” e, por conseguinte, as questões que afligem as famílias não 
se circunscrevem no campo da competência ou incompetência desses 
sujeitos. (MIOTO, 2010, p. 165) 
 
A outra forma é utilizando-se de uma ação profissional pensada, uma ação 
comprometida com a transformação social. 
[...] redimensionamento exigido em relação à ação profissional, tanto no 
que diz respeito ao seu alcance como a sua direcionalidade. Com a 
possibilidade de postular que as soluções dos problemas expressos na 
família e pela família, só se efetivem, de fato, com a transformação das 
bases de produção e reprodução das relações sociais - superação do 
modo de produção capitalista - exige-se que a ação profissional seja 
pensada na sua teologia. (MIOTO, 2010, p.165) 
 
Partindo desse novo direcionamento há o reconhecimento do movimento sócio-
histórico que deve ser considerado pelo Serviço Social, que passa a mediar às 
demandas com encaminhamentos pautados na categoria de Direitos e Cidadania. 
Os direitos, entendidos como caminhos para concretização da cidadania 
por meio de políticas sociais orientadas para o atendimento das 
necessidades humanas, e o Estado reconhecido como instância 
responsável por essa garantia e atenção (MIOTO, apud VIEIRA, 2004; 
LIMA, 2006). 
 
A teoria social crítica adotada trouxe um desenvolvimento e o reconhecimento do 
Serviço Social brasileiro como área de conhecimento. Porém a família não alcançou 
status de objeto de estudo de forma privilegiada no âmbito da profissão, o que causou 
efeitos insatisfatórios, uma vez que a intervenção com família não seria problematizado 
dentro da nova matriz teórica crítica que estava sendo adotada pela profissão. De 
acordo com essa determinação houve um “choque” no trabalho de campo dos (as) 
assistentes sociais já que tanto nas instituições públicas quanto nas privadas, as famílias 
continuaram na condição de sujeito privilegiados de intervenção, tornando esse episódio 
mais uma das contradições da profissão. Tal debate foi de grande efervescência para a 
 
24 
 
teoria social crítica (Mioto, 2010), cita Costa (apud GOULART, 1996) a família é vista 
“como um desvio de energia e de conhecimento que poderiam ser canalizados para 
setores dotados de maior capacidade de respostas em termos de transformação das 
relações sociais e em seu conjunto”. 
Estas e outras inquietações da categoria acompanharam os movimentos que 
viriam a seguir com a busca de não só uma nova imagem da profissão, mas, sobretudo 
pela incorporação da dimensão histórica na garantia e defesa de direitos. 
 
1.2 A importância do Movimento de Reconceituação4 do Serviço Social Latino 
Americana na Renovação5 do Serviço Social brasileiro: processo de construção 
de uma nova imagem 
 
A Reconceituação significou, segundo Netto (1991), “um expressivo avanço, pois 
permitiu a identificação do estatuto teórico como reconhecimento do assistente social 
como intelectual”. Com a Renovação o investimento teórico foi priorizado dando maior 
importância à “troca” entre o Serviço Social e os demais campos do conhecimento, já 
como interlocutor no processo. O Serviço Social passa também a ser ponto fundamental 
no desenvolvimento de pesquisas fortalecendo assim as vanguardas voltadas à 
investigação. 
Com isso, vários congressos vão surgindo como novos espaços, trazendo novos 
olhares à profissão. 
[...]esses eventos [...] deixam de ser espaços de consagração 
consensuais e se revelam território de polêmica. O papel das instâncias 
organizativas, pois, também se modifica: entidades que tradicionalmente 
tinham referendadas as suas propostas, neste processo vêem-se em 
xeque e são obrigadas a estabelecer uma nova sintonia com parcelas 
importantes da categoria profissional - tanto no que diz respeito a 
questõescorporativas como, e este é o ponto importante, a temática de 
outra natureza [teórica, ideológica e política] (NETTO, 1991, p.134) 
 
 
4
O Movimento de Reconceituação é denominado pela contestação ao tradicionalismo profissional, implicou um 
questionamento global da profissão; de seus fundamentos ídeos-teóricos, de suas raízes sociopolíticas, da direção 
social da prática profissional e de seu modus operandi.Iamamoto (2010, p. 205) 
5
Renovação é o conjunto de características novas, que no marco das construções da autocracia burguesa, o Serviço 
Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições[...], procurando investir-se como instituição de natureza 
profissional dotada de legitimação prática, através de respostas e demandas sociais e da sua sistematização, e de 
valorização teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais. Netto(2005, p.131) 
 
 
25 
 
É sob esse movimento de mobilização que acontecem quatro seminários 
importantíssimos para o Movimento de Reconceituação que começa aos poucos a 
passar da fase embrionária. Estes seminários foram promovidos pelo Centro Brasileiro 
de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS), que ficou responsável não 
só pela organização, mas também pela produção e publicação dos documentos 
produzidos. 
O 1º Seminário de Teorização do Serviço Social, realizado em Araxá-MG em 
1967, sob uma perspectiva modernizadora, foi à primeira expressão do Movimento de 
Reconceituação com início de uma transição entre o tradicional e o moderno, com a 
diferenciação entre os níveis de intervenção classificados entre macros sociais e micros 
sociais, onde o macro social define o perfil do “novo” profissional, mais voltado para 
necessidades de formulações de políticas sociais, para que os Assistentes Sociais 
passem a formular e planejar políticas para o desenvolvimento humano e não fiquem 
apenas por executá-las. Já nos micros sociais, o profissional se mantém numa posição 
apenas executora com uma relação direta com os usuários dos serviços. Outra 
abordagem do seminário é quanto à “perspectiva da globalidade” em relação ao 
indivíduo entendendo que ele, o indivíduo, “é o ator que internaliza normas e valores do 
seu meio social, desenvolvendo assim um comportamento adaptativo”(NETTO, 2015, p. 
227). Desta forma não se pode analisar apenas o indivíduo sem contextualizar o cenário 
social onde ele está inserido. O documento enfatiza que fatores como a infraestrutura 
social é de importância vital, pois trata de saúde, educação, habitação e serviços sociais 
e devem ser tratados com a mesma prioridade e igualdade dos fatores de infraestrutura 
econômica e física. E essas são alguns dos vetores teórico-metodológicos que 
compõem o Documento de Araxá. 
O 2º Seminário do Serviço Social foi realizado em Teresópoli-RJ, no ano de 1970. 
O Seminário de Teresópolis foi precedido de sete encontros regionais realizados em 
1968 para analisar o Documento de Araxá, e foi pautado pela Metodologia do Serviço 
Social, traçando a qualificação do assistente social. Em Teresópolis não foi produzido 
um documento final, mas a partir das discussões e reflexões realizadas pelos dois 
grupos de estudos formados pelos 35 participantes do seminário que tiveram seu 
enfoque na metodologia da prática, apesar das diferenças na linha de pensamentos, 
 
26 
 
houve um grande avanço a partir dodenominador comum que norteou a discussão, a 
“concepção científica da prática”, a “aplicação da metodologia”. 
Há um nítido avanço em face dos resultados que o Documento de Araxá 
consagrou: se, neste, a ênfase na “teorização” conseguira atrelar as 
concepções profissionais ao projeto da “modernização conservadora”, a 
reflexão desenvolvida em Teresópolis configura, no privilégio à questão 
da “metodologia”, a exclusão de viés tendentes a problematizar a 
inserção do Serviço Social nas fronteiras dos complexos institucional-
organizacionais que promoviam o processo da “modernização 
conservadora”...]em Teresópolis: o que está no centro das formulações, 
aqui, não são teorias, valores, fins e legitimidade (antes, esses 
componentes são dados como tácitos), mas sim a determinação de 
formas instrumentais capazes de garantir uma eficácia da ação 
profissional apta a ser reconhecida como tal pelos complexos 
institucional-organizacionais. Em Araxá, corao-se uma indicação do 
sentido sociotécnico do Serviço Social; em Teresópolis, cristaliza-se a 
operacionalidade deste sentido: obtém-se a evicção de qualquer 
tematização conducente a colocá-lo em questão, consolida-se o seu trato 
como conjunto sistematizado de procedimentos prático-imediatos 
suscetíveis de administração tecnoburocrática. (NETTO, 2015,p.244-245 
- grifos do autor) 
 
Como não houve a elaboração de um documento final, o Centro Brasileiro de 
Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais, publicou os relatórios de cada grupo 
separadamente, com visões diferentes, porém com o mesmo enfoque; a requalificação 
profissional e a redefinição do papel sociotécnico do assistente social. 
A Reconceituação do Serviço Social trouxe a construção de uma nova imagem da 
profissão. Um processo que começa com a Renovação do Serviço Social com 
mudanças na base da formação profissional do assistente social transformando a 
profissão e dando um novo posicionamento na divisão do trabalho, sua visão sobre as 
novas demandas passando a considerar a realidade. 
Dependem, fundamentalmente, do grau de maturação e das formas 
assumidas pelos embates das classes sociais subalternas como o bloco 
do poder no enfrentamento da “questão social” no capitalismo 
monopolista dependem, ainda, do caráter das políticas do Estado, que 
articuladas ao contexto internacional, vão atribuir especificidades à 
configuração do Serviço Social na divisão social do trabalho. 
(IAMAMOTO, 2013, P.101). 
 
Neste período, anos de 1970, a família, instituição reprodutora de forças 
produtivas e de novas forças de trabalho, evidencia o seu importante papel também de 
produção doméstica que, para além de gerar e manter um contingente de força de 
 
27 
 
trabalho que posteriormente será absorvido pelo modo de produção capitalista. Porém, 
para que essa absorção seja concretizada é necessário que esta mão de obra, além de 
condições “físicas”, também tenha condições intelectuais mínimas para a linha de 
produção. Com essa inserção da família como produtora e reprodutora de vida e da 
produção social e privativa, é recriada pela família a divisão social do trabalho que 
confere aos homens a produção social, realizada através da força de trabalho vendida e, 
para a mulher, a produção privada com a criação dos filhos, os trabalhos domésticos, 
etc. Com a deflagração da crise econômica mundial, a partir dos fins dos anos de 1970, 
pela sua importância na preservação do modo de produção a família começa a ser 
revista como agente privativo de proteção social, fazendo com que os órgãos 
governamentais comecem a desenvolver medidas de apoio familiar. Este apoio começa 
a ser implantado com foco especial às crianças, utilizando-se de medidas como 
aconselhamento e auxílios como nova forma de “ajuda” material aos pais, ampliação das 
visitas domiciliares realizadas por agentes oficiais, programas de redução da pobreza 
infantil, políticas de valorização da vida doméstica, etc., todas essas medidas foram 
visando à desagregação familiar. Vários instrumentos de conscientização utilizados para 
o combate à violência doméstica, à vadiagem, gravidez na adolescência, drogas e aos 
abusos sexuais. Alguns países programaram políticas que disponibilizavam suporte 
financeiro às famílias e outros optaram pela defesa da manutenção da mulher como 
trabalhadora no tradicional “papel de dona de casa”. Mesmo nesse contexto, com tantas 
políticas voltadas às famílias em alguns países, e a redescoberta da instituição família 
como uma importante rede de proteção, nem todos os países “capitalistas centrais” 
adotam essas políticas, isso reflete nos países periféricos como o Brasil. 
O 3º Seminário realizado em Sumaré, foi realizado em 1978 no Centro de 
Estudos do Sumaré, discutisse neste momento uma visão metodológica científica da 
construção e aplicação do Serviço Social buscando uma compreensão do todo através 
de uma interpretação fenomenológica do estudo científico do Serviço Social, já com uma 
abordagem dialética. 
A produção dos documentos durante o seminário ficou limitada aos participantes 
que ministravam cursos de Mestrado no Brasil; São Paulo, Rio de janeiro e Porto Alegre. 
O seminário foi construído a partir de uma pesquisa realizada em 1976 para saber que 
 
28 
 
temática deveria ser abordada para dar continuidade ao documento iniciado em Araxá. 
Com essa pesquisa, foi proposto que os documentos bases seriam produzidos a partir 
dos temas Serviço Sociais e Cientificidade, Fenomenologia e Dialética, desta forma 
conceituaram-se neste documento a cientificidade para o conhecimento da realidade, a 
fenomenologia como metodologia de análise dos fatos reais e das ações proposta 
(teoria-ação-teoria), e ainda a fenomenologia como “Ciência do vivido”, de Husserl6. 
Neste documento ficou destacado que o Movimento de Reconceituação evidenciou as 
contradições do Serviço Social através de uma nova visão que se opunha ao 
tradicionalismo, e por esse motivo se faz necessário a revisão teórica metodológica, e 
para isso apresentou-se as dialéticas metodológica fenomenológica. Em contrapartida, 
ratifica-se o Serviço Social como uma ferramenta do Estado para manutenção e 
reprodução do sistema de produção capitalista, e ficou aprovado o método dialético 
como referencial das ações e interpretações do profissional. 
A necessidade de pesquisar uma nova perspectiva teórica e metodológica que 
norteasse o assistente social para o desenvolvimento do seu trabalho e com esse novo 
pensamento, perceber o Serviço Social como uma profissão de transformação com 
posicionamento crítico da categoria. Sumaré não foi um seminário “conclusivo”, mas sim 
de uma abertura para novos debates e discussões para ampliação da compreensão dos 
assistentes sociais em relação à profissão e ao cenário brasileiro da época. 
O 4º Seminário, do Alto da Boa Vista é realizado em 1984, juntamente com o 
seminário anterior, Sumaré, apesar dos seus avanços, trazem como características 
principais o que José Paulo Netto chama de reatualização do conservadorismo. Uma 
vertente renovadora que é apresentada na tese de livre-docência de Anna Augusta de 
Almeida (1978), onde é apresentada uma “nova proposta” ainda remetendo-se aos 
documentos produzidos no seminário anterior. 
De acordo com o autor, a forma „simplista‟ utilizada pelos conferencistas nas suas 
intervenções, ficou sendo o “ponto central” do encontro, e é nítido percebê-lo no material 
publicado a partir do encontro. Há também o que o autor denomina de “reatualização do 
conservadorismo”, que permeia a perspectiva modernizadora. 
 
6
Husserl foi um matemático e filósofoalemão
]
 que estabeleceu a escola da fenomenologia. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Husserl (visitado em 16/06/2019) 
 
29 
 
O lastro conservador não foi erradicado do Serviço Social pela 
perspectiva modernizadora [...] ela explorou particularmente o seu vetor 
reformista e subordinouas suas expressões às condições das novas 
exigências que a “modernização conservadora” colocou no exercício da 
profissão. (NETTO, 2015, p.259) 
 
Porém, como Netto bem destaca o “conjunto de processos sócio-histórico e 
teórico-ideológicos”, que começam a ser discutidos a partir de 1960, mais o acúmulo 
adquirido pelo Serviço Social e o momento político e cultural do país (1960-1970), 
arrefeceu, porém não acaba com o conservadorismo que é apresentado com uma “nova 
roupagem”. 
Desta forma, no Seminário de Sumaré e Alto da Boa Vista encerram o ciclo de 
seminários que foram de suma importância para o Movimento de Reconceituação 
iniciado nos anos de 1960, com os dois primeiros seminários Araxá e Teresópolis, 
apontando uma perspectiva modernizadora ao Serviço Social, e os dois últimos, Sumaré 
e Alto da Boa Vista, com uma proposta de reatualização do conservadorismo. 
A nova proposta tem segundo o que Netto chamou de mais saliente, a solicitação 
de um suporte metodológico que não era utilizado no Serviço social brasileiro, que é o 
recurso à fenomenologia7 como recurso para “reelaboração teórica e prática da 
profissão. O autor ainda pontua que, “antes de seu surgimento, o pensamento 
fenomenológico era verdadeiramente desconhecido na elaboração profissional 
brasileira”. 
[...] a “nova proposta” recupera o que há de mais consagrado no 
tradicionalismo profissional: a herança psicossocial, a tendência à 
centralização nas dinâmicas individuais e o viés psicologizante Recupera, 
especialmente, a intervenção em nível de micro atuação, concedendo-lhe 
uma legitimação que encontra na retórica da pessoa e da existência um 
fundamento que, embora radicado no velho humanismo abstrato, adquire 
agora uma justificativa mais “profunda”. Esta revalorização da dinâmica 
interventiva em escala microscópica, dignificada com a saliência do 
“existencial-pessoal”, não somente reforça o tradicionalismo pela 
corroboração da validade do seu âmbito privilegiado de intervenção: 
tende a minimizar e a problematizar a validez do alargamento deste 
âmbito, que necessariamente incorpora as temáticas socioeconômicas. 
 
7
O termo fenomenologia foi criado no século XVIII, por J. H. Lambert, para designar o estudo puramente descritivo 
dos fenômenos, da forma como eles se apresentam à consciência (CHAUÍ, 1994 apud SURDI, 2008). Já como 
corrente filosófica, a fenomenologia foi fundada por Edmund Husserl, na Alemanha, entre o fim do século XIX e 
começo do XX. https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/psicologia/fenomenologia-o-que-e/52094 
(visitada em 16/06/2019) 
 
 
30 
 
Entretanto, tem outra função, de extrema importância contemporânea: 
contribui para subsidiar uma nova “celebração profissional”, tão 
necessária a profissionais que vêem seu estatuto posto em questão (quer 
por pressões sociais institucionais, em nosso caso decorrente da 
“modernização conservadora”, quer por modificações socioculturais ou 
perdas no interior da própria categoria profissional). Se a “nova proposta” 
não é operacionalizada por eles, ao menos funciona como chancela para 
prática microscópica e subalterna e para a interdição das tendências 
renovadoras que a criticam. (NETTO, 2015, p.312-313 - grifos do autor). 
 
Além disso, Netto pontua também o distanciamento dos autores que reivindicam a 
aproximação do pensamento fenomenológico com as fontes originais e utiliza-se de 
fontes secundárias, o que lhe trás um aspecto “raso” nas problematizações, o contrário 
do que se mostra na sua fonte, como um processo “complexo, multívoco, às vezes 
ambíguo, evanescente, obscuro, matizado, aparece nos textos do Serviço Social com 
uma clareza suspeita”, e tendia a reforçar práticas tradicionais e conservadoras das 
quais a profissão procurava romper. 
 
1.2.1 Perspectiva Renovadora - Intenção de Ruptura 
 
A perspectiva renovadora, denominada por Netto (1991) de “intenção de ruptura”, 
surge na academia em meados dos anos de 1970 e vai até os anos de 1980. Com o 
declínio da ditadura e o “florescimento da democracia” (ORTIZ 2010), espalha-se pela 
categoria profissional e teve como iniciativa e percepção da experiência vivenciada em 
Minas Gerais, através do Método BH que, segundo a autora, foi o único que se colocava 
“diametralmente oposto aos princípios e fundamentos do chamado Serviço Social 
tradicional”. 
Para Netto (2015), a “elaboração do grupo de Belo Horizonte permanecerá como 
um marco” de emersão do Serviço Social renovado. O grupo elaborou uma proposta 
profissional que se opunha ao tradicionalismo e foi pensado através de critérios 
teóricos, metodológicos e interventivo, que dava ao Serviço Social uma “fundamentação 
orgânica e sistemática”, traçando a historicidade das “classes exploradas e subalternas”. 
A formulação renovadora diagramada pela equipe de Belo Horizonte trás uma 
“alternativa global do tradicionalismo”, o “método” elaborado pelo grupo ultrapassou a 
crítica ideológica própria do tradicionalismo, desenhando um projeto profissional inteiro 
com uma abrangência, chamada por Netto de “caráter globalizada”, que alcançava até 
 
31 
 
mesmo os suportes acadêmicos para formação dos quadros técnicos e para intervenção 
do Serviço Social. A elaboração de uma “súmula crítica ao tradicionalismo” com uma 
visão panorâmica da evolução da própria escola de Belo Horizonte. 
Nesta súmula, a equipe formula ao que denomina de “Serviço Social 
Tradicional” (e que considera “inadequado à realidade latino-americana”, 
visualizada como resultante de “características gerais -- consequência do 
processo de desenvolvimento do sistema capitalista” --, mas que 
assumem feições particulares a nível de cada país”. (NETTO, 2015, 
p.353) 
 
Nesta súmula três elementos são pontuados, a saber; a ideopolítica, que critica a 
neutralidade e ações voltadas para defesa de “determinados interesses”; a teórico-
metodológico, criticando a forma fragmentada e microscópica como a realidade era 
tratada; e o operativo-funcionais, que pela perspectiva tradicional tratava o “objeto” de 
forma unilateral e sem traçar um limitação prioritária. A partir desta análise a equipe de 
BH projeta uma nova proposta para “transformação da sociedade e do homem”. Essa 
amplitude na objetivação do Método BH suscitou alguns questionamentos quanto à 
clareza teórica a as “causas político-ideológicas de fundo” (NETTO, 2015), isso porque 
trás além de outros questionamentos, a questão da “concepção sobre o próprio estatuto 
do Serviço Social. O autor pontua algumas “falhas” quanto à elaboração do documento, 
como o simplismo da noção de “classe oprimida”, que por não ter havido uma análise 
crítica mais profunda, não deu conta de explicar a “complexidade da sociedade 
brasileira”. 
Na noção de “classe oprimida” compreendem-se dois simplismos -- um 
teórico, outro crítico-analítico. Ela, noção basicamente política (que, no 
entanto, parece recobrir determinações econômicas: os explorados estão 
subsumidos nos oprimidos), sugere a remissão a uma estrutura social 
paradigmaticamente dicotômica, o que compromete à partida não apenas 
o seu potencial de orientação para intervenção, mas, sobretudo a sua 
capacidade de decifrar o real. 
[...] mas como ela não foi operada com profundidade crítica, a inépcia da 
noção para dar mínima conta da complexidade social brasileira não foi 
explicitada. Tão somente depois da intervenção prático-profissional que 
conduziram no processo do experimento é que os formuladores de Belo 
Horizonte constataram que havia algo de problemático neste seu 
instrumento de conhecimento, algo perfeitamente evitável com uma 
clarificação teórica prévia que fosse mais apurada. (NETTO, 2015, p.355-
356) 
 
 
32 
 
A análise crítica de Netto também se estende ao “objetivo-meta”, que é colocado 
de forma global, “a transformação da sociedade e do homem”, sem considerar um 
recorte importante para uma análise crítica, como a “o sentidoda transformação”. 
A problematicidade estende-se ao “objetivo-meta”. Aqui, há mais que o 
equívoco megalômano de atribuir, in totum e sem mais, “a transformação 
da sociedade e do homem” a uma profissão, situando como objetivo 
profissional o que só legitimamente pode ser posto como perspectiva 
histórica a enquadrar um projeto profissional. (NETTO, 2015, p.356 - 
grifos do autor). 
 
Todos estes “equívocos” podem ser entendidos pelo distanciamento do grupo das 
leituras do marxismo de fontes que segundo Netto, já se tratava de “típica do marxismo 
vulgar”, o “marxismo sem Marx”. 
O “marxismo sem Marx” que informa a reflexão belo-horizontina, 
precisamente à falta de uma sustentação ontológico-dialética e na escala 
em que devia conectar teoria e intervenção prático-profissional, vai à 
direção da conjunção do fatalismo mecanicista com o voluntarismo 
idealista -- numa “síntese” que, como Lukács o demonstrou há muito, é 
típica do marxismo vulgar, necessariamente eclético (Lukács, 1974). 
“Assim é que o Método Belo Horizonte”, combinando o formalismo e o 
empirismo na sua redução epistemológica da práxis, estabelece vínculos 
iluministas entre concepção teórica e intervenção profissional, deforma as 
efetivas relações entre teoria, método e prática profissional e simplifica 
indevidamente as mediações entre profissão e sociedade. (NETTO, 
2015, p. 365 - grifos do autor) 
 
Todas essas reflexões acerca do Método BH não desmerecem a contribuição 
importantíssima da escola de Belo Horizonte no processo de intenção de ruptura e para 
uma alternativa que oferecia ao tradicionalismo, e de clarificar “a projeção de um quadro 
profissional” que deve considerar as dimensões política, teórica e interventiva para poder 
analisar a sociedade e seus campos de força contrária, análise essa que deve ser 
realizada a partir do “acúmulo existente e da habilitação investigativo-sistematizadora”, 
de modo a utilizar este acúmulo para um “enfrentamento eficiente na prática profissional.
 
O grupo de Belo Horizonte em sua “proposição global de alternativa ao 
tradicionalismo”, estava em sintonia com a vertente renovadora mais crítica da América 
latina com a perspectiva da intenção de ruptura, defrontando com questões “candentes 
da configuração teórica, ideológica e operativa que constituem uma profissionalidade 
como a do Serviço Social” e trazendo um referenciado marxiano, e foi um passo 
 
33 
 
importante para o “marco” para a inflexão viria à tona dez anos mais tarde com 
Iamamoto, “pedra angular para erradicar da intenção de ruptura as contradições 
empiristas, formalistas e (neo) positivistas (Netto, 2015). Iamamoto faz suas reflexões 
sobre a profissão “Serviço Social como profissão referenciada ao contexto de 
aprofundamento do capitalismo”, e como o Serviço Social produz e reproduz as relações 
sociais. Seus ensaios apresentam duas negações como críticas à profissão, a vertente 
mecanicista, que defende ser o Serviço Social um instrumento a serviço do poder 
político; e a vertente voluntarista, “ao considerar o assistente social como „o agente de 
transformação‟” não identificando, nem explicando o genuíno caráter da prática 
profissional. Para Iamamoto essas duas colocações são unilaterais, e desenvolve uma 
“interpretação” alternativa a elas. As relações humanas e suas reproduções, uma 
reflexão já sob o método dialético de Marx e desenvolvida já a partir das leituras 
marxianos fundamentais, em especial O capital, como Netto nos explica. 
“ela recupera, a partir da rica categoria de produção social, a 
especificidade histórica da ordem burguesa, com a processualidade das 
relações sociais sendo resgatada pelo desvelamento dos mecanismos da 
reificação. Para tanto Iamamoto procede a um tratamento inicialmente 
sistemático da produção social capitalista: tomando-a como “relação 
social entre pessoas, entre classes sociais que personificam 
determinadas categorias econômicas” (IAMAMOTO, 1982, p.12 - apud 
NETTO, 2015, p. 370). 
 
 
Paralelo a isso, Netto destaca a “relevância” da reflexão de Iamamoto realizada 
posteriormente ao Método BH, que sinaliza o amadurecimento intelectual da perspectiva 
da intenção de ruptura. 
[...]seu trabalho sinaliza a maioridade intelectual da perspectiva da 
intenção de ruptura -- ponto de inflexão no coroamento da consolidação 
acadêmica do projeto de ruptura e mediação para o seu desdobramento 
para além das fronteiras universitárias. Trata-se de uma elaboração que, 
exercendo ponderável influência no meio profissional, configura a 
primeira incorporação bem-sucedida, no combate brasileiro, da fonte 
“clássica” da tradição marxiana para compreensão profissional do Serviço 
Social. É absolutamente impossível abstrair a reflexão de Iamamoto da 
consolidação teórico-crítica do projeto da ruptura no Brasil. (NETTO, 
2015, p.350-351 - grifos do autor) 
 
A importância dos estudos elaborados pela autora, captando o significado social 
do Serviço Social, em um esforço em compreender a profissão historicamente, 
 
34 
 
contemplando a profissão como “realidade vivida e representada na e pelas 
consciências de seus agentes” (ORTIZ, 2010, p.170) 
Tudo isso, e muitos outros pontos abordados pelos autores, tornam-se um 
balizador e orientador para o aprofundamento da prática metodológica e direcionamento 
de estudos e pesquisa atuais do Serviço social. 
[...] a Reconceituação põe na ordem do dia uma nova concepção de 
profissão na medida em que nega a prática meramente executiva, 
burocrática, subalterna e paliativa tão funcional à ordem burguesa, e 
desvela a dimensão política da intervenção profissional, a qual, a meu 
ver, contribuiu mais tarde decisivamente para a renovação da auto-
imagem profissional, assentada na defesa de direitos. (ORTIZ, 2010, 
P.170). 
 
Esta nova relação com a profissão começa a ser construída ainda com a Intenção 
de ruptura que trouxe novas e importantes inflexões para o redirecionamento da auto-
imagem. 
A inclusão do Serviço Social na academia trouxe conseqüências não previstas 
para o sistema, com a aproximação de profissionais das áreas de formação das ciências 
Humanas (Sociologia, Psicologia e Antropologia), bem como dos assistentes sociais 
formados há mais tempo e os novos recém formados, o que trouxe uma oxigenação 
muito grande e que dinamizou o debate profissional trazendo algumas características de 
herança conservadora, porém já se afastando do confessionalismo e ainda em 
pequenos números, as que começam a trazer as ideias de intenção de ruptura com o 
bloco conservadorista. Todo esse movimento passa a reconhecer o assistente social 
como um intelectual. A Renovação traz sobretudo a priorização da formação acadêmica 
do assistente social e dos embasamentos teóricos, levando a um diálogo importante 
com os demais campos do saber, agora já como interlocutor, dando legitimidade à ação 
profissional do assistente social. Traz também um importante e imprescindível 
posicionamento político na prática profissional pela luta de classes levando-os a se 
mobilizar para criação e implementação de políticas sociais para atender a classe 
trabalhadora. 
Tal mobilização leva a ruptura com ações até então incorporadas à profissão 
como o voluntarismo, a prática rotineira e burocratizada, as tendências empiristas, o 
alheamento central do modo de vida do povo e o desenvolvimento do saber popular etc., 
 
35 
 
(IAMAMOTO, 42). Passa a ser assumido então um posicionamento crítico dos 
assistentes sociais ainda que em sua minoria. Este posicionamento crítico é essencial 
para a análise do momento político econômico que afetam de forma desfavorável os 
setores populares, isto é; a classe trabalhadora. 
Iamamoto enfatiza a importância da historicidade da sociedade burguesa na 
produção social capitalista e na importância da análise do processo social em sua 
totalidade. 
Antes de avançar, para acompanhar a reflexão da autora, é importante 
realçar um elemento axial, quea singularidade dentre as elaborações 
construídas no marco do Serviço Social: a justa compreensão que 
Iamamoto tem da postura teórico-metodológica marxiana. Provavelmente 
auxiliada pelo fato de enfrentar as fontes “clássicas”, só adjetivamente 
recorrendo a intérpretes, ela consegue superar os vieses mais 
generalizados na tradição marxista e comprometer-se com a perspectiva 
ontológica original de Marx. É esta correta postura teórico-metodológica 
que garante a Iamamoto uma angulação do processo social que está 
sempre inscrita no ponto de vista da totalidade (que, desde 1923, Lukács 
insistia ser o próprio e o pertinente do método Marx) e lhe assegura a 
base para procedimentos sempre felizes na caça às mediações. (NETTO, 
2015, p.371 - grifos do autor) 
 
No tema da divisão social do trabalho, referindo-se ao segundo capítulo do ensaio 
de Iamamoto, Netto compreende que apesar dos estudos traçando uma linha histórica 
para localizar o “espaço profissional do Serviço Social”, sempre alicerçada basicamente 
na bibliografia “clássica”, contextualizando a origem da divisão social do trabalho através 
da sua disposição na ordem burguesa, “reconstituindo as formas com que a divisão 
social do trabalho vem se revestindo da manufatura à grande indústria, Iamamoto agarra 
-- sempre seguindo os passos marxianos”, Iamamoto não atinge uma análise satisfatória 
sobre o tema. 
Numa palavra, Iamamoto não conseguiu aprofundar as fecundas 
indicações marxianas de que se socorre com procedência. Apontando 
embora para o espaço social a ser ocupado por desempenhos 
profissionais do gênero do Serviço Social, sua análise -- no plano estrito 
da divisão social do trabalho -- carece de um desenvolvimento teórico 
que dê conta das múltiplas (e novas) segmentações do trabalho coletivo 
na dinâmica capitalista contemporânea. (NETTO, 2015, p. 373 - grifos do 
autor) 
 
Para Netto (2015), faltou à Iamamoto uma “análise mais moderna”, considerando 
as transformações recentes da ordem burguesa. Adiante a autora em seus ensaios 
 
36 
 
passa a analisar o “Serviço Social no processo de produção das relações sociais”, e 
“captar o significado social dessa profissão na sociedade capitalista”, Iamamoto se 
empenha a situar historicamente a profissão dentro da divisão social do trabalho e como 
utiliza seus subsídios para produção e reprodução das relações de classes sociais. 
A inserção do Serviço Social, como operação teórico-crítica, na 
reprodução das relações sociais, contemplada a profissão como 
“atividade socialmente determinada pelas circunstâncias sociais objetivas 
que conferem uma direção social à prática profissional [...], esta inserção 
é que interessa a Iamamoto. E ela concretiza inscrevendo a prática 
profissional no terreno das intermediações entre as classes sociais 
fundamentais: entende Iamamoto que só neste campo mediador o 
Serviço Social existe como profissão e tem determinadas as suas 
alternativas de ação. (NETTO, 2015, p.374) 
 
O autor pontua a clareza e a assertividade de Iamamoto ao falar sobre a 
importância do Serviço Social na transição do capitalismo concorrencial ao monopolista 
e que a intervenção do Estado sobre as demandas da “questão social”, pelas quais a 
classe trabalhadora enfrenta, necessitam de políticas públicas e não mais de ações 
caritativas, e sim de uma intervenção do Estado. 
A abrangência dos temas focados por Iamamoto são todos em consonância com 
as transformações do Serviço Social para uma ruptura com o conservadorismo. 
Segundo Netto, “Vale dizer: para Iamamoto, um novo dimensionamento político da 
profissão supõe o atendimento de requisições teóricas e intelectuais novas.” 
A intenção de ruptura consolidou-se com os estudos marxianos dos ensaios de 
Iamamoto e avolumou-se com a contribuição de assistentes sociais que produziram um 
“acervo de representações” que provocaram um debate sobre a profissão no Brasil, e 
que abordaram a dinâmica “contraditória e macroscópica da sociedade abarcando a 
conjunção de temas econômicos com a crítica à economia política e a estrutura social, 
com análise das classes sociais, o seu poder político e as correlações de forças. 
Este é um processo importante para a renovação profissional, colocando o 
Serviço Social em consonância com a pluralidade da vida social e a 
“pluridimensionalidade dos projetos” que transpassam a sociedade brasileira. 
Como podemos ver, o processo de construção de uma nova imagem do Serviço 
Social vem sendo desenvolvido desde a década de sessenta, com várias movimentos e 
eventos realizados desde os meados dos anos 1960 e seu mais importante neste 
 
37 
 
processo se deu na Renovação do Serviço Social “sobre o seu veio mais crítico 
nominado por Netto como Intenção de Ruptura” (Ortiz, 2010). A partir da inserção da 
profissão na divisão social e técnica do trabalho, pode-se perceber que os profissionais 
começaram a responder às demandas colocadas pela própria divisão do trabalho 
através de do seu posicionamento no “modo de ser, pensar e de responder” as estas 
demandas. No início, estas respostas ainda eram construídas sob “princípios e 
conservadores e justificadores da ordem social burguesa” para o enfrentamento das 
expressões da „questão social‟. Nas décadas que se seguiram há um movimento de 
questionamento sobre as “marcas de origem” da profissão, o que trás novos desenhos 
da profissão dando maior importância aos interesses da população brasileira. 
Dessa forma, parte-se do pressuposto que a construção da auto-imagem 
profissional renovada, cuja principal característica é a vinculação 
orgânica aos interesses e demandas dos trabalhadores, origina-se a 
partir de dois processos auto implicados, [...] um, que podemos 
caracterizar para fins de exposição, diz respeito diretamente à própria 
profissão e é resultado do acúmulo político e teórico advindo da 
interlocução de segmentos minoritários à época da chamada 
Reconceituação; o outro, mais afeito à conjuntura de transição 
democrática brasileira dos anos 80, cujo principal desfecho foi a 
promulgação da Constituição federal de 1988. A partir da interlocução 
destes dois processos [na medida em que o Serviço Social brasileiro 
recebe os influxos desse processo mais amplo], emerge e se fortalece na 
categoria profissional, e principalmente entre suas entidades, uma 
determinada imagem para a profissão, está atrelada e formalmente 
comprometida com os interesses majoritários da população brasileira e 
mais especificamente com a luta pela garantia de direitos. (ORTIZ, 2010, 
p. 154 - grifos da autora) 
 
Ortiz (2010), ressalta que, a auto-imagem aparente no projeto profissional que 
norteia a profissão, não é hegemônica e não extinguiu “os traços daquela imagem 
socialmente consolidada”. Desta forma, há um tensionamento entre a característica 
tradicional consolidada historicamente, e os “novos emergentes do salto qualitativo 
experimentado pelo Serviço Social nas últimas décadas”, e ambos convivem 
dialeticamente. 
Esta tensão, marcada por continuidades e rupturas, atravessa a imagem 
da profissão configurando-a, enquanto uma totalidade constituída 
dialeticamente por uma dupla face: a imagem social e a auto-imagem 
profissional, diversos lados da mesma unidade: a imagem da profissão. 
(ORTIZ, 2010, p. 155) 
 
 
38 
 
Na década de 1980 a profissão apresenta-se profundamente modificada, se 
comparada a “sua trajetória sócio-histórica desde as protoformas. A renovação política a 
partir da crise da ditadura corrobora com o Serviço Social já compromissado com os 
interesses da classe trabalhadora, e procura adquirir uma base de legitimidade. O 
Serviço Social anseia legitimar-se ante a classe trabalhadora. 
[...] a própria luta pela conquista e aprofundamento da democratização da 
vida social - do Estado e da sociedade no país, horizonte da socialização 
da política e da economia, que gesta o alicerce sociopolítico o qual vem 
permitindo tanto o deslocamento das interpretações

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