Buscar

História das religiões brasileiras

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Teologia da Revelação
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Paulo Sérgio Lopes Gonçalves
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
• O que é Teologia da Revelação? (Latourelle, 1993);
• A Apologética (Libânio, 1992);
• Rumo à Teologia Fundamental (Torrel, 1993);
• Teologia Fundamental: Novo Nome da Teologia 
da Revelação (Fisichella, 1999).
• Conceituar teoricamente a Teologia da Revelação, concebida também como 
Teologia Fundamental.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
A Teologia da Revelação 
como Teologia Fundamental
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas:
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como seu “momento do estudo”;
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão 
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o 
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e 
de aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e de se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
O que é Teologia da Revelação? 
(Latourelle, 1993)
Nesta unidade, teremos como objetivo conceituar teoricamente a Teologia da 
Revelação, concebida também como Teologia Fundamental. 
Não se trata apenas de mudança de nomenclatura, mas de compreensão do que 
se pretende com um novo nome para tratar do mesmo assunto: a revelação de 
Deus em perspectiva cristã. 
Para que compreendamos conceitualmente esta Disciplina, torna-se necessário 
decifrarmos o significado do nome Teologia da Revelação, remetendo-nos ao sen-
tido de cada palavra que compõe esse nome.
Realçamos a relevância do nome porque é por seu intermédio que alcançaremos 
a compreensão da identidade desta Disciplina como uma Disciplina teológica e, 
com pertinência e importância ímpar, no corpus theologicus universalis. 
Quando pensamos no nome Teologia da Revelação, temos de dividi-lo em dois: 
Teologia e revelação. Por Teologia, etimologicamente, nós nos remetemo a duas 
palavras gregas: theós e logos, designando, respectivamente, a divindade ou as 
divindades e a sapiência ou, propriamente, o estudo de alguma coisa. 
Desse modo, afirma-se que Teologia é o estudo ou ciência referente a deus ou 
deuses – no caso das concepções religiosas politeístas, que são as que creem em 
diversas divindades. 
Na Grécia antiga, a theologia era concebida como a área filosófica que estudava 
a Mitologia, constituída de diversos mitos, concebidos como gêneros constituídos 
de deuses, heróis, animais fantásticos etc. e que serviam de explicação acerca do 
mundo e do homem. Quando o Cristianismo se inseriu na História, a Teologia 
passou a ser um discurso realizado mediante a fé em Jesus Cristo, concebido como 
Filho de Deus, Messias e Salvador da Humanidade, que viveu como missionário 
itinerante, sofreu, morreu, ressuscitou dos mortos e ascendeu-se aos céus para se 
sentar à direita de Deus Pai, deixando o Espírito Santo aos seus discípulos, a fim 
de que levassem a cabo o projeto de seu Reino, mediante a constituição da Igreja 
que evangeliza a Humanidade.
Várias são as maneiras de se produzir Teologia, em função de que a fé se articula 
com a realidade cultural, social e política de cada época histórica, para se manifestar 
em sua inteligência, na condição de Teologia, ou propriamente, como scientia fidei 
– Ciência da fé, conforme designou Tomás de Aquino. 
A consideração da Teologia como Ciência da fé nos leva a perguntar o que é a fé? 
A fé corresponde ao ato de acreditar, de crer e confiar. Por exemplo, quando 
temos fé na amizade, confiamos em nossos amigos e com isso podemos contar-
-lhes um segredo, ou ainda, quando temos acreditado em alguém, somos capazes 
de acolher a sua revelação sobre algo de sua vida ou de uma determinada situação, 
sem contar nada a ninguém ou sem tomar atitude que rompa com a confiança 
daquela pessoa. 
8
9
Então, quando a intimidade ou segredo é compartilhado, tem-se confiança, 
credibilidade e fé na relação de amizade ou algo similar que estabeleceu entre 
as pessoas. Nisso consiste a revelação: o ato de desvelar o que estava velado ou 
guardado para alguém que merece a nossa confiança. 
E a revelação ocorre no interior da própria História da relação entre as pessoas; 
História que possui as marcas da vida de cada pessoa, situada em seu mundo próprio 
e em relação com o mundo de outras pessoas e com o seu mundo de circunstâncias, 
que também são sempre históricas. Nesse sentido, a revelação acontece sempre na 
História construída e produzida pelos seres humanos, imbuída de dinamismo que a 
Humanidade efetiva historicamente. 
Quando a fé é pensada teologicamente, logo a confiança e a credibilidade nos 
remetem a Deus, que só pode ser confiável e só pode confiar em nós ao se revelar 
como Deus. 
Nesse sentido, a revelação pressupõe o ato anterior de velar, guardar, zelar o que 
é de Deus. Nisso consiste o que se denomina mistério de Deus: o escondido que se 
revela e quando se revela demonstra que há algo ainda de escondido a ser revelado. 
Mas devemos nos perguntar: por que Deus se revela a nós? O que temos de 
importante para que Deus confie em nós e se nos mostre confiável?
A fé na revelação bíblica responde: Deus é amor que nos amou por primeiro 
(1Jo 3,1). O amor, para se mostrar como amor sai de si e se apresenta ao outro, 
amando-o com toda profundidade que é própria do amor. Trata-se de uma profun-
didade que se efetiva na própria História humana, compreendida como o campo 
da revelação de Deus aos seres humanos ou, ainda, como o espaço em que Deus 
se autocomunica ao ser humano, revelando o seu amor pela Humanidade. 
Ao considerarmos a concepção de Teologia e de Revelação, temos a Teologia da 
Revelação, cujo escopo é refletir a revelação de Deus ao homem à luz da fé. Essa 
teologia possui, historicamente, um caráter apologético em relação à fé, pois objetiva 
explicitar as razões do ato de crer, para que a fé seja vivenciada por quem a professa. 
A Apologética (Libânio, 1992)
A Apologética é o ato de defender aquilo em que se crê ou em que se acredita, 
mediante uma explicação plausível, com a devida argumentação. Por exemplo, 
quando gosto de um filme e desejo apresentá-lo a alguém, então, faço uma sinopse 
que sustente a ideia de que o filme é bom e possui valor para ser assistido. 
Algo similar acontece com a revelação cristã: a pessoa que adere a fé, que é 
sempre vivida na comunidade dos fiéis, buscará formas de defender a fé, expli-
cando-a com a argumentação que seja razoável e plausível em termos de raciona-
lidadeda fé. Isso significa que a fé possui inteligência e que a razão teológica é a 
razão dominando a fé à medida que é iluminada pela própria fé. 
9
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
No desenvolvimento da racionalidade da fé, a Teologia tem, historicamente, diversos 
tipos de Apologética ou formas diferentes de defender a fé cristã. No entanto, é sempre 
importante dar-se conta de que essa apologia ou defesa existe por dois motivos.
O primeiro é para explicitar as razões de professar a fé, compreendê-la e prá-
tica-la. Ninguém pode assumir a fé cristã sem celebrá-la, entendê-la e vivê-la em 
sua vida. Assumir a fé somente celebrando-a é incidir no que se denominou de 
“fideísmo”, que é é uma forma de afirmar a fé sem a utilização da razão, ignorando 
o uso da Filosofia e das Ciências para compreender o mundo e homem a quem 
Deus se revela.
Por outro lado, assumir a fé somente pela razão negando as dimensões de viên-
cia e de celebração é incidir no racionalismo, que impede a compreensão do que é 
efetivamente revelado pela fé. Por isso, para ser equilibrada, a Teologia necessita 
sempre da articulação entre fé e razão, em que a razão explicita os valores da fé, 
iluminada pela própria fé. 
Desse modo, a Apologética se torna integral à medida que explica as razões 
do ato de crer em Deus, na perspectiva cristã, mediante uma racionalidade da fé, 
que não é racionalista e muito meno fideísta, mas integral, constituída da correta 
articulação entre fé e razão. O segundo motivo da apologética corresponde à ne-
cessidade de defender a fé cristã das heresias ou das controvérisas que surgiram ao 
longo da História, tais como o racionalismo e o fideísmo modernos, as formas de 
afirmação dogmática acerca de Deus como Trindade, do Cristo, do Espírito Santo, 
de Maria e da prórpia essência do homem. 
Ao se defrontar com as heresias ou controvérsias, a Teologia da Revelação se 
caracteriza por afirmar a fé revelada mediante os símbolos da fé, a sistematização 
da fé por parte de alguns padres da Igreja, a dogmatização da fé em concílios dog-
máticos e o aprofundamento da fé realizado por alguns teólogos.
Os símbolos da fé são as profissões de fé que afirmavam Deus como Pai, Filho e 
Espírito Santo, cuja proclamação se efetiva nas celebrações batismais, pelas quais 
as pessoas iniciavam a sua vida eclesial. Também a celebração da eucarística, as 
práticas penitenciais e a imposição das mãos para o ministério episcopal e presbi-
teral são formas em que a fé trinitária encontra o ápice de sua expressão. 
Esses símbolos encontraram diversas formas na História, mas cabe ressaltar dois 
dos mais importantes: o símbolo dos apóstolos e o símbolo nice-constantinopolitano. 
No primeiro, tem-se a profissão de fé simples, em que, mesmo com as versões etió-
pica, copta e armênia, afirma-se a fé em um só Deus verdadeiro, Pai onipotente e no 
seu Filho unigênito, Senhor e salvador, e no seu Espírito Santo que vivifica a Trindade 
consubstancial; uma só divindade, uma única potestade, um só reino, uma só fé, um 
só batismo na santa Igreja católica e apostólica. 
No segundo, tem-se uma fórmula de maior sofisticação teológica, de forma 
bilingue – grego e latim – em que, além de afirmar a fé trinitária e eclesial, apri-
mora categorias e atributos a Deus. 
10
11
Desse modo, afirma-se um Deus único, que é Pai onipotente e criador, que ge-
rou o Filho Jesus Cristo, mediador da criação e da mesma substância do Pai que, 
por obra do Espírito Santo, assumiu a carne humana no ventre de Maria, sofreu e 
morreu na cruz, ressuscitou dos mortos no terceiro dia, subiu ao céu e sentou-se à 
direita do Pai. 
Esse Filho é juiz, Senhor dos vivos e dos mortos e possui um reino que não 
terá fim. Afirma-se, também, a fé no Espírito Santo, senhor e doador de vida, que 
procede do Pai e junto como Pai e o Filho deve ser adorado e glorificado. A fé na 
Igreja una, santa, católica e apóstolica é também afirmada, bem como a confissão 
de fé num único batismo para a remissão dos pecados. 
Pela afirmação de fé monoteísta trinitária e de eclesialidade única, santa, cató-
lica e apostólica, esses símbolos se tornaram instrumentos de defesa contra for-
mulações constrastantes à regra de fé, em especial as interpreetações triteísta, 
subordinacionista e modalista da fé em Deus. 
O triteísmo afirmava que não havia um único Deus, mas três deuses, o Pai, 
o Filho e o Espírito. Com isso, negava-se a consubtancialidade da divindade, a 
singularidade de cada pessoa divina, a própria categoria pessoa e a comunhão 
eterna entre as pessoas divinas. 
O subordinacionismo era uma formulação em que a divindade era atribuída so-
mente à pessoa do Pai, sendo que o Filho e o Espírito eram criaturas excelsas, que 
não se confundiam nem com a divindade, nem com os anjos e nem com os homens. 
O modalismo era a formulação em que se afirmava um único Deus, capaz de se 
manifestar de três modos ou com três máscaras diferentes, não havendo, então, o 
uso da categoria pessoa e, por consequência, nem a comunhão das pessoas divinas 
na única substancialidade divina. 
O uso desses símbolos se efetivou no Cristianismo por intermédio dos padres 
da Igreja que, em seus escritos doutrinários e homiléticos, transmitiam a fé cristã 
católica, com a devida regra de fé: crer em um úncio Deus que é Pai, Filho e Es-
pírito Santo, na única Igreja santa, católica e apostólica, na remissão dos pecados 
e na ressurreição dos mortos. Como exemplos de padres da Igreja cabe ressaltar, 
nos séculos II e III d.C., a presença de Tertuliano e Irineu de Lião, que escreveram 
respectivamente Contra Celso e Contra as heresias.
Os Concílios de Niceía (325 d.C.), Constantinopla I (381 d.C.), Éfeso (431 d.C.) e 
Calcedônia dogmatizaram a fé para combater as heresias e encontraram em Atanásio 
de Alexandria, Gregório de Nissa, Gregório Nazianzeno e Cirilo de Alexandria exem-
plos de padres que sustentaram teologicamente as formulações dogmáticas que as-
sentaram os conceitos de Teologia Trinitária, Cristologia, Pneumatologia, Mariologia. 
Cabe, também, afirmar que a tradição teológica posterior a esses Concílios 
Ecumênicos, constituída por Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona, Cirilo de 
Jerusalém, Basílio de Cesareia e João Damasceno aprofundou as formulações 
11
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
dogmáticas dos conceitos supracitados oriundos da fé revelada, colocando-as em 
um processo permanente de Hermenêutica para aprofundar o sentido dos dog-
mas em cada época histórica. Disso resultou a Teologia posterior, em suas pers-
pectivas ontológica, com Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino; personalista, 
com Boaventura e Dusn Scotto, e histórica, com Joaquim de Fiore e os vitorinos 
Hugo e Ricardo. Assim sendo, pensar teologicamente a revelação tornava-se, 
então, pensar os conteúdos da fé revelada em seu processo de transmissão e de 
formulação dogmática e teológica ao longo da tradição cristã. 
Na era moderna, a Apologética encontra, na Reforma Protestante, liderada por 
Lutero e também levada a cabo por Calvino e Zwinglio, em que a revelação era 
concebida tão somente pelo princípio solo scriptura, uma questão a resolver: a 
revelação está presente apenas na Sagrada Escritura ou também está presente na 
tradição eclesial e teológica. 
A própria Teologia de Tomás de Aquino, em especial presente na Summa 
Theologica, fundamentava toda a sua argumentação nos textos bíblicos e nos 
textos patrísticos, sustentando a teoria das duas fontes da revelação. 
O Concílio de Trento (1546-1563) foi um evento de fundamental importância 
para superar ou responder à crise trazida pela Reforma Protestante, embora havia 
necessidade de uma Reforma Católica também, especialmente, no âmbito das es-
trutruas eclesiais e regras eclesiásticas. 
Assim, esse Concílio preocupou-se com a revelação, mediante os decretos 
sobre a “Justificação” (DH n. 1520-1583) e sobre “os Livros Canônicos e as 
Tradições” (DH n. 1501-1508), fazendo prevalecer quea verdade normativa 
consta nos livros canônicos e nas tradições não escritas, sempre contando com a 
inspiração do Espírito Santo. 
É importante realçar que, nesse Concílio, o cânone bíblico tornou-se oficial-
mente constituído por 46 livros do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento, 
cuja fonte apropriada foi a vulgata. O tema da revelação também foi tratado em 
articulação com a soteriologia à medida em que foi tratado o tema da justificação 
em Cristo. 
Outra forma de Apologética está presente no contexto do Concílio Vaticano I, 
cujo maior problema enfrentado pelo magistério eclesiástico era a modernidade, 
cujas marcas principais eram o laicismo, o racionalismo e o naturalismo. 
O papa Pio IX foi o grande responsável por se defrontar com a modernidade, 
por meio de duas cartas encíclicas Qui Pluribus, de 1846 (DH n. 2775-2786), e 
Quanta Cura de 1864 (DH n.2890-2896), da bula Ineffabillis Deus de 1854 
(DH n. 2800-2804), que proclama o dogma da Imaculada Conceição de Maria e, 
principalmente, do Syllabus (DH n. 2901-2980), escrito em 1864, e que se cons-
tituía em um conjunto de 80 proposições de condenação da Modernidade, dentre 
os quais se destacam as que foram mencionadas acima. 
12
13
É nesse contexto que o Concílio Vaticano I (1869-1870) foi convocado por Pio IX, 
por meio da bula Aeterni Patris, de 1868, tendo início em outubro de 1869, e sendo 
suspenso em setembro de 1870, em função da Guerra franco-prussiana. 
No entanto, dentre os cinquenta esquemas de assuntos a serem tratados, dois 
foram debatidos: De Revelatione e De Ecclesia. Desses esquemas, resultaram as 
constituições dogmáticas De Filius e Pastor Aeternus, referentes à revelação divina 
e à infalibilidade papal, respectivamente. 
A Constituição Dogmática Dei Filius (DH 3000-3045), aprovada aos 
24/04/1870, com 667 votos de aprovação, sem nenhuma abstenção e nenhum 
voto contrário, está estruturada em Proêmio, quatro capítulos e conclusão. 
Os títulos dos capítulos são: a) I: Deus criador de todas as coisas; b) II: A Revelação; 
c) III: A fé; d) IV; A fé e a razão. Nessa estrutura, afirma-se que Deus é o criador de 
todas as coisas, que se revela plenamente em Jesus Cristo, doa a fé ao homem para 
que este recepcione a sua revelação e articula fé e razão para demonstrar como a 
revelação se faz presente na fé. Desta maneira, combate-se o Naturalismo, o Racio-
nalismo, o Fideísmo, o Ateísmo, o Deísmo e todas as formas modernas que se opõem 
à revelação divina. 
O papa Leão XIII também defendeu a revelação cristã e a fé ao escrever as car-
tas encíclicas Aeterni Patris, em 1879 (DH n. 3135-3140), e Providentissimus 
Deus, de 1893 (DH n. 3280-3294). 
Na primeira, retomou à Filosofia e à Teologia de Tomás de Aquino, considerada um 
grande edifício sólido de pensamento filosófico e teológico que favorece a clarividência 
da fé revelada, para que a Igreja tenha eficácia em suas ações no mundo moderno.
Desse modo, tem-se a revelação efetivada e a fé como princípio de compreensão 
da revelação, presente tanto na instância da fé, quanto na da razão, tanto no âmbito 
do sobrenatural, quanto no do natural. 
Na segunda, defende a verdade da revelação bíblica diante do Cientificismo e 
do Racionalismo que alguns pensadores tentavam empregar na compreensão dos 
textos bíblicos e do fideísmo que determinadas pessoas católicas e protestantes 
também buscavam empregar na compreensão da Bíblia. Resulta, então, que a Bí-
blia é um livro da revelação de Deus, constituído de alocuções metafóricas, imbuído 
de inerrância e de inspiração divina. 
A modernidade também foi alvo de combate por parte do Papa Pio X que, me-
diante as Cartas Encíclicas Pascendi dominici gregis, de 1907 (DH n. 3475-3500), 
e Sacrorum Antistitum, de 1910 (DH n. 3537-3550) evidencicou que a revelação 
é um conjnto de verdades divinas imutáveis, de modo que o relativismo e a própria 
perspectiva interpetativa, em que afirmava que “tudo era interpetação”, que começa-
ra a se instalar na História do pensamento, com o Niilismo filosófico, por exemplo de 
Friedrich Nietzsche, passaram a ser combatidos pela doutrina católica da revelação. 
13
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
Por sua vez, o papa Pio XII, considerado um grande papa intelectual, tendo 
escrito Cartas Encíclicas e Exortações Apostólicas sobre todos os assuntos do con-
teúdo da fé, teve dois grandes escritos apologéticos da revelação cristã, que possi-
bilitaram um início de maior abertura da fé cristã católica à Modernidade. 
O primeiro escrito é a Carta Encíclica Divino Afflante Spiritu, de 1943 (DH n. 
3825-3831), elaborada por ocasião da comemoração dos cinquenta anos da Carta 
Encíclica Providentissimus Deus.
Nesse documento, o Papa Pio XII afirmou que a Bíblia é o livro da revelação 
de Deus, culminada em Jesus Cristo, mas que possui gêneros literários – fábulas, 
novelas, mitos, sagas – que necessitam ser corretamente interpetados. 
Assim, em reconhecimento à Filosofia Hermenêutica emergente, assumia-se o 
método histórico-crítico para fazer a leitura da Bíblia. Tratava-se de iniciar um pro-
cesso de diálogo com a Modernidade, admitindo o uso da Filosofia Hermenêutica 
e, posteriormente, de outras Ciências para melhor compreender os textos bíblicos. 
O segundo escrito é a Carta Humani Generis, de 1950 (DH n. 3875-3899), 
referente a algumas questões teológicas daquele momento, especialmente à relação 
entre o natural e o sobrenatural, e a relação entre fé na criação e evolucionismo. 
O papa defendeu a fé revelada diante da identificação entre natural e sobre-
natural, feita por alguns teólogos, explictando que a perfeição da natureza só era 
possível em função de ser constituída do princípio do sobrenatural. Em outras 
palavras, Deus como criador de todas as coisas é o responsável pela perfeição da 
natureza humana e cósmica. 
Também realçou que a fé revelada não concorre com as Ciências, de modo que 
a afirmação na fé na criação não significa que as Teorias Científicas sobre a origem 
do Universo sejam, em seu todo, inverdades ou descartáveis. 
A fé na criação mostra que, por melhor que seja a explicação científica da ori-
gem e do desenvolvimento do universo, Deus continua a ser o princípio criacional 
de todas as coisas. 
Por sua vez, o Concílio Vaticano II recepcionou um processo de renovação 
teológica, ocorrido no século XX. Em sua constituição dogmática Dei Verbum, 
de 1965 (DH n. 4201-4235), realiza a sua Apologética, tendo uma perspectiva 
ecumência, que era própria do Concílio, defendendo a teoria da centralidade da 
Palavra de Deus, contida na Bíblia e em realidades não escritas e transmitida como 
revelação divina ao longo dos séculos. 
Nesse sentido, atendia a Teologia católica que, no Concílio de Trento, defendia 
a teoria das duas fontes da revelação e recepcionava o princípio protestante de que 
a revelação está na Escritura. 
Realçava, ainda, a História da salvação presente na revelação bíblica e transmitida 
na tradição eclesial e teológica e a necessidade de buscar compreender e interpretar 
corretamente a Bíblia de acordo com critérios da fé cristã, salvaguardados sempre 
pelo magistério da Igreja, considerando o guardião da fé. 
14
15
Conforme se atesta a Apologética é, então, uma forma de defesa da fé cristã 
contra formulações que ameaçam a fé, bem como uma maneira de explicar as 
razões de se professar essa fé. 
Por isso, a Teologia da Revelação, apoiando-se em ambos os modos apologé-
ticos, principalmente, no segundo, que fora consagrado no Concílio Vaticano II, e 
na própria renovação teológica do século XX, pode ser considerada uma Teologia 
Fundamental, em que a revelação é pensada à luz da fé revelada, com o auxílio da 
Filosofia e das outras Ciências. 
A considerar a Teologia da Revelação Teologia Fundamental, pergunta-se: de 
que modo essa passagem ocorreu? Quais são os elmentos fundamentais que carac-
terizam a Teologia da Revelação como Teologia Fundamental?
Rumo à Teologia Fundamental 
(Torrel, 1993)Mencionou-se, acima, que houve um processo de renovação teológica no século XX 
(GIBELLINI, 1990). 
Esse processo teve como espírito fundamental a necessidade de efetivar o diálo-
go da fé cristã com a modernidade, de modo que se tornasse possível pensar a fé, 
ou propriamente, fazer Teologia em consonância com o espírito antropocêntrico e 
cientificista, próprio do que se denomina Modernidade. Em outras palavras, emergiu 
o desafio de pensar teologicamente a revelação e a fé num momento histórico em 
que a Religião não é mais o centro da vida, mas um eixo entre diversos outros eixos, 
caracterizadores da Modernidade e, também, do que se denomina secularização. 
Dessa forma, categorias como “Cultura”, “História”, “Querigma”, “Hermenêu-
tica”, “Antropologia Transcendental”, “Mistério”, “Palavra” tornaram-se fundamen-
tais para a produção teológica contemporânea. Tratava-se de pensar de modo mais 
consistente a maneira como a revelação de Deus, em perspectiva cristã, efetiva-se na 
História humana e no Universo. Disso resultou um imenso pluralismo teológico, que 
se fundou originariamente em duas grandes vertentes: a Hermenêutica e a antropo-
lógica (GONÇALVES, 2010). 
A vertente Hermenêutica decorre da própria Filosofia Hermenêutica que, des-
de o século XIX, com Friedrch Schleiermacher, passou a se constituir uma disci-
plina filosófica para compreender e interpretar textos a partir da articulação entre 
Gramática e Técnica ou Psicologia. 
Posteriormente, o filósofo Wilhelm Dilthey inseriu a categoria História, com-
preendida como experiência de vivências humanas, no próprio processo de efe-
tividade do que se denominou de “círculo hermenêutico” para compreender a 
vida humana. 
15
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
Apropriando-se desses filósofos, da fenoneologia de Edmund Husserl e da Filosofia 
Existencial de Soren Kierkegaard, o filósofo Martin Heidegger elaborou a sua ontolo-
gia Hermenêutica para compreender e intepretar o sentido da existência do homem. 
Assim sendo, a ontologia Hermenêutica é aquela Filosofia que propicia a com-
preensão e a intepretação da existência humana, do ser do ente humano ou, pro-
priamente, o encontro do ser com o homem, efetivado na linguagem, também de-
nominada a “casa do ser”. Na esteira de Heidegger, situa-se Hans Georg Gadamer, 
que elaborou uma obra-prima sobre Hermenêutica , intitulada Verdade e Método 
e estruturada em três partes: Hermenêutica Estética, Hermenêutica Histórica e 
Ontologia Hermenêutica da Linguagem. 
Seu grande feito foi compreender a verdade a partir do diálogo e da “fusão de 
horizontes”. Por horizonte, o autor compreendia o âmbito pelo qual se vê alguma 
coisa, sendo que a mencionada fusão, que não é mera adição, propicia que os 
horizontes se conjuguem mediante o diálogo, que é um processo comunicativo de 
escuta e de pronúncia da palavra, de ambos os polos envolvidos, cujo resultado é 
sempre consensual. 
Paul Ricoeur, por sua vez, também desenvolveu um projeto de Filosofia Her-
menêutica, com uma tripartição inédita: Hermenêutica do Texto, Hermenêutica 
Simbólica e Hermenêutica da Ação. 
Para esse autor, então, o texto possui um mundo que lhe é próprio e quando con-
tactado pelo leitor há de ser intepretado dialogicamente em sua condição de mundo. 
A intepretação emergente respeita o contexto do texto, a conjugação entre o 
contexto e a mensagem do texto para o seu mundo, e o seu significado para o leitor. 
O símbolo pertence à cultura e à existência de um povo, está imbuído de lingua-
gem e “dá o que pensar”. A ação é a ética Hermenêutica que se apresenta filoso-
ficamente no âmbito da efetividade da justiça institucional, no reconhecimento da 
presença do outro e do estabelecimento de convivência justa que propicia a paz 
entre os povos. 
Essa Filosofia Hermenêutica muito influi na produção teológica, obtendo destaque 
na Teologia da História, edificada por teólogos franceses da escola de Saulchoir – 
Yves Congar e Marie Dominique Chenu – e da escola de Lyon – Henri De Lubac e 
Jean Daniélou – que pensaram a revelação mediante o desenvolvimento dos temas do 
ecumenismo, do diálogo inter-religioso, da relação entre Cristianismo e ateísmo, da 
Teologia como ciência prática da fé, da categoria “sinais dos tempos”. 
Esteve também presente a Hermenêutica na Teologia Querigmática – Rudolf 
Bultmann, que articlou fé e compreensão para pensar a autenticidade da existência 
à luz da fé cristã e a efetividade da palavra de Deus no anúnico do Evangelho e da 
salvação trazida por Cristo. 
A partir da Filosofia Hermenêutica, os teólogos Ernst Fuchs e Gerad Ebeling 
elaboraram, respectivamente, uma Teologia Hermenêutica a fim de compreender 
autenticamente a revelação divina e uma teoria Hermenêutica da linguagem da fé, 
visando a compreender a revelação de Deus em Jesus Cristo.
16
17
A vertente antropológica se desenvolveu a partir do teólogo Karl Rahner, que 
fora influenciado também por Heidegger e, principalmente, por Joseph Maréchal, 
importante teólogo jesuíta que articulou a filosofia de Immanuel Kant, marcada-
mente moderna, com a filosofia e a teologia de Tomás de Aquino, que era o autor 
recomendado a ser utilizados por teólogos católicos. 
Rahner herdou de Maréchal a categoria transcendental, compreendida como o 
a priori infinito presente no espírito finito, o que evidencia que a graça de Deus é 
intrísenca à própria constituição fundamental do homem. Nesse sentido, Rahner 
entendia a revelação como o movimento de Deus – concebido como mistério santo 
e inefável, sujeito livre e responsável – de autocomunicação ao homem que, por 
sua vez, imbuído do transcendental, também é concebido como sujeito e pessoa, 
livre e responsável, capaz de responder sim ou não à interpelação divina. 
Nesse sentido, só é possível compreender a revelação de Deus a partir do homem, 
concebido a partir de sua condição transcendental e histórica. 
Assim, visualizamos a articulação entre Teologia e Antropologia, com funda-
mentação na Filosofia em perspectiva transcendental, pela qual se compreende o 
homem, que é o canal de acesso a Deus. 
Nessa mesma vertente antropológica, encontra-se o teólogo Wolfhart Pannenberg, 
que se apropriou da Hermenêutica para articular a Antropologia com a Teologia, 
dando a esta um caráter de Ciência da fé revelada. 
Esse autor compreende que, nas fontes da Teologia – a Escritura e a Tradição – 
está intrinsecamente presente a Antropologia em sua condição de outra face da Te-
ologia, pois é o homem o interlocutor de Deus em sua ação criadora e reveladora. 
Na esteira das vertentes Hermenêutica e antropológica, estão as teologias da 
práxis, cujo objetivo é pensar a revelação e a fé a partir da práxis histórica. 
A primeira forma de Teologia da práxis é a Teologia política elaborada por 
Johann Baptis Metz, teólogo alemão que escreveu as obras intituladas A teolo-
gia no mundo (1968) e Fé, História e Sociedade (1977), que se tornam bases 
de sua Teologia política. 
O autor compreende que a política concebida como a práxis do bem comum a 
todos os seres humanos, em termos de organização social e cultural, é uma pers-
pectiva da Teologia Fundamental, pela qual se pensa a revelação e a fé. 
A carcaterística principal de sua Teologia Política é que a Teologia possui a trípli-
ce dimensão de memória da revelação de Deus em Jesus Cristo, da narrativa dessa 
revelação a partir da História da Humanidade, marcada por tanto sofrimento e dor, 
e da solidariedade e compaixão com quem sofre. 
A segunda forma de Teologia da práxis é a Teologia da experiência de Edward 
Schilebeeckx, teólogo holandês que compreendeu que a revelação é o elemento 
central a ser compreendido pela Teologia. 
17
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
Por isso, entendia que a revelação realizada plena e completamente em Jesus 
Cristo há de ser metodicamente correlacionada com experiência de fé revelada das 
comunidades cristãs do Novo Testamento e dos leitores contemporâeos.Dessa for-
ma, tem-se uma Hermenêutica da revelação que torna a revelação de Deus sempre 
histórica, pertinente e relevante à vida humana (GONÇALVES, 2008). 
A terceira forma de Teologia da práxis é a Teologia da esperança, desenvolvida 
por Jürgen Moltmann, em que apresenta a revelação a partir da recuperação da 
esperança como categoria fundamental na escatologia cristã. 
A esperança é o ato de esperar em atividade acerca do que se espera. E o que 
as pessoas cristãs esperam? 
Esperam pelo Cristo glorioso que passou pela cruz, vencendo a morte como 
inimiga e, pascalizando-a, revelou um Deus que é amor, sendo Pai, Filho e Espírito 
Santo, cuja habitação é a sua própria criação, compreendida em seu caráter de 
ecologia integral, denotativa de vida histórica, cósmica e eterna, sempre reveladora 
de Deus (GONÇALVES, 2005). 
As Teologias da práxis e o próprio espírito do Concílio Vaticano II propicia-
ram que a revelação passasse a ser pensada mediante novas teologias, a saber: 
Teologias Contextuais, Teologias da Cultura, Teologias do Gênero e Teologias 
das Religiões. 
As Teologias Contextuais são aquelas Teologias que surgem em perspectiva 
contextual, relacionando a fé cristã com um lugar social e cultural do contexto em 
que é produzida. 
Assim sendo, temos a Teologia da Libertação latino-americana e caribenha, a 
Teologia africana, a Teologia sul-africana, a Teologia norte-africana, a Teologia 
asiática e a Teologia da Oceania. Nelas, a revelação é pensada mediante a articu-
lação entre fé cristã e o lugar dos pobres e oprimidos, situados em seu respectivo 
Continente, o que possibilita a variação do modo como se aborda os temas de 
Deus, Igreja, homem e mundo. 
Disso resultam as concepções de Deus, da vida, dos pobres e oprimidos, do ser 
humano como pessoa solidária e livre, da Igreja dos Pobres e do mundo como nova 
criação redimida (GONÇALVES, 2015). 
As Teologias da Culturas são referentes às culturas indígenas e afro-americanas, 
desenvolvidas com o auxílio das Ciências Humanas, principalmente, a Antropologia 
Cultural, em que é possível afirmar Deus inserido nas culturas indígenas, sendo cha-
mado de Pai e Mãe. 
Torna-se possível, também, pensar em um “Deus negro”, partidário dos oprimidos, 
cuja revelação ocorre a partir dos negros oprimidos dos Estados Unidos e de outros 
países latino-americanos e caribenhos. 
18
19
As Teologias feminista, da mulher e do feminino pleiteam recuperar a reve-
lação e a fé a partir do lugar social e antropológico da mulher oprimida pelo 
machismo uxoricida e do feminino compreendido como dimensão da própria 
constituição antropológica do ser humano. Desse modo, emerge a concepção fe-
minista de Deus, em seu movimento de revelação, a ponto de afirmar que Deus é 
“Aquela que É”, a revelação de Deus na luta pela libertação das mulheres pobres 
e oprimidas e na harmonização entre o masculino e o feminino que constituem o 
ser humano (JOHSON, 1995). 
A Teologia das religiões é a forma de a Teologia pensar a revelação cristã no 
âmbito do pluralismo religioso, da relação do Cristianismo com as outras religiões 
e do convívio social e cultural das pessoas religiosas com as pessoas seculares. 
Nesse sentido, surgiu propriamente uma Teologia das religiões, principalmente, 
com o teólogo Paul Knitter, que se tornou uma grande novidade para pensar de 
que modo as religiões, concebidas em sua diversidade, podem denotar a revelação 
de Deus. 
Antes mesmo do Concílio Vaticano II, o teólogo francês Henri De Lubac já 
havia pensado a relação do Cristianismo com as outras religiões, o que propiciou, 
posteriormente, a Jacques Dupuis, jesuíta que viveu mais de 30 anos na Índia, 
pensar uma Teologia Cristã no âmbito do pluralismo religioso (DUPUIS, 1997) 
e ao teólogo Claude Greffé pensar uma Teologia Hermenêutica interreligiosa 
(GEFFRÉ, 2012). 
A denominada cultura pós-moderna, em que predomina o paradoxo de con-
tinuidade e descontinuidade da Modernidade, marcadamente antropocêntrica e 
cientificista, carcateriza-se por trazer à tona a forma nômade de pensar, a transver-
salidade na maneira de fazer Ciência, a flexibilidade das expressões da verdade, a 
efemeridade de costumes e das prescrições morais, a midiatização e a virtualização 
das relações humanas, os sacrifícios políticos e econômicos dos pobres, a ambigui-
dade dos modelos políticos, a relação entre nacionalização e internacionalização 
dos povos em suas relações, as religiosidades novas com marcas de espetáculo. 
Em termos interrogativos: com pensar a revelação cristã nesse contexto?
Emerge, então, uma Teologia da Revelação pós-moderna, em que se prioriza 
a Hermenêutica para pensar a fé e a revelação nesse contexto, a teodiceia para 
pensar o problema do mal e a revelação de Deus na compaixão com os sofredores. 
Acompanha a Hermenêutica a Filosofia, que possibilita pensar teologicamente 
a revelação na perspectiva ecológica, remetendo à Teologia da Criação, em que o 
universo e o ser humano são criaturas de Deus (MENDONZA ALVAREZ, 2013; 
DUQUE, 2016). 
Essas formulações teológicas acerca da revelação de Deus denotam que a revelação 
é um evento fundamental na perspectiva da fé cristã e que, por isso, a Teologia da 
Revelação pode ser chamada de Teologia Fundamental.
19
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
Trata-se, então, de pensar teologicamente a revelação à luz da própria revelação 
de Deus como evento e a fé como resposta humana a essa mesma revelação. 
No entanto, conforme se observa nas formulações teológicas, a revelação não 
acontece abrupta e magicamente, mas na História produzida pelos seres humanos. 
A História é, então, o palco do encontro entre Deus e o homem, cujo ápice encon-
tra-se em Jesus Cristo, que é o Filho de Deus que assumiu a condição humana em 
sua historicidade. 
Teologia Fundamental: Novo Nome da 
Teologia da Revelação (Fisichella, 1999)
Ao considerar que a Teologia Fundamental, novo nome para a Teologia da Re-
velação, articula a Antropologia e Hermenêutica para compreender a revelação, 
visualizamos algumas carcaterísticas cruciais desaa área teológica.
A primeira é que a revelação há de ser pensada na positividade da fé, presente 
na Bíblia, na tradição eclesial, no encontro com as religiões e na História humana 
em geral. 
Isso significa que a revelação estará presente na própria vinda de Deus ao en-
contro dos seres humanos, ao criar o ser humano e o colocar no jardim do Éden 
– Paraíso, ao realizar a aliança com o povo de Israel, ao enviar o seu Filho Jesus 
Cristo para redimir a criação e salvar a todos os seres humanos, ao adoar o Espírito 
aos apóstolos para a formação da Igreja e a transmissão do Evangelho, sempre boa 
notícia a todos os povos. 
A segunda carcaterística é que a revelação se efetiva na via apofática ou via da 
Teologia negativa, em que Deus se manifesta na compaixão do povo que era es-
cravo no Egito (Ex 3,7-14), na ira surgida em função da infidelidade de seu povo, 
no sofrimento do inocente, na morte dos que se empenham pelo reino de Deus, 
na cruz de seu Filho Jesus Cristo, na presença da Igreja junto aos doentes e aos 
sofredores deste mundo, nos dramas e nas tensões da História. 
A terceira carcaterística é que a revelação não se realiza sem a História que, 
como já afirmamos, é o palco do encontro de Deus com os seres humanos. 
Dizemos palco, por ser a História marcada por dramas e tensões vivenciadas 
pela Humanidade. Portanto, quando o teólogo pensa a revelação, deve inferir 
da História a presença de Deus encontrando-se com o homem.
Esse ato de inferir a revelação da História é denominado “maiêutica histórica” 
(TORRES QUEIRUGA, 2010), comparado ao trabalho da parteira que retira a 
criança do ventre da mãe. 
20
21
A quarta carcaterística é que a revelação será teologicamente defendida como 
forma de explicar as causas da fé cristã ou, propriamente, as razões de professar, 
compreender e viver a fé cristã. É esse o sentido largo da apologética da Teologia 
da Revelação ou, propriamente,Teologia Fundamental: afirmar a revelação como 
fundamento da própria fé revelada à pessoa que crê em Deus na perspectiva cristã. 
Expostas essas carcaterísticas, definimos, então, a Teologia da Revelação como 
Teologia Fundamental, por ser uma Disciplina ou um Tratado Teológico que pensa 
a revelação e a fé cristã à luz da fé revelada. 
O espírito é de uma apologética alargada e dialógica, em que se busca explicar 
as razões em afirmar a fé cristã nas situações históricas encontradas. Por isso, o 
método propiciará articular a fé com a razão e com a História. 
Isso significa que a fé cristã haverá de apresentar sensibilidade pelos aconte-
cimentos históricos e capacidade de dialogar com a Filosofia e com as diversas 
Ciências, a fim de compreender o homem e o mundo situados historicamente. 
Desse modo, a Teologia Fundamental buscará desenvolver a revelação como 
seu assunto, utilizando a Filosofia e as Ciências na compreensão da Bíblia e da 
tradição patrística, dogmática e teológica. A coleta de dados dos textos bíblicos 
e da tradição, dos símbolos da fé e de documentos eclesiais e teológicos haverão 
de ser relacionados à historicidade do homem e à dinâmica do mundo, visando à 
constituição de uma Teologia Fundamental, em que a revelação não é apenas um 
conjunto de doutrinas imutáveis, mas um acontecimento histórico sempre atual, 
entre Deus e o homem. 
O uso da Filosofia na Teologia Fundamental (GONÇALVES, 2014) propicia a 
compreensão do homem e do mundo em suas dimensões e características funda-
mentais, trazendo à tona as categorias de transcendência e imanência, tanto em 
termos antropológicos, quanto em termos cosmológicos.
Além disso, a reflexão filosófica sobre o mal e o sofrimento, denominada teo-
dicéia, será de crucial importância à compreensão da revelação de Deus em sua 
bondade e benevolência diante das realidades de sofrimento de pessoas incoentes, 
de injustiças sociais, de violência, de depredação do Planeta, de possibilidade de 
destruição do Universo. 
Em termos interrogativos: como se revela o Deus bom e benevolente diante de 
todas essas realidade “malignas”? O que dizem os textos bíblicos e da tradição da 
fé cristã, bem como os símbolos da fé? 
A Filosofia será utilizada tanto em sua vertente metafísica, quanto em sua 
vertente Hermenêutica, a fim de que as fontes sejam correta e adequadamente 
compreendidas e interpretadas à luz da fé revelada. 
21
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
O uso das Ciências propiciará a compreensão da situação localizada e real do 
homem e do mundo, acerca das mesmas realidades analisadas filosoficamente; 
porém, as ciências, devido à sua carcaterística ôntica, descrevem analiticamente 
a região em que o homem e o mundo se situam, estando elas mesmas tam-
bém direcionadas em seu próprio estatuto teórico como Ciência. Destacam-se 
a Sociologia, Antropologia, a Psicologia, a História, a Física – especialmente a 
Quântica, a Biologia – principalmente, no âmbito da Neurobiologia, as Ciências 
Sociais Aplicadas e as Ciências da Saúde. 
A Teologia Fundamental será, então, dialógica em relação à Filosofia e às Ci-
ências, sensível aos acontecimentos humanos e cósmicos, apta a desenvolver des-
critiva e analiticamente o mistério global de Deus, que se revela ao homem e no 
mundo. Desse modo, a Teologia Fundamental irá se mostrar fiel à própria reve-
lação, concebida na História da salvação, cuja compreensão por parte da fé se 
efetiva em estreita correlação com a História humana e com a História do mundo. 
Enfim, o caminho da Teologia Fundamental é analisar a revelação e a fé me-
diante a Bíblia e a tradição teológica e dogmática, olhando a História dos seres 
humanos e do Universo, especialmente, nos desafios de cada época histórica. 
Nesse sentido, todos estamos convidados a fazer uma passeio pela Bíblia, pela 
tradição cristã e pela História concebida em sua atualidade pertinente e relevante 
ao próprio sentido de nossa existência (LIBÂNIO, 2003). 
22
23
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Teologia da Revelação a partir da Modernidade
LIBÂNIO, J. B. Teologia da Revelação a partir da Modernidade. São Paulo: Loyola, 
1992, p. 15-28.
Crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação
LIBÂNIO, J. B. Crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação. São 
Paulo/Valência: Paulinas/Siquém, 2001, p. 13-22.
Repensar a Revelação
TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a Revelação. A Revelação divina na realização 
humana. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 23-104.
Deus Inefável
GONÇALVES, P. S. L. (org.) Deus Inefável. Tratado temático da Revelação. Aparecida: 
Santuário, 2015, p. 51-98.
Teologia da Revelação a partir da Modernidade
LIBÂNIO, J. B. Teologia da Revelação a partir da Modernidade. São Paulo: Loyola, 
1992, p. 29-51.
Catolicismo e sociedade contemporânea
GONÇALVES, P. S. L.; SOUZA, N. Catolicismo e sociedade contemporânea. São 
Paulo: Paulus, 2013.
Questões contemporâneas de Teologia
GONÇALVES, P. S. L. Questões contemporâneas de Teologia. São Paulo: Paulus, 2010.
Teologia da Revelação a partir da Modernidade
LIBÂNIO, J. B. Teologia da Revelação a partir da Modernidade. São Paulo: Loyola, 
1992, p. 51-110.
Repensar a Revelação
TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a Revelação. A Revelação divina na realização 
humana. São Paulo: Paulinas, 2010, p. 105-164.
Pensar a fé teologicamente
XAVIER, D. J.; SILVA, M. F (org.) Pensar a fé teologicamente. São Paulo: Paulinas, 
2007, p. 79-114.
23
UNIDADE A Teologia da Revelação como Teologia Fundamental
Referências
DENZINGER, H.; HÜNERMANN, P. Enchiridion Symboloroum. Definitionum 
et declarfationum de rebus fidei et morum. Bologna: Dehoniane, 1995.
DUPUIS, J. Rumo a uma Teologia cristã do pluralismo religioso. São Paulo: 
Paulinas, 2000. 
DUQUE, J. M. Para o diálogo coma pós-modernidade. São Paulo: Paulus, 2016. 
FISICHELLA, R. Introdução à Teologia Fundamental. São Paulo: Loyola, 1999.
GEFFRÉ, C. De Babel a Pentecostes. Ensaios de teologia inter-religiosa. São 
Paulo: Paulus, 2013. 
GONÇALVES, P. S. L.; SOUZA, N. Catolicismo e sociedade contemporânea. 
São Paulo: Paulus, 2013. 
________. (org.) Deus Inefável. Tratado temático da Revelação. Aparecida: 
Santuário, 2015, p. 51-98.
________. A consciência histórico-hermenêutica na Teologia contemporânea: 
aproximação entre Gadamer e Schillebeeckx, Religião & Cultura, São Paulo, v., 
n. 14, p. 97-117, jul/dez 2008.
________. Da possibilidade de morte da Terra à afirmação da vida. A Teologia 
ecológica de Jürgen Moltmann, Cadernos Teologia Pública, São Leopoldo, 
v. III, n. 23, p. 5-53, 2006. 
________. Teologias pós-conciliares. In: PASSOS, J. D.; SANCHEZ, W. L. Dicionário 
do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas/Paulus, 2015, p. 951-60.
________. Questões contemporâneas de Teologia. São Paulo: Paulus, 2010. 
JOHSON, E. Aquela que É. O mistério de Deus no trabalho teológico feminino. 
Petrópolis: Vozes, 1995.
LATOURELLE, R. Nova imagem da Fundamental. In: LATOURELLE, R.; O’COLLINS, 
G. Problemas de Teologia Fundamental. São Paulo: Loyola, 1993, p. 47-68.
LIBÂNIO, J. B. Teologia da Revelação a partir da Modernidade. São Paulo: 
Loyola, 1992.
________. Crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação. São Paulo/
Valência: Paulinas/Siquém, 2001, p. 13-22.
LISANEOS, F. P. Fé e Revelação: uma aproximação teológica. In: XAVIER, 
D. J.; SILVA, M. F. (orgs.) Pensar a fé teologicamente. São Paulo: Paulinas, 
2007, p. 79-114. 
24
25
MENDONZA-ÁLVAREZ, C. Deus Ineffabilis. El lenguaje sobre Dios en tiempos 
de pluralismo cultural y religioso. In: DE MORI, G.; OLIVEIRA, P. A. R. Deus na 
sociedade plural. Fé, símbolos, narrativas. São Paulo: Paulinas/SOTER, 2013, 
p. 129-54.
METZ, J. B. Glaube in Geschichte und Gesellschaft? Studien zu einer Praktischen 
Fundamentaltheologie. Mainz: Vittorio Klostermann, 1968.
________. Zur Theologie in der Welt. Mainz/München: Vittorio Klostermann, 1968.
PASTOR, F. A. Principium Totius Deitatis. Mistérioinefável e linguagem eclesial. 
In: GONÇALVES, P. S. L. (org.). Deus inefável. Tratado temático do Deus da 
Revelação. Aparecida: Santuário, 2015, p. 51-84. 
TORREL, J. P. Novas correntes de Teologia Fundamental no período pós-conciliar. 
In: LATOURELLE, R.; O’COLLINS, G. Problemas de Teologia Fundamental. 
São Paulo: Loyola, 1993. p. 15-30.
TORRES QUEIRUGA, A. Repensar a Revelação. A Revelação divina na realização 
humana. São Paulo: Paulinas, 2010. p. 23-104. 
25

Continue navegando

Outros materiais