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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências cirúrgicas – Aula 11 CONCEITO Dilatação permanente que ultrapassa 50% do diâmetro da artéria. Então, qualquer coisa maior que 1,5X do tamanho da artéria é considerado um aneurisma, desde que ele esteja também representado por todas as camadas da artéria. FORMA ANEURISMAS SACULARES: • Localizados; • Excêntricos; • Maior risco de ruptura. A margem desse tipo de aneurisma possui dimensão normal, tem artéria normal, e por conta disso, apresentam um maior risco de ruptura. ANEURISMAS FUSIFORMES: • Longos; • Difusos. • Menor chance de ruptura. EPIDEMIOLOGIA • Ruptura de aneurisma de aorta nos EUA: ❖ 13º causa de óbito. ❖ 10º causa de óbitos >55 anos. ❖ 3º causa de morte súbita. • Maior incidência a partir da 7º década de vida (no entanto podem se apresentar também em indivíduos mais jovens). • Mais comum em homens (8:1). • Mais comum em homens brancos (2 a 3:1). • No Brasil, foi identificada uma prevalência de 4,5% em um estudo com necrópsias. FATORES DE RISCO • Idade: >70 anos. • Sexo: H:M – 4 a 8:1. ❖ Apesar da proporção ser maior para os homens, o aneurisma no sexo feminino é mais grave, aumenta mais rápido e tem um maior risco de romper. • Tabagismo: ❖ Aumenta 5x. ❖ Maior fator de risco ambiental associado, tanto na incidência quanto na progressão e na rotura dos aneurismas. ❖ Pacientes com aneurismas pequenos e que estão em seguimento devem ser orientados a parar de fumar. • História familiar: ❖ Aumenta 2X. ❖ HF tanto de aneurisma quanto de aterosclerose. • HAS: processo biomecânico na fisiopatogenia. • DM. • Obesidade. • Sedentarismo. ETIOLOGIA • Degenerativos: chamados antigamente de ateroscleróticos, mas não deve mais ser chamado assim. Mais comum. • Infecciosos: ❖ Bacteriano ou micótico. ❖ Endocardite bacteriana. ❖ Septicemia por bacilos gram-negativos. • Congênitos: ❖ Deformidades vasculares embriogênicas. ❖ Pequenos (geralmente). ❖ Podem ser isolados ou múltiplos. ❖ Vasos intracranianos, viscerais, artérias esplênicas ou renais (normalmente não são aórticos). Exemplos: Ehlers-Danlos, deficiência congênita do pró-colágeno tipo III, neurofibromatose, síndrome de Turner, Esclerose Tuberal, deficiência de elastina. Aneurisma de Aorta 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências cirúrgicas – Aula 11 Podem estar associados ainda a: • Condição traumática. • Pós-estenótico. • Anastomótico. • Inflamatórias: 4-10%. Exemplos: Arterite primária da aorta, aortite inespecífica (doença de Takayasu), poliarterite nodosa, lúpus eritematoso sistêmico, doenças de Behçet, artrite reumatoide, síndrome de Kawasaki. FISIOPATOGENIA ANEURISMA DEGENERATIVO A fisiopatogenia mais aceita do aneurisma é a relacionada com uma resposta inflamatória imunológica; algum estímulo (que não se sabe exatamente qual – pode ser endógeno ou exógeno) que produz uma reação inflamatória na parede do vaso, e essa reação inflamatória vai, além de recrutar células inflamatórias, propiciar a produção de proteases, principalmente a metaloprotease, que vai destruir as fibras musculares da camada média do vaso, e com isso vai haver diminuição do depósito de elastina no vaso (a elastina não é produzida, então a quantidade que temos é a mesma desde que nascemos, diferente do colágeno, que pode ser produzido por conta da diferenciação de células musculares em fibroblastos), e quando diminui essa quantidade de elastina, aumenta proporcionalmente a quantidade de colágeno na camada média do vaso, mas o colágeno é menos elástico, mais rígido e menos resistente, o que vai gerar uma fraqueza do vaso. Por muito tempo acreditou-se que as doenças eram as mesmas (aneurisma e aterosclerose), já que são duas doenças muito provavelmente relacionadas a patogenia inflamatória e imunológica, mas não são as mesmas. Acima, observa-se duas imagens histológicas, onde a da esquerda é de um aneurisma (a grande maioria das alterações dos vasos estão na camada média), e a da direita é de uma aterosclerose (a reação inflamatória e as células inflamatórias estão na camada íntima do vaso). Apesar de muitas vezes os aneurismas apresentarem trombos aderidos à camada íntima, ela é uma doença muito mais importante da camada média do vaso. Depois que inicia essa fraqueza, aí vem a questão biomecânica de resistência e fluxo, e por conta disso entra a HAS como fator de risco importante; depois que o vaso está fraco por conta dessa reação inflamatória, aí vai ser uma questão de diminuição da resistência com aumento do fluxo, gerando aumento da pressão, causando progressão e em último caso rotura do aneurisma. • Aorta abdominal é a topografia mais comum. 1. Aorta. Abdominal infrarrenal → 80% dos aneurismas de aorta abdominal são infrarrenais. Torácico descendente → 12%. Torácico ascendente → 5,5%. Toraco abdominal → 2,5%. 2. Ilíacas. 3. Poplíteas. 4. Femoral. 5. Esplênica. 6. Hepática. 7. Mesentérica superior. 8. Pulmonar. HISTÓRIA NATURAL • Probabilidade de ruptura anual para aneurisma infrarrenal: ❖ < 4 cm – 0% (quase nenhuma possibilidade de romper) ❖ 4 a 5 cm – 0,5% a 5%. ❖ 5 a 6 cm – 3% a 15%. ❖ 6 a 7 cm – 20% a 40%. ❖ 8 cm – 30% a 50%. Quanto maior o aneurisma, maior a chance de ruptura dele, podendo chegar em até 50%. 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências cirúrgicas – Aula 11 • Taxas de crescimento para aneurismas pequenos: ❖ 0,3 a 0,6cm/ano. ❖ Aneurismas grandes também possuem uma taxa de crescimento maior. • Mortalidade em 2 anos para aneurismas >5cm. ❖ Pode chegar a 13%. RASTREAMENTO Por conta dos fatores de risco e da história natural do aneurisma está indicado rastreamento para: • Homens hipertensos fumantes, >65 anos, com história familiar de doença cardiovascular com USG: Esses indivíduos devem ser submetidos ao USG para avaliar dilatação da aorta, principalmente a abdominal. • Quando os aneurismas forem pequenos (em ambos os sexos), o seguimento deve ser regular de 6 a 12 meses ou mais frequentemente com USG, dependendo da velocidade de crescimento. • Aneurismas > 5cm – 5,5 cm – abordagem cirúrgica (abordagem cirúrgica ou endovascular). • Rastreamento ultrassonográfico reduz a mortalidade por rotura de AA em cerca de 70%. Na maioria das vezes os aneurismas são achados acidentais ou em USG para avaliar a próstata, ou para avaliar aparelho ginecológico, e daí eles são diagnósticos. EXAMES DIAGNÓSTICOS RADIOGRAFIA – ACHADOS INCIDENTAIS • Aneurismas calcificados; • Corrosão de corpos vertebrais; • Alargamento do mediastino. ❖ Aneurismas abdominais ou toracoabdominais. A radiografia não é feita para diagnosticar aneurisma, mas pode ser um achado incidental radiográfico. ULTRASSONOGRAFIA É um exame com sensibilidade e especificidade muito boas, excelentes para: • Exame de rastreio. • Diagnóstico. • Avaliação. • Seguimento. Não é o padrão ouro para o estudo de aneurisma. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA – ANGIO TC: • Padrão ouro. • Diâmetro, extensão, topografia, relação com as artérias viscerais (mesentérica superior, renal, tronco celíaco). • Aorta (torácica e abdominal) e variações anatômicas. • Outros órgãos. • Extensão do hematoma. • Sensibilidade e especificidade de até 93% para ruptura. • Terapêutica com radiologia intervencionista. RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA: • Bom, menos invasivo (não precisa de contraste); • Ramos viscerais. • Tem algum prejuízo ao avaliar o comprometimento do fluxo do aneurisma. ARTERIOGRAFIA: • Ramos viscerais e estenoses periféricas. • Implantes de endopróteses. À esquerda, uma reconstrução tridimensional com tomografia com angioTC, onde dá pra visualizar o aneurisma. À direita, um aneurisma de aorta torácica. ANEURISMADE AORTA ABDOMINAL CLASSIFICAÇÃO • Infrarrenal: abaixo da origem das renais. Mais comum. • Justarrenal: imediatamente abaixo. • Pararrenal: na altura. • Suprarrenal: acima. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências cirúrgicas – Aula 11 QUADRO CLÍNICO • Assintomáticos ou sintomas vagos (80%): achados incidentais. • Pacientes magros – massa pulsátil abdominal; • Dor: ❖ Contínua. ❖ Insidiosa, periumbilical com irradiação para flancos, nádegas ou escroto. ❖ Lombar: Corrosão da face anterior dos corpos vertebrais de L3/L4/L5. Parede posterior do aneurisma é destruída. • Isquemia distal: ❖ Embolização de trombos da parede do aneurisma. ❖ Trombose aguda da aorta ou seus ramos. EXAME FÍSICO • Indispensável. • Achado principal: massa pulsátil em região epigástrica. SINAL DE DEBAKEY • Positivo: Quando essa massa se prolonga abaixo do gradil costal (não há diferença/espaço entre a massa e o gradil costal). Ele sugere que seja um aneurisma aórtico ou toraco-aórtico, mas que envolva a saída das renais. • Negativo: Infere que seja infrarrenal. TRATAMENTO A indicação vai depender de: • Forma; • Diâmetro: >5cm. • Velocidade de crescimento: >0,5cm em 6 meses. • Doenças associadas: é comum a associação de aneurisma com doença coronariana aterosclerótica, que, em alguns casos, precisa ser primeiro tratada para só depois fazer a cirurgia do aneurisma. • Complicações: hematomas, embolia periférica, isquemia visceral. • Mortalidade: cirurgia eletiva – 5%; cirurgia de urgência – aneurisma roto – 50 a 60%. O melhor tratamento do aneurisma é o diagnóstico precoce, seguimento e cirurgia eletiva quando indicada, porque a rotura de aneurisma é catastrófica. ANEURISMA DE AORTA ABDOMINAL INFRARRENAL TRATAMENTO CIRÚRGICO: Pode fazer por acesso intraperitoneal ou extra peritoneal. É importante fazer o controle distal e proximal do aneurisma, depois segue a aneurismectomia longitudinal. Coloca-se a prótese de Dracon, faz anastomose proximal e distal. Se, por exemplo, for um aneurisma que esteja acometendo as ilíacas, existem próteses que bifurcam. E depois, há o fechamento do aneurisma novamente. Quando o aneurisma envolve a renal ou alguma artéria nobre que não pode ser ligada, é preciso suturar a saída das artérias na prótese. TRATAMENTO ENDOVASCULAR: É introduzido um guia pela artéria femoral, e por esse guia vai passar uma endoprótese inicialmente contida pela bainha. A endoprótese com a bainha são posicionadas na topografia do aneurisma. A bainha 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências cirúrgicas – Aula 11 é retirada e com isso a prótese se expande. Como essa prótese tem uma teia de estrutura metálica, ela mesmo se adapta na parede, ela precisa de algum espaço de parede normal, cranial e distal para se adaptar. Se, por acaso, o aneurisma envolver a ilíaca, essa prótese tem um braço longo e um curto, aí se as duas ilíacas estiverem acometidas, precisa fazer uma punção na artéria femoral do outro lado, passar a endoprótese que vai adaptar ela ao bracinho curto e coloca-la na outra ilíaca. CONTROLE TOMOGRÁFICO À esquerda, um controle tomográfico de um aneurisma. À direita, o aneurisma depois de tratado por cirurgia endovascular. COMPLICAÇÕES PERIOPERATÓRIAS • Choque ao desclampeamento: ❖ Diminuição da pós-carga cardíaca. ❖ Depressão miocárdica. ❖ Redução da pré-carga. ❖ Hipovolemia. • Sangramento difuso. • Lesões iatrogênicas. • Isquemia. ❖ Trombo-embolização distal. COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS • Atelectasias. • Pneumonia: 5%. • TVP: 8%. • AVC: 1%. • Íleo paralítico prolongado. • Insuficiência renal aguda: 5 a 12%. • IAM: 2 a 8%. • Isquemia do colón esquerdo: 1 a 2%; perfuração. • Isquemia medular: paraplegia flácida (não é comum); <1%. • Óbito: 5% (em cirurgias eletivas). ANEURISMA DE AORTA ABDOMINAL ROTO INTRODUÇÃO • É a complicação mais grave de pior prognóstico do aneurisma de aorta. ❖ Livre. ❖ Tamponada (tanto pelo peritônio parietal uma vez que a aorta é retroperitoneal ou pelos órgãos adjacentes). • Causa de 2% das mortes de homens > 65 anos. • Uma das maiores emergências cirúrgicas (depois do trauma). • 13° causa de óbitos nos EUA. • 40% dos pacientes não chegam com vida ao hospital. • Mortalidade hospitalar 60 a 90%. PODE SE APRESENTAR COM • Dor súbita e intensa. • Equimose nos flancos (se estiver indo pra retroperitônio). • Obstrução parcial do duodeno. ❖ Compressão pela massa aneurismática. • Sangramento gastrointestinal: ❖ Erosão da aorta no tubo digestivo – fístula aortoentérica/na maioria das vezes é aortoduodenal (0,01 a 0,5%). • Insuficiência cardíaca: ❖ Ruptura do aneurisma para a veia cava inferior – fístula aortocava. ❖ Aumento significativo do retorno venoso. ❖ Óbito em horas ou dias. • Hematúria: ❖ Ruptura do aneurisma para o ureter constitui evento raro. • Instabilidade hemodinâmica pode seguir de morte súbita se romper para a cavidade livre, ou pode ser controlado se for tamponado. DIAGNÓSTICO • Clínico. • Muitas vezes não há tempo para realização de exames complementares. TRATAMENTO • Tratar o choque hipovolêmico. 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências cirúrgicas – Aula 11 • Hemotransfusão. • Tratamento cirúrgico ou endovascular assim que possível. ALGORITMO PARA SUSPEITA DE ANEURISMA DE AA Em expansão ou não, precisa avaliar os riscos para aterosclerose, comorbidades, vão para a sala de trauma, avaliar os pulsos (assimetria de pulsos distais), internamento. Se hipotensão suspeitar de ruptura com instabilidade hemodinâmica, encaminha para cirurgia de urgência, se for possível iniciar reposição volêmica e oclusão de aorta por balão (se indicado); no caso de estabilidade, esse paciente pode ser preparado, com alguns exames... EPIDEMIOLOGIA • Sobrevida: 2 anos → 24%; 5 anos → 19%. • Mortalidade cirúrgica: 8,9%. • Sobrevida após cirurgia: 5 anos → 60%. CLASSIFICAÇÃO DE CRAWFORD • Tipo I: evoluem toda a aorta torácica descendente, desde a origem da artéria subclávia esquerda até a aorta supracelíaca, ou até a origem das artérias viscerais. • Tipo II: Originam-se desde a altura da artéria subclávia esquerda, acometendo toda a aorta descendente e a aorta abdominal até sua bifurcação. • Tipo III: Comprometem a aorta descendente até abaixo das renais (podendo chegar até antes da bifurcação) • Tipo IV: acometem toda a aorta abdominal, do hiato diafragmático até a bifurcação aorto- ilíaca. • Tipo V: do 1/3 médio da aorta descendente, ao nível do sexto espaço intercostal até as artérias renais. INDICAÇÕES • Forma: saculares – corrigidos sistematicamente. • Diâmetro: >5cm. • Velocidade de crescimento: >0,5cm em 6 meses. • Doenças associadas. • Complicações: hematomas, embolia periférica, isquemia visceral. TRATAMENTO • Cirúrgico: ❖ Toracolaparotomia → tipos I, II e III. ❖ Laparotomia: tipo IV. • Endovascular. COMPLICAÇÕES PERIOPERATÓRIAS • Choque ao desclampeamento: ❖ Diminuição da pós-carga cardíaca. ❖ Depressão miocárdica. ❖ Redução da pré-carga. ❖ Hipovolemia. • Sangramento difuso. • Lesões iatrogênicas. • Isquemia. ❖ Trombo-embolização distal. • Paraplegia flácida: ❖ Quando a irrigação medular é dada pelas artérias lombares. ❖ Complicações rara nos aneurismas infrarrenais, mas que ocorrem em ... (?) COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS • Atelectasias. • Íleo paralítico prolongado. • Isquemia do cólon esquerdo. • IAM. • Insuficiência respiratória. • Insuficiência renal. ❖ Isquemia renal. ❖ Tempo de isquemia >45 min dobra a incidência de disfunção renal. ❖ Diálise → 20%. ❖ Anúria: oclusão de artérias renais – reintervenção cirúrgica.
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