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I 
Tesus Histórico 
Uma Brevíssima Introdução 
André Leonardo Chevitarese 
Pedro Paulo A. Funarí 
UNICAMP 
Biblioteca - IFCH 
Iíífifi E 
I 
Rio de Janeiro 
2012 
L 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO 
1 
1 
1. INTRODUÇÃO: JESUS, UM HOMEM. 
Poucos personagens históricos têm tanta repercussão, 
por tanto tempo, como Jesus de Nazaré. No início do 
terceiro milénio - ou seja, tendo como ponto de partida 
esse mesmo Jesus, cujo nascimento marca o início da Era 
Comum dotada em todo o mundo - cerca de um terço da 
humanidade, mais de dois bilhões de pessoas, professam 
a fé crista e se reportam, portanto, ao homem de Nazaré. 
No Brasil, mais de 150 milhões declaram-se cristãos. 
Pelo critério do número de seguidores, Jesus ultrapassa, 
de longe, outros líderes, como Mao é, cujos seguidores 
são hoje mais de um bilhão e quinhentos-_mill1ões. Jesus, 
à diferença de Maomé (570-632 d.C.)Ínão deixou nada 
escrito e, nesse aspecto, está mais próximo do filósofo grego 
Sócrates (470-399 a.C.) ou de S daéatazí-Êzauíama (624-544 
a.C.), chamado por seus seguidores de Bud2ÍÔ--filósofo 
iluminista francês e agnóstico Voltaire (1694-1778) afir- 
mou sobre Jesus algo polémico, mas que continua, em 
grande parte, válido: 
"Jesus de Nazaré foi um judeu obscuro, proveniente da 
raia miúda; ele foi crucificado por blasfémia, no tempo do 
imperador romano Tibério, sem que se possa saber em qual 
ano". 
I 
i 
7 
Mateus (Mt) Lucas (Lc) 
Marcos (Mc) João (Jo) 
Este livro procura mostrar como Jesus de Nazaré, 
o homem que viveu há dois mil anos, um personagem 
histórico, pode ser estudado e conhecido. Não se busca, 
aqui, abranger o cristianismo, a religião que se originou, de 
alguma forma, do homem de Nazaré, a não ser na medida 
em que a confissão crista intuiu na pesquisa sobre o Jesus 
Histórico. Nossa meta é mostrar o que se sabe e quais 
as-discussÕes,.pn1;..pa.rte dos estudiosos,_ sobre a vida de 
__._Jesus. Nessa viagem, convidamos o leitor a mergulhar em 
algumas das mais fascinantes histórias. Muitas delas estão 
conosco até hoje, na forma de parábolas, imagens, rituais e 
comportamentos coletivos e individuais. Tantas vezes nos 
pegamos a falar em "separar o joio do trigo", ou a hesitar a 
'atirar a primeira pedra, ou ainda a *lavar as mãos". Estas e 
outras passagens da narrativa de Jesus estão presentes em 
nosso quotidiano e indicam o início de nossa caminhada 
pela vida do nazareno. 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lfunzxri 
* 
* . 
I 
A História se faz com documentos. O passado já não exis- 
te e apenas podemos conjecturar a seu respeito por meio 
de testemunhos, diretos ou indiretos, materiais ou imate- 
riais. Os estudiosos costumam denominar documentos a 
tudo o que permite inferir algo: são as fontes de informa- 
ção. A própria palavra fonte é uma metáfora, como se algo 
fosse comparável à água que brota e que nos dá de beber. 
No caso da vida de Jesus de Nazaré, há tipos de fontes: os 
manuscritos do Novo Testamento, as escavações arqueo- 
lógicas; as descobertas de ( l m r a n (manuscritos do Mar 
_Norto) e de Nag Hammadi, no Egito; os escritos judaicos; 
e os testemunhos de fora do ambientejudaico-cristão. 
Comecemos pelas mais conhecidas - os vinte e sete 
livros do Novo Testamento -, com destaque para os re- 
latos da vida de Jesus (os Evangelhos), o livro "histórico" 
(Ato dos Apóstolos - Ar), as Epístolas ou Cartas e o profe- 
tico (Apocalipse - Ap). Pode-se dividi-los em quatro cate- 
gorias, conforme tabelas abaixo. 
11. 
2.1. As Fontes. 
COMO CONHECER O JESUS HISTÓRICO? 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In*rI‹o1)uçÃo 
Os Evangelhos. 
8 
Íä 
9 
Mateus (Mt) Lucas (Lc) 
Marcos (Mc) João (Jo) 
Este livro procura mostrar como Jesus de Nazaré, 
o homem que viveu há dois mil anos, um personagem 
histórico, pode ser estudado e conhecido. Não se busca, 
aqui, abranger o cristianismo, a religião que se originou, de 
alguma forma, do homem de Nazaré, a não ser na medida 
em que a confissão crista intuiu na pesquisa sobre o Jesus 
Histórico. Nossa meta é mostrar o que se sabe e quais 
as-discussÕes,.pn1;..pa.rte dos estudiosos,_ sobre a vida de 
__._Jesus. Nessa viagem, convidamos o leitor a mergulhar em 
algumas das mais fascinantes histórias. Muitas delas estão 
conosco até hoje, na forma de parábolas, imagens, rituais e 
comportamentos coletivos e individuais. Tantas vezes nos 
pegamos a falar em "separar o joio do trigo", ou a hesitar a 
'atirar a primeira pedra, ou ainda a *lavar as mãos". Estas e 
outras passagens da narrativa de Jesus estão presentes em 
nosso quotidiano e indicam o início de nossa caminhada 
pela vida do nazareno. 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lfunzxri 
* 
* . 
I 
A História se faz com documentos. O passado já não exis- 
te e apenas podemos conjecturar a seu respeito por meio 
de testemunhos, diretos ou indiretos, materiais ou imate- 
riais. Os estudiosos costumam denominar documentos a 
tudo o que permite inferir algo: são as fontes de informa- 
ção. A própria palavra fonte é uma metáfora, como se algo 
fosse comparável à água que brota e que nos dá de beber. 
No caso da vida de Jesus de Nazaré, há tipos de fontes: os 
manuscritos do Novo Testamento, as escavações arqueo- 
lógicas; as descobertas de ( l m r a n (manuscritos do Mar 
_Norto) e de Nag Hammadi, no Egito; os escritos judaicos; 
e os testemunhos de fora do ambientejudaico-cristão. 
Comecemos pelas mais conhecidas - os vinte e sete 
livros do Novo Testamento -, com destaque para os re- 
latos da vida de Jesus (os Evangelhos), o livro "histórico" 
(Ato dos Apóstolos - Ar), as Epístolas ou Cartas e o profe- 
tico (Apocalipse - Ap). Pode-se dividi-los em quatro cate- 
gorias, conforme tabelas abaixo. 
11. 
2.1. As Fontes. 
COMO CONHECER O JESUS HISTÓRICO? 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In*rI‹o1)uçÃo 
Os Evangelhos. 
8 
Íä 
9 
aos Paulo Romanos Paulo aos Coríntios, Primeira 
Carta (1 Cor) 
Paulo aos Coríntios, Segunda 
Carta (2 Cor) 
Paulo aos Gálatas (Gl) 
Paulo aos Efésios (Eu) Paulo aos Filipenses (Fl) 
Paulo aos Colossenses (Cl) Paulo aos Tessalomccnscs, 
Primeira Carta (ITs) 
Paulo aos Tessalonicenses, 
Segunda Carta (2 Ts) 
Paulo a Timóteo, Primclra 
Carta (1 Tm) 
Paulo Timóteo, Segunda 
Carta (2 Tm) 
Paula a Tito (Tt) 
Paulo a Filemom (Fm) Carta aos Hebreus (Hb) 
Carta de Tiago (Tg) Carta de Pedro, Primeira 
(1Pd) 
Carta de Pedro, Segunda (2 
Pd) 
Carta de João, Primeira (1 Jo) 
Carta de João, Segunda (2 Jo) Carta de João, Terceira (3 Jo) 
Carta de Judas 
Atos dos Apóstolos (At) 
Epístolas ou Cartas. 
Livro "Histórico". 
André Leonardo Chevitarese c Pcdro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA 1n'1'Ro1)u‹;Ão 
I 
OS 
vz, E 
de Jesus. O primeiro deles e O mais curto, 0 de Marcos, 
escrito a partir de 70 EC, é considerado o testemunho 
mais fidedigno. Marcos, Mateus e Lucas são chamados de 
sinoticos, que em rego__§_ignifica com a mesma visão', pois 
sefišrëlatos são paralelos e seguem fontes comuns 
O Evangelho de João segue caminhos próprios e foi 
escrito mais tarde, entre 90 e 110. O Ato dos Apóstolos é 
um relato "histórico" dos primeiros seguidores de Jesus e 
deve ter sido escrito entre 6421852 
As cartas ou epístolas constituem um género literário 
próprio, referente à correspondência entre primeiros 
cristãos. As cartas de Paulo são OS mais antigos documen_ 
tos que sobreviveram. Elas foram escritas, provavelmente, 
entre os anos 40 e 60, sendo anteriores ao Evangelho de 
Marcos. A carta mais antiga é a Primeira aos Tessaloni_ 
censes, escrita entre 50 e 51, vinte anos após a morte de 
Jesus. Não há evidências de que Paulo tenha conhecido 
pessoalmente Jesus. Por isso, pouco nos fala sobre a vida 
do nazareno. 
Por fim, o livro do Apocalipse consiste em uma visão 
profética do futuro e tampouco se volta para o Jesus da 
Galileia. Portanto, as principais fontes sobre a vida de -Jesus 
são OS Evangelhos. 
\' ' . 
' - \ 
l 
Apocalipse /-\p) 
â Profético. 2.2. Os Evangelhos. 
Jesusfalava o aramaico, uma língua semita, aparentada ao hebraico, conforme versículo encontrado n › Evangelho 
de Marcos - diga-se, uma das poucas passagens que repto_ 
duzem as palavras originais de Jesus em sua língua. Assim: 
I 
Os Evangelhos são relatos da vida de Jesus e constituem 
fonte primária para nosso conhecimento do nazareno. O 
‹‹ 77 . . cá l • n \ • nome evangelho significa boa noticia e se refere a vinda 
de Jesus como salvador da humanidade. Esses livros foram 
escritos em grego, em décadas distintas após a crucificação 
10 
"E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu 
o alvoroço, e os que choravam muito e prateavam. E, cn_ 
1 5 
11 
aos Paulo Romanos Paulo aos Coríntios, Primeira 
Carta (1 Cor) 
Paulo aos Coríntios, Segunda 
Carta (2 Cor) 
Paulo aos Gálatas (Gl) 
Paulo aos Efésios (Eu) Paulo aos Filipenses (Fl) 
Paulo aos Colossenses (Cl) Paulo aos Tessalomccnscs, 
Primeira Carta (ITs) 
Paulo aos Tessalonicenses, 
Segunda Carta (2 Ts) 
Paulo a Timóteo, Primclra 
Carta (1 Tm) 
Paulo Timóteo, Segunda 
Carta (2 Tm) 
Paula a Tito (Tt) 
Paulo a Filemom (Fm) Carta aos Hebreus (Hb) 
Carta de Tiago (Tg) Carta de Pedro, Primeira 
(1Pd) 
Carta de Pedro, Segunda (2 
Pd) 
Carta de João, Primeira (1 Jo) 
Carta de João, Segunda (2 Jo) Carta de João, Terceira (3 Jo) 
Carta de Judas 
Atos dos Apóstolos (At) 
Epístolas ou Cartas. 
Livro "Histórico". 
André Leonardo Chevitarese c Pcdro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA 1n'1'Ro1)u‹;Ão 
I 
OS 
vz, E 
de Jesus. O primeiro deles e O mais curto, 0 de Marcos, 
escrito a partir de 70 EC, é considerado o testemunho 
mais fidedigno. Marcos, Mateus e Lucas são chamados de 
sinoticos, que em rego__§_ignifica com a mesma visão', pois 
sefišrëlatos são paralelos e seguem fontes comuns 
O Evangelho de João segue caminhos próprios e foi 
escrito mais tarde, entre 90 e 110. O Ato dos Apóstolos é 
um relato "histórico" dos primeiros seguidores de Jesus e 
deve ter sido escrito entre 6421852 
As cartas ou epístolas constituem um género literário 
próprio, referente à correspondência entre primeiros 
cristãos. As cartas de Paulo são OS mais antigos documen_ 
tos que sobreviveram. Elas foram escritas, provavelmente, 
entre os anos 40 e 60, sendo anteriores ao Evangelho de 
Marcos. A carta mais antiga é a Primeira aos Tessaloni_ 
censes, escrita entre 50 e 51, vinte anos após a morte de 
Jesus. Não há evidências de que Paulo tenha conhecido 
pessoalmente Jesus. Por isso, pouco nos fala sobre a vida 
do nazareno. 
Por fim, o livro do Apocalipse consiste em uma visão 
profética do futuro e tampouco se volta para o Jesus da 
Galileia. Portanto, as principais fontes sobre a vida de -Jesus 
são OS Evangelhos. 
\' ' . 
' - \ 
l 
Apocalipse /-\p) 
â Profético. 2.2. Os Evangelhos. 
Jesus falava o aramaico, uma língua semita, aparentada ao hebraico, conforme versículo encontrado n › Evangelho 
de Marcos - diga-se, uma das poucas passagens que repto_ 
duzem as palavras originais de Jesus em sua língua. Assim: 
I 
Os Evangelhos são relatos da vida de Jesus e constituem 
fonte primária para nosso conhecimento do nazareno. O 
‹‹ 77 . . cá l • n \ • nome evangelho significa boa noticia e se refere a vinda 
de Jesus como salvador da humanidade. Esses livros foram 
escritos em grego, em décadas distintas após a crucificação 
10 
"E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu 
o alvoroço, e os que choravam muito e prateavam. E, cn_ 
1 5 
11 
André Leonardo Chevitarcsc c Pedro Paulo A. Funari 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA 1NTRO1)UÇÃO 
trando, disse-lhes: por que vos alvoroçais e chorais? A mf:- 
nina não está morta, mas dorme. E riram-se dele, porém ele, 
tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, 
e OS que com ele estavam, e entrou onde a menina estava 
deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: YZ:/ita comi 
- que, traduzido, é: menina, a ti te digo, levanta-te. E logo 
a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos, e 
assombraram-se com grande espanto" (Mc 5:38-42). 
"E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia 
de sábado, se urdo o seu costume na sina o a, e levantou-se g 7 g g 
para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando 
abriu o livro, achou o lu ar em ue estava escrito: o Es grito g q 
do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar 
os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração". 
No sentido literal, Talita significa 'fresca'. Ela ainda era 
uma menina e não, uma mulher adulta. No entanto,já aqui 
se põe um problema, pois o termo grego usado no trecho 
para traduzir, paidion, significa criança de ambos os gêne- 
ros. Neste caso, temos a frase original, mas em todos os 
outros contamos apenas com o grego, língua que,'ao que se 
sabe, Jesus nunca falou. 
Como as palavras de Jesus, em aramaico, acabaram 
décadas depois sendo registradas nos Evangelhos? 
Antes de tudo, convém lembrar como as pessoas se rela- 
cionavam com a memória na Antiguidade. A alfabetização 
não era expandida e a maioria das pessoas era analfabeta e 
mesmo as que dominavam a escrita nela não se lavam para 
se lembrar do que liam. Os livros já existiam, mas eram 
rolos que eram desenrolados para que pudessem ser lidos. 
Era, portanto, impossível fazer uma consulta a passagens 
de obras como hoje pode ser feito em livros impressos e 
em documentos digitais. Hoje, e há alguns séculos, estamos 
acostumados a consultar escritos quando queremos nos 
informar ou mesmo rememorar algo que já lemos. Nada 
disso ocorria naquela época. As pessoas decoravam, tendo 
lido ou ouvido um texto, e podiam reproduzir longas pas- 
sagens, para não dizer obras inteiras e imensas. Em Lucas 
(4:16-18), diz-se que: 
12 
Muitos estudiosos modernos ponderam que o que se 
chama de sinagoga, palavra grega, representa, no caso de 
uma aldeia de 300 pessoas, como Nazaré, apenas uma casa 
usada para a reunião da comunidade. Aliás, sinagoga em 
hebraico, b i t nesse, significa casa de reunião. Não se sabe 
se haveria rolos com a Bíblia hebraica, mas, mesmo que 
houvesse, quem saberia ler? A passagem, contudo, sugere 
que Jesus tenha citado de cabeça saias 61, um dos profetas 
populares que defendiam os pobres, em versos que mais 
se assemelham a nossas canções rimadas populares.Í(I1-eh1 
escreveu o Evangelho de Lucas, décadas depois, n o con- 
hecia de primeira mão as comunidades galileias e, assim 
como em outras passagens, introduz detalhes, na narrativa, 
que remetiam a realidade das cidades gregas na qual se di- 
fundia o cristianismo ......- ---¬....., 
Um segundo aspecto da memória antiga deve ser recor- 
dado para além da capacidade de-decorar frases: seu-r;ar,í_ter 
subjetivo religioso. A memórias sempre subjetivae es- 
tamos sempre sujeitos a recordar determinados momentos 
da vida, manter._g.ertas frases e situações e a esquecer e su- 
primir _outras.Esses mesmos mecanismos fizeram com que 
os seguidores do nazareno recordassem episódios e ditos 
de Jesus, assim como suprimissem outros. Isto garantiria a 
preservação, ainda qu§.â%.d2* ela ex eriência os ter' 
de muitas experiências com o nazareno"*Dentre os me- 
canismos de preservação e supressãO,-sobressaiam as cren- 
18 
10 
š 
André Leonardo Chevitarcsc c Pedro Paulo A. Funari 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA 1NTRO1)UÇÃO 
trando, disse-lhes: por que vos alvoroçais e chorais? A mf:- 
nina não está morta, mas dorme. E riram-se dele, porém ele, 
tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, 
e OS que com ele estavam, e entrou onde a menina estava 
deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: YZ:/ita comi 
- que, traduzido, é: menina, a ti te digo, levanta-te. E logo 
a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos, e 
assombraram-se com grande espanto" (Mc 5:38-42). 
"E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia 
de sábado, se urdo o seu costume na sina o a, e levantou-se g 7 g g 
para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando 
abriu o livro, achou o lu arem ue estava escrito: o Es grito g q 
do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar 
os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração". 
No sentido literal, Talita significa 'fresca'. Ela ainda era 
uma menina e não, uma mulher adulta. No entanto,já aqui 
se põe um problema, pois o termo grego usado no trecho 
para traduzir, paidion, significa criança de ambos os gêne- 
ros. Neste caso, temos a frase original, mas em todos os 
outros contamos apenas com o grego, língua que,'ao que se 
sabe, Jesus nunca falou. 
Como as palavras de Jesus, em aramaico, acabaram 
décadas depois sendo registradas nos Evangelhos? 
Antes de tudo, convém lembrar como as pessoas se rela- 
cionavam com a memória na Antiguidade. A alfabetização 
não era expandida e a maioria das pessoas era analfabeta e 
mesmo as que dominavam a escrita nela não se lavam para 
se lembrar do que liam. Os livros já existiam, mas eram 
rolos que eram desenrolados para que pudessem ser lidos. 
Era, portanto, impossível fazer uma consulta a passagens 
de obras como hoje pode ser feito em livros impressos e 
em documentos digitais. Hoje, e há alguns séculos, estamos 
acostumados a consultar escritos quando queremos nos 
informar ou mesmo rememorar algo que já lemos. Nada 
disso ocorria naquela época. As pessoas decoravam, tendo 
lido ou ouvido um texto, e podiam reproduzir longas pas- 
sagens, para não dizer obras inteiras e imensas. Em Lucas 
(4:16-18), diz-se que: 
12 
Muitos estudiosos modernos ponderam que o que se 
chama de sinagoga, palavra grega, representa, no caso de 
uma aldeia de 300 pessoas, como Nazaré, apenas uma casa 
usada para a reunião da comunidade. Aliás, sinagoga em 
hebraico, b i t nesse, significa casa de reunião. Não se sabe 
se haveria rolos com a Bíblia hebraica, mas, mesmo que 
houvesse, quem saberia ler? A passagem, contudo, sugere 
que Jesus tenha citado de cabeça saias 61, um dos profetas 
populares que defendiam os pobres, em versos que mais 
se assemelham a nossas canções rimadas populares.Í(I1-eh1 
escreveu o Evangelho de Lucas, décadas depois, n o con- 
hecia de primeira mão as comunidades galileias e, assim 
como em outras passagens, introduz detalhes, na narrativa, 
que remetiam a realidade das cidades gregas na qual se di- 
fundia o cristianismo ......- ---¬....., 
Um segundo aspecto da memória antiga deve ser recor- 
dado para além da capacidade de-decorar frases: seu-r;ar,í_ter 
subjetivo religioso. A memórias sempre subjetivae es- 
tamos sempre sujeitos a recordar determinados momentos 
da vida, manter._g.ertas frases e situações e a esquecer e su- 
primir _outras.Esses mesmos mecanismos fizeram com que 
os seguidores do nazareno recordassem episódios e ditos 
de Jesus, assim como suprimissem outros. Isto garantiria a 
preservação, ainda qu§.â%.d2* ela ex eriência os ter' 
de muitas experiências com o nazareno"*Dentre os me- 
canismos de preservação e supressãO,-sobressaiam as cren- 
18 
10 
š 
André Leonardo Chcvitarcsc e Pedro Paulo /\. Funzlri .lnsus HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In'1'RonuçÃo 
natural e ambiental associado à vida humana! As evidên- 
cias materiais podem referir-se a indivíduos, mas em sua 
imensa maioria remetem à_vida qu0_ti_diar¿al Os restos ar- 
queológicos têm sido muito significativos para o conheci- 
mento da sociedade à época de Jesus. Algumas descobertas 
confirmam o relato do Novo Testamento e dão detalhes 
sobre personagens, circunstâncias e situações mencionadas 
no texto bíblico. As principais são: 
ia_ Gamla e Jodefat: aldeias judaicas à época de Jesus; 
ia. Séforis e Tiberíades, à época de Herodes Antipas; 
32. Cesareia Marítima e Jerusalém, à época de Herodes, 
o Grande; 
ia_ Massada e ACirram e a resistência judaica à ocupa- 
ção romana; 
Sa. Vasos e banheiras rituais: os rituais judaicos, 
ia. O usuário do sumo sacerdote José Caifás, 
73. A inscrição do prefeito Pôncio Pilatos; 
88. A casa do apóstolo Pedro, em Cafarnaum, 
9a. O barco de pesca do Mar da Galileia, 
10a. O esqueleto do crucificado Iehokhanan. 
as e convicções dos antigos, que não estavam sujeitas aos 
critérios da ciência moderna, que, claro, não existia naquela 
época. Muitos milagres são mencionados nos Evangelhos 
como a cura da menina que acabamos de reportar. Tais 
episódios constituem experiências fortes e, portanto, in- 
esquecíveis. Quem se esquece de um milagre? 
Nesse contexto, começa-se a compreender como a vida 
de Jesus foi escrita décadas depois de sua pregação. De 
início, tudo era lembrado e contado em aramaico, apenas 
oralmente, pelos primeiros seguidores analfabetos de Jes 
bontudÕÍ'ñlãlo foram eles que escreveram oS NEvar-gãhos 
Foram falantes de língua grega que não tinham conhecidos 
Jesus pessoalmente, apenas*ÊCristo apóšãlRessurreição. 
Jesus foi um homem crucificado, mas seus seguidores 
acreditavam que ele ressuscitou e subiu aos Céus,...11e.IldQ 
ganhado, após sua morte, um novo nome: Cristo, que em 
grego significa 'ungido por Deus-=_tx:aduçãode Messias, 
em hebraico. Nunca, em vida, Jesus foi chamado de Cristo 
ou Messias, mas, após sua morte, no relato da sua Vida,~ele 
passou a ser chamado por dois nomes: "Princípio-do Evan- 
gelho de Jesus Cristo, Filho de Deus' (Mc 1:1). Isso signifi- 
ca que toda a memória sobrevida de Jesus foi confirmada 
pela crença na Ressurreição de Jesus e n a S a divindade. 
Não sabemos da existência de escritos em aramaico com 
ditos e relatos da vida de Jesus. O que parece mais seguro é 
a existência de textos com recordações de Jesus traduzidas 
para o grego, em um momento que a nova fé começou a 
expandir-se fora da comunidade judaica da Palestina. 
- | i - 
As cinco primeiras descobertas arqueolÓgÂÇ.ëLs5í1Q.colc- 
tivas e informam-nos sobre OS ambientes frequentados e as 
situações da época de Jesus. Já as cinco últimas iluminam 
aspectos david do nazareno. As pesquisas arqueológicas 
nas aldeias judaicas de Jodefat e Gamla revelam como era 
a vida na Galileia.Tendo sido destruídas pelos romanos em 
67 d.C., mostram o quotidiano simples e isolado d o n - 
doexterior das comunidades rurais judaicas de duas aldeias 
que não deviam diferir muito, em termos gerais, da Nazaré 
de Jesus. Não havia muito contato de seus moradores com 
2.3. As Fontes Arqueológicas. 
A Arqueologia estuda a cultura material, os artefatos 
feitos ou transformados pelo ser humano e o contexto 
14 15 
André Leonardo Chcvitarcsc e Pedro Paulo /\. Funzlri .lnsus HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In'1'RonuçÃo 
natural e ambiental associado à vida humana! As evidên- 
cias materiais podem referir-se a indivíduos, mas em sua 
imensa maioria remetem à_vida qu0_ti_diar¿al Os restos ar- 
queológicos têm sido muito significativos para o conheci- 
mento da sociedade à época de Jesus. Algumas descobertas 
confirmam o relato do Novo Testamento e dão detalhes 
sobre personagens, circunstâncias e situações mencionadas 
no texto bíblico. As principais são: 
ia_ Gamla e Jodefat: aldeias judaicas à época de Jesus; 
ia. Séforis e Tiberíades, à época de Herodes Antipas; 
32. Cesareia Marítima e Jerusalém, à época de Herodes, 
o Grande; 
ia_ Massada e ACirram e a resistência judaica à ocupa- 
ção romana; 
Sa. Vasos e banheiras rituais: os rituais judaicos, 
ia. O usuário do sumo sacerdote José Caifás, 
73. A inscrição do prefeito Pôncio Pilatos; 
88. A casa do apóstolo Pedro, em Cafarnaum, 
9a. O barco de pesca do Mar da Galileia, 
10a. O esqueleto do crucificado Iehokhanan. 
as e convicções dos antigos, que não estavam sujeitas aos 
critérios da ciência moderna, que, claro, não existia naquela 
época. Muitos milagres são mencionados nos Evangelhos 
como a cura da menina que acabamos de reportar. Tais 
episódios constituem experiências fortes e, portanto, in- 
esquecíveis. Quem se esquece de um milagre? 
Nesse contexto, começa-se a compreender como a vida 
de Jesus foi escrita décadas depois de sua pregação. De 
início, tudo era lembrado e contado em aramaico, apenas 
oralmente, pelos primeiros seguidores analfabetos de Jes 
bontudÕÍ'ñlãlo foram elesque escreveram oS NEvar-gãhos 
Foram falantes de língua grega que não tinham conhecidos 
Jesus pessoalmente, apenas*ÊCristo apóšãlRessurreição. 
Jesus foi um homem crucificado, mas seus seguidores 
acreditavam que ele ressuscitou e subiu aos Céus,...11e.IldQ 
ganhado, após sua morte, um novo nome: Cristo, que em 
grego significa 'ungido por Deus-=_tx:aduçãode Messias, 
em hebraico. Nunca, em vida, Jesus foi chamado de Cristo 
ou Messias, mas, após sua morte, no relato da sua Vida,~ele 
passou a ser chamado por dois nomes: "Princípio-do Evan- 
gelho de Jesus Cristo, Filho de Deus' (Mc 1:1). Isso signifi- 
ca que toda a memória sobrevida de Jesus foi confirmada 
pela crença na Ressurreição de Jesus e n a S a divindade. 
Não sabemos da existência de escritos em aramaico com 
ditos e relatos da vida de Jesus. O que parece mais seguro é 
a existência de textos com recordações de Jesus traduzidas 
para o grego, em um momento que a nova fé começou a 
expandir-se fora da comunidade judaica da Palestina. 
- | i - 
As cinco primeiras descobertas arqueolÓgÂÇ.ëLs5í1Q.colc- 
tivas e informam-nos sobre OS ambientes frequentados e as 
situações da época de Jesus. Já as cinco últimas iluminam 
aspectos david do nazareno. As pesquisas arqueológicas 
nas aldeias judaicas de Jodefat e Gamla revelam como era 
a vida na Galileia.Tendo sido destruídas pelos romanos em 
67 d.C., mostram o quotidiano simples e isolado d o n - 
doexterior das comunidades rurais judaicas de duas aldeias 
que não deviam diferir muito, em termos gerais, da Nazaré 
de Jesus. Não havia muito contato de seus moradores com 
2.3. As Fontes Arqueológicas. 
A Arqueologia estuda a cultura material, os artefatos 
feitos ou transformados pelo ser humano e o contexto 
14 15 
i 
I 
Os achados arqueológicos específicos comprovam dí- 
André Leonardo Chcvitarese e Pedro Paulo A. Funari 
Qrgggm 
"""e---¬...,. 
Não mundo esfãli?"äl"Í5"fó-xímo e q`i21*€* 
2.4. Outras Fontes. 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA In'rRo1)uçÃo 
'Ê 
'I 
_ 
ma font 
O mundo romano e mesmo com Jerusalém e o Templo, aín- 
da que tenham sido encontrados banhos rituais (mi/e=vot). 
A cidade de Séforis, a sete quilómetros de Nazaré, ain- 
da .que não mencionada no Novo Testamento, deve ter 
sido conhecida e revela outra realidade: uma cidade com 
teatro, aqueduto e mosaicos dionisíacos. Sua população ju- 
daica convivia com costumes de ` grega ou romana. 
Tiberíades, citada no texto bíblico, também revela essas 
características e demonstra que Jesus conviveu com esses 
ambientes mais cosmopolitas-mesclados. ---... 
Por em, Jerusalém, cidade dominada pelo Templo e 
pela elite sacerdotal, que vivia com mansões ao estilo e 
decoração comuns à época em Roma e no império em 
geral. Jesus não frequentava tais casas, mas como outros 
pregadores populares, conhecia-as e a elas se opunhä, por 
;su3¿1_ opulência. \. J 1 versos detalhes do relato eva ético O usuário do-šumo 
sacerdote Caifás, assim como a inscrição de Pôncio Pilatos, 
mostram que essas personagens realmente existiram. O lo- 
cal onde teria vivido Pedro, em Cafarnaum, assim como 
um barquinho encontrado no Mar da Galileia, referem-se 
àquele ambiente simples de pescadores no qual aluava Je- 
sus. O esqueleto de um crucificado mostra que um homem 
teve seu pé pregado na cruz, algo que é atribuído pela 
tradição à crucificação de Jesus e que não se sabe se era, 
de fato, uma prática. Normalmente, os condenados à cruz 
eram apenas presos por cordas e não pregados. As desco- 
bertas arqueológicas confirmam e delineiam, em linhas 
gerais, o contexto histórico da época e prometem, com no- 
vas pesquisas, ainda outras revelações. 
Um dos achados arqueológicos mais importantes foram 
os manuscritos encontrados em grutas situadas ao norte 
do Mar Morto, em 1947. Pelos manuscritos, sabemos 
que, por volta de 150 a.C., um sacerdote saduceu de Je- 
rusalém sentiu-se imbuído de uma missão reformadora. 
Não tendo sido ouvido, deixou a cidade e seguiu com um 
pequeno número de adeptos que se instalaram às margens 
do Mar Morto. Encontrou-se a "Regra da Comunidade` e 
o pseudónimo do reformador: professor da justiça (maré 
/øatsédeq). Copiaram a Bíblia Hebraica e escreveram sobre 
uma guerra apocalíptica entre as forças da luz e das trevas, 
representadas estas últimas pelo reino ímpio (ma/ékbe t 
se/iyaa/), assim como um manual de combate e regras para 
a guerra e comentários (Per/aarim) ao texto bíblico. Esta co- 
munidade existia à época de Jesus, tendo sido destruída em 
68 d.C. pelos romanos na Guerra contra os Judeus. Jesus 
vivia e pregava em ambientes muito diferentes desta comu- 
nidade, mas, em comum, havia a percepção de que o fim. 
l sefi~à~~fêé'1ëà"-fi°i"à"dz a iusúçzü 
representada pela correrão do Templo e seu culto de elite.l 
'"Ôfivãñgelh eTofiéšCObëfio eM 1945, na cidade 
egípcia de Nas Hammadi, constitui-se em um tipo de obra 
de fiN-ilclla' CoMoUm e`de ditos de Jesus. Muito embora 
a erudição já conhecesse alguns deles, ela não fazia ideia 
que eles seriam parte do evangelho de Tomé. Esses ditos 
estavam presentes em três papiros, escritos em grego, en- 
contrados em Oxirinco, no Egito, nos anos de 1897 (Pap. 
Ôxy. : Tomé 28-33), 1903 (Pap. Oxy. 654 = Tomé -7) 
e 1904 (Pap. Oxy. 655 = Tomé 37-40). Os três papiros são 
datados em torno do ano 200. O autor é nomeado como 
Dídimo Judas Tomé, cuja tradição situa a anão missionária 
1 1 
â. 
16 
' ‹ 
.-... .,.,-. ..~‹-.. _ 
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17 
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Os achados arqueológicos específicos comprovam dí- 
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Não mundo esfãli?"äl"Í5"fó-xímo e q`i21*€* 
2.4. Outras Fontes. 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA In'rRo1)uçÃo 
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O mundo romano e mesmo com Jerusalém e o Templo, aín- 
da que tenham sido encontrados banhos rituais (mi/e=vot). 
A cidade de Séforis, a sete quilómetros de Nazaré, ain- 
da .que não mencionada no Novo Testamento, deve ter 
sido conhecida e revela outra realidade: uma cidade com 
teatro, aqueduto e mosaicos dionisíacos. Sua população ju- 
daica convivia com costumes de ` grega ou romana. 
Tiberíades, citada no texto bíblico, também revela essas 
características e demonstra que Jesus conviveu com esses 
ambientes mais cosmopolitas-mesclados. ---... 
Por em, Jerusalém, cidade dominada pelo Templo e 
pela elite sacerdotal, que vivia com mansões ao estilo e 
decoração comuns à época em Roma e no império em 
geral. Jesus não frequentava tais casas, mas como outros 
pregadores populares, conhecia-as e a elas se opunhä, por 
;su3¿1_ opulência. \. J 1 versos detalhes do relato eva ético O usuário do-šumo 
sacerdote Caifás, assim como a inscrição de Pôncio Pilatos, 
mostram que essas personagens realmente existiram. O lo- 
cal onde teria vivido Pedro, em Cafarnaum, assim como 
um barquinho encontrado no Mar da Galileia, referem-se 
àquele ambiente simples de pescadores no qual aluava Je- 
sus. O esqueleto de um crucificado mostra que um homem 
teve seu pé pregado na cruz, algo que é atribuído pela 
tradição à crucificação de Jesus e que não se sabe se era, 
de fato, uma prática. Normalmente, os condenados à cruz 
eram apenas presos por cordas e não pregados. As desco- 
bertas arqueológicas confirmam e delineiam, em linhas 
gerais, o contexto histórico da época e prometem, com no- 
vas pesquisas, ainda outras revelações. 
Um dos achados arqueológicos mais importantes foram 
os manuscritos encontrados em grutas situadas ao norte 
do Mar Morto, em 1947. Pelos manuscritos, sabemos 
que, por volta de 150 a.C., um sacerdote saduceu de Je- 
rusalém sentiu-se imbuído de uma missão reformadora. 
Não tendo sido ouvido, deixou a cidade e seguiu com um 
pequeno número de adeptos que se instalaram às margens 
do Mar Morto. Encontrou-se a "Regra da Comunidade` e 
o pseudónimo do reformador: professor da justiça (maré 
/øatsédeq). Copiaram a Bíblia Hebraica e escreveram sobre 
uma guerra apocalíptica entre as forças da luz e das trevas, 
representadas estas últimas peloreino ímpio (ma/ékbe t 
se/iyaa/), assim como um manual de combate e regras para 
a guerra e comentários (Per/aarim) ao texto bíblico. Esta co- 
munidade existia à época de Jesus, tendo sido destruída em 
68 d.C. pelos romanos na Guerra contra os Judeus. Jesus 
vivia e pregava em ambientes muito diferentes desta comu- 
nidade, mas, em comum, havia a percepção de que o fim. 
l sefi~à~~fêé'1ëà"-fi°i"à"dz a iusúçzü 
representada pela correrão do Templo e seu culto de elite.l 
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egípcia de Nas Hammadi, constitui-se em um tipo de obra 
de fiN-ilclla' CoMoUm e`de ditos de Jesus. Muito embora 
a erudição já conhecesse alguns deles, ela não fazia ideia 
que eles seriam parte do evangelho de Tomé. Esses ditos 
estavam presentes em três papiros, escritos em grego, en- 
contrados em Oxirinco, no Egito, nos anos de 1897 (Pap. 
Ôxy. : Tomé 28-33), 1903 (Pap. Oxy. 654 = Tomé -7) 
e 1904 (Pap. Oxy. 655 = Tomé 37-40). Os três papiros são 
datados em torno do ano 200. O autor é nomeado como 
Dídimo Judas Tomé, cuja tradição situa a anão missionária 
1 1 
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17 
André Leonardo Chcvitarese c Pedro Paulo A. Funnri JESUS H1STÓR1CO. UMA BREVíSSiMA 1 n'rRo1)uÇÃo 
trouxeram à 
› 
â 
luz documentos1§rÍštãólSI_tos gínõstícøsj Em- 
comentários s 
«r 
As descobertas em Nag Hammadi, no Egito¿_em_1954, 
labora posteriores a Jesus, revelam ÀÇxístêI1Çiade-un1.j.uda.ís- 
mo na Palestina em contato com o hebraísmo helenístico 
. e uma preocupação corno preservação das palavras ílagia), 
antes que dos acontecimentos, relativos a Jesus. Difícil sa- 
1 - ber destrinçar o quanto do gnostícisrno com sua ênfase no 
conhecimento (gnose) místico remete Jesus ou molda Jesus 
às suas próprias concepções. Outizíggge importante são os 
escritos do judaísmo antigo, em particular os 
conhecidos comQ.¿\.fig'Lóg_/ Ésses consisfiafn de considera- 
'çoes e aforismos dos rabinos que ressoam nas palavras de 
Jesus.. z¿\ssim, podemos comparar falas de Jesus com pas- 
šagens do lã/lidrash: 
1 
a) Ser como Deus: 
"Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso pai que 
está nos céus" (Má 5:48). 
"Como Deus é clemente e misericordioso, tu também se- 
jas clemente e misericordioso" (Shabbat 133b). 
na Índia, muito embora haja uma forte presença da sua 
anão também na Síria oriental. Admite-se que o referido 
documento tenha sido escrito em Edessa. A sua datação 
tem produzido uma grande polémica enn'ç_os_estudiosos, 
podendo variar entre a década de 50 e o início do segundo 
século. 
O traço marcante nesse evangelho, o que o levaria a 
se contrastar com as obras do Novo Testamento, seria o 
fato de ele não mencionar o nascimento, a vida, a morte 
e a ressurreição de Jesus. Ao contrário, Jesus e simples- 
mente designado como "Aquele que Vive". Ele apresentaria 
similaridades com Q, em termos de composição, de ên- 
fase em torno das palavras de Jesus e de ausência de títu- 
los cristológicos, tais como: Cristo/Messias, Senhor, Filho 
do Homem. Esse aspecto desata a concepção de que nos 
estágios mais antigos da Igreja era unânime a fé na ressur- 
reição. 
O historiador judaico-romano Flávio Josefo (37-101 
d.C), em sua Guerra judaica, menciona a existência de dí- 
versos grupos no interior da sociedade hebraica da Pales- 
tina. Os sacudes .com.preendiam os notáveis ligados ao 
Templo e eram os conservadores. Q,.s_fariseus, cujo nome 
signific arados, formavam um grupo de puros, atentos 
às regras da Lei de Moisés, mas se preocupavam com a 
pregação popular, .à_diferença dos saduceus. Os essênios, 
ou 'santos', eram também puristas, mas viviam em comu- 
nidades isoladas, sem contato com Jerusalém ou mesmo 
com os outros judeus, taxados por eles de pecadores. Mas 
havia muitos outros grupos menos organizados, como os 
sícários e zelotes, voltados para a expulsão dos romanos, 
assim como profetas escz_¶z_15_5gicQ_s_,_à.-espera do Julgamento, 
como João BatiSta. 
- ` . - , 
-bulIa: 
I 
b) Preocupe-se com cada dia: . 
"Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o 
dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu 
mal" (Mt ó:34). 
"Aquele que criou o dia, criou sua substância" (Tanhouma 
Bechalah 2). 
"Basta uma pena por vez" (Berakhot 9b). 
c) Cuide de seus defeitos: 
"Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então 
cuidarás em tirar o arqueiro do olho do teu irmão" (Mt 7:5) 
"Cuida da palha nos teus dentes. Ele lhe retoque: cuida 
antes da trave no teu olho" (Bava Batra 15b). 
18 
I 
..r 
19 
André Leonardo Chcvitarese c Pedro Paulo A. Funnri JESUS H1STÓR1CO. UMA BREVíSSiMA 1 n'rRo1)uÇÃo 
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comentários s 
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As descobertas em Nag Hammadi, no Egito¿_em_1954, 
labora posteriores a Jesus, revelam ÀÇxístêI1Çiade-un1.j.uda.ís- 
mo na Palestina em contato com o hebraísmo helenístico 
. e uma preocupação corno preservação das palavras ílagia), 
antes que dos acontecimentos, relativos a Jesus. Difícil sa- 
1 - ber destrinçar o quanto do gnostícisrno com sua ênfase no 
conhecimento (gnose) místico remete Jesus ou molda Jesus 
às suas próprias concepções. Outizíggge importante são os 
escritos do judaísmo antigo, em particular os 
conhecidos comQ.¿\.fig'Lóg_/ Ésses consisfiafn de considera- 
'çoes e aforismos dos rabinos que ressoam nas palavras de 
Jesus.. z¿\ssim, podemos comparar falas de Jesus com pas- 
šagens do lã/lidrash: 
1 
a) Ser como Deus: 
"Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso pai que 
está nos céus" (Má 5:48). 
"Como Deus é clemente e misericordioso, tu também se- 
jas clemente e misericordioso" (Shabbat 133b). 
na Índia, muito embora haja uma forte presença da sua 
anão também na Síria oriental. Admite-se que o referido 
documento tenha sido escrito em Edessa. A sua datação 
tem produzido uma grande polémica enn'ç_os_estudiosos, 
podendo variar entre a década de 50 e o início do segundo 
século. 
O traço marcante nesse evangelho, o que o levaria a 
se contrastar com as obras do Novo Testamento, seria o 
fato de ele não mencionar o nascimento, a vida, a morte 
e a ressurreição de Jesus. Ao contrário, Jesus e simples- 
mente designado como "Aquele que Vive". Ele apresentaria 
similaridades com Q, em termos de composição, de ên- 
fase em torno das palavras de Jesus e de ausência de títu- 
los cristológicos, tais como: Cristo/Messias, Senhor, Filho 
do Homem. Esse aspecto desata a concepção de que nos 
estágios mais antigos da Igreja era unânime a fé na ressur- 
reição. 
O historiador judaico-romano Flávio Josefo (37-101 
d.C), em sua Guerra judaica, menciona a existência de dí- 
versos grupos no interior da sociedade hebraica da Pales- 
tina. Os sacudes .com.preendiam os notáveis ligados ao 
Templo e eram os conservadores. Q,.s_fariseus, cujo nome 
signific arados, formavam um grupo de puros, atentos 
às regras da Lei de Moisés, mas se preocupavam com a 
pregação popular, .à_diferença dos saduceus. Os essênios, 
ou 'santos', eram também puristas, mas viviam em comu- 
nidades isoladas, sem contato com Jerusalém ou mesmo 
com os outros judeus, taxados por eles de pecadores. Mas 
havia muitos outros grupos menos organizados, como os 
sícários e zelotes, voltados para a expulsão dos romanos, 
assim como profetas escz_¶z_15_5gicQ_s_,_à.-espera do Julgamento, 
como João BatiSta. 
- ` . - , 
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b) Preocupe-se com cada dia: . 
"Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o 
dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu 
mal" (Mt ó:34). 
"Aquele que criou o dia, criou sua substância" (Tanhouma 
Bechalah 2). 
"Basta uma pena por vez" (Berakhot 9b). 
c) Cuide de seus defeitos: 
"Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então 
cuidarás em tirar o arqueiro do olho do teu irmão" (Mt 7:5) 
"Cuida da palha nos teus dentes. Ele lhe retoque: cuida 
antes da trave no teu olho" (Bava Batra 15b). 
18 
I 
..r 
19 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. I"un;1ri 
Ifêsus I IISTÓRICO.UMA mui=víssImA 1n'r1zo1›uÇË› 
Na literatura greco-romana, há poucas referências a Je- 
sus datadas do primeiro século. A mais importante delas é 
um trecho de Flávio Josefo, cuja autenticidade foi colocada 
em questão: 
III. A VIDA DE JESUS. "Naquele tempo, apareceu Jesus, um sábio. Fazia prodí- 
gios, mestre para as pessoas que recebiam com alegria a 
verdade. Arrastou consigo muitos judeus e também muitos 
gregos. E quando Pilatos, a partir de uma denúncia dos nos- 
sos líderes (ou seja, as autoridades judaicas), ele o condenou 
à cruz, aqueles que o tinham amado antes não o cessaram 
de fazer. Até agora, o grupo de cristãos não desapareceu" 
(Antiguidades judaicas 18, 63-64). 
3.1. A Infância de jesus. 
I 
a vida preqrcssz 
6Z72€7', 
O Evangelho de Marcos não menciona nada sobre a 
infância de Jesus, pois sua narrativa começa com o batismo 
no rio Jordão: "aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de 
Nazaré da-.Galileia foi balizado por João no rio Jordão" 
(Mc_1,_Q); Isso significa que os seus seguidores imediato 
reviam ter poucas informações sobre 
de Jesus ou consideravam pouco importante tudo que 
antecedeu o seu encontro com o movimento balista. 
mesmo se pode dizer do filfiifiíí-EVangellio, pois João 
também inicia o relato da vida de Jesus com João Batista 
(JO 1, 29). Mas há outras informações, fornecidas mesmo 
no Evangelho mais avaro de Marcos, quando relata uma 
estada de Jesus em sua aldeia: 
I 
r 
l 
homem sábio) e milagreiro (/mmdoxon czgún 
passados por escrito e que teria servidøpglra osred-Q c 
dos Evangelhos de Mateus e Lucas. 
"Saindo dali, foi para sua pátria c os seus discípulos o 
seguiram. Vindo o sábado, começou ele a ensinar na sinagoga 
e numerosos ouvintes ficavam maravilhados, dizendo: `l)e 
onde lhe vem tudo isso? E que sabedoria é esta que lhe foi 
dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos? Não 
é este o carpinteiro, o ilho de Maria, irmão de Tiago, Jose, 
Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?" 
(Mc 6:1-3). 
Não se $81.1§..Q. a tQ,<l@.ss<::Ir@¢h0 foi escrito mesmo por 
Flávio Josefo_ou_foi alterado por copistas cristãos posterio- 
res. Contudo, a caracterização de Jesus como sábio (soá/Jbos 
"um a a ag ¿ 
poetes, "fazedor de anão extraordinária) parece ser origi- 
nal e refletir a opinião de um judeu, não uma interpolação 
crista. Também sua caracterização como didas/ea/os (`pro- 
fessor) parece ser uma tradução de rabi, mestre, e pode 
indicar ser urna referência original. 
Uma última fonte tem sido aventada, embora seja ape- 
nas uma hipótese.ÊEla é conheci como Evangelho ‹ 
pois foi proposta por estudiosos alemães que a denomin 
5 ram, simplesmente, de Fonte (Que//e). Seria uma coleção de 
ditos de Jesus, preservados primeiro de forma oral e depor 
a ed-att 
. . . )Hoje, existem publi- 
cações de'Yf-a'dÍllções dos Ditos de Jesus, que podem ser 
consultadas. Mas são deduções modernas, não constituem 
fontes antigas. 
20 
I 
I 
1 
21 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. I"un;1ri 
Ifêsus I IISTÓRICO. UMA mui=víssImA 1n'r1zo1›uÇË› 
Na literatura greco-romana, há poucas referências a Je- 
sus datadas do primeiro século. A mais importante delas é 
um trecho de Flávio Josefo, cuja autenticidade foi colocada 
em questão: 
III. A VIDA DE JESUS. "Naquele tempo, apareceu Jesus, um sábio. Fazia prodí- 
gios, mestre para as pessoas que recebiam com alegria a 
verdade. Arrastou consigo muitos judeus e também muitos 
gregos. E quando Pilatos, a partir de uma denúncia dos nos- 
sos líderes (ou seja, as autoridades judaicas), ele o condenou 
à cruz, aqueles que o tinham amado antes não o cessaram 
de fazer. Até agora, o grupo de cristãos não desapareceu" 
(Antiguidades judaicas 18, 63-64). 
3.1. A Infância de jesus. 
I 
a vida preqrcssz 
6Z72€7', 
O Evangelho de Marcos não menciona nada sobre a 
infância de Jesus, pois sua narrativa começa com o batismo 
no rio Jordão: "aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de 
Nazaré da-.Galileia foi balizado por João no rio Jordão" 
(Mc_1,_Q); Isso significa que os seus seguidores imediato 
reviam ter poucas informações sobre 
de Jesus ou consideravam pouco importante tudo que 
antecedeu o seu encontro com o movimento balista. 
mesmo se pode dizer do filfiifiíí-EVangellio, pois João 
também inicia o relato da vida de Jesus com João Batista 
(JO 1, 29). Mas há outras informações, fornecidas mesmo 
no Evangelho mais avaro de Marcos, quando relata uma 
estada de Jesus em sua aldeia: 
I 
r 
l 
homem sábio) e milagreiro (/mmdoxon czgún 
passados por escrito e que teria servidøpglra osred-Q c 
dos Evangelhos de Mateus e Lucas. 
"Saindo dali, foi para sua pátria c os seus discípulos o 
seguiram. Vindo o sábado, começou ele a ensinar na sinagoga 
e numerosos ouvintes ficavam maravilhados, dizendo: `l)e 
onde lhe vem tudo isso? E que sabedoria é esta que lhe foi 
dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos? Não 
é este o carpinteiro, o ilho de Maria, irmão de Tiago, Jose, 
Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?" 
(Mc 6:1-3). 
Não se $81.1§..Q. a tQ,<l@.ss<::Ir@¢h0 foi escrito mesmo por 
Flávio Josefo_ou_foi alterado por copistas cristãos posterio- 
res. Contudo, a caracterização de Jesus como sábio (soá/Jbos 
"um a a ag ¿ 
poetes, "fazedor de anão extraordinária) parece ser origi- 
nal e refletir a opinião de um judeu, não uma interpolação 
crista. Também sua caracterização como didas/ea/os (`pro- 
fessor) parece ser uma tradução de rabi, mestre, e pode 
indicar ser urna referência original. 
Uma última fonte tem sido aventada, embora seja ape- 
nas uma hipótese.ÊEla é conheci como Evangelho ‹ 
pois foi proposta por estudiosos alemães que a denomin 
5 ram, simplesmente, de Fonte (Que//e). Seria uma coleção de 
ditos de Jesus, preservados primeiro de forma oral e depor 
a ed-att 
. . . )Hoje, existem publi- 
cações de'Yf-a'dÍllções dos Ditos de Jesus, que podem ser 
consultadas. Mas são deduções modernas, não constituem 
fontes antigas. 
20 
I 
I 
1 
21 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. Funznri Jesus HISTÓRICO. UMA nRr‹:víssImA INTRODUÇÃO 
A historieta pode parecer ilógico, se Jesus tivesse vivido 
toda sua vida adulta em Nazaré. No entanto, não sabemos 
precisar, antes do encontro com João Batista, o tempo que 
Jesus havia deixado sua cidade. De todo modo, ficamos 
sabendo o nome da sua mãe Maria, de sua profissão ou 11 
de seu pai - pois Mateus 13, 55 menciona, nesse episódio, 
que ele era "o filho do carpinteiro'--, assim como o nome 
de seus parentes. Em aramaico, a palavra a/7 era usada para 
designar um irmão ou um primo, mas em grego, o termo 
usado,adebos, restringe-se ao irmão de sangue.I 
Jesus nasceu no tempo de Herodes-(lVI¬t-21-; Lc 1:5), na 
cidade de Belém, naJu.d.Ç.i§l.(Mt 2:5-8; Lc 2:4-11), ainda que 
esta informação possa ter sido adicionada posteriormente, 
para ligar"Jesus-à asa do mrozvil ̀ Dle fato, o certo é 
que Je'sus'"'e" suão*família viviam em Nazaré, na Galileia 
(Mt 2:23; Lc 2:39). Não é possível precisar quando surgi- 
ram as tradições referentes à concepção de Jesus pelo 
Espírito Santo (Mt 1:18-20; Lc 1:26-38), mas elas estão 
ausentes de Marcos. 
aristocracia,ligada ao Templo dejerusalém, em sintonia com 
o império, mas também com amplas massas camponesas 
excluídas. Sós camponeses, artesãos e pobres em geral inspi- 
ravam-se nos antigos profetas de Israel, que se opunham à 
opulência dos sacerdotes e hierarcas ligados ao Templo de 
Jerusalém. 
Flávio Josefo menciona João Batista e sua morte, 
provavelmente no ano 28: 
3.2. O Movimento Batista jesus. 
› 
/ 
Na Palestina, à época de jesus, multiplicavam-se os mo- 
vimentos sociais, de caráter religioso, voltados às insatis- 
fações e agruras, em especial das pessoas humildes. O 
domínio romano, em todo o Império, estabelecias;livagens 
entre aqueles que se beneficiavam da associação com Roma 
- as elites - e as pessoas excluídas e queixosas da situação 
social em que se encontrava-m-.tlR"örñã""ã-dOtava, havia 
muitos séculos, uma poli aliançascom os grupos 
.dominantes locais, visando à sua incorporação ao exercício, 
do poder, sentido da alava zmperzum. Na Palestina, os 
judeus constituíam uma população heterogénea, com uma 
* i '. 
"Alguns judeus pensavam que a destruição do exército de 
Herodes veio de Deus, de forma justa, como punição pelo que 
ele havia feito contraJoão,.chamado Batista;.,pgis-H@l;¿Qdes o 
matara, ele que era um homem bom e pregava para que os 
judeus praticassem a virtude, tanto pela justiça de uns para 
com os outros, como pela reverência a Deus, para isso vindo 
ao batismo. Esta lavagem era aceita por ele, não se fosse para 
terem alguns pecados perdoados, mas para a purificação 
do corpo. A alma devia estar purificada antes pela retidão. 
( a n d o muitos vieram em multidão até João, movidos por 
suas palavras, Herodes, que temia a grande influência de João 
sobre o povo, o que permitiria que estimulasse uma revolta 
(pois pareciam prontos a fazer o que ele dissesse), pensou 
ser melhor matá-lo. Isto impediria qualquer anão contrária 
causada por João e não traria dificuldades para o rei, que 
poderia arrepender-se muito tarde de tê-lo deixado vivo. 
Assim, foi aprisionado em Maquerus,-cast€-lQ quemengonei 
antes, e mortoÍQs judeus consideraram que a destruição 
do exército de Herodesíoi uma punição, para mostrar O 
desagrado de Deus"(flntiguidadesjudaicas 18, 5, 2, parágrafos 
11ó-119); 
Esse testemunho mostra o caráter popular da pregação 
do Batista e como o povo, além de acorrer ao profeta, 
interpretou o rei e a elite como ímpios. Jesus e al uns de 
23 22 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. Funznri Jesus HISTÓRICO. UMA nRr‹:víssImA INTRODUÇÃO 
A historieta pode parecer ilógico, se Jesus tivesse vivido 
toda sua vida adulta em Nazaré. No entanto, não sabemos 
precisar, antes do encontro com João Batista, o tempo que 
Jesus havia deixado sua cidade. De todo modo, ficamos 
sabendo o nome da sua mãe Maria, de sua profissão ou 11 
de seu pai - pois Mateus 13, 55 menciona, nesse episódio, 
que ele era "o filho do carpinteiro'--, assim como o nome 
de seus parentes. Em aramaico, a palavra a/7 era usada para 
designar um irmão ou um primo, mas em grego, o termo 
usado,adebos, restringe-se ao irmão de sangue.I 
Jesus nasceu no tempo de Herodes-(lVI¬t-21-; Lc 1:5), na 
cidade de Belém, naJu.d.Ç.i§l.(Mt 2:5-8; Lc 2:4-11), ainda que 
esta informação possa ter sido adicionada posteriormente, 
para ligar"Jesus-à asa do mrozvil ̀ Dle fato, o certo é 
que Je'sus'"'e" suão*família viviam em Nazaré, na Galileia 
(Mt 2:23; Lc 2:39). Não é possível precisar quando surgi- 
ram as tradições referentes à concepção de Jesus pelo 
Espírito Santo (Mt 1:18-20; Lc 1:26-38), mas elas estão 
ausentes de Marcos. 
aristocracia,ligada ao Templo dejerusalém, em sintonia com 
o império, mas também com amplas massas camponesas 
excluídas. Sós camponeses, artesãos e pobres em geral inspi- 
ravam-se nos antigos profetas de Israel, que se opunham à 
opulência dos sacerdotes e hierarcas ligados ao Templo de 
Jerusalém. 
Flávio Josefo menciona João Batista e sua morte, 
provavelmente no ano 28: 
3.2. O Movimento Batista jesus. 
› 
/ 
Na Palestina, à época de jesus, multiplicavam-se os mo- 
vimentos sociais, de caráter religioso, voltados às insatis- 
fações e agruras, em especial das pessoas humildes. O 
domínio romano, em todo o Império, estabelecias;livagens 
entre aqueles que se beneficiavam da associação com Roma 
- as elites - e as pessoas excluídas e queixosas da situação 
social em que se encontrava-m-.tlR"örñã""ã-dOtava, havia 
muitos séculos, uma poli alianças com os grupos 
.dominantes locais, visando à sua incorporação ao exercício, 
do poder, sentido da alava zmperzum. Na Palestina, os 
judeus constituíam uma população heterogénea, com uma 
* i '. 
"Alguns judeus pensavam que a destruição do exército de 
Herodes veio de Deus, de forma justa, como punição pelo que 
ele havia feito contraJoão,.chamado Batista;.,pgis-H@l;¿Qdes o 
matara, ele que era um homem bom e pregava para que os 
judeus praticassem a virtude, tanto pela justiça de uns para 
com os outros, como pela reverência a Deus, para isso vindo 
ao batismo. Esta lavagem era aceita por ele, não se fosse para 
terem alguns pecados perdoados, mas para a purificação 
do corpo. A alma devia estar purificada antes pela retidão. 
( a n d o muitos vieram em multidão até João, movidos por 
suas palavras, Herodes, que temia a grande influência de João 
sobre o povo, o que permitiria que estimulasse uma revolta 
(pois pareciam prontos a fazer o que ele dissesse), pensou 
ser melhor matá-lo. Isto impediria qualquer anão contrária 
causada por João e não traria dificuldades para o rei, que 
poderia arrepender-se muito tarde de tê-lo deixado vivo. 
Assim, foi aprisionado em Maquerus,-cast€-lQ quemengonei 
antes, e mortoÍQs judeus consideraram que a destruição 
do exército de Herodesíoi uma punição, para mostrar O 
desagrado de Deus"(flntiguidadesjudaicas 18, 5, 2, parágrafos 
11ó-119); 
Esse testemunho mostra o caráter popular da pregação 
do Batista e como o povo, além de acorrer ao profeta, 
interpretou o rei e a elite como ímpios. Jesus e al uns de 
23 22 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. l*lun;1ri Jrêsus P {IS'róRICO. UMA m‹¡êvísslmA 1 n'l'¡‹‹›nuçÃo 
seus discípulos pertenceram a este movimento baptista, 
como André e Pedro: 
Q 
artesãos e camponeses não poderiam se preocupar tanto 
com a pureza ritual. O movimento baptista estava aberto a 
estrangeiros e permitia o perdão dos pecados, sem o acordo 
e mesmo em oposição ao perdão centralizado no Templo 
de Jerusalém e oficializado pelo ritual do Y ͧ_1¿*¿z{dia 
do perdão), celebrado no dia 10 de mês tis/ari (Setembro/ 
Outubro no nosso calendario). 
Tudo indica que houve um abandono, após algum 
tempo L prática do batismo por parte de Jesus e seus 
seguidores. Jesus será, como pregador, muito diferente de 
oao Batista: não se vestirá como o profeta Elias (Mc 1:ó), 
sairá do Rio Jordão para pregar ao povo em suas aldeias, 
não se apresentará como um homem consagrado a Deus 
(nazi), que deveria abster-se de vinho e fermentados - ao 
contrário, beberá e comerá carne. O próprio Jesus teria dito 
"No dia seguinte, João se achava lá de novo, com dois de 
seus discípulos. Ao ver jesus que passava, disse: "eis o cordeiro 
de Deus". Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram 
Jesus.Jesus voltou-se e, vendo que eles o seguiam, disse-lhes: 
"que estais procurando? Disseram-lhe: 'rabi (que, traduzido, 
significa mestre), onde moras?' Disse-lhes: "vinde e vedc'. 
Então eles foram e viram onde morava e permaneceram com 
ele aquele dia. Era a hora décima, aproximadamente. André, 
o irmao de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as 
palavras de João e seguiram Jesus. Encontrou primeiramente 
Simão e lhe disse: "encontramos o Messias (que quer dizer 
Cristo)'. Ele o conduziu a Jesus. Fitando-o, disse-lhc Jesus: 
'tu és Simão, o ilho de João; chamar-te-ás Cefas (que quer 
dizer pedra)" (JO 1:35-42). 
1 
"Corre efeito, veio João, que não come nem bebe, e dizem: 
'um demónio está nele". Veio o Filho do Homem, que come 
e bebe, e dizem: 'eis aí um glutão c beberrão, amigo dc 
publicamos e pecadores" (Mt 11:18-19). 
I 
1 
q 
1 
4 
T Talvez se possa localizar a ruptura com O movimento 
balista nessa contraposição, em um movimento de afilsta- 
mento do ascetismo, em direcção ao engajamento com os 
Impuros "não são OS que têm saúde que precisam de médi- 
cos, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecado- 
res" (Mc 2117) 
EU 
1 
I 
*Í â 
š 1 
J 
3.3.]esus, Porta-Voz de Deus. 
H 
'n 
Jesus, ainda em vida, era conhecido como `emissário 
d1v1n0', conforme citação em Mt (21:10-11): 
Eram membros do movimento balista e balizavam: 
"Depois disso, Jesus veio com os seus discípulos para o 
território da Judeia e permaneceu ali com eles e balizava" 
(JO 3:23). A purificação pela água era regra ritual do 
judaísmo da época, com a necessidade de banhosrituais 
miégg0t) para purificar as pessoas, quando tivessem contatos 
impuros com estrangeiros, com mortos ou doentes, entre 
outras situações consideradas impuras. Contudo, no seio 
do povo, nem sempre era possível manter tais rigores e 
_-O movimento balista se caracterizava pela limpeza do 
corpo, mas com ênfase nas intenções, não no contato ritual 
impuro. Jesus e seus discípulos teriam sempre contato 
com impuros: pecadores, leprosos, não-judeus, prostitutas 
ou mulheres em situação de impureza. Isso se explica, em 
parte, pela origem popular desses movimentos sociais, pois 
I 
ê 
1 
"E, entrando em Jerusalém, a cidade inteira agitou-se c 
25 24 
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seus discípulos pertenceram a este movimento baptista, 
como André e Pedro: 
Q 
artesãos e camponeses não poderiam se preocupar tanto 
com a pureza ritual. O movimento baptista estava aberto a 
estrangeiros e permitia o perdão dos pecados, sem o acordo 
e mesmo em oposição ao perdão centralizado no Templo 
de Jerusalém e oficializado pelo ritual do Y ͧ_1¿*¿z{dia 
do perdão), celebrado no dia 10 de mês tis/ari (Setembro/ 
Outubro no nosso calendario). 
Tudo indica que houve um abandono, após algum 
tempo L prática do batismo por parte de Jesus e seus 
seguidores. Jesus será, como pregador, muito diferente de 
oao Batista: não se vestirá como o profeta Elias (Mc 1:ó), 
sairá do Rio Jordão para pregar ao povo em suas aldeias, 
não se apresentará como um homem consagrado a Deus 
(nazi), que deveria abster-se de vinho e fermentados - ao 
contrário, beberá e comerá carne. O próprio Jesus teria dito 
"No dia seguinte, João se achava lá de novo, com dois de 
seus discípulos. Ao ver jesus que passava, disse: "eis o cordeiro 
de Deus". Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram 
Jesus.Jesus voltou-se e, vendo que eles o seguiam, disse-lhes: 
"que estais procurando? Disseram-lhe: 'rabi (que, traduzido, 
significa mestre), onde moras?' Disse-lhes: "vinde e vedc'. 
Então eles foram e viram onde morava e permaneceram com 
ele aquele dia. Era a hora décima, aproximadamente. André, 
o irmao de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as 
palavras de João e seguiram Jesus. Encontrou primeiramente 
Simão e lhe disse: "encontramos o Messias (que quer dizer 
Cristo)'. Ele o conduziu a Jesus. Fitando-o, disse-lhc Jesus: 
'tu és Simão, o ilho de João; chamar-te-ás Cefas (que quer 
dizer pedra)" (JO 1:35-42). 
1 
"Corre efeito, veio João, que não come nem bebe, e dizem: 
'um demónio está nele". Veio o Filho do Homem, que come 
e bebe, e dizem: 'eis aí um glutão c beberrão, amigo dc 
publicamos e pecadores" (Mt 11:18-19). 
I 
1 
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4 
T Talvez se possa localizar a ruptura com O movimento 
balista nessa contraposição, em um movimento de afilsta- 
mento do ascetismo, em direcção ao engajamento com os 
Impuros "não são OS que têm saúde que precisam de médi- 
cos, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecado- 
res" (Mc 2117) 
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3.3.]esus, Porta-Voz de Deus. 
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Jesus, ainda em vida, era conhecido como `emissário 
d1v1n0', conforme citação em Mt (21:10-11): 
Eram membros do movimento balista e balizavam: 
"Depois disso, Jesus veio com os seus discípulos para o 
território da Judeia e permaneceu ali com eles e balizava" 
(JO 3:23). A purificação pela água era regra ritual do 
judaísmo da época, com a necessidade de banhos rituais 
miégg0t) para purificar as pessoas, quando tivessem contatos 
impuros com estrangeiros, com mortos ou doentes, entre 
outras situações consideradas impuras. Contudo, no seio 
do povo, nem sempre era possível manter tais rigores e 
_-O movimento balista se caracterizava pela limpeza do 
corpo, mas com ênfase nas intenções, não no contato ritual 
impuro. Jesus e seus discípulos teriam sempre contato 
com impuros: pecadores, leprosos, não-judeus, prostitutas 
ou mulheres em situação de impureza. Isso se explica, em 
parte, pela origem popular desses movimentos sociais, pois 
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André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari JESUS H1STÓR1CO. UMA 8REVíSSIMA INTRODUÇÃO 
dizia: 'quem é este?'A isso as multidões respondiam: 'Este é o 
profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia' " 
escribas" (Mc 1:22). 
"Ele manda com autoridade até aos espíritos imundos, 
obedecem-lhe" (Mc 1:27). 
e 
.. 
E 
1 q 
: 
A palavra grega exousía designa um tipo de poder, mas 
não sabemos como essa sua potência mágica era chamada 
em aramaico. De qualquer modo, esse carisma exercia- 
se por meio das falas de Jesus, perdidas em sua forma 
original, em aramaico, mas cujo substrato oral se encontra 
preservado em muitas frases que parecem diretamente 
traduzidas da língua semita para o grego. Talvez a mais 
famosa seja: 
Era chamado de Nabi, traduzido para o grego (e depois 
para o português) como profeta. A palavra significa, literal- 
mente,borbulho, aquele que fala como se borbulhasse, como 
se a fonte das suas palavras fosse Deus, que borbulhava as 
palavras na boca daquele que era um emissário, um trans- 
missor. Havia uma longa tradição de profetas em Israel. 
Eram homens que, desde o período dos reis, falavam 
para o povo, criticavam as autoridades, tanto políticas 
como religiosas, por se afastarem da justiça e da igualdade 
comum a todos os alhos de Deus. Sua mensagem inseria- 
se na linha dos antigos profetas de Israel, como um profeta 
itinerante, que se poderia caracterizar como carismático, 
para usar o termo difundido pelo sociólogo alemão Max 
Weber, com a seguinte definição: 
O 
"O sábado foi feito para o homem, e não o homem para 
sábado" (Mc 2:27). 
1 
1 
Mas muitas outras, curtas e dietas, ressoam o original 
aramaico que se perdeu, como: 
"O carisma é uma qualidade de uma personalidade 
individual, por isso separado das pessoas comuns, pessoa tra- 
tada como se dotada de poder e qualidades super-humanas, 
além da natureza, ou ao menos excepcionais. Estas não são 
acessíveis às pessoas comuns, mas são consideradas de origem 
divina ou como modelos e, por isso, o indivíduo é considerado 
um líder." 
4 
"Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo" 
(Má 4:17). 
"Se alguém quer ser o primeiro, será o último de todos e 
o servo de todos" (Mc 9:34). 
"Se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode 
subsistir" (Mc 3:25). 
"Olhai os lírio do campo, como eles crescem: não 
trabalham nem Sam. Eu vos digo que nem mesmo Salomão, 
em toda sua glória, se vestiu com qualquer deles" (Mt 6:28- 
29). 
O próprio termo carisma deriva do grego Marie, "graça, 
favor', muito usado no Novo Testamento. No entanto, 
a expressão usada para se referir ao carisma de Jesus era 
*ó2qousz2z duzido como 'autoridade': 
"Pôs ouvintes ficavam admirados com a sua doutrina, 
porque os ensinava com quem tem autoridade, e não como os É â 
Jesus, após uma fase inicial comjoão Batista.,1:Qma¬seum 
pre ado errante. Caracterizou-se porfrases simples, dietas 
Ê cortawfiíëS; pelos disõííršõs que emanava 
26 
I 
85 
1 
1 
27 
André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari JESUS H1STÓR1CO. UMA 8REVíSSIMA INTRODUÇÃO 
dizia: 'quem é este?'A isso as multidões respondiam: 'Este é o 
profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia' " 
escribas" (Mc 1:22). 
"Ele manda com autoridade até aos espíritos imundos, 
obedecem-lhe" (Mc 1:27). 
e 
.. 
E 
1 q 
: 
A palavra grega exousía designa um tipo de poder, mas 
não sabemos como essa sua potência mágica era chamada 
em aramaico. De qualquer modo, esse carisma exercia- 
se por meio das falas de Jesus, perdidas em sua forma 
original, em aramaico, mas cujo substrato oral se encontra 
preservado em muitas frases que parecem diretamente 
traduzidas da língua semita para o grego. Talvez a mais 
famosa seja: 
Era chamado de Nabi, traduzido para o grego (e depois 
para o português) como profeta. A palavra significa,literal- 
mente,borbulho, aquele que fala como se borbulhasse, como 
se a fonte das suas palavras fosse Deus, que borbulhava as 
palavras na boca daquele que era um emissário, um trans- 
missor. Havia uma longa tradição de profetas em Israel. 
Eram homens que, desde o período dos reis, falavam 
para o povo, criticavam as autoridades, tanto políticas 
como religiosas, por se afastarem da justiça e da igualdade 
comum a todos os alhos de Deus. Sua mensagem inseria- 
se na linha dos antigos profetas de Israel, como um profeta 
itinerante, que se poderia caracterizar como carismático, 
para usar o termo difundido pelo sociólogo alemão Max 
Weber, com a seguinte definição: 
O 
"O sábado foi feito para o homem, e não o homem para 
sábado" (Mc 2:27). 
1 
1 
Mas muitas outras, curtas e dietas, ressoam o original 
aramaico que se perdeu, como: 
"O carisma é uma qualidade de uma personalidade 
individual, por isso separado das pessoas comuns, pessoa tra- 
tada como se dotada de poder e qualidades super-humanas, 
além da natureza, ou ao menos excepcionais. Estas não são 
acessíveis às pessoas comuns, mas são consideradas de origem 
divina ou como modelos e, por isso, o indivíduo é considerado 
um líder." 
4 
"Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo" 
(Má 4:17). 
"Se alguém quer ser o primeiro, será o último de todos e 
o servo de todos" (Mc 9:34). 
"Se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode 
subsistir" (Mc 3:25). 
"Olhai os lírio do campo, como eles crescem: não 
trabalham nem Sam. Eu vos digo que nem mesmo Salomão, 
em toda sua glória, se vestiu com qualquer deles" (Mt 6:28- 
29). 
O próprio termo carisma deriva do grego Marie, "graça, 
favor', muito usado no Novo Testamento. No entanto, 
a expressão usada para se referir ao carisma de Jesus era 
*ó2qousz2z duzido como 'autoridade': 
"Pôs ouvintes ficavam admirados com a sua doutrina, 
porque os ensinava com quem tem autoridade, e não como os É â 
Jesus, após uma fase inicial comjoão Batista.,1:Qma¬seum 
pre ado errante. Caracterizou-se porfrases simples, dietas 
Ê cortawfiíëS; pelos disõííršõs que emanava 
26 
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27 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lã"un;u'i Jesus HISTÓRICO. U M A BREVíSSIMA INTRODUÇÃO 
todos para os obres, pelas parábolas que se fundavam na 
vida cotidiana dos mais simples. O caso paradigmático des- 
sa pregação aos mais pobres, consiste no Sermão da Mon- 
tanha: 
37), ao explicar quem era o 'próximo', do mandamento 
'amarás teu próximo", conta que uma pessoa ficou em poder 
de ladrões. Um sacerdote viu-o e nada fez. Um levita fez 
o mesmo. Um samaritano, que nem seguia o .judaísmo do 
Templo e era, portanto, considerado impuro, salvou e tratou 
do estranho que haxaa..§.a.ís10-I1fl§ mãos dos ladrões. .Este 
era __0__próggirno Esta narrativa, simples, direta e popular, era~ 
tudo que o povo queria ouvir e era o que desagradava ag 
elites. Era a essência da prešaišo de jesus por parábolas. 
"Vendo jesus aquela multidão, subiu a um monte c, tendo- 
se sentado, aproximaram-se dele os seus discípulos. Ele, 
abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: bem-aventurados 
os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. 
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 
Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque 
serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosas, porque 
alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, 
porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque 
serão chamados de filhos de Deus. Bem-aventurados os que 
sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles e o 
reino dos céus" (Mt 5:1-12). 
3.4.]esus, 0 Poder de Deus. 
Como já escrito anteriormente, Flávio Josefo disse que 
Jesus era um 'fazedor de coisa extraordinária' e o§Evange- 
lhos reportam vinte e sete milagres'. A palavra milagre 
deriva do latim miraczzÍ'1iZ?1-zië-šignific-ÊÊ1 algo que deixa estu- 
pefato, admirado, para usarmos a raiz latina comum. Jesus 
e seus seguidores não falavam o latim e, tampouco, temos 
os termos aramaicos originais. Nos Evangelhos, aparecem 
diversos termos traduzidos por "milagre, cada um com 
suas características e possíveis correlações com os possíveis 
termos originais em aramaico. Cada um revela aspectos da 
anão de Jesus, segundo seus contemporâneos. 
A palavra semeion (sinal e imagem) conota a ligação 
de uma anão excepcional a Deus, como um sinal de sua 
presença. Este é o sentido claro, na passagem conclusiva 
sobre a vida de Moisés: 
Paralelo a esta defesa dos humildes, em discursos para 
multidões, Jesus pregava por meio de parábolas. Este ter- 
mo grego designa uma história contada por meio de situa- 
ções concretas que possuem implicações mais amplas. A 
expressão parece traduzir o hebraico mas/yód e o aramaico 
mal*/a (provérbio). O que caracteriza tais contos é o uso de 
comparações, que deveriam ser entendidas por aqueles 
abertos à mensagem de Jesus, àqueles de coração disposto ~`t 
justiça, mas não o eram pelos duros: "por isso lhes ido em 
parábolas, porque vendo não vêem, e ouvindo não ouvem, 
nem entendem" (Mt 13:13). 
Não por acaso, as parabolas apresentavam personagens 
desprezados pela elite sacerdotal ermo o born.samaritano, 
contraposto a certo doutor a 1e1. Segundo jesus (Lc 10:25- 
"Nunca mais surgiu em Israel profeta semelhante a Moisés, 
com quem o Senhor tratasse face a face, nem quanto aos 
sinais e prodígios que o Senhor lhe mandou fitzcr no Edito" 
(Dt 34z10-11). 
A palavra hebraica 0th (alba aramaico) e era em 
28 
OS 
29 
André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lã"un;u'i Jesus HISTÓRICO. U M A BREVíSSIMA INTRODUÇÃO 
todos para os obres, pelas parábolas que se fundavam na 
vida cotidiana dos mais simples. O caso paradigmático des- 
sa pregação aos mais pobres, consiste no Sermão da Mon- 
tanha: 
37), ao explicar quem era o 'próximo', do mandamento 
'amarás teu próximo", conta que uma pessoa ficou em poder 
de ladrões. Um sacerdote viu-o e nada fez. Um levita fez 
o mesmo. Um samaritano, que nem seguia o .judaísmo do 
Templo e era, portanto, considerado impuro, salvou e tratou 
do estranho que haxaa..§.a.ís10-I1fl§ mãos dos ladrões. .Este 
era __0__próggirno Esta narrativa, simples, direta e popular, era~ 
tudo que o povo queria ouvir e era o que desagradava ag 
elites. Era a essência da prešaišo de jesus por parábolas. 
"Vendo jesus aquela multidão, subiu a um monte c, tendo- 
se sentado, aproximaram-se dele os seus discípulos. Ele, 
abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: bem-aventurados 
os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. 
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 
Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque 
serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosas, porque 
alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, 
porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque 
serão chamados de filhos de Deus. Bem-aventurados os que 
sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles e o 
reino dos céus" (Mt 5:1-12). 
3.4.]esus, 0 Poder de Deus. 
Como já escrito anteriormente, Flávio Josefo disse que 
Jesus era um 'fazedor de coisa extraordinária' e o§Evange- 
lhos reportam vinte e sete milagres'. A palavra milagre 
deriva do latim miraczzÍ'1iZ?1-zië-šignific-ÊÊ1 algo que deixa estu- 
pefato, admirado, para usarmos a raiz latina comum. Jesus 
e seus seguidores não falavam o latim e, tampouco, temos 
os termos aramaicos originais. Nos Evangelhos, aparecem 
diversos termos traduzidos por "milagre, cada um com 
suas características e possíveis correlações com os possíveis 
termos originais em aramaico. Cada um revela aspectos da 
anão de Jesus, segundo seus contemporâneos. 
A palavra semeion (sinal e imagem) conota a ligação 
de uma anão excepcional a Deus, como um sinal de sua 
presença. Este é o sentido claro, na passagem conclusiva 
sobre a vida de Moisés: 
Paralelo a esta defesa dos humildes,em discursos para 
multidões, Jesus pregava por meio de parábolas. Este ter- 
mo grego designa uma história contada por meio de situa- 
ções concretas que possuem implicações mais amplas. A 
expressão parece traduzir o hebraico mas/yód e o aramaico 
mal*/a (provérbio). O que caracteriza tais contos é o uso de 
comparações, que deveriam ser entendidas por aqueles 
abertos à mensagem de Jesus, àqueles de coração disposto ~`t 
justiça, mas não o eram pelos duros: "por isso lhes ido em 
parábolas, porque vendo não vêem, e ouvindo não ouvem, 
nem entendem" (Mt 13:13). 
Não por acaso, as parabolas apresentavam personagens 
desprezados pela elite sacerdotal ermo o born.samaritano, 
contraposto a certo doutor a 1e1. Segundo jesus (Lc 10:25- 
"Nunca mais surgiu em Israel profeta semelhante a Moisés, 
com quem o Senhor tratasse face a face, nem quanto aos 
sinais e prodígios que o Senhor lhe mandou fitzcr no Edito" 
(Dt 34z10-11). 
A palavra hebraica 0th (alba aramaico) e era em 
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OS 
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. . . . . . . . . . . 
O Evangelho de João narra 0 início da trajetória 
pregadora de Jesus com a transformação da água em 
vinho, em uma festa de casamento: "este início dos sinais, 
Jesus o realizou em Cana da Galileia" (Jo 2:11). Também 
se usava o termo terás, que se relaciona ao nosso "terror', 
que parece reportar-se ao hebraico 7720fit, traduzido por 
prodígio, maravilha, aquilo que causa espanto, temor e 
admiração, a um só tempo. Aqui também, trata-se de algo 
fora do comum e que por isso causa admiração e temor 
e que provém de uma força superior: Deus. Outras duas 
expressões, ergo (°trabalho') e dynamis ("poder'), podem 
ser associadas a Deus ou ao Demônio, como o faziam os 
críticos de Jesus: 
Evangelhos usam "sinais" para se referir a anões espantosas, 
"sinais" da divindade que a t a por meio de um profeta. 
Como dirão os primeiros cristãos: 
"Estende a mão para que se realizem curas, sínais e prodígios 
por meio do nome do teu santo servo Jesus" (At 5:30). 
André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari 
l 
extraordinárias foram parte essencial da pregação de Jesus 
e estavam associadas a um poder superior, demoníaco para 
seus detratores, divino para seus seguidores. Em ambos os 
casos, entretanto, duas características devem ser destacadas 
a) as pessoas acreditavam em milagres e eles ocorriam, b) 
havia uma conotação popular, associada aos prodígios 
No mundo moderno, há pessoas que não acreditam 
em Deus, espíritos, forças superiores, ou milagres. Estes 
costumam ser chamados de ateus (que não acreditam em 
Deus) ou, de forma mais apropriada, agnósticos (que¬não 
conhecem, ou reconhecem, forças sobrenaturais). 
No mundo antigo a situação era um pouco diferente. Ha 
um escrito em uma parede na Pompeia, antes de 79, bem 
esclarecedor: "nego todos 0s deuses (bomnes nego dos)". Mas 
L grande maioria das pessoas não duvidava do poder de 
,forças extra-humanas. Como nos diz uma inscrição grega 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO 
"Tendo sido punido pelo deus, erigiu esta estela para 
Apolo Labenos relatando como ele me puniu por um 
juramento, meu reconhecimento da culpa e impureza. 
Declaro para todos que ninguém deve desprezar os d€US€S". 
"Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava 1 
possuído por Beelzebu e expulsava demónios pelo poder do I 
chefe dos demónios" (JO 3:22). 
Contudo, a palavra "poder" (dynamis) representava o 
próprio Deus: 
Qutra prova do poder divino são os ex-votos, dedicados 
a diversas divindades, que chegaram até nós e que agrade- 
cem as graças obtidas. Um bom exemplo é inscrição de 
uma Kleo, em agradecimento a Esculápio: "admire o poder 
deste deus que me deu de volta a saúde". Se isso era verdade 
entre os politeístas, também o era nos ambientes judaicos 
Um contemporâneo de Jesus foi Teudas, citado tanto por 
Flávio Josefo, como por Atos dos Apóstolos: 
"O Sumo Sacerdote perguntou de novo: "És o Messias, 
Filho de Deus Bendito? Jesus respondeu: "Sou. E vereis o 
Filho do Homem sentado à direita do Poder, vindo com as 
nuvens do céu" (Mc 14:61-62). 
Em todos os casos, sinais, prodígios e milagres, as anões 
"Um impostor, chamado Teudas, persuadiu um grande 
número de pessoas a o seguirem até o rio Jordão. Ele afirmava 
31 30 
I 
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. . . . . . . . . . . 
O Evangelho de João narra 0 início da trajetória 
pregadora de Jesus com a transformação da água em 
vinho, em uma festa de casamento: "este início dos sinais, 
Jesus o realizou em Cana da Galileia" (Jo 2:11). Também 
se usava o termo terás, que se relaciona ao nosso "terror', 
que parece reportar-se ao hebraico 7720fit, traduzido por 
prodígio, maravilha, aquilo que causa espanto, temor e 
admiração, a um só tempo. Aqui também, trata-se de algo 
fora do comum e que por isso causa admiração e temor 
e que provém de uma força superior: Deus. Outras duas 
expressões, ergo (°trabalho') e dynamis ("poder'), podem 
ser associadas a Deus ou ao Demônio, como o faziam os 
críticos de Jesus: 
Evangelhos usam "sinais" para se referir a anões espantosas, 
"sinais" da divindade que a t a por meio de um profeta. 
Como dirão os primeiros cristãos: 
"Estende a mão para que se realizem curas, sínais e prodígios 
por meio do nome do teu santo servo Jesus" (At 5:30). 
André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari 
l 
extraordinárias foram parte essencial da pregação de Jesus 
e estavam associadas a um poder superior, demoníaco para 
seus detratores, divino para seus seguidores. Em ambos os 
casos, entretanto, duas características devem ser destacadas 
a) as pessoas acreditavam em milagres e eles ocorriam, b) 
havia uma conotação popular, associada aos prodígios 
No mundo moderno, há pessoas que não acreditam 
em Deus, espíritos, forças superiores, ou milagres. Estes 
costumam ser chamados de ateus (que não acreditam em 
Deus) ou, de forma mais apropriada, agnósticos (que¬não 
conhecem, ou reconhecem, forças sobrenaturais). 
No mundo antigo a situação era um pouco diferente. Ha 
um escrito em uma parede na Pompeia, antes de 79, bem 
esclarecedor: "nego todos 0s deuses (bomnes nego dos)". Mas 
L grande maioria das pessoas não duvidava do poder de 
,forças extra-humanas. Como nos diz uma inscrição grega 
JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO 
"Tendo sido punido pelo deus, erigiu esta estela para 
Apolo Labenos relatando como ele me puniu por um 
juramento, meu reconhecimento da culpa e impureza. 
Declaro para todos que ninguém deve desprezar os d€US€S". 
"Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava 1 
possuído por Beelzebu e expulsava demónios pelo poder do I 
chefe dos demónios" (JO 3:22). 
Contudo, a palavra "poder" (dynamis) representava o 
próprio Deus: 
Qutra prova do poder divino são os ex-votos, dedicados 
a diversas divindades, que chegaram até nós e que agrade- 
cem as graças obtidas. Um bom exemplo é inscrição de 
uma Kleo, em agradecimento a Esculápio: "admire o poder 
deste deus que me deu de volta a saúde". Se isso era verdade 
entre os politeístas, também o era nos ambientes judaicos 
Um contemporâneo de Jesus foi Teudas, citado tanto por 
Flávio Josefo, como por Atos dos Apóstolos: 
"O Sumo Sacerdote perguntou de novo: "És o Messias, 
Filho de Deus Bendito? Jesus respondeu: "Sou. E vereis o 
Filho do Homem sentado à direita do Poder, vindo com as 
nuvens do céu" (Mc 14:61-62). 
Em todos os casos, sinais, prodígios e milagres, as anões 
"Um impostor, chamado Teudas, persuadiu um grande 
número de pessoas a o seguirem até o rio Jordão. Ele afirmava 
31 30 
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"De fato, surgirão falsos cristos e falsos profetas, que farão 
sinais e prodígios capazes de enganar, se possível, até 
eleitos" (Mc 14:22). 
"2¿\lgum tempo atrás levantou-se Teudas, que sc fazla 
importante, e a quem se .juntaram cerca de quatrocentos 
seguidores, ele foi morto, e todos os que o seguiam 
debandaram" (At 5:3ó). 
Havia muitos mílagreirosz 
ser o Profeta e que, sob sua ordem, as águas do rio se abririam 
(flntiguidadesƒudaicas, 20:97-99).

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