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I Tesus Histórico Uma Brevíssima Introdução André Leonardo Chevitarese Pedro Paulo A. Funarí UNICAMP Biblioteca - IFCH Iíífifi E I Rio de Janeiro 2012 L JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO 1 1 1. INTRODUÇÃO: JESUS, UM HOMEM. Poucos personagens históricos têm tanta repercussão, por tanto tempo, como Jesus de Nazaré. No início do terceiro milénio - ou seja, tendo como ponto de partida esse mesmo Jesus, cujo nascimento marca o início da Era Comum dotada em todo o mundo - cerca de um terço da humanidade, mais de dois bilhões de pessoas, professam a fé crista e se reportam, portanto, ao homem de Nazaré. No Brasil, mais de 150 milhões declaram-se cristãos. Pelo critério do número de seguidores, Jesus ultrapassa, de longe, outros líderes, como Mao é, cujos seguidores são hoje mais de um bilhão e quinhentos-_mill1ões. Jesus, à diferença de Maomé (570-632 d.C.)Ínão deixou nada escrito e, nesse aspecto, está mais próximo do filósofo grego Sócrates (470-399 a.C.) ou de S daéatazí-Êzauíama (624-544 a.C.), chamado por seus seguidores de Bud2ÍÔ--filósofo iluminista francês e agnóstico Voltaire (1694-1778) afir- mou sobre Jesus algo polémico, mas que continua, em grande parte, válido: "Jesus de Nazaré foi um judeu obscuro, proveniente da raia miúda; ele foi crucificado por blasfémia, no tempo do imperador romano Tibério, sem que se possa saber em qual ano". I i 7 Mateus (Mt) Lucas (Lc) Marcos (Mc) João (Jo) Este livro procura mostrar como Jesus de Nazaré, o homem que viveu há dois mil anos, um personagem histórico, pode ser estudado e conhecido. Não se busca, aqui, abranger o cristianismo, a religião que se originou, de alguma forma, do homem de Nazaré, a não ser na medida em que a confissão crista intuiu na pesquisa sobre o Jesus Histórico. Nossa meta é mostrar o que se sabe e quais as-discussÕes,.pn1;..pa.rte dos estudiosos,_ sobre a vida de __._Jesus. Nessa viagem, convidamos o leitor a mergulhar em algumas das mais fascinantes histórias. Muitas delas estão conosco até hoje, na forma de parábolas, imagens, rituais e comportamentos coletivos e individuais. Tantas vezes nos pegamos a falar em "separar o joio do trigo", ou a hesitar a 'atirar a primeira pedra, ou ainda a *lavar as mãos". Estas e outras passagens da narrativa de Jesus estão presentes em nosso quotidiano e indicam o início de nossa caminhada pela vida do nazareno. André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lfunzxri * * . I A História se faz com documentos. O passado já não exis- te e apenas podemos conjecturar a seu respeito por meio de testemunhos, diretos ou indiretos, materiais ou imate- riais. Os estudiosos costumam denominar documentos a tudo o que permite inferir algo: são as fontes de informa- ção. A própria palavra fonte é uma metáfora, como se algo fosse comparável à água que brota e que nos dá de beber. No caso da vida de Jesus de Nazaré, há tipos de fontes: os manuscritos do Novo Testamento, as escavações arqueo- lógicas; as descobertas de ( l m r a n (manuscritos do Mar _Norto) e de Nag Hammadi, no Egito; os escritos judaicos; e os testemunhos de fora do ambientejudaico-cristão. Comecemos pelas mais conhecidas - os vinte e sete livros do Novo Testamento -, com destaque para os re- latos da vida de Jesus (os Evangelhos), o livro "histórico" (Ato dos Apóstolos - Ar), as Epístolas ou Cartas e o profe- tico (Apocalipse - Ap). Pode-se dividi-los em quatro cate- gorias, conforme tabelas abaixo. 11. 2.1. As Fontes. COMO CONHECER O JESUS HISTÓRICO? JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In*rI‹o1)uçÃo Os Evangelhos. 8 Íä 9 Mateus (Mt) Lucas (Lc) Marcos (Mc) João (Jo) Este livro procura mostrar como Jesus de Nazaré, o homem que viveu há dois mil anos, um personagem histórico, pode ser estudado e conhecido. Não se busca, aqui, abranger o cristianismo, a religião que se originou, de alguma forma, do homem de Nazaré, a não ser na medida em que a confissão crista intuiu na pesquisa sobre o Jesus Histórico. Nossa meta é mostrar o que se sabe e quais as-discussÕes,.pn1;..pa.rte dos estudiosos,_ sobre a vida de __._Jesus. Nessa viagem, convidamos o leitor a mergulhar em algumas das mais fascinantes histórias. Muitas delas estão conosco até hoje, na forma de parábolas, imagens, rituais e comportamentos coletivos e individuais. Tantas vezes nos pegamos a falar em "separar o joio do trigo", ou a hesitar a 'atirar a primeira pedra, ou ainda a *lavar as mãos". Estas e outras passagens da narrativa de Jesus estão presentes em nosso quotidiano e indicam o início de nossa caminhada pela vida do nazareno. André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lfunzxri * * . I A História se faz com documentos. O passado já não exis- te e apenas podemos conjecturar a seu respeito por meio de testemunhos, diretos ou indiretos, materiais ou imate- riais. Os estudiosos costumam denominar documentos a tudo o que permite inferir algo: são as fontes de informa- ção. A própria palavra fonte é uma metáfora, como se algo fosse comparável à água que brota e que nos dá de beber. No caso da vida de Jesus de Nazaré, há tipos de fontes: os manuscritos do Novo Testamento, as escavações arqueo- lógicas; as descobertas de ( l m r a n (manuscritos do Mar _Norto) e de Nag Hammadi, no Egito; os escritos judaicos; e os testemunhos de fora do ambientejudaico-cristão. Comecemos pelas mais conhecidas - os vinte e sete livros do Novo Testamento -, com destaque para os re- latos da vida de Jesus (os Evangelhos), o livro "histórico" (Ato dos Apóstolos - Ar), as Epístolas ou Cartas e o profe- tico (Apocalipse - Ap). Pode-se dividi-los em quatro cate- gorias, conforme tabelas abaixo. 11. 2.1. As Fontes. COMO CONHECER O JESUS HISTÓRICO? JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In*rI‹o1)uçÃo Os Evangelhos. 8 Íä 9 aos Paulo Romanos Paulo aos Coríntios, Primeira Carta (1 Cor) Paulo aos Coríntios, Segunda Carta (2 Cor) Paulo aos Gálatas (Gl) Paulo aos Efésios (Eu) Paulo aos Filipenses (Fl) Paulo aos Colossenses (Cl) Paulo aos Tessalomccnscs, Primeira Carta (ITs) Paulo aos Tessalonicenses, Segunda Carta (2 Ts) Paulo a Timóteo, Primclra Carta (1 Tm) Paulo Timóteo, Segunda Carta (2 Tm) Paula a Tito (Tt) Paulo a Filemom (Fm) Carta aos Hebreus (Hb) Carta de Tiago (Tg) Carta de Pedro, Primeira (1Pd) Carta de Pedro, Segunda (2 Pd) Carta de João, Primeira (1 Jo) Carta de João, Segunda (2 Jo) Carta de João, Terceira (3 Jo) Carta de Judas Atos dos Apóstolos (At) Epístolas ou Cartas. Livro "Histórico". André Leonardo Chevitarese c Pcdro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA 1n'1'Ro1)u‹;Ão I OS vz, E de Jesus. O primeiro deles e O mais curto, 0 de Marcos, escrito a partir de 70 EC, é considerado o testemunho mais fidedigno. Marcos, Mateus e Lucas são chamados de sinoticos, que em rego__§_ignifica com a mesma visão', pois sefišrëlatos são paralelos e seguem fontes comuns O Evangelho de João segue caminhos próprios e foi escrito mais tarde, entre 90 e 110. O Ato dos Apóstolos é um relato "histórico" dos primeiros seguidores de Jesus e deve ter sido escrito entre 6421852 As cartas ou epístolas constituem um género literário próprio, referente à correspondência entre primeiros cristãos. As cartas de Paulo são OS mais antigos documen_ tos que sobreviveram. Elas foram escritas, provavelmente, entre os anos 40 e 60, sendo anteriores ao Evangelho de Marcos. A carta mais antiga é a Primeira aos Tessaloni_ censes, escrita entre 50 e 51, vinte anos após a morte de Jesus. Não há evidências de que Paulo tenha conhecido pessoalmente Jesus. Por isso, pouco nos fala sobre a vida do nazareno. Por fim, o livro do Apocalipse consiste em uma visão profética do futuro e tampouco se volta para o Jesus da Galileia. Portanto, as principais fontes sobre a vida de -Jesus são OS Evangelhos. \' ' . ' - \ l Apocalipse /-\p) â Profético. 2.2. Os Evangelhos. Jesusfalava o aramaico, uma língua semita, aparentada ao hebraico, conforme versículo encontrado n › Evangelho de Marcos - diga-se, uma das poucas passagens que repto_ duzem as palavras originais de Jesus em sua língua. Assim: I Os Evangelhos são relatos da vida de Jesus e constituem fonte primária para nosso conhecimento do nazareno. O ‹‹ 77 . . cá l • n \ • nome evangelho significa boa noticia e se refere a vinda de Jesus como salvador da humanidade. Esses livros foram escritos em grego, em décadas distintas após a crucificação 10 "E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço, e os que choravam muito e prateavam. E, cn_ 1 5 11 aos Paulo Romanos Paulo aos Coríntios, Primeira Carta (1 Cor) Paulo aos Coríntios, Segunda Carta (2 Cor) Paulo aos Gálatas (Gl) Paulo aos Efésios (Eu) Paulo aos Filipenses (Fl) Paulo aos Colossenses (Cl) Paulo aos Tessalomccnscs, Primeira Carta (ITs) Paulo aos Tessalonicenses, Segunda Carta (2 Ts) Paulo a Timóteo, Primclra Carta (1 Tm) Paulo Timóteo, Segunda Carta (2 Tm) Paula a Tito (Tt) Paulo a Filemom (Fm) Carta aos Hebreus (Hb) Carta de Tiago (Tg) Carta de Pedro, Primeira (1Pd) Carta de Pedro, Segunda (2 Pd) Carta de João, Primeira (1 Jo) Carta de João, Segunda (2 Jo) Carta de João, Terceira (3 Jo) Carta de Judas Atos dos Apóstolos (At) Epístolas ou Cartas. Livro "Histórico". André Leonardo Chevitarese c Pcdro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA 1n'1'Ro1)u‹;Ão I OS vz, E de Jesus. O primeiro deles e O mais curto, 0 de Marcos, escrito a partir de 70 EC, é considerado o testemunho mais fidedigno. Marcos, Mateus e Lucas são chamados de sinoticos, que em rego__§_ignifica com a mesma visão', pois sefišrëlatos são paralelos e seguem fontes comuns O Evangelho de João segue caminhos próprios e foi escrito mais tarde, entre 90 e 110. O Ato dos Apóstolos é um relato "histórico" dos primeiros seguidores de Jesus e deve ter sido escrito entre 6421852 As cartas ou epístolas constituem um género literário próprio, referente à correspondência entre primeiros cristãos. As cartas de Paulo são OS mais antigos documen_ tos que sobreviveram. Elas foram escritas, provavelmente, entre os anos 40 e 60, sendo anteriores ao Evangelho de Marcos. A carta mais antiga é a Primeira aos Tessaloni_ censes, escrita entre 50 e 51, vinte anos após a morte de Jesus. Não há evidências de que Paulo tenha conhecido pessoalmente Jesus. Por isso, pouco nos fala sobre a vida do nazareno. Por fim, o livro do Apocalipse consiste em uma visão profética do futuro e tampouco se volta para o Jesus da Galileia. Portanto, as principais fontes sobre a vida de -Jesus são OS Evangelhos. \' ' . ' - \ l Apocalipse /-\p) â Profético. 2.2. Os Evangelhos. Jesus falava o aramaico, uma língua semita, aparentada ao hebraico, conforme versículo encontrado n › Evangelho de Marcos - diga-se, uma das poucas passagens que repto_ duzem as palavras originais de Jesus em sua língua. Assim: I Os Evangelhos são relatos da vida de Jesus e constituem fonte primária para nosso conhecimento do nazareno. O ‹‹ 77 . . cá l • n \ • nome evangelho significa boa noticia e se refere a vinda de Jesus como salvador da humanidade. Esses livros foram escritos em grego, em décadas distintas após a crucificação 10 "E, tendo chegado à casa do principal da sinagoga, viu o alvoroço, e os que choravam muito e prateavam. E, cn_ 1 5 11 André Leonardo Chevitarcsc c Pedro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA 1NTRO1)UÇÃO trando, disse-lhes: por que vos alvoroçais e chorais? A mf:- nina não está morta, mas dorme. E riram-se dele, porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e OS que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: YZ:/ita comi - que, traduzido, é: menina, a ti te digo, levanta-te. E logo a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos, e assombraram-se com grande espanto" (Mc 5:38-42). "E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, se urdo o seu costume na sina o a, e levantou-se g 7 g g para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lu ar em ue estava escrito: o Es grito g q do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração". No sentido literal, Talita significa 'fresca'. Ela ainda era uma menina e não, uma mulher adulta. No entanto,já aqui se põe um problema, pois o termo grego usado no trecho para traduzir, paidion, significa criança de ambos os gêne- ros. Neste caso, temos a frase original, mas em todos os outros contamos apenas com o grego, língua que,'ao que se sabe, Jesus nunca falou. Como as palavras de Jesus, em aramaico, acabaram décadas depois sendo registradas nos Evangelhos? Antes de tudo, convém lembrar como as pessoas se rela- cionavam com a memória na Antiguidade. A alfabetização não era expandida e a maioria das pessoas era analfabeta e mesmo as que dominavam a escrita nela não se lavam para se lembrar do que liam. Os livros já existiam, mas eram rolos que eram desenrolados para que pudessem ser lidos. Era, portanto, impossível fazer uma consulta a passagens de obras como hoje pode ser feito em livros impressos e em documentos digitais. Hoje, e há alguns séculos, estamos acostumados a consultar escritos quando queremos nos informar ou mesmo rememorar algo que já lemos. Nada disso ocorria naquela época. As pessoas decoravam, tendo lido ou ouvido um texto, e podiam reproduzir longas pas- sagens, para não dizer obras inteiras e imensas. Em Lucas (4:16-18), diz-se que: 12 Muitos estudiosos modernos ponderam que o que se chama de sinagoga, palavra grega, representa, no caso de uma aldeia de 300 pessoas, como Nazaré, apenas uma casa usada para a reunião da comunidade. Aliás, sinagoga em hebraico, b i t nesse, significa casa de reunião. Não se sabe se haveria rolos com a Bíblia hebraica, mas, mesmo que houvesse, quem saberia ler? A passagem, contudo, sugere que Jesus tenha citado de cabeça saias 61, um dos profetas populares que defendiam os pobres, em versos que mais se assemelham a nossas canções rimadas populares.Í(I1-eh1 escreveu o Evangelho de Lucas, décadas depois, n o con- hecia de primeira mão as comunidades galileias e, assim como em outras passagens, introduz detalhes, na narrativa, que remetiam a realidade das cidades gregas na qual se di- fundia o cristianismo ......- ---¬....., Um segundo aspecto da memória antiga deve ser recor- dado para além da capacidade de-decorar frases: seu-r;ar,í_ter subjetivo religioso. A memórias sempre subjetivae es- tamos sempre sujeitos a recordar determinados momentos da vida, manter._g.ertas frases e situações e a esquecer e su- primir _outras.Esses mesmos mecanismos fizeram com que os seguidores do nazareno recordassem episódios e ditos de Jesus, assim como suprimissem outros. Isto garantiria a preservação, ainda qu§.â%.d2* ela ex eriência os ter' de muitas experiências com o nazareno"*Dentre os me- canismos de preservação e supressãO,-sobressaiam as cren- 18 10 š André Leonardo Chevitarcsc c Pedro Paulo A. Funari JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA 1NTRO1)UÇÃO trando, disse-lhes: por que vos alvoroçais e chorais? A mf:- nina não está morta, mas dorme. E riram-se dele, porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai e a mãe da menina, e OS que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: YZ:/ita comi - que, traduzido, é: menina, a ti te digo, levanta-te. E logo a menina se levantou, e andava, pois já tinha doze anos, e assombraram-se com grande espanto" (Mc 5:38-42). "E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, se urdo o seu costume na sina o a, e levantou-se g 7 g g para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lu arem ue estava escrito: o Es grito g q do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração". No sentido literal, Talita significa 'fresca'. Ela ainda era uma menina e não, uma mulher adulta. No entanto,já aqui se põe um problema, pois o termo grego usado no trecho para traduzir, paidion, significa criança de ambos os gêne- ros. Neste caso, temos a frase original, mas em todos os outros contamos apenas com o grego, língua que,'ao que se sabe, Jesus nunca falou. Como as palavras de Jesus, em aramaico, acabaram décadas depois sendo registradas nos Evangelhos? Antes de tudo, convém lembrar como as pessoas se rela- cionavam com a memória na Antiguidade. A alfabetização não era expandida e a maioria das pessoas era analfabeta e mesmo as que dominavam a escrita nela não se lavam para se lembrar do que liam. Os livros já existiam, mas eram rolos que eram desenrolados para que pudessem ser lidos. Era, portanto, impossível fazer uma consulta a passagens de obras como hoje pode ser feito em livros impressos e em documentos digitais. Hoje, e há alguns séculos, estamos acostumados a consultar escritos quando queremos nos informar ou mesmo rememorar algo que já lemos. Nada disso ocorria naquela época. As pessoas decoravam, tendo lido ou ouvido um texto, e podiam reproduzir longas pas- sagens, para não dizer obras inteiras e imensas. Em Lucas (4:16-18), diz-se que: 12 Muitos estudiosos modernos ponderam que o que se chama de sinagoga, palavra grega, representa, no caso de uma aldeia de 300 pessoas, como Nazaré, apenas uma casa usada para a reunião da comunidade. Aliás, sinagoga em hebraico, b i t nesse, significa casa de reunião. Não se sabe se haveria rolos com a Bíblia hebraica, mas, mesmo que houvesse, quem saberia ler? A passagem, contudo, sugere que Jesus tenha citado de cabeça saias 61, um dos profetas populares que defendiam os pobres, em versos que mais se assemelham a nossas canções rimadas populares.Í(I1-eh1 escreveu o Evangelho de Lucas, décadas depois, n o con- hecia de primeira mão as comunidades galileias e, assim como em outras passagens, introduz detalhes, na narrativa, que remetiam a realidade das cidades gregas na qual se di- fundia o cristianismo ......- ---¬....., Um segundo aspecto da memória antiga deve ser recor- dado para além da capacidade de-decorar frases: seu-r;ar,í_ter subjetivo religioso. A memórias sempre subjetivae es- tamos sempre sujeitos a recordar determinados momentos da vida, manter._g.ertas frases e situações e a esquecer e su- primir _outras.Esses mesmos mecanismos fizeram com que os seguidores do nazareno recordassem episódios e ditos de Jesus, assim como suprimissem outros. Isto garantiria a preservação, ainda qu§.â%.d2* ela ex eriência os ter' de muitas experiências com o nazareno"*Dentre os me- canismos de preservação e supressãO,-sobressaiam as cren- 18 10 š André Leonardo Chcvitarcsc e Pedro Paulo /\. Funzlri .lnsus HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In'1'RonuçÃo natural e ambiental associado à vida humana! As evidên- cias materiais podem referir-se a indivíduos, mas em sua imensa maioria remetem à_vida qu0_ti_diar¿al Os restos ar- queológicos têm sido muito significativos para o conheci- mento da sociedade à época de Jesus. Algumas descobertas confirmam o relato do Novo Testamento e dão detalhes sobre personagens, circunstâncias e situações mencionadas no texto bíblico. As principais são: ia_ Gamla e Jodefat: aldeias judaicas à época de Jesus; ia. Séforis e Tiberíades, à época de Herodes Antipas; 32. Cesareia Marítima e Jerusalém, à época de Herodes, o Grande; ia_ Massada e ACirram e a resistência judaica à ocupa- ção romana; Sa. Vasos e banheiras rituais: os rituais judaicos, ia. O usuário do sumo sacerdote José Caifás, 73. A inscrição do prefeito Pôncio Pilatos; 88. A casa do apóstolo Pedro, em Cafarnaum, 9a. O barco de pesca do Mar da Galileia, 10a. O esqueleto do crucificado Iehokhanan. as e convicções dos antigos, que não estavam sujeitas aos critérios da ciência moderna, que, claro, não existia naquela época. Muitos milagres são mencionados nos Evangelhos como a cura da menina que acabamos de reportar. Tais episódios constituem experiências fortes e, portanto, in- esquecíveis. Quem se esquece de um milagre? Nesse contexto, começa-se a compreender como a vida de Jesus foi escrita décadas depois de sua pregação. De início, tudo era lembrado e contado em aramaico, apenas oralmente, pelos primeiros seguidores analfabetos de Jes bontudÕÍ'ñlãlo foram eles que escreveram oS NEvar-gãhos Foram falantes de língua grega que não tinham conhecidos Jesus pessoalmente, apenas*ÊCristo apóšãlRessurreição. Jesus foi um homem crucificado, mas seus seguidores acreditavam que ele ressuscitou e subiu aos Céus,...11e.IldQ ganhado, após sua morte, um novo nome: Cristo, que em grego significa 'ungido por Deus-=_tx:aduçãode Messias, em hebraico. Nunca, em vida, Jesus foi chamado de Cristo ou Messias, mas, após sua morte, no relato da sua Vida,~ele passou a ser chamado por dois nomes: "Princípio-do Evan- gelho de Jesus Cristo, Filho de Deus' (Mc 1:1). Isso signifi- ca que toda a memória sobrevida de Jesus foi confirmada pela crença na Ressurreição de Jesus e n a S a divindade. Não sabemos da existência de escritos em aramaico com ditos e relatos da vida de Jesus. O que parece mais seguro é a existência de textos com recordações de Jesus traduzidas para o grego, em um momento que a nova fé começou a expandir-se fora da comunidade judaica da Palestina. - | i - As cinco primeiras descobertas arqueolÓgÂÇ.ëLs5í1Q.colc- tivas e informam-nos sobre OS ambientes frequentados e as situações da época de Jesus. Já as cinco últimas iluminam aspectos david do nazareno. As pesquisas arqueológicas nas aldeias judaicas de Jodefat e Gamla revelam como era a vida na Galileia.Tendo sido destruídas pelos romanos em 67 d.C., mostram o quotidiano simples e isolado d o n - doexterior das comunidades rurais judaicas de duas aldeias que não deviam diferir muito, em termos gerais, da Nazaré de Jesus. Não havia muito contato de seus moradores com 2.3. As Fontes Arqueológicas. A Arqueologia estuda a cultura material, os artefatos feitos ou transformados pelo ser humano e o contexto 14 15 André Leonardo Chcvitarcsc e Pedro Paulo /\. Funzlri .lnsus HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA In'1'RonuçÃo natural e ambiental associado à vida humana! As evidên- cias materiais podem referir-se a indivíduos, mas em sua imensa maioria remetem à_vida qu0_ti_diar¿al Os restos ar- queológicos têm sido muito significativos para o conheci- mento da sociedade à época de Jesus. Algumas descobertas confirmam o relato do Novo Testamento e dão detalhes sobre personagens, circunstâncias e situações mencionadas no texto bíblico. As principais são: ia_ Gamla e Jodefat: aldeias judaicas à época de Jesus; ia. Séforis e Tiberíades, à época de Herodes Antipas; 32. Cesareia Marítima e Jerusalém, à época de Herodes, o Grande; ia_ Massada e ACirram e a resistência judaica à ocupa- ção romana; Sa. Vasos e banheiras rituais: os rituais judaicos, ia. O usuário do sumo sacerdote José Caifás, 73. A inscrição do prefeito Pôncio Pilatos; 88. A casa do apóstolo Pedro, em Cafarnaum, 9a. O barco de pesca do Mar da Galileia, 10a. O esqueleto do crucificado Iehokhanan. as e convicções dos antigos, que não estavam sujeitas aos critérios da ciência moderna, que, claro, não existia naquela época. Muitos milagres são mencionados nos Evangelhos como a cura da menina que acabamos de reportar. Tais episódios constituem experiências fortes e, portanto, in- esquecíveis. Quem se esquece de um milagre? Nesse contexto, começa-se a compreender como a vida de Jesus foi escrita décadas depois de sua pregação. De início, tudo era lembrado e contado em aramaico, apenas oralmente, pelos primeiros seguidores analfabetos de Jes bontudÕÍ'ñlãlo foram elesque escreveram oS NEvar-gãhos Foram falantes de língua grega que não tinham conhecidos Jesus pessoalmente, apenas*ÊCristo apóšãlRessurreição. Jesus foi um homem crucificado, mas seus seguidores acreditavam que ele ressuscitou e subiu aos Céus,...11e.IldQ ganhado, após sua morte, um novo nome: Cristo, que em grego significa 'ungido por Deus-=_tx:aduçãode Messias, em hebraico. Nunca, em vida, Jesus foi chamado de Cristo ou Messias, mas, após sua morte, no relato da sua Vida,~ele passou a ser chamado por dois nomes: "Princípio-do Evan- gelho de Jesus Cristo, Filho de Deus' (Mc 1:1). Isso signifi- ca que toda a memória sobrevida de Jesus foi confirmada pela crença na Ressurreição de Jesus e n a S a divindade. Não sabemos da existência de escritos em aramaico com ditos e relatos da vida de Jesus. O que parece mais seguro é a existência de textos com recordações de Jesus traduzidas para o grego, em um momento que a nova fé começou a expandir-se fora da comunidade judaica da Palestina. - | i - As cinco primeiras descobertas arqueolÓgÂÇ.ëLs5í1Q.colc- tivas e informam-nos sobre OS ambientes frequentados e as situações da época de Jesus. Já as cinco últimas iluminam aspectos david do nazareno. As pesquisas arqueológicas nas aldeias judaicas de Jodefat e Gamla revelam como era a vida na Galileia.Tendo sido destruídas pelos romanos em 67 d.C., mostram o quotidiano simples e isolado d o n - doexterior das comunidades rurais judaicas de duas aldeias que não deviam diferir muito, em termos gerais, da Nazaré de Jesus. Não havia muito contato de seus moradores com 2.3. As Fontes Arqueológicas. A Arqueologia estuda a cultura material, os artefatos feitos ou transformados pelo ser humano e o contexto 14 15 i I Os achados arqueológicos específicos comprovam dí- André Leonardo Chcvitarese e Pedro Paulo A. Funari Qrgggm """e---¬...,. Não mundo esfãli?"äl"Í5"fó-xímo e q`i21*€* 2.4. Outras Fontes. JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA In'rRo1)uçÃo 'Ê 'I _ ma font O mundo romano e mesmo com Jerusalém e o Templo, aín- da que tenham sido encontrados banhos rituais (mi/e=vot). A cidade de Séforis, a sete quilómetros de Nazaré, ain- da .que não mencionada no Novo Testamento, deve ter sido conhecida e revela outra realidade: uma cidade com teatro, aqueduto e mosaicos dionisíacos. Sua população ju- daica convivia com costumes de ` grega ou romana. Tiberíades, citada no texto bíblico, também revela essas características e demonstra que Jesus conviveu com esses ambientes mais cosmopolitas-mesclados. ---... Por em, Jerusalém, cidade dominada pelo Templo e pela elite sacerdotal, que vivia com mansões ao estilo e decoração comuns à época em Roma e no império em geral. Jesus não frequentava tais casas, mas como outros pregadores populares, conhecia-as e a elas se opunhä, por ;su3¿1_ opulência. \. J 1 versos detalhes do relato eva ético O usuário do-šumo sacerdote Caifás, assim como a inscrição de Pôncio Pilatos, mostram que essas personagens realmente existiram. O lo- cal onde teria vivido Pedro, em Cafarnaum, assim como um barquinho encontrado no Mar da Galileia, referem-se àquele ambiente simples de pescadores no qual aluava Je- sus. O esqueleto de um crucificado mostra que um homem teve seu pé pregado na cruz, algo que é atribuído pela tradição à crucificação de Jesus e que não se sabe se era, de fato, uma prática. Normalmente, os condenados à cruz eram apenas presos por cordas e não pregados. As desco- bertas arqueológicas confirmam e delineiam, em linhas gerais, o contexto histórico da época e prometem, com no- vas pesquisas, ainda outras revelações. Um dos achados arqueológicos mais importantes foram os manuscritos encontrados em grutas situadas ao norte do Mar Morto, em 1947. Pelos manuscritos, sabemos que, por volta de 150 a.C., um sacerdote saduceu de Je- rusalém sentiu-se imbuído de uma missão reformadora. Não tendo sido ouvido, deixou a cidade e seguiu com um pequeno número de adeptos que se instalaram às margens do Mar Morto. Encontrou-se a "Regra da Comunidade` e o pseudónimo do reformador: professor da justiça (maré /øatsédeq). Copiaram a Bíblia Hebraica e escreveram sobre uma guerra apocalíptica entre as forças da luz e das trevas, representadas estas últimas pelo reino ímpio (ma/ékbe t se/iyaa/), assim como um manual de combate e regras para a guerra e comentários (Per/aarim) ao texto bíblico. Esta co- munidade existia à época de Jesus, tendo sido destruída em 68 d.C. pelos romanos na Guerra contra os Judeus. Jesus vivia e pregava em ambientes muito diferentes desta comu- nidade, mas, em comum, havia a percepção de que o fim. l sefi~à~~fêé'1ëà"-fi°i"à"dz a iusúçzü representada pela correrão do Templo e seu culto de elite.l '"Ôfivãñgelh eTofiéšCObëfio eM 1945, na cidade egípcia de Nas Hammadi, constitui-se em um tipo de obra de fiN-ilclla' CoMoUm e`de ditos de Jesus. Muito embora a erudição já conhecesse alguns deles, ela não fazia ideia que eles seriam parte do evangelho de Tomé. Esses ditos estavam presentes em três papiros, escritos em grego, en- contrados em Oxirinco, no Egito, nos anos de 1897 (Pap. Ôxy. : Tomé 28-33), 1903 (Pap. Oxy. 654 = Tomé -7) e 1904 (Pap. Oxy. 655 = Tomé 37-40). Os três papiros são datados em torno do ano 200. O autor é nomeado como Dídimo Judas Tomé, cuja tradição situa a anão missionária 1 1 â. 16 ' ‹ .-... .,.,-. ..~‹-.. _ I 17 i I Os achados arqueológicos específicos comprovam dí- André Leonardo Chcvitarese e Pedro Paulo A. Funari Qrgggm """e---¬...,. Não mundo esfãli?"äl"Í5"fó-xímo e q`i21*€* 2.4. Outras Fontes. JESUS HISTÓRICO. UMA BREVíSSIMA In'rRo1)uçÃo 'Ê 'I _ ma font O mundo romano e mesmo com Jerusalém e o Templo, aín- da que tenham sido encontrados banhos rituais (mi/e=vot). A cidade de Séforis, a sete quilómetros de Nazaré, ain- da .que não mencionada no Novo Testamento, deve ter sido conhecida e revela outra realidade: uma cidade com teatro, aqueduto e mosaicos dionisíacos. Sua população ju- daica convivia com costumes de ` grega ou romana. Tiberíades, citada no texto bíblico, também revela essas características e demonstra que Jesus conviveu com esses ambientes mais cosmopolitas-mesclados. ---... Por em, Jerusalém, cidade dominada pelo Templo e pela elite sacerdotal, que vivia com mansões ao estilo e decoração comuns à época em Roma e no império em geral. Jesus não frequentava tais casas, mas como outros pregadores populares, conhecia-as e a elas se opunhä, por ;su3¿1_ opulência. \. J 1 versos detalhes do relato eva ético O usuário do-šumo sacerdote Caifás, assim como a inscrição de Pôncio Pilatos, mostram que essas personagens realmente existiram. O lo- cal onde teria vivido Pedro, em Cafarnaum, assim como um barquinho encontrado no Mar da Galileia, referem-se àquele ambiente simples de pescadores no qual aluava Je- sus. O esqueleto de um crucificado mostra que um homem teve seu pé pregado na cruz, algo que é atribuído pela tradição à crucificação de Jesus e que não se sabe se era, de fato, uma prática. Normalmente, os condenados à cruz eram apenas presos por cordas e não pregados. As desco- bertas arqueológicas confirmam e delineiam, em linhas gerais, o contexto histórico da época e prometem, com no- vas pesquisas, ainda outras revelações. Um dos achados arqueológicos mais importantes foram os manuscritos encontrados em grutas situadas ao norte do Mar Morto, em 1947. Pelos manuscritos, sabemos que, por volta de 150 a.C., um sacerdote saduceu de Je- rusalém sentiu-se imbuído de uma missão reformadora. Não tendo sido ouvido, deixou a cidade e seguiu com um pequeno número de adeptos que se instalaram às margens do Mar Morto. Encontrou-se a "Regra da Comunidade` e o pseudónimo do reformador: professor da justiça (maré /øatsédeq). Copiaram a Bíblia Hebraica e escreveram sobre uma guerra apocalíptica entre as forças da luz e das trevas, representadas estas últimas peloreino ímpio (ma/ékbe t se/iyaa/), assim como um manual de combate e regras para a guerra e comentários (Per/aarim) ao texto bíblico. Esta co- munidade existia à época de Jesus, tendo sido destruída em 68 d.C. pelos romanos na Guerra contra os Judeus. Jesus vivia e pregava em ambientes muito diferentes desta comu- nidade, mas, em comum, havia a percepção de que o fim. l sefi~à~~fêé'1ëà"-fi°i"à"dz a iusúçzü representada pela correrão do Templo e seu culto de elite.l '"Ôfivãñgelh eTofiéšCObëfio eM 1945, na cidade egípcia de Nas Hammadi, constitui-se em um tipo de obra de fiN-ilclla' CoMoUm e`de ditos de Jesus. Muito embora a erudição já conhecesse alguns deles, ela não fazia ideia que eles seriam parte do evangelho de Tomé. Esses ditos estavam presentes em três papiros, escritos em grego, en- contrados em Oxirinco, no Egito, nos anos de 1897 (Pap. Ôxy. : Tomé 28-33), 1903 (Pap. Oxy. 654 = Tomé -7) e 1904 (Pap. Oxy. 655 = Tomé 37-40). Os três papiros são datados em torno do ano 200. O autor é nomeado como Dídimo Judas Tomé, cuja tradição situa a anão missionária 1 1 â. 16 ' ‹ .-... .,.,-. ..~‹-.. _ I 17 André Leonardo Chcvitarese c Pedro Paulo A. Funnri JESUS H1STÓR1CO. UMA BREVíSSiMA 1 n'rRo1)uÇÃo trouxeram à › â luz documentos1§rÍštãólSI_tos gínõstícøsj Em- comentários s «r As descobertas em Nag Hammadi, no Egito¿_em_1954, labora posteriores a Jesus, revelam ÀÇxístêI1Çiade-un1.j.uda.ís- mo na Palestina em contato com o hebraísmo helenístico . e uma preocupação corno preservação das palavras ílagia), antes que dos acontecimentos, relativos a Jesus. Difícil sa- 1 - ber destrinçar o quanto do gnostícisrno com sua ênfase no conhecimento (gnose) místico remete Jesus ou molda Jesus às suas próprias concepções. Outizíggge importante são os escritos do judaísmo antigo, em particular os conhecidos comQ.¿\.fig'Lóg_/ Ésses consisfiafn de considera- 'çoes e aforismos dos rabinos que ressoam nas palavras de Jesus.. z¿\ssim, podemos comparar falas de Jesus com pas- šagens do lã/lidrash: 1 a) Ser como Deus: "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso pai que está nos céus" (Má 5:48). "Como Deus é clemente e misericordioso, tu também se- jas clemente e misericordioso" (Shabbat 133b). na Índia, muito embora haja uma forte presença da sua anão também na Síria oriental. Admite-se que o referido documento tenha sido escrito em Edessa. A sua datação tem produzido uma grande polémica enn'ç_os_estudiosos, podendo variar entre a década de 50 e o início do segundo século. O traço marcante nesse evangelho, o que o levaria a se contrastar com as obras do Novo Testamento, seria o fato de ele não mencionar o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Ao contrário, Jesus e simples- mente designado como "Aquele que Vive". Ele apresentaria similaridades com Q, em termos de composição, de ên- fase em torno das palavras de Jesus e de ausência de títu- los cristológicos, tais como: Cristo/Messias, Senhor, Filho do Homem. Esse aspecto desata a concepção de que nos estágios mais antigos da Igreja era unânime a fé na ressur- reição. O historiador judaico-romano Flávio Josefo (37-101 d.C), em sua Guerra judaica, menciona a existência de dí- versos grupos no interior da sociedade hebraica da Pales- tina. Os sacudes .com.preendiam os notáveis ligados ao Templo e eram os conservadores. Q,.s_fariseus, cujo nome signific arados, formavam um grupo de puros, atentos às regras da Lei de Moisés, mas se preocupavam com a pregação popular, .à_diferença dos saduceus. Os essênios, ou 'santos', eram também puristas, mas viviam em comu- nidades isoladas, sem contato com Jerusalém ou mesmo com os outros judeus, taxados por eles de pecadores. Mas havia muitos outros grupos menos organizados, como os sícários e zelotes, voltados para a expulsão dos romanos, assim como profetas escz_¶z_15_5gicQ_s_,_à.-espera do Julgamento, como João BatiSta. - ` . - , -bulIa: I b) Preocupe-se com cada dia: . "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mt ó:34). "Aquele que criou o dia, criou sua substância" (Tanhouma Bechalah 2). "Basta uma pena por vez" (Berakhot 9b). c) Cuide de seus defeitos: "Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o arqueiro do olho do teu irmão" (Mt 7:5) "Cuida da palha nos teus dentes. Ele lhe retoque: cuida antes da trave no teu olho" (Bava Batra 15b). 18 I ..r 19 André Leonardo Chcvitarese c Pedro Paulo A. Funnri JESUS H1STÓR1CO. UMA BREVíSSiMA 1 n'rRo1)uÇÃo trouxeram à › â luz documentos1§rÍštãólSI_tos gínõstícøsj Em- comentários s «r As descobertas em Nag Hammadi, no Egito¿_em_1954, labora posteriores a Jesus, revelam ÀÇxístêI1Çiade-un1.j.uda.ís- mo na Palestina em contato com o hebraísmo helenístico . e uma preocupação corno preservação das palavras ílagia), antes que dos acontecimentos, relativos a Jesus. Difícil sa- 1 - ber destrinçar o quanto do gnostícisrno com sua ênfase no conhecimento (gnose) místico remete Jesus ou molda Jesus às suas próprias concepções. Outizíggge importante são os escritos do judaísmo antigo, em particular os conhecidos comQ.¿\.fig'Lóg_/ Ésses consisfiafn de considera- 'çoes e aforismos dos rabinos que ressoam nas palavras de Jesus.. z¿\ssim, podemos comparar falas de Jesus com pas- šagens do lã/lidrash: 1 a) Ser como Deus: "Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso pai que está nos céus" (Má 5:48). "Como Deus é clemente e misericordioso, tu também se- jas clemente e misericordioso" (Shabbat 133b). na Índia, muito embora haja uma forte presença da sua anão também na Síria oriental. Admite-se que o referido documento tenha sido escrito em Edessa. A sua datação tem produzido uma grande polémica enn'ç_os_estudiosos, podendo variar entre a década de 50 e o início do segundo século. O traço marcante nesse evangelho, o que o levaria a se contrastar com as obras do Novo Testamento, seria o fato de ele não mencionar o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Ao contrário, Jesus e simples- mente designado como "Aquele que Vive". Ele apresentaria similaridades com Q, em termos de composição, de ên- fase em torno das palavras de Jesus e de ausência de títu- los cristológicos, tais como: Cristo/Messias, Senhor, Filho do Homem. Esse aspecto desata a concepção de que nos estágios mais antigos da Igreja era unânime a fé na ressur- reição. O historiador judaico-romano Flávio Josefo (37-101 d.C), em sua Guerra judaica, menciona a existência de dí- versos grupos no interior da sociedade hebraica da Pales- tina. Os sacudes .com.preendiam os notáveis ligados ao Templo e eram os conservadores. Q,.s_fariseus, cujo nome signific arados, formavam um grupo de puros, atentos às regras da Lei de Moisés, mas se preocupavam com a pregação popular, .à_diferença dos saduceus. Os essênios, ou 'santos', eram também puristas, mas viviam em comu- nidades isoladas, sem contato com Jerusalém ou mesmo com os outros judeus, taxados por eles de pecadores. Mas havia muitos outros grupos menos organizados, como os sícários e zelotes, voltados para a expulsão dos romanos, assim como profetas escz_¶z_15_5gicQ_s_,_à.-espera do Julgamento, como João BatiSta. - ` . - , -bulIa: I b) Preocupe-se com cada dia: . "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mt ó:34). "Aquele que criou o dia, criou sua substância" (Tanhouma Bechalah 2). "Basta uma pena por vez" (Berakhot 9b). c) Cuide de seus defeitos: "Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o arqueiro do olho do teu irmão" (Mt 7:5) "Cuida da palha nos teus dentes. Ele lhe retoque: cuida antes da trave no teu olho" (Bava Batra 15b). 18 I ..r 19 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. I"un;1ri Ifêsus I IISTÓRICO.UMA mui=víssImA 1n'r1zo1›uÇË› Na literatura greco-romana, há poucas referências a Je- sus datadas do primeiro século. A mais importante delas é um trecho de Flávio Josefo, cuja autenticidade foi colocada em questão: III. A VIDA DE JESUS. "Naquele tempo, apareceu Jesus, um sábio. Fazia prodí- gios, mestre para as pessoas que recebiam com alegria a verdade. Arrastou consigo muitos judeus e também muitos gregos. E quando Pilatos, a partir de uma denúncia dos nos- sos líderes (ou seja, as autoridades judaicas), ele o condenou à cruz, aqueles que o tinham amado antes não o cessaram de fazer. Até agora, o grupo de cristãos não desapareceu" (Antiguidades judaicas 18, 63-64). 3.1. A Infância de jesus. I a vida preqrcssz 6Z72€7', O Evangelho de Marcos não menciona nada sobre a infância de Jesus, pois sua narrativa começa com o batismo no rio Jordão: "aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de Nazaré da-.Galileia foi balizado por João no rio Jordão" (Mc_1,_Q); Isso significa que os seus seguidores imediato reviam ter poucas informações sobre de Jesus ou consideravam pouco importante tudo que antecedeu o seu encontro com o movimento balista. mesmo se pode dizer do filfiifiíí-EVangellio, pois João também inicia o relato da vida de Jesus com João Batista (JO 1, 29). Mas há outras informações, fornecidas mesmo no Evangelho mais avaro de Marcos, quando relata uma estada de Jesus em sua aldeia: I r l homem sábio) e milagreiro (/mmdoxon czgún passados por escrito e que teria servidøpglra osred-Q c dos Evangelhos de Mateus e Lucas. "Saindo dali, foi para sua pátria c os seus discípulos o seguiram. Vindo o sábado, começou ele a ensinar na sinagoga e numerosos ouvintes ficavam maravilhados, dizendo: `l)e onde lhe vem tudo isso? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos? Não é este o carpinteiro, o ilho de Maria, irmão de Tiago, Jose, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?" (Mc 6:1-3). Não se $81.1§..Q. a tQ,<l@.ss<::Ir@¢h0 foi escrito mesmo por Flávio Josefo_ou_foi alterado por copistas cristãos posterio- res. Contudo, a caracterização de Jesus como sábio (soá/Jbos "um a a ag ¿ poetes, "fazedor de anão extraordinária) parece ser origi- nal e refletir a opinião de um judeu, não uma interpolação crista. Também sua caracterização como didas/ea/os (`pro- fessor) parece ser uma tradução de rabi, mestre, e pode indicar ser urna referência original. Uma última fonte tem sido aventada, embora seja ape- nas uma hipótese.ÊEla é conheci como Evangelho ‹ pois foi proposta por estudiosos alemães que a denomin 5 ram, simplesmente, de Fonte (Que//e). Seria uma coleção de ditos de Jesus, preservados primeiro de forma oral e depor a ed-att . . . )Hoje, existem publi- cações de'Yf-a'dÍllções dos Ditos de Jesus, que podem ser consultadas. Mas são deduções modernas, não constituem fontes antigas. 20 I I 1 21 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. I"un;1ri Ifêsus I IISTÓRICO. UMA mui=víssImA 1n'r1zo1›uÇË› Na literatura greco-romana, há poucas referências a Je- sus datadas do primeiro século. A mais importante delas é um trecho de Flávio Josefo, cuja autenticidade foi colocada em questão: III. A VIDA DE JESUS. "Naquele tempo, apareceu Jesus, um sábio. Fazia prodí- gios, mestre para as pessoas que recebiam com alegria a verdade. Arrastou consigo muitos judeus e também muitos gregos. E quando Pilatos, a partir de uma denúncia dos nos- sos líderes (ou seja, as autoridades judaicas), ele o condenou à cruz, aqueles que o tinham amado antes não o cessaram de fazer. Até agora, o grupo de cristãos não desapareceu" (Antiguidades judaicas 18, 63-64). 3.1. A Infância de jesus. I a vida preqrcssz 6Z72€7', O Evangelho de Marcos não menciona nada sobre a infância de Jesus, pois sua narrativa começa com o batismo no rio Jordão: "aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de Nazaré da-.Galileia foi balizado por João no rio Jordão" (Mc_1,_Q); Isso significa que os seus seguidores imediato reviam ter poucas informações sobre de Jesus ou consideravam pouco importante tudo que antecedeu o seu encontro com o movimento balista. mesmo se pode dizer do filfiifiíí-EVangellio, pois João também inicia o relato da vida de Jesus com João Batista (JO 1, 29). Mas há outras informações, fornecidas mesmo no Evangelho mais avaro de Marcos, quando relata uma estada de Jesus em sua aldeia: I r l homem sábio) e milagreiro (/mmdoxon czgún passados por escrito e que teria servidøpglra osred-Q c dos Evangelhos de Mateus e Lucas. "Saindo dali, foi para sua pátria c os seus discípulos o seguiram. Vindo o sábado, começou ele a ensinar na sinagoga e numerosos ouvintes ficavam maravilhados, dizendo: `l)e onde lhe vem tudo isso? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais milagres por suas mãos? Não é este o carpinteiro, o ilho de Maria, irmão de Tiago, Jose, Judas e Simão? E as suas irmãs não estão aqui entre nós?" (Mc 6:1-3). Não se $81.1§..Q. a tQ,<l@.ss<::Ir@¢h0 foi escrito mesmo por Flávio Josefo_ou_foi alterado por copistas cristãos posterio- res. Contudo, a caracterização de Jesus como sábio (soá/Jbos "um a a ag ¿ poetes, "fazedor de anão extraordinária) parece ser origi- nal e refletir a opinião de um judeu, não uma interpolação crista. Também sua caracterização como didas/ea/os (`pro- fessor) parece ser uma tradução de rabi, mestre, e pode indicar ser urna referência original. Uma última fonte tem sido aventada, embora seja ape- nas uma hipótese.ÊEla é conheci como Evangelho ‹ pois foi proposta por estudiosos alemães que a denomin 5 ram, simplesmente, de Fonte (Que//e). Seria uma coleção de ditos de Jesus, preservados primeiro de forma oral e depor a ed-att . . . )Hoje, existem publi- cações de'Yf-a'dÍllções dos Ditos de Jesus, que podem ser consultadas. Mas são deduções modernas, não constituem fontes antigas. 20 I I 1 21 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. Funznri Jesus HISTÓRICO. UMA nRr‹:víssImA INTRODUÇÃO A historieta pode parecer ilógico, se Jesus tivesse vivido toda sua vida adulta em Nazaré. No entanto, não sabemos precisar, antes do encontro com João Batista, o tempo que Jesus havia deixado sua cidade. De todo modo, ficamos sabendo o nome da sua mãe Maria, de sua profissão ou 11 de seu pai - pois Mateus 13, 55 menciona, nesse episódio, que ele era "o filho do carpinteiro'--, assim como o nome de seus parentes. Em aramaico, a palavra a/7 era usada para designar um irmão ou um primo, mas em grego, o termo usado,adebos, restringe-se ao irmão de sangue.I Jesus nasceu no tempo de Herodes-(lVI¬t-21-; Lc 1:5), na cidade de Belém, naJu.d.Ç.i§l.(Mt 2:5-8; Lc 2:4-11), ainda que esta informação possa ter sido adicionada posteriormente, para ligar"Jesus-à asa do mrozvil ̀ Dle fato, o certo é que Je'sus'"'e" suão*família viviam em Nazaré, na Galileia (Mt 2:23; Lc 2:39). Não é possível precisar quando surgi- ram as tradições referentes à concepção de Jesus pelo Espírito Santo (Mt 1:18-20; Lc 1:26-38), mas elas estão ausentes de Marcos. aristocracia,ligada ao Templo dejerusalém, em sintonia com o império, mas também com amplas massas camponesas excluídas. Sós camponeses, artesãos e pobres em geral inspi- ravam-se nos antigos profetas de Israel, que se opunham à opulência dos sacerdotes e hierarcas ligados ao Templo de Jerusalém. Flávio Josefo menciona João Batista e sua morte, provavelmente no ano 28: 3.2. O Movimento Batista jesus. › / Na Palestina, à época de jesus, multiplicavam-se os mo- vimentos sociais, de caráter religioso, voltados às insatis- fações e agruras, em especial das pessoas humildes. O domínio romano, em todo o Império, estabelecias;livagens entre aqueles que se beneficiavam da associação com Roma - as elites - e as pessoas excluídas e queixosas da situação social em que se encontrava-m-.tlR"örñã""ã-dOtava, havia muitos séculos, uma poli aliançascom os grupos .dominantes locais, visando à sua incorporação ao exercício, do poder, sentido da alava zmperzum. Na Palestina, os judeus constituíam uma população heterogénea, com uma * i '. "Alguns judeus pensavam que a destruição do exército de Herodes veio de Deus, de forma justa, como punição pelo que ele havia feito contraJoão,.chamado Batista;.,pgis-H@l;¿Qdes o matara, ele que era um homem bom e pregava para que os judeus praticassem a virtude, tanto pela justiça de uns para com os outros, como pela reverência a Deus, para isso vindo ao batismo. Esta lavagem era aceita por ele, não se fosse para terem alguns pecados perdoados, mas para a purificação do corpo. A alma devia estar purificada antes pela retidão. ( a n d o muitos vieram em multidão até João, movidos por suas palavras, Herodes, que temia a grande influência de João sobre o povo, o que permitiria que estimulasse uma revolta (pois pareciam prontos a fazer o que ele dissesse), pensou ser melhor matá-lo. Isto impediria qualquer anão contrária causada por João e não traria dificuldades para o rei, que poderia arrepender-se muito tarde de tê-lo deixado vivo. Assim, foi aprisionado em Maquerus,-cast€-lQ quemengonei antes, e mortoÍQs judeus consideraram que a destruição do exército de Herodesíoi uma punição, para mostrar O desagrado de Deus"(flntiguidadesjudaicas 18, 5, 2, parágrafos 11ó-119); Esse testemunho mostra o caráter popular da pregação do Batista e como o povo, além de acorrer ao profeta, interpretou o rei e a elite como ímpios. Jesus e al uns de 23 22 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. Funznri Jesus HISTÓRICO. UMA nRr‹:víssImA INTRODUÇÃO A historieta pode parecer ilógico, se Jesus tivesse vivido toda sua vida adulta em Nazaré. No entanto, não sabemos precisar, antes do encontro com João Batista, o tempo que Jesus havia deixado sua cidade. De todo modo, ficamos sabendo o nome da sua mãe Maria, de sua profissão ou 11 de seu pai - pois Mateus 13, 55 menciona, nesse episódio, que ele era "o filho do carpinteiro'--, assim como o nome de seus parentes. Em aramaico, a palavra a/7 era usada para designar um irmão ou um primo, mas em grego, o termo usado,adebos, restringe-se ao irmão de sangue.I Jesus nasceu no tempo de Herodes-(lVI¬t-21-; Lc 1:5), na cidade de Belém, naJu.d.Ç.i§l.(Mt 2:5-8; Lc 2:4-11), ainda que esta informação possa ter sido adicionada posteriormente, para ligar"Jesus-à asa do mrozvil ̀ Dle fato, o certo é que Je'sus'"'e" suão*família viviam em Nazaré, na Galileia (Mt 2:23; Lc 2:39). Não é possível precisar quando surgi- ram as tradições referentes à concepção de Jesus pelo Espírito Santo (Mt 1:18-20; Lc 1:26-38), mas elas estão ausentes de Marcos. aristocracia,ligada ao Templo dejerusalém, em sintonia com o império, mas também com amplas massas camponesas excluídas. Sós camponeses, artesãos e pobres em geral inspi- ravam-se nos antigos profetas de Israel, que se opunham à opulência dos sacerdotes e hierarcas ligados ao Templo de Jerusalém. Flávio Josefo menciona João Batista e sua morte, provavelmente no ano 28: 3.2. O Movimento Batista jesus. › / Na Palestina, à época de jesus, multiplicavam-se os mo- vimentos sociais, de caráter religioso, voltados às insatis- fações e agruras, em especial das pessoas humildes. O domínio romano, em todo o Império, estabelecias;livagens entre aqueles que se beneficiavam da associação com Roma - as elites - e as pessoas excluídas e queixosas da situação social em que se encontrava-m-.tlR"örñã""ã-dOtava, havia muitos séculos, uma poli alianças com os grupos .dominantes locais, visando à sua incorporação ao exercício, do poder, sentido da alava zmperzum. Na Palestina, os judeus constituíam uma população heterogénea, com uma * i '. "Alguns judeus pensavam que a destruição do exército de Herodes veio de Deus, de forma justa, como punição pelo que ele havia feito contraJoão,.chamado Batista;.,pgis-H@l;¿Qdes o matara, ele que era um homem bom e pregava para que os judeus praticassem a virtude, tanto pela justiça de uns para com os outros, como pela reverência a Deus, para isso vindo ao batismo. Esta lavagem era aceita por ele, não se fosse para terem alguns pecados perdoados, mas para a purificação do corpo. A alma devia estar purificada antes pela retidão. ( a n d o muitos vieram em multidão até João, movidos por suas palavras, Herodes, que temia a grande influência de João sobre o povo, o que permitiria que estimulasse uma revolta (pois pareciam prontos a fazer o que ele dissesse), pensou ser melhor matá-lo. Isto impediria qualquer anão contrária causada por João e não traria dificuldades para o rei, que poderia arrepender-se muito tarde de tê-lo deixado vivo. Assim, foi aprisionado em Maquerus,-cast€-lQ quemengonei antes, e mortoÍQs judeus consideraram que a destruição do exército de Herodesíoi uma punição, para mostrar O desagrado de Deus"(flntiguidadesjudaicas 18, 5, 2, parágrafos 11ó-119); Esse testemunho mostra o caráter popular da pregação do Batista e como o povo, além de acorrer ao profeta, interpretou o rei e a elite como ímpios. Jesus e al uns de 23 22 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. l*lun;1ri Jrêsus P {IS'róRICO. UMA m‹¡êvísslmA 1 n'l'¡‹‹›nuçÃo seus discípulos pertenceram a este movimento baptista, como André e Pedro: Q artesãos e camponeses não poderiam se preocupar tanto com a pureza ritual. O movimento baptista estava aberto a estrangeiros e permitia o perdão dos pecados, sem o acordo e mesmo em oposição ao perdão centralizado no Templo de Jerusalém e oficializado pelo ritual do Y ͧ_1¿*¿z{dia do perdão), celebrado no dia 10 de mês tis/ari (Setembro/ Outubro no nosso calendario). Tudo indica que houve um abandono, após algum tempo L prática do batismo por parte de Jesus e seus seguidores. Jesus será, como pregador, muito diferente de oao Batista: não se vestirá como o profeta Elias (Mc 1:ó), sairá do Rio Jordão para pregar ao povo em suas aldeias, não se apresentará como um homem consagrado a Deus (nazi), que deveria abster-se de vinho e fermentados - ao contrário, beberá e comerá carne. O próprio Jesus teria dito "No dia seguinte, João se achava lá de novo, com dois de seus discípulos. Ao ver jesus que passava, disse: "eis o cordeiro de Deus". Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus.Jesus voltou-se e, vendo que eles o seguiam, disse-lhes: "que estais procurando? Disseram-lhe: 'rabi (que, traduzido, significa mestre), onde moras?' Disse-lhes: "vinde e vedc'. Então eles foram e viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia. Era a hora décima, aproximadamente. André, o irmao de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Encontrou primeiramente Simão e lhe disse: "encontramos o Messias (que quer dizer Cristo)'. Ele o conduziu a Jesus. Fitando-o, disse-lhc Jesus: 'tu és Simão, o ilho de João; chamar-te-ás Cefas (que quer dizer pedra)" (JO 1:35-42). 1 "Corre efeito, veio João, que não come nem bebe, e dizem: 'um demónio está nele". Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: 'eis aí um glutão c beberrão, amigo dc publicamos e pecadores" (Mt 11:18-19). I 1 q 1 4 T Talvez se possa localizar a ruptura com O movimento balista nessa contraposição, em um movimento de afilsta- mento do ascetismo, em direcção ao engajamento com os Impuros "não são OS que têm saúde que precisam de médi- cos, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecado- res" (Mc 2117) EU 1 I *Í â š 1 J 3.3.]esus, Porta-Voz de Deus. H 'n Jesus, ainda em vida, era conhecido como `emissário d1v1n0', conforme citação em Mt (21:10-11): Eram membros do movimento balista e balizavam: "Depois disso, Jesus veio com os seus discípulos para o território da Judeia e permaneceu ali com eles e balizava" (JO 3:23). A purificação pela água era regra ritual do judaísmo da época, com a necessidade de banhosrituais miégg0t) para purificar as pessoas, quando tivessem contatos impuros com estrangeiros, com mortos ou doentes, entre outras situações consideradas impuras. Contudo, no seio do povo, nem sempre era possível manter tais rigores e _-O movimento balista se caracterizava pela limpeza do corpo, mas com ênfase nas intenções, não no contato ritual impuro. Jesus e seus discípulos teriam sempre contato com impuros: pecadores, leprosos, não-judeus, prostitutas ou mulheres em situação de impureza. Isso se explica, em parte, pela origem popular desses movimentos sociais, pois I ê 1 "E, entrando em Jerusalém, a cidade inteira agitou-se c 25 24 _. -.--z.‹ -¢»‹‹ z~›‹""" . - André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. l*lun;1ri Jrêsus P {IS'róRICO. UMA m‹¡êvísslmA 1 n'l'¡‹‹›nuçÃo seus discípulos pertenceram a este movimento baptista, como André e Pedro: Q artesãos e camponeses não poderiam se preocupar tanto com a pureza ritual. O movimento baptista estava aberto a estrangeiros e permitia o perdão dos pecados, sem o acordo e mesmo em oposição ao perdão centralizado no Templo de Jerusalém e oficializado pelo ritual do Y ͧ_1¿*¿z{dia do perdão), celebrado no dia 10 de mês tis/ari (Setembro/ Outubro no nosso calendario). Tudo indica que houve um abandono, após algum tempo L prática do batismo por parte de Jesus e seus seguidores. Jesus será, como pregador, muito diferente de oao Batista: não se vestirá como o profeta Elias (Mc 1:ó), sairá do Rio Jordão para pregar ao povo em suas aldeias, não se apresentará como um homem consagrado a Deus (nazi), que deveria abster-se de vinho e fermentados - ao contrário, beberá e comerá carne. O próprio Jesus teria dito "No dia seguinte, João se achava lá de novo, com dois de seus discípulos. Ao ver jesus que passava, disse: "eis o cordeiro de Deus". Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus.Jesus voltou-se e, vendo que eles o seguiam, disse-lhes: "que estais procurando? Disseram-lhe: 'rabi (que, traduzido, significa mestre), onde moras?' Disse-lhes: "vinde e vedc'. Então eles foram e viram onde morava e permaneceram com ele aquele dia. Era a hora décima, aproximadamente. André, o irmao de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. Encontrou primeiramente Simão e lhe disse: "encontramos o Messias (que quer dizer Cristo)'. Ele o conduziu a Jesus. Fitando-o, disse-lhc Jesus: 'tu és Simão, o ilho de João; chamar-te-ás Cefas (que quer dizer pedra)" (JO 1:35-42). 1 "Corre efeito, veio João, que não come nem bebe, e dizem: 'um demónio está nele". Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: 'eis aí um glutão c beberrão, amigo dc publicamos e pecadores" (Mt 11:18-19). I 1 q 1 4 T Talvez se possa localizar a ruptura com O movimento balista nessa contraposição, em um movimento de afilsta- mento do ascetismo, em direcção ao engajamento com os Impuros "não são OS que têm saúde que precisam de médi- cos, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecado- res" (Mc 2117) EU 1 I *Í â š 1 J 3.3.]esus, Porta-Voz de Deus. H 'n Jesus, ainda em vida, era conhecido como `emissário d1v1n0', conforme citação em Mt (21:10-11): Eram membros do movimento balista e balizavam: "Depois disso, Jesus veio com os seus discípulos para o território da Judeia e permaneceu ali com eles e balizava" (JO 3:23). A purificação pela água era regra ritual do judaísmo da época, com a necessidade de banhos rituais miégg0t) para purificar as pessoas, quando tivessem contatos impuros com estrangeiros, com mortos ou doentes, entre outras situações consideradas impuras. Contudo, no seio do povo, nem sempre era possível manter tais rigores e _-O movimento balista se caracterizava pela limpeza do corpo, mas com ênfase nas intenções, não no contato ritual impuro. Jesus e seus discípulos teriam sempre contato com impuros: pecadores, leprosos, não-judeus, prostitutas ou mulheres em situação de impureza. Isso se explica, em parte, pela origem popular desses movimentos sociais, pois I ê 1 "E, entrando em Jerusalém, a cidade inteira agitou-se c 25 24 _. -.--z.‹ -¢»‹‹ z~›‹""" . - André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari JESUS H1STÓR1CO. UMA 8REVíSSIMA INTRODUÇÃO dizia: 'quem é este?'A isso as multidões respondiam: 'Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia' " escribas" (Mc 1:22). "Ele manda com autoridade até aos espíritos imundos, obedecem-lhe" (Mc 1:27). e .. E 1 q : A palavra grega exousía designa um tipo de poder, mas não sabemos como essa sua potência mágica era chamada em aramaico. De qualquer modo, esse carisma exercia- se por meio das falas de Jesus, perdidas em sua forma original, em aramaico, mas cujo substrato oral se encontra preservado em muitas frases que parecem diretamente traduzidas da língua semita para o grego. Talvez a mais famosa seja: Era chamado de Nabi, traduzido para o grego (e depois para o português) como profeta. A palavra significa, literal- mente,borbulho, aquele que fala como se borbulhasse, como se a fonte das suas palavras fosse Deus, que borbulhava as palavras na boca daquele que era um emissário, um trans- missor. Havia uma longa tradição de profetas em Israel. Eram homens que, desde o período dos reis, falavam para o povo, criticavam as autoridades, tanto políticas como religiosas, por se afastarem da justiça e da igualdade comum a todos os alhos de Deus. Sua mensagem inseria- se na linha dos antigos profetas de Israel, como um profeta itinerante, que se poderia caracterizar como carismático, para usar o termo difundido pelo sociólogo alemão Max Weber, com a seguinte definição: O "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para sábado" (Mc 2:27). 1 1 Mas muitas outras, curtas e dietas, ressoam o original aramaico que se perdeu, como: "O carisma é uma qualidade de uma personalidade individual, por isso separado das pessoas comuns, pessoa tra- tada como se dotada de poder e qualidades super-humanas, além da natureza, ou ao menos excepcionais. Estas não são acessíveis às pessoas comuns, mas são consideradas de origem divina ou como modelos e, por isso, o indivíduo é considerado um líder." 4 "Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo" (Má 4:17). "Se alguém quer ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos" (Mc 9:34). "Se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir" (Mc 3:25). "Olhai os lírio do campo, como eles crescem: não trabalham nem Sam. Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda sua glória, se vestiu com qualquer deles" (Mt 6:28- 29). O próprio termo carisma deriva do grego Marie, "graça, favor', muito usado no Novo Testamento. No entanto, a expressão usada para se referir ao carisma de Jesus era *ó2qousz2z duzido como 'autoridade': "Pôs ouvintes ficavam admirados com a sua doutrina, porque os ensinava com quem tem autoridade, e não como os É â Jesus, após uma fase inicial comjoão Batista.,1:Qma¬seum pre ado errante. Caracterizou-se porfrases simples, dietas Ê cortawfiíëS; pelos disõííršõs que emanava 26 I 85 1 1 27 André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari JESUS H1STÓR1CO. UMA 8REVíSSIMA INTRODUÇÃO dizia: 'quem é este?'A isso as multidões respondiam: 'Este é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia' " escribas" (Mc 1:22). "Ele manda com autoridade até aos espíritos imundos, obedecem-lhe" (Mc 1:27). e .. E 1 q : A palavra grega exousía designa um tipo de poder, mas não sabemos como essa sua potência mágica era chamada em aramaico. De qualquer modo, esse carisma exercia- se por meio das falas de Jesus, perdidas em sua forma original, em aramaico, mas cujo substrato oral se encontra preservado em muitas frases que parecem diretamente traduzidas da língua semita para o grego. Talvez a mais famosa seja: Era chamado de Nabi, traduzido para o grego (e depois para o português) como profeta. A palavra significa,literal- mente,borbulho, aquele que fala como se borbulhasse, como se a fonte das suas palavras fosse Deus, que borbulhava as palavras na boca daquele que era um emissário, um trans- missor. Havia uma longa tradição de profetas em Israel. Eram homens que, desde o período dos reis, falavam para o povo, criticavam as autoridades, tanto políticas como religiosas, por se afastarem da justiça e da igualdade comum a todos os alhos de Deus. Sua mensagem inseria- se na linha dos antigos profetas de Israel, como um profeta itinerante, que se poderia caracterizar como carismático, para usar o termo difundido pelo sociólogo alemão Max Weber, com a seguinte definição: O "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para sábado" (Mc 2:27). 1 1 Mas muitas outras, curtas e dietas, ressoam o original aramaico que se perdeu, como: "O carisma é uma qualidade de uma personalidade individual, por isso separado das pessoas comuns, pessoa tra- tada como se dotada de poder e qualidades super-humanas, além da natureza, ou ao menos excepcionais. Estas não são acessíveis às pessoas comuns, mas são consideradas de origem divina ou como modelos e, por isso, o indivíduo é considerado um líder." 4 "Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo" (Má 4:17). "Se alguém quer ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos" (Mc 9:34). "Se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir" (Mc 3:25). "Olhai os lírio do campo, como eles crescem: não trabalham nem Sam. Eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda sua glória, se vestiu com qualquer deles" (Mt 6:28- 29). O próprio termo carisma deriva do grego Marie, "graça, favor', muito usado no Novo Testamento. No entanto, a expressão usada para se referir ao carisma de Jesus era *ó2qousz2z duzido como 'autoridade': "Pôs ouvintes ficavam admirados com a sua doutrina, porque os ensinava com quem tem autoridade, e não como os É â Jesus, após uma fase inicial comjoão Batista.,1:Qma¬seum pre ado errante. Caracterizou-se porfrases simples, dietas Ê cortawfiíëS; pelos disõííršõs que emanava 26 I 85 1 1 27 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lã"un;u'i Jesus HISTÓRICO. U M A BREVíSSIMA INTRODUÇÃO todos para os obres, pelas parábolas que se fundavam na vida cotidiana dos mais simples. O caso paradigmático des- sa pregação aos mais pobres, consiste no Sermão da Mon- tanha: 37), ao explicar quem era o 'próximo', do mandamento 'amarás teu próximo", conta que uma pessoa ficou em poder de ladrões. Um sacerdote viu-o e nada fez. Um levita fez o mesmo. Um samaritano, que nem seguia o .judaísmo do Templo e era, portanto, considerado impuro, salvou e tratou do estranho que haxaa..§.a.ís10-I1fl§ mãos dos ladrões. .Este era __0__próggirno Esta narrativa, simples, direta e popular, era~ tudo que o povo queria ouvir e era o que desagradava ag elites. Era a essência da prešaišo de jesus por parábolas. "Vendo jesus aquela multidão, subiu a um monte c, tendo- se sentado, aproximaram-se dele os seus discípulos. Ele, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosas, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados de filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles e o reino dos céus" (Mt 5:1-12). 3.4.]esus, 0 Poder de Deus. Como já escrito anteriormente, Flávio Josefo disse que Jesus era um 'fazedor de coisa extraordinária' e o§Evange- lhos reportam vinte e sete milagres'. A palavra milagre deriva do latim miraczzÍ'1iZ?1-zië-šignific-ÊÊ1 algo que deixa estu- pefato, admirado, para usarmos a raiz latina comum. Jesus e seus seguidores não falavam o latim e, tampouco, temos os termos aramaicos originais. Nos Evangelhos, aparecem diversos termos traduzidos por "milagre, cada um com suas características e possíveis correlações com os possíveis termos originais em aramaico. Cada um revela aspectos da anão de Jesus, segundo seus contemporâneos. A palavra semeion (sinal e imagem) conota a ligação de uma anão excepcional a Deus, como um sinal de sua presença. Este é o sentido claro, na passagem conclusiva sobre a vida de Moisés: Paralelo a esta defesa dos humildes, em discursos para multidões, Jesus pregava por meio de parábolas. Este ter- mo grego designa uma história contada por meio de situa- ções concretas que possuem implicações mais amplas. A expressão parece traduzir o hebraico mas/yód e o aramaico mal*/a (provérbio). O que caracteriza tais contos é o uso de comparações, que deveriam ser entendidas por aqueles abertos à mensagem de Jesus, àqueles de coração disposto ~`t justiça, mas não o eram pelos duros: "por isso lhes ido em parábolas, porque vendo não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem" (Mt 13:13). Não por acaso, as parabolas apresentavam personagens desprezados pela elite sacerdotal ermo o born.samaritano, contraposto a certo doutor a 1e1. Segundo jesus (Lc 10:25- "Nunca mais surgiu em Israel profeta semelhante a Moisés, com quem o Senhor tratasse face a face, nem quanto aos sinais e prodígios que o Senhor lhe mandou fitzcr no Edito" (Dt 34z10-11). A palavra hebraica 0th (alba aramaico) e era em 28 OS 29 André Leonardo Chcvitarcsc c Pedro Paulo A. lã"un;u'i Jesus HISTÓRICO. U M A BREVíSSIMA INTRODUÇÃO todos para os obres, pelas parábolas que se fundavam na vida cotidiana dos mais simples. O caso paradigmático des- sa pregação aos mais pobres, consiste no Sermão da Mon- tanha: 37), ao explicar quem era o 'próximo', do mandamento 'amarás teu próximo", conta que uma pessoa ficou em poder de ladrões. Um sacerdote viu-o e nada fez. Um levita fez o mesmo. Um samaritano, que nem seguia o .judaísmo do Templo e era, portanto, considerado impuro, salvou e tratou do estranho que haxaa..§.a.ís10-I1fl§ mãos dos ladrões. .Este era __0__próggirno Esta narrativa, simples, direta e popular, era~ tudo que o povo queria ouvir e era o que desagradava ag elites. Era a essência da prešaišo de jesus por parábolas. "Vendo jesus aquela multidão, subiu a um monte c, tendo- se sentado, aproximaram-se dele os seus discípulos. Ele, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosas, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados de filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles e o reino dos céus" (Mt 5:1-12). 3.4.]esus, 0 Poder de Deus. Como já escrito anteriormente, Flávio Josefo disse que Jesus era um 'fazedor de coisa extraordinária' e o§Evange- lhos reportam vinte e sete milagres'. A palavra milagre deriva do latim miraczzÍ'1iZ?1-zië-šignific-ÊÊ1 algo que deixa estu- pefato, admirado, para usarmos a raiz latina comum. Jesus e seus seguidores não falavam o latim e, tampouco, temos os termos aramaicos originais. Nos Evangelhos, aparecem diversos termos traduzidos por "milagre, cada um com suas características e possíveis correlações com os possíveis termos originais em aramaico. Cada um revela aspectos da anão de Jesus, segundo seus contemporâneos. A palavra semeion (sinal e imagem) conota a ligação de uma anão excepcional a Deus, como um sinal de sua presença. Este é o sentido claro, na passagem conclusiva sobre a vida de Moisés: Paralelo a esta defesa dos humildes,em discursos para multidões, Jesus pregava por meio de parábolas. Este ter- mo grego designa uma história contada por meio de situa- ções concretas que possuem implicações mais amplas. A expressão parece traduzir o hebraico mas/yód e o aramaico mal*/a (provérbio). O que caracteriza tais contos é o uso de comparações, que deveriam ser entendidas por aqueles abertos à mensagem de Jesus, àqueles de coração disposto ~`t justiça, mas não o eram pelos duros: "por isso lhes ido em parábolas, porque vendo não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem" (Mt 13:13). Não por acaso, as parabolas apresentavam personagens desprezados pela elite sacerdotal ermo o born.samaritano, contraposto a certo doutor a 1e1. Segundo jesus (Lc 10:25- "Nunca mais surgiu em Israel profeta semelhante a Moisés, com quem o Senhor tratasse face a face, nem quanto aos sinais e prodígios que o Senhor lhe mandou fitzcr no Edito" (Dt 34z10-11). A palavra hebraica 0th (alba aramaico) e era em 28 OS 29 . . . . . . . . . . . O Evangelho de João narra 0 início da trajetória pregadora de Jesus com a transformação da água em vinho, em uma festa de casamento: "este início dos sinais, Jesus o realizou em Cana da Galileia" (Jo 2:11). Também se usava o termo terás, que se relaciona ao nosso "terror', que parece reportar-se ao hebraico 7720fit, traduzido por prodígio, maravilha, aquilo que causa espanto, temor e admiração, a um só tempo. Aqui também, trata-se de algo fora do comum e que por isso causa admiração e temor e que provém de uma força superior: Deus. Outras duas expressões, ergo (°trabalho') e dynamis ("poder'), podem ser associadas a Deus ou ao Demônio, como o faziam os críticos de Jesus: Evangelhos usam "sinais" para se referir a anões espantosas, "sinais" da divindade que a t a por meio de um profeta. Como dirão os primeiros cristãos: "Estende a mão para que se realizem curas, sínais e prodígios por meio do nome do teu santo servo Jesus" (At 5:30). André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari l extraordinárias foram parte essencial da pregação de Jesus e estavam associadas a um poder superior, demoníaco para seus detratores, divino para seus seguidores. Em ambos os casos, entretanto, duas características devem ser destacadas a) as pessoas acreditavam em milagres e eles ocorriam, b) havia uma conotação popular, associada aos prodígios No mundo moderno, há pessoas que não acreditam em Deus, espíritos, forças superiores, ou milagres. Estes costumam ser chamados de ateus (que não acreditam em Deus) ou, de forma mais apropriada, agnósticos (que¬não conhecem, ou reconhecem, forças sobrenaturais). No mundo antigo a situação era um pouco diferente. Ha um escrito em uma parede na Pompeia, antes de 79, bem esclarecedor: "nego todos 0s deuses (bomnes nego dos)". Mas L grande maioria das pessoas não duvidava do poder de ,forças extra-humanas. Como nos diz uma inscrição grega JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO "Tendo sido punido pelo deus, erigiu esta estela para Apolo Labenos relatando como ele me puniu por um juramento, meu reconhecimento da culpa e impureza. Declaro para todos que ninguém deve desprezar os d€US€S". "Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava 1 possuído por Beelzebu e expulsava demónios pelo poder do I chefe dos demónios" (JO 3:22). Contudo, a palavra "poder" (dynamis) representava o próprio Deus: Qutra prova do poder divino são os ex-votos, dedicados a diversas divindades, que chegaram até nós e que agrade- cem as graças obtidas. Um bom exemplo é inscrição de uma Kleo, em agradecimento a Esculápio: "admire o poder deste deus que me deu de volta a saúde". Se isso era verdade entre os politeístas, também o era nos ambientes judaicos Um contemporâneo de Jesus foi Teudas, citado tanto por Flávio Josefo, como por Atos dos Apóstolos: "O Sumo Sacerdote perguntou de novo: "És o Messias, Filho de Deus Bendito? Jesus respondeu: "Sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder, vindo com as nuvens do céu" (Mc 14:61-62). Em todos os casos, sinais, prodígios e milagres, as anões "Um impostor, chamado Teudas, persuadiu um grande número de pessoas a o seguirem até o rio Jordão. Ele afirmava 31 30 I I l l I . . . . . . . . . . . O Evangelho de João narra 0 início da trajetória pregadora de Jesus com a transformação da água em vinho, em uma festa de casamento: "este início dos sinais, Jesus o realizou em Cana da Galileia" (Jo 2:11). Também se usava o termo terás, que se relaciona ao nosso "terror', que parece reportar-se ao hebraico 7720fit, traduzido por prodígio, maravilha, aquilo que causa espanto, temor e admiração, a um só tempo. Aqui também, trata-se de algo fora do comum e que por isso causa admiração e temor e que provém de uma força superior: Deus. Outras duas expressões, ergo (°trabalho') e dynamis ("poder'), podem ser associadas a Deus ou ao Demônio, como o faziam os críticos de Jesus: Evangelhos usam "sinais" para se referir a anões espantosas, "sinais" da divindade que a t a por meio de um profeta. Como dirão os primeiros cristãos: "Estende a mão para que se realizem curas, sínais e prodígios por meio do nome do teu santo servo Jesus" (At 5:30). André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo A. Funari l extraordinárias foram parte essencial da pregação de Jesus e estavam associadas a um poder superior, demoníaco para seus detratores, divino para seus seguidores. Em ambos os casos, entretanto, duas características devem ser destacadas a) as pessoas acreditavam em milagres e eles ocorriam, b) havia uma conotação popular, associada aos prodígios No mundo moderno, há pessoas que não acreditam em Deus, espíritos, forças superiores, ou milagres. Estes costumam ser chamados de ateus (que não acreditam em Deus) ou, de forma mais apropriada, agnósticos (que¬não conhecem, ou reconhecem, forças sobrenaturais). No mundo antigo a situação era um pouco diferente. Ha um escrito em uma parede na Pompeia, antes de 79, bem esclarecedor: "nego todos 0s deuses (bomnes nego dos)". Mas L grande maioria das pessoas não duvidava do poder de ,forças extra-humanas. Como nos diz uma inscrição grega JESUS HISTÓRICO. UMA BREVÍSSIMA INTRODUÇÃO "Tendo sido punido pelo deus, erigiu esta estela para Apolo Labenos relatando como ele me puniu por um juramento, meu reconhecimento da culpa e impureza. Declaro para todos que ninguém deve desprezar os d€US€S". "Os escribas vindos de Jerusalém diziam que ele estava 1 possuído por Beelzebu e expulsava demónios pelo poder do I chefe dos demónios" (JO 3:22). Contudo, a palavra "poder" (dynamis) representava o próprio Deus: Qutra prova do poder divino são os ex-votos, dedicados a diversas divindades, que chegaram até nós e que agrade- cem as graças obtidas. Um bom exemplo é inscrição de uma Kleo, em agradecimento a Esculápio: "admire o poder deste deus que me deu de volta a saúde". Se isso era verdade entre os politeístas, também o era nos ambientes judaicos Um contemporâneo de Jesus foi Teudas, citado tanto por Flávio Josefo, como por Atos dos Apóstolos: "O Sumo Sacerdote perguntou de novo: "És o Messias, Filho de Deus Bendito? Jesus respondeu: "Sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder, vindo com as nuvens do céu" (Mc 14:61-62). Em todos os casos, sinais, prodígios e milagres, as anões "Um impostor, chamado Teudas, persuadiu um grande número de pessoas a o seguirem até o rio Jordão. Ele afirmava 31 30 I I l l I e "De fato, surgirão falsos cristos e falsos profetas, que farão sinais e prodígios capazes de enganar, se possível, até eleitos" (Mc 14:22). "2¿\lgum tempo atrás levantou-se Teudas, que sc fazla importante, e a quem se .juntaram cerca de quatrocentos seguidores, ele foi morto, e todos os que o seguiam debandaram" (At 5:3ó). Havia muitos mílagreirosz ser o Profeta e que, sob sua ordem, as águas do rio se abririam (flntiguidadesƒudaicas, 20:97-99).
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