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MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca ANATOMIA O pâncreas é uma glândula retroperitoneal envolvida pelo peritônio parietal e adjacente a estruturas nobres. É dividida anatomicamente em: cabeça (intimo contato com o duodeno), colo, corpo e cauda (contato com o hilo esplênico e flexura cólica esquerda). Pesa entre 60 e 170g e mede de 12 a 25cm. Esse órgão é dividido funcionalmente em exócrino e endócrino. O colo é marcado anatomicamente pela relação com os vasos mesentéricos superiores que passam posteriormente ao colo pancreático. À direita do colo do pâncreas, localiza-se a cabeça e sua projeção mais inferior, denominada processo uncinado. Figura 1: Anatomia do pâncreas. O canal de Wirsung é o ducto pancreático principal, o qual acompanha toda a extensão do pâncreas. Conecta-se ao duodeno através da ampola de Vater, onde se junta ao ducto biliar. O esfíncter de Oddi, juntamente com a ampola de Vater, regula a secreção pancreática no trato gastrointestinal. Figura 2: Anatomia dos ductos pancreáticos. Edema/tumor na cabeça do pâncreas leva a compressão do ducto colédoco e não drenagem da bile resultando em ictérica. Suprimento arterial (Figura 3): A rede arterial deriva do tronco celíaco (artéria hepática comum – e dessa a artéria gastroduodenal e pancreaticoduodenais superiores anteriores e posteriores–, artéria esplênica e artéria gástrica esquerda) e da artéria mesentérica superior (artérias pancreaticoduodenais superiores anteriores e posteriores): o A cabeça e o processo uncinado são irrigados pelas artérias pancreaticoduodenais superiores anterior e inferior /inferiores anterior e posterior; o O colo, corpo e cauda são irrigados pela artéria dorsal a qual é ramo da artéria esplênica. O suprimento venoso acompanha o arterial. PANCREATITE AGUDA Condição inflamatória aguda do pâncreas que pode começar de forma leve e de localizada, e caso evolua para casos mais graves, ou seja, quando desencadeada uma resposta inflamatória exacerbada, leva ao acometimento variável de estruturas peripancreáticas e órgãos a distância – doença multissistêmica. Etiologia (tabela 1): Epidemiologia: o 80-90% são pancreatites leves, conhecidas como: edematosa ou intersticial; o 10-20% são pancreatites graves, conhecidas como: necrosante ou necro-hemorrágica. Fatores de risco: As causas mais comuns são pancreatite biliar e etilismo, seguido de obstrução anatômica, pós-CPRE, medicamentosa, triglicérides, hipercalemia, trauma abdominal, entre outros; Fisiopatologia: Ativação enzimática anormal nas células acinares que leva a autodigestão do parênquima pancreático normal e a liberação de citocinas pró-inflamatórias (ex.: TNF-alfa, IL-1, IL-2, IL-6) que aumentam o processo inflamatório e causam lesão na microcirculação pancreática, e em casos mais graves a necrose e hemorragia local, além da lesão pulmonar com SRAG. Doenças císticas do pâncreas e pancreatite aguda e crônica Clínica Cirúrgica MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca PANCREATITE AGUDA BILIAR Epidemiologia: 40% dos casos nos EUA; prevalência em mulheres entre 50-70 anos; associado a coledocolitíase em 25- 50% casos; Patogênese: Envolve a passagem de pequenos cálculos (<5mm), que migram através da ampola de Vater e obstruem/edemaciam a via pancreática, podendo aumentar a pressão intraductal ou refluxo biliar. A colecistectomia previne recidivas. A pancreatite biliar não leva a pancreatite crônica. PANCREATITE AGUDA ALCOÓLICA Epidemiologia: 35% dos casos; prevalência em adultos do sexo masculino (30-45 anos); Fatores que contribuem: Abuso de álcool (>100g/dia por pelo menos 5 anos), fumo e predisposição genética; Os sintomas aparecem geralmente de 1 a 3 dias após libação alcoólica intensa; Patogênese: Algumas teorias demonstram que o álcool causa uma lesão tóxica direta do etanol nas ilhotas e nas células pancreáticas, outros acreditam que o álcool estimula uma grande liberação de enzimas pancreáticas, outros acreditam que o álcool causa uma contração transitória do esfíncter de Oddi e assim levando a um processo obstrutivo temporário e também a formação de cilindros de proteína que obstruem os ductos pancreáticos, dificultando a drenagem do suco pancreático para o TGI. PANCREATITE AGUDA ID IOPÁTICA Epidemiologia: Até 20% dos casos não são bem definidos: o A maior parte dos casos, acredita-se que são casos de lama biliar que podem levar a microlitíase biliar, ou seja, cálculos tão pequenos que não conseguem ser identificados: Esses pacientes são encaminhados para papilotomia (CPRE) e colecistectomia. o Outros casos são por disfunção (em grande parte hipertonia) do esfíncter de Oddi: Os pacientes realizam o exame de mensuração da pressão esfincteriana por CPRE e se diagnóstico positivo são encaminhados para papilotomia. OUTRAS CAUSAS Obstrução anatômica: Pâncreas divisium (quando não há fusão dos brotos pancreáticos), Ascaris lumbricoides (obstrução temporária ao adentrar na papila), pâncreas anular; Induzida por CPRE: 5% dos pacientes, e desses a pancreatite é leve em 90-95% dos casos. Ocorre após exame CPRE (Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica) devido a ingestão do contraste aumentar a pressão dentro do ducto de Wirsung; Medicamentosa: 2% dos casos, devido a sulfonaminas, metronidazol, eritromicina, tetraciclinas, tiazidas, furodemina, Ac. Valproico, acetaminofeno; Metabólicos: Hipertrigliceridemia (>1000mg/dL), hipercalcemia (1,5 a 13% dos pacientes com hiperparatireoidismo); Fibrose cística, infecções (virais, bacterianas ou parasitárias), vasculites, envenenamento por escorpião, trauma abdominal fechado ou penetrante, hipotensão intra-operatória prolongada e manipulação pancreática excessiva. QUADRO CLÍNICO Dor abominável aguda, continua e em andar superior do abdome – dor do tipo “em faixa” por acometer o epigástrio e hipocôndrio direito e esquerdo – ou difusa, em níveis variados podendo inclusive simular irritação peritoneal, com irradiação para o dorso, e alivio com posição genupeitoral (flexão anterior do tórax); Náuseas e vômitos persistentes e que não aliviam a dor – esses sintomas decorrem da própria dor abdominal ou por irritação da parede gástrica; Distenção abdominal secundária a íleo paralítico – decorrem por processo inflamatório ou por distúrbio hidroeletrolítico; Outros sintomas – geralmente em casos mais graves: o Febre, taquicardia, sinais de desidratação, taquipneia, rebaixamento do nível de consciência, eventualmente coma, derrame pleural reacional – a esquerda ou bilateral; o Icterícia leve obstrutiva em 10% dos casos, secundária a coledocolitíase ou edema em cabeça de pâncreas; o Choque hipovolêmico e por vasodilatação sistêmica devido a perda de liquido para peritônio/retroperitônio e terceiro espaço; o Insuficiência renal – geralmente pré-renal (tratamento: hidratação), mas pode evoluir para necrose tubular aguda – devido a enzimas e interleucinas. Sinais cutâneos (em casos graves): o Grey-turner: Equimose em flancos; o Cullen: Equimose periumbilical; o Fox: Equimose em base peniana; o Paniculite (Necrose gordurosa subcutânea): Nódulos subcutâneos dolorosos circundados por eritema; o Retinopatia de Purtscher: Escotomas com diminuição súbita da acuidade visual – a fundoscopia revela exsudatos algodonosos e focos de hemorragia na mácula e papila óptica. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Figura 4: Sinais de Cullen e Grey- turner. DIAGNÓSTICO A partir da presença de pelo menos 2 dos 3 critérios a seguir: Quadro clinico + Laboratorial + Imagens em casos específicos. Laboratorial: o Amilase + lipase em 3x (três vezes) o valor de referência (dosar as duas juntas – devido ao valor da amilase ter a chance de alterar por outra causa) – E (especificidade): 95% e sensibilidade: 95%: Amilase: Eleva nas primeiras 24h e mantém-se por 3 a 5 dias – S:85-90% e E:70-75% - quando analisada sozinha; Lipase: Mantém-se por 7-10 dias – S:85% e E:80%. Não inferem prognóstico, ou seja, não tem relação com a gravidade da pancreatite aguda. o Outros exames laboratoriais são mais inespecíficos, como: leucocitose (reflete a inflamação sistêmica e é um marcador prognóstico), PCR, hiperglicemia, hipocalcemia (associada a extensão da necrose pancreática por saponificação do cálcio pela gordura peripancreática necrosada), elevação da ureia e creatinina, elevação do TGO, TGP, FÃ, bilirrubina: Quando TGP > 150 U/l sugere etiologia biliar (E:96% e S:48%). Imagem: o Raio-X abdome: Importante para diagnóstico diferencial; o Ultrassonografia (USG): Utilizada para buscar a etiologia mais comum: litíase biliar; Não tem boa visualização devido a interposição gasosa. o A Ressonância Nuclear Magnética (RNM): Exame de difícil acesso – utilizada quando há impossibilidade de contraste na TC –, mas quando realizado possui a vantagem de avaliar em conjunto a litíase biliar; o Tomografia computadorizada (TC) é o exame de escolha para dúvida diagnóstica ou quando há critérios de gravidade sugestivo de pancreatite grave: Ideal após as primeiras 72h (necrose bem estabelecida); Achado: Densificação dos planos adiposos do pâncreas. PROGNÓSTICO A mortalidade varia consideravelmente a depender da gravidade do episódio. De acordo com a classificação revisada de Atlanta, a PA pode ser dividida em três grupos: o Pancreatite aguda leve: Ausência de falência orgânica e complicações locais; o Pancreatite aguda moderada: Complicações locais e/ou falência orgânica transitória (<48h de duração); o Pancreatite aguda grave: Falência orgânica persistente (>48h de duração). A definição de falência orgânica é baseada no sistema ou escore modificado de Marshall, que leva em consideração também três parâmetros: Tabela 2: Escore modificado de Marshall. Existem diversos modelos de predição do prognóstico, e utilizam-se principalmente de dados clínicos, radiológicos, laboratoriais e fatores de risco. Alguns deles podem ser realizados já durante a avaliação inicial, enquanto outros necessitam de um seguimento de pelo menos 48-72h. Os mais conhecidos são os critérios de Ranson (necessita de pelo menos 48 horas), APACHE II (primeiras 24h de admissão) e Balthazar (analise tomográfica do abdome). Em Ranson é necessário avaliar os critérios na admissão e em 48h. Quando Ranson é ≥ 3, a pancreatite é grave: o Um pouco falho por precisar dos novos exames em 48h para saber se o paciente é grave ou não; Tabela 3: Critérios de Ranson. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca O critério de APACHE 2, é utilizado para paciente em estado grave, ou seja, não apenas utilizados para casos de pancreatite aguda: o Pode ser calculado por sites e aplicativos. Tabela 4: Critérios de APACHE 2. Critérios de Balthazar: Realizado através dos resultados da tomografia, e faz a contagem dos pontos: o 0-3: 0; 4-6:35 e 7-10:92 pontos. Tabela 5: Critérios de Balthazar. Existe o escore de sinais de bom prognóstico - HAPS: 1. Ausência de defesa ou descompressão dolorosa do abdome; 2. Hematócrito normal; 3. Ausência de azotemia (aumento da ureia e creatinina). TRATAMENTO O manejo dos pacientes é focado em quatro grandes aspectos: controle da dor, hidratação vigorosa, suporte nutricional e controle das complicações. Pancreatite leve: Dieta zero – e realimentar quando melhora sintomática (geralmente de 3/5 dias) –, reposição volêmica (para controle hidroeletrolítico), analgesia (opiácios + hidratação); Algumas literaturas relatam que a morfina leva ao aumento pressão do esfíncter de Oddi. Pancreatite grave: Paciente necessita de estabilização clínica na UTI para uma reposição volêmica vigorosa (ao menos 6l nas primeiras 24h) e nutrição enteral (apenas nutrição parenteral se o paciente não tolerar a enteral). Não há indicação de antibioticoprofilaxia, somente em casos de infecções. Na presença de colangite ou icterícia progressiva moderada a grave, nas primeiras 72h realiza-se CPRE. É importante lembrar que em todos os casos de etiologia biliar, a colecistectomia semieletiva (antes da alta hospitalar) está indicada: Índice de recidiva de até 25% caso não seja realizada; Após resolução do caso agudo: o Realizar CPRE + papilotomia ou colangiografia intra- operatória; o Se o quadro leve: mesma internação e em quadro grave: aguardar 6 semanas para reavaliação cirúrgica. COMPLICAÇÕES Necrose pancreática: Definida por tecido pancreático não viável com >3cm de tamanho ou > 30% do pâncreas. É dividida em estéril, infectada e encapsulada: o A necrose infectada deve ser suspeitada naqueles pacientes que após 7-10 dias de internação apresentam piora do quadro clínico (febre, leucocitose ou sinais de sepse) ou não apresentam melhora significativa: Nesses casos, está indicada a realização de tomografia (mostra gás no pâncreas ou tecido peripancreático), com punção e análise do aspirado com Gram e cultura; Se confirmada, a necrose infectada deve ser tratada com antibioticoterapia dirigida e necrosectomia (retirada das áreas necrosadas). Pseudocisto pancreático: Em cerca de 10% dos casos de pancreatite aguda, pode-se evidenciar o acúmulo de líquido envolvido por uma cápsula de fibrose e/ou tecido de granulação, sendo denominada de "coleção líquida aguda" nas 4-8 semanas do início do quadro. o Deve ser suspeitado na presença de epigastralgia, massa abdominal palpável e aumento ou não diminuição dos níveis de amilase/lipase; o O diagnóstico é realizado por tomografia; o O tratamento consiste em observar por 6 semanas e avaliar regressão espontânea. Em caso de tratamento invasivo, o padrão-ouro é a drenagem da coleção podendo ser drenada pelo estômago, duodeno e jejuno, ou por técnica endoscópica ou CPRE e em casos de pseudocisto infectado: punção guiada por TC/USG além da antibioticoterapia; o Complicações: Obstrução intestinal ou biliar, ruptura aguda para cavidade abdominal e hemorragia/pseudoaneurisma – complicação mais temida – com risco de invasão e corrosão de artérias adjacentes, e fístula pancreática –pois há lesão dos ductos pancreáticos e vazamento para cavidade/espaço pleural; o tratamento preferencial é por nutrição parenteral e octreotide. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca PANCREATITE CRÔNICA Processo inflamatório do pâncreas que resulta na substituição fibrótica do parênquima pancreático, levando a uma insuficiência pancreática endócrina e exócrina de forma crônica e progressiva. Etiologia: o Pancreatite alcoólica corresponde a 70-80% dos casos, apenas 5-10% dos etilistas crônicos desenvolvem; o consumo de tabaco aumenta o risco e a velocidade de progressão da doença; o Pancreatite crônica hereditária é uma causa rara (2%), com herança do padrão autossômico dominante (o gene mais associado é o PRSS-1). Geralmente os pacientes são jovens (<20 anos), sem fatores de risco ambientais importantes (ex.: etilismo e tabagismo) e com parentes de primeiro grau apresentando a mesma doença; o Pancreatite autoimune corresponde a 4-6% dos casos, doença associada a igG4, caracterizada pelo acometimento de outros órgãos, aumento da fração de igG4 e infiltrado inflamatório linfoplasmocitário; o Pancreatite crônica idiopática corresponde de 10-30% dos casos em forma juvenil (10-20 anos) e forma senil (50-60 anos); o Pancreatite tropical é a principal causa na África tropical e sul da índia, devido a determinados alimentos e deficiências nutricionais. Afeta crianças e adolescentes, que geralmente falecem em idades precoces; o Outras causas: Fatores genéticos: Os genes mais relacionados são: CFTR (fibrose cística), PRSS-1 (pancreatite hereditária) e SPINK1; Doenças sistêmicas (Lúpus Eritematoso Sistêmico, hiperparatireoidismo e hipertrigliceridemia), pâncreas divisum e radioterapia. Classificação: o Pancreatite Calcificante Crônica (95%): Plugs calcificados de proteínas, que obstruem pequenos e grandes ductos pancreáticos, com fibrose progressiva, estenoses e dilatações: Associada ao Etilismo. o Pancreatite Obstrutiva Crônica: Lesão que obstrui o ducto de Wirsung, com dilatação homogênea e generalizada da árvore pancreática: Associada a tumores intraductais e malformações. o Pancreatite Inflamatória crônica: Agressão inflamatória crônica está acometendo o pâncreas, sem haver plugs ductais ou obstrução do ducto principal: Associada a doenças autoimunes. Fisiopatologia: Estímulo tóxico Aumento da concentração proteica da secreção pancreática Formação de plugs proteicos com obstrução de dúctulos que leva a ativação de enzimas pancreáticas e depósito de cálcio nos plugs com formação de cálculos e isquemia tissular por hipertensão ductal Inflamação e fibrose pancreática (outros fatores:) efeito toxico direto, fenômeno autoimune e acúmulo de antioxidantes. QUADRO CLÍNICO Tríade clássica: Esteatorréia + Calcificações Pancreáticas + Diabetes Mellitus (DM). Entretanto, essa junção só está presente em menos de um terço dos pacientes, em uma fase bem tardia. A dor abdominal é o sintoma mais comum (80%) e predomina no andar superior do abdome, pode piorar após a ingestão de alimentos. No início do quadro, os episódios são álgicos com duração inferior a 10 dias e período de remissão de meses a anos, porém com o passar do tempo, costumam ser por períodos prolongados de dor diária com exacerbações recorrentes; Emagrecimento e desnutrição secundária a dor, esteatorréia ou DM; Insuficiência pancreática exócrina (manifestação tardia, uma vez que é necessária perda de pelo menos 90% do tecido pancreático) manifesta-se principalmente através da esteatorréia, flatulência, cólicas e distensão abdominal: o Devido ao pâncreas diminuir/não produzir enzimas pancreáticas, leva a má digestão das triglicérides pela lipase deficiente e posterior eliminação dessas nas fezes (característica das fezes: oleosas, acinzentadas, fétidas e com alta aderência ao vaso sanitário); o Pode pedir a pesquisa de gordura fecal. Insuficiência pancreática endócrina, conhecida como diabetes pancreático (manifestação tardia, geralmente posterior a esteatorréia): o Destruição das ilhotas pancreáticas e diminuição/não produção de insulina, tornando uma DM de difícil controle. DIAGNÓSTICO A avaliação da insuficiência pancreática exócrina deve ser investigada em pacientes com sinais e sintomas sugestivos de disabsorção. O laboratório não ajuda muito apenas em casos de crônica agudizada: Amilase e lipase só se elevam em agudizações, podem estar normais ou até baixas por conta da perda de parênquima pancreático. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Teste da secretina: Mais sensível e mais específico desde que já tenha 30-50% de perda do parênquima para ter resultado positivo. Possui disponibilidade limitada. Exames de imagem também auxiliam no diagnóstico: RX de abdome pode visualizar calcificações na topografia pancreática. Tem alto poder de especificidade, porém baixa sensibilidade; USG, TC e RNM (esse último consegue avaliar pâncreas e via biliar) de abdome podem evidenciar calcificações, sinais de atrofia, dilatação ductal, cálculos pancreáticos e complicações locais como pseudocisto. Figura 5: Na primeira imagem a visualização do pâncreas calcificado pelo exame de raio-X e na segunda por tomografia sem contraste. A ausência de alterações não afasta o diagnóstico. Ecoendoscopia (USG endoscópico) e CPRE são utilizados se somente os métodos não invasivos não fecharam diagnóstico: o CPRE: Utilizados para alterações na árvore biliar; o USG EDA: Alterações da ecogenicidade, identificação de calcificações e alterações dos ductos pancreáticos: Vantagem: Possui excelente sensibilidade e especificidade, além da vantagem de não induzir pancreatite aguda (como a CPRE) e pode-se realizar biópsias na suspeita de câncer. Colangiografia: pode ser feita por endoscopia (CPRE) ou ressonância (CPRM); Os testes genéticos podem ser realizados, principalmente em pacientes com história clínica sugestiva ou investigação inconclusiva. Os mais solicitados são as mutações dos genes CFTR, PRSS-1 e SPINK-1. TRATAMENTO O manejo dos pacientes é focado no controle da dor, insuficiência pancreática exócrina e endócrina, além do tratamento de eventuais complicações. Medidas gerais: Cessar etilismo e tabagismo, fracionamento das refeições, redução da ingesta de gordura e substituição por triglicérides de cadeia média, hidratação, suplementação enzimática orais com tripsina (para tratar a insuficiência exócrina), analgesia escalonada e em casos de persistência da dor realizar a analgesia por meio de bloqueio/neurólise do plexo celíaco e descompressão ductal endoscópica/cirúrgica (em casos de “doença do grande ducto” e “doença dos pequenos ductos”); Deve-se tratar a disfunção exócrina com a reposição de lipase e a disfunção endócrina com a insulinoterapia; Tratamento endoscópico: Remoção endoscópicas de cálculos pancreáticos após esfincterotomia, dilatação com balão, colocação de endopróteses e colocação de stentes no ducto pancreático; Cirúrgico (pacientes refratários ao tratamento clinico e endoscópico; contraindicado para pacientes em estado grave): CPRE pré-operatório para todos os pacientes com indicações de tratamento cirúrgico para descobrir se ducto principal ou secundários: o Pancreatojejunostomia latero-lateral/Puestow (Figura 6): Indicado para pacientes com dilatação ductal: Faz uma exérese em toda região dilatada e através de uma alça de jejuno, faz uma anastomose do pâncreas com o TGI. o Pancreatectomia subtotal: Ressecamento de quase 95% do órgão: cauda e corpo do pâncreas: Maior complicação: DM. o Pancreatoduodenectomia/Whipple: (Figura 7) Ressecamento da cabeça do pâncreas; pode ser realizada com retirada ou preservação do piloro. Resumo do tratamento da pancreatite crônica: DOENÇAS CÍSTICAS DO PÂNCREAS Eventualmente são encontradas em RX, TC e USG sem pretensão. Correspondem a 10-15% dos tumores pancreáticos e são a 2ª neoplasia pancreática exócrina mais comum (1ª é a neoplasia maligna em geral). As doenças císticas podem ou não ser diferenciadas em malignas. MED UNIFTC 2021.2 – 5º semestre | Anna Beatriz Fonseca Geralmente são assintomáticos, e quando sintomáticos é devido a pressão/obstrução de órgão vizinho (ex.: estômago, intestino); Tipos: o Neoplasia cística mucinosa: Epitélio produtor de mucina, acometendo o corpo e a causa; Neoplasias císticas mais comuns do pâncreas, mais comum em mulheres jovens, mas a média de idade é aproximadamente 50 anos; Quadro clínico: Dor abdominal vaga (50% dos casos) e história de pancreatite (20% dos casos); Diagnóstico por imagem tem-se a tomografia (com os achados: cisto solitário, septações finas e circundado por calcificações – diferencia do pseudocisto) e US endoscópico com aspiração por agulha fina (como os achados: rico em mucina, níveis elevados de antígeno carcinoembrionário/CEA - >192 – e níveis baixos de amilase – que diferencia do pseudocisto); Diagnóstico diferencial com lesões malignas; Tratamento: Ressecção cirúrgica quando há níveis de malignidade; em lesões invasivas faz-se a ressecção ampla com análise da necessidade de quimioterapia adjuvante e em lesões invasivas não cirúrgica não se faz mais a ressecção e sim a quimioblação com medicamentos (paclitazel ou etanol). o Neoplasia cística sérica/serosa (NCSs): Massas volumosas bem circunscritas com predileção pela cabeça do pâncreas e são geralmente benignos; Acometem pacientes com 40-70 anos; Quadro clínico: Dor abdominal vaga, perda de peso e em raros casos: ictérica obstrutiva; Diagnóstico por imagem tem-se a tomografia (com os achados: calcificação central com septos radiantes, comumente chamado de: queimaduras de sol) e US endoscópico com aspiração por agulha fina; Tratamento: Pancreatectomia na dúvida diagnostica ou em sintomáticos com tumores > que 4cm sem necessidade de seguimento. Figura 8: Diferença em TC da serosa (1ª imagem) para a mucinosa (2ª imagem). o Neoplasia intraductal mucinosa papilar (IPMNs): Adenoma viloso do ducto de Wirsung, adenocarcinoma papilar intraductal difuso, cistoadenoma intraductal, ectasia do ducto mucinoso e tumor mucinoso papilar intraductal: Acometem pacientes da 6ª e 7ª década de vida; Compreendem amplo espectro de alterações epiteliais: Adenoma benigno, carcinoma in situ, adenocarcinoma invasivo; Classificados pela extensão de envolvimento dos ductos pancreáticos: 1. Neoplasia intraductal mucinosa papilar do ramo lateral: Dilatação dos ramos laterais, sem acometer o ducto principal; Podem ser focais ou multifocais; Quando maiores, há maior possibilidade de degeneração maligna diretamente relacionada com tamanho da dilatação cística; Sintomas clínicos que sugerem malignização: Icterícia, dor e DM; Diagnostico por TC, RNM e US endoscópico (CEA > 192); Tratamento: <3cm faz-se a vigilância e >3cm ou com sintomas faz-se a ressecção. 2. Neoplasia intraductal mucinosa papilar do ducto principal: Envolvimento do ducto focal e difuso; Risco elevado de malignização (30-50%); Sintomas clínicos: Dor abdominal em 50% dos casos e pancreatite aguda em 25%: o Preditores de malignidade: Icterícia, nível elevação de FA, nódulos murais, DM, ducto pancreático principal > 7mm. Diagnóstico por TC, US endoscópico (essa última para avaliar ducto principal e sólido: rico em mucina e CEA > 192) e CPRM para localizar nódulos murais, achados: ducto pancreático dilatado, cistos de diversos tamanhos e nódulos murais; Tratamento: Ressecção cirúrgica. 3. Neoplasia intraductal mucinosa papilar do tipo misto: Ramo lateral que se estende para ducto principal; 30-50% de malignidade; Tratamento: Ressecção. Tratamento cirúrgico da neoplasia intraductal mucinosa papilar: Gastroduodenopancreatectomia (ressecamento do duodeno a cabeça do pâncreas, com ou sem estômago e anastomose da via biliar com o pâncreas e o jejuno) ou pancreatectomia do corpo caudal quando acomete cauda e corpo do pâncreas ou pancreatectomia total quando a neoplasia por todo o pâncreas. Figura 9: Gastroduodenopancrea- tectomia.
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