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PORTUGAL DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA O crescimento económico do pós-guerra a 1974 Entre 1945 e 1974, Portugal teve um desenvolvimento tardio, não tendo acompanhado o espantoso crescimento da europa ocidental. As colonias também foram alvo de desenvolvimento para não serem somente uma extensa natural do território continental português. Estagnação do mundo rural Terminada a 2ª guerra mundial e a agricultura continuava a ser a atividade principal em Portugal. Era uma agricultura pouco desenvolvida, com baixos níveis de produtividade, sendo um dos países mais atrasados da europa. O setor primário empregava 40% da população e por sua vez gerava uma riqueza inferior a 25%. Assim a autossuficiência preconizada pelo estado novo continuava por alcançar e Portugal necessitava de importar grandes quantidade de produtos agrícolas. A assimetria verificada na dimensão e titularidade da terra ✓Norte – predominava o minifúndio – terra dividida em parcelas de pequena dimensão, tendo por vista o autoconsumo. ✓Sul – predominava o latifúndio – imensas propriedades trabalhadas por uma imensa mão de obra assalariada e pouco empenhada com a sua produtividade. A resistência dos proprietários à alteração da estrutura fundiária O governo implemente o II plano de fomento (1959 – 1964) com o objetivo de alterar a estrutura fundiária: • Norte – constituição de propriedades mais vastas – o estado adquiria as pequenas propriedades e vendia a jovens empreendedores. • Sul – tentou-se criar propriedades mais pequenas – entregues a rendeiros por um largo espaço de tempo. E o lançamento de rega no Alentejo. Estas propostas, no entanto, não contaram com a adesão dos proprietários. A Norte preferiam continuar com a autossubsistência e a Sul preferiam os baixos salários e a subaproveitamento dos terrenos. O êxodo rural e a falência do setor agrícola Nos anos 60 com o desenvolvimento industrial do litoral as aldeias do interior vêem-se a perder população que procurava melhores condições de vida. As que continuavam agarradas ao campo ficavam com os alimentos pobres. As que iam para o litoral passavam a poder consumir alimentos mais ricos. Demorou algum tempo para que Portugal se adaptasse a nova realidade económica. O que levou à continuidade de importação de alimentos e o agravamento das contas do estado. A emigração Os movimentos migratórios ocorreram também para fora de Portugal, sobretudo para países desenvolvidos da europa – Alemanha, França e outras partes do mundo como o continente americano ou Africa do Sul. As causas da emigração As principais motivações que levaram a população, principalmente do interior a emigrar são: • A pobreza – tendo em conta que sabiam que nos países industrializados havia melhores salários. • Fuga de muitos jovens à incorporação militar – era obrigatória devido às necessidades para a guerra colonial. • Ocupação dos territórios ultramarinos – com população branca para valorizar os territórios e faze-los crescer. • Despenalização da emigração clandestina – Salazar entendeu que o dinheiro enviado pelos emigrantes para Portugal podia equilibrar a balança de pagamentos portuguesa. As formas de emigração A maioria dos emigrantes eram jovens dos 18 aos 29 anos dispostos a trabalhar no que fosse desde que proporcionasse um rendimento aceitável. Visto que muitas das emigrações fizeram-se clandestinamente, houve quem os ajudasse (passadores), mediante o pagamento de avultadas quantias. Eram muitas as dificuldades de quem emigrava ilegalmente, pois corriam o risco de serem detidos pela PIDE ou GNR; as quantias por vezes eram bastante elevadas e a ausência de proteção civil com forma de acolher e ajudar os migrantes. As soluções de alojamento eram sobretudo em barracas ou bairros de lata de seus familiares ou quem fosse, para assim que possível procurarem emprego. O governo português só passou a ajudar os emigrantes quando se apercebeu dos benefícios que tinha a migração para Portugal. Consequências da emigração O país na pobreza com a emigração veio a acentuar-se mais ainda as suas dificuldades económicas: ✓ Perda dos melhores trabalhadores. ✓ Separação das famílias. ✓ Envelhecimento da população. ✓ Intensificação do despovoamento do interior. ✓ Má imagem internacional do regime. Contudo, a médio e a longo prazo as consequências da emigração viram-se positivas: ✓ Transferência para Portugal de dinheiro das suas poupanças. ✓ Dinamização do consumo interno por parte das famílias dos emigrantes. ✓ Resolução do desequilíbrio entre o crescimento demográfico e o atraso económico. ✓ Alteração da mentalidade portuguesa, pelo contacto com outras culturas. ✓ Alteração das velhas estruturas rurais. O surto industrial e urbano • Primeira fase O surto deu-se quando em 1945 convenceram-se que o crescimento industrial iria ser proporcionado por detentores de capital que iriam investir na indústria. O setor agrícola vai se mostrando incapaz de responder às necessidades económicas do pais e as dificuldades dos fornecedores tradicionais do pais devido ao envolvimento da guerra. E assim surgem os primeiros planos de fomento: • I plano – 1953 – 1958 – deu prioridade à criação de infraestruturas – desenvolvimento dos setores elétricos, transportes e comunicações. • II plano – 1958 – 1964 – Arranque da política de fomento económico das colonias e a integração de Portugal no espaço económico europeu, o governo assinou acordos com o BIRD e o FMI e o protocolo do GATT. Os setores que mais sentiram os efeitos destes planos foi a indústria pesada, considerada como essencial para o desenvolvimento económico, principalmente na metalurgia, siderurgia, petroquímica etc... •Segunda Fase A partir dos anos 60 houve uma maior abertura ao exterior e um reforço da economia privada que foram consideradas como grandes opções políticas e levou à criação de um plano intercalar de fomento. A economia viu-se condicionada com os acordos assinados o que se traduziu numa inversão da política da autarcia nas primeiras décadas do estado novo. Era o fim conservador e ruralista de Salazar e a sobressaia Marcello Caetano. • Terceira Fase Marcello Caetano é nomeado presidente do conselho em 1968 e lança o III Plano de fomento que vigorará até 1973. Com este plano foi possível: • Internacionalização da economia portuguesa – fomento da exportação de produtos nacionais. • Desenvolvimento da indústria privada – abertura do pais a investimento estrangeiro. • Crescimento do setor terciário – formação de grupos económicos (ex.: complexo de Sines e a cirurgia nacional). • Incremento urbano. O Urbanismo O surto industrial proporcionou o crescimento do setor terciário e consequentemente a urbanização do país. Em 1970, cerca de 3⁄4 da população vivia em cidades. Portugal finalmente havia concretizado o fenómeno urbano em quase finais do século. Viram aumentar a população nas áreas periféricas em volta das zonas industrializadas. É tempo de formação dos dormitórios de população empregada nas grandes cidades, para isso é preciso evoluir o obsoleto sistema de transportes públicos. Em Portugal também se fizeram sentir os efeitos da falta de estruturas habitacionais, transportes, saúde, educação, abastecimentos – o que levou à degradação da qualidade de vida sendo que os poderes públicos tinham de atuar. O fomento económico das colónias No período seguinte à guerra, o fomento económico das colonias foi para o governo um assunto de necessidade. O governo de Salazar veio a autorizar a instalação das primeiras indústrias com a exploração do trabalho negro nas grandes fazendas agrícolas. Havia a necessidade de mostrar à comunidade internacional que o governo de Portugal se preocupava com o fomento das suas colonias, como forma de legitimar as colonias como suas. Entendia-secomo um fator determinante a industrialização das colonias para o desenvolvimento da economia metropolitana. Assim, os planos de fomento previam também o território africano, em especial Angola e Moçambique. No I Plano de fomento estipulou-se: • Criação de infraestruturas – transportes e comunicações. • Criação de infraestruturas ligadas à produção de energia e de cimento – construção urbana. • Modernização do setor agrícola – produção de produtos tropicais – açúcar, café, algodão etc... • Promoção da extração de matérias primas – petróleo, diamantes, carvão etc... Este fomente esteve associado ao lançamento de projetos de colonização com população branca. A presença portuguesa nas colonias servia para evidenciar a particularidade das relações de Portugal com as suas colonias. E por outro lado atrair a população local para suster o avanço dos guerrilheiros. Foi da ideia de salazar construir um Espaço económico português, com o objetivo de estreitar as ligações entre Portugal e as colonias. O imobilismo político do pós-guerra a 1974 A radicalização das oposições e o sobressalto político de 1958 O início da “oposição democrática” Com a convicção de que salazar jamais iria abrir o regime às transformações democráticas, forças políticas a partir d 1945, começaram um processo de luta organizada contra o regime. Em outubro do mesmo ano constituíram-se: Movimento de Unidade Democrática (MUD). Este movimento de oposição na denuncia dos abusos doi regime e na reclamação de eleições livres teve um grande impacto na opinião pública. Em consequência por todo o pais foi-se formando a oposição democrática até 1974. Um momento de grande contestação contra o regime foi em 1949, no ano de eleições para a Presidência da república. A oposição candidatou Norton de Matos, um destacado militar e detentor de tendências oposicionistas. No entanto devido à repressão e forte pressão, Norton foi obrigado a desistir do processo eleitoral. Todavia, a mobilização popular para a candidatura de Norton de Matos entusiasmou a opinião publica para uma esperança futura. O sobressalto político de 1958 Em 1958 volta a acontecer a eleição para presidente da república. A oposição encontra no General Humberto Delgado um candidato determinado a afrontar o candidato da união nacional Américo Tomás. Humberto delgado afirmou publicamente a intensão de demitir salazar se fosse eleito, o que lhe valeu o título de “General sem medo”, e assim conseguiu um movimento de apoiantes que fez tremer o regime pela primeira vez de forma convincente. Apesar de se esperar mais uma burla eleitoral com o auxílio da repressão da polícia, Humberto delgado levou a sua candidatura até às urnas, apelando aos eleitores que comparecessem e desmascarassem os traidores e cobardes (Salazar). O resultado relevou uma vitória esmagadora para o candidato do regime, apôs uma massiva fraude e manipulação eleitoral. No entanto a credibilidade do governo ficou levemente abalada e salazar continuou a ter oposições políticas bem como pressões da comunidade internacional. Assim salazar propôs mais uma alteração à constituição na qual a eleição para o presidente da república deixaria de ser por sufrágio direto e passaria a ser por colégio eleitoral restrito. A radicalização das oposições A oposição viu a necessidade de expor internacionalmente a natureza antidemocrática do regime, dessa forma intensificou a sua ação de contestação. Houve acontecimentos como: • “carta” do bispo do porto – escreveu uma carta com críticas contundentes relativas à situação político-social do pais. • Exílio e o assassinato de Humberto delgado – Foi destituído das suas funções de militar, e retirou-se para o Brasil. A sua ação foi de tal forma lesiva para a imagem do estado que salazar em 1965 decretou a sua eliminação física. • Assalto ao santa Maria – em janeiro de 1961, o navio santa Maria é assaltado e ocupado pelo comandante Henrique Galvão, como forma de protesto contra a falta de liberdade cívica. Internacionalmente foi entendido como um ato espetacular de protesto legitimo. • Desvio de um avião da TAP – Um grupo de opositores toma de assalto um avião da TAP e atira sobre Lisboa propaganda antifascista. • Assalto à dependência do Banco de Portugal – Na figueira da Foz um grupo armado com o objetivo de recolher fundos para ações de revolta assalta o Banco de Portugal. Foi uma das operações que mais feriu o orgulho de salazar por não conseguir extraditar para Portugal os culpados do assalto, visto que foi considerado tratar-se de uma operação de caracter político. Por fim, a tentativa falhada de tomar a cidade da Covilhã levou ao fracasso e à prisão de Palma Inácio, por acusações como sabotagem, atentados bombistas, dinâmica oposicionista etc... Tudo isto fez tremer o regime e prenunciava o seu fim. A questão colonial A mística imperial pelo mundo começa a revelar-se ultrapassada, contudo Salazar recusa qualquer cedência às crescentes pressões internacionais dos territórios coloniais. Soluções preconizadas • A tese do luso-tropicalismo A vocação colonial de Portugal, justificada no luso-tropicalismo, leva ao já existente no Ato colonial (de 1930), de que a presença portuguesa tem características particulares – históricas de missão civilizadora. Torna-se assim necessário clarificar juridicamente as relações da metrópole (Portugal), com os seus espaços ultramarinos (colonias). • Um Estado pluricontinental e multirracial Desaparece o conceito de colónia, e é substituído província (ultramarina); desaparece o conceito de Império Português e surge o conceito de Ultramar Português. Na constituição Portuguesa passa a apresentar espaços ultramarinos, como sendo legitimas extensões do território continental de Portugal. Apresenta-se como um Estado Pluricontinental e multirracial – “Do Minho a Timor”. • As primeiras divergências Em 1961, surge as primeiras revoltas em Angola e a invasão dos territórios da Índia, juntamente com divergências relativas ao Ultramar. Os setores mais conservadores insistem na integração plena e incondicional dos territórios ultramarinos, no entanto isso implicava uma resistência armada contra os movimentos independentistas. Alguns membros do governo propunham a conceção de autonomia de forma processiva – formação de uma federação de estados. Os defensores da tese federalista chegaram a propor ao Presidente da República a destituição de Salazar, mas sem êxito. Reforçada a posição de Salazar, avançou-se com o Exército para Angola, que deu início a uma guerra que se prolongou até à queda do regime (1974). A luta armada A guerra de libertação foi iniciada no Norte de Angola, em 1961, por forças da UPA/FNLA (União das Populações do Norte de Angola). Mais tarde ganhou força militar com a ação do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), fundado por Agostinho Neto. Por fim, surge em 1966, a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), fundada por Jonas Savimbi. A luta anticolonialista na Guiné, iniciou-se em 1963, com a ação do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), fundado por Amílcar Cabral. Em 1964, a guerra estendeu-se a Moçambique, por ação da FRELINO (Frente de Libertação de Moçambique), fundado por Eduardo Mondlane. Assim, durante 13 anos, Portugal este envolvido em três frentes de batalha, que teve um elevadíssimo custo material e humano. O preço a pagar por Portugal surpreendeu a comunidade internacional. As pressões internacionais Portugal, em 1955, enquanto membro da ONU e dirigido por um Governo não democrático, continuou a defender a autoridade Portuguesa sobre os territórios ultramarinos de forma indiscutível. A Assembleia-Geral da ONU, sob pressões dos países do Terceiro Mundo, não aceitou a tese portuguesa de caracter histórico para a manutenção dascolonias na posse de Portugal, e condenou sistematicamente a atitude colonialista portuguesa. A Assembleia-Geral resultou na Resolução 1514, de 14 de dezembro de 1960, que se confirmou que era ilegítimo da parte de Portugal a preservação de posses coloniais. O governo português no pleno reconhecimento da sua autodeterminação e independência não acatou a resolução, ao qual resultou na legitimidade dos movimentos independentistas para fazer uso de armas. Portugal nas diversas instituições internacionais, segundo Salazar permanecia “Orgulhosamente Sós”. A “primavera marcelista” Reformismo político não sustentado Em 1968, com as oposições internas, as denuncias internacionais do colonialismo e o afastamento de Salazar por doença, leva à falsa sensação de possível abertura do regime à liberalização. A presidência do conselho de Ministros foi entre a Marcello Caetano, que preservou a sua ação política na continuidade do trabalho levado acabo por Salazar. Pretendia conciliar os interesses dos setores conservadores com as exigências de democratização do regime. Numa primeira fase, Marcello Caetano empreendeu algumas dinâmicas reformistas no regime: • Alívio da repressão policial e na censura; • Foi permitido o regresso de alguns exilados políticos; • Mudou-se o nome da PIDE para DGS (Direção-Geral de Segurança); • União Nacional passou a designar-se ANP (Ação Nacional Popular); • As mulheres alfabetizadas puderam começar a votar nas eleições de 1969; • Foram legitimados movimentos políticos não comunistas – para fiscalizarem as mesas de voto; • Os movimentos de oposição puderam organizar congressos; • Iniciou-se uma reforma democrática do ensino. Todavia, Marcello Caetano começou a demonstrar a necessidade de voltar às políticas anteriores: o Com o movimento de contestação estudantil e os movimentos grevistas no setor laboral em 1969, o regime entende que a “liberalização foi longe demais”; o Assim, o governo inicia ataques contra os movimentos eleitorais – CDE (Comissão Democrática Eleitoral) e CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática); o Devido a estas ações, a oposição numa conseguiu eleger um único deputado para a Assembleia Nacional; o Intensifica-se novamente a repressão policial; o As associações de estudantes são proibidas e as universidades passam a ser controladas por vigilantes (do exército, ex-combatentes). Intensificaram-se as denuncias contra a guerra colonial, a oposição organiza-se em movimentos clandestinos armadas, de forma a intensificarem se as ações violentas – atentados, assaltos etc... O impacto da guerra colonial A política de renovação de Marcello Caetano surte algum efeito: • A presença de Portugal deixa de ser meramente para uma “missão histórica” ou “independência nacional” para ser da defesa dos interesses da população branca; • Concede-se o título de estado às províncias de Angola e Moçambique; A guerra prosseguia, e Portugal continuava isolado internacionalmente: • O Papa Paulo VI, em 1970, afirmava que o que estava a acontecer era uma humilhação da administração colonial portuguesa; • Manifestações de protesto contra a visita de Marcello Caetano a Londres, em 1973 – devido aos massacres cometidos pelo exército Português em Moçambique; • Declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, em 1973, reconhecida pela Assembleia-Geral da ONU. Internamente persistiam as denuncias da injustiça da guerra colonial: • As camadas estudantis mostram-se contra a guerra e fogem para não serem incorporados nas forças militares; • Deputados da Ala mais liberal da Assembleia Nacional protestam contra a guerra colonial; • Na iminência de uma vergonhosa derrota, António Spínola (membro da alta hierarquia militar), denuncia a falência da solução militar de Portugal. Da revolução à estabilização da democracia O movimento das forças armadas e a eclosão da revolução A conjuntura política Em 1974, o regime tinha o problema da guerra colonial por resolver. Na guiné, o território tinha declarado a independência unilateralmente. Em Angola e Moçambique, a situação estava num impasse Intensificava-se a condenação internacional da política colonial do regime. Os militares entenderam ser urgente por fim à ditadura e abrir caminho para a democratização do país. A toda esta conjuntura política, acrescentava-se: ✓ Descontentamento popular contra o aumento do custo de vida; ✓ Desejo da aproximação da Europa comunitária; ✓ Intensificação da violência levada a cabo por movimentos clandestinos armados; Do “Movimento dos Capitães” ao “Movimento das Forças Armadas” • O “Movimento dos capitães” Em 1973, o movimento clandestino de militares, constituído maioritariamente por capitais, preparava um golpe de estado, com o objetivo de derrubar o regime ditatorial e assim conseguir criar condições para resolver a questão colonial. Inicialmente, a sua insatisfação ficava por questões corporativas, que motivaram o movimento, contudo a consciência da sua força política leva a procura de uma solução política para o problema do ultramar. • O “Movimento das forças Armadas” Costa Gomes e António Spínola, recusaram participar numa manifestação de apoio ao governo e foram imediatamente exonerados dos cargos, ficando assim disponíveis para reforçar os movimentos de contestação militar. Com claros objetivos de por fim ao estado novo, o movimento dos capitais evoluiu para movimento das forças armadas – MFA O “25 de abril” As forças armadas organizadas, na madrugada de 25 de abril de 1974 conseguiram levar a cabo uma ação revolucionária que pôs fim ao regime de ditadura que vigorava desde 1926. Às 00h20 do dia 25, era transmitida a canção “Grândola, Viola Morena”, de José Afonso – sinal para as unidades militares avançarem para a ocupação de pontos estratégicos para conseguir levar a cabo com sucesso o ato revolucionário. Perante o certo das tropas de Salgueiro Maia no terreiro do Paço, Marcello Caetano foi obrigado a render-se e a entregar o poder ao general Spínola, para que o país não ficasse sem governação. Por fim, deu-se uma autêntica explosão social por todo o pais, uma revolução nacional, de caracter pacifico, que ficou conhecida por “Revolução dos Cravos”. Desmantelamento das estruturas de suporte do Estado Novo O ato revolucionário deu início ao processo de desmantelamento do regime do estado novo. Foi nomeada uma junta de Salvação Nacional, encabeçada por António Spínola. A Junta de Salvação Nacional foi responsável por desmantelar o regime (estado novo): • Américo Tomás e Marcello Caetano foram destituídos, presos e exilados no Brasil; • A Assembleia Nacional e o Conselho de Estado foram dissolvidos; • A constituição de 1933 é revogada; • Todos os governadores são destituídos; • É extinta a ditadura e a repressão – PIDE, censura etc.; • Presos políticos são libertados e os exilados podem regressar ao país; • São extintas todas as organizações de propaganda; • Formaram-se novos partidos políticos e sindicatos livres; • Elegeu-se um governo provisório; • Preparou-se eleições livres para eleger uma Assembleia Constituinte e redigir uma nova constituição; 15 de maio, António Spínola é nomeado Presidente da República e Adelino da Palma Carlos preside ao primeiro governo provisório. Tensões político-ideológicas na sociedade e no interior do movimento revolucionário A aclamação da liberdade levou em seguida a dois anos politicamente muito conturbados. Houve divergências ideológicas, graves confrontações sociais e políticas e iminentes conflitos militares. O novo quadro social e político A reivindicação de direitos que foram reprimidos durante 48 anos, criou no pais um ambiente de agitação difícil e levou ao primeiro governo provisório a demitir-se. A formação do segundo governo provisório, chefiado por Vasco Gonçalves,levou o novo regime a evoluir para uma clara tendência revolucionário de esquerda – houve ocupações de instalações laborais, fabricas, campos agrícolas etc... Foi criado o COPCON – Comando Operacional do Continente, que nada mais foi que uma construção de formas do poder popular. Agravaram-se as divergências entre o Presidente da República – general Spínola e o Movimento das Forças Armadas, devido ao processo da descolonização. Spínola integrava os conservadores, enquanto que o MFA na sua generalidade era apoiado por partidos de esquerda. O esquerdismo revolucionário fragilizou a autoridade do Presidente da República. Os primeiros confrontos • O 28 de Setembro – primeiros sinais de confrontação civil A 28 de setembro de 1974, ocorreram os primeiros confrontos entre os setores reacionários (maioria silenciosa), organizaram uma manifestação de apoio a Spínola. O MFA proíbe este tipo de manifestações e devido a isso Spínola ficou fragilizado e acabou por se demitir pondo o seu lugar à disposição do seu sucessor, Costa Gomes, que assim permitia a estabilidade do MFA com o Povo. • O 11 de Março – iminência de confrontação militar A 11 de março de 1975, os militares apoiantes de Spínola, com claras preocupações conservadoras, tentaram levar a cabo um golpe de estado para impedir a continuação do processo revolucionado do MFA. Contudo o golpe foi ineficaz e controlado pelo MFA. • O verão quente de 1975 – prenúncios de guerra civil Num ato de protesto, o PS, PSD e CDS, fizeram forte oposição ao governo chefiado por Vasco Gonçalves, e pediam o regresso ao programa inicial do MFA. Vive-se o período do Verão Quente de 1975, em que explodiram confrontos entre forças de direita e forças de esquerda. Política económica antimonopolista e a intervenção do Estado nos domínios económico e financeiro O “processo revolucionário em curso” PREC – Processo Revolucionário Em Curso, foram atividades revolucionárias levadas a cabo pelos partidos mais à esquerda para institucionalizar o poder popular e reforçar a transição para o socialismo marxista. As medidas socializantes adotadas pelos sucessivos governos de Vasco Gonçalves foram: • Apropriação por parte do Estado dos setores-chave da economia nacional – setores da indústria química, banca, seguros, transportes e comunicações ...; • Intervenção do Estado na administração de pequenas e médias empresas – apropriação da administração e afastamento de proprietários e administradores, sendo substituídos por comissões administrativas nomeadas pelo governo; • Reforma Agrária, expropriando antigos proprietários e nacionalizando grandes herdades – criando unidades coletivas de produção (UCP), controladas pelo Partido Comunista; • Grandes campanhas de dinamização cultural e ação cívica – esclarecimento às populações sobre o valor da democracia e a importância do voto popular, bem como os direitos dos trabalhadores; • Grandes conquistas dos trabalhadores – direito à greve, liberdade sindical, instituição do salário mínimo, redução do horário de trabalho, subsídios sociais e garantias de trabalho. O “Documento dos Nove” – inversão do processo revolucionário O grupo de nove oficiais que integravam o conselho de revolução tomou uma posição política sobre a situação do país e em agosto de 1975 publicou um manifesto conhecido como Documento dos Nove onde denunciavam os rumos do processo revolucionário e recusavam que Portugal adotasse um regime do tipo europeu oriental (URSS). O “25 de novembro” – fim da fase extremista do processo revolucionário A inversão do processo revolucionário levou ao agravamento da confrontação política e social em 1975. Então a 25 de novembro do mesmo ano, houve uma tentativa de golpe levada acabo pela esquerda militar e pelo PCP, contudo um grupo de militares moderados leva acabo um contragolpe liderado por Ramalho Eanes. A ação militar chefiada por Ramalho Eanes contra o avanço da esquerda radical conduziu à ascensão das forças moderadas no poder. Vasco Gonçalves foi demitido e ascendeu um VI governo Provisório. Declara-se assim o fim da fase extremista do processo revolucionário. A opção constitucional de 1976 A constituição de 1976 Com a promulgação a 2 de abril de 1976, a nova constituição tinha um caracter marcadamente socialista. O texto constitucional consagra o Estado Português como uma república democrática e pluripartidarista. Assim a Constituição de 1976 consegue conciliar as diferentes conceções ideológicas, considerando-se assim o documento fundador da democracia portuguesa. Realizaram-se as primeiras eleições em 1976: • Assembleia da República – 25 de abril de 1976, vencidas pelo Partido Socialista – formando o 1o governo Constitucional, chefiado por Mário Soares; • Presidência da República – em julho de 1976, vencidas por Ramalho Eanes; • Autarquias locais – em dezembro de 1976. O poder local foi estruturado em municípios e freguesias. A constituição reconheceu a autonomia administrativa das ilhas adjacentes – Madeira e Açores. O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o processo de descolonização O processo da descolonização: Democracia, Desenvolvimento e Descolonização. O processo foi marcado por profundas divergências: • O programa do MFA propunha “o reconhecimento do direito à autodeterminação” e autonomia administrativa dos territórios ultramarinos; • Lançamento de uma política ultramarina que conduzisse à paz; Os tempos foram favoráveis para a autodeterminação dos territórios ultramarinos: • Movimentos independentistas exigiam a rápida solução do problema colonial e imediato reconhecimento da independência, bem como a transferência do poder para os movimentos de libertação; • A pressão internacional, sobretudo por parte da ONU; • Os governantes portugueses queriam fazer regressar os militares portugueses, de forma a provar internacionalmente as intensões democráticas e anticolonialistas do novo regime. • Os processos pacíficos • A independência da Guiné, a 1 de julho de 1974, formando a nova república e reconhecida pelo Acordo de Argel; • 5 de julho de 1975, a independência de cabo verde, que foi extensível a todos os restantes territórios do império; • O poder em São Tomé e Príncipe foi entregue ao MLSTP, e reconhecido pelo Governo Português, a 12 de julho de 1975. • O caso de Moçambique O movimento de libertação – FRELINO, foi reconhecido pelo MFA como legitimo e único representante do povo moçambicano. Contudo, surgem outras organizações políticas a contestar a exclusividade do poder à FRELINO. A 7 de setembro de 1974, o governo português celebra o acordo de LUSACA, com representantes da FRELINO para o cessar-fogo e a formação de um governo temporário. Os movimentos da oposição, como é o caso da RENAMO, faziam uma resistência armada contra o que consideravam o desvirtuamento da democracia, com a entrega do poder a um único movimento. Moçambique viu-se envolvido numa guerra civil. Em outubro de 1992, houve uma alteração constitucional na qual o regime moçambicano admitia o pluripartidarismo. • O caso de Angola Angola foi um caso muito mais complexo. Três movimentos de libertação que representavam tendências políticas diferentes, eram constituídos por etnias rivais dominantes na população Angolana. Os interesses da população branca eram mais fortes e impunham a intervenção política mais cuidadosa por parte do governo português. A 15 de janeiro de 1975, consegue-se a assinatura do Acordo de Alvor, na qual se reconhece os três movimentos como representantes do povo angolano. No entanto nada se concretizou, iniciou-se um conflito entre o MPLA, com o apoio da URSS e a FNLA, com o apoio dos EUA. Em julho o conflito veio a agravar-se e internacionalizou-se ainda mais. O conflito armado conduziu à formação de dois governos, a República Popular de Angola – MPLA(sede em Luanda e presidida por Agostinho Neto) e a República Democrática de Angola – UNITA/FNLA (sede em Huambo e presidida por Jonas Savimbi). O estado português veio a reconhecer o governo do MPLA, em fevereiro de 1976. Os angolanos viram-se envolvidos numa violenta guerra civil. As divergências políticas continuavam por resolver até inícios do novo milénio. A partir de 22 de fevereiro de 2002, numa ação militar levada acabo por o exército angola, foi morto o líder da UNITA e Angola entrou num processo de pacificação definitiva. A revisão constitucional de 1982 e o funcionamento das instituições democráticas O quadro político favorável à revisão da Constituição de 1976 • A normalização das relações institucionais Em 1982, a democracia portuguesa dava sinais de que o processo revolucionário havia assumido definitivamente o caracter democrático e pluralista da Constituição de 1976. Com a normalização das relações institucionais e a aproximação das forças políticas mais moderadas. • O novo texto constitucional Em 1982, o PS, PSD e o CDS, chegam a acordo sobre as alterações a fazer na Constituição de 1976, ajustando-a aos novos objetivos da governação. O novo texto introduzia a suavização de algumas referências de caracter socialista que se encontravam na constituição. O conselho da revolução foi extinto e substituído pelo Conselho de Estado e pelo Tribunal Constitucional, assim os militares deixaram de interferir no exercício do poder político e aceitando o poder civil. O funcionamento das instituições democráticas • O presidente da República Eleito por sufrágio universal e direto, por maioria absoluta, para um período de 5 anos, é considerado o representante máximo da soberania nacional. • A Assembleia da República É constituído por 230 deputados, eleitos por círculos eleitorais correspondentes aos distritos do continente e a cada região autónoma. O governo faz-se depender do apoio do parlamento para apoiar a atividade governativa ou por sua vez censura-la. • O Governo Constituído por o primeiro-ministro, pelos ministros, pelos secretários e subsecretários de Estado, é o órgão que superintende a administração publica do país. • Os Tribunais Aos tribunais compete o exercício do poder judicial, de forma totalmente independente do poder político. A revisão da constituição de 1982, introduziu o Tribunal Constitucional, responsável por zelar o rigoroso cumprimento dos princípios constitucionais.
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