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AGITAÇÃO PSICOMOTORA Caracterizada pelo aumento da atividade motora (que vai de inquietação até a franca agitação com agressividade) associada a uma sensação de tensão interna. Pode ocasionar comportamentos imprevisíveis e, muitas vezes, violentos (contra si, outros ou bens materiais). Pode ter diversas origens, sendo as causas orgânicas mais comuns que as psiquiátricas. Agitação decorrente de condição médica geral: Trauma cranioencefálico; Encefalite, meningite ou outra infecção; Encefalopatia a toxinas ambientais; Distúrbio metabólico (hiponatremia, hipocalcemia, hipoglicemia); Hipóxia; Doença da tireóide; Convulsão (estado pós-ictal); Intoxicação medicamentosa (psicofarmacos ou anticonvulsivantes); Delirium; Demências (Pick, Alzheimer, HPN); AVEs; Tumores de SNC; Agitação decorrente de intoxicação ou abstinência: Álcool; Drogas ilícitas (cocaína, ecstasy, quetamina, sais de banho, inalantes, metanfetaminas); Agitação decorrente de doença psiquiátrica: Transtornos psicóticos; Mania; Transtornos de ansiedade; Transtornos de personalidade; MANEJO Abordagem: Diminuir riscos e segurança, além da coleta de informações rápida. Manejo verbal; Medicação oral (se paciente colaborativo); Medicação intramuscular (se paciente não colaborativo); Contenção mecânica ou restrição física; Manter distância segura do paciente, remover objetos que possam ser usados como arma, respeitar o espaço, tentar medicação voluntária, tentar acalmar, evitar fazer anotações, ter empatia, e boa relação médico- paciente. Deixar o paciente falar, estimulando-o a se expressar. Indicações para Contenção Física: Agitação psicomotora grave, confusão mental, agressividade e violência, risco de quedas, pacientes não cooperativos, como medida protetiva para ele (uso de cateter, dreno, etc) e risco suicida iminente. *NÃO DEVE SER FEITA DE MANEIRA PUNITIVA! Técnica: Uso de faixas ou tecidos, fixar o paciente ao leito em 4,5 ou 9 pontos, de preferência com o auxílio de 4-5 pessoas. Registrar tudo em prontuário e mantê- lo o mínimo de tempo possível. Medicações: Psicóticos – Medicação de Primeira Escolha (independente da causa): Haloperidol, Risperidona, Olanzapina. Dar preferência para a via oral. VO > IM > IV. Nunca combinar 3 a 4 medicações ou 2 ampolas da mesma medicação ao mesmo tempo. Aplica, reavalia, reaplica se necessário. Haloperidol IM: Pode ser feito a cada 30 minutos, máximo de 20mg em 24h (ou seja, 4 ampolas). Os benzodiazepínicos podem ser associados com antipsicóticos se não houver contraindicações. As contraindicações são: Idoso, gestante e lactante, TEPT, problemas pulmonares, delirium, etc. Exemplos: Diazepam, Clonazepam ou Lorazepam. Indicações para uso de benzodiazepínicos sozinhos: Síndrome da Abstinência Alcoólica, contraindicação aos antipsicóticos e intoxicação por estimulantes. Pode-se utilizar qualquer benzodiazepínico VO, no entanto, IM, apenas o Midazolam (jamais o Diazepam). IV pode-se utilizar Midazolam ou Diazepam (tem maior risco de rebaixamento do nível de consciência). Via Oral: Olanzapina 5mg ou 10mg; Risperidona 2mg + Clonazepam 2mg; Haloperidol 5mg + Diazepam 5mg; Via Intramuscular (IM): Haloperidol 5mg/mL – 1 ampola, IM, agora; Haloperidol 5mg/mL – 1 ampola + Prometazina (Fenergan – sedativo) 25mg/mL – 01 ampola, IM, agora; Haloperidol 5mg/mL – 1 ampola + Midazolam 15mg/3mL – ½ ampola, IM, agora; Clorpromazina 25mg/mL – 1 ampola, IM, agora; SUICÍDIO Trata-se de uma situação complexa que requer empatia e paciência por parte da equipe assistente. Na maioria das vezes, o paciente referiu ideação suicida recentemente para profissionais da saúde e familiares pela comunicação verbal ou não verbal. MANEJO Abordagem: Tentar entender motivações, anseios e pensar em estratégias de prevenção de novas tentativas. A maioria dos pacientes é ambivalente, ou seja, pensam em se matar como maneira de acabar com o sofrimento ou parar de “dar trabalho aos outros”. É necessário entender a própria ideação suicida, entender o suporte social e entender questões pessoais e ambientais que possam ser fatores de risco ou proteção. A avaliação deve ter início compreendendo o “nível” de ideação suicida do paciente, pois isso acontece em um espectro que vai desde um pensamento de morte até o ato suicida. Isso deve ser perguntado ativamente ao paciente. Ideação suicida: Pensamentos de morte (vontade de ir embora, sumir ou morrer, mas não autoprovocado); Ideação suicida (já pensa em tirar a própria vida); Planejamento suicida (paciente que já está avaliando os meios para realizar o ato – em fase de desapego, desfazendo-se das coisas); Ato suicida (paciente que já tentou ou está na iminência de tentar – importante saber se houve arrependimento ou não); Fatores de risco: Doença mental; Tentativas prévias de suicídio; Homens > mulheres; Jovens e idosos; Usuários de drogas; Não casados; Ateus; Algumas profissões (médicos); Acontecimentos adversos recentes; Desempregados e aposentados; Presença de doenças crônicas ou incapacitantes; Abuso na infância; Fatores de personalidade: impulsividade; História familiar de suicídio; Suporte Social: Família, amigos, colegas de trabalho, centros de crise, profissionais da saúde e clérigos. Avaliar Risco: Baixo Risco (Pensamento e Ideação): Manejado por qualquer membro da equipe. Apoio, suporte emocional e tratamento de causa base. Médio Risco (Plano Suicida): Pronta atenção multiprofissional. Apoio, contrato de vida, orientação familiar, medidas de prevenção aos meios e consulta rápida. Alto risco (Planejamento iminente, ato ou tentativa): Apoio e ficar junto 24 horas. Manejar riscos imediatos, contrato de vida, internação, informar a família e acolhimento em serviço de emergência. CRISE DE ANSIEDADE Trata-se de um quadro ansioso agudo associado a alterações corporais e psíquicas bruscas e inesperadas que geram intenso desconforto e sofrimento. Estão inclusas: crises de pânico, crises de conversão, crises de somatização, crises de ansiedade induzida por drogas ou medicações, crises de ansiedade no contexto de outras doenças e mesmo crise de ansiedade sem outra especificação (SOE). Crise de Pânico: Ataques abruptos de ansiedade, medo intenso ou desconforto. Atingem um pico em poucos minutos. Há presença de sintomas físicos e/ou psíquicos e cognitivos (4 sintomas + outros critérios = diagnóstico): Palpitação e taquicardia; Parestesias; Sudorese; Despersonalização; Tremores; Desrealização; Falta de ar; Dores; Tontura; Ondas de calor; Medo de perder o controle ou enlouquecer; Medo de morrer; Ataques de pânico podem ter causas orgânicas, pode ser comórbido ao quadro clínico e pode acontecer no contexto de outras doenças psiquiátricas. Abordagem: Medidas não farmacológicas: realizar suporte emocional, mindfullness, respiração diafragmática e psicoeducação. Medidas farmacológicas: Benzodiazepínicos, antipsicóticos (dose baixa), betabloqueadores e sintomáticos. *Tratamento para contexto de emergência/urgência/pronto socorro. O tratamento a longo prazo é baseado no seguimento de cada doença, adequadamente. Manejo Medicamentoso de Crise de Pânico: Diazepam 5-10 mg VO; Clonazepam gotas ou 0,5-2 mg VO; Alprazolam 0,25 a 1mg VO; Quetiapina 25-50mg VO; Risperidona 0,5 a 1mg VO; Propranolol 40mg VO; Dipirona 500mg VO; SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA ALCOÓLICA Álcool é a droga mais consumida no mundo e age no receptor GABA, sendo um depressor do SNC. Na síndrome de abstinência, geralmente, o efeito é o oposto da droga utilizada. Quadro Clínico:Inicia 4-12h após interrupção ou diminuição do uso. Sintomas físicos e cognitivos/psíquicos: Tremor, náuseas, vômitos, sintomas autonômicos (taquicardia, aumento de temperatura, hipertensão), ansiedade, irritação, convulsões, alucinações visuais e agressividade. Critérios Diagnósticos: 0-9 SAA leve; 10-18 SAA moderada; >18 SAA grave; MANEJO Suporte clínico e aferição de sinais vitais; Glicemia capilar e hidratação; Benzodiazepínicos: Diazepam VO; Tiamina IM ou IV; Antipsicóticos, se agitação; Solicitação de exames (HMG, rim e eletrólitos, fígado, glicose); Medicação de Primeira Escolha – Benzodiazepínicos: Diazepam (5mg e 10mg) ou Lorazepam (2mg) – hepatopatas. VO > IV. Intramuscular: Midazolam (Diazepam NÃO). Dose fixa ou TGS (Terapia Guiada por Sintoma). A Terapia Guiada por Sintoma é baseada em reavaliar o paciente a cada hora e administrar doses sequenciais de 2mg de Lorazepam ou 10mg de Diazepam se o score for >8-10 na CIWA-Ar ou o paciente estiver muito sintomático. Para convulsão, utilizar Diazepam. Alucinose alcoólica: Antipsicóticos (Haloperidol) em doses baixas – no máximo 5mg/dia, já que reduzem o limiar convulsivo. Hipertensão ou taquicardia graves: Clonidina e metoprolol. Ofertar ácido fólico e tiamina – 300mg/dia IV ou IM para profilaxia de Síndrome de Wernicke Korsakoff. COMPLICAÇÕES Crises epilépticas – tônico-clônica generalizada, sendo o 1º pico nas primeiras 24h do quadro – tto com Diazepam; Síndrome de Wernicke-Korsakoff (encefalopatia que cursa com alteração ocular, oftalmoplegia, alterações motoras e cognitivas, como déficit de memória, confusão e rebaixamento do nível de consciência). Realizar reposição de Tiamina. Delirium Tremens – secundário a SAA, com alucinações táteis ou visuais. INTOXICAÇÃO X ABSTINÊNCIA Intoxicação: Uso agudo; Efeito agudo da droga: Depressão do SNC; Tempo: Durante uso ou logo após; Tratamento de suporte; Evitar Benzodiazepínicos; Pode apresentar redução do controle motor, da coordenação, fala arrastada, ataxia, coma e depressão respiratória. Abstinência: Após cessação ou diminuição; Falta da droga: Paciente “ativado”; Tempo: Após uso (horas ou dias); Tratamento: Benzodiazepínico; ABUSO DE SUBSTÂNCIAS Punção em fossa cubital, queimaduras nas mãos e alterações pupilares podem indicar o uso de drogas. Neste caso, se inconclusivo, pode-se solicitar o teste toxicológico. PACIENTE NEUROFISIOLOGICAMENTE DEPRIMIDO Apresenta-se lentificado ou com depressão do sensório. Pode chegar ao PS sedado, letárgico, comatoso ou com rebaixamento do nível de consciência. Depressores do SNC: Álcool, benzodiazepínicos e outros sedativos-hipnóticos e opioides. INTOXICAÇÃO POR BENZODIAZEPÍNICOS E SEDATIVOS Estão relacionados a situações mais graves de rebaixamento de nível de consciência. A letalidade da intoxicação está relacionada especialmente ao sinergismo com outros depressores, como álcool, barbituratos e opiáceos. Pode haver acumulação quando a meia-vida é mais longa, paciente com disfunção hepática, idade avançada ou faz uso de múltiplos medicamentos com interações significativas. O paciente pode apresentar alterações de cognição, memória e coordenação motora, além de vômitos, diarreia e incontinência urinária quando há overdose concomitante com opiáceos. Antídoto: Flumazenil. Deve ser utilizado com cautela, já que em pacientes usuários crônicos pode precipitar abstinência aguda e levar a convulsões. INTOXICAÇÃO POR OPIOIDES O paciente pode apresentar miose, depressão respiratória e rebaixamento do nível de consciência. Geralmente não são responsivos ou são minimamente responsivos ao estímulo físico, com bradipneia, ruídos hidroaéreos ausentes e retenção urinária. Há interação medicamentosa grave entre os opioides e os antidepressivos da classe de inibidores da monoamino-oxidase (IMAO), que pode resultar em síndrome serotoninérgica. Antídoto: Naloxona. Deve ser utilizada com cautela já que pode precipitar abstinência aguda em dependentes. ABSTINÊNCIA DE ESTIMULANTES DO SNC A mais emblemática é a abstinência de cocaína ou cocaine crash. O paciente apresenta depressão severa, letargia, distúrbio do sono, fissura e aumento do apetite. O tratamento é suportivo. Deve-se avaliar com cautela o risco de suicídio. ABSTINÊNCIA DE SEDATIVO-HIPNÓTICOS A abstinência de benzodiazepínico é parecida com a abstinência alcoólica. O paciente pode apresentar queixas subjetivas de mal-estar e ansiedade, posteriormente evoluindo com tremores, hipertensão, diaforese, queixas gastrointestinais e midríase. A síndrome pode se estender de dias a semanas. ABSTINÊNCIA DE OPIOIDES Costuma ser um quadro intenso e pode ser letal. O paciente apresenta midríase, lacrimejamento, rinorreia, piloereção, sudorese excessiva, hiperalgesia, diarreia, bocejos e fissura grave. A heroína gera abstinência de 6-18 horas após o último uso, com pico entre 2 a 4 dias. Após 7-10 dias os sintomas de abstinência são mínimos. Metadona e Buprenorfina geram abstinência após 1-3 dias de uso e abstinência mais prolongada. INTOXICAÇÃO POR ESTIMULANTES Intoxicação por anfetaminas e cocaína podem causar parestesias, taquicardias, taquipneia, hipertensão, midríase, mioclonias, hiperreflexia, tremor, transtornos de movimento, náuseas e vômitos, convulsões, hipertermia, etc. O MDMA (ecstasy) produz, ainda, efeitos alucinatórios leves. Pode gerar alterações no juízo crítico da realidade (delírios) e sensopercepção (alucinação). Os sintomas melhoram rapidamente e dificilmente um paciente com sintomas psicóticos induzidos por substância terá delírios bizarros ou muito estruturados. São pacientes com risco elevado de morte cardiovascular e cerebrovascular. O manejo é baseado na administração de benzodiazepínicos, não devendo ser utilizados betabloqueadores para controle de sintomas autonômicos, já que leva ao aumento do efeito alfa- adrenérgico no leito coronariano e vasoespasmo. INTOXICAÇÃO POR ALUCINÓGENOS Destacam-se o ecstasy (MDMA) e LSD (ácido lisérgico). O paciente pode apresentar aumento de temperatura corporal, convulsões e alucinoses, ou seja, o paciente tem crítica sobre a irrealidade da sensopercepção distorcida. Podem apresentar bad trips, que consistem em ataques de pânico ou sensação de perda de controle da mente. Tratamento: Minimizar a estimulação do ambiente e acalmar o paciente. Pode utilizar-se benzodiazepínico ou antipsicótico. INTOXICAÇÃO POR CANNABIS Pode ocorrer em usuários de altas dosagens e caracterizam-se por hipervigilância e despersonalização/desrealização. O paciente pode apresentar hiperemia conjuntival, hipotensão ortostática, boca seca e aumento da FC. PACIENTE EM BUSCA DE MEDICAMENTOS Em caso de pacientes com sintomas de abstinência de medicação, deve-se administrar um opioide de meia- vida longa por VO e deve ser encaminhado a um serviço de tratamento de dor crônica ou ao psiquiatra. Em pacientes persistentes, deve ser ofertada a internação hospitalar como medida de tratamento para dependência. Deve ser informado ao paciente sobre os riscos que a dependência implica. Caso o paciente não queira se internar, documentar a negativa através do termo.
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