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MÓDULO 3 (A) A teoria do desenvolvimento cognitivo: estádio sensório motor. Leitura Obrigatória: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Leitura para Aprofundamento: GOULART, Íris Barbosa. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Parte I. No estádio sensório-motor (0-2anos), o bebe nasce com atos e ações reflexas, inatas e automáticas (sucção, preensão) e, no início, é um sujeito passivo que constrói esquemas simples que funcionam isoladamente de maneira circular, repetitiva (pegar, olhar, bater, sugar). Durante esse período de dois anos irá desenvolver comportamentos voluntários e conscientes, encadeando ações para um determinado fim, tornando-se um sujeito ativo (domínio e variação das ações). Os esquemas passam a ser complexos com a invenção e criação de ações (pegar, ouvir, olhar / ouvir, pegar, olhar / levantar, andar, pegar, sugar). Piaget afirma que esses comportamentos são atos inteligentes e que é no período sensório-motor que ocorre o nascimento da inteligência da criança. O processo de adaptação da criança nesse período é marcado pela assimilação, que ocorre de três formas: assimilação funcional – repetição do esquema; assimilação generalizada – utilização do esquema em diferentes situações; assimilação recognitiva – reconhecimento dos esquemas. O período sensório-motor é marcado por seis subestádios: 1º. Subestádio (0 a 1 mês) - formação dos primeiros esquemas por meio do exercício dos reflexos (sucção, preensão, visão, audição). 2º. Subestádio (1 a 4 meses) - há mudança de comportamentos reflexos em função da experiência, e a criança de uma adaptação hereditária passa a uma adaptação adquirida (hábitos adquiridos – chupar o dedo); resultados obtidos ao acaso são conservados por repetição (sugar polegar, olhar, balbuciar, agarrar, pegar e largar...); não existe intencionalidade; formação dos primeiros hábitos: a criança repete uma ação que deu certo (dedo na boca). A isso Piaget chamou de reação circular primária. 3º. Subestádio (4 a 8 meses) - reação circular secundária - a criança repete resultados interessantes obtidos ao acaso com intenção, para obter um objeto ou fazer durar os espetáculos interessantes. Ex.: puxar a corda do móbile ao acaso e depois repetir com intenção de observar o movimento ou som do objeto. Essa é uma fase de transição entre os atos pré-inteligentes (ao acaso) para os atos inteligentes (intenção). Há coordenação entre visão – apreensão (agarra o que vê, sacode chocalhos, puxa cordões). Prova piagetiana – a criança não tem a noção de objeto permanente, existe a busca do objeto, mas restrita à trajetória ou à ação e não ao objeto (o que vejo existe o que não vejo não existe). 4º. Subestádio (8 a 12 meses) - formação da inteligência sensório-motora, ou seja, aplicação de meios já conhecidos para resolver situações novas; a criança já é capaz de variar, coordenar, generalizar diferentes ações ou os meios para atingir um fim. Existe a intenção e o desejo (objetivo), no entanto, não cria meios novos para atingir um fim, utilizará apenas os meios conhecidos. Não existe planejamento, apenas o estímulo do meio. Prova piagetiana – a criança constrói a noção de objeto permanente, busca o objeto que é tirado de seu campo visual, presenciando o momento em que é escondido. No entanto, se escondido uma segunda vez em outro local (sob sua vista) irá procurar no primeiro lugar novamente – repetição do que deu certo. 5º. Subestádio (12 a 18 meses) - reação circular terciária – a criança repete uma ação para conhecer e explorar propriedades do objeto (deixar cair um objeto várias vezes). Aparecimento das formas mais elevadas de atividade comportamental antes do aparecimento da representação. A criança cria (inventa) novas formas de ação para atingir um fim (acomodação). É uma criança com maior capacidade para diversificar e controlar suas ações. Prova piagetiana – a criança leva em consideração os deslocamentos sucessivos do objeto; procura o objeto no ponto onde foi visto pela última vez, mas sabe da existência do mesmo, por isso, se não o encontra, vai buscá-lo em outros locais. A criança neste momento passa a apresentar três condutas inteligentes: suporte / barbante / bastão. 6º. Subestádio (18 a 24 meses) – fase de transição, passagem da ação para a representação (imaginar acontecimentos). Deixa as tentativas por ensaio e erro para antecipar acontecimentos, combinando ações mentais ao invés de ações físicas. É a passagem da ação explícita para a representação mental e o aparecimento da linguagem. Prova piagetiana – Piaget apresenta a sua filha, Jaqueline, uma corrente e uma caixa de fósforos. Manuseia a caixa várias vezes, abre, fecha, coloca a corrente dentro da caixa, fecha, chacoalha, abre novamente e retira à corrente, de forma que Jaqueline possa acompanhar todos os seus movimentos. Em um dado momento coloca a corrente dentro da caixa, fecha e entrega-a para sua filha. Jaqueline pega a caixa, chacoalha, tenta abrir para retirar a corrente, não consegue, olha para o pai e sem expressar uma linguagem oral, uma vez que se encontra em processo de aquisição de linguagem, abre e fecha a boca, imitando o movimento de abrir e fechar da caixa, como uma forma de comunicação. Eis que neste momento surge a capacidade de representação: utilização de um significante com um significado, capacidade unicamente humana, diferindo o homem de outros animais. (B) A teoria do desenvolvimento cognitivo: estádio pré-operatório. Leitura Obrigatória: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Leitura para Aprofundamento: GOULART, Íris Barbosa. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Parte I. O Pensamento egocêntrico - a criança parte de seu próprio eu para julgar a realidade e os outros, sem se preocupar com a verdade dos fatos; utiliza seu ponto de vista, sua lógica, não assume o papel ou o ponto de vista do outro; acredita que todos pensam como ela. Ex.: é difícil ao adulto explicar para a criança que não quer brincar porque está cansado, pois a criança está presa às suas próprias perspectivas e não consegue perceber o outro. Pensamento transdutivo - raciocínio primitivo vai do particular para o particular (P - P). Ex.: não diz todos os animais se movem, todas as plantas crescem; não estabelece relações entre eventos de maneira lógica. Ex.: prova operatória de conservação de massa. Justaposição - assimila, mas não discrimina e generaliza, apenas coloca as informações lado a lado. Ex.: prova operatória de inclusão de classes. Sincretismo - explica um evento com outro que não tem relação lógica com a questão. Ex.: o balão caiu porque é vermelho; faz generalizações indevidas. Ex.: a fruta está verde, não pode comer, portanto não come frutas de cor verde; costuma falar “eu comi, eu bebi, eu fazi”. Centração - o pensamento é centralizado, rígido, inflexível, pois não consegue levar em consideração várias relações ao mesmo tempo. Ex.: não entende como uma pessoa possa ser ao mesmo tempo a mãe e a filha. Pensamento artificialista e finalista - atribui origem humana aos objetos e às causas; considera que tudo está para servi-la. Pensamento animista - atribui vida a seres inanimados, como bonecas, personagens de histórias, etc. Ex.: conversar com bonecos e personagens, bater na cadeira porque machucou o pé; a cadeira está chorando, o “au-au” está triste. Provas operatórias - não possui as noções que são avaliadas nas provas operatórias: classificação,seriação, sequenciação, inclusão, conservação, reversibilidade; possui um pensamento pré-lógico. Relacionamento social - as atividades em grupo se caracterizam por um brinquedo paralelo, as crianças brincam juntas, mas sem uma interação efetiva, cada uma delas está brincando sozinha. Isso ocorre em função do egocentrismo dessa fase, a criança sente dificuldade de considerar a perspectiva do outro e está centrada em si mesma e em suas atividades. Linguagem - existe uma linguagem socializada com intenção de comunicação, e uma linguagem egocêntrica, aquela que não necessita de um interlocutor, pois não tem a função de comunicação, que entre crianças origina o monológo coletivo – as crianças estão juntas, brincando, conversando, mas não há um diálogo efetivo entre elas. (C) A teoria do desenvolvimento cognitivo: estádio operatório concreto e operatório formal. Leitura Obrigatória: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Leitura para Aprofundamento: GOULART, Íris Barbosa. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Parte I. No estádio operatório concreto (7 a 11 anos), a principal característica é que o pensamento deixa de ser pré-lógico e passa a ser um pensamento operatório, ou seja, a criança tem a capacidade cognitiva de coordenar diferentes pontos de vista de maneira lógica, expressando ações cognitivas mais elaboradas. No entanto, embora tenha essa possibilidade de maior expressão do pensamento, para poder utilizá-lo de maneira lógica, é necessário o manuseio e a observação de objetos concretos. O pensamento da criança nesse estádio é lógico e marcado por várias características, descritas a seguir: Pensamento indutivo - a criança parte da experiência, do particular (concreto) para um princípio geral (P - G). As conclusões sobre os fatos dependem de um conjunto de experiências individuais. Pensamento lógico - é expresso pela capacidade de: reversibilidade das operações mentais, conservação de quantidades, inclusão de classes, classificação, seriação, sequenciação, descentração. No concreto, abstratamente não opera. No entanto, falta habilidade para imaginar e organizar possibilidades não visíveis e não vividas; imagina, mas não logicamente. Não consegue selecionar mentalmente cada uma das respostas antes de responder, pois isso seria uma maneira mais sistemática e metódica. Reversibilidade das operações mentais- é a característica que melhor define a inteligência; o pensamento pode seguir a linha de raciocínio de volta ao ponto de partida.Conservação - conceito de que a quantidade de uma matéria permanece a mesma independente das mudanças em sua dimensão. Relacionamento social - há progressos significativos, pois ocorre a diminuição do egocentrismo social e a criança tem a capacidade de perceber pensamentos, sentimentos diferentes dos seus (descentração). Isso permitirá maior interação social tanto com crianças como com os adultos, pois possui maior flexibilidade de pensamento e entenderá melhor as regras grupais, manifestando condutas de cooperação. Linguagem - há um declínio da linguagem egocêntrica até seu total desaparecimento e manifestação da linguagem socializada. No estádio operatório concreto, tanto os esquemas conceituais como as operações mentais são dependentes de objetos e situações que existem concretamente na realidade. Na adolescência, esta limitação deixa de existir e o sujeito é capaz de formar esquemas conceituais abstratos (amor, justiça, saudade) e realizar operações mentais de acordo com uma lógica formal mais sofisticada em termos de conteúdo e flexibilidade de raciocínio. chegar à antecipação de uma experiência (G - P). É o raciocínio mais difícil e sofisticado, pois libera o pensamento do concreto e passa a trabalhar com ideias (pura abstração). A partir desse estádio, o pensamento se torna hipotético-dedutivo expresso pela proposição seèentão. O sujeito utiliza esse tipo de raciocínio no cotidiano para pensar os fatos da realidade e resolver situações-problema que geram conflito cognitivo e desadaptação. De acordo com Piaget, o sujeito atingiu sua forma final de equilíbrio e uma capacidade tão complexa de pensamento que permite a construção e compreensão de doutrinas filosóficas e teorias científicas. MÓDULO 4 (A) O desenvolvimento do desenho infantil segundo Piaget. Leitura Obrigatória: PIAGET, J; INHELDER, B. A Psicologia da Criança. 3ª. Ed. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Difel, 2003. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. De acordo com Piaget, ao final do estádio sensório motor (dois anos) surge na criança uma capacidade cognitiva de representação – um significado por meio de um significante – e o meio que utiliza para isso pode ser a linguagem, o jogo simbólico, a imitação, a imagem mental e o desenho. Sendo assim, o desenho em uma perspectiva piagetiana não é apenas um ato criativo e espontâneo da criança, mas sim uma função de pensamento, simbólica e semiótica, que possibilita a representação da realidade. Assim sendo, o desenho é uma das manifestações da função simbólica ou semiótica que surge na criança por volta dos dois anos (estádio pré- operatório) possibilitando a representação intencional da realidade por meio do grafismo. Piaget considera o desenho uma forma de representação do pensamento e embora não tenha estudado o desenvolvimento do grafismo infantil, refere-se em seus textos aos célebres estudos de Georges-Henri Luquet (1876- 1965),que foi o primeiro a tabular em etapas evolutivas. (B) O desenvolvimento do desenho infantil segundo Luquet. Leitura Obrigatória: PIAGET, J; INHELDER, B. A Psicologia da Criança. 3ª. Ed. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Difel, 2003. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Luquet inicia seus estudos observando de maneira sistemática os desenhos de seus filhos, Simone e Jean Luquet. Percebe o desenhar como um ato de representação da realidade, uma imitação do real através da representação e, nesse sentido, afirma que o desenho é realista na intenção. Portanto, o “realismo” do desenho é uma concepção chave em sua teoria. Compreende o desenvolvimento do grafismo infantil em quatro importantes etapas, demonstrando que o desenho sofre mudanças e destacando um realismo que se desenvolve na medida em que a criança vai avançando em idade. Concluindo, para Luquet a característica fundamental do desenho infantil é ser realista, a criança quando desenha expressa uma intenção de representar a realidade tal qual ela se apresenta. Nesse sentido, o desenho infantil é uma imitação do real por meio de uma representação e por isso é realista na intenção. Essa característica realista apontada por Luquet sofre modificações ao longo do desenvolvimento infantil. Gradativamente o desenho vai evoluindo em etapas e em cada uma delas há um tipo de realismo. Em outras palavras, o realismo do desenho infantil ocorre em diferentes fases: Realismo Fortuito (2 a 3 anos) è analogia entre o traço e o objeto, dando nome e isso ocorre ao acaso, fortuitamente. Realismo Mal Sucedido (3 a 4 anos) è a criança aprende a representar, mas com fracassos e sucessos. Ocorre o início da representação da figura humana - badamecogirino (braços e pernas saem da cabeça) e badameco (braços e pernas saem do corpo). Realismo Intelectual (4 a 8anos) è a criança desenha o que sabe e não o que vê. Utiliza três técnicas em seus desenhos: transparência, plano deitado, rebatimento. Realismo Visual è (9 a 12 anos) è a criança desenha o que vê e não mais o que sabe. Para Luquet, há uma submissão da criança às leis da realidade, com perda da espontaneidade ao desenhar, diminuindo a produção artística (figuração adequada do real). (C) O desenvolvimento do desenho infantil segundo Lowenfeld. Leitura Obrigatória: PIAGET, J; INHELDER, B. A Psicologia da Criança. 3ª. Ed. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Difel, 2003. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Viktor Lowenfeld (1903-1960) também realizou vários estudos sobre o grafismo infantil e, entre as publicações a respeito, destacam-se no Brasil duas obras: A criança e sua arte (1954/1976) e Desenvolvimento da Capacidade Criadora(1947/1977) em coautoria com W. Lambert Brittain. Os resultados de suas pesquisas revelaram que há uma transformação no grafismo infantil que inicia na infância e vai até a adolescência, percorrendo sucessivas fases de desenvolvimento. São elas: Garatujas (2 aos 4 anos); Pré-Esquemática (4 aos 7 anos); Esquemática (7 aos 9 anos); Realismo (9 aos 12 anos). Garatujas (2-4 anos) è São quatro tipos: desordenadas (rabiscos que não respeitam o limite do papel, saem da folha, a criança risca a base onde está a folha); controladas (os riscos não saem mais da folha, a criança respeita os limites do papel); nomeadas (a criança começa a tirar o lápis do papel dando nome aos riscos que faz na folha); diagramadas (traços e linhas se interligam formando uma espécie de mosaico ou mandala). Pré-esquemática (4-7 anos) è início da representação da figura humana; há justaposição dos elementos desenhados sem a presença da linha de chão. Esquemática (7-9 anos) è aparecimento da linha de base possibilitando maior coordenação no desenho: objetos do chão e objetos no céu; há exageros e omissões, e a utilização de plano deitado e dos raios-X. Realismo (9-12 anos) è preocupação com a perspectiva, profundidade, sobreposição, detalhes e pormenores, desenhos satíricos; a criança desenha por opção e muitas vezes não desenha mais pela perda da espontaneidade. MÓDULO 5 (A) Avaliação da inteligência segundo a abordagem psicométrica Leitura Obrigatória: GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Com a finalidade de descrever as habilidades intelectuais do indivíduo, compreender como o sujeito pensa e constrói o conhecimento, Piaget utilizou como método de investigação o método clínico. O objetivo do método clínico piagetiano é compreender como o sujeito pensa e a forma como resolve situações-problema, de que maneira responde às questões elaboradas. O enfoque está em compreender como e quando o sujeito utiliza determinado conhecimento e no processo que o leva a dar uma determinada resposta. Portanto, a resposta “errada” pode ser uma forma de raciocínio do sujeito em determinado momento de seu desenvolvimento e isso deve estar bem claro para o adulto. Dessa forma, o método clínico de Piaget tem como pressuposto uma avaliação da inteligência a partir de uma abordagem psicogenética (avaliação dos processos de desenvolvimento da inteligência), que difere da maneira mais tradicional utilizada em psicologia, à abordagem psicométrica (avaliação ou quantificação das respostas corretas dadas pelo sujeito ao exame). A seguir, apresentamos as principais diferenças entre as duas abordagens: Abordagem psicométrica – o primeiro teste de inteligência em uma perspectiva psicométrica, foi elaborado em 1905, pelos psicólogos franceses Theodore Simon (1872-1961) e Alfred Binet (1857-1911). Alfred Binet nasceu em 8 de julho de 1857 (Nice) e faleceu em 28 de outubro de 1911 em Paris. Psicólogo e pedagogo renomado pelos estudos da inteligência pela psicometria, foi o primeiro a elaborar testes psicométricos para avaliação o quociente intelectual (QI). Este teste, de caráter verbal e elaborado em grau crescente de dificuldade, visava obter o Quociente Intelectual (QI). Ao longo dos anos surgiram outros testes na tentativa de aperfeiçoar os critérios de medição da inteligência. Em 1939, David Wechsler (1896-1981) psicólogo americano, desenvolveu um dos mais importantes testes para avaliação clínica de capacidade intelectual: a Escala de Inteligência para Crianças (WISC) e a Escala de Inteligência para Adultos (WAIS). O objetivo dos testes psicométricos é a mensuração das habilidades mentais. A aplicação dos testes é feita por meio do controle de variáveis ambientais, rapport com o examinador, controle por meio de um manual com: perguntas específicas a serem feitas, respostas padronizadas a serem dadas pelo sujeito e controle do tempo (cronômetro). Para que não haja interferência no desempenho do sujeito é necessário, portanto, a padronização do material e o controle do ambiente. Abordagem psicogenética – o objetivo é investigar a forma como o sujeito pensa e resolve determinadas situações que lhe são apresentadas. O controle está no entendimento das respostas e instruções (controle psicológico), ao invés da padronização das mesmas e das situações externas (controle fisicalista). O investigador, nessa perspectiva, está interessado em compreender o processo que leva um sujeito a esta ou àquela resposta. Para isso deve ter amplo conhecimento da teoria piagetiana, que irá nortear as perguntas que irá fazer durante a aplicação das provas bem como a maneira como irá avaliar as respostas dadas pela criança. Assim, todas as respostas dadas pelo sujeito são interpretadas com a finalidade de entender o processo que as gerou e as diferenças individuais não são avaliadas como indicadores de inteligência - como na abordagem psicométrica - e sim como indicadores do estádio do desenvolvimento cognitivo em que o sujeito se encontra. (B) A avaliação da inteligência segundo a abordagem psicogenética. Leitura Obrigatória: GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Para aplicar o método clínico, Piaget utilizou entrevistas puramente verbais e também apresentou situações-problema com materiais concretos, a fim de possibilitar ao sujeito a antecipação e a explicação, após determinada demonstração. A isso Piaget denominou provas operatórias. Piaget salienta que somente após um ano de exercícios diários de estudo e aplicação das provas operatórias, fundamentados em uma base teórica sólida, é que irá permitir ao psicólogo a utilização do método clínico de maneira a propiciar uma compreensão sobre o pensamento do sujeito. Nas palavras de Piaget (1926:11): O bom experimentador deve, efetivamente, reunir duas qualidades muitas vezes incompatíveis: saber observar, ou seja, deixar a criança falar, não desviar nada, não esgotar nada e, ao mesmo tempo, saber buscar algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar. É preciso ter-se ensinado o método clínico para compreender a verdadeira dificuldade. Ou os alunos que se iniciam sugerem à criança tudo aquilo que desejam descobrir, ou não sugerem nada, pois não buscamnada e, portanto, também não encontram nada. De acordo com Terezinha Nunes Carraher, quatro procedimentos devem ser levados em consideração pelo psicólogo durante a aplicação do método clínico: - Acompanhar o raciocínio, não corrigir ou completar suas respostas de acordo com seu próprio raciocínio, não concluir pelo sujeito. - Buscar justificativas para respostas dadas, uma vez que o interesse principal do estudo da inteligência na teoria de Piaget está em compreender o processo pelo qual o sujeito chegou àquela resposta, as relações estabelecidas entre os fatos e a compreensão se a resposta foi dada com convicção ou ao acaso. - Verificar a certeza com que o sujeito responde, ou seja, se a resposta está inserida em um sistema dedutivo o sujeito responde com convicção, se a resposta é dada na ausência deste sistema, o sujeito a modifica toda vez que o examinador faz questionamentos. - Evitar ambiguidades nas respostas dadas pelo sujeito, não cabe ao psicólogo escolher qual dos possíveis significados foi aquele pretendido pelo sujeito. Outro aspecto fundamental na aplicação do método clínico piagetiano são os critérios de avaliação das respostas dadas pelo sujeito. Diferentemente da abordagem psicométrica, a avaliação das respostas não se faz pela contagem de acertos e erros, mas sim pela compreensão do raciocínio utilizado pelo sujeito para chegar àquela resposta, na compreensão da perspectiva a partir da qual o sujeito responde. Nesse sentido, o erro é tão importante, ou mais, que o acerto, uma vez que indica, para nós, o processo de pensamento ou raciocínio do sujeito durante o processo de construção de conhecimento. O erro no construtivismo é possível e necessário, pois faz parte de um processo interno, de uma autorregulação - para aprender o sujeito precisa compreender e internalizar os fatos por oposição a simples cópia e repetição de modelos externos. Piaget propõe níveis de desenvolvimento ao avaliar as respostas dadas pelas crianças durante o método clínico: Nível I - corresponde aquele em que a criança não resolve o problema, nem sequer o entende, ou então, responde erroneamente, mas com convicção. Nível II - corresponde ao conflito, ambivalência, dúvida, em que a criança oscila em suas respostas, apresentando flutuações. Percebe o erro somente depois de ter cometido, não sendo capaz de antecipá-lo, por isso as ações da criança se baseiam em ensaio e erro, na tentativa, na solução empírica. Nível III - corresponde aquele em que a criança apresenta uma solução suficiente à questão e a compreensão do problema como é colocado. Os erros podem ocorrer, mas o que muda é a maneira como sujeito lida com eles: podem ser antecipados, neutralizados, pré-corrigidos ou compensados. A questão fundamental que se coloca do ponto de vista psicológico e pedagógico é como podemos criar situações-problema que possibilitem ao sujeito transformar o erro em um observável para si mesmo, a ponto de que possa antecipá-lo, neutralizá-lo, corrigi-lo ou compensá-lo de maneira autônoma. C) O Método Clínico de Piaget Leitura Obrigatória: GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. O método clínico de Piaget consiste em uma técnica de entrevista com crianças, em que por meio de um conjunto de intervenções sistemáticas, se faz uma investigação sobre o pensamento do sujeito. As perguntas abordam conceitos da física, matemática, moral, natureza e vários outros temas que compõe o conhecimento geral. Durante a entrevista o psicólogo elabora perguntas e contra argumentações a partir das respostas dadas pela criança e avalia sua qualidade e abrangência. Dessa forma, há três tipos de perguntas características no método clínico- crítico: Perguntas de exploração - o objetivo é fazer aflorar a noção cuja existência e estruturação se quer comprovar. Perguntas de justificação - o objetivo é levar o sujeito a refletir sobre as razões do estado atual do objeto e nas explicações concernentes a sua produção e a legitimação de seu ponto de vista. Perguntas de contra argumentação - o objetivo é estabelecer se as aquisições da criança são ou não estáveis e qual o grau de equilíbrio de suas ações ante os problemas bem como apreender sua atividade lógica profunda. Em relação ao experimentador, é esperado que apresente duas qualidades: - Saiba observar, permita que a criança fale e não desvie ou esgote nada. - Saiba buscar algo de preciso, tenha a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para investigar. A entrevista inicia à medida que o experimentador propõe uma tarefa à qual a criança apresentará uma resposta. Não há resposta certa ou errada, a intenção do psicólogo é avaliar o nível de pensamento da criança e sua atitude durante a aplicação, deve ser flexível, possibilitando uma interação espontânea com a criança. Nesse sentido o rapport é muito importante para deixá-la à vontade durante as atividades. Assim que a criança dá uma resposta, o experimentador faz outras perguntas, colocando uma variação no problema, ou seja, criando uma nova situação-problema. Para isso, utiliza sua experiência e o referencial teórico piagetiano. Sendo assim, as perguntas (exploração, justificação, contra argumentação) tem como objetivo esclarecer o que está implícito na resposta da criança e propiciar uma melhor compreensão de sua estrutura cognitiva (a maneira como o sujeito pensa e em qual estádio do desenvolvimento está incluído). Portanto, no método clínico piagetiano, não há como criar uma padronização das perguntas a serem feitas, pois o objetivo e seguir o pensamento da criança para onde quer que ele se dirija. Somente o conhecimento aprofundado da teoria é que permitirá ao psicólogo a utilização desta técnica de entrevista para avaliação e compreensão da inteligência. Nas palavras de Piaget, (1926/2005, p.11): Acima de tudo, sou da opinião de que na psicologia infantil e na psicopatologia é necessário pelo menos um ano de prática diária, para que se ultrapasse o período de hesitação do principiante. É tão difícil, especialmente para um pedagogo, não falar demais quando entrevista uma criança! È tão difícil não sugerir! E acima de tudo é tão difícil encontrar o equilíbrio entre a sistematização decorrente de ideias preconcebidas e a incoerência decorrente da ausência de qualquer hipótese diretiva! O bom experimentador deve, na realidade, unir duas qualidades frequentemente incompatíveis; precisa saber observar, isto é, deixar a criança falar livremente sem controlar ou desviar sua expressão e, ao mesmo tempo, deve estar constantemente alerta para o aparecimento de algo definido; precisa ter sempre uma hipótese de trabalho, alguma teoria, verdadeira ou falsa, que está tentando verificar. Os alunos principiantes ou sugerem à criança tudo que esperam encontrar ou não sugerem nada, pois não estão procurando nada e, neste caso, certamente jamais encontrarão alguma coisa. Em resumo, a tarefa não é simples e o material que produz deve ser submetido à crítica mais severa. MÓDULO 5 (A) Avaliação da inteligência segundo a abordagem psicométrica Leitura Obrigatória: GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Com a finalidade de descrever as habilidades intelectuais do indivíduo, compreender como o sujeitopensa e constrói o conhecimento, Piaget utilizou como método de investigação o método clínico. O objetivo do método clínico piagetiano é compreender como o sujeito pensa e a forma como resolve situações-problema, de que maneira responde às questões elaboradas. O enfoque está em compreender como e quando o sujeito utiliza determinado conhecimento e no processo que o leva a dar uma determinada resposta. Portanto, a resposta “errada” pode ser uma forma de raciocínio do sujeito em determinado momento de seu desenvolvimento e isso deve estar bem claro para o adulto. Dessa forma, o método clínico de Piaget tem como pressuposto uma avaliação da inteligência a partir de uma abordagem psicogenética (avaliação dos processos de desenvolvimento da inteligência), que difere da maneira mais tradicional utilizada em psicologia, à abordagem psicométrica (avaliação ou quantificação das respostas corretas dadas pelo sujeito ao exame). A seguir, apresentamos as principais diferenças entre as duas abordagens: Abordagem psicométrica – o primeiro teste de inteligência em uma perspectiva psicométrica, foi elaborado em 1905, pelos psicólogos franceses Theodore Simon (1872-1961) e Alfred Binet (1857-1911). Alfred Binet nasceu em 8 de julho de 1857 (Nice) e faleceu em 28 de outubro de 1911 em Paris. Psicólogo e pedagogo renomado pelos estudos da inteligência pela psicometria, foi o primeiro a elaborar testes psicométricos para avaliação o quociente intelectual (QI). Este teste, de caráter verbal e elaborado em grau crescente de dificuldade, visava obter o Quociente Intelectual (QI). Ao longo dos anos surgiram outros testes na tentativa de aperfeiçoar os critérios de medição da inteligência. Em 1939, David Wechsler (1896-1981) psicólogo americano, desenvolveu um dos mais importantes testes para avaliação clínica de capacidade intelectual: a Escala de Inteligência para Crianças (WISC) e a Escala de Inteligência para Adultos (WAIS). O objetivo dos testes psicométricos é a mensuração das habilidades mentais. A aplicação dos testes é feita por meio do controle de variáveis ambientais, rapport com o examinador, controle por meio de um manual com: perguntas específicas a serem feitas, respostas padronizadas a serem dadas pelo sujeito e controle do tempo (cronômetro). Para que não haja interferência no desempenho do sujeito é necessário, portanto, a padronização do material e o controle do ambiente. Abordagem psicogenética – o objetivo é investigar a forma como o sujeito pensa e resolve determinadas situações que lhe são apresentadas. O controle está no entendimento das respostas e instruções (controle psicológico), ao invés da padronização das mesmas e das situações externas (controle fisicalista). O investigador, nessa perspectiva, está interessado em compreender o processo que leva um sujeito a esta ou àquela resposta. Para isso deve ter amplo conhecimento da teoria piagetiana, que irá nortear as perguntas que irá fazer durante a aplicação das provas bem como a maneira como irá avaliar as respostas dadas pela criança. Assim, todas as respostas dadas pelo sujeito são interpretadas com a finalidade de entender o processo que as gerou e as diferenças individuais não são avaliadas como indicadores de inteligência - como na abordagem psicométrica - e sim como indicadores do estádio do desenvolvimento cognitivo em que o sujeito se encontra. (B) A avaliação da inteligência segundo a abordagem psicogenética. Leitura Obrigatória: GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. Para aplicar o método clínico, Piaget utilizou entrevistas puramente verbais e também apresentou situações-problema com materiais concretos, a fim de possibilitar ao sujeito a antecipação e a explicação, após determinada demonstração. A isso Piaget denominou provas operatórias. Piaget salienta que somente após um ano de exercícios diários de estudo e aplicação das provas operatórias, fundamentados em uma base teórica sólida, é que irá permitir ao psicólogo a utilização do método clínico de maneira a propiciar uma compreensão sobre o pensamento do sujeito. Nas palavras de Piaget (1926:11): O bom experimentador deve, efetivamente, reunir duas qualidades muitas vezes incompatíveis: saber observar, ou seja, deixar a criança falar, não desviar nada, não esgotar nada e, ao mesmo tempo, saber buscar algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar. É preciso ter-se ensinado o método clínico para compreender a verdadeira dificuldade. Ou os alunos que se iniciam sugerem à criança tudo aquilo que desejam descobrir, ou não sugerem nada, pois não buscam nada e, portanto, também não encontram nada. De acordo com Terezinha Nunes Carraher, quatro procedimentos devem ser levados em consideração pelo psicólogo durante a aplicação do método clínico: - Acompanhar o raciocínio, não corrigir ou completar suas respostas de acordo com seu próprio raciocínio, não concluir pelo sujeito. - Buscar justificativas para respostas dadas, uma vez que o interesse principal do estudo da inteligência na teoria de Piaget está em compreender o processo pelo qual o sujeito chegou àquela resposta, as relações estabelecidas entre os fatos e a compreensão se a resposta foi dada com convicção ou ao acaso. - Verificar a certeza com que o sujeito responde, ou seja, se a resposta está inserida em um sistema dedutivo o sujeito responde com convicção, se a resposta é dada na ausência deste sistema, o sujeito a modifica toda vez que o examinador faz questionamentos. - Evitar ambiguidades nas respostas dadas pelo sujeito, não cabe ao psicólogo escolher qual dos possíveis significados foi aquele pretendido pelo sujeito. Outro aspecto fundamental na aplicação do método clínico piagetiano são os critérios de avaliação das respostas dadas pelo sujeito. Diferentemente da abordagem psicométrica, a avaliação das respostas não se faz pela contagem de acertos e erros, mas sim pela compreensão do raciocínio utilizado pelo sujeito para chegar àquela resposta, na compreensão da perspectiva a partir da qual o sujeito responde. Nesse sentido, o erro é tão importante, ou mais, que o acerto, uma vez que indica, para nós, o processo de pensamento ou raciocínio do sujeito durante o processo de construção de conhecimento. O erro no construtivismo é possível e necessário, pois faz parte de um processo interno, de uma autoregulação - para aprender o sujeito precisa compreender e internalizar os fatos por oposição a simples cópia e repetição de modelos externos. Piaget propõe níveis de desenvolvimento ao avaliar as respostas dadas pelas crianças durante o método clínico: Nível I - corresponde aquele em que a criança não resolve o problema, nem sequer o entende, ou então, responde erroneamente, mas com convicção. Nível II - corresponde ao conflito, ambivalência, dúvida, em que a criança oscila em suas respostas, apresentando flutuações. Percebe o erro somente depois de ter cometido, não sendo capaz de antecipá-lo, por isso as ações da criança se baseiam em ensaio e erro, na tentativa, na solução empírica. Nível III - corresponde aquele em que a criança apresenta uma solução suficiente à questão e a compreensão do problema como é colocado. Os erros podem ocorrer, mas o que muda é a maneira como sujeito lida com eles: podem ser antecipados, neutralizados, pré-corrigidos ou compensados. A questão fundamental que se coloca do ponto de vista psicológico e pedagógico é como podemos criar situações-problema que possibilitem ao sujeito transformar oerro em um observável para si mesmo, a ponto de que possa antecipá-lo, neutralizá-lo, corrigi-lo ou compensá-lo de maneira autônoma. (C) O Método Clínico de Piaget Leitura Obrigatória: GOULART, I. B. Piaget: experiências básicas para utilização pelo professor. 25ª. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Leitura para Aprofundamento: PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Trad. Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª. Ed. - Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003. O método clínico de Piaget consiste em uma técnica de entrevista com crianças, em que por meio de um conjunto de intervenções sistemáticas, se faz uma investigação sobre o pensamento do sujeito. As perguntas abordam conceitos da física, matemática, moral, natureza e vários outros temas que compõe o conhecimento geral. Durante a entrevista o psicólogo elabora perguntas e contra argumentações a partir das respostas dadas pela criança e avalia sua qualidade e abrangência. Dessa forma, há três tipos de perguntas características no método clínico- crítico: Perguntas de exploração - o objetivo é fazer aflorar a noção cuja existência e estruturação se quer comprovar. Perguntas de justificação - o objetivo é levar o sujeito a refletir sobre as razões do estado atual do objeto e nas explicações concernentes a sua produção e a legitimação de seu ponto de vista. Perguntas de contra argumentação - o objetivo é estabelecer se as aquisições da criança são ou não estáveis e qual o grau de equilíbrio de suas ações ante os problemas bem como apreender sua atividade lógica profunda. Em relação ao experimentador, é esperado que apresente duas qualidades: - Saiba observar, permita que a criança fale e não desvie ou esgote nada. - Saiba buscar algo de preciso, tenha a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para investigar. A entrevista inicia à medida que o experimentador propõe uma tarefa à qual a criança apresentará uma resposta. Não há resposta certa ou errada, a intenção do psicólogo é avaliar o nível de pensamento da criança e sua atitude durante a aplicação, deve ser flexível, possibilitando uma interação espontânea com a criança. Nesse sentido o rapport é muito importante para deixá-la à vontade durante as atividades. Assim que a criança dá uma resposta, o experimentador faz outras perguntas, colocando uma variação no problema, ou seja, criando uma nova situação-problema. Para isso, utiliza sua experiência e o referencial teórico piagetiano. Sendo assim, as perguntas (exploração, justificação, contra argumentação) tem como objetivo esclarecer o que está implícito na resposta da criança e propiciar uma melhor compreensão de sua estrutura cognitiva (a maneira como o sujeito pensa e em qual estádio do desenvolvimento está incluído). Portanto, no método clínico piagetiano, não há como criar uma padronização das perguntas a serem feitas, pois o objetivo e seguir o pensamento da criança para onde quer que ele se dirija. Somente o conhecimento aprofundado da teoria é que permitirá ao psicólogo a utilização desta técnica de entrevista para avaliação e compreensão da inteligência. Nas palavras de Piaget, (1926/2005, p.11): Acima de tudo, sou da opinião de que na psicologia infantil e na psicopatologia é necessário pelo menos um ano de prática diária, para que se ultrapasse o período de hesitação do principiante. É tão difícil, especialmente para um pedagogo, não falar demais quando entrevista uma criança! È tão difícil não sugerir! E acima de tudo é tão difícil encontrar o equilíbrio entre a sistematização decorrente de ideias preconcebidas e a incoerência decorrente da ausência de qualquer hipótese diretiva! O bom experimentador deve, na realidade, unir duas qualidades frequentemente incompatíveis; precisa saber observar, isto é, deixar a criança falar livremente sem controlar ou desviar sua expressão e, ao mesmo tempo, deve estar constantemente alerta para o aparecimento de algo definido; precisa ter sempre uma hipótese de trabalho, alguma teoria, verdadeira ou falsa, que está tentando verificar. Os alunos principiantes ou sugerem à criança tudo que esperam encontrar ou não sugerem nada, pois não estão procurando nada e, neste caso, certamente jamais encontrarão alguma coisa. Em resumo, a tarefa não é simples e o material que produz deve ser submetido à crítica mais severa.
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