Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABÉIS E ATUARIAIS HEMILLY MACEDO VINICIUS DE ANDRADE PESQUISA BIOGRÁFICA DAVID RICARDO SÃO PAULO 2021 Sumário Introdução ................................................................................................................................... 1 1.Breve biografia ........................................................................................................................ 2 2.Contexto histórico.................................................................................................................... 3 3.Círculos Intelectuais ................................................................................................................ 5 4.Principais obras........................................................................................................................ 7 5.Teorias e Ideias ........................................................................................................................ 8 5.1 Teoria do Valor-Trabalho ................................................................................................. 8 5.2 Teoria da Renda Fundiária ............................................................................................... 9 5.3 Teoria da Vantagem Comparativa e Comercio Internacional ........................................ 11 6.Debates, Críticas e Tensões do Personagem ......................................................................... 12 6.1 Relação entre a Teoria do Valor de Smith e a de Ricardo .............................................. 12 6.2 Crítica de Karl Marx a Teoria do Valor de Ricardo ....................................................... 12 6.3 Lei da Renda Fundiária, Thomas Malthus e Robert Jacques Turgot .............................. 13 6.4 Teoria da Renda Fundiária e Adam Smith ..................................................................... 13 Conclusão ................................................................................................................................. 14 1 Introdução Este trabalho focaliza a filosofia moral de David Ricardo, procurando apresentar sua biografia e uma releitura de suas principais obras, que leva em consideração o contexto histórico que esteve inserido durante sua produção intelectual, com quem debatia seus pensamentos, e sua teoria econômica, sendo apresentados críticas e debates sobre suas ideias. O momento econômico mundial na atualidade é dos mais conturbados em toda a história da humanidade, e com isso, fica cada vez mais importante e essencial tentar entender um pouco mais sobre a Economia. Sendo assim, para quem deseja entender um pouco mais sobre a Economia, o mais indicado é iniciar seus estudos conhecendo uma das figuras mais proeminentes de todos os tempos para os estudos econômicos. Essa figura é David Ricardo. As principais teorias presentes nos estudos desenvolvidos por David Ricardo são: a teoria do valor-trabalho, a teoria das vantagens comparativas e a teoria das rendas fundiárias, que divaga sobre as fortes relações entre o lucro dos patrões e os salários dos empregados. O economista David Ricardo, que é um dos maiores nomes da economia em todos os tempos, também apresentou uma nova forma de enxergar a teoria da renda da terra, totalmente diferenciada das formas como Adam Smith e Thomas Malthus a enxergavam. Portanto, os conceitos de Ricardo foram de enorme contribuição para a economia e são muito estudadas ainda nos dias de hoje, contendo como elemento comum às ideias aqui apresentadas, a preocupação em compreender a natureza do sistema econômico capitalista. 2 1. Breve biografia David Ricardo foi um economista inglês, nascido em Londres, terceiro filho de um judeu holandês que fez fortuna na bolsa de valores. Trabalhou com o pai desde os 14 anos, demonstrando grande aptidão para o comércio. Sendo um dos maiores economistas de seu tempo, foi considerado ainda em vida o legítimo sucessor de Adam Smith no papel de difusor da jovem ciência conhecida como Economia Política. Aos 21 anos rompeu religiosamente com a família, convertendo-se ao cristianismo, mais precisamente ao protestantismo unitarista, e casando-se com uma quacre. Prosseguiu suas atividades na bolsa e ganhou dinheiro e prestígio profissional nas atividades de investimento. Passou, então, a se dedicar à literatura e à ciência, especialmente matemática, química e geologia e, sob a influência da leitura casual das obras do compatriota Adam Smith, passou a estudar detalhadamente as questões monetárias. Em 1814 aposentou-se de suas atividades profissionais e refugiou-se em sua propriedade rural em Gloucestershire e, ali, escreveu e publicou sua obra capital, Principles of Political Economy and Taxation (1817), onde expôs suas principais ideias econômicas, até certo ponto polêmicas, pois politicamente, elas favoreceriam a burguesia industrial contra a classe ruralista. Em 1819, David Ricardo entrou para o Parlamento Inglês, onde denunciou os excessos das finanças e da grande emissão de notas por parte do governo britânico, levando a uma depreciação da moeda. Seu prestígio como economista fez com que suas teorias sobre o livre comércio fossem recebidas com respeito, embora não fosse totalmente aceita pelos comuns. Morreu em Gatcomb Park, Gloucestershire, e foi o pioneiro na exigência de rigor científico nos estudos econômicos e analisou os aspectos mais significativos do sistema capitalista de produção. Em oposição ao mercantilismo, formulou um sistema de livre comércio e produção de bens que permitiria a cada país se especializar na fabricação dos produtos nos quais tivesse vantagem comparativa, também chamado de sistema de custos comparativos. Nas suas doutrinas de livre mercado opôs-se aos aumentos do ganho real dos trabalhadores porque isso se revelaria inútil, tendo em vista que os salários permaneceriam, forçosamente, próximos ao nível de subsistência. 3 2. Contexto histórico No contexto histórico, apresentaremos as características que marcaram a época em que David Ricardo escreveu. Para tanto, serão apresentadas: a Revolução Industrial, no plano econômico e a Revolução Francesa, no plano político. Na Inglaterra, a Primeira Revolução Industrial ocorreu em meados do século XVIII e do século XIX. Sua principal característica foi o surgimento da mecanização que operou significativas transformações em quase todos os setores da vida humana. Na estrutura socioeconômica, fez-se a separação definitiva entre o capital, representado pelos donos dos meios de produção, e o trabalho, representado pelos assalariados. Isto eliminou a antiga organização dos grêmios ou guildas que era o modo de produção utilizado pelos artesãos. Desta maneira, surgem as primeiras fábricas que abrigam num mesmo espaço muitos operários. Cada um deverá operar uma máquina específica para realizar sua tarefa. A mecanização se estendeu do setor têxtil para a metalurgia, transportes, agricultura, pecuária e todos os outros setores da economia, inclusive o cultural. As fábricas empregavam grande número de trabalhadores. Todas essas inovações influenciaram a aceleração do contato entre culturas e a própria reorganização do espaço e do capitalismo. Nessa fase, o Estado passou a participar cada vez mais da economia, regulando crises econômicas e o mercado e criando uma infraestrutura em setores que exigiam muitos investimentos. O tear mecânico, a tecnologia a vapor, as estradas de ferro e o avanço da mineração e da siderurgia — as inovações mais importantes do período — permitiram centralizar a produção das manufaturas, reunindo nas primeiras fábricas modernas os produtores antes dispersos e mudando radicalmente o equilíbrio entre campoe cidade na Inglaterra. Completava-se o processo de cercamento no campo, com a expulsão dos camponeses das antigas terras comunais e sua migração em massa para os centros urbanos, à procura de trabalho, sob duríssimas condições e ganhando muitas vezes o estritamente necessário para subsistir. 4 A lei dos cercamentos consistiu em uma crescente ação de privatização de terras que eram de uso comum dos camponeses, através do cercamento desses locais realizadas por poderosos senhores locais. A terra passava a ser uma mercadoria, possível de ser comercializada através da compra e venda. O ciclo econômico, nesta nova fase do capitalismo inglês, tinha vindo para ficar e, de tempos em tempos, crises comerciais arrochavam a lucratividade dos empresários e traziam o aumento do desemprego, que piorava mais ainda as condições das massas urbanas. É claro que tal transformação radical nos modos de vida não deixaria de produzir muitas revoltas e agitação social entre os trabalhadores ingleses. Um dos grandes temas em debate na época de Ricardo era a miséria e o aumento da mortalidade entre classes trabalhadoras da Inglaterra. Do ponto de vista político e ideológico, a época de Ricardo também foi marcada por uma outra grande revolução — a Revolução Francesa de 1789, que influenciou a sociedade e as instituições de todos os países da Europa. No início dessa mudança de hábitos e mentalidades a agricultura ainda permanecia mais forte que a indústria. Ressalta o quadro econômico da França em péssima situação e a fome que ameaçava a população, as secas atingiam a agricultura, prejudicando as colheitas e a escassez de alimentos aumentando ainda mais a revolta da população. Os gastos exorbitantes feitos pela corte e pelo primeiro e segundo estados deu origem a uma forte crise financeira. A Revolução Francesa foi considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea, e modificou a servidão e os direitos feudais, proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité) que culminou na tomada da Bastilha. Esta época evidencia a destruição do regime feudal em benefício do capitalismo, e as pessoas deixam de trabalhar única e exclusivamente para produção de subsistência e passam a vender sua mão-de-obra. Mesmo com todas as divergências a Revolução trouxe com Napoleão o sentido de nacionalidade ligado a liberdade, mesmo que essa liberdade tenha sido restrita diferenciando o que foi pregado nos ideais revolucionários fez nascer o patriotismo e assim nasceu a identidade dos povos. 5 As conquistas do exército profissional montado por Napoleão em toda a Europa eram vistas com simpatia pelas elites liberais, que ali enxergavam uma luta das novas ideias constitucionalistas contra o passado absolutista e aristocrático. A extensão e a igualdade dos direitos políticos e civis eram vistas agora por estas elites como condição fundamental para a organização da vida social. Com isso, Ricardo o tornou-se um dos maiores defensores do liberalismo, seja no campo da vida política, seja no campo da economia. Logo, a Revolução tornou os métodos de produção mais eficientes, os produtos passaram a ser produzidos mais rapidamente, barateando o preço e estimulando o consumo. Por outro lado, traz consequências visíveis até os dias atuais, como o aumento do número de pessoas desempregadas. As máquinas foram substituindo, aos poucos, a mão-de- obra humana. A poluição ambiental, o aumento da poluição sonora, o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades. 3. Círculos Intelectuais As ideias de David Ricardo tiveram uma grande influência na burguesia europeia do século XVIII, pois atacavam a política econômica mercantilista promovida pelos reis absolutistas, além de contestar o regime de direitos feudais que ainda persistia em muitas regiões rurais da Europa. Dessa forma, será apresentado influências filosóficas que o autor teria sofrido ao longo de sua vida intelectual que o ajudaram a formular suas teorias. Adam Smith e David Ricardo formularam teorias visando explicar qual seria a melhor forma de os países manterem relações comerciais internacionais. Os séculos XVII e XVIII se destacaram com o surgimento de grandes teorias econômicas em uma época em que ainda não havia estudos ligados a economia e neste contexto surgem os Fisiocratas, Smith e Ricardo trazendo grandes avanços para as Ciências Econômicas. Partindo da teoria smithiana do valor, Ricardo elaborou sua teoria complementando com o que, segundo ele, faltava na de Adam Smith. Apesar de discordar em alguns pontos, Ricardo via na teoria de Smith algo que considerava correto para a formulação de sua teoria do valor. Ricardo se destacou na época por sua destreza enquanto pensador. 6 Smith e Ricardo ao desenvolverem suas teorias sobre o excedente econômico deixam explicita a ideia de que ao contrário dos fisiocratas, acreditavam que a indústria também poderia gerar um excedente ao passo que recebia a matéria em estado bruto e a transformava em um novo produto com um maior valor agregado. Em linhas gerais, Smith e Ricardo tinham em comum, era a preocupação em estudar a teoria do valor-trabalho; eram positivistas, porque partiam das leis naturais; são considerados os principais teóricos do liberalismo econômico; entre outras coisas. Ricardo, sob influência de Thomas Robert Malthus, aborda o que ele chama de renda da terra. Para Ricardo, renda da terra é a compensação paga ao seu proprietário pelo uso das forças originais e indestrutíveis da terra. Esta renda, é consequentemente proporcional a população, pois na medida em que esta segunda cresce, cresce o processo de concorrência, alimentando-se os custos de produção e diminuindo o excedente. Assim, para Malthus, o crescimento econômico deveria equilibrar os problemas sociais. Dentro desse contexto, o economista francês Jean-Baptiste Say e o economista inglês John Stuart Mill tinham como objeto de estudo a produção e a distribuição de riqueza das sociedades capitalistas e adotavam o valor-utilidade. Say, construiu a norma econômica, denominada de Lei de Say, que estabelece que a oferta agregada da economia é que determina o nível de produção da mesma. E, além disso, tratou do valor-utilidade, que diverge do pensamento de Ricardo e Smith, pois ambos defendem o valor-trabalho. Mill abordava a produção derivada das leis naturais, concordava com Smith e Ricardo, discutiu sobre a distribuição respectiva as convenções sociais, e por último propôs reformas que para ele deveriam ser feitas através de alterações nas convenções sociais. Para Mill, seria a educação que resolveria a problemática da pobreza e, portanto, a redução de filhos. Cada um dos pensadores aqui analisados com sua parcela e de acordo com a realidade que presenciaram fizeram com que a economia desses grandes passos e chegasse ao que conhecemos hoje: uma economia capitalista altamente desenvolvida e que pode ser compreendida quando partimos de teorias pré-elaboradas. 7 4. Principais obras David Ricardo escreveu diversas obras, das quais três em particular se destacaram e são usadas como referências até hoje: O alto preço do ouro, uma prova da depreciação das notas bancárias (The high price of bullion, a proof of the depreciation of bank notes), em 1810; Ensaio sobre a influência de um baixo preço do cereal sobre os lucros do capital (Essay on the influence of a low price of corn on the profits of stock), em 1815; Princípios da economia política e tributação (Principles of political economy and taxation), em 1817. O primeiro trabalho de David Ricardo foi The High Price of Bullion, a Proof of the Depreciation of Bank Notes (O Alto Preço do Ouro, Uma Prova da Depreciação das Notas Bancárias). Nele, o economista sugere que limitar a emissão de moeda seria uma saída para conter oaumento da inflação. Sua obra mais conhecida, On The Principles of Political Economy and Taxation,, foi publicada pela primeira vez em 1817, que relata suas principais ideias sobre economia. Elas contribuíram para a reputação do economista no Parlamento, embora ainda não tivesse o apoio da maioria na Câmara sobre seus estudos. Obteve reconhecimento em detrimento de sua obra e recebeu mais três reedições somente em vida do autor. Em seu texto de 1815 intitulado Essay on the influence of a low price of corn on the profits of stock (Um Ensaio Sobre a Influência do Baixo Preço do Trigo Sobre os Lucros do Capital), Ricardo demonstrava que a proteção aos produtores nacionais de cerais menos eficientes fazia aumentar a proporção da renda da terra e dos salários (que deveriam ser maiores em relação aos preços dos demais bens para acomodar os preços maiores dos bens da cesta básica) em relação aos lucros. Esta obra, uma reelaboração do Ensaio sobre as “Corn Laws”, transformou-se nos Princípios, a primeira grande sistematização teórica em economia após A Riqueza das Nações, de Adam Smith. 8 5. Teorias e Ideias 5.1 Teoria do Valor-Trabalho A Teoria do Valor desenvolvida por Ricardo parte da análise de valor feita por Adam Smith. Assim como Smith, para Ricardo, o valor de uso de uma determinada mercadoria, ou seja, sua capacidade de satisfazer as necessidades humanas, não é a fonte do seu valor de troca. Porém, para o autor, o preço de certas mercadorias com características especificas e raras é determinado por sua escassez, nenhuma quantidade de trabalho poderá alterar a oferta de tal mercadoria e muito menos seu preço. Entretanto, esse é um conjunto pequeno de mercadorias, sendo o valor da maioria dos produtos regulado pelo denominado “trabalho incorporado” ou “trabalho contido”, isto é, o esforço ou energia necessária à produção daquela mercadoria. Dessa forma, o trabalho despendido na produção de um produto é o que determina o movimento dos preços relativos. Se uma peça de lã valer hoje duas peças de linho, e se, dentro de dez anos, o valor de uma peça de lã alcançar quatro peças de linho, poderemos com certeza concluir que será necessário mais trabalho para fabricar o pano, ou menos para fabricar as peças de linho, ou ainda que ambas as causas influíram. (RICARDO, 1823, pág.30) As ferramentas necessárias na produção também adicionam valor à uma mercadoria, ou seja, todos os implementos utilizados na fabricação transferem seu valor aos produtos, pois o trabalho contido nessas ferramentas é indiretamente utilizado na produção. Então, o valor de uma mercadoria é definido pelo trabalho incorporado no momento de sua produção somado ao valor transferido pelas ferramentas utilizadas na sua fabricação. Mesmo que a sociedade passe para uma fase na qual os trabalhadores não são proprietários de seus meios de produção, esse princípio ainda continua valido: O mesmo princípio continuaria válido se imaginarmos ampliadas as atividades da sociedade, de tal modo que uns fornecem as canoas e os instrumentos necessários à pesca, e outros a semente e a maquinaria rudimentar inicialmente usada na agricultura: o valor de troca das mercadorias produzidas seria proporcional ao trabalho dedicado à sua produção — não somente à produção imediata, mas também à fabricação de todos aqueles implementos ou máquinas necessários à realização do trabalho próprio ao qual foram aplicados. (RICARDO, 1823, pág.32) 9 Além disso, o valor das mercadorias não se altera caso houver alterações nos salários ou lucros. Por exemplo, se um caçador e um pescador empregassem a mesma quantidade de trabalhadores e capital, mas o caçador produzisse duas vezes mais que o pescador. Dessa forma, um peixe valeria por 2 animais caçados, independentemente do valor dos lucros e salários. Então, se os salários aumentarem, por exemplo, nenhuma das duas partes, caçador e o pescador, poderiam aumentar seus preços, porque ambos estão sendo afetados pela mesma causa. Portanto, a variação dos preços de uma mercadoria só ocorreria se fosse mais trabalhoso caçar ou pescar. Se, portanto, tivéssemos um padrão invariável, pelo qual pudéssemos medir as variações ocorridas nas outras mercadorias, veríamos que o limite extremo até o qual elas poderiam aumentar — desde que produzidas nas circunstâncias supostas — seria proporcional à quantidade adicional de trabalho requerida para sua produção; e, a menos que fosse exigida uma quantidade maior de trabalho para produzi-las, não poderiam sofrer nenhum aumento. (RICARDO, 1823, pág.35) Ademais, deve-se considerar a durabilidade de cada ferramenta ou maquinário necessário nos diferentes setores da economia. Os capitais podem ser divididos em: capital fixo e capital circulante. O capital fixo é aquele que no final da produção não se desgastou completamente. Já o capital circulante é aquele que, ao contrário do fixo, é totalmente consumido ao final do processo produtivo. Quando os capitais possuem proporções diferentes entre fixo e circulante a determinação dos preços depende da taxa de lucros e salários. Para uma mesma quantidade de trabalho, salários maiores ou menores refletirão preços menores ou maiores dependendo da combinação de capital fixo e circulante usado na produção. 5.2 Teoria da Renda Fundiária No prefacio de seu livro “Princípios da economia política e tributação”, Ricardo destaca que o objetivo principal da economia política é explicar as leis que regem a distribuição da riqueza nacional entre as diversas classes sociais: proprietários de terras, capitalistas e trabalhadores. Os proprietários de terra não cultivam suas terras, essa tarefa cabe aos agricultores, arrendatários capitalistas, que pagam aluguel pelo uso da terra. Os trabalhadores são contratados pelos arrendatários capitalistas para cultivar o solo. 10 Após essas considerações iniciais, é possível, então, abordar a Teoria da Renda elaborada pelo autor. De uma forma geral, essa teoria foi baseada na lei dos rendimentos decrescentes, desenvolvida por Thomas R. Malthus, segundo a qual à medida que é intensificado o cultivo da terra, o custo da empresa se eleva a taxas marginais superiores às dos rendimentos auferidos, tornando cada unidade adicional da produção agrícola mais cara. Em um estágio inicial, uma jovem nação é pouco populosa, não possui grande número de habitantes, exercendo pouca pressão sobre a oferta de recursos naturais. Portanto, apenas uma pequena parcela de terra é necessária para suprir essa oferta, utilizando justamente as terras mais férteis para cultivo, e a proporção de riqueza nacional cabível aos proprietários de terra, na forma de renda, é nula. Nas palavras de Ricardo: Na colonização de um país bem-dotado de terras ricas e férteis, das quais apenas uma pequena parte necessita ser cultivada para o sustento da população, e que pode ser cultivada com o capital de que essa população dispõe, não haverá renda: ninguém pagará pelo uso da terra, enquanto não houver uma grande extensão não ocupada e, portanto, ao alcance de quem deseja cultivá-la (Ricardo, 1996, pág.50). Nesse estágio inicial, em que há ausência de renda fundiária pela abundância oferta de terras férteis, os lucros dos capitalistas correspondem a uma grande parcela do preço da mercadoria. O reinvestimento dos lucros no próprio desenvolvimento da indústria resulta na ampliação da demanda por trabalho e aumento da população, contribuindo para a manutenção do salário próximo à sua taxa natural, isto é, próximo ao nível de subsistência. O crescimento populacional concorreria para a expansão das terras cultivas das terras com o fim de suprir a maior demanda por alimentos. Em determinado momento, até as terras de menor fertilidade teriam de ser cultivadas, com a finalidade de aumentar a oferta de recursos naturais, os preços dos alimentosaumentariam e o custo de mão de obra acompanharia esse aumento, para manter os salários ao nível de subsistência. Consequentemente, os custos de produção de manufaturados subiriam, os lucros cairiam e, com isso, o montante de recursos destinado ao investimento diminuiria. A continuidade desse processo, segundo o autor, levaria a sociedade ao chamado “estágio estacionário” ou à estagnação, ou seja, um estágio no qual as taxas de crescimento econômico e de acumulação de capital ocorrem em um ritmo cada vez mais lento. No “estágio estacionário”, haveria população numerosa, extensa faixa de terras cultivadas, indústria desenvolvida e alta produção. À poupança e acumulação seriam suficientes à reposição do capital, porém insuficientes à sua expansão. 11 A única forma de evitar a chegada a essa fase, segundo Ricardo, seria eliminar todos os obstáculos à maximização dos lucros, para que o potencial de acumulação de capital pudesse se realizar. 5.3 Teoria da Vantagem Comparativa e Comercio Internacional O modelo de comercio internacional de Ricardo pressupunha concorrência perfeita, custo de produção constante, ausência de custo de transporte, comercio bilateral, trabalho como único fator de produção e total imobilidade de capital entre os envolvidos no comercio. As vantagens do livre comercio já haviam sido analisadas por Smith, que se baseou na presença de vantagens absolutas, isto é, maior eficiência na produção. Então, a partir disso, a nação que produzisse uma certa mercadoria a um menor custo de produção deveria especializar- se no ramo e importar os bens nos quais não possuísse tal vantagem. A abordagem sobre o comercio internacional, realizada pelo autor, representou um avanço considerável em relação à Smith: O comércio exterior para uma nação seria vantajoso até mesmo nos casos em que ela pudesse produzir internamente a custos mais baixos do que os da nação parceira, desde que, em termos relativos, as produtividades de cada uma fossem relativamente diferentes. Assim, a especialização internacional seria mutuamente vantajosa em todos os casos em que as nações parceiras canalizassem os seus recursos para a produção daqueles bens em que sua eficiência fosse relativamente maior (Rossetti, 1994, pàg.758). Na teoria de Ricardo, a chave para a especialização consistia na existência de vantagens relativa. O conceito de vantagem relativa consiste na existência de diferenças no trabalho incorporado na fabricação de determinada mercadoria, inicialmente produzida por dois parceiros comerciais. No modelo de dois países e duas mercadorias, utilizado pelo autor para demonstrar os benefícios mútuos, uma das mercadorias será produzida por um dos dois países com menor trabalho incorporado e o outro, que não possui tal vantagem, deverá importá-la de seu parceiro comercial. O comercio internacional, mediante a especialização e divisão internacional do trabalho, considerando-se a adoção de recursos naturais, capital ou trabalho, aumenta a eficiência do 12 emprego de recursos, elevando a renda real e a produção dos parceiros comerciais. Nas palavras de Ricardo: Num sistema comercial perfeitamente livre, cada país naturalmente dedica seu capital e seu trabalho à atividade que lhe seja mais benéfica. Essa busca de vantagem individual está admiravelmente associada ao bem universal do conjunto dos países. Estimulando a dedicação ao trabalho, recompensando a engenhosidade e propiciando o uso mais eficaz das potencialidades proporcionadas pela natureza, distribui-se o trabalho de modo mais eficiente e mais econômico, enquanto, pelo aumento geral do volume de produtos, difunde-se o benefício de modo geral e une-se a sociedade universal de todas as nações do mundo civilizado por laços comuns de interesse e de intercâmbio. (RICARDO, 1996, pág.97) 6. Debates, Críticas e Tensões do Personagem 6.1 Relação entre a Teoria do Valor de Smith e a de Ricardo David Ricardo elaborou sua Teoria do Valor-Trabalho complementando com o que, segundo ele, faltava na teoria de Adam Smith. Para Smith o valor de um bem corresponde a quantidade de trabalho que esse bem lhe dá direito de trocar, isto é, o chamado trabalho comandando. Para Ricardo o valor de uma mercadoria é definido pelo trabalho contido, ou seja, deveriam ser contabilizados, também, o esforço para a produção dos instrumentos utilizados no trabalho e não apenas o trabalho realizado no produto final. 6.2 Crítica de Karl Marx a Teoria do Valor de Ricardo Marx critica o limite da teoria do valor-trabalho de David Ricardo em seus manuscritos publicados como “Teoria da Mais-Valia”. Segundo Marx, o limite fundamental das teorias econômicas que partiram da perspectiva capitalista em relação ao valor é que elas estavam interessadas na magnitude, na quantidade, do valor, mas não por sua forma. 13 A impossibilidade de Ricardo, segundo Marx, de colocar em questão o porquê o dispêndio de trabalho, que é medido pelo tempo de sua duração, deve se expressar sob a forma de valor está ligado ao ponto de vista burguês, no qual está limitado seu pensamento. 6.3 Lei da Renda Fundiária, Thomas Malthus e Robert Jacques Turgot David Ricardo contou com a contribuição de Thomas Malthus e Turgot na formulação de sua denominada “Teoria dos Rendimentos Decrescentes”. Essa teoria foi a base ideológica para uma outra teoria famosa elaborada pelo autor, a Teoria da Renda Fundiária. 6.4 Teoria da Renda Fundiária e Adam Smith Para Smith a renda produzida pela terra dependeria da localização e da fertilidade da terra em questão. Quanto maior fosse a demanda por tal produto maior seria o preço que o proprietário poderia exigir por ele. O valor mínimo cobrado seria aquele necessário a pagar salários, aluguéis e gerar lucro. Já para Ricardo, inicialmente são cultivadas as terras mais férteis e de melhor localização, encontradas em abundância. Dessa forma, não há renda da terra, tampouco um valor mínimo de renda igual Smith, pois a grande quantidade de terras disponíveis impossibilitaria a cobrança de renda por essas terras. 14 Conclusão O economista britânico David Ricardo foi umas das mentes mais brilhantes de sua época, sendo considerado um dos principais pensadores da conhecida Escola Clássica de economia. Por meio desta pesquisa bibliográfica, foi possível compreender a relevância desse autor para o pensamento econômico e, principalmente, para a denominada Economia Política. Em uma de suas mais famosas obras, “Princípios da Economia Política e Taxação”, ele aborda temas inovadores para o seu tempo, como a teoria do valor-trabalho, a teoria das vantagens comparativas e a teoria das rendas fundiárias, entre outros temas. Além disso, ainda em vida, Ricardo foi considerado um sucessor direto de Adam Smith, complementando a teoria de valor-trabalho de Smith com o conceito de “trabalho contido”, e, desenvolveu sua teoria da renda fundiária com a contribuição de dois grandes economistas: Thomas Malthus e Robert Jacques Turgot. Sua teoria do comércio internacional não fica para trás das demais, pelo contrário, ao defender o livre comércio ele formulou a ideia de custos comparativos, a chamada “vantagem comparativa”, um conceito que é a base principal da confiança da maioria dos economistas no livre comércio atualmente. Portanto, a partir da pesquisa realizada, concluímos que David Ricardo ofereceu uma imensurável contribuição para ciência econômica e consolidou uma relevância não apenas em sua época, mas também até o período atual. 15 Referências Bibliográficas BEZERRA, J. Revolução Francesa (1789), 2014. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-francesa/>. Acesso em: 28 de maio de 2021. BEZERRA, J. Revolução Industrial, 2015. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-industrial/>. Acesso em: 28 demaio de 2021. ESCOLA, E. B. David Ricardo, Brasil Escola, 2010. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/biografia/david-ricardo.htm>. Acesso em: 27 de maio de 2021. FRANÇA, F. M. Uma Discussão Sobre A Teoria Do Valor Em Smith, Ricardo E Marx, Rio de Janeiro: Universidade Federal Do Rio De Janeiro Instituto De Economia, 2012. FRAZÃO, D. Biografia De David Ricardo, E Biografia, 2015. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/david_ricardo/>. Acesso em: 27 de maio de 2021. GONÇALVES, E. História Do Pensamento Econômico, UFJF, 2010. Disponível em: <https://www.ufjf.br/eduardo_goncalves/files/2010/07/David-Ricardo1.pdf>. Acesso em: 26 de maio de 2021. HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico: Uma Perspectiva Crítica, 3ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda. 2012. LENS, M. H. A Evolução do Conceito de Renda da Terra no Pensamento Econômico: Ricardo, Malthus, Adam Smith e Marx, UFRGS, 2012. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/30332/000681594.pdf?sequence=1>. Acesso em: 26 de maio de 2021. MARIMBONDO, S. As Diferenças Entre As Teorias Do Valor De David Ricardo E De Karl Marx, Quilombo Spartacus, 2019. Disponível em: <https://quilombospartacus.wordpress.com/2019/05/28/as-diferencas-entre-a-teoria-do-valor- de-david-ricardo-e-de-karl-marx/>. Acesso em: 31 de maio de 2021. RICARDO, D. Princípios de Economia Política e Tributação. São Paulo, Nova Cultura Ltda. 1996. SCHMIDT, V. Fisiocracia, Adam Smith E David Ricardo, Web Artigos, 2008. Disponível em: <https://www.webartigos.com/artigos/fisiocracia-adam-smith-e-david-ricardo/12483/>. Acesso em: 31 de maio de 2021. SILVA, L. D. Desenvolvimento Segundo David Ricardo, Web Artigos, 2008. Disponível em: <https://www.webartigos.com/artigos/desenvolvimento-segundo-david-ricardo/3704/>. Acesso em: 1 de junho de 2021. SILVA, T. S. Notas Sobre A Economia Ricardiana, Academia, 2003. Disponível em: <https://www.academia.edu/39187637/NOTAS_SOBRE_A_ECONOMIA_RICARDIANA>. Acesso em: 28 de maio de 2021. Introdução 1. Breve biografia 2. Contexto histórico 3. Círculos Intelectuais 4. Principais obras 5. Teorias e Ideias 5.1 Teoria do Valor-Trabalho 5.2 Teoria da Renda Fundiária 5.3 Teoria da Vantagem Comparativa e Comercio Internacional 6. Debates, Críticas e Tensões do Personagem 6.1 Relação entre a Teoria do Valor de Smith e a de Ricardo 6.2 Crítica de Karl Marx a Teoria do Valor de Ricardo 6.3 Lei da Renda Fundiária, Thomas Malthus e Robert Jacques Turgot 6.4 Teoria da Renda Fundiária e Adam Smith Conclusão
Compartilhar