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Penal III Pessoa

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Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
1 
 ÍNDICE 
 
Homicídio.................................................................................................................................02 
Participação em Suicídio........................................................................................................40 
Infanticídio...............................................................................................................................48 
Aborto......................................................................................................................................54 
Lesão Corporal........................................................................................................................73 
Periclitação da Vida e da Saúde...........................................................................................102 
Crimes contra Honra............................................................................................................120 
Calúnia...................................................................................................................................124 
Difamação..............................................................................................................................132 
Injúria....................................................................................................................................136 
Disposições finais..................................................................................................................150 
Constrangimento ilegal........................................................................................................163 
Ameaça..................................................................................................................................166 
Sequestro e cárcere privado.................................................................................................168 
Redução à condição análoga a de escravo..........................................................................175 
Violação de domicílio............................................................................................................178 
Violação de dispositivo informático.....................................................................................182 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
2 
HOMICÍDIO 
Homicídio simples 
Art. 121. Matar alguém: 
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 
Introdução: de forma geral, o homicídio é o ato de destruição da vida de um homem por outro 
homem. De forma objetiva, é o ato cometido ou omitido que resulta na eliminação da vida do 
ser humano. 
Conceito: eliminação da vida extrauterina praticada por outra pessoa. Se praticada pela 
mesma pessoa haveria suicídio e se ação for intrauterina ocorrerá aborto. 
Homicídio simples: é a conduta típica limitada a “matar alguém”. Esta espécie de homicídio 
não possui características de qualificação, privilégio ou atenuação. É o simples ato da prática 
descrita na interpretação da lei, ou seja, o ato de trazer a morte a uma pessoa. 
Objeto material: O tipo penal prevê como crime de homicídio o ato de suprimir a vida 
humana, não definindo o modo empregado para tanto. Assim, a norma admite criminosa 
qualquer conduta voltada ao término da vida da vítima: disparar arma de fogo, desferir golpes 
de faca, golpeá-la com pedras ou pedaços de pau, eletrocutá-la, provocar ou libertar animal 
para que a ataque etc. São incontáveis as maneiras que o autor do fato pode usar para matar 
alguém. Deve restar caracterizado, entretanto, o nexo causal entre a conduta e o resultado 
morte. O crime também pode restar caracterizado pela omissão do autor, nas hipóteses de 
crime omissivo impróprio (também designado comissivo-omissivo ou comissivo por 
omissão), que ocorre quando a norma impõe ao autor obrigação de impedir a ocorrência crime 
(fala-se também em impedir o resultado), previstas no artigo 13, §2.º, do Código Penal. A 
conduta também admite a colaboração de terceiros: a coautoria e/ou a participação. 
Sujeito passivo: Qualquer um (ser humano) pode ser vítima de homicídio, basta ter sido 
concebido a partir do ventre materno (ter nascido de mulher) e ter vida. 
Observação: também são vítimas de homicídio: o deformado, o moribundo, o paciente 
terminal etc., pois, mesmo quando severamente debilitados e acometidos de sofrimento 
imensurável, são titulares do bem jurídico tutelado (a vida humana). 
Elemento subjetivo: Constitui-se no animus necandi, no animus occidendi, que se traduzem a 
intenção de tirar a vida do ser humano. O que configura o dolo do homicida é o agir 
consciente na prática de ato cujo resultado será a morte de terceiro. Também é possível o dolo 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
3 
eventual, em que o autor age admitindo o óbito, no máximo, como possível, sem pretendê-lo 
diretamente. Vamos ver algumas repercussões práticas: 
CASUÍSTICA 
Diferença da tentativa de homicídio com lesão corporal: reside no elemento subjetivo do 
agente. Teoricamente a questão é de simples solução, contudo, na prática provoca calorosos 
debates do júri. 
Diferença da lesão seguida de morte: na lesão qualificada a morte é culposa e antecedida 
de um dolo de lesão, o agente não quis o resultado morte e nem assumiu o risco de produzi-
lo. 
Tentativa branca: a vítima não sofre lesões com a conduta, por exemplo, disparo de arma 
que não atinge o alvo. Na tentativa cruenta a vítima sofre lesões. 
Desistência voluntária: neste caso o agente desiste quando ainda tem possibilidade de 
continuar no inter criminis. Por exemplo, disparou e não matou a vítima e ainda tendo mais 
projéteis na arma, e sem nenhum fator exterior a impedir que continue sua conduta, cessa a 
atividade criminosa. Caso atinja a vítima responde por lesões corporais e não por tentativa. 
Agora, se cessou a atividade por que achou que a vítima estava morta ou porque a polícia 
se aproximava não há desistência voluntária e sim tentativa. 
Autoria colateral: duas pessoas querem praticar um crime e agem ao mesmo tempo sem 
que uma tenha conhecimento da ação da outra. Como exemplo, podemos citar a casuística 
de duas pessoas (A e B), uma em cada lado da estrada, aguardando um sujeito passar. Quando 
este passa ambos atiram causando o óbito da vítima. Identificado que o tiro que causou a 
morte partiu da arma de A este responde por homicídio e B responderá por tentativa, uma vez 
que não causou a morte. Não há concurso de agentes pelo fato de que não houve liame 
subjetivo entre os agentes. 
Autoria Incerta: ocorre na autoria colateral quando não se consegue identificar qual dos dois 
disparos matou a vítima. Neste caso há três correntes: 
a. Ambos por crime consumado. 
b. O fato é atípico para ambos. 
c. Os dois por tentativa. 
Espécies de homicídio: culposo, simples, privilegiado e qualificado. 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
4 
QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA 
a. Comum/próprio: comum: praticado por qualquer pessoa. 
b. Simples/complexo: simples: apenas um bem jurídico. 
c. Dano/perigo: dano: há lesão ao bem jurídico vida (oposto de perigo). 
d. Ação Livre/de ação vinculada: ação livre: pode ser praticado por qualquer modo 
(diferente dos crimes vinculados em que o tipo prevê o modo específico de ação como 
nos casos de omissão de socorro, maus tratos). 
e. Instantâneo/permanente: instantâneo: consuma-se com a morte da vítima (cessação 
da atividade encefálica Lei 9434/97). 
f. Material/formal/mera conduta: material: consuma-se com a ocorrência do 
resultado, ao contrário dos crimes formais em que o tipo descreve uma ação e um 
resultado, mas dispensa a ocorrência deste paraa consumação (extorsão mediante 
seqüestro), e dos crimes de mera conduta em que há a descrição de uma ação sem 
menção a qualquer resultado naturalístico (violação de domicílio, ato obsceno). 
 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA 
Comentários: o crime se consuma quando a conduta do autor resulta na morte da vítima, pois 
nesse caso o fato contém “... todos os elementos de sua definição legal.” (artigo 14, inciso I, 
do código Penal). A tentativa ocorre quando, não obstante praticados os atos de execução 
para a ocorrência da morte, ela não advém “... por circunstâncias alheias à vontade do 
agente.” (artigo 14, inciso II, do Código Penal). Um simples exemplo disso é o da vítima que 
sobrevive depois de alvejada por disparos de arma de fogo. O evento morte não ocorreu 
apesar do esforço do autor em tentar obtê-lo. Quando a vítima sobreviver da tentativa e restar 
lesionada, contudo, não se pode reconhecer o enquadramento da conduta do autor como sendo 
crime de lesão corporal, como dito em tópico acima, justamente porque o dolo (o animus 
necandi) dele foi muito além da mera intenção de ofender a integridade física. O elemento 
subjetivo, nessas hipóteses, será, então, o que difere o homicídio frustrado (tentado) de algum 
outro delito menos grave e (ao menos materialmente) consumado, como pode ser a lesão 
corporal. 
Conclusão: consuma-se com a morte da vítima atestada em laudo necroscópico, ou melhor, 
cessação da atividade encefálica. 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
5 
HOMICÍDIO PRIVILEGIADO 
Caso de diminuição de pena 
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou 
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação 
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. 
Análise do tipo: é uma causa de diminuição de pena pelo fato de que o legislador entendeu 
que nos casos ali previstos a conduta homicida é menos danosa à sociedade. Embora no 
artigo conste a expressão “o juiz pode” a doutrina entende que é obrigatório, uma vez que o 
privilegio é votado pelos jurados. 
Comentários: a doutrina fraciona o estudo do homicídio privilegiado em razão dos motivos 
determinantes do crime. Num primeiro momento, considera o relevante valor social ou moral. 
A seguir, considera privilegiado aquele homicídio impelido por violenta emoção, seguida a 
injusta provocação da vítima. Vamos às hipóteses: 
MOTIVO DE RELEVANTE VALOR SOCIAL 
Comentários: diz respeito a interesses da sociedade, coletivos, como por exemplo, matar 
marginal que apavora a comunidade ou um estuprador que assolava o bairro. 
VALOR MORAL 
Comentários: são os aprovados pela moralidade média, como por exemplo, eutanásia. O 
relevante valor moral é aquele que toca o espírito de moralidade do autor (sua compaixão, 
piedade etc.), citando a doutrina como clássico exemplo a possibilidade da eutanásia, pela 
qual o autor encerra a vida da vítima em razão de um sofrimento interminável e incurável. 
Caiu em prova (oral MP/SP 2015): Qual a diferença entre eutanásia, distanásia e 
ortotanásia? 
Eutanásia: hodiernamente é entendida como morte provocada por sentimento de 
piedade à pessoa que sofre. Em vez de deixar a morte acontecer, a eutanásia age sobre a 
morte, antecipando-a. Assim, a eutanásia só ocorrerá quando a morte for provocada em 
pessoa com forte sofrimento, doença incurável ou em estado terminal e movida pela 
compaixão ou piedade. Portanto, se a doença for curável não será eutanásia, mas sim o 
homicídio tipificado no art. 121 do CP, pois a busca pela morte sem a motivação humanística 
não pode ser considerada eutanásia. Não há, em nosso ordenamento jurídico previsão legal 
para a eutanásia, contudo, se a pessoa estiver com forte sofrimento, doença incurável ou em 
estado terminal dependendo da conduta, podemos classificá-la como homicídio privilegiado, 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
6 
no qual se aplica a diminuição de pena do parágrafo 1º do artigo 121 do CP. Pode também se 
adequar ao crime de auxílio ao suicídio, desde que o paciente solicite ajuda para morrer, 
disposto no art. 122 do mesmo diploma legal. 
Distanásia: é o prolongamento artificial do processo de morte e por consequência 
prorroga também o sofrimento da pessoa. Muitas vezes o desejo de recuperação do doente 
a todo custo, ao invés de ajudar ou permitir uma morte natural, acaba prolongando sua agonia. 
Conforme Maria Helena Diniz, "trata-se do prolongamento exagerado da morte de um 
paciente terminal ou tratamento inútil. Não visa prolongar a vida, mas sim o processo de 
morte" (DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. São Paulo: Saraiva, 2001). Aqui 
não há crime, não há a provocação da morte e sim o prolongamento da vida. 
Ortotanásia: significa morte correta, ou seja, a morte pelo seu processo natural. Neste 
caso o doente já está em processo natural da morte e recebe uma contribuição do médico para 
que este estado siga seu curso natural. Assim, ao invés de se prolongar artificialmente o 
processo de morte (distanásia), deixa-se que este se desenvolva naturalmente 
(ortotanásia). Somente o médico pode realizar a ortotanásia, e ainda não está obrigado a 
prolongar a vida do paciente contra a vontade deste e muito menos aprazar sua dor. Para parte 
da doutrina a ortotanásia é conduta atípica frente ao código penal, pois não é causa de morte 
da pessoa, uma vez que o processo de morte já está instalado. Desta forma, diante de dores 
intensas sofridas pelo paciente terminal, consideradas por ele como intoleráveis e inúteis, o 
médico deve agir para amenizá-las, mesmo que a consequência venha a ser, indiretamente, a 
morte do paciente (VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética e direito. São Paulo: Jurídica 
Brasileira, 1999, p. 90.) Nucci entende que a ortotanásia é crime, já que o médico, na posição 
de garantidor, não pode deixar de buscar os recursos para salvar a vida do paciente. 
Observação: há posições em sentido contrário: A ortotanásia, por sua vez, não caracteriza 
homicídio, pois, resumindo-se apenas à aplicação de paliativos para a dor e o sofrimento, 
até a morte natural do doente terminal, disso não advirá nexo causal entre terapia 
ministrada e o resultado fatal. Tampouco se pode reconhecer na hipótese o crime 
comissivo por omissão, pois, não havendo cura para a doença, não haverá omissão 
médica, em razão da falta de tratamento à espécie. 
VIOLENTA EMOÇÃO APÓS INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA 
Comentários: esta privilegiadora compõe-se de três elementos: a emoção violenta, a injusta 
provocação da vítima e a reação imediata em razão da provocação. 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
7 
a. Sob o domínio de violenta emoção: caracterizada por forte perturbação mental 
capaz de tirar o agente de seu estado normal. A emoção violenta para fins deste 
parágrafo é aquela que domina o autor, provocando-lhe um choque emocional, já que 
a lei fala “... sob o domínio...”. Neste caso há uma diferença com a atenuante genérica 
(art. 65, III, c), pois a atenuante diz influência e o homicídio privilegiado diz 
domínio. 
b. Injusta provocação: (xingos, adultério, bastando a vítima se sentir provocada, não há 
necessidade de intenção em irritar a vitima por parte do provocador). Injustiça da 
provocação é a relação de contrariedade deste ato com a lei, a atitude legítima da 
vítima não configura o homicídio privilegiado. 
c. “Logo após”, neste caso a doutrina entende que não há um tempo determinado, porém 
não pode haver interrupção entre a emoção e o ato homicida. Logo, a reação do 
autor deve ser imediata, sem premeditações ou intervalos de tempo que permitam 
compreender a situação ou depois de cessado o violento estado emotivo que o 
dominou. 
Subjetivas: Todos os privilégios são de caráter subjetivo, portanto se comunicam aos 
partícipese aos coautores, desde que não tenham agido por outro motivo. 
JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA STF E STJ 
Decidiram: o porte ilegal de arma de fogo deve ser absorvido pelo crime de homicídio? 
Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte de arma 
de fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de fogo, a acusação 
por porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção? Depende da situação: 
Situação 01: NÃO. O crime de porte não será absorvido se ficar provado nos autos 
que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou 
depois do homicídio e que ele não se utilizou da arma tão somente para praticar o 
assassinato. Ex: a instrução demonstrou que João adquiriu a arma de fogo três meses antes de 
matar Pedro e não a comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da vítima. 
Situação 02: SIM. Se não houver provas de que o réu já portava a arma antes do 
homicídio ou se ficar provado que ele a utilizou somente para matar a vítima. Ex: o agente 
compra a arma de fogo e, em seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois 
tiros, matando-a. No caso concreto julgado pelo STF, ficou provado que o réu havia 
comprado a arma 03 meses antes da morte da vítima. Além disso, também se demonstrou 
pelas testemunhas que o acusado, várias vezes antes do crime, passou na frente da casa da 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
8 
vítima, mostrando ostensivamente o revólver utilizado no crime. Desse modo, restou provado 
que os tipos penais consumaram-se em momentos distintos e que tinham desígnios 
autônomos, razão pela qual não se pode reconhecer o princípio da consunção entre o 
homicídio e o porte ilegal de arma de fogo. STF. 1ª Turma. HC 120678/PR, rel. orig. Min. 
Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 24/2/2015 (Info 775). 
 HOMICIDIO QUALIFICADO 
Análise do tipo: há três divisões das qualificadoras do homicídio que nos auxiliam a 
compreender melhor o assunto. Ocorrendo uma qualificadora a pena passa a ser de 30 anos 
além de ser considerado crime hediondo. 
 MOTIVO (INCISO I) 
 2° Se o homicídio é cometido: 
 I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
Paga (anterior) ou promessa de recompensa (posterior): é o chamado homicídio 
mercenário, aquele que ocorre por conta de um pagamento feito pelo mandante e cumprido 
geralmente por “pistoleiros”. Parte da doutrina entende que a vantagem não precisa ser de 
caráter econômico (Damasio), contudo, há entendimento em sentido contrário, afirmando 
que se não for vantagem econômica (vantagem sexual, por exemplo) incidiria na 
parte final do artigo (motivo torpe) (Hungria e Noronha). É um crime de concurso 
necessário que exige a participação de dois agentes. 
Aplicação da qualificadora: duas correntes: 
A. 1º Corrente: aplica-se ao mandante e ao executor, uma vez que a paga e a promessa 
de recompensa SÃO ELEMENTARES DO CRIME, logo, se comunicam (art. 30 do 
CP). 
B. 2º Corrente: aplica-se somente ao executor, uma vez que paga e a promessa de 
recompensa não são elementares, MAS CIRCUNSTÂNCIAS, logo, somente o 
executor age por conta do lucro, portanto, não há a comunicação da qualificadora, já 
que quem mata o faz por seus próprios motivos. Os tribunais superiores adotam a 
primeira corrente. 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
9 
OU OUTRO MOTIVO TORPE 
Torpe: motivo abjeto vil que causa repugnância como matar a mãe para ficar com a 
herança, por rivalidade profissional, inveja ou por a vítima ser homossexual (ou qualquer 
outra forma de preconceito), rituais macabros e vampirismo (beber o sangue da vítima), 
morte de policial por facção criminosa, Canibalismo, matar por prazer, etc. 
Observação: vingança e ciúmes: vingança por si só não qualifica é preciso analisar as 
razões, uma vez que a vingança pode até servir como privilégio. Ciúme não é fútil e nem 
torpe, é preciso analisar o caso concreto, aquilo que ocasionou o ciúme. 
JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA STF E STJ 
Decidiram: Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo 
torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de 
violência doméstica e familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de 
ordem OBJETIVA - vai incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e 
familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará 
adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o delito. STJ. 6ª Turma. HC 
433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625) 
FÚTIL (INCISO II) 
II - por motivo fútil; 
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. 
É o motivo de pouca importância, desproporcional, de pouca monta, como exemplo, 
matar o dono do bar que não serviu bebida, ou a mulher que não fez o jantar. 
Observação: não devemos confundir futilidade com não se descobrir do motivo do crime. 
Matar sem motivo é hipótese diversa de não se descobrir o motivo do homicídio. 
Desse modo há duas situações distintas: 
1º Situação: matar sem motivo, para a tese de acusação, consiste na qualificadora do 
motivo torpe, uma vez que matou pelo prazer de tirar a vida, o que é diferente de não se 
descobrir o motivo. 
2º Situação: há decisões do STJ aplicando o homicídio simples quando o homicídio 
foi praticado por ausências de motivos ou quando não se descobre o motivo do crime. 
Essas são as teses de defesa que parecem prevalecer no STJ, conforme julgado abaixo. 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
10 
JURISPRUDÊNCIA STF e STJ 
Decidiram: na hipótese em apreço, a incidência da qualificadora prevista no art. 121, § 
2º, inciso II, do Código Penal, é manifestamente descabida, porquanto motivo fútil não 
se confunde com ausência de motivos, de tal sorte que se o crime for praticado sem 
nenhuma razão, o agente somente poderá ser denunciado por homicídio simples (STJ, HC 
152.548/MG, Rel. Ministro Jorge Mussi, 5.ª Turma, julgado em 22/02/2011, DJe 25/04/2011). 
Observação II: uma forte discussão por motivo fútil afasta a qualificadora, já que o motivo 
da morte foi a discussão e não a futilidade que a originou. Há decisões recentes do STJ nesse 
sentido. 
JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA STF E STJ 
Decidiram: motivo fútil. Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois 
ocorreu uma briga e, no contexto desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a 
descaracterizar o motivo fútil. Vale ressaltar, no entanto, que a discussão anterior entre 
vítima e autor do homicídio, por si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil. Assim, é 
preciso verificar a situação no caso concreto. Processo STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 
1.113.364-PE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, DJe 21/8/2013. 
Comentários ao julgado acima: uma das hipóteses de homicídio qualificado ocorre quando 
o agente pratica o crime em razão de um motivo fútil: Homicídio qualificado § 2° Se o 
homicídio é cometido: II - por motivo fútil; O que é motivo fútil? Ocorre quando a pessoa 
pratica o homicídio por causa de um motivo bobo, insignificante, pequeno, mesquinho. Ex: 
João matou Pedro pelo fato de a vítima não ter querido dar um cigarro para o homicida. Todo 
motivo fútil é injusto, mas nem sempre o motivo injusto pode ser considerado fútil. 
Exemplo: Maria anuncia que vai se separar de Abel após 10 anos de casamento em razão de 
ter se apaixonado por Pedro, vizinho do casal. Inconformado, Abel mata Maria. O motivo é 
injusto, considerando que não há justificativa para ceifar a vida de uma pessoa por conta do 
fim de um relacionamento. Por outro lado, não se pode dizer que a razão que motivou o 
agente sejainsignificante (desprezível). Nesse sentido: STJ HC 77.309/SP, Rel. Min. Felix 
Fischer, Quinta Turma, julgado em 06/05/2008. Se, no caso concreto, o réu, aparentemente, 
não tinha motivo para matar a vítima, pode-se dizer que houve homicídio qualificado por 
motivo fútil? A ausência de motivo pode ser equiparada a motivo fútil? NÃO (posição 
majoritária). A lei pune mais gravemente o motivo fútil e não a ausência de motivo. Houve 
uma falha da lei. Equiparar “ausência de motivo” a “motivo fútil” é fazer uma analogia in 
mallan partem. Nesse sentido: Cezar Roberto Bitencourt. Se o agente pratica o crime por 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
11 
causa de ciúmes, haverá homicídio qualificado por motivo fútil? NÃO (posição 
majoritária). Um homicídio pode ser fútil (inciso II) e torpe (inciso I) ao mesmo tempo? NÃO. 
Um homicídio nunca poderá ser fútil e torpe ao mesmo tempo. Se for fútil (bobo), não pode 
ser torpe (repugnante). Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma 
briga e, no contexto desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o 
motivo fútil Cleber Masson fornece um exemplo: “Depois de discutirem futebol, “A” e “B” 
passam a proferir diversos palavrões, um contra o outro. Em seguida, “A” cospe na face de 
“B”, que, de imediato, saca um revólver e contra ele atira, matando-o. Nada obstante o início 
do problema seja fútil (discussão sobre futebol), a razão que levou à prática da conduta 
homicida não apresenta essa característica.” (Direito Penal esquematizado. 3ª ed., São 
Paulo: Método, 2011, p. 31). Vale ressaltar, no entanto, que “a discussão anterior entre vítima 
e autor do homicídio, por si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil” (AgRg no REsp 
1113364/PE, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 06/08/2013). 
Assim, é preciso verificar a situação no caso concreto. 
Caiu em prova: é possível que uma pessoa pratique homicídio qualificado por motivo fútil 
agindo com dolo eventual? SIM. Nesse sentido: STF. 2ª Turma. HC 111442/RS, rel. Min. 
Gilmar Mendes, 28/8/2012. 
É possível que o homicídio seja qualificado por motivo fútil (art. 121, § 2º, II) e, ao mesmo 
tempo, privilegiado (art. 121, § 1º)? NÃO. A jurisprudência somente admite que um 
homicídio seja qualificado e privilegiado ao mesmo tempo se esta qualificadora for de 
natureza objetiva (ex: meio cruel, surpresa). Se a qualificadora for subjetiva, entende-se que 
ela é incompatível com o privilégio. Veja essa afirmativa correta: “a presença de 
qualificadoras não impede necessariamente o reconhecimento do homicídio privilegiado 
(MP/SE – 2010)”. 
Observação: o homicídio não pode ser “duplamente qualificado” (expressão incorreta) por 
motivo torpe e fútil, uma vez que um exclui o outro, se é fútil não é torpe e vice-versa. 
 QUANTOS AOS MEIOS EMPREGADOS (INCISO III) 
Meio Cruel 
Comentários: a qualificadora é a seguinte: 
 § 2º - Se o homicídio é cometido: III - com emprego de veneno, 
fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, 
ou de que possa resultar perigo comum; 
Observação: é claro que não vou ficar explicando todo o inciso III, já que ele é auto 
explicativo. Vou me concentrar nos temas mais complexos que é o que cai em prova. Qual é o 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
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recurso utilizado no inciso I, neste inciso e no inciso IV pelo legislador? Interpretação 
analógica. Ele dá exemplos de meios cruéis, insidiosos, ele dá exemplos de execuções que 
possam executar perigo comum. Depois que fez isso, encerra de maneira genérica, permitindo 
ao aplicador encontrar outros casos. Como no inciso I, o inciso III, trabalha com interpretação 
analógica. É o legislador dizendo que não tem como prever todos os meios insidiosos, 
cruéis, e que possam resultar em perigo comum: “Juiz, encontre outros!”. 
VENENO 
Comentários: eu quero explicar o emprego de veneno. O homicídio quando é praticado com 
essa qualificadora é chamado venefício. Vamos conceituar veneno (estou conceituando meio 
de execução, veneno): “Veneno: substância, biológica ou química, animal, mineral ou 
vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do organismo humano.” 
Quando eu falo em veneno o aluno tem mania de veneno de matar rato. Não. Eu não 
cataloguei como proibida. É qualquer substância capaz de perturbar o organismo humano. 
Açúcar para o diabético é um exemplo porque é um veneno. Aquele que introduz no diabético 
uma quantidade de açúcar, querendo, com isso, destruir ou perturbar as suas funções vitais, 
praticou crime. 
Observação: detalhe importantíssimo: “Para incidir a qualificadora, é imprescindível que a 
vítima desconheça estar ingerindo a substância venenosa (ignora que está sendo 
envenenada).” Presta atenção: Isso significa que se a vítima sabe, não incide esta 
qualificadora. Se ela sabe que está sendo envenenada, não incide esta qualificadora. Caiu no 
MP/MG: a vítima estava um bar, o agente colocou uma arma em sua cabeça e a mandou 
beber o veneno. Ou você morre com o veneno ou você morre com tiro na cabeça. O 
examinador perguntou: homicídio simples ou qualificado? Entenderam a sacanagem? Pelo 
emprego de veneno não seria qualificado porque a vítima sabia que estava ingerindo veneno. 
Mas isso não significa que o homicídio será simples. Haverá a qualificadora que dificultou 
a defesa do ofendido. Quando ele sabe que está sendo envenenado pode não estar 
presente esta qualificadora, mas pode estar presente outra e o homicídio não será 
simples. Desaparece a qualificadora do emprego de veneno, mas permanece a do recurso que 
dificultou a defesa do ofendido. Teve candidato que sacou a do veneno e classificou como 
homicídio simples, mas errou porque continua qualificado, só que por outro motivo. 
TORTURA 
Comentários: agora prestem atenção. É importante o que vou falar. “Com emprego de 
veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura.” Cuidado! Esse crime do código penal não se 
confunde com a tortura qualificada pela morte na lei de tortura. O art. 121, § 2º, III não 
se confunde com o art. 1º, § 3º da Lei 9.455/97. No Código Penal eu tenho tortura como meio 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
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e a morte como um fim doloso. Já na tortura, eu tenho a tortura como um fim e a morte como 
resultado culposo. Resultado qualificador culposo. Na verdade, no art. 121, § 2º, III, o crime é 
doloso. No art. 1º, § 3º, da Lei de Tortura, eu tenho um crime preterdoloso. Pronto. Você 
nunca mais erra. Se o agente, com o seu comportamento, quis a morte e usou a tortura como 
meio, art. 121, § 2º, III. Se o agente queria torturar e a morte foi um resultado não querido, a 
lei é especial (tortura qualificada pela morte culposa). Então, no seu problema, o que você 
tem que perquirir? Se a tortura era meio ou se era fim. 
FOGO E EXPLOSIVO 
Comentários: nesta hipótese é comum, haja vista o alto potencial destrutivo desse meio 
empregado, que o agente cause dano a propriedade alheia ao utilizar fogo ou explosivo. Neste 
caso, o crime de dano fica absorvido, já que há menção expressa de subsidiariedade no 
artigo 163 do CP. 
ASFIXIA 
Comentários: impedimento da função respiratória (esganadura, estrangulamento, 
enforcamento, sufocação, afogamento, soterramento etc.). Há também a asfixia tóxica que se 
dá por meio de gás asfixiante. Confinamento: a vítima é colocada em um local onde não 
consiga respirar (enterrar a vitima viva, por exemplo). 
MEIO INSIDIOSO 
Comentários: emprego de uma armadilha ou fraude que impede a vítima de perceber que está 
ocorrendo um crime (sabotagem do freio do veículo ou do motor do avião). 
JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA STF E STJ 
Decidiram: homicídio qualificado pelo meio cruel e reiteração de golpes na vítima. O juiz, 
na decisão de pronúncia, só podefazer o decote (retirada) da qualificadora imputada se 
ela for manifestamente improcedente, ou seja, se estiver completamente destituída de 
amparo nos elementos cognitivos dos autos. Isso porque o verdadeiro julgador dos 
crimes dolosos contra a vida são os jurados. O juiz togado somente deve atuar em casos 
excepcionais em que a pretensão estatal estiver claramente destituída de base empírica idônea. 
O fato de o agente ter praticado o crime com reiteração de golpes na vítima, ao menos em 
princípio e para fins de pronúncia, é circunstância indiciária do “meio cruel”, previsto no art. 
121, § 2º, III, do CP. STJ. 6ª Turma. REsp 1.241.987-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis 
Moura, julgado em 6/2/2014. 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
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POSSA PROVOCAR PERIGO COMUM 
Comentários: Além da vítima a conduta do agente causa risco a um número elevado e 
indeterminado de pessoas (inundação, desabamento ou disparo contra multidão). A doutrina 
diz que a mera possibilidade de risco já qualifica o crime, dispensando o risco concreto. 
Por exemplo, agente que corta a energia da UTI para matar paciente, ignorando que o hospital 
está vazio (exemplo de Damasio). Se utilizar fogo e explosivo e com isso causar perigo 
comum, não se aplica esta qualificadora, já que há qualificadora específica para este caso. 
Quanto ao concurso de crimes formaram-se duas correntes: 
a. 1º Corrente: entende que o agente responde em concurso com crime de perigo 
comum (art. 250 e seguintes do CP). 
b. 2º Corrente: defende que não se aplica o concurso, pois neste caso haveria bis in iden. 
 MODO SURPRESA (ART. 121, § 2º, IV) 
 § 2º - Se o homicídio é cometido: IV - à traição, de emboscada, ou 
mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne 
impossível a defesa do ofendido; 
Análise do tipo: pergunto: qual o recurso de que se vale o legislador no inciso IV? Também 
interpretação analógica. Ele dá exemplo de recursos que tornam impossível ou mais difícil a 
defesa do ofendido e termina de maneira genérica, permitindo ao juiz encontrar outros casos. 
Os incisos I, III e IV trabalham com interpretação analógica: “juiz encontre outros casos que 
com esses se aproximam.” 
Traição: o agente se aproveita de uma prévia confiança (já existente) que a vítima nele 
deposita (esposa em relação ao marido, pai em relação ao filho). Se não houver confiança 
prévia passa a ser dissimulação. É uma qualificadora objetiva que surge no modo como o 
crime é executado e não com base na situação que gera confiança. 
Emboscada: agente aguarda a passagem da vítima em determinado local (assassinato do 
presidente Kennedy). A palavra emboscada vem de esperar no bosque. 
Dissimulação recurso que engana a vítima e permite a aproximação do agente para realizar a 
conduta. Pode ser material (disfarce) moral (simula amizade ou admiração). Neste caso, 
podemos citar como exemplo o conhecido caso do maníaco do parque. Neste inciso 
dispensa-se a confiança prévia da vítima. 
 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
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Qualquer outro recurso que dificulte ou impossibilite a defesa da vítima 
Comentários: neste caso usa-se uma forma genérica que permite interpretação analógica (tiro 
pelas costas, pessoa dormindo, em coma, presa, linchamentos), ou seja, quando a conduta 
não se encaixa nas hipóteses anteriores deste inciso. 
Caiu em prova: MP/MG: A premeditação qualifica o crime? Homicídio premeditado é 
qualificado? “A premeditação não constitui circunstância qualificadora do homicídio (deve 
ser considerada pelo juiz na fixação da pena-base).” Cuidado! Homicídio premeditado não é 
qualificado. A premeditação, por si só, não gera qualificadora. 
Caiu em prova II: MP/MG e Magistratura/PR (caiu em um seguido do outro): vocês acham 
que a idade da vítima pode qualificar o crime nos termos do inciso IV? Vamos imaginar uma 
vítima de idade avançada. É algo que dificulta ou torna impossível a defesa do ofendido? 
Ainda que seja uma baita de uma idosa. Ou jogar uma menina de 06 anos do 10º andar do 
edifício. O inciso IV fala de “outro recurso”. Recurso é o que o agente utiliza. Idade não é 
recurso. Não é algo de que ele se valha. “A idade da vítima, por si só, não possibilita a 
aplicação da qualificadora do inciso IV, porquanto constitui característica do ofendido, e 
não recurso procurado pelo agente.” Esta foi exatamente a resposta do MP/MG seguindo 
jurisprudência majoritária. Mãe espancou o seu filho de 05 anos até a morte. O que importa é 
o seguinte: no júri o promotor defendeu essa tese. Com 05 anos, como ela ia se defender? O 
fato é que o tribunal reformou: “o fato de ela ter 05 anos de idade não pode qualificar o 
crime”. 
 FIM ESPECIAL (ART. 121, § 2º, V) 
§ 2º - Se o homicídio é cometido: 
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro 
crime. 
Homicídio por Conexão: é a última qualificadora. Aqui, eu tenho o homicídio ligado a outro 
crime. Ou anterior ou posterior. Por isso o inciso V traz o que chamamos de conexão. Traz 
duas espécies de conexão: 
1. Conexão teleológica – Aqui, o agente mata para assegurar a execução de outro crime 
futuro (detalhe importante). 
2. Conexão conseqüencial – Na conexão conseqüencial, o agente mata para assegurar a 
impunidade, vantagem ou ocultação de outro crime, sendo que este outro crime, na 
conexão conseqüencial é um crime passado, pretérito. 
Observação: então, você matou, pensando no crime de amanhã, conexão teleológica. Você 
matou, pensando no crime de ontem, conexão conseqüencial. 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
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Exemplo: olha o exemplo: matei o segurança da Debora Secco para estuprá-la. Eu dou esse 
exemplo desde 1999. Extremamente atualizado. Eu matei para assegurar a execução de um 
crime futuro. Conexão teleológica. Agora, eu matei uma pessoa que me reconheceu como 
estuprador da Debora Secco. Matei para assegurar e impunidade ou ocultação de um crime 
passado. 
Conexão temporal? Isso caiu no MP/MG. A conexão temporal, também conhecida como 
conexão ocasional, gera qualificadora? Neste caso, o agente mata por ocasião de outro 
crime, sem vínculo finalístico. Qualifica o crime? Não. A conexão ocasional não está 
abrangida pelo § 2º. Cuidado! Ele só se refere à conexão teleológica e conseqüencial. Tem 
que ter um vínculo finalístico entre o crime e o homicídio, seja esse crime passado ou futuro. 
Caiu em prova: olha o que vou perguntar agora: na conexão teleológica, mata-se para 
assegurar a execução de outro crime. Na conseqüencial, a gente mata para assegurar 
impunidade, vantagem ou ocultação de outro crime. Esse outro crime tem que ter sido 
praticado pelo próprio agente ou pode ter sido praticado por outra pessoa? Entenderam a 
pergunta? Eu mato para assegurar a execução de outro crime a ser cometido pelo meu 
irmão. Incide a qualificadora? Ou o agente do homicídio tem que ser o próprio agente 
do crime futuro e pretérito. Pessoal, não precisa haver coincidência de agentes. Esse 
outro crime não precisa ter sido praticado pelo homicida. Pode ter sido praticado por outra 
pessoa. Então, não se exige coincidência de sujeitos ativos. 
Caiu em prova II: na conexão teleológica o agente mata para assegurar a execução de outro 
crime. Pergunto: para incidir a qualificadora tem que ocorrer esse outro crime ou não? Eu 
matei o segurança da Debora Secco para estuprá-la. Eu não estuprei. Vai incidir a 
qualificadora mesmo assim? Sim. Basta matar com esta finalidade. Ocorrendo outro crime, 
haverá concurso de delitos. Ocorrendo ou não o outro crime, haverá a qualificadora. 
Caiu em prova III: se o homicida agiu para assegurar a ocultação de uma contravenção 
penal? Incide essa qualificadora? Analogia in malam partem. Agora, cuidado com a resposta.Se eu matei para assegurar a impunidade de uma contravenção penal, não é o homicídio dessa 
qualificadora porque ela fala em crime. Querer abranger contravenção é analogia in malam 
partem. Porém, não estou dizendo que o crime será de homicídio simples. Pode ser uma 
hipótese de futilidade ou mesmo torpeza. Então, qualificado pelo inciso V não pode porque 
fala em crime e não abrange contravenção. Mas pode ser que esse homicídio não seja simples, 
pode ser que esteja qualificado pela torpeza ou pela futilidade. Ou torpeza ou futilidade. 
Parágrafo 6º do artigo 121: a pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime 
for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por 
grupo de extermínio. Tal parágrafo foi inserido pela 12.720/2012. 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
17 
Observações: o que vem a ser grupo de extermínio já que a lei dispõe: “Praticado em atividade 
típica de grupo de extermínio (chacina)”. Esse dispositivo é extremamente criticado. Primeiro 
porque, o que significa atividade de extermínio? Reparem que é um conceito extremamente 
poroso. Atividade de extermínio, a doutrina acaba dizendo: É a famosa chacina. 
Caiu em prova (MP/SP 2013): quantas pessoas devem integrar este grupo? Atividade típica 
de grupo de extermínio. Reparem que o legislador fala em 'grupo ainda que praticado por um 
só agente'. O Brasil tem grupo de uma pessoa só? Não. Na verdade, ele está querendo dizer, 
'ainda que o crime seja cometido por uma só pessoa daquele grupo'. Então, tem que haver 
um grupo. Quantas pessoas formam um grupo? Duas formam um grupo ou formam um par? 
 Conclusão: Diz que concorda que grupo não sem confunde com par, mas essa 
expressão grupo precisa de um tipo penal próximo e o tipo penal mais próximo e o tipo penal 
mais próximo de grupo é o de associação criminosa. Se associação precisa de três, também o 
grupo precisa de três. A interpretação tem que ser feita de acordo com o que existe e o que 
existe mais próximo do grupo criminoso é associação criminosa que exige apenas três 
elementos). E se são três para formar uma associação, serão três para formar um grupo. Por 
causa de uma pessoa só, mas vejam que uma pessoa só pode diferenciar o crime de 
hediondo para não hediondo. 
Observação: uma coisa é certa: Este homicídio é hediondo, mesmo que simples. Ele não 
precisa ser qualificado. Vejam que o homicídio simples pode ser hediondo quando 
praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Esse homicídio é hediondo, ainda 
que simples. Se te perguntarem: o homicídio simples é hediondo? Pode ser, desde que 
praticado em atividade típica de grupo de extermínio. Como chama esse homicídio simples 
que depende desta condição (ser praticado por grupo de extermínio) para ser hediondo? 
Homicídio condicionado: Já caiu isso em concurso: MP/PR. O que é homicídio 
condicionado? É o homicídio simples, hediondo porque praticado em atividade típica de 
grupo de extermínio. 
Caiu em prova IV: por fim, eu pergunto: vocês acham possível no mesmo fato coexistirem 
várias qualificadoras, que é o que o William Bonner, o Ratinho, O Datena ou sua vizinha 
chamam de homicídio duplamente ou triplamente qualificado? Vocês acham que existe isso? 
Não existe. Não existe isso de duplamente ou triplamente qualificado. Ou o homicídio é 
simples ou ele é qualificado. O que pode acontecer é de ele ser qualificado por várias 
circunstâncias. Vamos supor que ele praticou um crime por motivo torpe e meio cruel. É 
possível ou não? Perfeitamente possível a coexistência dessas duas qualificadoras? 
Perfeitamente possível. E aí, o que o juiz faz? Ele vai usar, por exemplo, o inciso I como 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
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qualificadora. A partir desse momento, o inciso III não precisa mais qualificar porque o crime 
já está qualificado. O crime do inciso III morre? Não! 
1ª Corrente – Diz que a circunstância do inciso III tem que ser usada na fixação da 
pena-base como circunstancia judicial desfavorável. 
2ª Corrente – Diz que essa outra circunstância deve servir como agravante, pois 
todas estão previstas também no art. 61. 
Observação: eu, até algum tempo afirmava com toda convicção: a primeira corrente é do 
Supremo. Mas recentemente o STF e o STJ adotaram a segunda corrente. Não digo que 
mudou de posição, mas há julgados recentes dizendo que a circunstância não utilizada deve 
servir como agravante. 
 É POSSÍVEL HOMICÍDIO QUALIFICADO PRIVILEGIADO? 
Comentários: sim. Quando? Isso já foi pergunta para defensor público no TO, no ES, 
magistratura/SP. 
O § 1º traz as privilegiadoras: 
1. Motivo de relevante valor social, 
2. Motivo de relevante valor moral e a 
3. Emoção. 
O § 2º traz qualificadoras e prevê cinco qualificadoras: 
1. Motivo torpe – subjetiva (ligada ao motivo) 
2. Motivo fútil – subjetiva (ligada ao motivo) 
3. Meio cruel – objetiva (ligada ao modo de execução) 
4. Modo surpresa – objetiva (ligada ao modo de execução) 
5. Fim especial (conexão) – subjetiva (ligada ao motivo) 
Vimos que o que está grifado é objetivo e o resto é subjetivo. E vocês vão aplicar a lei da 
física que diz que os iguais se repelem. Os opostos se atraem. Então, só é possível homicídio 
qualificado privilegiado se a qualificadora for de natureza objetiva. Qualificadora de 
natureza subjetiva não coexiste com privilégio. 
Conclusão: professor, você está me dizendo que eu nunca terei um privilégio com 
qualificadora subjetiva (nunca! Você só terá privilégio convivendo com qualificadora 
objetiva). Então, por que quando eu tenho privilégio subjetivo e eu tenho qualificadora 
subjetiva desaparece a qualificadora subjetiva e não desaparece o privilégio? Por que 
prepondera o privilégio sobre a qualificadora, já que os dois não podem conviver? “Sendo 
assim, que desapareça o privilégio e fique a qualificadora.” Eu já expliquei isso. É que os 
jurados respondem primeiro o privilégio. A partir do momento que os jurados 
reconhecem o privilégio, está prejudicada a quesitação da qualificadora subjetiva. A 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
19 
partir do momento em que o jurado reconheceu o privilégio, o juiz já julga prejudicado 
qualquer quesito referente à qualificadora subjetiva. Então, o privilégio prepondera, não 
porque é mais importante, mas porque ele é reconhecido em primeiro lugar. 
JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA STF E STJ 
Decidiram: Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo 
torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de 
violência doméstica e familiar. Isso se dá porque o feminicídio é uma qualificadora de 
ordem OBJETIVA - vai incidir sempre que o crime estiver atrelado à violência doméstica e 
familiar propriamente dita, enquanto que a torpeza é de cunho subjetivo, ou seja, continuará 
adstrita aos motivos (razões) que levaram um indivíduo a praticar o delito. STJ. 6ª Turma. HC 
433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/04/2018 (Info 625) 
 Esse homicídio qualificado privilegiado continua hediondo? 
1ª Corrente: o homicídio qualificado privilegiado permanece hediondo, pois a lei 
8.072/90 não excepciona esta figura. 
2ª Corrente: o homicídio qualificado privilegiado deixa de ser hediondo, pois o 
privilégio prepondera sobre a qualificadora. STF e STJ (é pra usar essa corrente 
em prova). 
Observação: como é que a segunda corrente chegou à conclusão de que o privilégio 
prepondera sobre a qualificadora? Qual foi o contorcionismo que fez a segunda corrente para 
chegar nessa conclusão? Eu já falei sobre isso. Essa segunda corrente trabalha fazendo 
uma analogia in bonam partem com o art. 67, do CP, que vocês já conhecem. 
Concurso de Circunstâncias Agravantes e Atenuantes 
Art. 67 - No concurso de agravantese atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite 
indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos 
motivos determinantes do crime (ou seja, as circunstâncias subjetivas), da 
personalidade do agente e da reincidência. 
Eu vou explicar como ela faz essa analogia. O art. 67, do Código Penal trabalha com 
agravantes e atenuantes. E diz: prepondera a agravante subjetiva. Vamos fazer uma analogia: 
ao invés de agravantes, vamos colocar qualificadora. Ao invés de atenuantes, vamos colocar 
privilégios. E se diz que prepondera a subjetiva é porque prepondera o privilégio, que é 
o único subjetivo. A qualificadora, nesse caso, tem que ser objetiva, senão não existe 
coexistência. Então é uma analogia in bonam partem. Se o homicídio é qualificado e 
privilegiado é porque a qualificadora é, necessariamente, objetiva. O privilégio é sempre 
subjetivo. Se o art. 67 está dizendo que prepondera o que é subjetivo, prepondera o privilégio. 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
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Conclusão: considerando que a lei de crimes hediondos dispõe que somente o homicídio 
qualificado é hediondo surge o questionamento: o homicídio qualificado-privilegiado é 
hediondo? Damásio diz que NÃO fundamentando sua posição no artigo 67 do CP que diz que 
no concurso entre agravantes e atenuantes prevalece as de caráter subjetivo. Outra corrente 
afirma que SIM ao afastar o artigo 67 por entender que qualificadora e privilégio são 
aplicados em momentos distintos da pena, não são da mesma espécie como a agravante e 
a atenuante. 
 HOMICÍDIO CULPOSO – Art. 121, § 3º 
Homicídio Culposo 
§ 3º - Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de 01 (um) a 03 (três) anos. 
 
Conceito: Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência, 
negligencia e imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, 
provocando o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa 
inconsciente), jamais querido ou aceito. 
Observação: reparem que nesse conceito eu já estou mostrando para o examinador que eu sei 
que existe uma culpa, chamada culpa consciente (culpa com previsão), e sei que existe uma 
culpa chamada culpa inconsciente (culpa sem previsão, mas com previsibilidade). Mas seja 
uma, seja outra, jamais o resultado morte é querido ou aceito na hipótese de dolo direto ou 
eventual. 
Violação do dever de cuidado: negligencia, imprudência e imperícia são hipóteses de 
violação do dever de cuidado. Eu vou explicar isso bem rápido (é matéria da parte geral). 
Vocês sabem que há três formas de violação do dever de cuidado: 
a) Negligencia – Ausência de cautela. 
b) Imprudência - Afoiteza 
c) Imperícia – Falta de aptidão técnica para o exercício de arte, ofício ou profissão. 
Culpa concorrente da vítima: a culpa concorrente da vítima não isenta o agente de 
responsabilidade. O direito penal não trabalha com compensação de culpas. Porém a culpa 
concorrente da vítima pode atenuar a responsabilidade do agente, nos termos do art. 59, do 
CP: 
Artigo 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta 
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e 
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, 
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e 
prevenção do crime: 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
21 
Observação: isso é muito comum em processo por crime culposo o agente querer colocar 
também a culpa na vítima. Se ela teve culpa concorrente, não vai elidir a sua 
responsabilidade. Pode atenuar. Diferente se a culpa é exclusiva da vítima. Aí não tem culpa, 
óbvio. 
Homicídio culposo na direção de veículo automotor 
Análise do tipo: homicídio culposo na direção de veículo automotor não se ajusta mais ao 
art. 121, § 3º. Agora é o art. 302, do CTB. Isso é de 1997. 
 
CTB - Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: 
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se 
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
Exemplos: eu aplico o CTB se o agente estiver na direção do veículo automotor. Não basta o 
veículo ser o instrumento do crime. Ele tem que estar dando direção ao veículo, mesmo que 
motor esteja desligado. Eu peguei um caso de um rapaz que empurrava o seu carro, porque 
acabou a gasolina. Depois ele viu que tinha uma ladeira e o carro deslizou e matou uma 
pessoa. Ele respondeu pelo CTB, porque estava dando movimento e direção ao carro, 
mesmo com o motor desligado. Outro caso que o delegado colocou no CTB: a pessoa 
colocou o carro na ladeira, não acionou corretamente o freio de mão, voltou da padaria, não 
encontrou o carro. O carro parou na cabeça de um mendigo que morreu. O delegado indiciou 
no art. 302, do CTB. Está certo? Não! Ele não estava dando direção ao carro. Ele mal 
acionou o freio de mão. É o art. 121, do Código Penal. 
Observação: olha por que é importante fazer essa diferença. O art. 121, § 3º, do Código Penal 
(homicídio culposo) tem uma pena que varia de 01 a 03 anos. Reparem que permite até 
suspensão condicional do processo. Agora, o art. 302, do CTB que pune igualmente o 
homicídio culposo, porém na direção de veículo automotor, tem uma pena que varia de 02 a 
04 anos. Não admite mais suspensão condicional do processo. O delegado, quando falou que 
aquele senhor que mal acionou o freio de mão praticou o art. 302 estava retirando a 
possibilidade de suspensão condicional do processo. Por isso, corrige-se no momento do 
oferecimento da denúncia. Agora, pergunto: dois crimes idênticos, com o mesmo resultado, 
justificam uma pena mais severa no CTB? Isso é inconstitucional ou não é? Tem uma 
minoria que defende a inconstitucionalidade por falta de proporcionalidade. Para essa 
minoria, que diz que as penas são proporcionais, o desvalor do resultado no Código Penal tem 
o mesmo desvalor do CTB. O desvalor do resultado é o mesmo. Sendo assim, por que tem 
conseqüências tão diferentes? Logo, inconstitucional, fere o princípio da proporcionalidade. 
Se você olhar o crime só sob esta ótica, você vai concordar com isso. Mas não é a ótica 
correta porque o crime não é constituído só de resultado. Antes de ter resultado, ele tem 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
22 
conduta. Se você olhar o desvalor da conduta, logo perceberá que o desvalor da conduta é 
diferente. A conduta é muito mais perigosa no trânsito do que fora dele, merecendo uma pena 
maior. A conduta é potencialmente mais lesiva do que fora do trânsito. Assim, o que justifica 
a diferença de pena não é o desvalor do resultado, mas o desvalor da conduta. E isso é o que 
prevalece. Se você olhar só o desvalor do resultado, vai ser obrigado a concordar com a 
inconstitucionalidade por falta de proporcionalidade. Se você se lembrar do desvalor da 
conduta, encontra a razão para a diferença de penas. 
 MAJORANTES DO HOMICÍDIO 
Análise do tipo: o art. 121, § 4º, tem que ser dividido em duas partes: a primeira parte diz 
respeito às majorantes do homicídio culposo, a segunda, do homicídio doloso. 
§ 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o 
crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, 
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura 
diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em 
flagrante. 
São quatro majorantes para o homicídio culposo: 
INOBSERVÂNCIA DE REGRA TÉCNICA DE PROFISSÃO, ARTE OU OFÍCIO. 
Comentários: isso está lembrando o quê? Imperícia. Qual é a diferença desta majorante para 
imperícia? Não se confunde com imperícia porque na imperícia falta a aptidão técnica. Ele 
não está preparado ou gabaritado para o ato que vai executar. Nesse parágrafo, ele temaptidão técnica, mas não observa. Então, na verdade, estou diante de uma negligência 
profissional. É aqui que você inclui o erro médico. O médico domina a técnica. Ele só não 
observa aquilo que ele domina. É aqui que entra o erro profissional. Depois de muita 
discussão doutrinária, temos dois julgados dos tribunais superiores. E pasmem, decidiram pela 
pior das hipóteses: o erro do médico serve como negligência para configurar culpa e o 
mesmo erro serve como majorante. Isso é bis in idem. Um ser normal, que não tem 
capacidade para o ato, responde por homicídio culposo porque o erro serve para gerar a 
negligência. O profissional habilitado para o ato e que comete o erro, além dele já servir para 
configurar a negligencia, serve também para gerar o aumento. Será que ele não está sendo 
punido duas vezes pelo mesmo erro, em bis in idem? Duas correntes quanto ao homicídio 
culposo e erro profissional: 
1ª Corrente: Ocorrência do bis in idem (STF: HC 95078, julgado em 10/03/09); 
2ª Corrente: Não ocorrência do bis in idem. STJ: HC 63929, julgado em 13/03/07. 
Observação: até 2007/2008, o STF e o STJ estavam falando a mesma língua. Em 2009, 
Cezar Peluso já discordou. São dois julgados importantes. Ocorre que recentemente o STJ 
manteve sua posição: 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
23 
JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA STF E STJ 
Decidiram: homicídio culposo cometido por médico e causa de aumento do art. 121, § 4º 
do CP É possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do 
CP no caso de homicídio culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento 
de regra técnica no exercício da profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in 
idem. Processo STJ. 5ª Turma. HC 181.847-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. para 
acórdão Min. Campos Marques (Desembargador convocado do TJ/PR), julgado em 4/4/2013. 
Comentários ao julgado acima: imagine a seguinte situação hipotética (adaptada em 
relação ao caso concreto): Dr. M, médico, estava realizando uma cirurgia, no entanto, agiu 
com desídia (negligência) ao deixar de observar um procedimento médico indispensável ao 
caso. Em virtude disso, o paciente veio a óbito. Acusação: Dr. M foi denunciado pela prática 
de homicídio culposo (§ 3º do art. 121 do CP), tendo o Ministério Público imputado 
também uma causa de aumento prevista no § 4º do art. 121: Homicídio culposo § 3º Se o 
homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Aumento de pena § 4º No homicídio 
culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra 
técnica de profissão, arte ou ofício. Defesa: a defesa argumentou que não se pode utilizar 
a alegação de que o médico foi negligente para enquadrar sua conduta como homicídio 
culposo (art. 121, § 3º) e valer-se da mesma alegação (negligência) para dizer que ele não 
observou regra técnica de profissão, aplicando a causa de aumento do § 4º. Para a 
defesa, houve bis in idem, tendo em vista que um mesmo fato (“deixar de observar 
determinado procedimento médico”) foi utilizado para enquadrar a conduta como 
homicídio culposo e também para fazer incidir a causa de aumento. Em um caso análogo 
a este, o que decidiu o STJ? A 5ª Turma do STJ, por maioria, decidiu que é possível a 
aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no caso de homicídio 
culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento de regra técnica no exercício 
da profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Isso porque o legislador, ao 
estabelecer a circunstância especial de aumento de pena prevista no referido dispositivo legal, 
pretendeu reconhecer maior reprovabilidade à conduta do profissional que, EMBORA 
TENHA O NECESSÁRIO CONHECIMENTO PARA O EXERCÍCIO DE SUA 
OCUPAÇÃO, não o utilize adequadamente, produzindo o evento criminoso de forma 
culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua profissão. De fato, caso se 
entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que essa majorante 
somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, incidisse em pelo menos duas 
ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para configurar a culpa e a outra para a 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
24 
majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal. Portanto, resumindo as duas 
teses do acórdão: 
1º Tese (Acusação): Dr. M foi denunciado pela prática de homicídio culposo (§ 3º do 
art. 121 do CP), tendo o Ministério Público imputado também a causa de aumento prevista 
no § 4º do art. 121: Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de 
um a três anos. Aumento de pena § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 
(um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou 
ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 
conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. 
2º Tese: (Defesa) A defesa argumentou que não se pode utilizar a alegação de que o 
médico foi negligente para enquadrar sua conduta como homicídio culposo (art. 121, § 3º) e 
valer-se da mesma alegação (negligência) para dizer que ele não observou regra técnica de 
profissão, aplicando a causa de aumento do § 4º. Para a defesa, houve bis in idem, tendo em 
vista que um mesmo fato (“deixar de observar determinado procedimento médico”) foi 
utilizado para enquadrar a conduta como homicídio culposo e também para fazer incidir a 
causa de aumento. O que decidiu o STJ? A 5ª Turma do STJ, por maioria, decidiu que é 
possível a aplicação da causa de aumento de pena prevista no art. 121, § 4º, do CP no 
caso de homicídio culposo cometido por médico e decorrente do descumprimento de regra 
técnica no exercício da profissão. Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Isso 
porque o legislador, ao estabelecer a circunstância especial de aumento de pena 
prevista no referido dispositivo legal, pretendeu reconhecer maior reprovabilidade à 
conduta do profissional que, embora tenha o necessário conhecimento para o exercício 
de sua ocupação, não o utilize adequadamente, produzindo o evento criminoso de 
forma culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua profissão. De fato, 
caso se entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que essa 
majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, incidisse em pelo 
menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para configurar a culpa e a 
outra para a majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal. Vai prestar 
defensoria pública? Primeira corrente. Vai prestar MP? Segunda corrente. 
OMISSÃO DE SOCORRO 
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima 
Comentários: repare que no homicídio culposo a omissão de socorro não configura o art. 
135. Só gera o aumento para evitar bis in idem, naturalmente. Então, é o crime culposo 
majorado por omissão dolosa. Preste atenção nos dois detalhes: 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
25 
• Não incide o aumento quando a vítima é imediatamente socorrida por 
terceiros. Se terceiros se antecipam ao agente e socorre a vítima, é claro que o 
agente não vai responder pelo crime. Se ele disparou culposamente a arma, não 
vai responder pelo crime. 
• Também não incide (salvo no CTB) o aumento no caso de morte instantânea. 
Por quê? É hipótese de socorre inviável. Vai socorrer o quê? 
Observação: nenhuma dessas duas hipóteses autoriza a fazer o seguinte: vamos imaginar que 
você atropelou alguém, saiu do carro e disse: “nossa, que estrago!” A pessoa está viva, mas 
você acha que não vai durar, e só reza por ele. Se você não socorreu porque ia ser inócuo, se 
você acha que é perda de tempo, respondepelo crime com a pena majorada. Anote aí: “Se o 
autor do crime, apesar de reunir condições de socorrer a vítima (ainda com vida), não o 
faz, concluindo pela inutilidade da ajuda, sofrerá o aumento (STF)”. 
AGENTE NÃO PROCURA DIMINUIR AS CONSEQÜÊNCIAS DO SEU ATO 
Não procura diminuir as consequências do seu ato, 
Comentários: reparem como houve uma redundância. Se ele omite socorro, é porque ele não 
procurou diminuir as conseqüências do seu ato. Fragoso já diz isso: redundância. Eu não vou 
nem perder tempo com isso. 
Foge para evitar o flagrante: por que o legislador resolveu majorar a pena quando o agente 
foge para evitar o flagrante? Porque o agente demonstra insensibilidade de espírito e moral e 
prejudica as investigações. Melhor ficar ali no flagrante cuidando do calor dos 
acontecimentos. A maioria da doutrina entende perfeitamente aplicável. Eu, particularmente, 
acho que fere algumas garantias constitucionais, como a de não produzir prova contra si 
mesmo. Você, ao majorar a pena porque o agente está prejudicando a investigação, você está 
obrigando o sujeito a produzir prova contra si mesmo. É o que a AGU não percebeu quando 
mandou aquele esplêndido parecer ao afirmar que não participar do bafômetro é 
desobediência. Tem cabimento isso? Se cair, para AGU, não soprar o bafômetro é 
desobediência. Ela diz que a garantia de não produzir prova contra si não é absoluta. Um 
absurdo, isso ficar ao sabor de um parecer da AGU. A Polícia Rodoviária não está dando bola 
para esse parecer. Não quer soprar, não sopra. Quem diz que eu tenho que confiar no 
bafômetro? 
 MAJORANTE DO HOMICÍDIO DOLOSO – Art. 121, § 4º, in fine 
§ 4º - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o 
crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, 
ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura 
diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em 
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
26 
terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou 
maior de 60 (sessenta) anos. 
Observação: para incidir a majorante do homicídio doloso, é imprescindível que o homicida 
conheça a idade da vítima, sob pena de responsabilidade penal objetiva. Se ele não 
conhece, é um erro de tipo que desaparece na majorante. 
Caiu em prova: MP/MG: Quando eu dei o tiro, a vítima era menor de 14 anos. Quando 
morre, já era maior de 14 anos. Incide o aumento? Ou então, quando dei o tiro, a vítima era 
menor de 60 anos e quando morre é maior de 60 anos. Incide o aumento? Eu sublinhei “se o 
crime é praticado” e nos termos do art. 4º, do CP, considera-se praticado o crime no momento 
da conduta. Então, é no momento da conduta que eu tenho que analisar a idade da 
vítima. Se no momento da conduta ela era menor de 14 ou maior de 60, incide o 
aumento. 
PERDÃO JUDICIAL 
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a 
sanção penal se torne desnecessária. 
Conceito: o que é o perdão judicial (já estudamos isso na parte geral): É o instituto pelo qual 
o juiz, não obstante a prática de um fato típico e antijurídico, por um sujeito 
comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a pena nas hipóteses taxativamente 
previstas em lei, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem 
para o evento. O Estado perde o interesse de punir. O perdão judicial é causa extintiva da 
punibilidade. Está também no art. 107, IX, do CP. Essa causa extintiva da punibilidade, 
diferentemente do perdão do ofendido não precisa ser aceito. O perdão do ofendido, vocês 
sabem, precisa ser aceito. Ou seja, é uma causa bilateral. Já o perdão judicial não precisa ser 
aceito. Dispensa aceitação. Logo, é um ato unilateral. Não é uma faculdade do juiz. É direito 
subjetivo do réu. Preenchidos os requisitos, o juiz tem que perdoar. 
 Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial: 
a. 1ª Corrente: Diz que a natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial é 
condenatória. 
b. 2ª Corrente: Diz que a natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial é 
declaratória extintiva da punibilidade. 
Ah, professor essa é uma discussão puramente acadêmica! Isso não importa, não traz 
repercussão prática! Mas traz. Se você entende que é condenatória, ela interrompe a 
prescrição. Se o promotor não concordar com a decisão do juiz, ele vai recorrer sabendo que 
a prescrição foi interrompida. Agora, se você entende que é declaratória extintiva da 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
27 
punibilidade, não interrompe a prescrição. Significa o quê? Se o promotor não concordar 
com o perdão concedido pelo juiz, ele vai recorrer sabendo que a prescrição corre desde o 
recebimento da denúncia. Quer dizer, a chance de prescrever é enorme. Se você entende que é 
condenatória, serve como título Executivo. Esse perdão judicial pode ser executado no cível. 
Se você entende que é meramente declaratória extintiva, não serve como título executivo. 
Precisa do processo de conhecimento. Capez encontra uma terceira repercussão prática. Qual 
é? Ele diz o seguinte: se você entende que é condenatória, depende do devido processo 
legal. Se você entende que é declaratória extintiva da punibilidade, cabe na fase de 
inquérito policial porque o juiz pode reconhecer a extinção da punibilidade a qualquer 
tempo. Você pode arquivar IPL com base no perdão judicial. Você pode rejeitar denúncia 
com base no perdão judicial. Vocês concordam com o Capez? Vocês já anotaram uma 
expressão que demonstra que essa tese do Capez não pode prevalecer. Sim, porque perdão 
judicial reconhece culpa. Como reconhece culpa, sempre depende do devido processo 
legal, seja condenatória, seja declaratória extintiva da punibilidade. É só vocês pensarem 
no que estamos falando: perdão! Você só perdoa quem tem culpa. Como é que você pode 
perdoar alguém dizendo que ele tem culpa na fase de inquérito e não dando a oportunidade 
dele tentar fazer valer a sua inocência? Qual das duas correntes prevalece? A segunda 
corrente. É a Sumula 18, do STJ: 
STJ Súmula nº 18 – DJ 28.11.1990 – A sentença concessiva do perdão judicial é 
declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito 
condenatório. 
 
FEMINICÍDIO 
Introdução: foi publicada em 10/03/2015 a Lei n.° 13.104/2015, que prevê o FEMINICÍDIO 
como qualificadora do crime de homicídio, incluindo-o no rol dos crimes hediondos. Vejamos 
algumas impressões iniciais a respeito da novidade legislativa. 
O que é feminicídio? Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por 
“razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, 
desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo 
feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino. 
Caiu em prova (oral magistratura RS): existe diferença entre feminicídio e femicídio? 
Femicídio: significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher); 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
28 
Feminicídio: significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de 
sexo feminino” (por razões de gênero). A nova Lei trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune 
mais gravemente aquele que mata mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por 
razões de gênero). Não basta a vítima ser mulher. 
Observação: como era a punição do feminicídio? Antes da Lei n.° 13.104/2015, não havia 
nenhuma punição especial pelo fato de o homicídio ser praticado contra a mulher por razões 
da condição de sexo feminino. Em outras palavras, o feminicídio era punido, de forma 
genérica, como sendo homicídio (art.121 do CP). A depender do caso concreto, o feminicídio 
(mesmo sem ter ainda este nome) poderia ser enquadrado como sendo homicídio qualificado 
por motivo torpe (inciso I do § 2º do art. 121) ou fútil (inciso II) ou, ainda, em virtude de 
dificuldade da vítima de se defender (inciso IV). No entanto, o certo é que não existia a 
previsão de uma pena maior para o fato de o crime ser cometido contra a mulher por razões de 
gênero. A Lei n.° 13.104/2015 veio alterar esse panorama e previu, expressamente, que o 
feminicídio, deve agora ser punido como homicídio qualificado. 
Observação II: a Lei Maria da Penha já não punia isso? NÃO. A Lei Maria da Penha não 
traz um rol de crimes em seu texto. Esse não foi seu objetivo. A Lei n.° 11.340/2006 trouxe 
regras processuais instituídas para proteger a mulher vítima de violência doméstica, mas sem 
tipificar novas condutas, salvo uma pequena alteração feita no art. 129 do CP. Desse modo, o 
chamado feminicídio não era previsto na Lei n.° 11.340/2006, apesar de a Sra. Maria da 
Penha Maia Fernandes, que deu nome à Lei, ter sido vítima de feminicídio duas vezes 
(tentado). Vale ressaltar que as medidas protetivas da Lei Maria da Penha poderão ser 
aplicadas à vítima do feminicídio (obviamente, desde que na modalidade tentada). 
Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum). O sujeito ativo do 
feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher. 
Sujeito passivo: obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, 
idosa, desde que do sexo feminino). 
Questões de concurso: mulher que mata sua companheira homoafetiva? Pode haver 
feminicídio se o crime foi por razões da condição de sexo feminino. Homem que mata seu 
companheiro homoafetivo? Não haverá feminicídio porque a vítima deve ser do sexo 
feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio. 
Transexual, homossexual e travesti. Diferenças 
Transexual: é o indivíduo que possui características físicas sexuais distintas das 
características psíquicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a transexualiade é um 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
29 
transtorno de identidade de gênero. A identidade de gênero é o gênero como a pessoa se 
enxerga (como homem ou mulher). Assim, em simples palavras, o transexual tem uma 
identidade de gênero (sexo psicológico) diferente do sexo físico, o que lhe causa intenso 
sofrimento. Existem algumas formas de acompanhamento médico oferecidas ao transexual, 
dentre elas a cirurgia de redesignação sexual (transgenitalização), que pode ocorrer tanto para 
redesignação do sexo masculino em feminino, como o inverso. A cirurgia para a 
transformação do sexo masculino em feminino é chamada de “neocolpovulvoplastia” e 
consiste, na maioria dos casos, na retirada dos testículos e a construção de uma vagina 
(neovagina), utilizando-se a pele do pênis ou de parte da mucosa do intestino grosso. O 
Conselho Federal de Medicina editou a Resolução 1652/2002-CFM regulamentando os 
requisitos e protocolos médicos necessários para a realização da cirurgia de 
transgenitalização. 
Homossexualidade: importante, ainda, esclarecer que transexual não é o mesmo que 
homossexual ou travesti. A definição de cada uma dessas terminologias ainda está em 
construção, sendo ponto polêmico, mas em simples palavras, a homossexualidade (não se fala 
homossexualismo) está ligada à orientação sexual, ou seja, a pessoa tem atração emocional, 
afetiva ou sexual por pessoas do mesmo gênero. O homossexual não possui nenhuma 
incongruência de identidade de gênero. 
Travestis: a travesti (sempre se utiliza o artigo no feminino), por sua vez, possui 
identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, mas, diferentemente dos transexuais, não 
deseja realizar a cirurgia de redesignação sexual. 
Conclusão: Vítima homossexual (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, 
considerando que o sexo físico continua sendo masculino. Vítima travesti (sexo biológico 
masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo 
masculino. 
Observação: Transexual que realizou cirurgia de transgenitalização (neovagina) pode 
ser vítima de feminicídio se já obteve a alteração do registro civil, passando a ser 
considerada mulher para todos os fins de direito? NÃO. A transexual, sob o ponto de vista 
estritamente genético, continua sendo pessoa do sexo masculino, mesmo após a cirurgia. Não 
se discute que a ela devem ser assegurados todos os direitos como mulher, eis que esta é a 
expressão de sua personalidade. É assim que ela se sente e, por isso, tem direito, inclusive de 
alterar seu nome e documentos, considerando que sua identidade sexual é feminina. Trata-se 
de um direito seu fundamental e inquestionável. No entanto, tão fundamental como o direito à 
expressão de sua própria sexualidade, é o direito à liberdade e às garantias contra o poder 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
30 
punitivo do Estado. O legislador tinha a opção de, legitimamente, equiparar a transexual à 
vítima do sexo feminino, até porque são plenamente equiparáveis. Porém, não o fez. Não 
pode o intérprete, a pretexto de respeitar a livre expressão sexual do transexual, valer-se de 
analogia para punir o agente. Enfim, a transexual que realizou a cirurgia e passou a ter 
identidade sexual feminina é equiparada à mulher para todos os fins de direito, menos 
para agravar a situação do réu. Isso porque, em direito penal, somente se admitem 
equiparações que sejam feitas pela lei, em obediência ao princípio da estrita legalidade. Deve-
se salientar, contudo, que, em sentido contrário, a Professora Alice Bianchini, maior 
especialista do Brasil sobre o tema, defende, em palestra disponível no Youtube, que a 
transexual que realizou a cirurgia pode sim ser vítima de feminicídio. 
Observação II: há inúmeros julgados aplicando a Lei Maria da Penha aos transexuais com 
efetivaram alteração no registro de nascimento, contudo, cumpre ressaltar que não se trata da 
mesma situação explicitada no parágrafo acima, já que a Lei Maria da Penha não é uma lei 
penal. 
Razões de condição de sexo feminino 
Comentários: “Razões de gênero”, essa expressão foi substituída no Congresso. A 
expressão escolhida é péssima. A redação é confusa, truncada e não explica nada. No projeto 
de lei, a locução prevista para o tipo era: se o homicídio é praticado “contra a mulher por 
razões de gênero”. Ocorre que, durante os debates, a bancada de parlamentares evangélicos 
pressionou para que a “gênero” da proposta inicial fosse substituída por “sexo 
feminino”, com objetivo de afastar a possibilidade de que transexuais fossem abarcados pela 
lei. A bancada feminina acabou aceitando a mudança para viabilizar a aprovação do projeto. 
Melhor seria se tivesse sido mantida a redação original, que, aliás, é utilizada na Lei Maria da 
Penha: “configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão 
baseada no gênero” (art. 5º) e nas legislações internacionais. 
Caiu em prova: mas, afinal, o que são “razões de condição de sexo feminino”? O 
legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal interpretativa, ou seja, um 
dispositivo para esclarecer o significado dessa expressão. 
§ 2º-A Considera-se que há “razões de condição de sexo feminino” quando o crime 
envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
 
 
Direito Penal Especial. Crimes contra a Pessoa. Professor Carlos Paschoalik 
 
 
31 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR (INCISO I) 
Comentários: haverá feminicídio quando o homicídio for praticado contra a mulher em 
situação de violência doméstica e familiar. Ao afirmar isso, o legislador ampliou bastante o 
conceito de feminicídio, já que, pela redação literal do inciso I não seria necessário discutir os 
motivos que

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