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MONOGRAFIA - Adoção por casais homoafetivos (1)

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Prévia do material em texto

FACULDADE IBMEC 
INSTITUTO DAMÁSIO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
GABRIELA GUERRA LIMA 
 
 
 
 
 
 
ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2020
 
 
GABRIELA GUERRA LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito 
do Instituto de Direito Damásio Ibmec, como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito, orientado pelo Prof. Dr. 
James Siano. 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2020
 
 
GABRIELA GUERRA LIMA 
 
 
 
 
 
ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito 
do Instituto de Direito Damásio Ibmec, como 
requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito, orientado pelo Prof. Dr. 
James Siano. 
 
 
 
Aprovado em: ______/______/______ 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
_______________________________________________________ 
Prof. Prof. Dr. James Siano (Orientador) 
Faculdade Ibmec – Instituição Damásio de Direito 
 
_______________________________________________________ 
Prof. 
Faculdade Ibmec – Instituição Damásio de Direito 
 
_______________________________________________________ 
Prof. 
Faculdade Ibmec – Instituição Damásio de Direito 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todos aqueles que 
contribuíram de forma direta ou indireta para 
a conclusão do mesmo; e à minha família, 
ainda que não de sangue, que sempre me 
incentivou a ir atrás dos meus sonhos. 
 
 
 
 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Nunca é tarde para abrirmos mão dos 
nossos preconceitos. ” 
 
Henry David Thoreau 
 
 
 
RESUMO 
 
Trata-se de monografia, cujo tema é “Adoção por casais homoafetivos”. O interesse 
pelo tema se deu em razão de que as relações homoafetivas estão cada vez mais 
presentes no cenário social Brasileiro. Nesse sentido, antigamente essas uniões não 
tinham qualquer reconhecimento jurídico, hoje possuem status análogo às uniões 
estáveis heterossexuais, asseguradas sob o prisma dos princípios da dignidade da 
pessoa humana, igualdade, liberdade e afetividade. O objeto principal é o estudo do 
processo de adoção, além da origem do termo e o contexto histórico, e tem como 
tema geral a constituição familiar por casais homoafetivos. No estudo, foi utilizada 
doutrina e jurisprudência, bem como estatísticas disponibilizadas por órgãos 
responsáveis. A coleta de dados foi realizada por meio de busca no Cadastro 
Nacional de Adoção e, posteriormente, ajustada em gráficos para visualização do 
grande número de requisitos apresentados pelos adotantes no momento em que 
optam pela adoção para constituir uma família. 
 
Palavras-chave: Adoção. Casais Homoafetivos. Família. Processo de Adoção. 
Interesse do menor. Cadastro Nacional de Adoção. 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This is a monography regarding the “Adoption by homoaffective couples”. The 
relevance of the theme was given by the space that homoaffective relationships have 
accomplished in the Brazilian social scenario. Previously, these relations had no 
legal recognition whatsoever, as now they possess analogue status to straight 
common law marriages, assured under the aegis of the principles of the dignity of the 
human person, equality, freedom and affectivity. This paper’s main theme is the 
study of the adoption process, as well as the source of the term and historical 
context, besides, it’s main goal is to emphasize on the family constitution by 
homoaffective couples. In the study, doctrine and jurisprudence has been used, 
along statistics made available by the responsible authorities. The data gathering 
happened through research on the National Adoption Register, to be, afterwards, put 
into graphics in order to explain the huge number of demands the adoptants have 
when trying to increase the family. 
 
Keywords: Adoption. Family. Adoption Process. Minor’s Interest. Homoaffective 
Relationship. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 
1. CONCEITO DE FAMÍLIA .................................................................................. 9 
1.1. PARENTESCO ............................................................................................... 11 
2. ADOÇÃO ........................................................................................................ 13 
2.1. ASPECTOS HISTÓRICOS ............................................................................. 13 
2.2. CONTEXTO INTERNACIONAL ...................................................................... 13 
2.3. CONCEITO ..................................................................................................... 15 
2.4. ATUAL DISCIPLINA DE ADOÇÃO ................................................................. 16 
2.4.1. Dados relacionados à adoção no Brasil ..................................................... 16 
2.5. REQUISITOS PARA ADOÇÃO ...................................................................... 19 
2.5.1. Quem pode adotar ........................................................................................ 19 
2.5.2. Quem pode ser adotado ............................................................................... 21 
2.6. PROCEDIMENTO .......................................................................................... 21 
2.7. EFEITOS ........................................................................................................ 22 
3. RELAÇÃO HOMOAFETIVA ........................................................................... 24 
3.1. CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................................... 24 
3.2. RELAÇÃO HOMOAFETIVA NO BRASIL ....................................................... 25 
4. ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS ................................................... 28 
4.1. PRINCÍPIOS ................................................................................................... 28 
4.1.1. Princípio da dignidade da pessoa humana ................................................ 29 
4.1.2. Princípio da igualdade .................................................................................. 30 
4.1.3. Princípio da afetividade ................................................................................ 31 
4.1.4. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR ..................................... 32 
5. VIABILIDADE PSICOLÓGICA DA EDUCAÇÃO PELO CASAL 
HOMOAFETIVO ............................................................................................. 34 
6. VIABILIDADE JURÍDICA DA EDUCAÇÃO PELO CASAL HOMOAFETIVO 37 
 
 
7. CORRENTES FAVORÁVEIS X CONTRÁRIAS: ............................................ 40 
7.1. CORRENTES FAVORÁVEIS ......................................................................... 40 
7.2. CORRENTES CONTRÁRIAS: ........................................................................ 41 
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 43 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 45 
 
8 
 
INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho tem por objetivo principal demonstrar como o processo de 
adoção sofreu modificações no decorrer do tempo em conjunto com as mudanças 
sociais e jurídicas ocorridas no Brasil. Tendo em vista que o Direito é utilizado como 
ferramenta para regular as interações sociais, e que, portanto, há a necessidade de 
que esteja sempre em conformidade com os costumes sociais e culturais aos quais 
limita, não há como se falar em uma estagnação no processo em geral, bem como o 
de adoção. 
O tema foi escolhido em virtude da falta de um aprofundamento maior na 
questãoda adoção, especialmente quando realizada por casais homoafetivos. Após 
a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADIn nº 4277, que 
reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil, o número de 
casais que pretendem constituir uma família tem aumentado exponencialmente. 
A adoção, por si só, tem uma função tanto social como psicológica, de forma 
igual para o adotante quanto ao adotado. A impossibilidade de gerar filhos, o desejo 
de não propagar doenças genéticas, ou mesmo a intenção de ajudar crianças 
abandonadas por motivos variados, fazem parte do leque de razões que ensejam o 
ato de adotar. 
Neste trabalho, trataremos de toda a parte conceitual de família, parentesco e 
adoção, tendo em vista que se faz necessário o entendimento da raiz para 
seguirmos para o aprofundamento na questão da adoção realizada por casais 
homoafetivos. Ademais, trouxemos os requisitos, dados relativos ao processo de 
adoção no Brasil e como funciona o procedimento. 
 
9 
 
1. CONCEITO DE FAMÍLIA 
 
O Direito de Família, quando regido pelo Código Civil de 1916, limitava o 
casamento civil ao homem e à mulher, e não permitia o divórcio. De acordo com o 
artigo 233, por exemplo, o marido seria o chefe da sociedade conjugal e lhe cabia a 
função de autorizar a profissão da mulher, de forma que ela não poderia exercê-lo 
sem seu aval. 
Na seara da adoção, conforme dispunha o Capítulo V do Código Civil de 
1916, apenas maiores de cinquenta anos, sem prole legítima, ou legitimada, 
poderiam adotar. 
O Direito, como um todo, é um mecanismo utilizado para regular a sociedade, 
pois a mesma vive em constante mudança. Nesse sentido, a definição de família foi 
atualizada com a promulgação da Constituição Federal em 1988 e do Código Civil 
em 2002, que acabaram por expandir a caracterização de família, e seu tratamento. 
Além disso, o tratamento com relação aos próprios integrantes da família foi 
alterado. Um exemplo disso é o princípio da igualdade jurídica dos cônjuges e 
companheiros, que extingue o poder marital, deixando ambos em pé de igualdade, 
sem que um tenha poder absoluto sobre o outro. 
O artigo 226 da Constituição Federal de 1988 (CF/88) trouxe o 
reconhecimento da união estável em equivalência ao casamento, recebendo 
proteção jurídica os cônjuges e seus filhos. 
Para o Código Civil de 1916, família só era considerada legítima sob o efeito 
do casamento, aquelas famílias que eram formadas fora do casamento, eram 
consideradas ilegítimas. Nessas famílias ilegítimas, o Código trazia algumas 
restrições, como a proibição de doação ou benefícios testamentários ou a inclusão 
da mulher – concubina, expressão trazida pelo Código - como beneficiária de 
contrato de seguro de vida. Os filhos concebidos fora do matrimônio eram 
classificados como ilegítimos e não tinham sua filiação assegurada pela lei. 
O art. 358 do mencionado Código Civil de 1916 proibia, no entanto, 
expressamente, o reconhecimento dos filhos adulterinos e incestuosos. O aludido 
dispositivo só foi revogado em 1989 pela Lei n. 7.841, depois que a Constituição 
Federal de 1988 proibiu, no art. 227, § 6º, qualquer designação discriminatória 
10 
 
relativa à filiação, proclamando a igualdade de direitos e qualificações entre os 
filhos, havidos ou não dentro da relação do casamento. (GONÇALVES, 2019, p. 29). 
A família se baseia num grupo de pessoas com alguma ligação, como em 
razão de vínculo conjugal, união estável, parentesco por consanguinidade ou outra 
origem, por meio da afinidade. 
Maria Helena Diniz conceitua família como: 
 
É, portanto, o ramo do direito civil concernente às relações entre pessoas 
unidas pelo matrimonio, pela união estável ou pelo parentesco e aos 
institutos complementares de direito protetivo ou assistencial, pois, embora 
a tutela e a curatela não advenham de relações familiares, têm, devido a 
sua finalidade, conexão com o direito de família. (Diniz, Maria Helena, Curso 
de Direito Civil Brasileiro, São Paulo, Saraiva, ed.26, 2011, v.5, p.18.) 
 
Cumpre ressaltar que “família”, pode ter inúmeras definições, levando-se em 
consideração que é um conceito extremamente volátil e mutável no tempo, um 
conceito que se altera de acordo com a evolução da sociedade. Com as mudanças 
culturais, as estruturas familiares também se adaptaram às novas realidades. A atual 
definição de família muito se difere da definição de poucos anos atrás. Nesse 
sentido, cabe transcrever Maria Berenice Dias: 
 
Do conceito unívoco de família do século passado, que o identificava 
exclusivamente pela existência do casamento, chegou-se às mais diversas 
estruturas relacionais, o que levou ao surgimento de novas expressões, 
como de "entidade familiar”, “união estável”, “família monoparental”, 
“desglobalização”, “reprodução assistida”, “concepção homóloga”, 
“heterológica”, “homoafetividade”, “filiação afetiva”, etc. Tais vocábulos 
buscam adequar a linguagem às mudanças nas conformações sociais, que 
decorrem da evolução da sociedade e da redefinição do conceito de 
moralidade, bem como dos avanços da engenharia genética. Essas 
alterações acabaram por redefinir a família, que passou a ter um aspecto 
multifacetário. (DIAS, 2004) 
 
As transformações sociais geraram uma série de normas que alteraram o 
conceito de família. Haja vista a valorização do afeto, de forma a abranger os mais 
diversos arranjos familiares. A família deixou de ser reconhecida apenas como uma 
instituição, uma vez que não há mais que se falar em obrigação matrimonial, 
levando em consideração, por exemplo, que hoje as pessoas podem se divorciar, 
inclusive, sendo possível sem o consentimento do cônjuge. 
Tendo em vista as grandes mudanças e avanços tecnológicos, a família 
moderna pode ser constituída antes do casamento, podendo existir ou não filhos, 
11 
 
bem como pode-se notar a significativa participação da mulher na sociedade atual, 
principalmente em razão de que após a Revolução Industrial, tivemos a inserção da 
mulher no mercado de trabalho e uma consequente diminuição no número de filhos. 
Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu o casamento entre 
pessoas do mesmo sexo no Brasil no julgamento da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade nº 4277, trazendo consigo uma série de mudanças nos direitos 
dos indivíduos homossexuais no Brasil. Sendo esse um marco muito importante 
para a história da instituição das famílias. 
O Ministro e Relator Ayres Britto, menciona em seu voto que o não 
reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal, das relações homoafetivas como 
entidade familiar incorreria em um discurso preconceituoso ou homofóbico: 
 
[...] assim interpretando por forma não-reducionista o conceito de família, 
penso que este STF fará o que lhe compete: manter a Constituição na 
posse do seu fundamental atributo da coerência, pois o conceito contrário 
implicaria forçar o nosso Magno Texto a incorrer, ele mesmo, em discurso 
indisfarçavelmente preconceituoso ou homofóbico. Quando o certo – data 
vênia de opinião divergente – é extrair do sistema de comandos da 
Constituição os encadeados juízos que precedentemente vervalizamos, 
agora arrematados com a proposição de que a isonomia entre casais 
heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude de sentido se 
desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada 
família. Entendida esta, no âmbito das duas tipologias de sujeitos jurídicos, 
como um núcleo doméstico independente de qualquer outro e constituído, 
em regra, com as mesmas notas factuais da visibilidade, continuidade e 
durabilidade. 
 
Pelo exposto, pode-se notar que o elemento da consanguinidade deixou de 
ser fundamental quando tratamos da constituição familiar. A jurisprudência e a 
doutrina vêm aumentando as modalidades de família, tais como, família 
homoafetivas, heteroafetivas, anaparentais, unipessoais, entre tantas outras. 
É primordial a atualização constante doDireito, de forma que venha sempre a 
regular as relações sem cair em modelos retrógrados, garantindo, por fim, o 
exercício de todos os direitos fundamentais ou com previsão legal. Assim sendo, não 
poderia ser diferente com o conceito de família, que está se tornando algo cada vez 
mais fluido. 
 
1.1. PARENTESCO 
 
12 
 
Diretamente relacionado ao conceito de família, está o parentesco. Enquanto 
família tem como sinônimo a linhagem, o parentesco tem como sinônimo a conexão. 
De forma que é representado pela união através da descendência ou afinidade e 
está disciplinado no Código Civil, a partir do artigo 1591. 
Rolf Madaleno (2018, p.641) divide o parentesco em consanguíneo/natural, 
por afinidade e quando emana do ato de adoção. O parentesco por afinidade é 
constituído por um laço fictício. Pontes de Miranda (MIRANDA, Pontes de. Ob. cit. p. 
34) define “por ser, caracteristicamente, laço entre o homem e os parentes da 
mulher, ou entre a mulher e os parentes do homem, a afinidade não vai além dessas 
pessoas, nem as faz afins entre si”. 
Sua representação se dá pelo “tronco ancestral”, ou seja, a origem da relação 
entre os sujeitos. E o parentesco pode ser em linha reta, no caso de ascendência e 
descendência, e em linha colateral. 
Para a contagem de graus, faz-se necessária a divisão: 
A) Parentesco em linha reta: trata-se de indivíduos ligados por uma relação 
de ascendência ou descendência entre si, e para a determinação do grau, basta 
contar o número de gerações. Dessa forma, por exemplo, na linha ascendente em 
primeiro grau, estarão os pais, e assim consecutivamente. O mesmo ocorre na linha 
descendente. 
B) Parentesco colateral: trata-se dos parentes provenientes do mesmo tronco, 
portanto, da mesma origem. Sua contagem é diferente, pois, ainda conta a geração 
até encontrar o ancestral em comum, e, em seguida, conta-se na linha horizontal. 
Nesse sentido, não existem parentes de primeiro grau na linha colateral, mas em 
segundo grau, estariam os irmãos. 
No caso do parentesco por afinidade, são os casos de casamento ou união 
estável, e, assim, estarão unidos também os ascendentes, descendentes e irmãos 
do respectivo cônjuge. Importante destacar que, nos termos do artigo 1595 do 
Código Civil, a afinidade não se extinguirá com o fim do casamento ou união estável, 
com relação a parentes em linha reta, sendo eles o sogro, sogra, genro e nora. De 
forma que se extinguirá apenas o vínculo entre cunhados. 
Nesse caso, ficará impossibilitado o casamento ou união estável com os ex 
sogros, uma vez que o Código Civil veda o casamento entre afins em linha reta, no 
inciso II, do artigo 1.521.
13 
 
2. ADOÇÃO 
 
2.1. ASPECTOS HISTÓRICOS 
 
Desde os primórdios da civilização, a adoção está presente. No século XIX, 
era comum que famílias que passavam por necessidades financeiras deixassem 
seus filhos em orfanatos ou em casas de famílias ricas, onde poderiam receber 
melhores cuidados e oportunidades, ou mesmo filhos ilegítimos, ou situações em 
que ambos os pais ou apenas um deles não possuía capacidade mental ou, ainda, 
vontade de ter filhos. 
O próprio Código de Justiniano dispunha que no caso do patriarca da família 
falecer sem deixar um herdeiro homem, um herdeiro de outra família seria 
providenciado através da adoção. 
Foi o “Massachusetts Adoption of Children Act” a primeira lei feita no intuito de 
proteger o interesse da criança, em 1851. Com esse advento, inúmeras crianças 
deixaram de ser adotadas para servir os adotantes, cenário muito comum por ser 
considerada uma mão de obra barata na época. 
A adoção foi formalizada apenas com o advento do Código Civil de 1916 no 
Brasil. Dispositivo muito criticado por ter diversas limitações ao processo de adoção, 
como a exigência de que as pessoas fossem casadas, com mais de cinquenta anos 
de idade, entre outras. 
Esse cenário permaneceu quase inalterado até que a Constituição Federal de 
1988 entrou em vigor, e eliminou quaisquer diferenças jurídicas entre filhos legítimos 
e adotados, além de proibir a discriminação. 
 
2.2. CONTEXTO INTERNACIONAL 
 
A adoção internacional teve seu início com o final da Segunda Guerra 
Mundial, isso porque muitas crianças que ficaram órfãs durante a guerra, foram 
enviadas a diversos outros países. 
No cenário internacional, alguns países dividem seu processo de adoção. 
Inclusive, algum país não tem abertura para adoções internacionais, tendo entre 
suas motivações proteção à família ou razões políticas, como é o caso da Rússia. 
14 
 
Em contrapartida, Os Estados Unidos, por exemplo, dividem em três opções ao 
adotante: 
A) Adoção em orfanatos: o adotante tem a oportunidade de adotar uma 
criança tirada de sua família em razão de sua incapacidade de promover o cuidado 
correto ou por ligação de um dos pais, ou ambos, a algum crime, que coloque a 
criança em perigo. 
B) Adoção doméstica privada: a criança que será adotada, não fez parte de 
orfanatos. Costuma ocorrer através de agências de adoção, mas não é uma regra. 
C) Adoção internacional: se dá mediante agências de adoção privadas, que 
coordenam o processo de adoção de crianças de outros países, normalmente de 
países em guerra ou grande pobreza. 
É de extrema importância que o adotante tenha condições de criar a criança 
ou adolescente em um ambiente multicultural, de forma que possa manter suas 
raízes bem como se adaptar aos novos costumes. 
Cabe destacar que o estrangeiro que for residente no Brasil pode adotar em 
igualdade de condições com os nacionais, pois o que prevalece é a lei do domicílio. 
A adoção internacional é regulamentada pela Convenção Relativa à Proteção 
das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional (Convenção de 
Haia), ratificada, no Brasil, pelo Decreto nº 3.087, de 21 de junho de 1999. São 
signatários da Convenção de Haia, também, mais de sessenta países. 
Motivada por diversos problemas no que tange a adoção internacional, a 
referida Convenção trouxe uma uniformidade ao processo de adoção internacional, 
com requisitos e exigências que regularam todo o processo, tornando-o mais efetivo. 
Conforme dispõe seu primeiro artigo, a Convenção tem por objetivo: 
A) Estabelecer garantias para que as adoções internacionais sejam feitas 
segundo o interesse superior da criança e com respeito aos direitos fundamentais 
que lhe reconhece o direito internacional; 
B) Instaurar um sistema de cooperação entre os Estados Contratantes que 
assegure o respeito às mencionadas garantias e, em consequência, previna o 
sequestro, a venda ou o tráfico de crianças; 
C) Assegurar o reconhecimento nos Estados Contratantes das adoções 
realizadas segundo a Convenção. 
15 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que seja deferida 
preferencialmente a adoção por brasileiro, sendo exceção a adoção por estrangeiro. 
O artigo 51, inciso II do ECA dispõe que: 
 
Sejam esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou 
adolescente em família adotiva brasileira, com a comprovação, certificada 
nos autos, da inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil com 
perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta aos 
cadastros mencionados nesta Lei. 
 
O referido dispositivo prevê que seja realizado o estágio de convivência entre 
o adotando e o estrangeiro adotante de no mínimo, trinta dias, independentemente 
da idade do adotando. Após o preenchimento de todos os requisitos objetivos e 
subjetivos necessários para o deferimento do pedido de adoção por estrangeiro, o 
laudo de habilitação à adoção internacional será expedido e terá validade de, no 
máximo, um ano. 
 
2.3. CONCEITO 
 
Conforme enuncia Pontes de Miranda (Tratado de Direito de Família. 3. Ed. 
São Paulo: Max Limonad Editor, 1947. V. III, P. 177) a adoção é “ato solene pelo 
qual se cria entre o adotante e o adotado relação fictícia de paternidade e filiação”. 
Para MariaHelena Diniz: 
 
Adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, 
alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco 
consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua 
família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha. 
(Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5, p. 416.) 
 
Em ambas as definições, fica clara a necessidade de se tratar de um ato 
solene, portanto, acompanhado de cerimônias oficiais e extraordinárias. 
Com a Constituição Federal de 1988, a adoção passou a ser um ato 
complexo e que exige sentença judicial. A adoção passou a ser assistida pelo Poder 
Público, e o legislador dita as regras segundo as quais o Poder Público dá 
assistência aos atos de adoção. 
 
16 
 
2.4. ATUAL DISCIPLINA DE ADOÇÃO 
 
A adoção nacional é disciplinada, atualmente, pela Lei nº 12.010/2009 que 
alterou a lei nº 8.069/90 (ECA). Entre as principais novidades trazidas pela lei, estão 
a previsão de assistência psicológica à gestante e mãe, diretrizes de como a 
gestante pode dar início ao processo de entrega dos filhos à adoção e sobre o 
processo de acolhimento familiar ou institucional. 
A promulgação da referida lei foi cercada de grande polêmica, uma vez que 
alguns autores entenderam haver uma discriminação entre a família formada por 
consanguinidade e a família afetiva. 
Assim sendo, tem capacidade ativa para adotar, nos termos do artigo 42 do 
ECA, os maiores de dezoito anos, independente do estado civil, desde que seja, 
pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. Não há disposição legal 
a respeito da adoção por casais homossexuais, ficando a critério do juiz que decidir 
a causa. 
Nesse sentido, ao julgar o Recurso Especial nº 1281093/SP, em 18/12/2012, 
a Ministra Nancy Andrighi ementou: 
 
A plena equiparação das uniões estáveis homoafetivas, às uniões estáveis 
heteroafetivas, afirmada pelo STF (ADI 4277/DF, Rel. Min. Ayres Britto), 
trouxe como corolário, a extensão automática àquelas, das prerrogativas já 
outorgadas aos companheiros dentro de uma união estável tradicional, o 
que torna o pedido de adoção por casal homoafetivo, legalmente viável. 
 
Quanto à capacidade passiva, a partir dos doze anos, a criança também 
deverá dar seu consentimento, para que a adoção seja deferida. Uma vez 
preenchidos todos os requisitos, será proferida sentença, que constituirá 
devidamente o vínculo da adoção, mediante inscrição no registro civil. 
Importante destacar que avós e irmãos da criança ou adolescente não podem 
adotá-los, mas sim pedir a guarda ou tutela, dependendo da existência ou não de 
poder familiar, respectivamente. 
 
2.4.1. Dados relacionados à adoção no Brasil 
 
17 
 
No Brasil, de acordo com as informações disponibilizadas pelo Cadastro 
Nacional de Adoção, coordenado pela Corregedoria do Conselho Nacional de 
Justiça (CNJ), em 2020 existem 9.341 crianças e adolescentes cadastrados no 
sistema. Em contrapartida, temos 46.066 pretendentes. 
A razão para tamanha discrepância nos números se dá devido aos critérios 
estabelecidos pelos interessados em adotar. Em 2019, por exemplo, cresceu para 
46% o índice de pretendentes dispostos a adotar crianças com mais de cinco anos. 
Conforme o relatório gerado, apenas 2.604 crianças estão dentro desse 
critério, o que deixa em torno de 6.700 crianças em um limbo. 
Além disso, toda a convivência entre os adotantes e o adotando são 
extremamente importantes, principalmente no que diz respeito à adaptação, uma 
vez que a criança pode se sentir confrontada, abandonada, e é necessário um 
acompanhamento psicológico para evitar que isso abale a estrutura que a nova 
família tenta construir. 
 
 
Gráfico 1 – Faixa etária das crianças e adolescentes cadastrados para adoção. 
Fonte: Cadastro Nacional de Adoção (2020). Disponível em: 
http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf 
 
Entre as principais preferências dos adotantes inscritos, está a questão racial. 
No total, são 46.066 pretendentes cadastrados, dos quais apenas 23.877 não tem 
este requisito, sendo indiferentes. No demais, conforme representa o gráfico abaixo, 
é muito grande a procura por crianças brancas, sendo que quase metade das 
crianças cadastradas são pardas. 
 
2604 
2215 
5028 
Faixa etária das crianças e adolescentes cadastrados para 
adoção 
Até cinco anos Seis a dez anos Onze a dezessete anos
18 
 
 
Gráfico 2 – Estatística de Preferência de adotantes quanto à raça da criança ou adolescente. 
Fonte: Cadastro Nacional de Adoção (2020). Disponível em: 
http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf 
 
 
Gráfico 3 – Dados do total de crianças separadas por raça. 
Fonte: Cadastro Nacional de Adoção (2020). Disponível em: 
http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf 
 
Quanto ao sexo, também há uma discrepância na questão, tendo em vista 
que, apesar de 30.041 pretendentes não tenham preferência sexual, 12.263 
somente aceitam adotar crianças do sexo feminino, em contrapartida com o total de 
3.762 que desejam adotar somente crianças do sexo masculino. Controverso com o 
número de crianças do sexo masculino, 4.960 e do sexo feminino 4.381. 
 
6433 
360 
43 
1812 
23 
Preferência dos adotantes quanto à raça 
do adotado 
Branca Negra Amarela Parda Indígena
3105 
1554 
17 
4640 
25 
Dados das crianças e adolescentes 
cadastrados separados por raça 
 
Branca Negra Amarela Parda Indígena
19 
 
 
Gráfico 4 – Estatística de Preferência de adotantes quanto ao sexo da criança ou adolescente. 
Fonte: Cadastro Nacional de Adoção (2020). Disponível em: 
http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf 
 
 
Gráfico 5 – Dados do total de crianças separadas por sexo. 
Fonte: Cadastro Nacional de Adoção (2020). Disponível em: 
http://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf 
 
2.5. REQUISITOS PARA ADOÇÃO 
 
2.5.1. Quem pode adotar 
 
De acordo com o art. 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), os 
maiores de 18 anos podem adotar, independentemente do estado civil. O sexo e a 
12.263 
3.762 
30.070 
Preferência dos adotantes quanto ao sexo 
Feminino Masculino Indiferente
4.381 
4.960 
Dados do total de crianças separadas por 
sexo 
Feminino Masculino
20 
 
nacionalidade também não influenciam na capacidade ativa de adoção. Entende-se 
que o adotante deve estar em condições morais e materiais de adotar. 
Na adoção por ambos os cônjuges ou companheiros, a comprovação da 
“estabilidade financeira” é necessária. Como a adoção é considerada um ato 
jurídico, exige-se a capacidade. Sendo assim, não podem adotar os ébrios habituais, 
menores de 18 anos, os viciados em tóxicos, e os que, por causa transitória ou 
permanente, não puderem exprimir sua vontade. O Estatuto da Pessoa com 
Deficiência dispõe que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, 
inclusive para exercer o direito à adoção. 
Os ascendentes e os irmãos do adotando não podem adotar, ou seja, o avô 
não pode adotar o neto, ou um casal sem filhos adotar um irmão de um dos 
cônjuges, vide o art. 42, § 1º do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 
8.069/90). No entanto, não há impedimento legal que impeça os tios de adotarem 
seus sobrinhos, desde que não alcance os parentes colaterais de terceiro grau, nem 
os parentes por afinidade. 
Conforme o art. 45, caput, do ECA, se os pais do adotando forem conhecidos 
e detiverem o poder familiar, o consentimento de ambos será indispensável. A 
recusa de ambos ou qualquer um dos pais impede a adoção do menor por terceiro. 
Caso os pais não forem conhecidos ou tiverem perdido o poder familiar, haverá a 
dispensa do consentimento. Nos casos em que os titulares do poder familiar não são 
localizados, devem ser citados por edital. Cumpridas todas as formalidades legais, 
decreta-se a destituição e ao deferir a adoção, suprirá o consentimento paterno. O 
art. 28, § 1º doECA dispõe que: 
 
Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido 
por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e 
grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião 
devidamente considerada. 
 
O § 2º do art. 28 prescreve que “tratando-se de maior de 12 (doze) anos de 
idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência. ” 
Pode ser revogado o consentimento dos pais, representantes legais e pelo 
adotando no curso do processo de adoção até a data da publicação da sentença. 
O pedido de adoção se submete ao art. 43, do ECA, ou seja, “a adoção será 
deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando’’. 
21 
 
 
2.5.2. Quem pode ser adotado 
 
O instituto da adoção compreende a criança, adolescente e os maiores, 
exigindo procedimento judicial em todos os casos. No Código Civil de 2002, tanto a 
adoção de menores quanto a de maiores têm as mesmas características, estando 
sujeitas a decisão judicial, sendo sempre assistida pelo Poder Público. A adoção é 
regulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 
No art. 42, § 3º do ECA, exige-se a diferença mínima de dezesseis anos entre 
o adotante e o adotado. É de extrema importância essa diferença de idade, pois 
presume-se que o adotante possa desempenhar eficientemente o poder familiar. 
Não se admite que o adotado seja mais velho que o adotante. 
Não há dispositivo que impeça a adoção de outra pessoa no caso de já se ter 
filho adotivo, não se exige nenhuma justificativa do adotante para que seja realizada 
essa nova adoção. A Lei Nacional da Adoção regulamenta a necessidade de manter 
os irmãos sujeitos a adoção unidos. Vide artigo 28, § 4º do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
 
Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da 
mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de 
abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de 
solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento 
definitivo dos vínculos fraternais. 
 
Para o Estatuto da Criança e do Adolescente, só podem ser colocados à 
adoção aqueles para quem todos os recursos com intuito de mantê-los no convívio 
com sua família de origem, forem esgotados. 
 
2.6. PROCEDIMENTO 
 
O adotante, munido da devida capacidade para tanto, deve redigir petição à 
Vara da Infância e Juventude, com os seguintes documentos: (i) cópia dos 
documentos pessoais; (ii) comprovante de residência; (iii) comprovante de 
rendimentos ou declaração equivalente; (iv) atestado ou declaração médica de 
sanidade física e mental; (v) atestado de antecedentes criminais; e (vi) certificado de 
22 
 
participação em programa ou curso de preparação psicossocial e jurídica (não é 
obrigatório em algumas cidades); 
Será designada, então, entrevista com assistente social e psicólogo, para 
avaliação dos candidatos e possível remessa à fila de adoção. Com o laudo da 
equipe técnica e o parecer emitido pelo Ministério Público, o juiz dará sua sentença 
e o nome dos pretendentes será incluído no cadastro nacional. Caso o juiz indefira o 
pedido, o processo deverá ser iniciado do zero. 
Os candidatos, então, devem esperar que a Vara da Infância entre em 
contato, para informar que existe uma criança que se adequa ao perfil desejado, 
para conhece-la. Entra, então, o período de visitas, que não tem uma duração 
predeterminada, e serve para avaliar como é a interação entre as partes. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê procedimentos próprios para a 
adoção de menores de 18 anos, a adoção em questão requer que seja realizado o 
“Estágio de convivência”, ou seja, tem como finalidade “comprovar a compatibilidade 
entre as partes e a probabilidade de sucesso na adoção”. O estágio de convivência 
só pode ser dispensado se o adotando já estiver sob a guarda legal ou tutela do 
adotante durante tempo suficiente para proceder com a avaliação de convivência. 
O estágio de convivência tem o prazo mínimo de trinta dias, 
independentemente da idade da criança ou do adolescente. O art. 46, § 3º do ECA 
trata do estágio de convivência nos casos de adoção internacional. Nesse caso, a 
prova do estágio de convivência é indispensável para a adoção, o prazo mínimo é 
de 30 dias, qualquer que seja a idade do adotando, sendo cumprida no território 
nacional. 
 
2.7. EFEITOS 
 
Ainda na fase de guarda provisória, a criança ou adolescente tem todos os 
direitos legais de um filho legítimo, podendo, por exemplo, entrar como dependente 
em planos de saúde. 
Além disso, a adoção tem efeitos pessoais e patrimoniais. Os de ordem 
pessoal dizem respeito ao nome, poder familiar e ao parentesco. Entre os efeitos 
pessoais, é possível mencionar a filiação legal e a transferência do poder familiar, 
uma vez que o adotado se desvincula de sua família de origem, de forma que ainda 
23 
 
que o poder familiar dos adotantes seja suspenso, por exemplo, isso não restituirá o 
poder dos pais biológicos, consoante o que dispõe o artigo 49 do ECA. “A morte dos 
adotantes não restabelece o poder familiar dos pais naturais." 
Conforme o artigo 41, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente, com a 
adoção, é gerado um parentesco entre adotante e adotado, equiparando-o ao 
consanguíneo. Essa característica promove a integração do adotando na família do 
adotante, na qual terá a condição de filho, com os mesmos direitos e deveres dos 
filhos biológicos. O intuito é que o adotando corte completamente o vínculo com a 
paternidade biológica. 
 
“Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos 
direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo 
com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais”. 
 
Com a adoção, o adotando fica sujeito ao poder familiar, ou seja, ele é 
equiparado ao consanguíneo em todos os aspectos. Contraindo todos os direitos e 
deveres que lhe são inerentes. O adotado poderá ter o mesmo nome do adotante, 
mas para tanto, são observados os estágios de desenvolvimento da criança e do 
adolescente e seu entendimento sobre a situação. O sobrenome dos adotantes é 
direito do adotando. 
Ademais, os efeitos patrimoniais da adoção são relativos às sucessões e 
prestação de alimentos, uma vez que está vedado na Constituição Federal qualquer 
tipo de discriminação entre filhos adotados e legítimos. É expresso no artigo 41, § 2º 
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que: 
 
“É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o 
adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, 
observada a ordem de vocação hereditária”. 
 
24 
 
3. RELAÇÃO HOMOAFETIVA 
 
3.1. CONTEXTO HISTÓRICO 
 
A homossexualidade é definida como o interesse e atração em indivíduos do 
mesmo sexo. Desde os primórdios da humanidade, a homossexualidade está 
presente nas civilizações. A principal sociedade que tratou a homossexualidade de 
forma natural, foi a Grega. Na Grécia, indivíduos do mesmo sexo praticavam 
relações sexuais naturalmente, sem nenhum tipo de discriminação ou punição. Na 
sociedade Grega, as mulheres eram tratadas como inferiores e eram utilizadas na 
maioria dos casos apenas para a reprodução. 
A homossexualidade, por muito tempo, foi considerada uma doença ou um 
desvio. Em razão disso, surgiram alguns movimentos que acreditavam numa “cura” 
para a homossexualidade. Após 14 anos do término da Ditadura Militar no Brasil, o 
tratamento que buscava a “cura” da homossexualidade passou a ser proibido pelo 
Conselho Federal de Psicologia. Tal decisão fundamenta-se do argumento de que a 
homossexualidade não se trata de uma doença, ou seja, não existe uma cura. 
Com o decurso do tempo, devido a discriminação sofrida pelo grupo 
LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros, Queer, intersexo, assexuais 
e +), muitos homossexuais tiveram seus direitos feridos,isto é, foram mortos, 
torturados, espancados como consequência de suas orientações sexuais. Por essa 
razão, diversos movimentos ativistas se esforçaram para demonstrar que 
homossexuais não devem ser vistos como aberrações ou doentes. 
Para tentar mudar esta situação de preconceito, foram desenvolvidos 
movimentos para que tivessem seus direitos respeitados. Através de muita luta, 
muitos direitos foram conquistados. 
Um dos marcos mais famosos e de maior repercussão, foi a chamada 
Rebelião de Stonewall, que ocorreu em 1969, em Nova Iorque, Estados Unidos. O 
nome se dá em razão de um bar, Stonewall Inn, frequentado em sua maioria, pela 
população LGBT. Na época, a homossexualidade era considerada um crime nos 
Estados Unidos, mas, tendo em vista que os donos do referido bar faziam parte da 
máfia italiana, a polícia local fazia vista grossa. 
25 
 
Ocorre que na madrugada de 28 de junho de 1969, a polícia resolveu invadir 
o bar e agredir quem estava presente, além de prender algumas pessoas, entre 
travestis e drag queens. Em razão disso, uma multidão se juntou em frente ao bar e 
começou a atirar objetos na polícia. Nos cinco dias seguintes, centenas de 
manifestantes protestaram pelo fim da perseguição de policiais aos homossexuais. 
Embora muitos direitos tenham sido conquistados, o repúdio social às 
orientações sexuais divergentes com a “tradicional” prevalece. Importante ressaltar 
que a segurança da inviolabilidade da intimidade e da vida privada é a base jurídica 
para a construção do direito à orientação sexual, como direito personalíssimo, 
atributo inerente e inegável da pessoa humana. (DIAS, União Homossexual, o 
Preconceito e a Justiça, p. 17). 
 
3.2. RELAÇÃO HOMOAFETIVA NO BRASIL 
 
Nos dias de hoje, embora a Constituição Federal de 1988 e o Código Civil de 
2002 não disciplinem especificamente casais homoafetivos, a Justiça brasileira tem 
se posicionado de forma majoritariamente favorável, fazendo o uso da analogia, 
importante instrumento quando há lacunas na lei. Porém, esta omissão por parte do 
legislador provocou divergentes discussões e posicionamentos doutrinários e 
jurisprudenciais. 
O Conselho Nacional de Justiça, em 2013, reconheceu o casamento 
homoafetivo, por meio da resolução nº 175/13. Levando–se em consideração a 
resolução do CNJ e o artigo 1.726 do Código Civil de 2002, os parceiros, em comum 
acordo, podem requerer a conversão da união estável em casamento, através de 
pedido dirigido ao juiz e assento no Registro Civil. No dia 05 de maio de 2011, o 
Supremo Tribunal Federal (STF), conferiu aos casais homoafetivos, o 
reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar, consolidando a 
relação por meio da união estável, através do julgamento da ADI 4.277. 
Com a decisão proferida, alguns direitos que eram exclusivos por casais 
heterossexuais, passaram a ser usufruídos pelos casais homoafetivos, tais como, 
direito a adotar crianças, direitos a pensão do INSS em caso de morte, direito a 
pensão alimentícia, direito a comunhão parcial de bens, entre outros. 
 
26 
 
“Com a transformação da sociedade as estruturas familiares ou família 
natural se modificaram e surgiram novos modelos, como o casamento 
religioso, o civil, a união estável, a entidade familiar e, entre essas, 
podemos incluir aquela decorrente de relações homossexuais. As diferentes 
formas de união familiar existem não só no meio social, mas algumas, 
também, no campo jurídico, que forçosamente tem de acolhê-las. Do 
contrário estaria o Direito formando uma barreira inútil contra um fato social 
concreto. ” (MADERS, Acesso em: 25 maio 2015) 
 
O direito à homoafetividade está amparado pelo princípio da isonomia, cujo o 
efeito pretendido é a proibição de discriminações, mesmo que ainda haja certa 
relutância em reconhecer a legitimidade da relação homoafetiva. Não obstante, 
essas relações estão amparadas pelo Estado, através do Poder Judiciário, pois 
delas decorrem direitos e deveres. Levando-se em consideração que a Constituição 
Federal tem como regra a dignidade da pessoa humana, qualquer discriminação 
baseada na orientação sexual configura desrespeito à dignidade humana. 
Ainda que existam lacunas na lei relativas à relações homoafetivas, as 
mesmas fazem jus à tutela jurídica. Tais lacunas não são justificativas para negar 
direitos aos homossexuais. O Estado não pode ser omisso devido a preconceitos de 
ordem moral. 
Nesse contexto, faz-se necessário mencionar o ensinamento de Maria 
Berenice Dias: 
 
O fato de não haver previsão legal não significa inexistência de direito à 
tutela jurídica. Ausência de lei não quer dizer ausência de direito, nem 
impede que se extraiam efeitos jurídicos de determinada situação fática. A 
falta de previsão específica nos regramentos legislativos não pode servir de 
justificativa para negar a prestação jurisdicional ou de motivo para deixar de 
reconhecer a existência de direito. O silêncio do legislador precisa ser 
suprido pelo juiz, que cria a lei para o caso que se apresenta a julgamento. 
Na omissão legal, deve o juiz se socorrer da analogia, costumes e princípios 
gerais de direito. (DIAS, 2010) 
 
Com a publicação do Provimento nº 52, de 14 de março de 2016, a Ministra 
Nancy Andrighi, da Corregedoria Nacional de Justiça, regulamentou a emissão de 
certidão de nascimento de filhos cujos pais optaram pela modalidade assistida de 
reprodução. A medida visa facilitar o registro de crianças geradas por técnicas de 
reprodução assistida, como a fertilização in vitro e a gestação por substituição, mais 
conhecida como “barriga de aluguel”. Se houver recusa do cartório, os oficiais 
poderão responder processo disciplinar perante à Corregedoria dos Tribunais de 
Justiça nos estados. (CNJ, 2016). 
27 
 
Conforme a sociedade se transforma, o Estado deve atender aos apelos da 
sociedade, normatizando e regulamentando a nova realidade dos indivíduos. Sendo 
assim, apesar de a questão da homossexualidade ainda ser tratada como censura, 
os tribunais vêm reconhecendo-lhes, gradativamente, direitos comuns a qualquer 
cidadão. 
O Supremo Tribunal Federal, portanto, em 13 de Junho de 2019, proferiu 
decisão na Ação de Inconstitucionalidade por Omissão n. 26, que enquadrou a 
homofobia e transfobia nos tipos penais definidos na Lei n. 7.716/89, conhecida 
como Lei do Racismo, até que o Congresso Nacional edite lei específica. Isso 
porque esta modalidade de ação é utilizada para declarar a omissão estatal ao editar 
determinada norma, tornando essa lacuna inconstitucional. 
Na mesma data, houve decisão a respeito do Mandado de Injunção 4733, nos 
mesmos termos, estendendo o rol dos crimes previstos na Lei do Racismo para 
figurar, também, a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero. 
Com esse advento, a homofobia e a transfobia são, agora, inafiançáveis e 
puníveis com a mesma severidade dada à Lei do Racismo, ou seja, com reclusão de 
um a cinco anos. 
 
28 
 
4. ADOÇÃO POR CASAIS HOMOAFETIVOS 
 
O conceito de família mudou muito no decorrer dos anos, principalmente com 
a Constituição Federal de 1988, haja vista que a sociedade está em constante 
evolução. Constata-se que os tribunais vêm decidindo favoravelmente pela adoção 
por pares homoafetivos, fundamentando-se nos princípios fundamentais. 
Existem alegações de que a convivência de uma criança com um casal 
homoafetivo causaria prejuízos ao menor. Há uma convicção ultrapassada e 
conservadora de que a falta de convívio com ambos os sexos possa ocasionar 
danos de ordem social e psicológica ao menor, podendo ocasionar em dificuldades 
na identificação sexual do adotado, existindo uma predisposição a tornar-se um 
homossexual. 
 O Supremo Tribunal Federal se posicionou favoravelmente à adoção por 
pares homoafetivos fundamentado nos princípios da dignidade da pessoa humana, 
liberdade de expressão, afetividade, igualdade, e o primordial que é o melhorinteresse do menor. 
A jurisprudência vem admitindo a pluriparentalidade/multiparentalidade -onde 
se estabelece a dupla paternidade/maternidade -, pois não há norma que impeça a 
existência de dois ou mais pais na certidão de nascimento da criança. 
Os casais homoafetivos, seja pelo casamento ou em união estável, enquanto 
cidadãos, tem o direito de habilitar-se para adotar uma criança ou adolescente. E, 
levando-se em consideração o Estatuto da Criança e do Adolescente, essas 
crianças e adolescentes, que foram privados do convívio familiar, tem a 
possibilidade, como cidadãos, de ter garantido o seu direito ao convívio familiar. 
Entendendo que a família é a união de pessoas que possuem afetividade e 
estabilidade entre si. 
 
4.1. PRINCÍPIOS 
 
A Carta Magna prevê um rol de princípios fundamentais, grande parte deles 
são destinados a proteção do direito das famílias. Em vista disso, os princípios têm o 
intuito de proteger as entidades familiares. 
29 
 
Ao tratar dos princípios aplicáveis à adoção, o principal é o princípio da 
dignidade da pessoa humana. Pois o mesmo trata dos valores inerentes da pessoa 
e a protege contra atos desumanos que afetam as condições mínimas de uma vida 
descente, livre de qualquer condição, tais como cor, raça, sexo ou religião. 
Necessário destacar que, em seu artigo 226, a Constituição Federal dispõe 
que a família tem proteção especial do Estado, uma vez que é a base da sociedade. 
Além disso, a Constituição traz uma série de outras diretrizes de natureza 
mandatória, para que o bem estar dos participantes de uma entidade familiar seja 
garantido o máximo possível, claro, levando em conta o tamanho do Brasil e a 
incapacidade de garantia a todos. 
A função de um princípio no ordenamento jurídico é servir como orientação e 
auxiliar na interpretação de leis, que muitas vezes trazem mais de um entendimento. 
Para Alexandre de Morais a dignidade é inerente à personalidade humana: 
 
A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se 
manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da 
própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das 
demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto 
jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam 
ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre 
sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas 
enquanto seres humanos; (MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 
São Paulo: Atlas, 2007. P.16). 
 
Relacionado ao princípio da dignidade da pessoa humana está o princípio da 
liberdade e igualdade, proporcionando a livre escolha do ser humano de com quem 
se relacionar, sem que venha a sofrer qualquer espécie de preconceito. 
 
4.1.1. Princípio da dignidade da pessoa humana 
 
Evidenciado na Constituição Federal no artigo 1º, III, está o princípio da 
dignidade da pessoa humana, um dos princípios mais importantes da Carta Magna 
brasileira. 
Para Canotilho, verifica-se que a dignidade da pessoa humana tem 
características que servem como base e orientação de toda ordem jurídica brasileira. 
E, consolidado neste aspecto, “exprime a abertura da República à ideia de 
30 
 
comunidade constitucional inclusiva pautada pelo multiculturalismo mundidencial, 
religioso ou filosófico”. (CANOTILHO, 2003, p. 226) 
Encontra-se no princípio da dignidade da pessoa humana fundamento jurídico 
ao reconhecimento das uniões homoafetivas como instituições familiares, assim 
como da possibilidade jurídica de adoção por casais homoafetivos. 
A dignidade da pessoa humana é alegada pelo casal homoafetivo que deseja 
adotar uma criança. Não há qualquer argumento plausível para que um menor não 
seja educado e amado por pares homoafetivos. 
Diante desse novo panorama jurídico nacional, donde a família pós-moderna 
se apresenta de forma plural, edificada sobre alicerces afetivos, como anteriormente 
abordado, e com amparo constitucional de inclusão, cujo princípio basilar é a 
dignidade da pessoa humana, infere-se que há espaço suficiente no ordenamento 
jurídico para se tutelar a adoção por homossexuais, quer seja o pedido realizado de 
modo conjunto entre os companheiros, quer seja realizado individualmente (PERES, 
2006, p. 11-12). 
É função do Poder Judiciário, quando invocado, garantir que seja efetivado 
esse direito, de forma que seja possível a manutenção do estado democrático de 
direito. Inclusive pois, por se tratar de um direito humano, recai na regra da proibição 
do retrocesso. 
 
4.1.2. Princípio da igualdade 
 
Direito à igualdade é aquele direcionado a todos os cidadãos, que tem como 
objetivo igualar o regime das liberdades individuais. 
O princípio da isonomia vem disposto no art. 5º da Constituição Federal: 
 
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros residentes no país, a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes (...). 
 
Assim, o que impede expressamente a Constituição da República “são as 
diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual 
aos casos desiguais na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do 
próprio conceito de Justiça”. (MORAES, 2005, p. 31) 
31 
 
Devido ao fato da lei tratar da igualdade formal, entende-se que a orientação 
sexual do indivíduo não pode servir como excludente para que o mesmo possua os 
mesmos direitos de qualquer outro cidadão, isto é, os casais homossexuais devem 
receber os mesmos tratamentos que os casais heterossexuais. 
Garantir os direitos dos grupos considerados como distintos é uma forma de 
executar esse princípio, que é um elemento indispensável à dignidade humana. O 
fato de existirem lacunas na lei não significa impedimento de tutela. Tornando-se 
crucial que o magistrado faça uso dos princípios constitucional no momento do 
julgamento das demandas envolvendo casais homoafetivos. 
Assim sendo, não há o que obste a adoção por casais do mesmo gênero, a 
não ser o preconceito que vem enraizado na concepção de algumas pessoas, de 
forma errônea, e que nos últimos anos tem diminuído como resultado de tantas lutas 
com o objetivo de efetivar o Princípio da Igualdade. 
Ainda com relação à igualdade, o artigo 227, §6º, traz a proibição da 
discriminação entre filhos concebidos e adotados, dentro ou fora do casamento. 
Reconhecer que não há qualquer distinção entre os filhos nada mais é que repetir o 
princípio da igualdade, mas na ceara familiar. 
 
4.1.3. Princípio da afetividade 
 
A Constituição Federal de 1988 não traz o princípio da afetividade de forma 
evidente no texto constitucional, aparecendo apenas implicitamente, sobretudo, 
quanto aos casos de direito de família. O texto supracitado estabelece a importância 
da família como base da sociedade. 
 
O afeto é elemento essencial das relações interpessoais, sendo um aspecto 
do exercício do direito à intimidade garantido pela Constituição Federal. A 
afetividade não é indiferente ao Direito, pois é o que aproxima as pessoas 
dando origem aos relacionamentos que geram relações jurídicas, fazendo 
jus ao status de família. (VECCHIATTI, 2008, p. 223) 
 
Primeiramente, é necessário deixar claro que o afeto não se confunde 
necessariamente com o amor. Afeto quer dizer ligação ou interação entre pessoas, 
podendo ter carga positiva ou negativa. O afeto positivo, a título de exemplo, é o 
32 
 
amor; o negativo é o ódio. Incontestavelmente, ambas as cargas estão presentes 
nas relações familiares. 
Embora a sociedade caracterize família apenas como aquela formada por pai, 
mãe e filhos, o legislador não deve determinar um padrão de agrupamento familiar. 
Atualmente é irreal tal padronização, pois a evolução social fez surgir novos arranjos 
familiares. 
DIAS, 2009. P. 116 descreveque: 
 
Outorgando a Constituição proteção à família, independentemente da 
celebração do casamento, houve a inserção de um novo conceito, o de 
entidade familiar, albergando vínculos de afetivos outros. Tanto a união 
estável entre um homem e uma mulher como as relações de um dos 
ascendentes com sua prole passaram a configurar uma família. Nessa nova 
paisagem, não mais se distingue a família pela existência do matrimônio, 
solenidade que deixou de ser o único traço diferenciador para sua 
conceituação. Igualmente, tal dispositivo não diz que, para que a 
convivência seja digna da proteção do Estado, impõe-se a diferenciação de 
sexos do casal. A previsão não exclui as entidades familiares formadas por 
pessoas do mesmo sexo. Simplesmente, com relação a essas, não 
recomenda sua transformação em casamento. 
 
O elemento afeto transformou o conceito de família e vem sendo um dos 
principais meios utilizados nas decisões judiciais que tratam de conflitos familiares. 
O princípio da afetividade vem ganhando amparo nos tribunais, nos casos cujo 
objeto são questões familiares, visto que exigem um cuidado especial dos 
operadores do direito. 
É possível que a concepção de filhos não seja um ato volitivo, ou seja, que as 
pessoas possam escolher. Entretanto, a adoção é um ato em que há a necessidade 
do adotante escolher adotar. Sendo assim, é de extrema relevância a existência de 
afeto pela criança, e, principalmente, por formar uma família. 
 
4.1.4. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR 
 
Por fim, vale ressaltar o princípio do melhor interesse do menor, consagrado 
no artigo 227 da nossa Constituição Federal de 1988, que eu seu texto dispõe: 
 
Art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
33 
 
além de colocá-los a salvo de toda forma da negligência, discriminação, 
violência, crueldade e opressão. 
 
Para Peres (2006, p. 126), o princípio do melhor interesse do menor “vigora 
em nosso sistema jurídico por força do art. 5º, § 2º da Constituição da República e 
da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil através do 
Decreto n. 99.710/90”, sendo, portanto, norma indispensável. 
 
A adoção por casais homoafetivos simboliza não apenas “solução menos 
gravosa para o menor, mas a melhor solução em muitos casos, 
principalmente em um país como o nosso, pois retira o menor da 
marginalidade, dando-lhe um lar cercado de afeto e atenção”. (DIAS, 2009, 
p. 117). 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê no artigo 43 que a adoção será 
aprovada quando apresentar reais vantagens para o adotando. Sob tal perspectiva, 
o Superior Tribunal de Justiça adota o melhor interesse do menor como base de 
decisões sobre a permanência da criança em sua família natural ou sua colocação 
em família substituta. 
É de extrema importância que seja levado em consideração o melhor 
interesse do menor, tendo em vista o histórico da adoção, antes de ser disciplinada 
formalmente, trazia inúmeros casos de órfãos adotados para realizarem tarefas 
domésticas ou trabalhar no campo. 
 
34 
 
5. VIABILIDADE PSICOLÓGICA DA EDUCAÇÃO PELO CASAL 
HOMOAFETIVO 
 
A respeito da família biparental e homoafetiva, baseando-se nos 
conhecimentos do direito brasileiro e da psicologia, verifica-se a escassez de 
estudos mais aprofundados sobre o assunto, principalmente relacionado ao instituto 
da adoção. 
Levando-se em consideração os aspectos psicológicos da criança e do 
adolescente quanto ao seu desenvolvimento, pode-se notar que ainda existe um 
grande desconforto por parte da sociedade quanto à adoção por casais 
homoafetivos. 
Ao longo do capítulo notaremos que a união de casais homoafetivos é capaz 
de educar e viabilizar o desenvolvimento do menor, assim como acontece nas 
“famílias convencionais”. 
O que ocorre com grande frequência é o preconceito encontrado quando da 
tentativa de criar uma família, por casais homossexuais. 
Outro aspecto que causa desconforto na sociedade, é a possível influência 
dos pais adotivos sob os filhos, ante o argumento de que crianças ou adolescentes 
adotados por pares homoafetivos, também se tornariam homossexuais. Contudo, 
não há pesquisas científicas que comprovem que a orientação sexual dos pais 
interfira na educação da criança ou mesmo que a falta de um modelo heterossexual 
afete no desenvolvimento de sua sexualidade. 
Costa (2004) pontua que a formação da sexualidade se constitui de forma 
preponderante por características psíquicas individuais, muitas vezes involuntárias, 
do que por características advindas do ambiente externo. Sendo assim, não se tem 
dados contundentes de que a ausência de modelo familiar heterossexual determine 
a orientação sexual do filho. 
Neste cenário, Maria Berenice Dias relata: 
 
Questiona - se se a ausência de referenciais de ambos os gêneros poderia 
eventualmente tomar confusa a própria identidade sexual, havendo risco de 
o menor tomar - se homossexual. Também causa apreensão a possibilidade 
de a criança ser alvo de repúdio no meio que frequenta ou vítima do 
escárnio por parte de colegas e vizinhos, o que poderia acarretar 
perturbações de ordem psíquica. Estas preocupações são afastadas com 
segurança por quem se debruça no estudo das famílias com essa 
35 
 
conformação. Na Califórnia, desde 1970, vem sendo estudada a prole de 
famílias não convencionais, filhos de hippies e de quem vive em 
comunidade ou casamentos abertos, bem como crianças criadas por mães 
lésbicas ou pais gays. Concluíram os pesquisadores que filhos com pais do 
mesmo sexo demonstram o mesmo nível de ajustamento encontrado entre 
crianças que convivem com pais dos dois sexos. [...] Também não foi 
detectada qualquer tendência importante no sentido de que os filhos de pais 
homossexuais venham a se tomar homossexuais. Estudos que datam de 
1976 constataram que as mães lésbicas são tão aptas nos papéis matemos 
quanto as heterossexuais. [...] Diante de tais resultados, não há como 
prevalecer o mito de que a homossexualidade dos genitores gera 
patologias. Não foram constatados quaisquer efeitos danosos ao 
desenvolvimento moral ou à estabilidade emocional decorrentes do convívio 
com pais do mesmo sexo. Não dispõe de qualquer sustentação o temor de 
que o par possa praticar sexo na frente ou com os filhos. Assim, nada 
justifica a visão estereotipada de que o menor que vive em um lar 
homossexual será socialmente estigmatizada ou terá prejudicado o seu 
desenvolvimento e muito menos que a falta de modelo heterossexual 
acarretará perda de referenciais a tornar confusa a identidade de gênero. 
(DIAS, 2009, p.26). 
 
Pesquisas comprovam que crianças criadas por pares homoafetivos não 
apresentam quaisquer problemas em seu desenvolvimento psicossocial. 
O Desembargador Luiz Carlos de Barros Figueirêdo dispõe que: 
 
Existe homossexualidade. Existem preconceitos fortíssimos. Existem pais e 
mães homossexuais com filhos, biológicos ou adotivos. Não se trata de 
seres de outros planetas ou de um problema distante e, sim, de algo 
presente em cada cidade, em cada esquina, em cada família. É uma 
crueldade contra a espécie humana tentar retirar o tema da agenda de 
discussão e deixar de se buscar soluções que atendam a todas as partes 
envolvidas. Não se trata de “lixo”, e muito menos de varrer para debaixo do 
tapete, mas de vidas humanas que merecem respeito e dignidade. 
(FIGUEIRÊDO, 2015, p.27). 
 
Desconsiderar a regulamentação da adoção por homossexuais tem por 
fundamento principal o preconceito que faz surgir a ardilosa ideia de que este 
ambiente não será saudável para o bom desenvolvimento do adotado, no entanto, 
para o desenvolvimento dessas crianças é indispensável que ela tenha um ambientesaudável, com estabilidade emocional, para enfrentar as possíveis dificuldades no 
transcorrer de sua formação, devendo os pais homoafetivos cumprir com suas 
obrigações para a criação de seus filhos. 
Nesse sentido, na fase preliminar do processo de adoção, é realizada uma 
avaliação nos interessados, que ocorre também na criança ou adolescente que será 
cadastrado para adoção. 
36 
 
Ainda assim, após a concretização da adoção, ainda é realizado um 
acompanhamento, tendo em vista que pode ocorrer da criança não se adaptar ou os 
próprios adotantes não se adaptarem com a presença da criança. Estando em um 
ambiente com afeto e condições dignas para crescer, a criança terá um melhor 
desenvolvimento. 
Considera-se, também, o impacto positivo na esfera social e econômica, que 
se dá com o advento da adoção. Em muitos casos de adoção, o casal, por algum 
motivo, não pode ter filhos. No caso da adoção por casais homoafetivos, realmente 
não há essa possibilidade. Dessa forma, impedir a formação de uma família por 
casais do mesmo gênero vai contra diversos princípios constitucionais e morais. 
 
37 
 
6. VIABILIDADE JURÍDICA DA EDUCAÇÃO PELO CASAL HOMOAFETIVO 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente, não autoriza, muito menos proíbe a 
adoção por casais homoafetivos, como dispõe Maria Berenice Dias: 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente não traz qualquer restrição à 
possibilidade de adotar e tampouco faz referência à orientação sexual do 
adotante. A faculdade de adotar é outorgada tanto ao homem como à 
mulher, bem como a ambos conjunta ou isoladamente. Nada tem a ver com 
a opção de vida de quem quer adotar, bastando que sejam preenchidos os 
requisitos postos nos artigos 39 e seguintes. (DIAS, 2011). 
 
Nesta perspectiva, não há motivos para que uma criança não tenha um lar 
devido a orientação sexual dos adotantes. Convém apresentar um julgado que 
reconhece a possibilidade da adoção homoafetiva: 
 
Homossexuais. União Estável. Possibilidade jurídica do pedido. É possível o 
processamento e o reconhecimento de união estável entre homossexuais, 
ante princípios fundamentais insculpidos na Constituição Federal, que 
vedam qualquer discriminação quanto à união homossexual. E é 
justamente agora, quando uma onda renovadora se estende pelo mundo, 
com reflexos acentuados em nosso país, destruindo preconceitos arcaicos, 
modificando conceitos e impondo a serenidade científica da modernidade 
no trato das relações humanas, que as posições devem ser marcadas e 
amadurecidas, para que os avanços não sofram retrocesso e para que as 
individualidades e coletividades, possam andar seguras na tão almejada 
busca da felicidade, direito fundamental de todos. Sentença desconstituída 
para que seja instruído o feito. Apelação provida. (9 fls.). (Ap. Cív. 
598362655 – 8ª Câmara Cível – TJRS – Rel. Des. José Ataídes Siqueira 
Trindade – j. Em 10.03.2000). 
 
A nova configuração familiar vem sendo aceita gradativamente. É importante 
salientar o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acerca da 
adoção por casais homoafetivos, através da jurisprudência: 
 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. ADOÇÃO. CASAL FORMADO POR DUAS 
PESSOAS DE MESMO SEXO. POSSIBILIDADE. Reconhecida como 
entidade familiar, merecedora da proteção estatal, a união formada por 
pessoas do mesmo sexo, com características de duração, publicidade, 
continuidade e intenção de constituir família, decorrência inafastável é a 
possibilidade de que seus componentes possam adotar. Os estudos 
especializados não apontam qualquer inconveniente em que crianças sejam 
adotadas por casais homossexuais, mais importando a qualidade do vínculo 
e do afeto que permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as liga 
aos seus cuidadores. É hora de abandonar de vez preconceitos e atitudes 
hipócritas desprovidas de base científica, adotando-se uma postura de firme 
defesa da absoluta prioridade que constitucionalmente é assegurada aos 
38 
 
direitos das crianças e dos adolescentes (art. 227 da Constituição Federal). 
Caso em que o laudo especializado comprova o saudável vínculo existente 
entre as crianças e as adotantes. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. 
(SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70013801592, Sétima 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, 
Julgado em 05/04/2006). 
 
Desta forma, entende-se que aqueles realmente interessados na educação e 
bem-estar de um menor, sendo eles heterossexuais ou homossexuais, merecem a 
chance de garantir uma vida digna de afeto e amparo ao menor que pretendem 
adotar. 
Ainda nessa questão, a Constituição Federal traz como direito fundamental, o 
princípio da legalidade, no artigo 5º, inciso II, que determina que “ninguém será 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Dessa 
forma, o princípio da legalidade se tornou um dos pilares que sustenta o 
ordenamento jurídico brasileiro. 
Com esse entendimento, e não havendo qualquer vedação legal contra a 
adoção por casais homoafetivos, bem como levando em consideração diversos 
princípios como a dignidade da pessoa humana, igualdade e menor interesse do 
menor, não há que se falar em impossibilidade da adoção. Ficando a critério do juiz 
o deferimento ou não, levando uma enorme gama de fatores em consideração, mas 
não a orientação sexual dos adotandos. 
No processo de adoção, há sempre a assistência do Poder Público, não 
podendo as partes adotarem oficialmente sem que tenham autorização judicial. Em 
razão disso, fica resguardado o menor, que contará com um time de apoio inclusive 
no estágio de convivência, de forma que possa crescer em um ambiente saudável e 
receba o afeto e atenção que toda criança merece receber. 
Nesse sentido, o artigo 43 do ECA condiciona o deferimento da adoção à 
apresentação de vantagens para o adotando e sua motivação ser legítima. Por 
serem esses conceitos abstratos, cabe ao juiz competente determinar se há 
viabilidade na adoção feita tanto por casais heterossexuais como homossexuais. 
Todo juiz goza de poder discricionário para tomar decisões a respeito daquilo 
que falta na lei, ou seja, das suas lacunas. No que tange a adoção, deverá analisar 
as condições legais estabelecidas, em comparação com as condições apresentadas 
pelos adotantes, para, posteriormente, decidir se a adoção será o melhor para a 
criança ou adolescente, ou se a melhor opção é continuar aguardando outra família. 
39 
 
Uma vez que não é possível determinar o que é o melhor para o adotado sem 
analisar todas as condições e peculiaridades do processo em si, ficará a seu critério 
deferir ou não o pedido de adoção. 
Importante ressaltar que a adoção, para ser concretizada, necessita de uma 
sentença judicial, sob a pena de não nutrir efeitos no ordenamento jurídico. 
 
40 
 
7. CORRENTES FAVORÁVEIS X CONTRÁRIAS: 
 
7.1. CORRENTES FAVORÁVEIS 
 
A adoção por casais homoafetivos não é prevista pela Lei Nacional, pois a 
união estável só é permitida entre homem e mulher. (CC, art. 1.723; CF. Art. 226, § 
3º). 
A corrente majoritária diz respeito aos argumentos favoráveis à adoção por 
casais homoafetivos. Os adeptos desta corrente se embasam na dignidade da 
pessoa humano, na legalidade, na moralidade, nos direitos humanos, na vedação 
constitucional contra a discriminação com base na orientação sexual, na sociedade, 
em suma, sob diversos segmentos. 
O Ministro Celso de Mello em voto proferido no STF, reconhece a 
necessidade de atribuir verdadeiro status de cidadania às uniões estáveis 
homoafetivas. Alguns Tribunais têm reconhecido a união entre homossexuais, sendo 
inserido dentro do conceito de entidade familiar, sob a forma de união estável 
homoafetiva, para fins de partilhamento de bens e fins previdenciários. 
 
Um fundamento favorável a esse tipo de adoção pode ser auferido do papel 
essencial atribuído ao afeto na concepção jurídica da família 
contemporânea. Emvista disso, é relevante a importância jurídica estendida 
ao afeto, visto que, atualmente, as relações familiais extrapolam a noção 
estritamente formal da família constituída exclusivamente pelo vínculo legal 
do matrimônio. Assim a doutrina e a jurisprudência passam a associar o 
afeto à concepção jurídica de família de modo a conferir-lhe um lugar 
significativo. (PERES, 2006). 
 
O Supremo Tribunal Federal ao julgar a Ação Direta de Inconstitucionalidade 
(ADI) nº. 4277 e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 
nº. 132 reconheceu a união estável para casais compostos por pessoas do mesmo 
sexo, dando efeito vinculante à decisão, isto é, a mesma deverá ser considerada por 
outros tribunais do país em julgamento de casos que tratem do assunto. 
O Conselho Nacional de Justiça aprovou a Resolução n. 175, de 14 de maio 
de 2013, que obriga os cartórios civis a oficializar o casamento civil ou realizar a 
conversão da união estável em casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
 
41 
 
Os adeptos da possibilidade de adoção por pares homoafetivos 
argumentam que a não concessão se dá em razão da orientação sexual e 
não pela ausência de legalidade, uma vez que tal questão se depara com 
embaraços sociais inerentes ao preconceito. (SILVA JUNIOR, 2008). 
 
Não há qualquer outra razão para o impedimento da adoção, visto que é o 
bem-estar e melhor interesse do adotando que deve ser levado em conta. 
 
7.2. CORRENTES CONTRÁRIAS: 
 
De acordo com a regra do § 3° do art. 226 da Constituição Federal de 1988, é 
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, 
tendo a lei obrigação de simplificar sua conversão em casamento. Alguns 
magistrados adotaram o mencionado artigo, aplicando ao mesmo uma interpretação 
restrita. Desta maneira, declaravam que os ativistas homossexuais jamais poderiam 
propor o reconhecimento da união estável, a não ser por uma reforma constitucional. 
Ainda nesse contexto, há quem tire a legitimidade das decisões na Ação de 
Inconstitucionalidade por Omissão n. 26 e Mandado de Injução n. 4733, sob a ótica 
de que não pode o Supremo Tribunal Federal legislar sobre Direito Penal, sendo 
essa uma competência exclusiva da União Federal. 
Alguns doutrinadores entendem que, quando o requerente por pessoa 
homoafetiva, a adoção não pode ser concedida, haja vista que a preocupação 
primordial é o bem-estar e a felicidade do adotando. Neste seguimento, Maria 
Berenice Dias assegura que: 
 
A grande dúvida sempre suscitada como fundamento para não se aceitar a 
adoção por um indivíduo ou por um par homossexual está centrada em 
preocupações quanto ao sadio desenvolvimento do adotado. Questiona - se 
a ausência de referências de uma dupla postura sexual poderia 
eventualmente tornar confusa a própria identidade de gênero, havendo o 
risco de o menor se tornar - se homossexual. Também causa apreensão a 
possibilidade de a criança ser alvo de repudio no meio que frequenta ou 
vítima de escárnio por parte de colegas e vizinhos, o que, em tese, poderia 
acarretar-lhe perturbações de ordem psíquica. (DIAS, 2000, p. 98). 
 
A grande dúvida sempre suscitada como fundamento para não se aceitar a 
adoção por um indivíduo ou por um par homossexual está centrada em 
preocupações quanto ao sadio desenvolvimento do adotado. Questiona - se a 
ausência de referências de uma dupla postura sexual poderia eventualmente tornar 
42 
 
confusa a própria identidade de gênero, havendo o risco de o menor se tornar - se 
homossexual. Também causa apreensão a possibilidade de a criança ser alvo de 
repudio no meio que frequenta ou vítima de escárnio por parte de colegas e 
vizinhos, o que, em tese, poderia acarretar-lhe perturbações de ordem psíquica. 
(DIAS, 2000, p. 98). 
 
 
43 
 
CONCLUSÃO 
 
De acordo com as pesquisas realizadas ao longo deste trabalho, pode-se 
perceber que os casais homoafetivos sofreram e ainda sofrem muita discriminação. 
Contudo, isso vem mudando gradativamente devido a evolução da sociedade e 
maior intervenção do Estado no assunto. 
No referido trabalho foi abordado um tema que ainda é muito polêmico no 
Brasil, a adoção por casais homoafetivos, o posicionamento da jurisprudência e a 
forma que os direitos dos mesmos são assegurados pelo ordenamento jurídico 
brasileiro. 
Levando-se em consideração o artigo 5ª da Constituição Federal, os 
princípios fundamentais ao instituto da adoção e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, resta claro a possibilidade jurídica de casais homoafetivos adotarem, 
desde que mantenham união estável e comprovem a estabilidade da família. Pois da 
mesma forma que nem todos os casais estão aptos a adotar, o mesmo pode ocorrer 
com casais compostos por pessoas do mesmo sexo. 
Embora existam lacunas e omissões por parte da Justiça Brasileira quando 
nos referimos aos direitos dos casais homoafetivos, percebemos que a corrente 
majoritária é favorável aos mesmos. Maria Berenice Dias discorre acerca do assunto 
em um dos seus artigos: 
 
Essa postura omissiva da Justiça felizmente vem sendo 
superada. Passou a atentar a tudo que vem sendo construído 
doutrinária e jurisprudencialmente na identificação dos vínculos 
de parentalidade. A filiação socioafetiva se sobrepõe sobre 
qualquer outro vinculo, quer biológico, quer legal. Negar a 
possibilidade do reconhecimento da filiação que tem por base a 
afetividade, quando os pais são do mesmo sexo é uma forma 
perversa de discriminação que só vem prejudicar quem apenas 
quer ter alguém para chamar de mãe, alguém para chamar de 
pai. (Texto confeccionado por: Maria Berenice Dias. Advogada 
especializada em Direito Homoafetivo, Direito das Famílias e 
Sucessões. Ex-desembargadora do TJ-RS.) 
 
No momento atual, após as transformações legislativas, desenvolve-se um 
instituto assistencial, com o objetivo de trazer o melhor interesse do adotado, isto é, 
com o fim de conceder proteção e melhores condições de sobrevivência em um 
ambiente saudável. 
44 
 
Para aqueles que se posicionam contra este tipo de adoção, as razões são 
diversas, por exemplo, a falta de previsão legal, o ambiente familiar inadequado, a 
moral, o repúdio social, sobretudo os aspectos psicológicos, isto é, pressupõe-se 
que a convivência com casais homoafetivos prejudicaria o desenvolvimento da 
criança que necessita se moldar tanto na figura materna como na paterna. 
Para os que defendem a possibilidade de ser concedida a adoção a pares 
homoafetivos, a legislação brasileira não estabelece qualquer impedimento para tal 
feito, além disso, a não concessão estaria ferindo o princípio constitucional da 
dignidade da pessoa humana, igualdade, e o da não-discriminação. 
As vantagens para a criança ou adolescente viver no ambiente de um lar 
afetuoso junto a um casal homoafetivo que lhe possibilite uma vida digna são 
inúmeras. E largá-la num abrigo ou nas ruas à mercê da criminalidade para manter a 
ideia ultrapassada de “família tradicional”, isto sim é uma afronta a todos os 
preceitos fundamentais da Constituição Federal de 1988. 
Cumpre salientar, por conseguinte, que a sociedade está em constante 
evolução e a família vem demonstrando diferentes formas de organização, por este 
motivo o direito não poder ser estático, visto que para buscar a justiça, é 
imprescindível acompanhar as constantes mudanças. O deferimento da adoção por 
casais homoafetivos demonstra o respeito a isonomia entre todos os cidadãos, visto 
que todos têm o direito de constituir família independente da forma, desde que seja 
o melhor para o menor. 
Ademais, para que a construção de uma sociedade mais justa, livre e 
solidária não passe apenas de um sonho muito distante, é essencial que prevaleça o 
afeto, não podendo assim, se sobressair a falta de respeito, a discriminação, o 
pensamento retrógrado, e outras formas de preconceitos mascarados. 
Outrossim, se há possibilidade jurídica baseada nos direitos

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