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PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS À PRISÃO Professor Thiago Baldani Gomes De Filippo 7 – Dosimetria da pena (pena-base) Princípio da individualização das penas (art. 5º, XLVII, CF): cominação (abstrata), fixação (concreta) e execução (concreta). Critério trifásico: vitória da proposta de Nelson Hungria (1891-1969) sobre a de Roberto Lyra (1926-1986), que foi encampada pela Reforma Penal de 1984. A fixação da pena deve obedecer a três fases: 1ª - fixação da pena-base: análise das circunstâncias judiciais (art. 59 do CP). 2ª - fixação da pena provisória: análise das circunstâncias agravantes (arts. 61 e 62 do CP) e das circunstâncias atenuantes (arts. 65 e 66 do CP). 3ª - fixação da pena definitiva: análise das causas de aumento e causas de diminuição de pena. 7 – Dosimetria da pena (pena-base) Circunstâncias do art. 59 do CP: são chamadas “judiciais”, devido à liberdade interpretativa que conferem ao juiz. Críticas à ampla margem de liberdade conferida ao juiz na primeira fase: a preocupação é com a insegurança jurídica e a possibilidade de arbítrio. Crítica semelhante fez com que os EUA, por volta da década de 1950, abandonassem o modelo de penas indeterminadas (indeterminante sentencings e parole boardings), em prol de um modelo de penas taxativas de acordo com a gravidades do fato, cotejadas com os antecedentes (sentencing guidelines). Montante de fixação: não há regra legal preestabelecida, mas, como regra, 1/6. 7 – Dosimetria da pena (pena-base) Circunstâncias judiciais em espécie: as cinco primeiras são de natureza subjetiva (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade e motivos do crime) e as outras três são de natureza objetiva (circunstâncias do crime, consequências do crime e comportamento da vítima). 1. Culpabilidade: sentido de grau de reprovação do comportamento (lembrar que o termo culpabilidade para o direito penal é polissêmico, porque também há culpabilidade como princípio, que representa a consagração da responsabilidade penal subjetiva; e culpabilidade como elemento do conceito analítico de delito). A culpabilidade é a circunstância mais porosa e, por isso, residual, porque dificilmente conduzirá, por si só, a alguma alteração da pena, porque muito frequentemente a reprovabilidade estará ligada às demais circunstâncias. 7 – Dosimetria da pena (pena-base) 2. Antecedentes: trata-se de condenações criminais definitivas que não podem ser reconhecidas como reincidência, não se submetendo ao período depurador de 5 anos, próprio da reincidência. OBSERVAÇÕES: - Inquéritos policiais, ações penais em curso e sentenças condenatórias sem trânsito em julgado não podem servir como maus antecedentes (Súmula 444 do STJ e tese de repercussão geral fixada pelo STF no RE 591.054/2004). - Súmula 241 do STJ: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”. - Controvérsias se pode haver o reconhecimento dos maus antecedentes se o trânsito em julgado sobrevém à prática do crime, desde que se refira a fato anteriormente praticado (no sentido da possibilidade: STJ, HC 287079/SP, Rela. Mina. Maria Thereza de Assis Moura, j. 13.10.2014). 7 – Dosimetria da pena (pena-base) 3. Conduta social: conduta social é a maneira pela qual o acusado se relaciona em seu trabalho, com seus vizinhos, com sua família etc. É muito comum que os advogados queiram fazer prova da boa conduta social por meio da oitiva de testemunha de antecedentes sociais. A questão é que, muito embora tenha se tratado de uma opção legislativa, é muito problemático que fatos que são, em princípio, penalmente irrelevantes passem a ganhar relevância penal para aumentar a pena, o que viola o princípio da estrita legalidade. Ebriedade habitual, vadiagem, frequentador de casas de prostituição, adúltero etc., são qualidades negativas que não possuem relevância penal. Se é assim, não deveriam ter qualquer impacto na elevação das penas. Por isso, deveriam ser utilizadas apenas para reduzir penas porque, em tese, quanto melhor for a conduta social, menor será a necessidade preventivo-especial positiva. Observação: ainda que o juiz entenda que a conduta social pode ser validamente utilizada para aumentar a pena, pelo menos os dados devem ser obtidos até a prática da infração penal, sendo irrelevantes eventuais condutas desabonadoras posteriores ao fato, seguindo-se a mesma lógica dos antecedentes criminais. 7 – Dosimetria da pena (pena-base) 4. Personalidade: é extremamente difícil que o juiz tenha dados sobre a personalidade do acusado: se é pessoa de boa ou má índole. Para tanto, seria necessário laudo psicológico, porque o juiz não possui, como regra, formação técnica para extrair conclusões acerca da personalidade dos sujeitos submetidos a julgamento. O problema aqui será o mesmo relativo à conduta social: a possibilidade de aumento da pena a partir do subjetivismo do julgador, mediante avaliações exclusivamente morais de questões inicialmente irrelevantes ao direito penal, violando-se o princípio da legalidade estrita. 7 – Dosimetria da pena (pena-base) 5. Motivos do crime: os motivos do crime frequentemente servem para alterar as penas em outras etapas do estabelecimento das sanções penais. Eles podem servir como qualificadoras (exemplo é o homicídio qualificado pela torpeza ou futilidade de motivo), causas especiais de diminuição de pena (como o relevante valor social ou moral para o homicídio privilegiado). Ele também funciona como circunstância agravante genérica (art. 61, II, a e b: torpeza ou futilidade de motivo; e para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime). O motivo que qualifica ou agrava a pena não pode ser usado como circunstância legal, sob a pena de bis in idem, de maneira que dificilmente se poderá alterar a pena pelos motivos na primeira etapa da dosimetria. Outra observação é que o motivo inerente a alguns crimes não pode ser utilizado para a elevação da pena como, por exemplo, aumentar-se a pena do furto ou do tráfico porque o réu desejava lucro fácil, porque esse desejo é normalmente inerente a esses tipos. 7 – Dosimetria da pena (pena-base) 6. Circunstâncias do crime: são circunstâncias que incrementam ou diminuem os desvalores das condutas inerentes aos tipos penais. Muito frequentemente essas circunstâncias se operem em outras fases, como a causa especial de aumento de pena do repouso noturno para o furto, ou o emprego de arma de fogo para o roubo. Mas, quando não houver previsão para outras fases, elas poderão ser utilizadas pelo juiz na primeira etapa. É o caso do sujeito que mata a mulher na frente das filhas menores. Trata-se de circunstância suficiente a ensejar a elevação da pena. Observar que essas circunstâncias devem ser ao menos previsíveis pelo acusado, sob a pena de consagração da responsabilidade objetiva. Por exemplo, a venda de drogas perto de uma escola enseja a elevação da pena (art. 40 da Lei 11.343/2006). Para tanto, contudo, não deve bastar a proximidade geográfica do local do fato com a unidade escolar, devendo o agente conhecer essa circunstância. 7 – Dosimetria da pena (pena-base) 7. Consequências do crime: são circunstâncias que incrementam ou diminuem os desvalores dos resultados inerentes aos tipos penais. Essas circunstâncias podem se operar em outras fases, como a gravidade das lesões corporais, mas, se não houver previsão, o juiz poderá se valer das consequências nesta fase. Um exemplo pode ser o trauma psicológico causado pela prática de um estupro contra uma criança, ou a entrega de grande quantidade de drogas para uma pessoa consumir em sua presença, que acaba por lhe causar overdose e risco de morte. Observar que esses resultados devem ser ao menos previsíveis pelo acusado, sob a pena de consagração da responsabilidade objetiva, e não podem fugir do âmbito de proteção da norma, decorrendo diretamente do resultado. 7 – Dosimetriada pena (pena-base) 8. Comportamento da vítima: a vítima pode ter parcela de responsabilidade na prática da infração penal. Muito embora, na maioria das vezes, a contribuição da vítima não seja capaz de afastar a responsabilidade criminal, seu comportamento poderá acarretar certa diminuição da pena. É o que ocorre, por exemplo, quando vítima de um furto havia deixado o seu carro aberto, com a chave na ignição, ou mesmo a vítima de lesão corporal culposa na direção de veículo automotor resolveu tomar carona com o acusado que sabia que estava embriagado.
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