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1 LITERATURA Prof. Ismael Dantas prof.ismael.dantas@gamil.com www.dantas.pro.br [11] 8517-1911 As Meninas Diego Velázquez [1599-1660] Barroco.......................................................................................................................... 02 Contexto Histórico-Cultural............................................................................................ 03 Manifestações Artísticas ................................................................................................ 07 Características................................................................................................................. 18 Tendências do Barroco Literário..................................................................................... 20 Os gêneros / As fôrmas estróficas / Diversidade temática.............................................. 22 Comparação: Barroco e Renascimento......................................................................... 23 Resumo sucinto dos representantes nas Literaturas Ocidentais................................. 24 Atividades ....................................................................................................................... 36 Fonte de consulta ......................................................................................................... 60 Textos complementares acerca do Barroco: Introdução ao Barroco Literário Europeu..................................................................... 63 Cultismo e Conceptismo.................................................................................................. 66 A Época Barroca (1601/1768)....................................................................................... 67 O Conceito do Barroco ......................................................................................................71 Uma Introdução ao Barroco ..............................................................................................85 2 Estilo artístico e literário predominante desde meados do século XVI até o século XVIII. O Barroco também é chamado de Seiscentismo por ser a estética dominante nos anos de 1600 (século XVII). Teve como pátria a Espanha, daí passando para a Itália e logo depois aos demais países ocidentais. Representantes nas literaturas ocidentais: Espanha: Gôngora, Quevedo, Cervantes, Lope de Vega, Calderón,; Itália: Marino, Tasso; França: Descartes, Pascal, Boileau, La Fontaine, Corneille, Racine, Molière; Inglaterra: John Lily, John Donne, John Milton; Alemanha: Silesius, Opitz, Gryphius. O Barroco engloba em literatura uma série de denominações hoje superadas: Gongorismo (Espanha) – pela influência do estilo do poeta Luís Gôngora (1561/1627). Marinismo (Itália) – pela influência exercida por Gianbattista Marini (1569/1625). Eufuísmo (Inglaterra) – derivado do título da novela Euphéus, do escritor John Lily (1553/1606). Preciosismo (França) – pelo culta à forma extremamente rebuscada na Corte de Luís XIV. Silesianismo (Alemanha) – por influência do escritor Angelus Silesius (1624/1677). “Barroco termo primitivamente usado por alguns críticos para contrapor, à tendência classicista mediterrânea e latina, certo espírito presente nas obras de arte nórdicas, marcadas por um ostensivo desequilíbrio entre o sensual e o espiritual, entre o gozo e sofrimento, entre a barbárie e a sublimação mística, sacrificando a harmonia em proveito da exuberância, do efeito lúdico e obscuro.” (Geir Campos, in Pequeno Dicionário de Arte Poética.) Em Portugal, O Barroco ou Seiscentismo tem o início em 1580, quando Portugal passa para o domínio espanhol (1580/1640) e se estende até 1756. Representantes portugueses: Francisco Rodrigues Lobo, Padre António Vieira, Mariana Alcoforado e entre outros. No Brasil, o marco introdutório do Barroco tem o início com o poema Prosopopéia, de Bento Teixeira, publicado em 1601 e se estende até 1768. Representantes brasileiros: Bento Teixeira, Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Itaparica, Pe. Antônio Vieira, Frei Vicente do Salvador, Fernandes Brandão e entre outros. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ «O Barroco é a tentativa de ligar o homem ao Divino – ligação rompida pela Renascimento que entendia o homem voltado para a terra» 3 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL Galileu Galilei [1564-1642] Isaac Newton [1643-1727] Desenvolvimento Científico Enquanto a Europa avançava no campo científico, com as pesquisas e descobertas de Galileu Galilei (ensinou a teoria herética do movimento da Terra) e de Issac Newton (introduziu a noção de gravitação universal ao identificar a gravidade terrestre com as atrações entre os corpos celestes – episódio da «maçã de Newton»), a Península Ibérica era reduto da cultura medieval. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ Absolutismo Sistema político no qual o poder se concentra nas mãos do soberano, que exerce todas as atribuições: legislação, justiça, administração etc. Foi o regime das monarquias da Europa ocidental nos séculos XVII e XVIII. Todo poder exercido de forma ilimitada e indivisível. “Sistema de governo em que o governante se investe de poderes absolutos, sem limite algum, exercendo de fato e de direito os atributos da soberania.” (Aurélio Buarque de Holanda, in «Novo Aurélio») Luís XIV um dos expoentes do absolutismo [Hiacint Riagau -1659/1743] ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 4 By Dantas Conflitos religiosos A grande crise religiosa do século XVI, ficou conhecida com o nome de Reforma Protestante iniciada por Martinho Lutero (1483-1546), que defendia o livre exame da Bíblia. Provocou a Reforma a criação de igrejas nacionais. A reação da Igreja Católica Romana foi denominada de Contra-Reforma. ................................................................................................ ............................................................................................Portugal sob o domínio Espanhol Em 1580, Portugal perde a autonomia política para a Espanha que se prolonga até 1640. A perda da autonomia e o desaparecimento de D. Sebastião (1554/1578) na batalha de Alcácer-Quibir, na África, criam-se o Mito Sebastianismo (crença de que Dom Sebastião não morrera na batalha e voltaria em breve para retornar o trono que lhe pertencia e transformaria Portugal no Quinto Império). ...................................................................... ...................................................................... Formação da sociedade patriarcal nos engenhos de Pernambuco Durante quase todo o período colonial, Pernambuco teve uma formação acentuadamente patriarcal. Onde havia praticamente apenas duas classes sociais: os senhores de engenho e os escravos. ............................................................ 5 Postado por Dantas A Invasão Holandesa em Pernambuco (1630-1654) Em fevereiro de 1630, os holandeses desembarcaram na costa pernambucana fortemente amparados por setenta navios bem armados e municiados, visando à zona açucareira do país. Haja vista que os holandeses já tinham invadidos a Bahia em 1624, mas foram derrotados no ano seguinte. Durante a presença dos holandeses em Pernambuco, aparece a figura de Domingos Fernandes Calabar (natural de Porto Calvo, AL- 1600/1635) – senhor de engenho na capitania de Pernambuco, conhecia como ninguém a sua terra, a costa e os recursos de guerra utilizados por seus compatriotas. Tornou-se aliado dos holandeses. Em 1636, os holandeses dominavam o litoral brasileiro desde o Maranhão até foz do Rio São Francisco. Para tomar posse dessas terras, organizar a conquista e prosseguir no plano de expansão, a Holanda enviou o nobre e culto governador Maurício de Nassau (1604/1679). Embora considerado inimigo, introduziu melhoramento em Recife e Olinda. Prestigiou as letras, ciências e artes trazendo para Recife intelectuais e artistas de vários países europeus. Com as duas Batalhas dos Montes Guararapes, em Recife, hoje atual município Jaboatão dos Guararapes, terminou o domínio holandês no Brasil (1630/1654). ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ A ideologia corrente do Barroco resultou do movimento espiritual desencadeado pela Contra –Reforma, no intuito de reaproximar o homem e Deus, o celestial e o terreno, o religioso e o profano, conciliando as duas a medieval e renascentista.” Brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar O mar é das gaivotas» [Milton /Leila Dinis] Recife by Dantas 6 Quilombo dos Palmares Zumbi (séc. XVII), chefe do Quilombo dos Palmares, também conhecido com Zambi. Sobrinho do rei Ganga Zumba que, após a investida de Fernão Carrilho (1677), foi obrigado a aceitar a paz em condições desfavoráveis. Mas, sob a liderança de Zumbi, a luta prosseguiu. Em 1692, derrotou Domingos Jorge Velho, mas, em 1694, a praça forte de Palmares foi invadida e tomada. Zumbi escapou e continuou a resistência contra os brancos. Em 1695, traído, teve seu esconderijo descoberto e foi morto. .................................................................. .................................................................. Busto de Zumbi dos Palmares – Brasília Serra da Barriga – União dos Palmares - AL [09/01/11] Posted by Dantas / Amorim “Em meados de 1580, a princesa africana Aqualtune foge da escravidão com seus filhos e, na íngreme Serra da Barriga, funda o Quilombo dos Palmares que se transformaria na sede de uma República Negra autossuficiente, vindo a ocupar uma área de quase duzentos quilômetros, no atual território de União dos Palmares, Alagoas, tornando-se um dos maiores ícones da resistência negra contra a escravidão no Brasil e abrigando mais de vinte mil pessoas, cerca 20% da população da época. O Quilombo dos Palmares resistiu por mais de cem anos aos ataques de portugueses e holandeses. Hoje a Serra da Barriga é patrimônio histórico, arqueológico, etnográfico e paisagístico. Em 21 de março de 1997, Zumbi, o último general a liderar Palmares, foi reconhecido pelo governo federal com Herói Nacional. Para preservar essa memória foi erguido, no mesmo solo onde Zumbi e seu guerreiros viveram e lutaram, o Parque Memorial Quilombos dos Palmares.” (Secretária Municipal de Turismo - União dos Palmares, AL.) ................................................................................................ ............................................................................................ 7 MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS Arquitetura Centra-se em três princípios: a busca do movimento nas construções (plantas elípticas, fachadas curvas); a utilização da luz para lograr os efeitos desejados (jogos de claro-escuro) e a perca do caráter construtivo de alguns elementos em favor de sua maior riqueza ornamental. Artistas da arquitetura barroca: Francesco Borromini, Della Porta, Baltassare Longhena, Bernini (também escultor) entre outros. ................................................................................................ ................................................................................................ Interior da cúpula da Igreja de Sant’Ivo (1642/61) Fachada da Igreja de San Carlino (1665/67) Francesco Borromini Francesco Borromini (1599/1667) – arquiteto italiano. Aos quinze anos, partiu para Roma, atraído pelas obras de São Pedro e a proteção de Maderno, seu parente, que o iniciou na matemática. Afastado do canteiro da basílica para dar lugar a Bernini, nem por isso deixou de fazer uma grande carreira romana a serviço da Igreja. Trabalhou nos palácios dos pontífices, em São João de Latrão e em S. Agnese, mas dedicou-se sobretudo às congregações: convento dos frades trinitários (1634); e sua igreja, S. Carlo alle Quattro Fontane (1638, fachada após 1662); convento dos filipinos; igreja de S. Ivo (1642), para o Collegio della Sapienza; imenso Palácio da Propaganda da Fé (1662), para os jesuítas. Substituiu a orientação clássica das igrejas de planta central pelo dinamismo de volumes irradiantes com sutis efeitos de perspectiva, rompeu as superfícies para integrá-las ao espaço ambiental, optou pela interferência de figuras geométricas e enfatizou estrutura à maneira da arte gótica. Borromini é uma das figuras máximas do Barroco romano. ................................................................................................ ................................................................................................ 8 Della Porta Giacomo della Porta (1540/1602) – arquiteto italiano. Conclui em Roma os grandes edifícios que Michelangelo deixaria inacabado. Della Porta pode ser considerado como direto seguidor de Vignola (1507/1573), com o qual ele colaborou como ajudante e com o qual se formou como discípulo. Uma de suas obras mais formosa foi a fachada da Igreja de Gesù, onde modificou os planos de seu próprio mestre Vignola, transformando o esquema maneiristacom um dinamismo e um sentido do claro-escuro que denunciam a tendência ao Barroco. ............................................................. ............................................................. ............................................................ Baltassare Longhena Baltassare Longhena (1598-1682) – o grande mestre do Barroco veneziano e um dos arquitetos mais importantes do Seicento, é contemporâneo de Bernini e Borromini. A sua obra excepcional - a igreja de Santa Maria della Salute , construída entre 1631/81. A obra (igreja de Santa Maria della Salute) - trata-se duma igreja votiva e esta a razão de sua forma, que não atem as exigências litúrgicas mas simbólica. Trata-se dum organismo monumental ou objeto precioso, exibido como oferenda à Mãe celestial. ........................................................... ......................................................... 9 Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres Catedral – Salvador, BA Jaboatão dos Guararapes, PE Postado por Dantas As Igrejas de São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo Centro histórico de Mariana , MG Convento de Nossa Senhora da Luz (atual Museu de Arte Sacra) São Paulo, SP As Igrejas Barrocas no Brasil . ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 10 Escultura Adquire grande dinamismo e expressividade. Efeitos de claro-escuro, ideia de movimento contido, dramatismo. Abundância de temas mitológicos e religiosos. Escultores: Bernini, Aleijadinho (Brasil) entre outros. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ Bernini Bernini (1598/1680) – escultor e arquiteto italiano. Durante sua longa e fecunda carreira, afirmou-se como o mestre do Barroco. Seu estilo de escultor caracterizou-se pela graça e vivacidade de invenção (Apolo e Dafne, mármore de 1622), um movimento intenso, a maciez do tratamento das formas e dos planejamentos, o sentido do dramático, (O Êxtase de Santa Teresa, 1654-1652). Uma de suas primeiras obras, o baldaquino em bronze do altar da basílica de São Pedro (1624), é considerada o manifesto da arte barroca. ............................................................... ............................................................... ............................................................... ............................................................... ............................................................... 11 Aleijadinho Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730/1814). Escultor e arquiteto brasileiro. Filho do mestre de obras português Manuel Francisco Lisboa e Isabel, escrava deste, aprendeu o ofício com o pai, autor do risco da igreja da Ordem Terceira do Carmo (1776), em Ouro Preto. Na agitada Vila Rica do século XVIII, que emergia da aventura do ouro e pronunciava a emancipação, Antônio Francisco foi o discípulo informal de uma comunidade interessada nas letras, nas artes e na política. Tendo saído de Minas uma única vez, quando foi ao Rio de Janeiro, incorporou, através de gravuras e textos, a tradição do Barroco e do rococó e os ecos do clássico e do gótico; mas sobretudo absorveu e transformou o ambiente popular de seu tempo, chegando a um modo brasileiro de arte que não se prendeu a um só estilo e cuja força extravasou livremente, fundindo meios expressivos tradicionais com uma vivência nacional e o uso de materiais brasileiros, como a pedra-sabão. Sua obra, extensa e rica, espalhada pelas vilas e cidades de Ouro Preto, Sabará, São João del Rei, Mariana, Tiradentes, Congonhas, Caeté, Barão de Cocais, foi praticamente ignorada no Brasil acadêmico do século XIX e até o início deste, quando Antônio Francisco Lisboa passsou a ser definitivamente considerado o maior artista brasileiro do século XVIII. Em 1968 foi inaugurado o Museu do Aleijadinho, na Igreja matriz de Antônio Dias, bairro de Ouro Preto, onde viveu e morreu o artista. Algumas obras: O Profeta Daniel (pedra-sabão), Cristo Carregando a Cruz (escultura em madeira), Igreja de São Francisco de Assis (em Ouro Preto, 1766).. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 12 Pintura A pintura barroca é realista, concentrada nos retratos no interior das casas, nas paisagens, nas naturezas mortas e nas cenas populares. A pintura barroca propõe questões tais como: a realidade refletida no espelho será ilusória ou real? será um reflexo ou um duplo? Pintores do Barroco: Velázquez, Rembrandt, Caravaggio, van Dyck, Rubens, Frans Post, Eckhout, Vermeer, Ataíde (Brasil) entre outros. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ Velázquez Diego Velázquez (1559/1660) – pintor espanhol. Filho de pai português e mãe andaluza. Formou-se com F. Pacheco. Quadros religiosos, retratos e cenas de gênero dessa época sevilhana já revelam uma espantosa perfeição (manejo da luz, vigor do relevo) em seu registro e a influência do tenebrismo Caravaggio. Suas obras principais: «As meninas», «As Fiandeiras», Vênus ao Espelho» entre outras. Velázquez foi um precursor muito caro do Impressionismo. ............................................................. ............................................................. ............................................................. ............................................................. ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ 13 Rubens Rubens Petrus Paulus (1577/1640) – pintor flamengo. Seu interesse pela pinturaitaliana, adquirido em Antuérpia em contato com as obras dos grandes mestres na Itália (Ticiano, Veronese, Caravaggio e outros), marcou o início de sua gloriosa carreira (A Descida da Cruz, 1612, catedral de Antuérpia). Sua forte personalidade afirmou-se num estilo expressivo, fogoso e colorido, à beira da violência, que correspondia ao gosto da Contra-Reforma. ................................................................................................ ................................................................................................ Rembrandt Rembrandt (1606/1669) - pintor e gravador neerlandês. Após os estudos de humanidades, iniciou-se na pintura em Leiden, depois aprendeu, em Amsterdam, com P. Lastman, os elementos de uma arte realista trabalhada com efeitos de luz. Sua audácia logo conferiu às suas telas uma força dramática e uma intensidade de expressão acentuadas por vigorosos efeitos de iluminação, que criavam a forma e o espaço, e aos quais a cor se subordinavam (Os Peregrinos de Emaús, 1648). ................................................................................................ ................................................................................................ 14 Caravaggio Caravaggio (1571/1610) – pintor italiano. Sua carreira foi breve e tumultuada, marcada por rixas e entreveros provocados por seu temperamento. Caravaggio reagiu às convenções do Maneirismo e opôs a elas uma pintura “natural”, direta a até mesmo brutal, que por sua franqueza renovou a natureza-morta (Cestas de Frutas), e as cenas profanas (Baco Doente), bem como temas religiosos (Morte da Virgem). Os contrastes de sombra e luz sublinham formas maciças que, na maior parte de suas obras, emergem vigorosamente de um fundo negro. A influência que deixou na Europa, através do caravagismo, foi muito importante. ................................................................................................ ........................................................................................... van Dyck Antoon van Dyck (1599/1641) – pintor, desenhista e gravador flamengo. Trabalhou com Rubens. Realizou a arte do retrato pomposo (idealização, refinamento, força e variedades de efeitos cromáticos) e criou obras para as igrejas dum sentimentalismo um pouco afetado, de barroquismo elegante. Na Antuérpia, retomou a fórmula flamenga do retrato meio-corpo e produziu novas composições religiosas (igrejas de Antuérpia, Malines, Gand, etc.). Chamado à Inglaterra em1632, pintor do rei, acumulado de honrarias, executou c. de 400 retratos, alguns dos quais são obras- primas de extremo virtuosismo (Três filhos de Carlos I, 1635). Sua influência sobre a escola inglesa foi imensa. Ficou conhecido como o Sir Anthony van Dyck. ................................................................................................ ................................................................................................ 15 Eckhout Albert Eckhout (1610/1665) – pintor holandês. Veio para o Brasil a convite de Nassau, em 1637, e aqui permaneceu até 1644. Pintou oito grandes retratos de habitantes do país e 12 naturezas-mortas com frutas tropicais. A «Dança dos Tapuias», considerada sua obra- prima. ................................................................ ................................................................ ................................................................ ................................................................ ............................................................. Frans Post Frans Post (1612/168) – pintor holandês. Órfão aos dois anos de idade, foi criado pelo irmão mais velho, Pieter Post, por intermédio de quem conheceu Mauricio de Nassau, que terminou por trazê-lo para o Brasil (1637). Fiel à realidade, fixou a paisagem pernambucana; seu trabalho se caracteriza pela árvore solitária a um canto e a perspectiva geralmente baixa, com o céu ocupando a maior área do quadro, Panorama brasileiro (1652) é uma de suas telas mais formosas. Dentre suas telas destacam-se ainda Ilha de Itamaracá (1637). ........................................................ 16 Vermmer Johannes vermeer (1632/1675). Pintor holandês. O século XIX redescobriu esse pintor de raras obras (cerca de 40 pequenas telas de autenticidade comprovada) para levá-lo ao ápice da arte, não apenas holandesa mas universal. Pouco se sabe sobre a formação de Vermeer, que seguramente teve contato com a pintura italiana, sobretudo a escola de Caravaggio. Seus temas são tirados do cotidiano: Mulher na Janela, A Leiteira, A Rendeira, Moça de Turbante entre outros. É o segundo pintor holandês mais famoso e importante do século XVII, depois de Rembrandt. ................................................................................................ ................................................................................................ Ataíde Manuel da Costa Ataíde (1762/1837) – pintor brasileiro. Usou tanto óleo com têmpora, sobre tela ou madeira, mostrando traço seguro e predileção pelos azuis. Inspirou-se nas estampas de missais europeus, mas dotou suas personagens de feições populares e colorido vivo. Considerado o maior pintor do Barroco mineiro, foi contemporâneo de Aleijadinho e realizou sua obra mais importante com a pintura A Glorificação da Virgem no teto da nave da Igreja de São Francisco, em Ouro Preto. ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................... 17 Música Nenhuma escola musical possui analogias tão nítidas com as artes plásticas como o barroco: há o culto do ornamento, do arabesco – notas que “enfeitam” a melodia. De Monteverdi a Johann Sebastian Bach, a música descobre a profusão dos sons simultâneos como meio de alcançar o belo. Como pano de fundo dos instrumentos que se revezam na narração melódica, surge o baixo contínuo (em geral o cravo). A linguagem tonal se firma como sustentáculo da polifonia. Emergem novos gêneros musicais: oratório, cantata, concerto sonata para teclado. Principais compositores: [1] [2] [3] [1] [2] [3] [1] Cláudio Monteverdi [Italiano - 1567/1643] – Orfeu (ópera), Madrigais. Considerado o «Pai da Ópera» [2] Antônio Vilvadi [Italiano -1678/1741] – As Quatro Estações (Concertos) [3] Johann Sebastian Bach [Alemão – 1685/1750] – Concertos de Brandenburgo, A Arte da Fuga, Paixão Segundo São Mateus, O Cravo Bem Temperado. O maior compositor do Barroco alemão. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ........................................................................................... “De todas as artes a música é a mais sugestiva”. [Telles]“A música faz voltar ao passado.” [Telles] 18 CARACTERÍSTICAS: Sentido eminentemente religioso - sentimento do exílio desta vida, do desengano do mundo, terror do inferno, ânsias do céu, etc. Deus está em mim e eu nele. O fogo em mim é Deus e eu nele sou brilho: E não estamos porventura intimamente unidos? (Angelus Silesisu) ................................................................................................ ................................................................................................ Fusionismo – conciliação dos valores antitéticos: teocentrismo x antropocentrismo, Deus x homem, céu x terra, alma x corpo, fé x razão, virtude x prazer, misticismo x sensualismo, claro x escuro, medievalismo x renascimento etc. Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque, quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. (Gregório de Matos) ................................................................................................ ................................................................................................ O exagero - enquanto o estilo clássico (Classicismo) buscava um equilibro, o Barroco apresenta o exagero, caracterizado no uso exagerado da expressão e pelo uso das linhas diagonais na pintura. A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. (Gregório de Matos) ................................................................................................ ................................................................................................ 19 A dúvida – o pensamento barroco tem pouca certeza e bastantes dúvidas. A morte se tornou uma preocupação constante (como na Idade Média) entre a incerteza da vida, sempre vivendo com medo e com dúvida. « Meu Deus quando eu morrer, eu irei para o céu ou para o inferno»? (Telles). Porém, se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? (Gregório de Matos) ................................................................................................ ................................................................................................ Preocupação com a transitoriedade da vida - a vida não permite que o homem a viva intensamente, como seria seu desejo. Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. (Gregório de Matos) ................................................................................................ ............................................................................................... Predomínio de figuras de linguagem – metáfora, antítese, paradoxo, hipérbole, anástrofe, hipérbato, anadiplose etc. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ «O Barroco é uma arte da morte e dos túmulos» (Aldous Huxley) «O homem é um animal religioso» 20 Tendências do Barroco Literário São duas as tendências básicas do Barroco: Cultismo e Conceptismo. Embora constituam estilos diferentes, podem coexistir num mesmo texto. Cultismo – é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante. Jogo de palavras. Neologismo. O autor cultista recorre as figuras de linguagem como hipérbato (inversão da frase), antítese, sinestesia, anáfora etc. Também chamado de Gongorismo, por influência do poeta espanhol Luís de Gôngora. Na Literatura Brasileira, Gregório de Matos. ................................................................................................ ................................................................................................ Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (Gregório de Matos) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ “Era do ano a estação florida em que o suposto roubador de Europa - media a Lua as armas da sua fronte e o Sol todos os raios de seus cabelos -, luzente honra do céu, em campos de safira pascem estrelas... (Luís de Gôngora) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ______ NOTAS: pascer – pastar; fazer pastar. Dar prazer a; deliciar. 21 Conceptismo – é marcado pela artificialização do raciocínio, jogo de ideia, argumentação sutil. Enquanto o Cultismo é essencialmente descritivo, o Conceptismo é analítico. Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol Francisco de Quevedo, de onde deriva o termo Quevedismo. Na literatura Luso-Brasileira, Padre Antônio Viera. ................................................................................................ ............................................................................................ "... Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregdores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de um parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta, que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? ..." (Padre Antônio Viera, in «Sermão da Sexagésima») “Quis Cristo que o preço da sepultura dos peregrinos fosse o esmalte das armas dos portugueses, para que entendêssemos que o brasão de nascer portugueses era a obrigação de morrer peregrinos: com as armas nos obrigou Cristo a peregrinar, ecom a sepultura nos empenhou a morrer. Mas se nos deu o brasão que nos havia de levar da pátria, também nos deu a terra que nos havia de cobrir fora dela. Nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra; para nascer, Portugal; para morrer, o mundo.” (Padre Antônio Vieira, in «Sermão de Santo Antônio» - pregado em Roma, na Igreja dos Portugueses.) ................................................................................................ ................................................................................................ ........................................................................................... “Um outro coração, um homem novo preciso ser, Senhor, no meu espírito; desnuda-se de mim, que poderá ser que a tua piedade pague o que devo. (Francisco de Quevedo) ................................................................................................ ................................................................................................ ........................................................................................... 22 Os gêneros Prosa e poesia são igualmente cultivadas na época barroca. A prosa de caráter conceptista, na oratória religiosa do Padre Antônio Vieira. Na poesia de caráter lírico, com temas e motivos amorosos, ou de natureza reflexiva. Na literatura Brasileira, de Gregório de Matos Guerra e Francisco Lobo, na Literatura Portuguesa. O teatro também foi cultivado pelos espanhóis: Lope de Vega, Calderón La Barca entre outros. ................................................................................................ ................................................................................................ As fôrmas estróficas Das fôrmas métricas cultivadas no período barroco, o «soneto», continua ser a principal; mas outra fôrma assume lugar de destaque – o «romance», fôrma poética construída por quadras de versos de redondilha e rima toante. Podemos acrescentar outras fôrmas poéticas como: a «oitava», o «terceto» e a «décima». ................................................................................................ ................................................................................................ A diversidade temática Os temas mais frequentemente tratados na poesia barroca são: a miséria da condição humana; a vida como labirinto e desconcerto; o sentimento de decadência e de melancolia perante a efemeridade de tudo o que é terreno; o desejo de conversão a Deus; os defeitos físicos; as situações indecorosas e sórdidas; vícios repulsivos entre outros. ................................................................................................ ................................................................................................ .......................................................................................... «A literatura barroca cultivou com frequência e aprazimento uma estética do feio e o do grotesco, do horrível e do macabro» (Aguiar e Silva, in »Teoria de Literatura) “O homem barroco oscila entre a renúncia e o gozo dos prazeres da vida” ____________________ NOTAS IMPORTANTES: DANTAS, Ismael. “Oitava, terceto e décima” In: Apostilha - gêneros literários. Atibaia / Guarulhos, 2011. sórdido – que é imundo; repugnante. 23 Vila Capra [1550] A Colunata da Praça de São Pedro Andrea Palladio [1508/1580] Bernini [1598/1680] Comparação: Barroco e Renascimento Wölfflin, comparando Barroco e Renascimento, estabelece alguns princípios fundamentais que definem a passagem do tipo de representação táctil para o visual, isto é, da arte renascentista para a barroca. Dessa maneira: O Barroco representa não um declínio, mas o desenvolvimento natural do Classicismo renascentista para um estilo posterior. Esse estilo, diferentemente do renascentista, já não é táctil, porém visual, isto é, não admite perspectivas não-visuais, e não revela sua arte, mas a dissimula. A mudança executa-se consoante uma lei interna, e os estágios de seu desenvolvimento em qualquer obra podem ser demonstrados graças a cinco categorias: RENASCIMENTO BARROCO 1.linear – caracterização centrada 1. Pictórica – caracterização desviada dos limites em limites claros e precisos; do objeto e centrada na acumulação de ele- mentos; 2. composta em superfície - 2. Composta em profundidade - a percepção visual encadeamento de formas envolve os elementos mais próximos e os mais sobre um mesmo plano; distantes; 3.partes coordenadas de igual valor; 3. Partes subordinadas a um conjunto; 4. fechada – limitada em si mesma; 4. Aberta – efeito completado pelo observador; 5. claridade absoluta. 5. Claridade relativa. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 24 RESUMO SUCINTO DOS REPRESENTES NAS LITERATURAS OCIDENTAIS Gôngora [1561-1627 ] Luis de Gôngora y Argote – Filho duma família nobre. Poeta e dramaturgo castelhano. Estudou teologia e Direito em Salamanca. Realizou viagem por toda a Europa. Desenvolveu o culteranismo ou gongorismo estilo ornamentado e metafórico. .................................................................... .................................................................... .................................................................... .................................................................... .................................................................. Mientras por competir con tu cabello, oro bruñido al sol relumbra en vano; mientras con menosprecio en medio el llano mira tu blanca frente el lilio bello; mientras a cada labio, por cogello. siguen más ojos que al clavel temprano; y mientras triunfa con desdén lozano del luciente cristal tu gentil cuello: goza cuello, cabello, labio y frente, antes que lo que fue en tu edad dorada oro, lilio, clavel, cristal luciente, no sólo en plata o vïola troncada se vuelva, mas tú y ello juntamente en tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 25 Enquanto por competir com teu cabelo, oiro brilhando ao sol reluz em vão; enquanto com menosprezo em meio plano observa tua brancura fronte o lírio belo; enquanto em cada lábio, para o colher, seguem mais olhos que ao cravo precoce; e enquanto triunfa com desdém louçano do luzente cristal teu gentil colo; goza colo, cabelo, lábio e fronte, antes o que foi em tua idade dourada oiro, lírio, cravo, cristal luzente não só em prata ouviola truncada se volte, mas tu e isso juntamente em terra, em fumo, em pó, em sombra, em nada. Rubens -1577/1640 ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ O autor barroco tem “estilo voltado para a alusão (e não para a cópia) e para a ilusão enquanto fuga da realidade convencional” (Alfredo Bosi, in «História Concisa da Literatura Brasileira») _____ NOTAS: desdém – desprezo com orgulho; desafectação loução – que tem louçainhas; garboso; garrido. 26 Quevedo [1580-1645] Francisco Gómez de Quevedo – Filho duma família fidalga. Passou a infância na Corte, onde os pais desempenhavam altos cargos. A produção poética de Quevedo constitui um dos mais originais exemplos da poesia barrroca espanhola do Século de Oiro. ...................................................................... ...................................................................... ...................................................................... ...................................................................... .................................................................... Viver é fazer breve jornada, e morte viva é, Lico, a nossa vida, ontem o frágil corpo amanhecido, cada instante no corpo sepultado. (...) Ontem já foi, amanhã não é chegado; hoje está indo sem parar num ponto: sou um foi e um será, e um é cansado. Em hoje, amanhã e ontem, junto em fralda e mortalha, e fiquei sendo presentes sucessões de um defunto. Porto Beach - Barreiros, PE Posted by Dantas] ................................................................................................ ................................................................................................ Um outro coração, um homem novo preciso ser, Senhor, no meu espírito; desnuda-me de mim, que poderá ser que a tua piedade pague o que devo. ................................................................................................ ................................................................................................ A fugitivas sombras dou abraços; Nos sonhos se cansa a minha alma; Passo lutando a sós noite e dia Com alguém que trago nos meus braços. [...] ................................................................................................ ................................................................................................ 27 Calderón [1600-1681] Pedro Calderón de La Barca – De família nobre. Passou a vida na Corte, onde pai exercia funções de escrivão. Calderón é o mais barroco dos dramaturgos hispanos do século XVII. ......................................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................................................ “A apreciação de A Vida É Sonho como a obra prima de Calderón de la Barca e um dos grandes dramas da literatura universal não é gratuita. Segundo foi assinalado em diferentes lugares, problema abordado – o conflito entre a liberdade e o destino resulta como suficientemente universal para fazer desta obra um expoente de largo alcance; além disso, a envergadura dramática de A Vida É Sonho, e as considerações que a partir dela surgem em torno de vários aspectos, convertem esta peça numa «comedia filosófica» de dimensão universal. Nessa recorrência ao tema do destino, a obra de Caldeón foi comparada por diversas vezes ao gênero trágico, por que a invalidação desse destino por parte de Segismundo, o protagonista, não oferece em A Vida É Sonho certas possibilidades trágicas, mas insiste simplesmente sobre uma formulação própria do século XVII europeu: ou seja, a que concede primazia à razão, à vontade humana sobre uma força irracional centrada no destino. A Vida É Sonho abre com a apresentação por parte de Segismundo da própria condição de prisioneiro de seu pai, o rei Basílio, que, depois de espiolhar bem os indícios do destino – a rainha, que morreu no parto, sonhou que trazia um monstro nas próprias entranhas -, julga ter compreendido” Que Segismundo seria o homem mais atrevido, o príncipe mais cruel, e o monarca mais ímpio... [...] (Eduardo Iáñez, in «As Literaturas no século XVII» p. 118) ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 28 Cervantes [1547-1616] Miguel de Cervantes Saavedra – De provável origem convertida, viveu em diversos lugares. Portanto, Cervantes deve ter estudado nas universidades castelhanas – Valladolid, Salamanca e Madrid. Ingressa no Exército e participa na Batalha de Lepanto contra os turcos, onde fica ferido e perde o braço esquerdo. Apesar disso, ainda participa de outras expedições militares. O primeiro ensaio literário de Cervantes foi a novela pastoril A Galateia (1585), cuja a obra não alcançou sucesso. Somente a partir de 1605, com o sucesso rápido e estrondoso da publicação da primeira parte de seu «O Engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha» D. Quixote é composto de duas partes, publicadas separadamente. A primeira parte compreende as aventuras das primeiras saídas do protagonista Outro autor, sob o pseudônimo de Alonso de Avellaneda, aproveitando a fama do romance de Cervantes, publica a continuação da história do engenhoso fidalgo, antes de Cervantes publicar a segunda parte do seu romance. ................................................................................................................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ “Não existe nada mais profundo e poderoso do que este livro. Representa até hoje a mais grandiosa e acabada expressão da menta humana. Se o mundo acabasse e no Além nos perguntassem: «Então, o que você aprendeu da vida», poderíamos simplesmente mostrar o D. Quixote e dizer: « Esta é a minha conclusão sobre a vida. E você? O que me diz?”. [Fiódor Dostoiévsi -1821/1881] 29 Lope de Vega [1562-1635] Lope Félix de Vega Carpio – De família humilde. Foi ordenado padre, mas abandou a carreira eclesiástica. Teve uma vida sentimental bastante agitada. Escreveu teatro, poesia e novelas. Entre suas peças destacam-se Peribanez e o Comendador de Ocana; Fuente Ovejuna; O Melhor Alcaide, o Rei; O Cavaleiro de Olmedo; O Castigo sem Vingança. Fuente Ovejuna é talvez a mais conhecida das obras de Lope de Vega. Conta a história da revolta da população dum vilarejo contra a tirania e a injustiça praticada por um nobre. “No aspecto poético, Lope de Vega é talvez o «renascentista» dos barrocos espanhóis, certamente por essa tendência para fazer da própria experiência, sobretudo amorosa, a matéria poética (segundo havia feito a geração de poetas anteriores, como Garcilaso, Frei de León ou Herrera, e a lírica cancioneiril do século XV). Ao mesmo tempo, Lope é o mais efectivo dos continuadores da lírica tradicional, dentro de cujos modelos compôs os seus melhores versos.” (Eduardo Iáñez, in «As Literatura no século XVII») Ir y quedarse, y con quedar partirse, partir sin alma, y ir con alma ajena, oír la dulce voz de una sirena y no poder del árbol desasirse; [...] Ir e quedar-se, e com o quedar partir-se, Partir sem alma, e ir com alma alheia, Ouvir a doce voz de uma sereia E não poder da árvore ressarcir-se... [...] ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ........................................................................................... ______ NOTAS: quedar – estar quedo (ou quieto); ficar ou deter-se em um lugar estacionar; conservar-se; parar. [Do lat. quetare, por quietare, «fazer descansar]. ressarcir – reparar o mal ou prejuízo feito de outrem;indenizar; compensar; dar uma satisfação a; refazer. 30 Andreas Gryphius [1616-1664] Andreas Gryphius – Teve uma infância dura no período da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Impregnado dum profundo pessimismo. O poeta mais representativo do barroco alemão. Escreveu composições amorosas, patrióticas e religiosas. Foi também um importante dramaturgo. ....................................................................... ....................................................................... ....................................................................... ....................................................................... ....................................................................... ................................................................................................ Tudo é vaidade De onde quer que olhes só vês vaidade. O que esse hoje constrói abate aqueles depois. O que hoje são cidades, depressa prados serão por onde um pastor pasceie com as suas ovelhas. O que hoje floresce ufano, depressa será afastado. O que hoje cresce com força, será cinzas e ossos. Nada há, pois, de eterno, nem mármore nem metal. A fortuna de hoje sorri, mas depressa chegam as moléstias, A gloria das gestas esfuma-se com um sonho. Como pode resistir a débil criatura ao jogo dos tempos? Pouco vale, pois, tudo quanto apreciamos. É sombra, vento, pó, é essa flor de um prado que já não encontramos. E todavia ninguém quer ver o que é eterno é. Moça com Brinco de Pérola Vermeer – 1672/1675 ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ______ NOTAS: pascer – pastar; [fig.] deleitar. Gesta [é] – façanha; história; pl. feitos guerreiros. [Do lat. gesta, «façanhas»] ufano – contente de si próprio; orgulhoso. Prado – campo coberto de plantas forraginosas. 31 Angelus Silesius [1624-1676] Johannes Scheffer, conhecido pelo pseudônimo de Angelus Silesius - Oriundo duma família protestante. Abandonou o luteranismo para se ordenar padre em 1661. A sua melhor obra é O Peregrino Querúbico. Angelus Silesius é um dos grandes expoentes da poesia barroca alemã. ................................................................. ................................................................. ................................................................. ................................................................. ................................................................. .......................................................................................... Rembrandt -1606/1669 Deus está em mim e eu nele. O fogo em mim é Deus e eu nele sou brilho: E não estamos porventura intimamente unidos? ........................................................................................................................... ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 32 John Donne [1572-1631] John Donne – Poeta inglês educado na religião católica. Teve uma vida aventureira e agitada. É talvez o mais raro talento poético da época a par de WilliamShakespeare, de quem foi contemporâneo. ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ................................................................... ............................................................ Tu me criaste, e pode a tua obra murchar? Repara em mim agora porque o meu fim se aproxima, corro para a morte, e a morte me olha apressada, e todos os meus prazeres parecem ser de ontem; Não me atrevo a mover meus torpes olhos nunca mais, desespero atrás e morte adiante criam tal horror e minha fraca carne se consome pelo pecado nele, que para o inferno me empurra... 33 John Milton [1608-1674] John Milton – poeta, político e teólogo inglês. Em 1632, recebe o título de Mestre na Universidade de Cambridge. Preocupado com as questões políticas e religiosas. As suas obras mais importantes são os poemas: Paraíso Perdido (Paradise Lost, 1667) e Paraíso Recuperado (Paradise Regained, 1671). Um dos mais importantes poetas da literatura universal do século XVII. ................................................................ ................................................................ ................................................................ ................................................................ ........................................................................................... «Paraíso Perdido» o poema fundamenta-se na ideia da miséria do ser humano que, ao perder o seu «Paraíso», se vê impossibilitado para viver de acordo com a vontade divina. Nada mais expressivo neste sentido do que atender ao relato primeiro desta condenação do género humano por parte de um Deus severo e autoritário, puritano, dominado ele mesmo, como o homem, por um diabo sempre vigilante e altivo, também puritano, evidentemente, ou seja, nada mais acertado do que procurar uma recriação poética em forma épica do relato do Génesis bíblico. (Eduardo Iánez, in As Literaturas no século XVII). .............................................................. .............................................................. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ “O autor barroco tem «estilo voltado para a alusão (e não para a cópia) e para a ilusão enquanto fuga da realidade convencional.” [Alfredo Bosi] 34 Giambattista Marino [1569-1625] Giambattista Marino – poeta napolitano (Itália) que fugiu da sua cidade natal para viver em diversas Cortes italianas. Rodeado pela inveja de alguns cortesãos, acabou preso, injustamente acusado de difamar num poema o duque de Turim. Sua obra: Lira (1608-16140) e Adônis (1623). Considerado o fundador do estilo poético denominado «Marinismo», mais tarde chamado de Secentismo. .................................................................. .................................................................. .................................................................. .................................................................. .................................................................. ................................................................................................ ........................................................................................... «Adônis» (L`Adone) canta poeticamente os amores de Vênus e Adônis. ................................................................................................ ................................................................................................ ............................................................................................ Brigam Espanha e Holanda pelos direitos do mar O mar é das gaivotas» [Milton /Leila Dinis] 35 Onde dorate, e l'onde eran capelli, navicela d'avorio un dì fendea; una man pur d'avorio la reggea per quaasi errori preziosi e quelli; e, mentre i flutti tremolanti e belli con drittissimo solco dividea, l'ór de le rotte fila Amor cogliea, per formarne catene à suoi ribelli. Per l'aureo mar, che rincrespando apria il procelloso suo biondo tesoro, agitato il mio core a morte gìa. Ricco naufragio, in cui sommerso ìo moro, poich'almen fur ne la tempesta mia di diamante lo scoglio e 'l golfo d'oro. (Giambattista Marino) *********************************************************************************************************************** ondas de Ouro, e as ondas eram de cabelo uma nave espacial de marfim fendea dia; um homem, enquanto o reggea marfim por estes erros e precioso; e enquanto as ondas brilhantes e bonitos dividea com a linha de mortos em linha reta, o cogliea percurso ou na linha de Amor, para formar cadeias de 'seus rebeldes. Para o Golden Sun, que Apria rincrespando O tempestuoso seu bebê loiro, .mexeu meu coração até a morte já. Rich naufrágio, no qual submergiu eu morrer, poich'almen peles, eles tempestade da mina, diamante e do rock 'no Golfo de ouro! ................................................................................................ ................................................................................................ 36 ATIVIDADES: 01) ENADE – 2005 A «cidade» retratada na pintura de Alberto da Veiga Guignard está tematizada nos versos (A) Por entre o Beberibe, e o oceano Em uma areia sáfia, e lagadiça Jaz o Recife povoação mestiça, Que o belga edificou ímpio tirano. [Gregório de Matos] (B) Repousemos na pedra de Ouro Preto, Repousemos no centro de Ouro Preto: São Francisco de Assis! igreja ilustre, acolhe, À tua sombra irmã, meus membros lassos. [Murilo Mendes] (C) Bembelelém Viva Belém! Belém do Pará porto moderno integrado na equatorial Beleza eterna da paisagem Bembelelém Viva Belém! [Manuel Bandeira] (D) Bahia, ao invés de arranha-céus, cruzes e cruzes De braços estendidos para os céus, E na entrada do porto, Antes do Farol da Barra, O primeiro Cristo Redentor do Brasil! [Jorge de Lima] (E) No cimento de Brasília se resguardam maneiras de casa antiga de fazenda, copiar, de casa-grande de engenho, enfim, das casaronas de alma fêmea. [João Cabral de Mel Neto] 37 02) A «cidade» retratada na imagem está tematizada nos versos: [A] Por entre o Beberibe, e o oceano Em uma areia sáfia, e lagadiça Jaz o Recife povoação mestiça, Que o belga edificou ímpio tirano. [Gregório de Matos][B] Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo [Oswald de Andrade] [C] Triste Bahia! ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. [Gregório de Matos] [D] (Ai, Ouro Preto, Ouro Preto, e assim foste revelado [Cecília Meireles] [E] Tarde no Recife. Da ponte Maurício o céu e a cidade. Fachada verde do Café Maxime, Cais do Abacaxi. Gameleiras [Joaquim Cardoso] Quando a fé é insuficiente, a atração dos prazeres o envolve e cresce o desejo de desfrutar da vida. 38 03) “Nasce o sol e não dura mais que um dia. Depois da luz, se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria”. [Gregório de Matos] Nesse fragmento o poeta trabalha com uma característica barroca. Qual? Justifique. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 04)Identifique, no fragmento abaixo, uma passagem em que se perceba o conflito típico do Barroco? “Não sei já o que sou, nem o que faço, nem o que quero. Espedaçam-me impulsos desencontrados. Alguém poderá imaginar um estado tão lastimoso? Amo-te doidamente e quero-te também que nem me atrevo a desejar que em ti se renovem arrebatamentos iguais aos meus. Morria ou acabaria por morrer de mágoas se estiver certa de que não podias ter descanso, que a tua vida era só desassossego e desvairo, que passavas o tempo a chorar e que tudo te causava desgosto. Se mal posso com as minhas penas, como agüentaria a dor de ver as tuas, que sinto mil vezes mais?” [Cartas Portuguesas-Terceira Carta – Mariana Alcoforado] ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ 05) Associe as colunas: [a] Silesianismo [ ] Espanha [b] Marinismo [ ] França [c] Gongorismo [ ] Itália [d] Eufuísmo [ ] Inglaterra [e] Preciosismo [ ] Alemanha 39 06) O Barroco literário apresentas basicamente dois estilos: Cultismo e Conceptismo. Associe: [1] Cultismo [ ] Raciocínio lógico [2] Conceptismo [ ] Linguagem rebuscada [ ] Jogo de palavras [ ] Valorização do pormenor [ ] Retórica aprimorada 07) Estudo do texto: Pequei Senhor, mas não porque hei pecado, de vossa alta clemência me despido; porque quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, a abrandar-vos sobeja um só gemido: que a mesma culpa, que vos há ofendido, vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma orelha perdida e já cobrada, glória tal e prazer tão repentino os deu, como afirmais na sacra história, eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, cobrai-a; e não queirais, pastor divino, perder na vossa ovelha a vossa glória. [Gregório de Matos] O Anjo trazendo o cálice da amargura [Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho] a)O texto é predominantemente cultista ou conceptista? Justifique. ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ ................................................................................................ b) Identifique a grande característica do estilo barroco presente no poema. ................................................................................................ ................................................................................................ 40 08)Assinale a incorreta: O Barroco surgiu como reação aos ideais da Idade Média e à valorização demasiada da Antiguidade clássica, apresentando: [a] A fusão do teocentrismo com o antropocentrismo. [b] Predomínio do equilíbrio em todas as formas artísticas. [c] Estilo rebuscado como manifestação de angústia. [d] Predomínio de forma, cor e riqueza, em detrimento do conteúdo. [e] A fusão do pecado com o perdão. 09) “Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão- lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos:” [Sermão da Sexagésima – Pe. Vieira] A passagem acima é representativa de uma das tendências estéticas típicas da prosa seiscentista, a saber: [a] O Sebastianismo, isto é, a celebração do mito da volta de D. Sebastião, rei de Portugal, morto na batalha de Alcácer-Quibir. [ b] A busca do exotismo e da aventura ultramarina, presentes nas crônicas e narrativas de viagem. [c] A exaltação do heróico e do épico, por meio das metáforas grandiloquentes da epopeia. [d] O lirismo trovadoresco, caracterizado por figuras de estilo passionais e místicas. [e] O Conceptismo, caracterizado pela utilização constante dos recursos da dialética. 41 10) A «batalha » retratada na pintura acima se refere a: [a] Batalha de Alcácer-Quibir [d] Batalha do Riachuelo [b] Batalha do Monte das Tabocas [e] Batalha de Stalingrado [c] Batalha dos Montes Guararapes 11) A «batalha » retratada na
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