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1 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 CITOLOGIA MICROBIANA INTRODUÇÃO - Micro-organismos: seres vivos de dimensões microscópicas, podem ser uni ou multicelulares (sem organização de tecidos). - Célula: unidade básica dos seres vivos. Dentre as características gerais de uma célula, podemos destacar a organização elevada (membrana plasmática), a capacidade de multiplicação (“crescimento”), a transmissão de características hereditárias (DNA), a capacidade de transcrição e tradução (produção de proteínas - ribossomos) e o metabolismo (produção de proteínas - enzimas). - Os vírus não são considerados seres vivos porque não possuem membrana plasmática, não têm capacidade de multiplicação por conta própria e não possuem ribossomos. - Na natureza podemos encontrar dois tipos de células: 1. Célula procariótica: tem uma organização mais simples, com falta de membranas no citoplasma. Também não tem membrana nuclear, logo o material genético está livre no citoplasma. É formada antes da formação de um núcleo. Ausência de núcleo e organelas. Bactérias (Domínio Bacteria) e arqueas (Domínio Archaea). 2. Célula eucariótica: célula com núcleo; é maior que a procariótica; o interior apresenta diferentes compartimentos delimitados por membrana; realizam ações específicas para a célula (mitocôndria - respiração celular / retículo endoplasmático - transporte de proteínas). Cada uma dessas organelas faz uma função específica, o que aumenta a eficiência do organismo eucariótico. A membrana nuclear delimita o núcleo, que possui o DNA da célula eucariótica. Presença de núcleo e organelas. Fungos, protozoários e algas. Domínio Eukarya. - Fungos: esporos de reprodução; presença de hifas/leveduras; incapacidade de fazer fotossíntese por não ter cloroplastos. - Protozoários: sem produção de esporos de reprodução; sem cloroplastos; diferentes tipos de mobilidade (flagelos). - Algas: sem produção de esporos de reprodução; com cloroplastos. Classificação dos seres vivos: - Até 1990 (Whittaker) tinham 5 reinos, baseados nos critérios morfológicos, anatômicos e estruturais: monera (bactérias), protista (protozoários e algas), fungi, plantae e animalia. As arqueas não eram muito bem estudadas, com o melhor entendimento (em 1990, Carl Woese) foram desenvolvidos estudos evolutivos comparando a sequência de nucleotídeos do RNA ribossomal 16S. - Todas as células têm RNAr. - Construção de uma árvore filogenética: relações evolutivas entre os seres vivos. Três linhas de evolução com três domínios (Bacteria, Archaea e Eukarya). A raiz é um ancestral comum, que a partir dele as células começaram a se diferenciar por evolução, até chegar na primeira bifurcação dando origem a dois tipos de seres vivos diferentes. Um deles deu origem ao domínio Bactéria, o segundo se bifurcou novamente, dando origem ao Archaea e ao Eukarya (microorganismos, animais e vegetais). As arqueas são mais próximas das células eucarióticas do que as bactérias, do ponto de vista evolutivo. 2 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 - Arqueas são divididas em 4 grupos principais: 1. Termófilas extremas (extremófilas - atividade vulcânica) 2. Termoacidófilas (lagos próximos à atividade vulcânica - gêiseres) 3. Halofílicas (salinas) 4. Metanogênicas (produção de metano, ausência de oxigênio) - As arqueas têm a sobrevivência em condições ambientais extremas, sendo por vezes os únicos componentes de determinados ecossistemas. A importância está relacionada aos estudos estruturais, à produção de enzimas de interesse industrial e à produção de metano (gás combustível). Características em comum com eucariotos e bactérias. - Bactérias possuem grande diversidade morfológica e fisiológica. Começaram a ser estudadas por: 1. Aspectos maléficos: microbiologia médica (patogenicidade) e deterioração de alimentos. 2. Aspectos benéficos (nos últimos anos): ecología microbiana (ciclos biogeoquímicos, fixação de N², biorremediação), microbiologia sanitária, biotecnologia (produção de alimentos, enzimas, combustíveis) e engenharia genética (produção de proteínas humanas). Células procarióticas possuem ampla distribuição na natureza. Citologia microbiana: - Necessidade de microscópio - óptico / eletrônico - Importância: entender mecanismos de patogenicidade, diferenças estruturais para células eucarióticas (alvo para ação de antimicrobianos) - Morfologia das células procarióticas: possuem tamanho variável, mas são menores do que as células eucarióticas. Muitas são encontradas na forma esférica (cocos/cocci), cilíndrica (bacilos ou bastonetes/bacilli) e espiral (espirilo ou espiroqueta/spirilla). Células pleomórficas possuem mais de uma forma: podem passar de cocos para bacilos, e vice-versa. - Arranjos: de acordo com o plano de divisão. 1. Cocos: a maneira como a divisão acontece juntamente com o arranjo depois da divisão celular forma o critério de identificação. - Quando a célula esférica se divide e as duas células-filhas continuam unidas, pode formar uma dupla de cocos chamada de diplococos. Se eles continuam se dividindo, formam-se cadeias no mesmo plano. Em cadeia: Streptococcus. - Tétrade possui divisão em dois planos. Há divisão na horizontal e vertical, arranjo de 4 células. - Situação extrema é a divisão em 3 planos, onde as células se dividem na profundidade também. Em cubo: sarcina (regular). Arranjo irregular: Staphylococcus. 2. Bacilos: arranjo em cadeia (estreptobacilo). - Estrutura básica das células procarióticas: 1. Envelope celular (envoltórios): membrana plasmática, parede celular, glicocálice. 1. Apêndices extracelulares: flagelos, fímbrias. 2. Citoplasma: DNA, ribossomas, corpos de inclusão. - Componentes essenciais à viabilidade celular (dano pode levar à lise) x Componentes facultativos (facilitam a sobrevivência) 3 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 MEMBRANA - Funções da membrana: delimitação do conteúdo celular (estrutura essencial), tendo como principal função a permeabilidade seletiva, que é o controle da entrada e saída de moléculas da célula. - Estrutura: é o modelo do mosaico fluido, que possui uma bicamada de fosfolipídeos (estrutura anfipática) onde há uma parte polar representada por uma molécula de glicerol e por um grupamento fosfato, e outra apolar (hidrofóbica) que tem duas moléculas de ácido graxo. Essas moléculas podem ser saturadas ou insaturadas (a estrutura não é linear; dobra no ácido graxo). Inseridas na bicamada estão proteínas periféricas e integrais (poros de comunicação). - Propriedades básicas: não têm ligações covalentes entre as diferentes moléculas de fosfolipídios (podem deslizar entre si: polar-polar / apolar-apolar) e a estabilização da estrutura é dada pelas interações hidrofóbicas entre os ácidos graxos e íons Ca²+ e Mg²+. - Estrutura fluida: a fluidez é essencial para o transporte de moléculas. - A membrana plasmática atua como uma barreira semipermeável. Moléculas pequenas/hidrofóbicas, H2O atravessam livremente a bicamada de fosfolipídeos. Moléculas maiores/hidrofílicas precisam utilizar as proteínas integrais de membrana. Rapidamente desorganizada por aumento de temperatura - lise, por excesso de fluidez. Baixas temperaturas levam à baixa da fluidez da bicamada, então os processos de transporte de moléculas são prejudicados. Diferenças procariotos x eucariotos em composição e estrutura: - Por que na membrana de procariotos há mais proteínas em comparação aos eucariotos? Essa diferença tem a ver com 3 funções que são realizadas pela membrana das células procarióticas: 1. Local de síntese de ATP pela cadeia transportadora de elétrons (última etapa da respiração celular). Procariotos não têm mitocôndrias. Muitas das funções das organelas são feitas na membrana dos procariotos. Essa característica por si só já aumenta bastante a quantidade de proteínas na membrana plasmáticados procariotos. 2. Ligação do DNA durante a divisão celular para fixar o DNA em algum ponto da célula, visto que não têm núcleo e citoesqueleto organizado. 3. Local de fixação dos apêndices extracelulares: flagelos e fímbrias. - Eucariotos não dependem tanto da MP pela existência das organelas que exercem funções específicas, em contrapartida os procariotos não possuem organelas e por isso muitas funções serão feitas na MP. - Esteróis x hopanóides: 5 - 25% total dos lipídeos da membrana. Moléculas planas e rígidas que dão mais estabilidade e resistência, isso significa que elas se inserem na bicamada Característica Bactérias Arqueas Eucariotos Quantidade de proteínas Alta Alta Baixa Esteróis Ausentes (exceções: Mycoplasma e bactérias metanotróficas) Ausentes Presentes: Colesterol (animais), Ergosterol (fungos e protozoários) Hopanóides Presentes em várias espécies Ausentes Ausentes 4 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 fosfolipídica das células para controlar e organizar a fluidez excessiva da membrana, mesmo que haja ácidos graxos insaturados (dobras na molécula, ocupam um espaço maior). Diferenças arqueas x bactérias, eucariotos em composição e estrutura: Característica Bactérias Arqueas Eucariotos Composição da bicamada Fosfolipídios Fosfolipídios, Glicolipídios, Sulfolipídios Fosfolipídios Composição lipídica Ácidos graxos Unidades repetitivas de isopreno (fitanil) Ácidos graxos Ligação dos lipídios ao glicerol Éster Éter Éster Estrutura da membrana Bicamada Bicamada/monocamada* Bicamada *Arqueas extremófilas - Ligações éster x ligações éter: a ligação éter é uma ligação química mais estável a variações de pH e temperatura. Isso dificulta o interrompimento da ligação. - Presença de unidades de isopreno: aumento do peso molecular do ácido graxo, maior resistência a temperaturas elevadas. - Monocamada de membrana (arqueas extremófilas): diminuição da mobilidade dos fosfolipídios; diminuição da fluidez excessiva da membrana plasmática em temperaturas elevadas; exclusiva de arqueas extremófilas. A baixa fluidez, por conta da monocamada, aumenta a resistência das arqueas à perda da integridade da estrutura da MP. É uma característica que permitiu a um grupo de arqueas sobreviver em temperaturas extremamente elevadas. - Bactérias sobrevivem numa faixa ampla de temperatura (0°C - 90°C), de acordo com cada bactéria. Conseguem adaptar a fluidez da membrana para sobreviver em temperaturas mais variadas, controlando a quantidade de ácidos graxos saturados. Bactérias que vivem em baixas temperaturas possuem maior teor de ácidos graxos insaturados para aumentar a fluidez da membrana. Por outro lado, bactérias que vivem em maiores temperaturas apresentam maior teor de ácidos graxos saturados para diminuir a fluidez excessiva da membrana. PAREDE CELULAR DE PROCARIOTOS - Parede celular é o envoltório acima da membrana plasmática. 1. Em bactérias: existem dois grupos, a Gram positivas e Gram negativas (coloração de Gram), é ausente no gênero Mycoplasma. Parte comum a bactérias Gram positivas e negativas é a peptidoglicana ou mureína (muro ao redor das bactérias, acima da mp). Os dois carboidratos encontrados na parte glicídica N-Acetil glicosamina + N-Acetil murâmico (ligação beta 1-4). Na parte peptídica: tetrapeptídeo ligado ao N-Acetil murâmico. Composição característica desse tetrapeptídeo, ligado ao N-Acetil murâmico, é a L-Alanina - D-Glutâmico - Diaminopimélico (ou L-Lisina) - D- Alanina. 5 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 - As unidades básicas de peptidoglicanas se ligam umas às outras. Isso leva a formação de camadas ao redor da bactéria, acima da membrana. Se unem pela formação de ligações peptídicas entre os tetrapeptídeos pertencentes a diferentes camadas, a ligação entre os diferentes tetrapeptídeos é chamada de ligação cruzada. - Peptidoglicana: camadas de unidades alternadas de N-Acetil glicosamina e N-Acetil murâmico, unidas por ligações cruzadas via tetrapeptídeos. - Estrutura rígida: proteção contra choque osmótico (entrada desordenada de água); determinação da morfologia. Diferenças entre a peptidoglicana de bactérias Gram positivas e bactérias Gram negativas: - Em Gram positivas a peptidoglicana é muito mais espessa e rígida do que na superfície de uma bactéria Gram negativa. Muitas bactérias Gram positivas são encontradas na microbiota da pele, pois é um ambiente seco, então os microorganismos que vão sobreviver precisam ser mais resistentes à variação de pressão osmótica. - Ligações cruzadas entre o 3° aminoácido de uma camada e o 4° aminoácido de outra camada. - Peptidoglicana é uma estrutura essencial para a sobrevivência da bactéria, por causa da sua estrutura rígida que propicia a proteção contra o choque osmótico. - Osmose: movimento de água do meio menos concentrado para o mais concentrado através da membrana, visando igualar as concentrações. - Citoplasma é um ambiente muito mais concentrado do que o meio extracelular. Tendência ao movimento intenso de água para o citoplasma (lise osmótica). Para evitar isso: estrutura rígida (peptidoglicana) acima da membrana. - Se acontecer algum processo em que a peptidoglicana seja destruída, a bactéria vai sofrer lise osmótica. - Métodos de destruição da peptidoglicana: 1. Lise: lisozima (clivar as ligações beta 1-4 entre GlcNAc e MurNAc). Apresenta-se nas mucosas corporais para eliminar parte das bactérias que ficam permanentemente tentando invadir o organismo, e é abundante na clara de ovo para proteger o embrião de um invasor bacteriano. 2. Bloqueio da formação de ligações cruzadas: antimicrobianos beta-lactâmicos (mecanismo de ação das penicilinas). - Bactérias Gram positivas possuem presença de polissacarídeos aniônicos: polímeros de glicerol- fosfato ou ribitol-fosfato (ácido teicóico - peptidoglicana / ácido lipoteicóico - membrana plasmática). Polímeros de ácidos urônicos (ácido teicurônico - carência de fosfato). Funções: 1. Estoque de fosfato - radical importante para formar os fosfolipídeos da membrana, nucleotídeos do DNA/RNA, vários intermediários metabólicos; 2. Captação de íons de carga positiva - cálcio, magnésio, zinco, íons importantes pro funcionamento de várias estruturas e enzimas Gram negativas Gram positivas 3° aminoácido: DAP (diaminopimélico) 3° aminoácido: L-lisina Ligações cruzadas diretas (D-Ala-DAP) Ligações cruzadas via peptídios (ex: pentaglicina) 2-3 camadas Até 80 camadas Poucas ligações cruzadas Muitas ligações cruzadas 6 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 3. Regulação de enzimas da divisão celular - regulando o pH da superfície da bactéria, atividade controlada pelo pH; 4. Possível ação em adesão (Streptococcus) - principalmente para bactérias patogênicas. Bactérias Gram positivas sempre serão machos e as Gram negativas serão fêmeas! Atentar-se ao pronome. Mas tem exceções! PAREDE GRAM NEGATIVAS - Peptidoglicana em bactérias Gram negativas são mais finas (2-3 camadas) do que nas bactérias Gram positivas (até 80 camadas). Acima dela, há a membrana externa, que pode haver fosfolipídeos (folheto interno) e lipopolissacarídeo (folheto externo). Na bicamada lipídica há proteínas formando poros para passagem de moléculas (porinas), e as lipoproteínas que ligam quimicamente a peptidoglicana à membrana externa. A parede celular de uma bactéria Gram negativa é formada por peptidoglicana + membrana externa, pois essas estruturas estão ligadas entre si. A formação do espaço entre a membrana plasmática e membrana externa de BGN é chamado de espaço periplasmático/periplasma. Membrana externa em bactérias Gram negativas - Estrutura que fica acima da peptidoglicana; é uma bicamada lipídica. Os fosfolipídeos são encontrados apenas no folheto interno (virado para a peptidog.) pois no folheto externo (viradopro meio extracelular) são encontrados lipopolissacarídeos (LPS). O LPS tem uma estrutura complexa, mas resumidamente é assim: Lipídeo A (parte inserida na membrana externa interagindo com os fosfolipídeos no folheto interno, parte lipídica interagindo com outra parte lipídica; várias moléculas de ácidos graxos insaturados) + Polissacarídeo core (conjunto de carboidratos; core = central) + Antígeno O (conjunto de carboidratos; várias unidades sequenciais de carboidratos). - O lipídeo A está inserido na membrana externa, e é uma estrutura conservada em bactérias Gram negativas (praticamente igual, a mesma composição). Há a presença de ácidos graxos saturados que permite uma maior compactação e estabilidade. Após a morte de bactérias no organismo, os fragmentos de componentes da estrutura bacteriana são lançados na circulação sanguínea, ocasionando a endotoxina. Quando o lipídeo A é liberado em níveis baixos, os efeitos podem ser benéficos porque faz o estímulo do sistema imune, levando a uma febre moderada e à morte microbiana. Por outro lado, quando é liberado em níveis altos, os efeitos são maléficos pois o sistema imune atua contra o próprio organismo, levando a uma febre alta, queda de pressão, coagulação sanguínea disseminada, podendo chegar até um choque letal que pode levar à morte do indivíduo. - Polissacarídeo central (“core” ou cerne) possui poucas variações e não tem função definida. - Ligado ao polissacarídeo core e se projetando para fora da célula, está o antígeno O, formado por unidades repetitivas de sequências de 2-8 carboidratos (n=30). Há uma grande variação de composição (ao contrário do lipídeo A). Antígeno é qualquer molécula estranha ao organismo que vai levar à produção de anticorpos. Grande carga negativa à superfície dessas bactérias, necessitando grande quantidade de cátions para estabilizar a estrutura. Essa parte é extremamente polar, com muita carga positiva e negativa. Possível papel na adesão celular. 7 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 - Porinas são proteínas triméricas, ou seja, três subunidades formando poros de tamanho variável na membrana externa. Existem as específicas e não-específicas, transportando moléculas polares pequenas (carboidratos, aminoácidos, bases nitrogenadas). LPS e porinas bloqueiam a passagem de moléculas apolares, o que traz uma vantagem para essas bactérias: no trato intestinal há ação de sais biliares, que estão ali para solubilizar o material lipídico utilizando a parte apolar da estrutura, portanto os sais biliares não atravessam a membrana externa e não afetam as bactérias Gram negativas (barreira à passagem de sais biliares), o que não ocorre com as bactérias Gram positivas, que não possuem membrana externa, logo, eles atravessam as camadas de peptidoglicanas (são rígidas, mas não impermeáveis). Dessa forma, há dissolução dos fosfolipídeos da membrana plasmática. Por esse motivo há o predomínio de bactérias Gram negativas no trato intestinal. Outra vantagem: bloqueio à passagem de antibióticos apolares e corantes apolares. - Lipoproteínas ligam a membrana externa à peptidoglicana, na face interna da membrana externa. - O periplasma é a região entre a membrana externa e a membrana plasmática. Há a presença da peptidoglicana. Acúmulo de enzimas hidrolíticas (quebra de moléculas), proteínas de ligação a nutrientes (aumento da velocidade de transporte) e substâncias detoxificantes (ex.: beta- lactamase destrói a penicilina). Bactérias Gram positivas não tem periplasma, então há secreção das moléculas para o meio extracelular. - Coloração de Gram vai diferenciar as bactérias de acordo com a composição da parede celular: 1. Bactérias Gram positivas: cor roxa / geralmente cocos. 2. Bactérias Gram negativas: cor avermelhada / geralmente bacilos. - Exceções: Bacillus, Clostridium (bacilos Gram positivos); Neisseria, Veilonella (cocos Gram negativos). - Micobactérias (Mycobacterium tuberculosis¹, M. leprae²) não são coradas pela coloração de Gram, porque a parede celular é diferente. ¹ Bactéria causadora de tuberculose. ² Bactéria causadora de hanseníase. Parede celular: peptidoglicana + arabinogalactina (polímeros de carboidratos) + ácido micólico (ácido graxo muito grande, podendo ter até 90 átomos de carbono, na parte mais externa da parede celular). Resistência à dessecação (resiste em superfícies sem água por dias), antimicrobianos (difícil tratamento), corantes (coloração de Gram não funciona). Crescimento lento devido à dificuldade de entrada de nutrientes. Superfície altamente apolar que impede a perda de água. - Bactérias sem parede celular (ex.: Mycoplasma) possuem presença de esteróis de membrana, que dão sustentação para controlar o excesso de fluidez. Não têm forma definida (pleomórficas) e são de pequeno tamanho, para não se submeter a um ambiente com muita diferença de pressão osmótica. Só sobrevivem em ambientes isotônicos (pouca diferença de concentração do meio citoplasmático pro meio extracelular). - Em arqueas há uma grande variedade estrutural. Pseudopeptidoglicana (N-acetil glicosamina + N-acetil talosaminurônico (beta 1-3)); tem peptídeos mas as ligações cruzadas também são diferentes. A parede celular pode ser formada apenas por proteínas, glicoproteínas ou polissacarídeos (heteropolissacarídeo sulfatado ajuda na sobrevivência em ambientes salinos). Existem arqueas que não tem parede celular típica, é o caso do Thermoplasma (similar à Mycoplasma), ou é encontrado um polímero chamado camada S. - Em eucariotos a finalidade da parede celular também é proteção física e contra choque osmótico. No entanto, eles não apresentam peptidoglicana, sendo então vulneráveis à ação de antimicrobianos. Pode-se concluir que a peptidoglicana é um excelente alvo para a ação 8 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 de antimicrobianos. Fungos: quitina (polímeros de N-Acetil glicosamina). Algas: celulose, xilanas, mananas, silica. Protozoários: geralmente sem parede celular, com vacúolos contráteis (acumulam água no citoplasma e periodicamente se fundem com a membrana plasmática, então jogam o excesso de volume d´água pro meio extracelular; controle de diferença de pressão osmótica). CÁPSULA E CAMADA S Substâncias poliméricas extracelulares em células procarióticas: - Envoltórios mais externos; é aquele que tem o contato com o hospedeiro/ambiente. - Estruturas com composição diversa: presença de procariotos em vários ambientes - Produção apenas in vivo - Estruturas não-essenciais - importantes para a patogenicidade - Envelope celular bacteriano: conjunto de três camadas de envoltório Cápsula e camada limosa: - Organização estrutural: 1. Cápsula: fortemente aderida à superfície celular 2. Camada limosa: adesão fraca à superfície celular - Composição: variável (antígeno K) 1. Principal componente são carboidratos - “glicocálice” 2. Homopolissacarídeo: polimerização de um tipo de carboidrato 3. Ácido siálico: Cepa K1 de Escherichia coli 4. Glicose: Streptococcus mutans 5. Heteropolissacarídeo: formação de unidades repetitivas (2-8 carboidratos) 6. Polipeptídeo: D-glutâmico (Bacillus anthracis) *Animais: apenas aminoácidos na forma L ● Cepa (tipo, estirpe, amostra): conjunto de células de uma mesma espécie com características fenotípicas similares e que se diferenciam de outras cepas da mesma espécie por uma única característica. Ex.: Escherichia coli tem pelo menos 90 cepas em relação à composição de cápsula. Mesma espécie - cápsulas diferentes - cepas diferentes. - Funções: não essenciais, mas associadas à patogenicidade. 1. Proteção contra: dessecação (qtd de água); fagocitose por macrófagos; enzimas lisossomais (B. anthracis); ação de anticorpos. 2. Adesão a tecidos animais específicos: - E. coli: intestino delgado, intestino grosso e epitélio da uretra (de acordo com a cepa). - S. mutans: esmalte dos dentes- Vibrio cholerae: epitélio intestinal - Rhizobium: raízes de plantas leguminosas - Interação via cátions divalentes ou lectinas - especificidade 3. Comparação com o glicocálice de eucariotos: - Cadeias de carboidratos ligadas covalentemente a proteínas (glicoproteínas) e lipídios (glicolipídios) da membrana - Variação de composição em diferentes tecidos 9 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 - Adesão celular 4. Adesão a superfícies inertes - formação de biofilmes ● Biofilme: comunidade de microorganismos em uma superfície sólida na qual as células estão revestidas por uma matriz de substâncias poliméricas extracelulares, produzidas pelos próprios microorganismos. ● Staphylococcus aureus, Pseudomonas aerugionsa - cateteres, válvulas, próteses ● A cápsula promove adesão a superfícies inertes. Ao permitir isso, forma-se um biofilme. É uma interação puramente eletrostática, onde a cápsula atua como substância adesiva e permite a interação com superfícies inertes, a partir daí pode começar a formação de um biofilme. ● ● Importância do biofilme: 1. Formação em superfícies inertes, solo, água, tecidos de animais e vegetais 2. Composição da matriz: polissacarídeos, proteínas, lipídeos e DNA, sintetizados pelas próprias bactérias e diferentes da própria cápsula 3. Interação entre os componentes da matriz - estabilidade do biofilme 4. Principal componente: água (95%) 5. Bactérias em um biofilme: características diferentes das mesmas bactérias crescendo em vida livre (células planctônicas) - crescimento mais lento. ● Principais funções do biofilme: 1. Captura de nutrientes e água 2. Presença de enzimas hidrolíticas extracelulares - digestão 3. Troca de metabólitos e DNA 4. Resistência a antimicrobianos: baixa capacidade de difusão de compostos e menor taxa metabólica das células 5. Resistência a ação de anticorpos / fagocitose - proteção contra o sistema imune ● Biofilme: responsável por infecções crônicas e recorrentes Catéter + bactéria com cápsula = formação de biofilme maduro -> Rompimento do biofilme -> Liberação de células planctônicas -> Infecção -> Tratamento com antimicrobianos -> Eliminação das células planctônicas -> Biofilme continua presente! Vamos supor que foi usado um cateter (com bactéria aderida) contaminado em um paciente. Quando aderida à superfície em questão, a bactéria permitiu a formação de um biofilme maduro DENTRO do indivíduo, onde o cateter está presente. O biofilme pode se romper, liberando células planctônicas na circulação sanguínea, ocasionando assim uma possível infecção. Será tratado com antimicrobianos e vai haver a eliminação das células planctônicas. Contudo, o biofilme continua presente, e depois de um tempo ele se restaura e o ciclo da infecção se repete. Solução: remoção de cateteres, válvulas, próteses / longos tratamentos com antimicrobianos. ● Mimetismo de moléculas do hospedeiro eucarioto: - Cepa K1 de E. coli, molécula de adesão celular neural humana -> presença de ácido siálico -> escape do sistema imune / doença auto-imune ● Movimento por deslizamento em superfícies sólidas - somente por camada limosa: - Cianobactérias, mixobactérias. 10 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 Camada S - Visualização apenas por microscopia eletrônica - Composição: proteínas e glicoproteínas com grande quantidade de aminoácidos acídicos - ligação de cátions fornece integridade estrutural - Arranjo cristalino simétrico - poros de tamanho específico - Interações não-covalentes entre subunidades - Várias bactérias - acima da parede celular (camada fina) - Várias arqueas - possível função de parede celular (camada espessa) - Funções: 1. Barreira à passagem de moléculas maiores 2. Proteção contra mecanismos de defesa (anticorpos) 3. Determinação da forma celular (arqueas) 4. Adesão celular - patogenicidade - Arqueas: camada S como parede celular e como “glicocálice” / parede celular: fixação à membrana plasmática, com domínio transmembrana / interações não-covalentes entre subunidades. APÊNDICES Os apêndices extracelulares em procariotos são projeções filamentosas fixadas ao envelope celular. As principais projeções são flagelos e fímbrias (pili). Não são estruturas essenciais, mas quando estão presentes, facilitam a sobrevivência. ● Flagelos de bactérias - Principal função: mobilidade em meio líquido; explorar novos ambientes e novos tecidos do hospedeiro. - Estrutura helicoidal, muito fina, porém o comprimento é razoavelmente grande. - Melhor visualização em microscopia eletrônica - Número e disposição variável, característico para cada espécie - uso taxonômico A. Monotríquio (polar) B. Lofotríquio C. Anfitríquio D. Peritríquio - A estrutura do flagelo é extremamente complexa, formada por mais de 30 proteínas, em número de cópias variáveis. Se organizam em 3 partes: a parte que fica projetada para fora é o filamento, formado pela proteína flagelina (composição conservada; é muito parecida em diferentes bactérias que possuem flagelo). O filamento se liga à superfície de uma bactéria 11 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 através de uma estrutura chamada gancho (formado por outra proteína). Por sua vez, o gancho se fixa a superfície da célula por meio do corpo basal, considerado o motor do flagelo. - Bactérias Gram negativas: 4 anéis (L, P, MS e C -> Membrana externa, peptidoglicana, membrana plasmática e citoplasma); - Bactérias Gram positivas não têm membrana externa, logo só possuem 2 anéis (MS e C). - O estator é o verdadeiro motor do flagelo. Promoção da movimentação: pela rotação dos anéis em torno do próprio eixo. A fonte de energia dos processos de obtenção de energia que a bactéria realiza. Um exemplo é o processo de respiração, onde há o acúmulo de prótons na face externa. O retorno dos prótons pelas proteínas do estator libera a energia que permite a rotação dos anéis em torno do próprio eixo. As proteínas do estator são proteínas Mot! - Como o flagelo é sintetizado? As unidades de flagelina são transportadas pelo canal interno até a extremidade do flagelo, dessa maneira ele aumenta de tamanho. Existe energia pra isso, então não é tão simples do ponto de vista energético (energia da hidrólise de ATP). ● Flagelos e cílios de eucariotos - Flagelos são projeções mais longas, e cílios são mais curtos; - Tamanho bem maior que os flagelos de bactérias; - 9+2 pares de microtúbulos advindos do citoesqueleto; - Movimento em chicote por hidrólise de ATP (promovido pela dineína); - Membrana especializada. ● Bactérias na forma de espiroquetas - Filamentos axiais ou endoflagelos - fixos nas extremidades; - Endoflagelos se projetam no periplasma; - Movimento em ambiente viscoso (extremamente móveis); - Treponema pallidum (sífilis), Leptospira, Borrelia burgdorferi. ● Pili ou fímbrias de procariotos - Projeções em tamanho variável - menores que flagelos - Número variável (até 300/célula) - Pili e fímbrias são sinônimos? Sim, apesar da literatura científica diferenciar. - Expressão preferencial in vivo *FÍMBRIAS NÃO TEM A VER COM CÍLIOS DE EUCARIOTICAS POIS AS FUNÇÕES SÃO DIFERENTES* - Quanto às funções comuns a todas as fímbrias, pode-se destacar a adesão específica a células eucarióticas, a adesão específica a proteínas da matriz extracelular (fibronectina, colágeno) e a formação de biofilmes em superfícies inertes/tecidos. - Composição para permitir o papel de adesão é baseada em proteínas distintas. Diferentes proteínas pilinas formam a projeção. Na extremidade da fímbria, há a maior variedade da composição da estrutura, e quando ela varia muito de composição é chamada de adesina. Nesse sentido, diferentes adesinas vão permitir adesão a epitélios e a tecidos específicos. Objetivo da formação do apêndice: suplantar a carga negativa na superfície da bactéria e da célula hospedeira ● Expressão de certostipos de fímbrias em cepas diferentes - Pilus tipo I - em várias enterobactérias (vivem no trato intestinal) 1. Cepas de Escherichia coli “difusamente adesivas” (DAEC) - intestino 12 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 2. Cepas de Escherichia coli uropatogênica (UPEC) - Adesão a unidades de manose no intestino e no epitélio da bexiga, causando casos de cistite. - Pilus tipo P - cepas de Escherichia coli uropatogênicas (UPEC) - rim (pielonefrite) 1. Adesão a unidades de galactose no epitélio renal - infecção renal - Expressão sequencial de diferentes pili - determinação da rota de colonização - UPEC: tipo I (bexiga) -> tipo P (rim) - Pilus F (pilus sexual) 1. Mais longa que fímbrias 2. Menor número que fímbrias (máximo 4) 3. A proteína que forma essa estrutura é codificada por genes que estão nos plasmídios (pequenos segmentos de DNA encontrados no citoplasma das células procarióticas) F (de fertilidade, porque achava-se que eram sexuadas) 4. Participação no processo de conjugação (troca genética) de bactérias Gram negativas 5. Estabelecimento de contato inicial das bactérias entre si (porinas, LPS) *CONJUGAÇÃO CITOPLASMA DE PROCARIOTOS ● Características gerais: - O citoplasma é o compartimento celular contido pela membrana plasmática, contendo grande variedade de moléculas e íons. - Alto teor de água: 70-80% - Sem organelas ou núcleo - Sem citoesqueleto - Componentes obrigatórios: DNA, RIBOSSOMAS (RNA) E ENZIMAS. - Componentes opcionais: inclusões citoplasmáticas, plasmídios. ● Consequências da ausência de organelas: - Funções exercidas por proteínas da membrana plasmática: mecanismos de obtenção de energia e ligação do DNA a proteínas da membrana. - Respiração: a membrana mitocondrial interna é fundamental para que o ATP seja produzido. ● Consequências da ausência de citoesqueleto/presença de peptidoglicana: - Ausência de mecanismos de citose (endocitose/exocitose) - Necessidade de produção de hidrolases extracelulares para digestão de polímeros no meio extracelular ● Sem citoesqueleto organizado, mas com proteínas relacionadas: - Proteína MreB: similar à actina de eucariotos (microfilamentos); localização em bacilos, não em cocos; estrutura em espiral abaixo da membrana plasmática, com pontos de contato; associação com a adição de novas unidades de peptidoglicana. Essa proteína não é encontrada nos polos da célula, então ela é a responsável por mantê-las na forma de bacilos, porque apenas nos pontos de contato com a membrana é que novas unidades de peptidoglicana são adicionadas para aumentar o tamanho da célula. 13 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 ● Componentes do citoplasma: - DNA: toda célula procariótica tem DNA. 1. Cromossoma: geralmente circular e único, compacto (nucleóide) menor que os cromossomas lineares dos eucariotos. Tem função de transmissão de características hereditárias e codificação das proteínas celulares. Estrutura essencial (alvo de antimicrobianos). 2. Plasmídios: moléculas de DNA menores do que o cromossoma. número e sequências de nucleotídeos variáveis. Duplicação independente do cromossoma. Função codificação de proteínas que conferem características adicionais, não obrigatórias para a sobrevivência da bactéria. Presença facultativa. - Ribossomas: está envolvido com a síntese de proteínas, é uma estrutura essencial. Possui composição de RNA ribossomal (RNAr) e proteínas. Células procarióticas, cloroplastos e mitocôndrias: ribossomas 70 S (unidade Swedberg; velocidade necessária para sedimentar o ribossoma porque reflete o tamanho dele), duas subunidades (50 S e 30 S), o somatório não dá 80 porque no conjunto as duas subunidades ocupam um espaço menor do que quando estão separados; são sensíveis a vários antimicrobianos (exceção: arqueas). Células eucarióticas: ribossomas 80 S (60 S + 40 S) sensíveis à toxina diftérica (inclusive arqueas). ● Inclusões citoplasmáticas: - Funções: reserva energética (excesso de um nutriente e escassez de outros nutrientes); reserva de componentes estruturais; diminuição da pressão osmótica devido à polimerização; separação do citoplasma por lipídeos (“monocamada”), proteínas ou diferença de solubilidade. 1. Glicogênio, amido: polímeros de glicose (ligações alfa 1-4 e alfa 1-6); algumas espécies de bactérias; reserva energética; monocamada membranar. 2. Poli-hidroxi-alcanoatos (PHA): polímero formado por unidades de beta-hidroxi- butirato; bactérias e arqueas; reserva energética; monocamada membranar; plástico biodegradável. 3. Grânulos de enxofre metálico: reserva energética (bactérias e arqueas quimioautotróficas). 4. Grânulos de poliofosfato: polímeros de fosfato inorgânico (reserva); grânulos metacromáticos: mudança de cor de azul de toluidina para vermelho; grânulos de volutina: Spirillum volutans. 5. Clorossomas: acúmulo de bacterioclorofia c - aumento da eficácia; aderidos à membrana plasmática; monocamada membranar; bactérias fotossintéticas verdes. 6. Magnetossomas: cristais de óxido férrico Fe3O4 formando cadeias; presença de membrana semelhante à membrana plasmátca (importância na precipitação do íon Fe) Organela? - bactérias aquáticas, algas (variedade de formas); magnetotaxia: orientação do movimento celular em resposta a um campo magnético; possível função: movimento em direção a nutrientes de sedimentos e movimento em direção a ambiente anaeróbio. 7. Vesículas de gás: estruturas cilíndricas rígidas envolvidas por proteínas impermeáveis a solutos e água, permeáveis ao ar. Gás: composição semelhante ao meio ambiente. Número e tamanho variáveis. 5-20% do citoplasma. Bactérias que flutuam em ambientes aquáticos: localização em resposta a fatores ambientais. Bactérias fotossintéticas (fototaxia) no meio aquático têm muitas vesículas de gás. 14 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 ENDOSPOROS BACTERIANOS - Formados por 20 gêneros de bactérias Gram positivas saprófitas do solo: Bacillus, Clostridium, Sporomusa, Sporosarcina, entre outros. - Não foram encontrados em arqueas até hoje - Bactérias que apresentam dois tipos de células: 1. Células vegetativas: metabolismo ativo; capacidade de multiplicação; facilmente lisadas por variações de condições ambientais. 2. Endosporos: células dormentes (metabolismo inativo); ausência de divisão celular; alta resistência a fatores ambientais: altas temperaturas (100 °C) durante certo intervalo de tempo; dessecação; radiação ultravioleta; variações de pH; substâncias químicas (desinfetantes, antissépticos, enzimas, corantes); força mecânica; sobrevivência por centenas de anos. - Problemas para esterilização de materiais: calor úmido sob pressão - autoclavação (121°C/15min); estufa (180°C/2 horas); radiação esterilizante - radiação gama, raios x; agentes químicos (I², óxido de etileno, glutaraldeído). - Bactérias patogênicas formadoras de endosporos (e produtoras de toxinas): 1. Bacillus cereus - intoxicação alimentar 2. Bacillus anthracis - infecção cutânea (carbúnculo), doença respiratória 3. Bacillus thuringiensis - bactéria entomopatogênica 4. Clostridium tetani - tétano 5. Clostridium perfringens - gangrena gasosa, intoxicação alimentar 6. Clostridium botulinium - botulismo - Processo de diferenciação celular: alterações bioquímicas e morfológicas causadas pela expressão diferenciada de genes: 1. Esporulação: célula vegetativa -> endosporo 2. Germinação: endosporo -> célula vegetativa - Esporulação: passagem de uma célula metabolicamente ativa para um endosporo. a causa é a ausência de nutrientes (fonte C, N, P), stress ambiental (condições desfavoráveis). 1 célula vegetativa dá origem a 1 endosporo. Processo lento: 8 horas. Formação no citoplasma da célula vegetativa. Sequência de estágios morfológicos (inativação de genes da célula vegetativa; ativação de genes para a formação do endosporo). Espécie mais estudada:Bacillus subtilis (5% do genoma), porque não é uma espécie patogênica ao homem. Uso de mutantes spo: interrupção de esporulação em diferentes etapas. *ENDOSPORO GANHA ESSE NOME PORQUE É FORMADO DENTRO DA CÉLULA VEGETATIVA QUE DÁ ORIGEM A ELE. - Estágios da esporulação em B. subtilis: 1. Duplicação do DNA da célula vegetativa. Ocorre em condições desfavoráveis de sobrevivência. 2. Invaginação da membrana plasmática próximo a uma das extremidades da célula vegetativa; formação do septo de divisão: célula-mãe (maior) e pré- esporo (menor). 3. Crescimento contínuo da membrana plasmática da célula-mãe, até envolver completamente o pré-esporo. 4. Formação do córtex; alterações no cerne (região do endosporo abaixo do córtex) 15 Gabrielle Vasconcelos ENF 19.2 5. Formação das capas (envoltório acima do córtex); alterações no cerne 6. Maturação: desenvolvimento de resistência 7. Liberação do endosporo por lise da célula-mãe. - Características estruturais dos envoltórios: exospório (presença facultativa, formado por proteínas); capas (proteínas ricas em cisteínas, que formam pontes dissulfeto, tornando a estrutura hidrofóbica e rígida), as capas permitem uma resistência à radiação ultra-violeta solar, impermeabilidade a enzimas (lisozima) e a compostos químicos, resistência à pressão mecânica; córtex (peptidoglicana modificada, com poucas ligações cruzadas, mais espessa e mais externa), onde sua expansão radial promove pressão mecânica sobre o core, expulsão água: baixo teor de água aumenta a resistência ao calor e mantém o estado dormente do esporo; resistência a beta-lactâmicos e a solventes orgânicos; peptidoglicana semelhante estruturalmente à célula vegetativa, mas fina (parede celular vegetativa) e membrana. - Características estruturais do cerne (“core”): equivalente ao citoplasma; baixo teor de água (15%); consistência de gel e resistência ao calor; 1/10 do volume da célula vegetativa; valor de pH 1 unidade abaixo da célula vegetativa; maior compactação do DNA; grande teor de ácido dipicolínico (15% peso seco); grande teor de Ca², complexo dipicolinato de cálcio 1. Formação de polímero gelatinoso - intercalação com DNA, ribossomas, proteínas para estabelecer a proteção contra a desnaturação. 2. Mutantes sem dipicolinato são resistentes ao calor (devido a remoção da água) - Grande teor de SASP alfa e beta (“small acid-soluble proteins”) - ligação ao DNA mais compacto; proteção contra o calor, dessecação e radiação ultravioleta artificial. - Ausência de água forma estrutura refratária, e por isso os endosporos não se coram por Gram. - Germinação do endosporo: a causa é devido às condições ambientais favoráveis (oferta de nutrientes, temperatura adequada); o processo é rápido (15-45min) e irreversível; acontece em 3 etapas (ativação, germinação e extrusão). 1. Ativação: exposição a ambiente com muitos nutrientes; uso de temperatura elevada, porém não letal (B. subtilis: 60°C/5min); susbtâncias germinantes (espécie-específicas: alanina, prolina, íons) 2. Germinação: perda de resistência ao calor; perda de ácido dipicolínico e Ca²; hidrólise seletiva do córtex; hidrólise das capas. 3. Extrusão: re-hidratação do core; síntese de DNA, RNA, proteínas; expansão da peptidoglicana; SAPs: fonte de C e energia; difusão celular.
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