Buscar

RECURSO PARA COMISSÃO DE COTAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

À COMISSÃO RECURSAL DE HETEROIDENTIFICAÇÃO RACIAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE NOVA IGUAÇU
Referente ao Processo Administrativo 2021/0111
		KATY MARY HERMIONE, brasileira, solteira, estudante, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas sob o nº 11, portadora de cédula de identidade Registro Geral sob o nº 00, endereço eletrônico XXX, residente e domiciliada na Rua N, nº 00, Bairro Moquetá, Nova Iguaçu - RJ, CEP XXX, vem, com fulcro no item XX, do Edital nº XXX, interpor
RECURSO ADMINISTRATIVO
Em face da respeitável decisão de indeferimento da cota racial exarada pela Comissão de Heteroidentificação, o que faz pelos fatos e fundamentos aduzidos a seguir:
I – BREVE SÍNTESE DOS FATOS
	A recorrente é discente do curso de Direito da instituição desde 2018, quando ingressou através de vestibular pelas vagas de cotas raciais para pessoas pardas onde veio a ser aprovada e matriculada sob o nº 201800, sendo solicitada apenas a autodeclaração para a sua matricula.
	Em 2021, a instituição recebeu uma “denúncia” de que haviam alguns discentes que estariam cursando indevidamente dentro das cotas raciais para pessoas raciais, e indicaram a recorrente como sendo uma delas.
	Foi aberto procedimento para apuração de fraudes pela banca de Heteroidentificação, sob o nº 2021/0111, onde a recorrente foi convocada para a realização do procedimento de Heteroidentificação.
	Embora previsto no edital, o procedimento realizado não foi filmado, e a banca fez um único questionamento a recorrente: “Qual foi a motivação que ela, como mulher branca, se candidatou para a cota de uma pessoa parda”. Surpresa com a pergunta, a recorrente informou que não era branca e sim parda e que se candidatou a vaga correta.
	Não houveram mais perguntas e informaram que a recorrente receberia a decisão por e-mail. Após alguns dias a mesma recebeu o e-mail informando que o critério utilizado foi o fenotípico e que a decisão era que a discente era “NÃO APTA”, sem mais fundamentações.
	Ocorre que, a recorrente sempre se apresentou como parda, seu registro de nascimento consta como parda e bem como o de todos os seus irmãos constam como pardos, além de ter o cabelo crespo e os traços faciais de pessoa parda.
I- DA JUSTIFICATIVA DO INDEFERIMENTO
	A Comissão de Heteroidentificação indeferiu a cota racial à recorrente sem nenhuma fundamentação, apenas informando por e-mail que a decisão da banca era de que a discente era “NÃO APTA”.
	Todavia, a decisão merece reforma, uma vez que, conforme será exposto adiante, a recorrente é sim autodeclarada e autoidentificada como parda.
II- DA AUTODECLARAÇÃO E AUTOIDENTIFICAÇÃO COMO PARDA
	Em que pese a autodeclaração como parda não ser considerada como verdade absoluta, ela deve ser observada e, em caso de dúvida da Comissão de Heteroidentificação deve prevalecer. Nesse sentido é o entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região:
ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA DE URGÊNCIA. CONCURSO PÚBLICO. SISTEMA DE COTAS. AUTODECLARAÇÃO. COMISSÃO DE VERIFICAÇÃO. CONCLUSÃO APENAS PELO CRITÉRIO DA HETEROIDENTIFICAÇÃO. ILEGALIDADE. HAVENDO DÚVIDA QUANTO À DEFINIÇÃO DO GRUPO RACIAL DO CANDIDATO PELA COMISSÃO, DEVE PREVALECER A PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DA AUTODECLARAÇÃO. 1. O Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade da Lei n.º 12.990/14, entendendo legítimo o controle da autodeclaração a partir de critérios subsidiários de heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa. 2. É ilegal o parecer emitido pela comissão de verificação que, de forma sumária, conclua apenas pelo critério da heteroidentificação, sem qualquer fundamentação e sem levar em consideração a autodeclaração do candidato e os documentos por ele juntados. 3. Diante da subjetividade que subjaz à definição do grupo racial de uma pessoa por uma comissão avaliadora e havendo dúvida quanto a isso, tem-se que a presunção de veracidade da autodeclaração deve prevalecer.
(TRF-4 - AG: 50300527520194040000 5030052-75.2019.4.04.0000, Relator: SÉRGIO RENATO TEJADA GARCIA, Data de Julgamento: 15/10/2019, TERCEIRA TURMA)
	Conforme foto anexa, a recorrente possui características e sempre se identificou como parda, considerando a ascendência, a heteroatribuição de pertença, na qual ocorre a identificação com outras pessoas do mesmo grupo/estereótipo, traços físicos como cor da pele, cabelo que, apesar da recorrente usá-lo liso, é de natureza cacheado, nariz largo, lábios roxos, estrutura óssea (arcos zigomáticos e testa) proeminentes, entre outros.
	Ademais, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, a análise das características fenotípicas, em que pese ser constitucional, deve observar a dignidade da pessoa humana, o contraditório, o devido processo legal e visar evitar fraudes, NÃO FAZER UMA SELEÇÃO RACIAL.
	Além disso, a decisão de indeferimento deve ser MOTIVADA, por se tratar esta de uma característica inerente aos atos administrativos e, principalmente, por ser uma análise extremamente subjetiva. Nesse sentido, vejamos o entendimento de Tribunal Regional Federal da 1ª Região:
ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. MATRÍCULA. SISTEMA DE COTAS RACIAIS. ENTREVISTA. CRITÉRIOS SUBJETIVOS. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. FENÓTIPO NEGRO OU PARDO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. NÃO CABIMENTO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA. 1. A entrevista para aferição da adequação do candidato à concorrência especial das cotas raciais se posta legal, desde que pautada em critérios objetivos de avaliação. "Não há, pois, ilegalidade na realização da entrevista. Contudo, o que se exige do candidato é a condição de afrodescendente e não a vivência anterior de situações que possam caracterizar racismo. Portanto, entendo que a decisão administrativa carece de fundamentação, pois não está baseada em qualquer critério objetivo (...) considero que o fato de alguém 'se sentir' ou não discriminado em função de sua raça é critério de caráter muito subjetivo, que depende da experiência de toda uma vida e até de características próprias da personalidade de cada um, bem como do meio social em que vive. Por isso, não reconheço tal aspecto como elemento apto a comprovar a raça de qualquer pessoa" (STF - ARE: 729611 RS, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 02/09/2013, Data de Publicação: DJe-176 DIVULG 06/09/2013 PUBLIC 09/09/2013). 2. A simples afirmação pela Comissão de Validação de Matrículas da Universidade de que determinado candidato não possui características fenotípicas da etnia negra é totalmente descabida, uma vez que atos que gerem prejuízo para os administrados devem, necessariamente, ser motivados. 3. No caso, a autora comprovou, por meio de cópias de fotos dela e de seus familiares, possuir fenótipo com característica de afrodescendência, merecendo reforma o ato administrativo que negou a matrícula da candidata em universidade pública federal pelo sistema de cotas para negros. 4. Esse entendimento não implica intervenção judicial no mérito do ato administrativo, mas sim controle de sua legitimidade, mediante interpretação razoável ao sistema de cotas em consonância com o princípio do devido processo legal. 5. A atual jurisprudência do colendo Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo, assentou entendimento no sentido de que "também não são devidos honorários advocatícios à Defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito público que integra a mesma Fazenda Pública" (REsp 1199715/RJ, r. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Corte Especial, julgado em 16/02/2011, DJe 12/04/2011) 6. No caso, a Defensoria Pública da União assim como a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) pertencem à mesma Fazenda Pública Federal, ou seja, à União, não sendo devidos honorários advocatícios em favor da DPU, porque isso representaria mera transferência de receitas entre entidades mantidas pela mesma Fazenda Pública. 7. Apelação a que se dá parcial provimento apenas paraeximir a UFMA do pagamento de honorários advocatícios em favor da DPU. 8. Remessa oficial a que se nega provimento.
(TRF-1 - AC: 00041040820124013700 0004104-08.2012.4.01.3700, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL NÉVITON GUEDES, Data de Julgamento: 22/06/2016, QUINTA TURMA, Data de Publicação: 30/08/2016 e-DJF1)
	A recorrente pleiteou a vaga designada a candidatos autodeclarados pretos/pardos porque é assim que a mesma se enxerga e se considera. Agiu de boa-fé e segundo o disposto no Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288/2010, em seu artigo 1º, parágrafo único, inciso IV:
IV. População negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga;
	Ante o exposto e conforme documentação que corrobora o declarado, anexa ao presente Recurso, verifica-se com nitidez que a recorrente possui todas as características necessárias à declaração de preenchimento dos requisitos para ocupar vaga reservada aos pretos/pardos.
III- DA LEGISLAÇÃO
	Estabelece a Lei 12.990/2014, em seu artigo 2º que:
Art. 2º Poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público, conforme o quesito cor ou raça utilizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Parágrafo único. Na hipótese de constatação de declaração falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se houver sido nomeado, ficará sujeito à anulação da sua admissão ao serviço ou emprego público, após procedimento administrativo em que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. (Grifei)
	Conforme documentos e fotografias anexas, a recorrente não falseou acerca de suas características étnicas, razão pela qual o indeferimento de seu direito à cota vai de encontro à JUSTIÇA.
	A PORTARIA Nº 4/2018 do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão regulamenta Lei 12.990/2014. Segundo a mesma, em seu art. 3º:
Art. 3º A autodeclaração do candidato goza da presunção relativa de veracidade.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no caput, a autodeclaração do candidato será confirmada mediante procedimento de Heteroidentificação;
§ 2º A presunção relativa de veracidade de que goza a autodeclaração do candidato prevalecerá em caso de dúvida razoável a respeito de seu fenótipo, motivada no parecer da comissão de Heteroidentificação.
	No presente caso, portanto, a respeitável decisão merece reforma, uma vez que a recorrente não falseou sua declaração de parda, bem como demonstra as características fenotípicas necessárias para preencher a vaga ofertada.
IV- REQUERIMENTOS
	Ante o exposto, requer a alteração da decisão tomada pela comissão sendo a recorrente considerada “APTA” para a cota racial para pessoas pardas; ou a realização de nova avaliação da condição étnico-racial da recorrente por nova Banca de Heteroidentificação junto à Instituição, por ser da mais pura e lídima justiça.
	Nestes termos, pede e espera deferimento.
Nova Iguaçu, [DATA]
Jamile Caroline Pitanga de O. Araujo
Advogada
OAB/RJ XXXXX

Continue navegando