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Angiologia Linfedema Consideraçõe� Gerai� Linfedema é uma doença crônica que se manifesta pelo acúmulo de líquido intersticial e alterações teciduais ocasionados por insuficiência da circulação linfática. O edema resultante apresenta características próprias que o diferencia daqueles decorrentes de outras manifestações clínicas. A linfa produzida no tecido intersticial é absorvida pelos capilares linfáticos e conduzida aos linfonodos regionais pelos vasos linfáticos aferentes. Após a filtração e adição de células imunológicas nos linfonodos, os vasos linfáticos eferentes dirigem a linfa para estruturas de condução mais complexas, como os troncos linfáticos e cisterna do quilo. Os ductos linfáticos, compostos pelo ducto torácico e ducto linfático direito, conduzem a linfa em direção ao sistema venoso e respectivamente terminam na junção venosa subclávia-axilar esquerda e direita. O edema do membro pode ocorrer por um defeito no sistema linfático, resultando em um edema com as características do linfedema, ou por um excesso na produção de líquido isoladamente, estando o sistema linfático íntegro. Neste último caso as diferentes causas do edema constituem o diagnóstico diferencial do linfedema e o edema é classificado como uma insuficiência dinâmica da drenagem de líquido (o sistema linfático está íntegro) e não é diagnóstico de linfedema. CAUSAS DE EDEMA DOS MEMBROS ➜ Insuficiência Mecânica = Linfedema ⤷ Ocorre pela redução da capacidade de drenagem do sistema linfático. ⤷ O volume produzido de líquido intersticial é normal. O edema é composto por uma alta concentração de proteínas. ⤷ Observa-se nos linfedemas congênitos, primários e secundários a Linfedema infecção, traumas, radioterapia, entre outros. ➜ Insuficiência Dinâmica = Edema não Linfático ⤷ O sistema linfático está íntegro. ⤷ O volume produzido de líquido intersticial é tanto que excede a capacidade de drenagem do sistema linfático normal. ⤷ Ocorre na hipoproteinemia, trombose venosa profunda, insuficiência venosa crônica, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, processos inflamatórios (pós-cirúrgico, trauma, infecção, etc.) e postural. CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DOS LINFEDEMAS ➜ Primário ⤷ Congênito: Estão presentes desde o nascimento, como no linfedema congênito familiar (Doença de Milroy), nas bridas amnióticas e em algumas angiodisplasias. ⤷ Precoce: Aparece entre o nascimento e os 35 anos de idade. ⤷ Tardio: Aparece após os 35 anos de idade. ➜ Secundário ⤷ Ocorre devido a alguma doença ou condição clínica lesiva às estruturas linfáticas, como infecção, neoplasia, filariose, traumatismo, cirurgia, radioterapia, refluxo quiloso, hipoproteinemia e insuficiência venosa. ESTÁDIOS CLÍNICOS DO LINFEDEMA ➜ Grau I: melhora com 24 a 48 horas de repouso ➜ Grau II: não melhora com 24 a 48 horas de repouso ➜ Grau III: não melhora com 24 a 48 horas de repouso e há alterações cutâneas. Quadr� Clínic� Caracterizado basicamente por: ➜ Aumento progressivo do volume da região afetada ➜ Edema intersticial ➜ Transformação gradativa para fibrose tecidual ➜ Crises frequentes de linfangites ➜ Possibilidade de evolução para formas elefantiásicas Queixa de edema unilateral de membro superior ou inferior, ou queixa de edema da região do pênis e escroto, já alerta o médico para a possibilidade de um linfedema. Excluídas as outras causas do edema, a saber: edema cardíaco, edema renal, edema carencial, devemos atentar para o linfedema. O edema unilateral que não regride com repouso de 24 horas, geralmente com história de infecções prévias, praticamente indolor e sem lesão de pele nas fases iniciais, que é pouco depressível e com sinal de Stemmer (não pregueamento da pele dos dedos dos pés), é a regra clínica nos linfedemas. Diagn�stic� O diagnóstico do linfedema é essencialmente clínico e estabelecido por uma anamnese detalhada. A idade do paciente, quando do aparecimento dos sintomas, permite classificar os linfedemas primários. Antecedentes de doenças neoplásicas, cirurgias, radioterapia, tuberculose ganglionar, toxoplasmose, blastomicose e pacientes provenientes de áreas endêmicas para filariose, indicam a causa dos linfedemas secundários. O Sinal de Stemmer é a manifestação clínica mais precoce dos linfedemas primários. O teste consiste em pinçar a pele do segundo dedo do pé. Se não houver linfedema será fácil puxar a pele. Entretanto, na presença de linfedema haverá o espessamento cutâneo, não sendo possível fazer o pinçamento. Linfedema MÉTODOS DE AVALIAÇÃO Os exames complementares são úteis para a avaliação do grau de comprometimento da circulação linfática, quantificação do edema intersticial e para dimensionar as diferenças volumétricas entre os membros com linfedema. São eles: ➜ Perimetria Consiste na medida do perímetro nos diversos segmentos dos membros com o auxílio de uma fita métrica. Deve ser sempre comparativo entre o membro com linfedema e o contralateral. ➜ Pneumopletismografia Método de avaliação quantitativa do volume de líquido acumulado em uma determinada região do membro com linfedema. Utiliza um manguito de pressão acoplado a um pletismógrafo computadorizado. O pletismógrafo irá registrar graficamente a variação de volume da região avaliada submetida a uma pressão conhecida que corresponde ao deslocamento do líquido intersticial acumulado. ➜ Linfocintilografia Utiliza isótopo radioativo agregado a molécula de alto peso molecular que é injetado no interstício e transportado pelo sistema linfático. A injeção é subdérmica e realizada no espaço interdigital de ambas as extremidades a serem avaliadas. É considerado o método de escolha para avaliação da circulação linfática. ⤷ Padrões de normalidade ● Simetria das imagens ● Grupo único de coletores linfáticos ● Ausência de circulação colateral ● Presença de linfonodos regionais ● Ausência de linfonodos profundos ● Ausência de refluxo dérmico (estase de linfa) Tratament� TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA Os medicamentos que podem ser usados no tratamento dos linfedemas são as drogas chamadas de linfocinéticos e são representados por duas classes de fármacos: ➜ Derivados cumarínicos ➜ Derivados esperidínicos Dos cumarínicos o mais usado é a 5,6-alfabenzopirona que, in vitro, melhora a circulação linfática, ordenando a abertura e o fechamento das junções nos capilares linfáticos. A administração de 300 mg/dia de benzopirona, associada à fisioterapia, teve melhores resultados na diminuição das medidas dos linfedemas de membros inferiores, quando comparados aos resultados da fisioterapia isoladamente. A 5,6-alfabenzopirona é hepatotóxica e não deve ser administrada em pacientes com lesão hepática grave, em crianças menores de 8 anos e em adultos maiores de 70 anos. No uso prolongado deste fármaco, deve-se, a cada 6 meses, analisar as taxas de transaminases, bilirrubinas e fosfatase alcalina sanguínea, bem como solicitar coagulograma e US hepático, se for necessário. Linfedema É utilizada na dose de 50 a 100 mg em três tomadas diárias. Entretanto, esta droga só está disponível em farmácias de manipulação. Em crianças, idosos e em pessoas com história de alergia à benzopirona, usamos a diosmina, derivado esperidínico na dose de 500 mg, 2 a 3 vezes ao dia. Qualquer dúvida com relação a uma infecção em um membro linfedematoso deve ser prontamente investigada e corretamente tratada; as portas de entrada, como as micoses interdigitais, também devem ser devidamente medicadas. Em pacientes com quilotórax ou quiloperitônio, pode-se usar diuréticos por período pequeno de tempo (até 1 semana), na tentativa de diminuir o débito de linfa. Porém, esta classe de medicamentos não age na redução da formação da linfa, e deve-se tomar cuidado para não levar estes pacientes já espoliados ao estado de desidratação. TERAPÊUTICA FÍSICA OU FISIOTERÁPICA ➜ Terapia Física Complexa - TFC Tem como tripé: ⤷ Drenagem linfáticamanual ⤷ Contenção (inelástica e elástica) ⤷ Melhora das condições da pele, bem como os exercícios linfomiocinéticos. É possível, com manobras manuais, delicadas, rítmicas e de orientação, levar a linfa de locais bloqueados para outros, onde não haja bloqueio linfático (ex. linfa do braço para a axila ou da coxa para a região inguinal). No final da sessão, quando o paciente irá retornar ao seu domicílio, para que não haja perda nas medidas diminuídas durante a sessão, indica-se uma contenção inelástica com enfaixamento com atadura de crepe mais esparadrapo ou uma contenção elástica com luva ou meia elástica. Obs: Recomenda-se sessões diárias de segunda a sábado com duração de até 3 horas e descanso no domingo por 1mês, consecutivamente. Deve ser feita uma visita de reavaliação ao médico no final do tratamento e outro retorno após 2 meses do seu término, quando são reavaliadas as medidas feitas na perimetria para um critério de prognóstico e seguimento do caso. Um tópico controverso é o uso da compressão pneumática intermitente (CPI) para o tratamento do linfedema periférico. A CPI isolada só desloca a parte líquida do edema linfático, já que a proteína não é levada para dentro da luz linfática, o que poderia propiciar a fibrose do tecido celular subcutâneo com o aparecimento do fibroedema. Também as pressões elevadas (> 60 mm Hg) por períodos prolongados de tempo (maior que 30 minutos) podem lesar o sistema linfático. Na prática é utilizada a CPI à baixa pressão (< 60 mm por período de tempo de até 20 minutos conjuntamente à drenagem linfática manual ou como início de sessão para “amolecer” o membro a ser tratado. Linfedema TRATAMENTO CIRÚRGICO É de exceção na maioria dos casos, a não ser no linfedema peno-escrotal, para o qual é a indicação de escolha. As cirurgias de ressecção estão indicadas após tratamento clínico adequado, como medida complementar para correção do excesso de pele e tecido celular subcutâneo (TCSC), visando otimizar a anatomia do membro. Nesse caso, pode-se indicar, selecionadamente, a lipoaspiração localizada, não esquecendo que a terapia física complexa deve ser continuada após a cirurgia. No caso de fibroedema, forma elefantiásica, podem ser indicadas as dermolipectomias totais, com resultados variáveis. Nos casos de ressecção linfonodal proximal com linfedema secundário pós-cirúrgico, pode ser cogitada a anastomose linfovenosa por técnica de microcirurgia, quando houver coletores linfáticos distais preservados. Complicaçõe� Como toda doença crônica, o linfedema tem uma evolução lenta e as alterações teciduais podem ser minimizadas com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. As principais complicações são: ➜ Erisipelas recidivantes ➜ Transformação fibrótica tecidual ➜ Evolução para formas elefantiásicas ➜ Malignização (linfangiossarcoma). Atenção especial deve ser tomada na prevenção de erisipelas recidivantes. A erisipela consiste em infecção da pele usualmente pelo Streptococcus epidermidis, podendo ocorrer concomitantemente o acometimento dos vasos linfáticos caracterizando uma linfangite ascendente. As erisipelas costumam começar como quadro infeccioso prodrômico, com febre alta (chegando a 39-40 ºC) acompanhada de calafrios e seguida de sudorese profusa. Após várias horas aparece o quadro de eritema, dor e calor característicos do acometimento cutâneo que, se não tratado, rapidamente evolui para edema com maior consistência da pele e formação de bolhas serosas ou hemáticas. Em casos mais graves pode ocorrer a necrose da pele. Concomitantemente ocorre aumento de volume dos linfonodos inguinais, que se tornam dolorosos e em alguns casos percebe-se o trajeto da veia safena interna avermelhado e quente (corresponde aos vasos linfáticos que acompanham a veia). Ao exame dos pés pode-se perceber uma porta de entrada, que tipicamente corresponde a rachaduras em virtude de micose interdigital. As erisipelas devem ser tratadas com antibioticoterapia voltada para germes Gram positivos encontrados na comunidade. Responde rapidamente ao tratamento se o paciente permanecer em repouso com o membro elevado e iniciar a antibioticoterapia precocemente. Para evitar novos surtos de erisipela recomenda-se a profilaxia com penicilina benzatina a cada 21 dias por pelo menos seis meses após o último episódio, e o controle rígido da micose interdigital com antifúngico apropriado. Obs: A cada surto de erisipela ocorre a destruição progressiva de mais vasos linfáticos, agravando o quadro de linfedema e favorecendo o aparecimento da fibrose tecidual e posteriormente da elefantíase. Linfedema
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