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De acordo com Georges Lapassade, sociólogo francês, as instituições são “formas”, ou seja, são produtos históricos de uma sociedade instituinte que produzem e reproduzem as relações sociais e se instrumentalizam em estabelecimentos e/ou dispositivos. Apropriando-se desse jogo constitutivo entre instituído (formas) e instituinte (processo), vão analisar as situações de institucionalização quando chamados a intervir em organizações e grupos. As instituições, como a educação/escola, por exemplo, foram produzidas na história. Elas têm a forma como as reconhecemos hoje a partir das influências do Iluminismo, segundo os problemas da sociedade da época – sempre que algo é criado, tem o objetivo de dar conta de uma demanda ou de um problema que surgiu na organização da sociedade. A escola, citada anteriormente, serviu para fazer uma cisão entre o mundo da criança (nascimento do conceito de infância) e o mundo do adulto. A psiquiatria surge entre os séculos XVIII e XIX, enquanto instituição, para “purificar” os espaços sociais, permitindo que tenha o direito de ir e vir apenas aqueles que seguiam a ordem. Quando essas instituições nascem, elas são constituídas de forma instituinte. Assim, as forças que foram movidas na sua produção são forças instituintes, isto é, são um processo – a escola e/ou o momento escolar moderno não nasceu “do dia para a noite”, mas sim, por meio de forças instituintes que vão instituindo regras, valores, normas, manuais etc. As forças instituintes vão construindo a forma/o contorno das instituições. Em determinado momento da história (anos 70), as forças instituídas das instituições da época vão de encontro as forças instituintes que emanam da organização social divergente, ou seja, daqueles que vão contra a ordem estabelecida. Um exemplo é o surgimento do feminismo (força instituinte). As forças instituintes surgem sempre que as forças instituídas não forem suficientes para a organização social, isto é, quando elas deixam de ser úteis para todas as pessoas. Quando as forças instituídas surgiram, elas davam conta de uma determinada demanda, a qual muda ao longo dos anos. Assim, as instituições se cristalizam, algo que ocorre pois elas operam relações de força, e os indivíduos que detém o controle dessas relações ocupam lugar de privilégio na sociedade (e ninguém costuma renunciar aos privilégios que tem). As primeiras intervenções socioanalíticas apostavam em intervenções de curta duração, a partir da instauração de crises ao operar sobre a dinâmica das relações grupais, fazendo evidenciar o não dito das relações. No decorrer dos anos, esta estratégia foi sendo substituída por ações longitudinais, visando mais a regulação do grupo do que ao seu desarranjo. Ao fazer parte do cotidiano da instituição, a socioanálise se constituiu como uma ação não diretiva e teve como uma de suas diretrizes formativas a restituição das resultantes da pesquisa como forma de sulear suas intervenções (transformar para conhecer). A análise da encomenda gera a demanda como seu desdobramento problemático, expondo o emaranhado de forças contido no pedido de análise. Se, por exemplo, uma diretora aciona um psicólogo para trabalhar na escola porque não aguenta mais a indisciplina dos alunos, isso diz respeito à encomenda/demanda dela enquanto gestora e da instituição. Essa não é a demanda para o psicólogo e sim a que ele consegue ler por meio da encomenda. Entretanto, essa demanda deve ser construída e percebida dentro do grupo de alunos que o profissional de psicologia vai trabalhar. Não se deve pensar, nessa análise, “fui chamado para resolver a solicitação x que a diretora passou”, mas sim, analisar essa encomenda e conversar com o grupo em questão. Na análise da oferta, coloca em xeque o próprio grupo-interventor como instituição que propõe um serviço, problematizando o modo como as intervenções podem gerar um especialismo e produzir ou modular as encomendas de intervenção que lhe são propostas. Os intelectuais, os analistas institucionais e todos aqueles que são chamados a dizer algo sobre a realidade ou a intervir sobre ela com estatuto de reveladores de verdades devem manter permanentemente em análise a encomenda de intervenção e as ofertas por eles feitas. A oferta é o que o psicólogo percebe sobre si, ou seja, o que ele está ofertando. É uma autocrítica do profissional e do próprio campo do saber da análise institucional. É pensar “aquilo que eu oferto produz o que em mim?”, por exemplo, uma clínica normativa produz uma sociedade normativa, assim como uma clínica política produz uma clínica política. É essencial compreender que a demanda não é desvelada, mas sim produzida no encontro (ela não já é pronta primordialmente). A encomenda se analisa para compreender a demanda de quem a trouxe, mas a demanda do grupo em questão se dá apenas em contato com esse grupo. Mesmo que o psicólogo leve algumas dinâmicas pensando em usá-las com a turma que vai atender, é sempre importante que esteja pronto para deixar de lado o que pensou a priori e fazer algo diferente que se encaixe com a demanda da turma em questão. Vale destacar que cada grupo é singular. O conceito de transversalidade ajudou a sustentar a inseparabilidade do campo de análise e do campo de intervenção. Gestado nas experiências de Sant Alban como forma de tentativa de superação, nas organizações psiquiátricas da hierarquia vertical e da igualdade horizontal, introduzindo no pensamento institucional outras formas de relação entre os grupos que denominou de grupos sujeitos e grupos sujeitados. O conceito de transferência dá lugar ao de transversalidade. • Grupos sujeitados: onde há uma hierarquia. • Grupos sujeitos: onde há um trabalho com liberdade e autonomia e a demanda é construída em conjunto. Numa relação paciente-terapeuta, por exemplo, o paciente é protagonista no processo de enfrentamento. A transversalidade não trata de um eixo vertical que iria produzir uma relação hierarquizada (por exemplo, professor x aluno). E, ao mesmo tempo, ele diz não haver a dimensão da igualdade, pois o gestor não é igual àquele que o acompanha – no quesito professor e aluno, citado anteriormente, o professor tem o poder de avaliar que o aluno não tem, por exemplo. Na transversalidade temos o encontro de sujeitos distintos na compreensão de uma problemática. Se há, por exemplo, um grupo de homens e outro de mulheres, eles se encontrarão politicamente em algum ponto da sociedade para se resolverem – são grupos distintos e de diferentes locais na hierarquia instituída socialmente, mas ambos se encontram em um ponto de complexidade.
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