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* * AULA 10 - O FUNCIONALISMO CURSO DE LETRAS – PROFESSORA MARCIA DIAS LIMA DA SILVA * * BREVE HISTÓRICO Saussure: língua como sistema; a linguagem humana pode servir de meio de comunicação e de transmissão de conteúdo. Chomsky: língua como capacidade inata ao ser humano. Labov: estudo da língua em situação real de comunicação, levando em conta fatores externos – sexo, idade, escolaridade, procedência geográfica etc. – como possíveis influenciadores da forma de codificação linguística. * * BREVE HISTÓRICO Sociolinguística. Ao estabelecer que a língua é um fenômeno social por ser heterogênea como os grupos que compõem uma sociedade, Labov valoriza a participação dos falantes. 2) Embora Saussure reconhecesse que a língua é o produto social da faculdade da linguagem, deixou a fala fora dos seus estudos por considerar que sua heterogeneidade seria de difícil descrição. Oposição do funcionalismo a Saussure. A língua não é um fenômeno isolado, mas serve a uma variedade de propósitos dos quais, efetuar a comunicação é apenas um deles. * * O FUNCIONALISMO Deixa-se de lado a ideia de que a linguagem é a forma de expressão do pensamento, já que os funcionalistas a concebem como instrumento de interação social. Segundo eles, é preciso investigar a motivação para os fatos da língua, ou seja, explicar as regularidades observadas no uso interativo da língua, um vez que ela é concebida como uma estrutura maleável, adaptativa. Assim, estuda-se a língua em situação real de comunicação, verificando o modo como os usuários da língua se comunicam eficientemente. Esses usuários são vistos como os responsáveis pelo estado e forma da língua. * * O FUNCIONALISMO: ANÁLISE DO CONTEXTO Vejamos os exemplos: (a) Você é bonita; (b) Bonita você é. Podemos usar os dois no mesmo contexto? Contexto 1. “Maria: Minha nossa! Não sei com qual roupa irei ao encontro de hoje com o João. Além disso, meu cabelo está horrível. Ana: Você é bonita. Não se preocupe! Você ficará bem com qualquer roupa.” Contexto 2. “Paula: Menina! Sua pele é ótima! Seu cabelo é incrível! Adorei o seu visual! Você é bonita! Ana: Que nada! Bonita é você.” * * O FUNCIONALISMO: ANÁLISE DO CONTEXTO Conclusão: o segundo enunciado só poderia ter sido produzido em um contexto de “réplica”. Por isso, segundo o Funcionalismo, não podemos ignorar o contexto, pois, no caso apresentado, a organização sintática do enunciado é motivada pelo contexto discursivo em que ela ocorre. Uma das diferenças do funcionalismo para as teorias que o antecederam é essa importância dada ao contexto de produção e à relação entre forma e função. * * O FUNCIONALISMO Gramática e discurso não são conceitos separados: a gramática molda o discurso e o discurso molda a gramática. Funcionalismo - a língua possui uma importância social (=discursiva). Língua: a) instrumento de interação social entre seres humanos; b) existe em virtude de seu uso para a interação entre seres humanos. A gramática funcional inclui na sua análise toda a situação comunicativa: o evento de fala, seus participantes e o contexto discursivo. * * O FUNCIONALISMO Usuários - criadores, transformadores das estruturas e responsáveis pelo estado e forma da língua Análise da estrutura gramatical dentro de toda situação comunicativa: a situação comunicativa explica ou mesmo determina a estrutura gramatical. Gramática - não é um organismo geneticamente determinado gerado apenas por fatores cognitivos inatos, mas sobretudo uma consequência da interação dos usuários em situação concreta de comunicação. * * O CONCEITO DE FUNÇÃO Função = valor de ‘papel’ ou ‘utilidade’ de um termo. A noção de ‘função’ não se refere aos papeis que desempenham as classes de palavras ou os sintagmas dentro da estrutura das unidades mas ao papel que a linguagem desempenha na vida dos indivíduos. Importância desse conceito de função. O funcionalismo leva em conta a capacidade que os indivíduos têm não apenas de codificar e decodificar expressões, mas também de usar e interpretar essas expressões de uma maneira interacionalmente satisfatória. * * A RELAÇÃO ENTRE FORMA E FUNÇÃO A gramática da língua é acessível às pressões de uso. Exemplos. ‘A gente’ passa de substantivo a pronome; ‘Você’ passa de pronome de tratamento a pronome pessoal; O uso de ‘você’ como sujeito indeterminado em manuais e receitas; as preposições durante (latim ‘durar’) e mediante (que serve de auxílio; como preposição significa por meio de); as conjunções consoante (do latim “que soa com”), conforme (significava ‘que tem a mesma forma’). * * A RELAÇÃO ENTRE FORMA E FUNÇÃO f) Elementos que refletem a emoção do falante: “puxa vida”, “poxa”, “pô”. g) Expressões como “Olha aí (aí)” e olha só (ossó) que podem funcionar como elementos de aviso ou chamamento. h) Verbos de percepção: ver, perceber (=saber): percebeu? Agora você vê ... Deixa ver ... * * O FUNCIONALISMO E AS METÁFORAS O pensamento inicialmente trabalha com conceitos adquiridos pelo contato com o mundo concreto: Interesse - propriedades cognitivas do usuário É a metáfora que permite que o homem compreenda o mundo das idéias em função do mundo concreto. Segundo Heine et alií (1991) o processo metafórico é unidirecional e se faz de acordo com a seguinte escala de abstração crescente: PESSOA > OBJETO > ATIVIDADE> ESPAÇO > TEMPO > QUALIDADE * * O FUNCIONALISMO E AS METÁFORAS PESSOA > OBJETO > ATIVIDADE> ESPAÇO > TEMPO > QUALIDADE ‘Atrás’ (noção espacial) > tempo (2 anos atrás) > atrasado (qualificação). ‘Pé’ (ser humano) > ‘pé da mesa’> ‘pés’ (medida). 'Braço' (parte do corpo) > ‘braços do sofá’ > ‘braço direito’ (qualificação). ‘Cabeça’ (parte do corpo) > ‘cabeça-d’água’ > ‘cabeça do grupo’ (qualificação). * * O FUNCIONALISMO E O PRINCÍPIO DA ICONICIDADE Gramática e discurso - gramática provém do discurso e ao mesmo tempo o molda; por outro lado, o discurso contribui para moldar a gramática. Discurso é o uso potencial da língua em situação de comunicação. Pressões de uso geram regularidades e irregularidades na língua. (áreas que estão em fluxo, o que faz com que surjam novas variações, decorrentes do aspecto criativo do discurso). A comunicação pressiona a língua em direção a uma maior regularidade e iconicidade. A competição dessas duas forças faz com que as gramáticas das línguas nunca sejam estáticas. * * O PRINCÍPIO DA ICONICIDADE Princípio que prevê motivação na relação entre forma e significado de modo que os humanos agem intencionalmente em termos linguísticos: existe uma relação não-arbitrária entre forma e função. Isso implica que na língua nada dá-se ao acaso. * * O PRINCÍPIO DA ICONICIDADE A arbitrariedade do signo linguístico conforme proposta por Saussure separa o significante do seu correlato mental (o significado). Para criar novos rótulos, o falante tende a utilizar material já existente na língua utilizando a motivação: a palavra assume uma forma específica, por um motivo determinado. Assim, tem-se, por exemplo, a: motivação semântica: pé da mesa; coração da cidade; motivação morfológica: apagador, leiteiro (processo de derivação); aguardente, pára-quedas ( composição); motivação fonética: cocorocó, tilintar. * * O PRINCÍPIO DA ICONICIDADE Nem sempre podemos precisar a intenção ou o propósito específico de cada ato verbal. Entretanto, nem tudo na língua é icônico. Exemplo. Entretanto significava "no interior de algum espaço físico ou de algum espaço de tempo". Entretanto hoje é uma conjunção de valor adversativo. * * SUBPRINCÍPIOS DA ICONICIDADE Subprincípio da quantidade. Quanto maior for a quantidade de informação, maior a quantidade de forma. Exemplo. Ele não era motorista dele não. Subprincípio da integração. O conteúdo que está mais próximo mentalmente coloca-se próximo sintaticamente. Usado para justificar problemas na concordância quando o sujeito está longe do verbo. Subprincípio da ordenação linear. Refere-se à ordenação dos elementos na sentença. Segundo esse princípio, a ordenação dos elementos na oração tende a espelhar a sequência temporal em que os eventos descritos ocorreram. Ex.: “Vim, vi, venci.” * * GRAMATICALIZAÇÃO Processo que envolve abstratização: o significado gramatical faz com o que o item lexical sofra um esvaziamento semântico. Exemplos. ‘as preposições durante (latim ‘durar’) e mediante (que serve de auxílio; as conjunções consoante (do latim “que soa com”), conforme (significava ‘que tem a mesma forma’); Verbo querer na construção quer ... quer: “Quer chova quer faça sol”; d) etc. * * GRAMATICALIZAÇÃO O deslizamento de sentido de ‘onde’ que passa da noção de espaço físico (b.1) para espaço de tempo (b.2) e para marcador discursivo (b.3) b.1. “No banheiro ... nós vamos encontrar ... uma prateleira ... onde fica ...” b.2. “ ... depois disso ... teve a noite onde foi escolhido o grupo de cinco pessoas ...” b.3. “ ... eu acho que as pessoas deveriam estar lutando ... por melhores condições de vida ... de melhor educação para seus filhos ... onde as pessoas poderiam viver num país bom ...” * * MARCADORES DISCURSIVOS São usados para reorganizar a linearidade das informações no nível do discurso, quando essa linearidade é momentaneamente perdida por diversos motivos como insegurança ou falhas de memória. Sua função no discurso se motiva na medida em que a natureza fluida da fala impede perfeita linearidade das informações e marca: hesitação e reformulação; mudança na direção comunicativa; cria reticências etc. * * MARCADORES DISCURSIVOS Vícios de linguagem para a Gramática Normativa. Enquanto o texto escrito é fruto de uma reflexão mais elaborada, a fala, que é por natureza improvisada, impõe maior dificuldade de manter a linearidade que se verifica na escrita. Exemplos. Sabe? Né? Entende?Aí etc. * * VAMOS PRATICAR? 1- Leia o texto abaixo. “Procura explicar as regularidades observadas no uso interativo da língua, analisando as condições discursivas em que se verifica esse uso.” (Cunha, 2009:174) O texto apresentado refere-se: à Sociolinguística. ao Gerativismo. ao Funcionalismo. ao Estruturalismo. à Gramática Normativa * * 2. Os funcionalistas concebem a linguagem como uma capacidade inata. um fato mental. um instrumento de interação. uma instituição social. um ato individual. * * 3. Sobre o funcionalismo, é incorreto afirmar que essa corrente linguística: entende a língua como instrumento de interação social entre seres humanos. considera que a capacidade linguística do falante compreende não apenas a habilidade de usar expressões linguísticas mas também a habilidade de usar essas expressões apropriadamente. concebe a linguagem como um fenômeno mental. preocupa-se com o contexto. afirma que a principal função de uma língua natural é estabelecer a comunicação entre seus usuários. * * 4- Segundo o Funcionalismo, os elementos “né?", “sabe?”, “entende?”, em contexto de fala espontânea, marcam hesitação ou pausa para que o informante possa reorganizar seu discurso. indicam que o informante está muito seguro acerca do que vai falar. são “vícios de linguagem” que mostram a pobreza no uso da língua. fazem parte da fala de crianças e adolescentes apenas. representam a pouca criatividade do informante sobre o assunto. * * 5- Segundo o princípio de iconicidade, há uma correlação natural e motivada entre forma e função. Isso significa dizer que há uma correlação natural entre o código linguístico (expressão) e seu significado (conteúdo). o desempenho linguístico e a competência. a língua e a fala. a linguagem verbal e a linguagem não-verbal. o paradigma e o sintagma. Abraços e felicidades! *
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