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A PARTICIPAÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO NAS 
QUESTÕES AMBIENTAIS 
Adriana Moutinho de Amorim1 
Fernando Ferreira Carneiro2 
 
CONSIDERAÇÕES SOBRE A PREOCUPAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE 
 No Brasil, a insatisfação em relação à postura descuidada e destrutiva do 
ambiente natural, é registrada a partir de pouco mais de um século de sua ocupação 
pelos portugueses. Frei Vicente Salvador, em 1627, condenava os colonizadores que 
“usavam a terra não como colonizadores, mas como usufrutuários, só para a 
desfrutarem e as deixarem destruídas” (PÁDUA, 2000, p.29). 
 Os impactos decorrentes da destruição indiscriminada dos recursos naturais 
foram previstos por José Bonifácio, em 1823 (apud PÁDUA, 2000, p.27), em 
Representação à Assembléia Legislativa do Império do Brasil sobre a Escravatura, ao 
redigir: 
a Natureza fez tudo ao nosso favor, nós, porém, pouco ou nada temos feito a 
favor da Natureza. [...] nossas preciosas matas vão desaparecendo, vítimas do 
fogo e do machado destruidor da ignorância e do egoísmo. Nossos montes e 
encostas vão-se escalvando diariamente, e, com o andar do tempo faltarão as 
chuvas fecundantes que favoreçam a vegetação e alimentam nossas fontes e 
rios, sem o que o nosso belo Brasil, em menos de dois séculos ficará reduzido 
aos páramos e desertos da Líbia. Virá então este dia (dia terrível e fatal), em 
que a ultrajada natureza se ache vingada de tantos erros e crimes cometidos. 
 Os padrões de produção e consumo atuais têm marco na Revolução Industrial. 
Neste cenário, a expansão da capacidade produtiva, o uso crescente dos recursos 
naturais, a criação de materiais sintéticos e o uso de novos materiais acabaram por 
gerar quantidades crescentes de resíduos industriais. Estes fatos, aliados à mudança 
 
1 Médica Veterinária, Mestre em Medicina Veterinária Preventiva pela UFRRJ. Divisão de Vigilância da Saúde, 
Prefeitura Municipal de Rio das Ostras – RJ. Avenida Guanabara, s/nº - Extensão do Bosque CEP 28890-000 
Telefone (22) 2764-6295 ramal 30 - adrianamoutinho@pmro.rj.gov.br . 
 
2 Biólogo, Doutorando em Ciência Animal (Epidemiologia), Consultor da área de Vigilância Ambiental em Saúde/ 
Secretaria de Vigilância em Saúde/ Ministério da Saúde - fernando.carneiro@funasa.gov.br . 
 
 
das relações de trabalho, culminaram na crise atual traduzida hoje na globalização da 
economia, na exclusão social crescente, na diferenciação dos países em ricos e pobres 
e na consolidação dos problemas ambientais locais e globais (MIRANDA, 2000). 
As questões relativas ao acúmulo de capital frente à necessidade de 
preservação dos recursos naturais passaram a ser alvo de intensas discussões, até 
mesmo como garantia de continuidade do desenvolvimento econômico, dando 
surgimento ao conceito de desenvolvimento sustentável. 
Este conceito é relativamente recente e foi proposto em relatório, intitulado 
Nosso Futuro Comum, da Comissão Bruntland da Organização das Nações Unidas–
ONU, em 1987. “O desenvolvimento sustentável tem sido definido como uma forma de 
desenvolvimento econômico que atenda às necessidades do presente sem 
comprometer a capacidade das futuras gerações em atenderem suas necessidades” 
(FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2002, p.37). 
Compromissos internacionais, assumidos em eventos como a Conferência das 
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92, Rio de Janeiro, 
1992), evidenciam que a conservação e proteção da saúde e do ambiente são o centro 
da preocupação do modelo de desenvolvimento a ser impulsionado pelos países 
(ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2000, p.14). 
O desafio da sustentabilidade ultrapassa a variável ecológica. Para atingi-lo será 
necessário que seja considerada nas mais diversas áreas como da educação, das 
ciências, da tecnologia, da política e da legislativa. 
 
INTERFACE SAÚDE-AMBIENTE 
 A Organização Mundial de Saúde define saúde como um estado completo de 
bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença. Nesta 
perspectiva, passam a ser considerados os vários fatores que afetam e, muitas vezes, 
determinam o estado de saúde individual ou coletivo. Entre esses determinantes 
identificam-se as condições de vida e de trabalho, e, dentre elas, as condições 
ambientais em que se encontram ou são submetidos os seres humanos 
(ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2003). 
 O processo de desenvolvimento social e econômico tem repercussões nas 
relações que ocorrem nos ecossistemas impactando, conseqüentemente, a saúde dos 
seres humanos. No Brasil, a urbanização acelerada associada à forte concentração de 
renda está relacionada com o crescimento das áreas de pobreza. Projetos de 
desenvolvimento não-sustentável, a ampliação do desmatamento — principalmente na 
Amazônia e no cerrado — além da qualidade da água para o consumo e o saneamento 
precário são fatores que estão associados ao aumento de doenças infecto-contagiosas 
como a malária e a diarréia, entre outras. Por sua vez, a contaminação ambiental por 
poluentes químicos e físicos, é um emergente fator na geração de agravos à saúde 
(FRANCO NETTO; CARNEIRO, 2002). 
Historicamente construído, o quadro de saúde atual está composto por três 
cenários principais, todos eles condicionados de maneira maior ou menor por 
condições sócio-ambientais. O primeiro deles revela, predominantemente, doenças 
cardiovasculares e neoplásicas (respectivamente primeira e terceira causas de óbito), 
cuja tendência crescente nos últimos dez anos acompanha o envelhecimento da 
população. Esta situação se torna possível na medida em que estas expressões 
mórbidas são consideradas como efeito de condições genéticas, de vida e trabalho 
vivenciadas por estas populações, principalmente aquelas expostas a determinados 
poluentes químicos. O segundo cenário é conformado pelas Doenças Infecto-
parasitárias, nitidamente determinadas também pelas condições sócio-ambientais. As 
chamadas causas externas compõem o terceiro cenário que englobam os acidentes e 
violências. Ambos constituem-se como acontecimentos sócio-ambientais produtores de 
traumas, lesões e doenças (SANTOS; CÂMARA, 2002). 
Entendida a co-responsabilidade do setor saúde com o meio ambiente para a 
promoção da saúde humana, é criada, na estrutura do Ministério da Saúde, a Área de 
Vigilância Ambiental em Saúde – VAS (FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, 2004). 
Franco Netto e Carneiro (2003, p. 31) elucidam que “o campo de atuação da Vigilância 
Ambiental em Saúde (VAS) está representado na interface entre saúde e ambiente, o 
chamado campo da saúde ambiental” (Figura 1). 
Por definição, a vigilância ambiental em saúde se configura como um conjunto 
de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de qualquer mudança 
nos fatores determinantes e condicionantes do ambiente que interferem na 
saúde humana, com a finalidade de identificar as medidas de prevenção e 
controle dos fatores de riscos e das doenças ou outros agravos à saúde, 
relacionados ao ambiente e às atividades produtivas (FUNDAÇÃO NACIONAL 
DE SAÚDE, 2002, p.71). 
Figura 1. Esquema de representação do campo de atuação da vigilância 
ambiental em saúde, proposto pela Organização Mundial de Saúde 3 
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Relações entre meio ambiente, saúde e desenvolvimento 
Desenvolvimento 
Meio ambiente
Saúde
Saúde Ambiental
Fonte: OMS, 2001
 
 
O conceito de vigilância ambiental em saúde ainda é um processo em 
construção. A área ainda é nova se compararmos com o campo de ação das 
demais vigilâncias [...]. Entretanto, este novo campo que começa a se 
desenvolver dentro do próprio setor saúde, vem consolidar um olhar sócio-
ecológico e sistêmico sobre o processo saúde-doença. No contexto das 
vigilâncias, a Vigilância Ambiental em Saúde é talvez a que mais se aproxime da 
Vigilância em Saúde em razão da complexidade dos sistemas em que atua 
(processos sócio-ambientais, produtivos; bio-sócio-culturais; econômicose 
ecológico-políticos) (FRANCO NETTO; CARNEIRO, 2003, p 48). 
O Sistema Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde - SINVAS - tem então 
definidas as suas atribuições nas três esferas de governo (BRASIL, 2001) e é 
estruturado considerando as ações de vigilância e controle dos fatores de riscos 
Biológicos (Vetores, hospedeiros e reservatórios e animais peçonhentos) e não 
biológicos (água para o consumo humano, solos contaminados, ar, substâncias 
químicas, desastres, acidentes com produtos perigosos, fatores físicos e ambiente de 
trabalho). Este processo ainda encontra-se em fase de implantação nos três níveis de 
gestão do Sistema Único de Saúde (federal, estadual e municipal). 
 
 
 
3 Apresentação de Carlos Corvalan (OMS, Genebra) no I Encontro de Gestores de Saúde 
Ambiental das Américas, OPAS, Brasília, 2001. 
A atuação da VAS em todos os níveis de governo requer articulação constante 
com os diferentes atores institucionais públicos, privados e com a comunidade, 
para que as ações integradas sejam implementadas de forma eficiente, a fim de 
assegurar que os setores assumam suas responsabilidades de atuar sobre os 
problemas de saúde” (FRANCO NETTO; CARNEIRO, 2003, p. 31). 
Tendo como princípio indispensável a participação popular, a Organização Pan-
Americana de Saúde - OPAS tem proposto algumas estratégias em que se reúnam os 
diversos segmentos sociais em torno da construção de compromissos que 
transpassem as questões econômicas, sociais, de saúde, de meio ambiente e tantas 
outras, em busca do estabelecimento de políticas alicerçadas em uma visão global e 
dinâmica da realidade de cada comunidade. Neste sentido identificam-se as estratégias 
Atenção Primária Ambiental e Municípios e Comunidades Saudáveis. 
A primeira refere-se a “uma proposta de associação organizada e voluntária de 
cidadãos, baseada na prática de ajuda mútua e relações solidárias” em relação à 
proteção, conservação e recuperação do ambiente e da saúde (ORGANIZAÇÃO 
PANAMERICANA DE SAÚDE, 2000). A segunda proposta é direcionada aos prefeitos 
municipais e outras autoridades locais como sugestão de estratégia para a melhoria 
das condições sociais e de vida. No entendimento da Organização Panamericana de 
Saúde (2003): 
Um município de torna saudável quando estabelece um compromisso formal 
para implementar um plano de ação para o desenvolvimento sustentável, 
melhoria das condições sociais a longo prazo com meta de garantir a saúde e a 
qualidade de vida para todos que vivem em um ambiente particular . 
 
O MÉDICO VETERINÁRIO NO CONTEXTO DO MEIO AMBIENTE 
A competência do exercício profissional do Médico Veterinário é definida pela Lei 
nº 5517/1968, nos seus artigos 5º e 6º (BRASIL,1968). 
No seu amplo leque de competências pode-se destacar como atividades 
diretamente relacionadas ao meio ambiente o estudo e aplicação de medidas de saúde 
pública no tocante as zoonoses; a inspeção e fiscalização do ponto de vista sanitário e 
higiênico das tecnologias industriais e dos comércios de alimentos de origem animal; a 
defesa da fauna, em especial, no controle da exploração das espécies animais 
silvestres, bem como dos seus subprodutos. Pode-se destacar também a importância 
 
 
das suas atividades relacionadas à prática da clínica, da assistência técnica e sanitária 
dos animais; do planejamento e execução da defesa sanitária animal, da educação 
rural relativa à pecuária; da pesquisa relativa à produção animal e das indústrias 
derivadas, da zoologia, da biologia geral, da zootecnia e da bromatologia animal. 
Embora a simples observação das competências definidas para o Médico 
Veterinário remetam facilmente para a importância deste profissional no contexto da 
preservação do meio ambiente e da sustentabilidade para a sobrevivência humana, 
faz-se necessário discutir a importância do desempenho profissional voltado para estes 
fins. 
Para o exercício da medicina veterinária, deve-se estar atento às questões 
ambientais. Questões como erosão, a desertificação, a salinização, a contaminação 
dos recursos hídricos, a destruição da flora e da fauna, a extinção das espécies, os 
agrotóxicos, os dejetos orgânicos, os inseticidas utilizados nos controles de vetores, os 
medicamentos, promotores de crescimento e hormônios utilizados na alimentação 
animal e os modelos de produção agropecuária, não podem estar à margem da 
reflexão da atuação profissional. 
As ações em saúde e ambiente do médico veterinário também devem estar 
articuladas com os movimentos sociais, organizações comunitárias e o restante da 
sociedade civil organizada para “realizar a mobilização social necessária ao 
enfrentamento dos problemas e oferecer as ferramentas para que a população possa 
exercer sua cidadania. Construir junto com os atores sociais um processo coletivo 
capaz de transformar as situações nocivas à saúde”. Isto abre possibilidades infinitas 
de estratégias de intervenção ao se questionar o que o ser humano está fazendo com o 
meio ambiente e consigo próprio. “Como fazer a ação mobilizadora e transformadora 
da nocividade para a saúde?” (FRANCO NETTO; CARNEIRO, 2003, p. 58). 
Pinheiro (1997) questiona ainda: 
Qual o impacto e a influência que os médicos veterinários[...] têm produzido no 
ambiente de suas áreas de atuação? [...] Que nível de mudanças se tem 
verificado na qualidade de vida dos que mourejam na agropecuária? [...] Qual 
tem sido a contribuição da medicina veterinária [...] para modificar a perversa e 
iníqüa estrutura agrária brasileira, expropriadora da pequena produção e do 
trabalhador rural? Que papel a universidade tem exercido na solução dos 
problemas básicos de sua região? Que perfil deve ter o médico veterinário [...] 
necessário ao desenvolvimento nacional? [...] Que motivações, compromissos e 
atitudes eles devem internalizar? 
Estas são questões que impulsionam a consciência coletiva e que devem estar 
voltadas para o processo de formação, para os currículos e para as demais 
possibilidades pedagógicas, com o objetivo de instrumentalizar, o estudante, no 
processo de busca de transformação da realidade para a construção de ambientes 
mais saudáveis. 
O ambiente deve ser levado em conta no mais tradicional exercício da medicina 
veterinária – a clínica. Não considerar na anamnese as questões referentes ao 
ambiente em que os animais vivem pode comprometer o acerto diagnóstico e o 
sucesso de qualquer medida preventiva ou curativa. Deve-se ter em mente a 
importância da atuação profissional voltada para a promoção de ambientes saudáveis 
como forma de promoção da saúde dos animais e também do homem. 
A presença do médico veterinário na área da saúde no Brasil é antiga, embora o 
seu reconhecimento como profissional de saúde tenha se dado recentemente através 
da Resolução CNS nº 38/92 (SOUZA, 2002). Sua atuação inicialmente se concentrou 
na área de vigilância sanitária devido aos seus conhecimentos sobre zoonoses e 
tecnologia de produção e inspeção de alimentos de origem animal. Pode-se dizer que 
este profissional já era responsável por uma boa parte das ações hoje definidas na 
área de vigilância ambiental em saúde, em especial das referentes aos riscos 
biológicos. Hoje dentro da estrutura profissional multidisciplinar da vigilância da saúde 
não há dúvidas da importante contribuição deste profissional, que vem se refletindo 
pelo aumento da oferta de vagas, em especial dentro da esfera municipal. 
Ainda no âmbito público municipal a participação do médico veterinário vem 
crescendo na área de desenvolvimento pecuário e da sanidade animal, assim como na 
de meio ambiente. 
Na agropecuária, pode-se exemplificar a importância do médico veterinário no 
desenvolvimento de uma exploração pecuáriasustentável, baseada no manejo racional 
dos recursos naturais, no uso responsável dos parasiticidas, antibióticos, probióticos e 
hormônios, na destinação dos dejetos e resíduos, entre outras considerações. A 
participação deste profissional em experiência neste sentido pode ser exemplificada 
pelo Projeto Caatinga. Desenvolvido por pesquisadores da Embrapa Semi-árido, 
objetiva a fixação do homem no campo através da criação de empregos e geração de 
renda no campo, garantindo o manejo da caatinga em bases sustentáveis e revertendo 
o seu processo de degradação (GUIMARÃES FILHO, 2000). Outra iniciativa de 
destaque, em que participam médicos veterinários, é o Projeto Manuelzão, 
desenvolvido na bacia do Rio das Velhas - MG, que surgiu com o objetivo de melhorar 
essa convivência do homem com o meio ambiente que o cerca e, com a colaboração 
das comunidades locais, melhorar a qualidade das águas da Bacia e trazer o peixe de 
volta para os rios (MANUELZÃO, 2004). 
A participação do médico veterinário na área de meio ambiente é marcada, em 
especial, pela sua atuação como perito criminal federal. Sua contribuição nesta área se 
dá em parceria com o biólogo na identificação taxonômica de espécies. É reservada ao 
médico veterinário a competência exclusiva na determinação da causa mortis dos 
animais, com intuito de identificar atos criminosos (OLIVEIRA, 2003). Com objetivo de 
preservação ambiental destaca-se, também, a importância da participação deste 
profissional em projetos de preservação da fauna como o Projeto TAMAR, estabelecido 
em toda a costa brasileira e o Projeto de preservação do Mico-Leão-Dourado, em Silva 
Jardim - RJ. 
Na macro-região ambiental 5 – RJ, destaca-se a participação de médicos 
veterinários, entre diversos atores sociais, na identificação de riscos ambientais e à 
saúde, no desenvolvimento de Projeto executado no espaço do Consórcio 
Intermunicipal da Macro-região Ambiental - MRA-5 (AMORIM et al, 2003). 
Diante de todas estas possibilidades de atuação social torna-se evidente a 
extensa contribuição deste profissional na ciência, estando, atualmente em evidência, a 
sua participação na pesquisa genética, desenvolvimento de vacinas, kits diagnósticos, 
nutrição, reprodução, medicamentos, parasiticidas e técnicas de produção animal. 
Os exemplos da participação do médico veterinário na área ambiental não se 
extinguem aqui. Seria de grande pretensão enumerar todas as possibilidades de 
participação deste profissional nesta área que, cada vez mais, requer a atenção de 
novos profissionais e intervenções multidisciplinares, para a sua conservação, 
promoção, recuperação e uso racional. Vale reafirmar que tão importante quanto à 
participação do veterinário na área ambiental é o exercício da medicina veterinária em 
todas as suas áreas de atuação contextualizado com o meio ambiente natural e social. 
 
 
REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL 
Reis e Queiroz (2002, p.1), ao discutirem acerca da gestão ambiental em 
empresas, referem-se ao arraigamento aos “velhos hábitos” associados, ou não, a uma 
formação educacional não voltada para a necessidade de preservar o meio ambiente, 
como responsáveis pela grande maioria das pessoas não estar disposta a se inserir 
numa sociedade onde o desenvolvimento sustentado e a preservação ambiental sejam 
prioridade. 
Formar profissionais, aptos às demandas sociais, ambientais e do mercado atual 
e futuro, é um desafio que deve ultrapassar os limites dos conteúdos teóricos. A ética 
profissional e as ciências sociais devem subsidiar as reflexões acadêmicas para que 
sejam formados cidadãos comprometidos com essas demandas. 
Rediscutir a função da pesquisa e da extensão na formação profissional torna-se 
indispensável para serem estimuladas as capacidades crítica e criativa necessárias, 
para que possam se adaptar, com competência e habilidade, às demandas sociais 
emergentes em um mundo em constante transformação. 
Neste contexto, surge a necessidade da reflexão sobre o papel do professor, 
que tem assumido exclusivamente a função do ensino dissociado da prática da 
pesquisa e da extensão. Pesquisar significa superar a condição de reprodução do 
discípulo e se tornar professor, personalidade esta que, “tendo conquistado espaço 
acadêmico próprio através da produção, tem condições e bagagem para transmitir via 
ensino” (DEMO, 2003). Além do mais, a pesquisa enquanto método de ensino é capaz 
de estimular a atitude investigativa, inquiridora, divergente e o espírito crítico do 
estudante, prevenindo a “terrível doença que é a robotização do recurso humano em 
formação” (PINHEIRO,1997). 
Para Demo (2003), a pesquisa além de significar condição de domínio da 
realidade, pode reintroduzir a adequação entre teoria e prática, dispensando o conceito 
extrínseco de extensão. Conceito este necessário quando a prática se reduz a 
“estágio”. Discutir a prática enquanto parte do currículo, seria tornar a extensão 
intrínseca à prática do ensino e da pesquisa. 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
AMORIM, Adriana Moutinho de; RUDNCKI,Beatriz, SAID, Dayse Barros Pigozzo; 
MARINHO, Paulo Roberto Goulart. Projeto executivo: Mapeamento de riscos 
ambientais e à saúde da Macro Região Ambiental 5. Rio das Ostras: Consórcio 
Intermunicipal MRA-5, fev. 2003. 
BRASIL. Lei nº 5517 de 23 de outubro de 1968. Dispõe sobre o exercício da 
profissão de Médico-Veterinário e cria os Conselhos Federal e Regionais de 
Medicina Veterinária. Disponível em: 
http://www.crmvrj.com.br/new/ilegislacao/texto/lei5517.htm. Acesso em: 24 jan 2004. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Instrução Normativa nº 1 
de 25 de setembro de 2001. Regulamenta a Portaria nº 1399 de 15 de dezembro de 
1999, no que se refere às competências da União, estados, municípios e Distrito 
Federal, na área de vigilância ambiental em saúde. Disponível em: 
http://www.saúde.ms.gov.br/Saude/SES/InstrucaoNormativa25092001.htm. Acesso em: 
24 jan 2004. 
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 10. ed. São Paulo: Cortez, 
2003. 
FRANCO NETTO, Guilherme; CARNEIRO, Fernando Ferreira. Vigilância Ambiental em 
Saúde no Brasil. Ciência & Ambiente. n.25, p.47-58, jul-dez, 2002. 
FRANCO NETTO, Guilherme; CARNEIRO, Fernando Ferreira. A Vigilância Ambiental 
em Saúde e a promoção de ambientes saudáveis. Revista da Saúde: o Brasil falando 
como quer ser tratado. Ano 4, n.4, p.31-32, abr, 2003. 
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