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CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista A v. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 AULA 16 JORNALISMO BRASILEIRO: ORIGEM E EVOLUÇÃO CONVERGÊNCIAS DIGITAIS E O AUDIOVISUAL IMAGEM E ESTÉTICA AUDIOVISUAL EDIÇÃO DE IMAGENS: COMO TUDO COMEÇOU EDIÇÃO E MONTAGEM EDIÇÃO DE IMAGENS E A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS A IMPORTÂNCIA DA TEORIA CINEMATOGRÁFICA E SUAS TÉCNICAS EM QUALQUER OBRA AUDIOVISUAL EDIÇÃO: PRODUÇÃO OU PÓS-PRODUÇÃO? EDIÇÃO, NARRATIVAS E STORYTELLING REPORTAGEM ESPECIAL X DOCUMENTÁRIO O EDITOR E A ÉTICA PROFISSIONAL CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE, ÉTICA E LIBERDADE DE IMPRENSA EDIÇÃO LINEAR E NÃO LINEAR FUNDAMENTOS DE VÍDEO TÉCNICAS DE EDIÇÃO SOFTWARES, REQUISITOS E TIPOS DE VÍDEOS 05 09 15 20 26 32 37 44 49 54 59 63 69 73 77 82 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES INTRODUÇÃO Prezado(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a)! A partir deste momento você começará a sua jornada pela história da edição de imagens no mundo. Neste volume, você compreenderá de que forma a possibilidade de se “cortar” imagens e “costurá-las” em seguida, mudou a história do cinema e de todo o complexo de audiovisual que conhecemos hoje. Mas o que diferencia um bom jornalista de um leigo, ou daqueles que “acham” que sabem, é justamente o seu domínio das ferramentas, técnicas e conceitos. A ética dentro da profissão é uma das principais características que qualquer jornalista precisa ter e abordaremos com mais detalhes a importância dela no desenvolvimento do conteúdo. O mundo evoluiu e com essa evolução, as técnicas de edição se aprimoraram, a televisão passou por uma mudança radical e por meio das convergências digitais, vivemos hoje uma fusão de comunicação no mundo. Vivemos a era da comunicação efêmera e instantânea; a era da comunicação participativa, todo mundo quer ser comunicador e fazer seu ponto de vista ser visto. Em tempos assim, o conhecimento se torna o diferencial para se destacar no meio da comunicação. E é sobre isso que trabalharemos ao decorrer de cada capítulo. Nossa intenção é que ao final deste livro, você saiba mais sobre a profissão de editor de imagens e de que forma ela se traduz dentro da comunicação audiovisual. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 1 JORNALISMO BRASILEIRO: ORIGEM E EVOLUÇÃO No ano de 1950 chega ao Brasil uma das maiores revoluções tecnológicas da época: a televisão. Em uma sociedade que até então estava plenamente e somente acostumada com o rádio, a TV chega com grandes ameaças. Não foram poucas as pessoas que falaram que isso representava o final do rádio. Que em breve não existiriam mais programas de entretenimento no rádio e que o radiojornalismo estava caminhando para a sua extinção. No entanto, o advento da TV foi apenas o início do que seria a partir dos anos 2000 a convergência – que acabou se tornando digital. Até a década de 50, o jornalismo, ou a fonte de informações básica e confiável da população, era advinda dos jornais impressos e dos programas de rádio, contudo, em janeiro de 1950, a TV Tupi tem a sua sede inaugurada no Rio de Janeiro. Em setembro do mesmo ano, acontece a inauguração da TV Tupi Difusora de São Paulo, e em 19 de setembro, um dia depois da inauguração, o jornalismo “sofre” uma grande evolução: acontece a transmissão do primeiro telejornal brasileiro: Imagens do Dia. Figura 1: Vinheta de abertura Jornal Imagens do Dia Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=i2v-AskfJgY Figura 02: Bastidores da TV Tupi - 1950 Fonte: http://www.rankbrasil.com.br/Recordes/Materias/0Ic-/Primeiro_ Telejornal_Do_Brasil FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Transmitido ao vivo, o primeiro telejornal brasileiro ia ao ar à noite e variava de acordo com o restante da programação do dia, pois como os programas eram ao vivo, dependia do horário que esses terminavam para então começar. No entanto, nada era fácil nesse começo. As dificuldades técnicas eram muitas e havia pouca gente capacitada para trabalhar com o setor, conforme afirma Rezende: As falhas se originavam tanto das grandes deficiências técnicas quanto da inexperiência dos primeiros profissionais, a maioria procedente das emissoras de rádio. A repercussão dessas falhas na comunidade, no entanto, era muito pequena, pelo limitadíssimo número de pessoas que tinha acesso às imagens de TV. Possuir um televisor, naqueles tempos, simbolizava “regalia” e status, medido pelo número de televizinhos, cada vez mais crescente à medida que o hábito de ver televisão se espalhava (REZENDE, 2000, p. 106). Então, mais do que aprender a fazer programas, a apresentar programas e a se comunicar com o público, o verdadeiro desafio foi como fazer TV. Transmissão, edição – que nem havia na época, porque não havia o videoteipe, então era tudo ao vivo mesmo, ou quando gravado, sem cortes. Como aprender algo que nunca se fez antes? Imagine que na época não havia handcams, filmadoras digitais ou celulares. As imagens eram feitas com câmeras de cinema, utilizando-se película para a captura das imagens. Dessa forma, não era tão fácil noticiar um furo jornalístico com precisão de tempo, pois dependendo do estado onde a notícia era filmada, havia a necessidade de revelar o filme. Mas os equipamentos para fazer a revelação estavam concentrados em São Paulo e Rio de Janeiro, então imagine o tempo de deslocamento do estado até esses locais – que deveria ser feito de avião para ser mais rápido – o tempo de revelação, a edição e então a exibição. Consegue imaginar? Anote isso O jornalismo brasileiro sofreu grande influência do cinejornalismo e do rádio em sua fase inicial. O cinejornal consistia em pequenos vídeos com notícias e informação veiculados no cinema antes da exibição do filme. Notícias sobre Figura 03: Grade de programação diária TV Tupi - 1950 Fonte: UFRGS FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES esporte, entretenimento, política e acontecimentos da semana resumiam os temas. Silva (2011) cita que o formato do cinejornal consistia na exibição de imagens em plano aberto, com poucos cortes, acompanhadas pela narração de um locutor. É o que hoje conhecemos como notas ao vivo. Apesar de todas as dificuldades, o processo evoluiu e chegou ao que temos hoje. Produção, pauta, edição, linguagem e transmissão. Tudo mudou e para melhor. E não foi só o jornal que mudou. A comunicação audiovisual sofreu uma enorme transformação. A TV evoluiu, novos gêneros e formatos surgiram, bem como novos canais de comunicação. A internet trouxe para o mundo a agilidade, o instantâneo, o 3 em 1. Você tem em um lugar só: texto, vídeo e áudio. E aí? Comose adequar a essa novidade? Da mesma forma que quando a TV surgiu no país, muitos apontaram a derrocada do rádio, com o advento da internet não foi diferente. Não foram poucos a afirmar que a TV seria extinta, pois tudo está mais fácil, mais rápido e pronto com os novos canais de comunicação. No entanto, é preciso compreender que existe público para todos os gêneros e formatos e dessa forma, existe público para todos os meios também. Contudo, há uma necessidade de diferenciar a forma de entregar o produto, mesmo que seja exatamente o mesmo conteúdo. 1.1 A influência da globalização na evolução do audiovisual Apesar de ter sido o cinema o precursor do audiovisual na sociedade e no mundo, a televisão foi a responsável por levar o audiovisual para dentro das casas. Notícia, entretenimento, publicidade e a possibilidade de interação ao vivo, só foi possível graças a TV. Brasil (2012) menciona que a palavra televisão é resultado da junção do prefixo grego que significa distante e a forma do verbo latino ver. Dessa forma, podemos compreender então, que o seu significado seria algo como “ver distante”, fazendo relação com o fato de que por meio da TV é possível ter acesso a informações de outros lugares, de longe, a informação não está mais restrita ao meu bairro, a minha cidade. Eu posso ir mais longe com a TV. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES No entanto, com a globalização e o fácil acesso a equipamentos para produção de vídeo, gravação e divulgação, a televisão deixa de ser o ponto de referência de informação, precisando concorrer com as plataformas online. É só você pensar que hoje, muitas pessoas não possuem uma TV em casa, no entanto, optam por ter um aparelho eletrônico (celular, tablete, computador) de qualidade, onde possam assistir seus programas com tranquilidade. As pessoas hoje preferem escolher o que assistir, no horário em que querem ver. Então, dessa forma, a exigência por um material audiovisual de qualidade aumenta a cada dia mais, principalmente se consideramos como o número de pessoas produzindo conteúdo nas plataformas online tem aumentado nos últimos anos. Só para entendermos essa evolução, pense nos jogos da copa do mundo. A primeira transmissão direta dos jogos para o Brasil aconteceu no ano de 1970, no entanto, os jogos já eram transmitidos desde 1954 para outros países de forma crescente a cada ano. Além do rádio, essa era a única forma de se ter acesso a esse conteúdo, mas como ainda era um recurso caro, ao qual nem todos tinham acesso, a maior parte da população ainda acompanhou o evento pelo rádio. Agora façamos uma comparação com a copa de 2018. De acordo com dados da FIFA1, a audiência dessa transmissão foi a maior em todos os anos de Copa. Mais de 3,5 bilhões2 de pessoas assistiram aos jogos transmitidos naquele ano, sendo que aproximadamente 309 milhões o fizeram por meio de plataformas digitais. 1 A sigla FIFA significa Federação Internacional de Futebol, original do francês: Fédération Internationale de Football Association. Entidade que supervisiona federações, confederações e associações relacionadas com o futebol ao redor do mundo. 2 De acordo a FIFA, 3,572 bilhões de espectadores assistiram aos jogos transmitidos em 2018. Disponível em: https://daqui.opopular.com.br/editorias/esporte/copa-do-mundo-de-2018-foi-assistida-por-mais-da-metade- da-popula%C3%A7%C3%A3o-mundial-1.1689861 https://daqui.opopular.com.br/editorias/esporte/copa-do-mundo-de-2018-foi-assistida-por-mais-da-metade-da-popula%C3%A7%C3%A3o-mundial-1.1689861 https://daqui.opopular.com.br/editorias/esporte/copa-do-mundo-de-2018-foi-assistida-por-mais-da-metade-da-popula%C3%A7%C3%A3o-mundial-1.1689861 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 2 CONVERGÊNCIAS DIGITAIS E O AUDIOVISUAL Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/aparelho-celular-close-codificado-278430/ A internet mudou a forma como as pessoas se comunicam. Em termos de informação, existe uma corrida contra o tempo, onde quem publica antes, ganha mais “likes”, consegue um número maior de seguidores. Hoje, as pessoas não precisam mais aguardar por dias até receber uma informação pelo correio, ou até mesmo aguardar uma ligação telefônica internacional para obter determinada informação. O mundo é instantâneo. O que acontece do outro lado do globo é compartilhado com o restante em questão de segundos. E isso impacta diretamente as empresas jornalísticas. A concorrência é imediata. As pessoas buscam comparações simultâneas de informações, a fim de gerar conexões e tirar sua própria conclusão acerca dos assuntos abordados. O consumidor deixa de ser passivo – como acontece na TV, e se torna parte integrante da notícia. O consumidor ajuda a construir a notícia. Ele é fonte e distribuidor do conteúdo. Tudo isso graças à convergência digital que transformou o mundo em uma grande rede online de conexões. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Henry Jenkins (2009, p. 150) se refere à convergência como “o fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação...”, o autor por meio dessa análise, afirma que a convergência digital é o lugar onde mídias velhas e mídias novas se encontram, colidem, onde quem cria interage com quem consome, e essa interação pode acontecer na maioria das vezes, de formas imprevisíveis. O consumidor, o público, faz o que precisar fazer para alcançar a experiência, a informação, o conteúdo desejado. Nesse processo de convergência, os assuntos se cruzam, as áreas se penetram e mudanças acontecem: culturais, mercadológicas, tecnológicas e sociais. Fidler (1997) chama essa transformação midiática, ou evolução, de midiamorfose. São transformações que ocorrem por necessidades, muitas vezes, políticas, resultando de inovações tecnológicas e sociais. Tárcia (2007, p. 5) completa que “a midiamorfose acontece em grande parte, pela convergência das mídias, um fenômeno amplo e multifacetado, cuja definição, ainda inconsistente, precisa ser esclarecida e entendida”. Mas independente desse processo de entendimento, o nosso país e o mundo vive um processo de convergência, um país onde há informação e o conteúdo estão disponíveis para todos em qualquer lugar. Até mesmo no relógio que não serve mais apenas para ver as horas. Mas diferente do que muita gente pensa ou fala, o fato de estar acontecendo essa evolução tecnológica digital, não significa que os outros meios terão seu fim. Falaram isso acerca do rádio, da TV e do cinema, e ao invés de serem extintos, o que aconteceu? Eles se reinventaram. Como afirma Jenkins: O conteúdo de um meio pode mudar [...], seu público pode mudar [...] e seu status social pode subir ou cair [...], mas uma vez que um meio se estabelece, ao satisfazer alguma demanda humana essencial, ele continua a funcionar dentro de um sistema maior de opções de comunicação. [...] O cinema não eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes (JENKINS, 20009, p. 41). O autor também defende que os velhos meios de comunicação não estão sendo substituídos, antes, estão passando por transformações por meio da introdução das novas tecnologias. “A convergência das mídias é mais do que apenas uma mudança tecnológica”, afirma Jenkins (2009, p. 43), e é ideal que se pense nela como um FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES processo e não um ponto final, e como um processo é necessário entender que já está acontecendo. Já estamos vivendo nesse período. É só pensar que hojenão é mais necessário ter uma TV em casa para assistir ao seu filme favorito. Podemos baixá-lo da internet utilizando o celular ou o computador. É possível assistir ao conteúdo que se quiser no celular, tablets, notebooks, sem mesmo ter que baixar. Assim como é possível acompanhar as notícias do que acontece no mundo, assistir a shows ao vivo sem sair de casa, ouvir sua rádio, ler livros, tudo isso na palma da mão. Mas para que tudo isso seja possível é necessário que haja conteúdo. Bom ou ruim, os conteúdos estão sendo produzidos. Vídeos são criados, materiais são feitos e distribuídos na rede todos os dias, todos os minutos. Existe um mercado enorme de produção audiovisual e poucos bons profissionais atuando dentro dele. Em tempos de convergência digital, a cultura participativa impera quando se trata de informação e divulgação. O grande problema é que nem sempre (quase nunca) quem participa, possui know-how para fazê-lo. São informações sem contexto, vídeos sem referência, conteúdos completamente desorganizados, lançados nas mídias, aguardando apenas o estouro do caos. E isso é ainda mais gritante quando pensamos nas redes sociais. A informação não tem dono, muitas vezes nem relevância, não possui fonte confiável, simplesmente está ali, foi “jogada” ali, aguardando a resposta e a interação de um público que participa ativamente dessa composição de conteúdo. Conteúdos que muitas vezes são verdadeiros Frankensteins, pois não possuem cabeça nem pé, montadas com um teor tendencioso, com objetivo de atacar lados ou simplesmente fomentar o caos. Henry Jenkins (2009) ao escrever sobre a cultura da convergência, cita um exemplo muito verdadeiro acerca das convergências digitais, ao falar que esse processo não envolve apenas as mídias, mas relacionamentos familiares, profissionais, afetivos. É um processo que acontece quando as pessoas “assumem o controle da mídia”. O fato de se comunicar com alguém do outro lado do mundo é ter o controle, em tempos de quarentena, o mundo tem assumido esse controle, publicando rotinas diárias, memórias, detalhes sobre relacionamentos, vida pessoal, ou como um exemplo prático e ainda atual: Estudantes alcoolizados no colégio local usam seus celulares, espontaneamente, para produzir seus próprios filmes pornôs-soft, com líderes de torcida se agarrando sem blusa no vestiário. Em poucas horas, o filme está circulando na escola, baixado por alunos FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES e professores e visto no intervalo em aparelhos de mídias sociais (JENKINS, 2009, p. 45). Alguma diferença daquilo que se vê no Brasil? Nas notícias que circulam nas redes? E quando se pensa que existe um púbico que compra, que consome esses conteúdos sem nem questionar, pode-se compreender que a convergência começa dentro do pensamento. Jenkins (2009) fala que essa convergência tem início no processo das interações sociais do consumidor - o público - que consome esses conteúdos, com os outros, ou seja, com aqueles que criam, promovem e compartilham. É o processo do consumo coletivo. As pessoas consomem o que veem na mídia e compartilham esses materiais adicionando suas colaborações pessoais, gerando repercussões e mais compartilhamentos. Se a informação é verdadeira? Nem sempre. Se tem relevância? Depende quem está consumindo. Isto acontece na prática A fim de observar e analisar a forma como a revista Época migrou para outras plataformas de mídia além da impressa, foi criado um artigo onde são citados vários casos da Revista Época utilizando a convergência e a narrativa transmidiática para se adequar à distribuição de conteúdos sobre um mesmo tema em diferentes suportes. A convergência de conteúdo, narra um fato jornalístico, enquanto a narrativa transmidiática é mais um formato de contar uma história que gere entretenimento. A edição impressa do dia 1º de junho de 2009 foi a escolhida para mostrar essa ligação entre a revista física e o site. Nesta edição foram escritas 10 matérias que tinham conteúdo complementares com o site, com o celular ou com o Twitter. Isto fez um caminho que estimulou o leitor da revista a ter outras experiências com o conteúdo do site. Chegando no site, o leitor poderia comentar sobre a matérias que leu na revista, poderia ser colaborador de uma pesquisa ou de uma enquete e explorar as possibilidades de um infográfico que era interativo. Conteúdo completo disponível em: https://www.ufrgs.br/jordi/wp-content/ uploads/2016/05/Aspectos-da-narrativa-transmidi%C3%A1tica-no- jornalismo-da-revista-%C3%89poca.pdf https://www.ufrgs.br/jordi/wp-content/uploads/2016/05/Aspectos-da-narrativa-transmidi%C3%A1tica-no-jornalismo-da-revista-%C3%89poca.pdf https://www.ufrgs.br/jordi/wp-content/uploads/2016/05/Aspectos-da-narrativa-transmidi%C3%A1tica-no-jornalismo-da-revista-%C3%89poca.pdf https://www.ufrgs.br/jordi/wp-content/uploads/2016/05/Aspectos-da-narrativa-transmidi%C3%A1tica-no-jornalismo-da-revista-%C3%89poca.pdf FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Há vinte anos a população jamais imaginou que teria a possibilidade de assistir a filmes em boa qualidade sem ser na TV ou no cinema. Era algo praticamente impossível. Assistir a um programa de TV no celular? Divulgar cinema independente para o mundo por meio de uma rede social? Ter acesso a grandes espetáculos como Cirque de Soleil ou musicais de Hollywood com apenas um clique era algo fantasioso. Da mesma maneira que pensar em interagir virtualmente com uma publicação textual também era impensável, e hoje, temos QR Codes, Realidade Aumentada, conteúdos repletos de computação gráfica que trabalham com ilusões de ótica e 3D, tudo na palma da mão. Entende o que é convergência caro aluno? Isto está na rede A Realidade Aumentada (RA) ou (AR) é um recurso que vem sendo amplamente utilizado por emissoras de TV, Marketing Digital, Instituições de Ensino, ambientes corporativos, dentre diversos outros setores e departamentos com a intenção de oferecer ao público uma experiência interativa com o seu conteúdo, inclusive no cinema. De olho na revolução digital algumas empresas tiveram a grande ideia de utilizar a RA em campanhas de Marketing Digital. Três cases de sucesso que valem a pena serem conferidos são da Maybelline, que utilizou a RA para gerar uma pré-visualização de 40 cores de esmalte sem haver a necessidade de abrir os vidrinhos; da National Geographic, que promoveu uma ação que transformou a rua em um lugar onde as pessoas poderiam nadar com golfinhos, ter uma chita ou ver dinossauros nas ruas; e da Ford, que por meio de reconhecimento gestual, permitia com que os usuários testassem diferentes cores do automóvel ou o dirigissem. Você pode conferir o conteúdo completo aqui: https://news.comschool.com. br/tres-cases-em-realidade-aumentada/ E então, diante de tudo isso, você pode me perguntar: e o que um editor tem a ver com isso? De que forma essa evolução interfere no papel do editor? Eu te respondo: tem tudo a ver! Quando um processo sofre uma evolução, tudo aquilo que compõe esse processo precisa evoluir também. Se antes uma matéria era editada com apenas algumas poucas imagens, muito plano sequência e nenhuma arte, hoje isso mudou. É preciso entender de que forma o jornalismo mudou com a convergência digital e saber se adaptar aos novos consumidores, às novas visões e às novas exigências desse https://news.comschool.com.br/tres-cases-em-realidade-aumentada/ https://news.comschool.com.br/tres-cases-em-realidade-aumentada/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES público, que a cada dia que passa participa mais do conteúdo que é distribuído da rede. Vou deixar uma afirmação de Henry Jenkins (2009, p. 45) para que você reflita sobre o assunto: “Quandoas pessoas assumem o controle das mídias, os resultados podem ser maravilhosamente criativos; podem ser também uma má notícia para todos os envolvidos”. Quem é você dentro desse processo? FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 3 IMAGEM E ESTÉTICA AUDIOVISUAL Caro acadêmico, vamos começar este capítulo entendendo o que é estética de acordo com as definições da filosofia. De acordo com A. Lalande (1980 apud Talon- Hugon, 2008, p. 7) em o Dictionnaire Historique et Critique de la Philosophie, estética é “a ciência que tem por objeto o juízo da apreciação que se aplica à distinção do belo e do feio”. Quando se fala em estética, a primeira coisa que vem à cabeça é algo relacionado à beleza, correto? Mas a estética vai muito além de uma aparência exterior, que pode gerar agrado ou desagrado de acordo com a impressão que temos dela. A palavra estética vem do grego aisthesis que significa “percepção do mundo sensível” ou “sensação” (KIRCHOF, 2003, p. 27, apud CECIM, 2014, p. 4); as primeiras teses e pesquisas como uma disciplina acerca da estética procedem de Baumgarten em sua obra Meditações filosóficas sobre as questões da obra poética (1735). Baumgarten em seus estudos sobre a estética, associa-a à teoria do belo, afirmando que a disciplina trabalha com a “ciência das sensações”. [...] a função do belo, para os antigos, consiste em induzir nossa alma a imitar aquilo que é digno de ser imitado, o bem supremo. Nesse sentido, o valor da arte se assenta nos efeitos por ela produzidos. Estes efeitos se fundam no que a arte representa. Portanto, na antiguidade clássica, a arte deve representar o belo em dois aspectos: o estético (belos corpos) e o ético (belas ações), [...] (CECIM, 2014, p. 4). E aí, você pode estar se perguntando: mas o que tudo isso tem a ver com o audiovisual e os processos de edição de imagem? Tudo a ver. A imagem está, por si só, diretamente relacionada à estética. Quando editamos algo escolhemos o melhor ângulo, a melhor luz, o melhor movimento a fim de entregar para o público, um conteúdo que gere prazer e que ative as suas sensações, conforme já falado nos capítulos anteriores. É certo que a não observância desses detalhes, também pode gerar sensações no público, mas provavelmente serão negativas, reprovativas. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Não vamos nos ater neste capítulo às interpretações filosóficas da estética e o estudo da teoria do belo, pois precisaríamos de um livro inteiro para discutir essas questões, no entanto, como não podemos desmembrar o audiovisual da arte cinematográfica, pois ambos estão intimamente ligados e relacionados em sua essência, cito as palavras de Gérard Betton (1987) acerca da obra audiovisual e o belo: O cinema é, antes de mais nada, uma arte, um espetáculo artístico. É também uma linguagem estética, poética ou musical – com uma sintaxe e um estilo; é uma escrita figurativa, e ainda uma leitura, um meio de comunicar pensamentos, veicular ideias e exprimir sentimentos. Uma forma de expressão tão ampla quanto as outras linguagens (literatura, teatro, etc.), bastante elaborada e específica. Fazer um filme é organizar uma série de elementos espetaculares a fim de proporcionar uma visão estética, objetiva, subjetiva ou poética ao mundo (BETTON, 1987, p. 1). Apesar de Betton falar sobre cinema, podemos estender essa visão do autor para toda e qualquer obra audiovisual. Substitua a palavra cinema por vídeo e então, em suas demais definições, inclua as categorias de documentários, reportagem jornalística, vídeo publicitário, vídeo institucional. Não é possível desenvolver toda essa arte citada em qualquer uma dessas obras? Planos, enquadramentos, movimentos de câmera, luz, som e silêncio são elementos que compõem a estética da linguagem audiovisual. A forma como você estabelece cada um desses elementos na montagem do seu material, pode resultar em produtos que gerem um grande impacto no público ou não. Muita gente acha que para um vídeo ser bom, precisa estar repleto de elementos ilustrativos, animações e cores. Mas nem sempre isso é verdadeiro. A linguagem que você deve usar na sua composição precisa estar completamente correspondente ao objetivo do conteúdo, ao perfil do público e à mensagem que quer ser transmitida. Muitas animações podem tirar a atenção do conteúdo, da mesma forma que muitos cortes também podem levar a uma impressão de falta de conteúdo. Em tempo de Youtubers, o excesso de cortes virou moda, mas muita gente ainda não sabe utilizar essa técnica, o que acaba gerando um conteúdo extremamente “picotado”, “retalhado”. Quando falamos em cortes, entendemos que esses servem para uma mudança de assunto, uma edição de erro, e em algumas situações, até como um elemento estético para compor a linguagem do material. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Dentro desse pensamento, podemos entender de que forma os cortes funcionam para compor uma boa linguagem audiovisual dentro do filme. Então, quando imaginamos um diálogo entre duas pessoas, a montagem realizada em plano e contraplano permite ao público acompanhar o desenvolvimento dos dois lados do diálogo. Isso é chamado de montagem psicológica, como cita Andrew, em seu livro Teorias do Cinema, sobre esse estilo de montagem: É uma montagem psicológica por meio da qual um evento é quebrado nos fragmentos que duplicam as mudanças de atenção que naturalmente experimentaríamos se estivéssemos fisicamente presentes ao evento. [...] A montagem psicológica apenas prevê o ritmo natural de nossa atenção e de nossos olhos (ANDREW, 1989, p. 121). Anote isso Platão, filósofo grego, em sua obra “A República”, escreveu um texto sobre o “O Mito da Caverna”, onde relata a condição humana diante do desconhecido e posterior conhecimento da verdade. A história retrata pessoas aprisionadas em uma caverna, onde não existe luz. Possui uma passagem com o mundo exterior, mas é algo tão longo que a luz não chega ao fundo da caverna. Esses homens não podiam ver nada além das imagens que eram projetadas na parede da caverna, formadas pelo reflexo das chamas de uma fogueira que queimava atrás deles. Para eles estas imagens eram reais, pois eles nunca viram outra coisa. Eles não fazem ideia de que tudo aquilo não passa de imagens projetadas, de sombras geradas pelo fogo. A caverna de Platão já foi muito relacionada ao cinema, com a ideia de que os prisioneiros são espectadores totalmente passivos àquilo que é lhes “transmitido” na “tela” da caverna. Se você tiver interesse em conhecer mais sobre “O mito da caverna”, sugiro a leitura de “A República” de Platão, e alguns filmes que retratam com muita criatividade essa história: Pacto Sinistro (1951), de Alfred Hitchcok; O Anjo Exterminador (1962), do surrealista Luis Buñuel e Matrix (1999), das Irmãs Wachowski. Muita gente acha que quem tem que entender de plano, enquadramento e ângulo é o cinegrafista e o diretor. No entanto, um bom editor também precisa dominar esse FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES conhecimento para saber construir com eficiência e eficácia um material de qualidade. Vamos relembrar então o que é cada uma dessas linguagens? Quando pensamos em um enquadramento, estamos considerando o que é importante aparecer na cena. O que não deve faltar, o que é extremamente relevante. Isso não significa que tudo precisa estar em destaque, às vezes a informação é subjetiva e está dentro do quadro. E isso é muito interessante, porque muitas vezes nem tudo o que está no quadro parece fazer sentido, mas durante o desenvolvimento do material e dentro do contexto, cada objeto/pessoa, podeir se revelando e se contextualizando. O enquadramento é parte essencial da história e depende de três fatores: o plano, o lado do ângulo e a altura do ângulo. Escolher um bom enquadramento impacta na forma como o público perceberá aquilo que está se desenrolando no vídeo. Um bom enquadramento está diretamente ligado ao senso estético e narrativo do profissional. O plano, principal componente do enquadramento, refere-se à distância entre a lente da câmera e o objeto/pessoa a ser enquadrado e filmado. Dessa forma, existem diversos planos que podem ser utilizados em um vídeo, de acordo com a informação que se deseja passar. Isto acontece na prática Quem sabe utilizar muito bem esses segredos dos planos são os políticos! Preste atenção aos vídeos de campanha: muito close e plano detalhe – lágrimas, mãos calejadas, apertos de mãos, a intenção? Gerar carga dramática para sensibilizar o telespectador. Quem também usou muito isso? No filme “October”, de 1927, de Sergei Eisenstein, o plongée foi muito utilizado com o intuito de endeusar Lênin, assim como Leni Riefenstahl fez no filme sobre Hitler, “Triumph of the will”, de 1934. Ambos filmes de propaganda política, com objetivo de trabalhar a imagem de seus representantes, demonstrando poder, superioridade e domínio. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Figura 04: Ilustração de planos de filmagem Fonte: elaborado pela autora (material próprio) Fonte das imagens: GPG: https://visualhunt.com/f3/photo/21216553669/e5e73ee84e/ PP: https://visualhunt.com/f3/photo/4437719619/78f4aa38ca/ PG: https://visualhunt.com/f3/photo/20193479283/a3399b43a3/ CLOSE: https://unsplash.com/photos/8siCNWWtRZ4 PA: https://unsplash.com/photos/qZxdoFZE-_I SUPER CLOSE: https://visualhunt.com/f3/photo/18932643756/8392bd537c/ PM: https://visualhunt.com/f3/photo/23423192036/b7c9858430/ PD: https://unsplash.com/photos/jxQFMN7xzJc PC: https://visualhunt.com/f3/photo/23788825728/f530c75510/ PLONGÉE: https://visualhunt.com/f3/photo/5964662447/e711da9b81/ PA (PLANO AMERICANO): https://visualhunt.com/photo2/83472/ CONTRA PLONGÉE: https://visualhunt.com/f3/photo/29988420824/6a3696771e/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 4 EDIÇÃO DE IMAGENS: COMO TUDO COMEÇOU É impossível entendermos a edição de imagens, ou edição de vídeo, sem falarmos de cinema. Quando se fala de vídeo, o cinema é o cerne que comandou todo esse processo. Até o início do cinema, toda informação era obtida por meio de jornal impresso e depois, com o advento do rádio, por meio dos programas radiofônicos. O cinema revolucionou a arte. Até o seu surgimento todas as formas de entretenimento resumiam-se ao teatro, apresentações visuais, circo, dentre outras atividades. O mundo já havia descoberto a mágica da fotografia, mas ainda faltava alguma coisa. Para tanto, diversos precursores da imagem em movimento foram inventados antes do cinema. No século XVII foi criada a lanterna mágica, que consistia em uma câmara escura que projetava imagens de desenhos pintados à mão em vidros, em uma superfície, por meio de lentes e luz. Havia um narrador que contava a história e em alguns casos, poderia também haver um músico que acompanhava a estória com uma trilha musical. Mais tarde, no século XIX, Charles Émile Reynauld cria o praxinoscópio, um brinquedo que consistia em um objeto circular, com figuras desenhadas na parte interna que eram projetadas em um espelho circular colocado no interior do tambor e que por meio de uma lanterna de projeção criava a ilusão de movimento. Figura 05: Modelo de Lanterna Mágica Fonte: https://visualhunt.com/f3/ photo/2570305244/23f5139495/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Figura 06: Desenhos pintados à mão em vidro para lanterna mágica Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/5272465039/18d1afa3d0/ Figura 07: Modelo de Praxinoscópio Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/8552111982/706ec5e684/ Foram diversas as criações de aparelhos que tentavam reproduzir o movimento da imagem, contudo, no final do século XIX, os irmãos Auguste Lumiére e Louis Lumiére motivados pela criação do cinetoscópio de Thomas Edison, criaram o cinematógrafo, um aparelho que permitia capturar a imagem em movimento e depois disso, caro aluno, tudo mudou. É claro que foi uma longa jornada até o que hoje conhecemos como FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES produção de vídeo, edição, montagem, mas a captura da imagem em movimento foi o primeiro passo para que tudo isso fosse possível hoje. Figuras 08 e 09: Modelos de cinematógrafos Fonte: Fig. 08 – https://visualhunt.com/f3/photo/27946177993/ccea94062b/ Fonte: Fig. 09 - https://visualhunt.com/f3/photo/4837693175/46700983b1/ Quando tudo começou não existia a figura do editor. As imagens eram capturadas na medida em que fossem necessárias. Mas claro, houve uma evolução foi-se aprendendo a fazer cinema, foi-se descobrindo que era possível fazer imagens diferentes, fazer movimentos, que o cinema não precisava ser apenas uma reprodução estática do teatro, mas que a imagem podia contar uma história. E esse é um ponto muito importante, porque quando temos o entendimento da importância da imagem, entendemos que em muitas situações, uma imagem constitui uma peça fundamental para que uma informação seja completa. É claro que no cinema isso é ainda muito mais intenso, afinal, o cinema vai se desdobrando entre narrativa e composição visual, a fim de apresentar ao público a estória que se deseja contar. George Mèlliés, mágico e ator, é descrito como um dos primeiros a introduzir cortes, sobreposição, zoom e contar uma história por meio do cinema. Não existiam produtoras, estúdios ou salas de edição. As equipes ainda estavam no processo de descobrimento de suas funções e atividades dentro da produção audiovisual. Os filmes eram editados em uma salinha simples, como conta Murch: FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES No primeiro quarto do século XX, a sala do editor de um filme era um lugar tranquilo, equipado apenas com uma enroladeira, uma tesoura, uma lente de aumento e a certeza de que a distância da ponta do nariz aos dedos de uma mão esticada representava mais ou menos três segundos. Naqueles dias manuais, pré-mecânicos – aproximadamente de 1900 a 1925 – a sala de corte era uma alfaiataria tranquila onde o tempo era medido pelo pano (MURCH, 2004, p. 81). Murch ainda conta que nessa época, a grande parte dos editores eram mulheres, que após ver o filme projetado, assim que chegava do laboratório onde era revelado, ... reexaminava os quadros estático com a lente de aumento lembrando como eram em movimento e cortando com a tesoura onde achava correto. Paciente e algo intuitivamente ela costurava a matéria-prima do filme usando um clipe de papel para unir as tomadas que, mais tarde, seriam “cimentadas” uma à outra por um técnico no fim do corredor. Projetava então o resultado ao lado do diretor e do produtor, tomando notas, e voltava para a sala para fazer mais ajustes, diminuindo isto e aumentando aquilo, como uma segunda prova de roupa. Essa nova versão era projetada e o ciclo se repetia até se chegar ao mais próximo da perfeição (MURCH, 2004, p. 81). Anote isso No livro “Num piscar de olhos”, Walter Murch conta que nos primórdios do cinema, a maior parte dos montadores (editores) era do sexo feminino. Isso acontecia porque como vimos na citação acima, era um trabalho manual, quase que artesanal, algo como tricotar, bordar, como a tapeçaria, “coisa de mulher”. Apenas quando o cinema deixou de ser mudo para ser faladoe o som começou a fazer parte dessa arte, foi que os homens começaram a se infiltrar e aos poucos foram dominando essa profissão, porque como o som era elétrico, não era mais coisa de mulher, era como se fosse algo técnico, então cabia aos homens lidar com isso. Não era mais um processo de tricotar, mas era técnico. No entanto, muitas mulheres se destacaram como montadoras e é importante citar o nome de Margareth Booth, que trabalhou como montadora-chefe na MGM durante 30 anos. Booth teve papel fundamental na profissão, promovendo o reconhecimento do papel de montador, que antes era visto apenas como um técnico de montagem. Em sua carreira, mais de 40 filmes, onde atuou como editora ou produtora. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Mas esse processo sofreu grande evolução ao longo dos anos. É só você imaginar que hoje gravar algo em película, é extremamente caro e raro, que alguns cineastas só o fazem por hobby. O processo da evolução da edição foi até rápido. Com o advento do cinema falado, começou a se utilizar a “moviola de duas cabeças3” (Murch, 2004), que podia reproduzir som e imagem, sendo hoje uma peça de museu, que é vista com nostalgia por grandes cineastas e entusiastas da área. O som – o cinema falado – foi o cavalo-de-tróia introduzido na estrondosa era mecânica da edição. Nenhuma lente de aumento ou regra de três segundos podia ajudar o editor a fazer a leitura labial daqueles quadros silenciosos, e a Moviola de “duas cabeças” (som e imagem) adentrou o reduto das produtoras [...] (MURCH, 2004, p.82). Classe nº 4 especializada em filmes. Os estudantes estão unindo as tiras dos negativos de 35mm na sequência correta antes da impressão em um rolo positivo para projeção. Ao fundo, moviolas. Já na segunda metade do século XX, o processo de edição deixou de ser tão manual para ser computadorizado, mesmo que as filmagens ainda fossem feitas em rolos de filmes. Contudo, no século XXI esse processo se tornou inteiramente digital e hoje as imagens saem do cartão de memória direto para a timeline do editor, que o devolve para aprovação por meio das redes, ou da nuvem e em muitos casos é distribuído dessa mesma forma. Emissoras que recebem vídeos por aplicativos de mensagens, cujo deadline é curtíssimo para entrega e o editor precisa finalizar o material em menos de uma hora para rodar no jornal do almoço. Então, perceba como a evolução dessa atividade está intrinsicamente atrelada à evolução da própria sociedade, da tecnologia e do desenvolvimento humano. A moviola se tornou algo nostálgico, saudoso, um artefato de museu e o que até 30 anos atrás era algo ainda não tão comum, hoje é o padrão: todos os materiais audiovisuais são editados de forma eletrônica. Existem inúmeros softwares de edição, para gostos diversos. 3 A moviola foi uma máquina inventada em 1920, oferecida ao público para que esse pudesse assistir aos filmes em casa. O nome foi herdado do toca-discos, chamado então de Vitrola. Figura 10: Mulher edita em moviola – 1967 Televisão da República do Vietnan Fonte: https://visualhunt.com/f3/ photo/15193369556/8b5f493422/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Existem os favoritos do mercado profissional, mas essa arte virou algo que qualquer um pode fazer. Com tutoriais disponíveis em plataformas digitais, a profissão está ganhando cada dia que passa, novos adeptos, afinal, como já falamos desde o começo: tudo está na rede. Então, saber editar está se tornando algo tão comum quanto saber tirar uma foto do celular. Figura 11: Alunos trabalhando na Escola Naval de Fotografia Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/22931100382/29b9702348/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 5 EDIÇÃO E MONTAGEM Caro aluno, algumas informações são necessárias e importantes para você que deseja atuar nesta área específica. Existem muitas pessoas que falam que editor é uma coisa e montador é outra. Se formos ver ao pé da letra, editor seria aquele que corta e montador aquele que “junta” os pedaços. O termo “montador” é mais comumente utilizado em cinema, devido a todo o histórico4. Lembra da moviola e do processo de medir, selecionar, recortar e colar? É ou não é uma montagem? Independente disso, os dois termos são aceitos no mercado de trabalho, sendo mais comum o termo “editor de imagem” em televisões, produtoras e instituições de ensino. Dessa forma, trabalharemos com esse termo em nosso conteúdo. Mas e o que faz o editor afinal? Tem muita gente – e eu digo muita gente mesmo – que fala que o trabalho do editor é simples. É só colocar uma musiquinha, eles dizem. Ou, como eu já ouvi na minha experiência profissional: é só animar o bracinho do bonequinho. É rápido, qualquer um faz isso. Bom, o editor tem um papel fundamental na entrega de um produto audiovisual. Ele recebe um cartão com diversas imagens e um roteiro, e precisa dar sentido a isso. Separar as melhores cenas, os melhores ângulos, juntá-los, tratar a cor, a luz, o áudio, se necessário inserir uma trilha e então, dar emoções ao material, contar uma história, fazer o material criar vida. É quase como uma mágica. O editor pega uma imagem, junta com outra, adiciona uma sonora e tudo faz sentido. Sem essa montagem, todo esse material é apenas conteúdo vago. Peças que isoladas não têm sentido. O que faz com que um filme, um documentário, uma matéria tenha sentido é a edição. Do contrário são apenas imagens capturadas. A edição é algo tão mágico, que pode fazer com o que tempo 4 Esses termos estão diretamente atrelados à cultura e história do cinema. O termo editor vem do inglês, enquanto que o montador vem do francês. Como o cinema inicial teve grande influência europeia, acabou-se adotando o termo montagem. Apenas para nível de conhecimento, no inglês existem ainda os termos film editing e vídeo editing. No francês essas mesmas ações são denominadas montage e montage vidéo. No entanto, as ações são as mesmas: contar uma história dando sentido às imagens capturadas, aumentar ou diminuir o tamanho do vídeo, incluir som, remover cenas desnecessárias, ordenar a sequências das cenas, definir a estrutura, criar sensações, entender a mensagem do conteúdo capturado e entregar essa mensagem no produto final. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES volte e avance, pode assustar ou emocionar o público e até divertir. Não falo que o trabalho de gerar essas sensações é apenas do editor, envolve toda a equipe: repórter, cinegrafista, produtor, diretor, mas se não houver uma boa edição, o material é apenas material. O editor é um montador de quebra-cabeças. Mas o processo de montar um vídeo vai muito além de juntar as imagens. É necessário feeling. O editor precisa ter a capacidade de transmitir emoções e sensações por meio do material. Então, para isso, ele vai trabalhar com uma combinação de som, imagem, luz e música de forma a compor um material audiovisual que passe mais do que o óbvio, que interaja com o público. Pense nas campanhas políticas e de que forma a trilha musical, o tom de voz de quem fala e as cores utilizadas no vídeo estão propositalmente harmoniosas, de forma que conseguem convencer ou pelo menos chamar a atenção de quem assiste. Você já percebeu que existem documentários, reportagens, que são fáceis de assistir, que nos fazem até sentir bem, mas existem também aqueles que nos deixam incomodados? Que geram inquietações? É isso o que a edição faz. Ela ajuda a criar essa interação do conteúdo com o sentimento do público. Um editor de imagens é um contador de histórias. Algumas competências, no entanto, podem ser pontos de diferencial dentro dessa profissão. Porexemplo, criatividade e habilidade artística são fundamentais. Conhecimento de roteirização, saber compor uma estrutura narrativa, linearidade, olhar artístico, feeling e é claro, domínio dos softwares de edição são outros exemplos que podem melhorar a qualidade do profissional. Isto acontece na prática Não demorou muito para que líderes políticos percebessem o quanto a montagem de som e imagem tinha o poder de influenciar as emoções das pessoas. Na Segunda Guerra Mundial, em 1935, líderes políticos alemães se utilizaram dessa ferramenta para promover a imagem de Hitler como um deus, como um salvador. A diretora Leni Riefenstahl, cineasta alemã e representante dos ideais da estética nazista, utilizou o som, a música e a montagem no documentário nazista “Triumph of the Will” para trabalhar essa imagem “boa” de Hitler, para mostrar como ele era respeitado e amado pelo povo alemão. Um verdadeiro líder. Esse filme foi tão memorável que até hoje as técnicas são utilizadas em documentários, comerciais e filmes. O filme está disponível no link: https://www.dailymotion.com/video/x6uajey e é uma referência que todo editor/montador de imagens deve conhecer. https://www.dailymotion.com/video/x6uajey FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Um filme, uma matéria, um documentário, um vídeo institucional, todos são resultantes de um mosaico de imagens. Corta de um lado, corta do outro e temos um resultado funcional. Contudo, durante milhões de anos, a humanidade estava acostumada com o plano sequência. Afinal, a vida era um plano sequência. De repente isso muda e alguém tem a ideia de editar a vida. Não era comum no cinema haver cortes nos filmes. Um grande exemplo do que era o cinema naquela época, é o filme Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock 5, ou até mesmo os filmes dos irmãos Lumière, sempre em plano sequência. Murch explica como a descoberta de que os filmes poderiam ser editados mudou a forma de se fazer cinema. Como ele diz, foi uma descoberta equivalente ao descobrimento do voo: [...] a descoberta, no início do século XX, de que alguns tipos de corte “funcionavam” levou-nos quase imediatamente à descoberta de que os filmes poderiam ser filmados descontinuamente, o que foi o equivalente cinematográfico da descoberta do vôo (MURCH, 2004, p. 19). Consegue imaginar, caro aluno, o impacto que essa descoberta provocou no mundo da produção audiovisual? Imagine hoje, a produção de um vídeo institucional, que precisa ser gravado em diversos setores de uma organização, com entrevistas, depoimentos e sonoras de diferentes pessoas, que possuem diferentes agendas. Imagine se não houvesse a possibilidade de cortar esse material e tudo precisasse ser gravado em plano sequência? Quanto tempo levaríamos para produzir um material desses. É ou não é a descoberta do voo? Para que você tenha uma boa ideia, o filme Apocalipse Now, de Francis Coppola, teve um total de 1.200.000 pés, isso representa quase 7 toneladas de imagem e som, tudo capturado em filme – vários e vários rolos de filmes. Walter Murch (2004) foi um dos editores dessa obra, e em seu livro Num piscar de olhos, ele conta que havia um pouco mais de 230 horas de filmagem – o filme pronto tem 2 horas e 25 minutos de duração. Quando vemos uma situação dessas, entendemos o quão grande é a responsabilidade do editor frente um material assim. O autor conta ainda que havia diversas cenas com mais 50 filmagens, tendo apenas a posição dos enquadramentos e das câmeras alteradas. Qual era o papel do editor 5 Filme composto de 10 sequências, cada uma com uma duração de dez minutos e imperceptivelmente coladas para dar a impressão de que não houve montagem (MURCH, 2009). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES nessa situação? Fazer a seleção de qual era a melhor imagem. De 230 horas, obter um produto impecável com pouco menos de 2 horas e meia. Entende agora porque o editor é considerado um mágico? March (2004) complementa ainda, lembrando que o fato de podermos gravar em descontinuidade, permite ajustar os planos de câmera para cada cena, a fim de capturar a emoção para cada momento da história. Dessa forma, quando o material chega na edição, o editor conseguirá promover um impacto crescente na formação do conteúdo. [...] cortar é mais que um método conveniente de tornar contínua a descontinuidade. É, em si, pela força de sua paradoxal subitaneidade, uma influência positiva na criação de um filme. Usaríamos o corte mesmo que a descontinuidade não fosse tão útil por sua praticidade. O fato central de tudo isso é que os cortes funcionam. Mas a questão permanece: por quê? Acontece algo parecido com o peixe-voador, que não deveria voar, mas voa (MARCH, 2004, p. 21). Isto está na rede Apesar da descoberta da descontinuidade, filmar em plano sequência sempre foi uma arte. A exigência que se pede de elenco, diretores, operadores de câmera é algo diferenciado. Alguns diretores ainda são adeptos dessa linguagem e o fazem com perfeição, sendo inclusive premiados por isso. Existem vários filmes que merecem reconhecimento. Citarei alguns para nível de curiosidade: 1917, de Sam Mendes, que trabalhou com cortes invisíveis, atuando com uma imitação perfeita de plano sequência foi aclamado pela crítica e ganhou diversos prêmios, inclusive o de melhor fotografia. Vale a pensa conferir. Mas vale a pena relembrar também os longas “Aurora”, do expressionista alemão F. W. Murnau; “Victoria”, do cineasta alemão Sebastian Schipper; “Birdman”, de Alejandro Iñarritu e “Arca Russa”, de Aleksandr Sokúrov. Todos filmados na totalidade ou com longas cenas em plano sequência. Mais informações: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/01/ entenda-como-1917-construiu-a-ilusao-de-ser-um-filme-sem-cortes.shtml Apesar de estarmos no século XXI é importante conhecermos um pouco dos principais nomes da edição na história e aprendermos com eles. Afinal, são artistas que criaram do zero aquilo que hoje nos esforçamos tanto para fazer com esmero. https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/01/entenda-como-1917-construiu-a-ilusao-de-ser-um-filme-sem-cortes.shtml https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/01/entenda-como-1917-construiu-a-ilusao-de-ser-um-filme-sem-cortes.shtml FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Sergei Eisenstein é um nome que todo editor precisa conhecer. Cineasta russo foi professor de uma geração de diretores russos no início do século. Eisenstein conhecia os bastidores do teatro e do design e desenvolveu uma teoria de edição que possuía cinco componentes, conforme relata Ken Dancyger (2011), montagem métrica, montagem rítmica, montagem tonal, montagem atonal e montagem intelectual. A montagem métrica se refere à extensão dos planos. Encurtar as tomadas abrevia o tempo que o público tem para absorver as informações, desencadeando um aumento da tensão da cena. O uso de close-ups ajuda a criar uma sequência mais intensa. Eisenstein aplicou esse tipo de montagem6 no filme “Encouraçado Potemkin”, de 1925. A montagem rítmica se refere à continuidade decorrente do padrão visual dentro das tomadas. Então, imagine a cena da escadaria de Odessa7, no filme do Encouraçado Potemkin. A continuidade baseada na ação de correspondência e na direção da tela são exemplos de montagem rítmica. Perceba que nesta cena há um conflito de forças que são apresentadas em direções opostas na tela, enquanto os soldados marcham, descendo os degraus do quadrante do quadro, há pessoas tentando escapar pelo lado oposto do quadrante e o carrinho de bebê funciona como um acelerador da montagem. A montagem tonal, em contrapartida, se refere a decisões feitas na edição que irão interferir no caráter emocional da cena, que pode mudar no decorrerdas cenas. Baseia-se no característico som emocional do fragmento. O tom ou humor é usado como uma orientação para a montagem tonal. [...] embora essa teoria pareça intelectual, não é diferente da sugestão de Ingmar Bergman de que a edição é semelhante à música, a reprodução de emoções de diferentes cenas. As emoções mudam, da mesma forma que muda o tom da cena” (DANCYGER, 2011, p. 47). Esse componente também é possível ser visualizado no filme “Encouraçado Potemkin”8, ainda na sequência da escadaria de Odessa, quando da morte da jovem mãe nos degraus, e na sequência o contraste do carrinho de bebê na escadaria em contraponto com a tragédia do massacre. A montagem atonal, em contrapartida, é resultado de uma interação entre as montagens métrica, rítmica e tonal. Uma interação que mistura ritmo, ideias e emoções, 6 Cena disponível em: https://youtu.be/GZOFRtmMj8o - 1’47 7 Cena disponível em: https://youtu.be/GZOFRtmMj8o - 2’11” 8 Cena disponível em: https://youtu.be/GZOFRtmMj8o - 3’47” https://youtu.be/GZOFRtmMj8o https://youtu.be/GZOFRtmMj8o https://youtu.be/GZOFRtmMj8o FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES com o objetivo de produzir no público a reação desejada. Vamos seguir com o mesmo filme, “Encouraçado Potemkin”, no qual o massacre tem o objetivo de gerar essa reação no público9. Tiros que enfatizam o abuso do poder esmagador do exército frente à impotência dos cidadãos pontuam a mensagem. Por fim, vamos compreender o quinto componente, que é a montagem intelectual, que se refere a uma introdução de ideias em uma sequência fortemente carregada e emocionalizada. No filme “Outubro” (1928)10, isso é percebido por meio de várias máscaras de etnias diferentes em justaposição, gerando uma relação do homem com seus deuses. Essas técnicas podem ter nomes desconhecidos para nós, mas são muito utilizadas em produções audiovisuais hoje, em todo o mundo. Trabalhar a imagem com o intuito de compor a emoção do filme a fim de impactar a audiência não é dever apenas do diretor, mas do editor. Saber trabalhar com o tempo da cena, movimento de câmera – muitas vezes a imagem vem movimento, mas a história pede um movimento. É o que falamos no início deste capítulo: o editor precisa desenvolver esse feeling, é claro que as técnicas são essenciais, mas a criatividade e a capacidade de gerar sensações por meio de uma obra é o que faz o diferencial. [...] Eisenstein descobriu o poder visceral da edição e da composição visual, e foi um mestre em ambos. Ele era perigoso na mesma proporção que todo artista o é. Ele tinha sua própria personalidade, uma individualidade única. Hoje, Eisenstein é largamente apreciado como um teórico, no entanto, assim como Griffith, ele também foi um grande diretor. Essa é a extensão do seu crime (DANCYGER, 2011, p. 50). 9 Cena disponível em: https://youtu.be/GZOFRtmMj8o - 5’48” 10 Cena disponível em: https://youtu.be/cw2chy64m34 - vídeo todo https://youtu.be/GZOFRtmMj8o https://youtu.be/cw2chy64m34 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 6 EDIÇÃO DE IMAGENS E A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS “O pensamento simbólico, em todas as suas dimensões, é consubstancial ao ser humano e precede qualquer linguagem e razão discursiva” (ELIADE, 1991, p. 8). Conforme já abordamos em outros capítulos, a edição de vídeos, ou montagem de uma obra audiovisual está diretamente relacionada à teoria do cinema e dela não pode se desligar, pois são totalmente dependentes. Na teoria da montagem cinematográfica é possível observar duas vertentes ou tendências ideológicas opostas: a montagem narrativa e montagem como produção de sentido. A primeira, desenvolvida pelos norte-americanos Edwin Porter e David Griffith; e a segunda, desenvolvida pela escola soviética que possui grandes nomes como referência, como Sergei Eisenstein. Essas duas escolas foram responsáveis por revolucionar a montagem como uma forma de expressão cinematográfica e, depois disso, o cinema nunca foi o mesmo, o impacto que essas ideologias causaram no cinema se refletem até hoje na forma de montar/editar/produzir uma obra audiovisual. Anote isso Após a Revolução de 1917, os filmes de Griffith chegaram à União Soviética e tiveram uma aceitação extraordinária por parte do público, dos políticos, e sobretudo, dos novos cineastas. Embora os cineastas soviéticos estivessem profundamente influenciados por Griffith, estes também se preocupavam com a função dos seus filmes na Luta revolucionária. Nessa altura, o cinema da União Soviética não era considerado como simples entretenimento, mas um meio usado para ensinar a fazer propaganda política. Assim, os novos cineastas soviéticos tinham uma dupla missão: instruir as massas na história e na teoria dos seus movimentos políticos e, por outro lado, formar uma geração de jovens realizadores cinematográficos capazes de dar continuidade a esse processo. Fonte: (CANELAS, 2010, p. 5) – adaptado pela autora. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Caro acadêmico, conforme já demonstramos, por meio de vários exemplos, a montagem – ou edição – não pode ser vista apenas como um serviço técnico, em que o profissional ordena os planos em uma sequência, com o objetivo de apenas traduzir aquilo que está no roteiro. Antes, a montagem “traça uma ordem” e “dá sentido” a esses recortes de cenas, conforme afirma Santos (2011): [...] a montagem dos planos é governada por algo de natureza geral que rege a continuidade de uma imagem em relação à outra [...] o ordenamento das imagens é constituído de razoabilidade que a torna inteligível. Portanto, a montagem tem a natureza de um símbolo (SANTOS, 2011, p. 2). Para Jung, símbolo é [...] um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além de seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós (JUNG, 1977, p.20 apud SOARES, 2010, p. 3). Ao compreendermos o que é um símbolo e analisarmos sua relação com a montagem de uma obra audiovisual, podemos perceber que é na montagem que a construção da significação acontece. Existem muitos signos presentes em uma obra audiovisual: objetos cênicos, figurino, linguagem, personagens, cenário – signos que compõem a narrativa e constroem significados que irão ao encontro do espectador, gerando reflexões, identificações e questionamentos. Luis M. Sá Martino (2009, p.106 apud BONA, 2013, p. 4), define que semiótica ou semiologia, “é a ciência geral das linguagens, das relações entre os signos e os significados na construção dos sentidos”. Então, podemos compreender que o processo de edição, implica na construção de significados dentro de um filme. A edição é utilizada tanto para montar o processo da narrativa, ou contar a estória, quanto para gerar efeitos no público, conforme afirma Xavier (2003), ao falar que é por meio da montagem, ou seja, a combinação das imagens entre si, com a escolha dos planos é que se pode criar significados dentro da narrativa, que possivelmente não seriam possíveis de serem identificados nos trechos de forma isolada, mas em conjunto tornam-se evidentes. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES André Bazin, um dos principais críticos de cinema de todos os tempos, produziu diversas teorias acerca do cinema que podem tranquilamente ser utilizadas para qualquer obra audiovisual. Para ele, o cinema tinha grande capacidade de produzir discursos muito específicos. A construção de significados em uma obra audiovisual, também se dá pelas cores nela utilizadas e pela sonorização. A utilização certa das cores tem o poder de evocar sensaçõese emoções no público e ajudar a construir a narrativa por meio da imagem. Por exemplo, temos como conhecimento pré-concebido, que o fogo é vermelho e o gelo é azul (branco), dessa forma a cor laranja é uma cor quente, enquanto o azul, o cinza são cores frias. Quando trabalhamos com isso dentro de uma obra audiovisual conseguimos transmitir uma mensagem mais completa e específica para o público. Farina, Perez e Bastos (200, p. 84) definem que “a cor, é uma realidade sensorial, segundo os estudos da Psicologia, à qual não podemos fugir e que atua sobre a emotividade humana”. Dentro de uma obra audiovisual as cores têm o poder surpreendente de definir o gênero em que o filme está inserido, gerando significados que podem impactar de forma emocional a quem assiste. Pense nas propagandas de cerveja e lembre das cores que são utilizadas nos vídeos: geralmente o amarelo predomina, porque evoca o sol, o verão, o calor e a sede. Se formos pensar nas propagandas natalinas, perceberemos que as cores utilizadas são o vermelho, o verde e o dourado, pois são as cores que representam o Natal (Papai Noel, duendes, presentes). Seja no figurino, na composição cênica, nos efeitos visuais e até mesmo nos letterings, a cores predominantes serão essas. Conteúdos dramáticos tendem a trabalhar em sua maioria com paletas de cores mais frias, enquanto as comédias optam pelas cores quentes. Anote isso Na publicidade e na criação de logos e símbolos a função das cores possui o mesmo objetivo – transmitir uma informação subjetiva e emocional ao público, produzindo um envolvimento inconsciente com a narrativa do filme. Uma série de filmes que soube aplicar a teoria das cores na composição dramática da estória é “Harry Potter”, se olharmos bem, é possível perceber que conforme a saga avança, as cores vão se tornando cada vez mais frias, indicando o grau de dramaticidade e suspense que a estória reserva, assim FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES como acontece na sério “Game of Thrones”, em que a paleta de cores ajuda a compor a escuridão da própria narrativa. Para entender melhor isso, sugiro a visualização do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, 2001, de Jean-Pierre Jeunet; e do filme “O Grande Hotel Budapeste”, 2014, de Wes Anderson. São dois exemplos diferentes, mas que utilizam a cor como forma de interação visual. Vale a pena conferir. Fonte: elaborado pela autora. E por fim, quero destacar ainda a importância da música na construção de significados em uma obra audiovisual. Para que uma obra seja audiovisual é necessário que ela seja composta de áudio + vídeo, resultando assim em um material audiovisual. Dessa forma, o áudio é tão importante na obra quanto o vídeo. E é aí que entra a música, como elemento de construção de significado no material. Você consegue imaginar a cena de Titanic quando acontece o trágico acidente, sem a música tema ao fundo? A música tem o poder de nos transportar para outros lugares, de resgatar memórias e de ativar percepções sensoriais e emocionais. A música dentro de uma obra pode ser usada com o intuito de definir um personagem, ou marcar esse personagem; como abertura do programa, novela, série; como Background, que é quando é utilizada como fundo musical, dentre outras situações. Da mesma maneira que as cores têm o poder de ditar o gênero a que o filme pertence, se drama, comédia ou suspense, a música também tem esse poder. Se pensarmos em uma reportagem sobre educação infantil, qual tema musical utilizaríamos para a obra? Provavelmente, uma música lúdica, de criança, suave. No entanto, se o material que estamos produzindo trata sobre a história de criminosos que estão cumprindo pena em uma penitenciária de segurança máxima, com certeza não escolheremos uma trilha na mesma linha das crianças. Afinal, o objetivo é contextualizar emocionalmente o conteúdo por meio da música. Muitas vezes uma cena não consegue provocar a mesma reação emocional se estiver sem uma trilha ao fundo. Então, perceba quantos elementos podemos utilizar na hora construir significados por meio da edição. A escolha meticulosa das cores, das trilhas, dos efeitos são cruciais para atingir o objetivo de impactar a audiência e transmitir a mensagem de forma eficiente e eficaz, produzindo uma reação positiva no público. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Isto acontece na prática As agências de publicidade sabem muito bem como utilizar a música para influenciar as emoções do público consumidor. Um exemplo disso é o trabalho desenvolvido para o Grupo Boticário, intitulado “Natal O Boticário: a beleza de unir as pessoas”. Com quase nenhum diálogo, as imagens são embaladas pela trilha musical, que é um elemento essencial na composição do significado do vídeo. A trilha começa lenta e suave, e vai ganhando corpo e volume ao longo do desenvolvimento do filme, conforme as ações vão acontecendo. Um comercial que emociona e que não seria o mesmo sem a trilha musical. Você pode conferir o vídeo no link: https:// youtu.be/Tp0spvVbsiY Fonte: elaborado pela autora. https://youtu.be/Tp0spvVbsiY https://youtu.be/Tp0spvVbsiY FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 7 A IMPORTÂNCIA DA TEORIA CINEMATOGRÁFICA E SUAS TÉCNICAS EM QUALQUER OBRA AUDIOVISUAL Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/6476864177/dcb912d34e/ “O cinema é fotografia, mas fotografia elevada a uma unidade rítmica e que, em troca, tem o poder de gerar e ampliar nossos sonhos” (ANDREW, 1989). Luz, som, câmera... ação! Quando falamos de obras audiovisuais, não podemos jamais desconsiderar a importância e a relevância do cinema para a existência desses materiais. A teoria do cinema está intrinsicamente ligada àquilo que conhecemos hoje de produção de vídeo. As maiores inovações aconteceram no cinema: descoberta de planos e FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES enquadramentos, acerca da utilização do som e do silêncio como linguagem estética, estudos sobre iluminação, direção de atores, técnicas de montagem e edição etc, conforme afirma Côrtes: A linguagem audiovisual constrói continuamente suas características, transformando-se à medida que novas formas de captação e registro de sons e imagens vão sendo descobertos/criados (CORTES, H. S., 2003, p. 32 apud DURAN, 2010, p. 12) Entendemos que tudo aquilo que é testado no cinema e funciona, invariavelmente será utilizado no mundo do audiovisual. Você já deve ter visto campanhas publicitárias que utilizaram linguagem cinematográfica e foram premiadas. Até mesmo documentários e muitos tipos de reportagens especiais estão adotando essas linguagens, com o objetivo de melhorar a qualidade visual do material entregue ao público. Isto acontece na prática Para entendermos de que forma cinema e publicidade estão interligados, basta analisarmos o número de cineastas que migraram para a produção de vídeos publicitários e até mesmo o inverso: diretores que começaram na publicidade antes de se tornaram grandes cineastas. Gigantes como Ridley Scott, Ang Lee, Guy Ritchie, David Lynch e Martin Scorcese são alguns exemplos de cineastas que atuaram em grandes produções publicitárias. No Brasil não é diferente, Fernando Meirelles, Andrucha Waddington e Breno Silveira são nomes que fizeram o caminho inverso – assinaram grandes produções publicitárias antes de dirigirem longas famosos. Deixo para vocês algumas sugestões de conteúdo desses mestres: em 2009, para a Chanel nº 5, Jean-Pierre Jeunet produziu um belíssimo filme de quase 3 minutos. Vale muito a pena conferir (https://youtu.be/6ljQDJ4EILc). Em 2004, Michel Gondry se destacou em um trabalho paraa Levi’s, produzindo um filme com quase dois minutos, repleto de plano sequênciais em preto e branco e uma métrica impecável na edição (https://youtu.be/Uj6G1C6c0uw). Fonte: elaborado pela autora. https://youtu.be/6ljQDJ4EILc https://youtu.be/Uj6G1C6c0uw FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES O filme não existe, enquanto tal, senão no tempo em que é percebido, isto é, quando dirigido aos mecanismos psicofisiológicos de percepção do espectador acordado e atendo. O espectador corresponde, assim, ao lugar no qual o filme acontece e é, por isso, também considerado como algo que faz parte de seu dispositivo essencial (GRAÇA, 2006, p. 79). Foi graças a descoberta da fotografia que o cinema se estabeleceu como uma arte. A possibilidade de captar uma imagem em movimento foi o marco desta criação, afinal, o cinema nada mais é do que a captação de uma sequência de fotos, dentro de um segundo, que forma o movimento da imagem. Em materiais para a TV trabalhamos com a marcar de 30 frames por segundo, que significam 30 fotos do movimento em um segundo (figura 12). No cinema esse valor é de 24 frames por segundo. São fotografias projetadas em décimos de segundos que acabam gerando a sensação de movimento – cada foto é um frame. Isso era muito mais visível quando os filmes eram capturados em película. Figura 12: Filme sendo inspecionado Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/3531078906/a3fd633723/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES O conteúdo audiovisual tem o poder de mexer com a sensibilidade humana, ao levar o real para telona, para a telinha, para a palma da mão, como afirma Tomaim, ao comparar a fotografia e a pintura à arte da captura dos movimentos: Se a fotografia e a pintura já nos encantavam por capturar o movimento em um instante, o cinema nos fascinava por ser capaz de oferecer ao delírio de nossa sensibilidade o balançar dos arbustos pelo vento de outono, ou seja, se a invenção dos Lumière nos trouxe alguma novidade, esta foi o movimento das coisas (...). Assim, o movimento do cinema foi o responsável por instaurar definitivamente a ‘impressão de realidade’, que diante da tela ocorre por um fenômeno de participação, participação esta que é ao mesmo tempo afetiva e perceptiva (TOMAIM, 2006, p. 41). Por isso temos que entender de que forma a teoria do cinema influencia em todo o material audiovisual que produzimos hoje. O cinema mudo, o cinema sonoro, o cinema narrativo, os movimentos expressionistas, surrealistas, o cinema novo. Assim como no cinema, o objetivo de qualquer obra audiovisual é contar uma história, narrar um fato, informar. Algumas técnicas que fazem parte da teoria do cinema e são fundamentais em qualquer obra audiovisual são a iluminação, que destaca a expressividade do conteúdo e tem a capacidade de proporcionar uma dramaticidade mais ou menos intensa, fazendo o seu papel de impactar o público; a possibilidade de movimentação ou deslocamento da câmera, fazendo o papel do deslocamento dos olhos na cena, permitindo que a narrativa tenha uma forma mais leve e fluida, desaparecendo com as cenas engessadas do início do cinema, evoluindo as técnicas de movimentação de câmera (travelling, zoom, grua, dolly); o som, com captação não apenas de voz, mas de ambientação, efeitos sonoros, proporcionando ao telespectador impensáveis experiências sonoras e a cor que proporcionou a criação de uma nova estrutura fílmica dentro do audiovisual, considerando que até então, as películas eram monocromáticas – apesar de que no início deste processo, a inserção da cor era quase um processo artesanal, pois as películas era coloridas manualmente, frame a frame, utilizando paletas de pintura, como observa Duran: Na década de trinta, instaurou-se a película com sensibilidade cromática, emitindo a transposição das cores diretamente na película. Este fato ocorreu mais precisamente em 1935 nos Estados Unidos, primeiramente de forma bicromática, evoluindo posteriormente a tricromática, vindo a se consolidar de forma generalizada somente FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES na década de 50. A cor no cinema tinha como característica não só a representação mais realista do referente, mas principalmente, de agregar valor à esta produção, contribuindo para o seu processo de significação (DURAN, 2010, p. 34). Não falaremos sobre todas as teorias aqui porque para isso, seria necessário um livro inteiro. No entanto, quero abordar com você, caro acadêmico, dois teóricos que são de grande relevância para a nossa profissão. O primeiro é Hugo Munsterberg, teórico alemão, que em 1916 escreveu que o processo cinemático é um processo mental. Andrew (1989) cita que para Munsterberg, o cinema era um “arte da mente”, onde a mente seria a “fonte do cineasta e a substância dos filmes”. Pareceu óbvio a Munsterberg considerar todas as propriedades cinemáticas mentais. Além da qualidade básica do movimento, ele nota que primeiro planos e ângulos de câmera existem não apenas por causa das lentes e câmaras que os tornam tecnicamente possíveis, mas por causa do próprio modo de trabalho da mente, que ele rotula de “atenção”. A mente não apenas vive num mundo em movimento, ela organiza esse mundo através da propriedade da atenção. Do mesmo modo, o filme não é mero registro do movimento, mas um registro organizado do modo como a mente cria uma realidade significativa. A atenção opera no mundo da sensação e do movimento, como o ângulo, a composição e a profundidade focal são propriedades um degrau acima do mero registro de fotografias intermitentes (ANDREW, 1989, p. 16). Andrew ainda segue descrevendo que para Munsterberg, essa ilusão de movimento que temos sobre o filme, seria [...] complementada pela atenção seletiva obtida via ângulo, composição, tamanho da imagem e iluminação. Correspondendo à memória e à imaginação, estão os recursos naturais da montagem, que diminuem ou aumentam o tempo, criam ritmo e desvendam retrospectos ou cenas de sonho (ANDREW, Dudley, 1989, p. 17). Consegue perceber alguma relação com o que entendemos de material audiovisual nos dias de hoje? Ao pensar em qualquer obra como uma história a ser contada a fim de impactar o público e fazê-lo se envolver com a obra, não estamos falando de uma propriedade mental de manipulação? E esse trabalho de convencimento e pertencimento não é apenas do diretor, atores ou cinegrafistas, mas do editor, que FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES como Andrew afirma é capaz de por meio da montagem, ditar o ritmo da história, desvendar os fatos, revelar ou esconder informações. Quero citar ainda outro teórico alemão, o jornalista Siegfried Kracauer. Um dos “principais repórteres do mais importante jornal democrático da Alemanha” (ANDREW, 1989), seus trabalhos, segundo afirmação própria, se diferenciavam de todos os demais, pois sua obra de análise não consistia na parte estética ou artística do cinema, mas sim no conteúdo. O veículo cinema, na teoria de Kracauer, é uma mistura de assunto e tratamento do assunto, da matéria-prima e da técnica cinemáticas. Essa mistura é única no universo estético, pois em vez de criar um novo “mundo da arte” o veículo tende a voltar a seu material. Em vez de projetar um mundo abstrato ou imaginário, desce ao mundo material. As artes tradicionais existem para transformar a vida com seu modo especial, mas o cinema existe de modo mais profundo e mais essencial quando apresenta a vida como ela é. As outras artes exaurem seu assunto no processo criativo; o cinema tende, ao contrário, a expor seu assunto (ANDREW, 1989, p. 84). Para Kracauer, o objetivo do cinema seria registrara realidade por meio de técnicas cinemáticas, utilizando a fotografia, que segundo ele, faz parte da natureza do cinema, um não existe sem o outro. Na teoria de Karacauer, o cineasta deve “ser tanto realista, quanto formativo; pode tanto registrar quanto revelar; deve tanto deixar a realidade aparecer, quanto penetrar nela com suas técnicas” (ANDREW, 1989, p. 87). Os objetivos de um cineasta devem consistir em registrar a realidade, “através das propriedades básicas de seu instrumento”, bem como devem revelar essa realidade, por meio do “uso judicioso de todas as propriedades disponíveis ao veículo”. Simplificando tudo isso, Kracauer queria dizer que o papel do cineasta é mostrar a realidade por meio de sua própria visão, ou a sua interpretação da realidade. O cinema deveria ser realista. É claro que hoje não vemos o cinema dessa forma. Em sua predominância, o cinema é visto como uma arte, que tenta justamente fugir da realidade. No entanto, muitos conteúdos ainda trabalhar no sentido de transmitir uma realidade assim como ela é, independentemente da estética ou da arte, análogas ao cinema. Para ele, a trama precisa nascer da própria realidade e não cabe ao indivíduo iniciar uma trama. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Alguns exemplos de filmes que obedecem a essa teoria são Nanook, o esquimó e O homem de Arã; ambos de Robert Flaherty, exemplos do neorrealismo italiano. Suas histórias “nascem do local e da cultura filmados” (ANDREW, 1989). Anote isso Um filme que retrata bem essa questão da realidade é “Ladrões de Bicicleta”, (1948), de Vittorio de Sica, com produção de Sergio Leone, que retrata com perfeição a crise do pós-guerra na Itália. Na história, um trabalhador humilde, chamado Antonio Ricci luta de todas as formas para sustentar a família. Para poder comprar uma bicicleta para trabalhar, o protagonista opta por penhorar todas roupas de cama da casa, e para desespero de todos, a nova bicicleta é roubada, fazendo com que Antonio empreenda uma busca desesperada pela bicicleta dentro da cidade, tendo como companhia seu filho Bruno. A história é muito mais do que uma simples busca por uma bicicleta. Pobreza, preconceito, exclusão e desespero são alguns dos temas que você verá dentro filme, que foi feito em sua maioria por atores amadores, que acabaram dando um toque majestoso à história. Filme obrigatório! Fonte: elaborado pela autora. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 44 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 8 EDIÇÃO: PRODUÇÃO OU PÓS- PRODUÇÃO? Editor tem que saber funções de produção? Precisa sim. Conhecer as rotinas de produção facilita muito na hora de editar, principalmente se você estiver em uma agência, grupo empresarial ou televisão. Na maioria das vezes não será necessário “colocar a mão na massa” como produtor (embora existam situações em que isso pode acontecer), no entanto existem muitos ambientes de trabalho que não tem condições de ter uma equipe de produção completa, então é importante estar preparado. Um bom profissional de comunicação precisa entender um pouco de tudo o que acontece numa produção audiovisual. Não estou dizendo que ele precisa dominar todas as funções, até porque dentro do audiovisual, temos uma infinidade de funções, mas é conhecer cada uma delas e como funcionam. Isso ajuda no seu desenvolvimento profissional e abre portas no mercado de trabalho. Quando falamos em audiovisual, os prazos são sempre apertados. “Tempo é dinheiro”, já dizia Benjamin Franklin e isso nunca foi tão verdadeiro quanto o é em uma televisão. Prazos apertados, equipes reduzidas e verbas pequenas são algumas das “barreiras motivacionais” que você pode encontrar pelo caminho. Qualquer obra audiovisual, seja jornalística, de entretenimento, cinematográfica, publicitária, documental ou institucional, precisa seguir três etapas que garantirão a sua produção efetiva. São elas: pré-produção, produção e pós-produção. “O processo de produção consiste na operação de equipamentos físicos e digitais combinados para converter o roteiro escrito em um programa completo e pronto para ser distribuído” (MUSBERG, 2008, p. 31). Para que uma produção seja iniciada é necessário que haja primeiramente uma ideia: um tema, um conteúdo, um roteiro. A partir do momento que essa ideia é “comprada” e aceita, e o roteiro está pronto, entramos na pré-produção. É nessa etapa que serão discutidos e alinhados todos os processos que deverão acontecer dentro das filmagens. Definição de equipe, de locação, de equipamentos necessários para as filmagens é o planejamento da produção. São levantadas todas as necessidades é realizado o FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 45 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES orçamento, o briefing são discutidos todos os detalhes do filme e se necessário, são realizadas alterações no roteiro, de acordo com a definição do diretor, até que esteja completamente pronto para filmar. Anote isso O Briefing é um dos pontos mais importantes a serem desenvolvidos na pré- produção. Nele devem conter informações sobre o cliente, a linguagem a ser utilizada, tom e o estilo; o objetivo do vídeo, o público a ser atingido, quais suas características, onde será veiculado – é mídia interna ou externa? E também quais as referências que o cliente tem em mente para essa produção – isso ajuda na hora de criar, principalmente na edição. Trabalhar sem um briefing pode gerar muita dor de cabeça, retrabalhos e até mesmo rescisão do contrato, além de perdas financeiras e prejuízos à imagem da agência, ou da equipe de profissionais. A empresa Quadra Comunicação produziu um vídeo muito esclarecedor sobre a importância do briefing. Em formato animação e utilizando um tom de comédia, o vídeo entrega uma situação atípica em um restaurante que pode ser comparada a um cliente que pede um conteúdo sem briefing. Você pode assisti-lo por este link: https://www.youtube.com/watch?v=JycP5- Ua3Q8 Outras ações realizadas na pré-produção são: elaboração de cronograma de atividades (agenda de filmagens, prazo para entrega de edição, revisão e entrega final). É importante definir nesta etapa também, o número de revisões/refações a que o cliente terá direito sem que seja cobrado a mais por isso. Caso seja necessário, a atuação de um apresentador, de atores, figurantes, a seleção de elenco deverá acontecer nesta etapa também. Feito o planejamento é hora de partir para a ação. A etapa é de produção, e é onde a obra é filmada efetivamente, obedecendo aos prazos do cronograma e à agenda de filmagens – que já foram elaborados lá na pré-produção. Em uma televisão as coisas podem ser um pouco diferentes, pois é tudo mais rápido. De toda forma, as etapas acontecem da mesma maneira: pauta, agendamento de entrevista, confecção de cards (quando necessário), elaboração do formato do vídeo, https://www.youtube.com/watch?v=JycP5-Ua3Q8 https://www.youtube.com/watch?v=JycP5-Ua3Q8 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 46 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES tudo isso acontece na pré-produção. A produção é quando a equipe sai para gravar. Então, apesar de acontecerem atividades diferentes, as etapas são as mesmas. Finalizadas as filmagens, o material vai para a pós-produção. O responsável por essa etapa é o editor. O ideal, em televisão, é que esse material seja entregue ao editor já decupado. A decupagem, geralmente, é feita pelo assistente de produção, ou às vezes até mesmo pelo produtor ou repórter e consiste basicamente em dividir as cenas em planos e prever como cada plano se ligará ao outro. Do francês découpage, significa em sua origem, cortar, recortar. Em televisão, dizemos que o material precisa ser decupado para saber quais cenas serão usadas. Às vezes o editor recebeum material bruto sem informações de escolha de cena, duração, se precisa fazer recorte de sonora e acaba tendo que fazer essas escolhas sozinho, o que impacta no prazo de entrega do material finalizado. O ideal é que o produtor entregue o material previamente decupado para agilizar o trabalho do editor. Anote isso No cinema a decupagem tem um papel muito mais complexo, detalhado e significativo. Cada departamento faz a sua decupagem do roteiro de acordo com as suas necessidades, a fim de cumprir tudo o que foi acertado com o diretor do filme. O Diretor de Produção faz a decupagem técnica de produção, onde deve constar o total de cenas a serem filmadas de dia ou de noite, bem como o número de atores e figurantes e o número de locações. O roteiro técnico serve para indicar quais planos e enquadramentos serão utilizados em cada cena (isso é previsto em storyboard também, que não é obrigatório, mas ajuda muito). Vai servir como um guia de filmagem. O diretor de fotografia faz a decupagem do roteiro, informando que tipo de lente será usada em cada cena, equipamento e movimento de câmera; assim como o diretor de arte, que informará quais objetos de cena, figurino, maquiagem etc, serão utilizados cena a cena durante as filmagens, tudo detalhado para que o processo aconteça sem dificuldades e os erros sejam evitados. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 47 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Figura 13: Etapas da produção audiovisual Fonte: elaborado pela autora Com base em todas essas fases já apresentadas, podemos entender que o editor possui uma função de produção, quando ele precisa escolher aquilo que vai para o vídeo, aquilo que é notícia, aquilo que é relevante. O produtor já faz isso antes e durante a gravação. Mas quando o material chega bruto na mão do editor, ele faz essa escolha final, essa lapidação. Existem muitos editores que gostam de acompanhar a produção (gravação, montagem de cenário e às vezes até reunião com clientes), para ter uma visão melhor de como deverá ficar o produto final e muitas vezes até indicar ações que podem ser realizadas para aumentar a qualidade da obra. [...] suas escolhas estéticas são o aspecto mais importante da fase de pós-produção. Agora é preciso aplicar tudo o que você aprendeu sobre produção de televisão para identificar as tomadas mais impressionantes e sequenciá-las de modo que elas contenham sua história com clareza e impacto (ZETTL, 2017, p. 392). É na fase de pós-produção que também acontece a edição de efeitos visuais, computação gráfica e montagem de som. No cinema a mixagem de som e efeitos sonoros é realizada por um editor de som. Não é a mesma pessoa que faz a edição de imagens e de som. Da mesma maneira que também existe um editor responsável, ou uma equipe, apenas pelos efeitos visuais. Essa divisão em cinema é muito clara, precisa e respeitada. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 48 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Em televisão, a situação já é diferente. O editor precisa se preocupar tanto com a edição de imagens quanto de áudio, o que às vezes pode ser um problema, pois algumas correções de áudio podem ser incrivelmente difíceis de fazer. Em muitas situações, o editor precisará pedir uma regravação do vídeo para poder consertar o áudio, e em outras, poderá trabalhar com dublagem. Os desafios da pós-produção são muitos. E não é tão incomum haver situações em que o editor pedirá a regravação de algumas cenas ou até mesmo a gravação de novas cenas para melhorar a montagem. Muitas vezes, com o produto finalizado, o editor percebe que ainda falta alguma coisa, alguma imagem, alguma informação e pode solicitar ao produtor para fazer essas cenas. Claro que tudo isso depende de cronograma, disponibilidade de equipe e orçamento. Mas não é raro acontecer. Dessa forma, caro acadêmico, minha dica para você é conhecer bem todas as etapas da produção, cobrar o briefing e saber exatamente o que o cliente quer. Com essas informações e com o conhecimento das técnicas de edição, seu material tem tudo para ser um sucesso. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 49 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 9 EDIÇÃO, NARRATIVAS E STORYTELLING Cada vez mais, as narrativas estão se tornando a arte da construção de universos, à medida que os artistas criam ambientes atraentes que não podem ser completamente explorados ou esgotados em uma única obra, ou mesmo em uma única mídia (JENKINS, 2009, p. 157). Narrativa e storytelling na edição professora? É isso mesmo! Um bom editor precisa conhecer e dominar esses assuntos se quiser se destacar em um mercado de trabalho que está cada vez mais competitivo, desde que os tutoriais foram disponibilizados nas plataformas de vídeo online e agora estão acessíveis a todos. Em terra de cego, quem tem olho é rei. Narrativa, por definição, significa a ação ou efeito de narrar, relatar, de expor um fato, uma situação que pode ser real ou não ou um acontecimento, utilizando palavras, narrando. No caso da produção audiovisual, a narrativa acontece em sua predominância por meio das imagens. Lembra da frase que “uma imagem vale mais do que mil palavras”? Isso é muito verdadeiro quando falamos de obras audiovisuais. Por meio de planos, sequências, iluminações, enquadramentos dramaticidade e montagem, construímos a narrativa de um filme. Uma obra audiovisual é capaz de criar uma realidade por meio da construção de uma narrativa, utilizando movimentos de câmera, gerando no público uma identificação com esse conteúdo. Seja a obra realista ou ficcional, o fato é que o objetivo do diretor, produtos, editor, enfim, de toda a equipe envolvida na produção da obra, é que haja uma interação psicofisiológica do espectador com a obra, seja uma ilusão de pertencimento ou identificação com a realidade transmitida. Recursos de câmera, de planos, sons, iluminação, composição de cena e sequência dão significados distintos à narrativa fílmica, dependendo de como o diretor pensa a sequência. Assim como dois atores interpretam uma cena de modo diferente, “dois montadores ao utilizarem o mesmo trecho filmado, editam de maneira diferente, o que pode provocar emoções diversas e, até mesmo contraditórias FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 50 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES ou conferir à história um novo significado (CARRIÈRE, 1995, p. 31-32 apud TIMPONI, 2008, p. 5). Entendemos então que a narrativa está atrelada intimamente com o processo de contar uma história. Seja por palavras, por imagens, por sons. No entanto, é importante destacar que nem todo fato ou acontecimento é uma narrativa em si. Para que isso aconteça, precisamos colocá-la em um contexto, definir seus personagens, definir início, meio e fim, então, assim, obtemos uma narrativa, uma história. Entretanto, como estamos falando de obras audiovisuais, que podem ser vídeos institucionais, publicitários, curta-metragem, longa-metragem, documentário, reportagem etc é imprescindível que essa narrativa, ou essa história possua relevância. Com certeza você já deve ter visto algum vídeo “sem pé nem cabeça”, sabe aquele conteúdo que não faz a menor diferença na sua vida? Pode até ser que haja um acontecimento no vídeo, mas ele não possui relevância. Quando montamos uma narrativa, um storytelling, precisamos definir qual a relevância do conteúdo para termos o entendimento de como esse conteúdo irá atingir o público. Então, não basta apenas ter um início, meio e fim. Ele precisa ser contextualizado de tal maneira que o público se identifique com esse conteúdo e para fazer isso, será necessário utilizar técnicas de criação e montagem. Quem conta a história? Quem produz o vídeo. A lente da câmera é a maior contadora, afinal, ela capta todas as informações. Atua quase como uma“testemunha ocular”, que revela, esconde. No entanto, o editor é o responsável final pela contação dessa história. As pessoas hoje querem se surpreender. Então, não tem mais espaço para se manter na mesmice. É necessário organizar os elementos de tal forma que o conteúdo gere impacto no público A narrativa da história construída no filme reflete um processo complexo, que vai desde a composição do tema em diálogo com os saberes circulantes, passa pelas operações para viabilizar sua realização e culmina na conclusão do processo de filmagens e exibição [...] Ainda que primário, o conhecimento dos aspectos técnicos da filmagem (como: escolha, posicionamento e movimentos das câmeras, corte e montagem) permite ao espectador reconhecer significados na exibição da sequência. À medida que o filme transcorre, complementado pelos elementos externos à análise fílmica, esses significados são costurados, construindo o sentido narrativo (FERREIRA, 2018, p. 127). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 51 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Então, uma boa narrativa precisa contar a história certa, conhecer o público e focar nesse público para elaborar mensagens personalizadas que gerem impacto, utilizar o vocabulário correto, possuir um enredo provocativo, conter elementos gráficos – sejam eles animações, letterings, máscaras – que sejam capazes de emocionar entreter o público, envolvendo e persuadindo; e por fim, precisa personagens que promovam essa identificação, por meio da realidade que representam. Além é claro, que ter uma qualidade de vídeo, na captação das imagens, trabalhando com luz, cor, movimento de câmera etc. Isto acontece na prática Uma narrativa bem montada faz toda a diferença para uma marca. Você já deve ter visto algum comercial da Coca-cola e percebido como eles trabalham para transmitir uma mensagem que emociona, que inclui, que promove esse pertencimento do público. Mais do que vender o produto, eles procuram mexer com as emoções. Por exemplo, em uma de suas campanhas eles fizeram uma paródia do jogo GTA (Grand Theft Auto), que consiste em um jogo violento em que o protagonista é um criminoso que rouba, agride etc. No comercial ele entra em uma loja, compra uma coca-cola – e paga por ela! - e então o mundo se transforma, ele vira bonzinho. Ajuda as pessoas na rua, tudo se transforma. O link do vídeo é: https://youtu.be/x1_u23sIAtk . A Dove também é outro mestre nessa técnica. Em sua campanha “Dove Retratos da Real Beleza”, a ideia de pertencimento foi feita por meio das histórias que as personagens contaram, gerando uma identificação imediata com o público feminino. O objetivo da campanha era elevar a autoestima das mulheres, mostrando que a beleza vai muito além do que se pensa sobre si mesma. Um storytelling digno de prêmio. O vídeo está no link: https://youtu. be/Il0nz0LHbcM . Fonte: elaborada pela autora. No mercado da comunicação, essa arte de contar histórias tem sido tratada como Storytelling, do inglês story: história e Tell: contar, falar. O processo é o mesmo, mas é provável que você se depare com este termo nas agências, ou em grandes empresas. O storytelling tem sido muito usado em vídeos institucionais, teasers promo e campanhas publicitárias. Até mesmo em vídeo-aulas essa ferramenta vem ganhando espaço na exposição do conteúdo. https://youtu.be/x1_u23sIAtk https://youtu.be/Il0nz0LHbcM https://youtu.be/Il0nz0LHbcM FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 52 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Utilizado como ferramenta estratégica, tem seu lugar na captação de novos clientes, na fidelização dos velhos clientes e em lançamento de novos produtos. Dessa forma, é compreensível a necessidade que essa ferramenta tem de possuir um grande apelo emocional e visual. O conflito deve existir para que a jornada do herói aconteça. As narrativas podem ser lineares, alternadas, paralelas, em flashback, ou com múltiplos pontos de vista. Cada uma delas tem uma função e um objetivo. Uma narrativa linear conta uma história em sequência, sem elipses temporais, sem flashback ou flashforward. Muitos diretores optam por trabalhar com uma narrativa não-linear para aumentar a dramaticidade do filme e o ritmo da narrativa. Pulp Fiction é um exemplo de filme com narrativa não-linear. Palíndromo é outra referência de filme que possui ordem invertida e se formos pensar em uma ordem contraditória podemos citar Um cão andaluz; Corra, Lola, Corra, dentre outras inúmeras produções. Dentro do jornalismo a narrativa tem certa obrigação de narrar o real, o aqui e agora. Desde o advento do cinema sonoro, “surge a expectativa de que ele possa se colocar mais próximo do real”, Dalmonte (2010, p.222). [...] o cinema e a televisão, ao possibilitarem a inclusão do movimento na imagem, propiciam uma maior aproximação em relação ao real [...] O jornalismo, ao se apropria das novas tecnologias, inclui todas as expectativas quanto às possibilidades de ampliar as modalidades da narrativa no sentido da realidade (DALMONTE, 2010, p. 222). Diante disso, o jornalismo adotou algumas estratégias para dar credibilidade às suas narrativas: “ao vivo”, repórter dentro de cena no meio da ação, em tempos de quarentena, repórteres fazendo notícia utilizando o próprio celular para a captura das imagens. Vemos a todo o instante nesse tempo de isolamento social11, reportagens com alta carga dramática, em conteúdo, em imagens e em pós-produção. Então, a própria realidade interfere no processo das narrativas jornalísticas. Caro acadêmico, na hora de montar uma obra audiovisual, o diretor pode optar por uma narrativa ficcional, documental, dramática, intensa, de suspense, de terror. O que importa lembrar é que para essa narrativa alcance o seu público é necessário haver coesão em todos os processos, desde o roteiro, passando pela produção, montagem e finalização. 11 Isolamento social, decorrente da pandemia de Covid-19, iniciado na China em dezembro de 2019, que se espalhou pelo mundo em 2020. Nesse período o mundo entrou em quarentena. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 53 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Já falamos sobre feeling, que é uma característica imprescindível de um bom editor. Ao receber o material, tenha certeza de que compreende o objetivo do conteúdo e a quem é destinado. Essas informações devem estar muito claras na hora de montar/editar a obra audiovisual, a fim de que o seu trabalho como editor, se encaixe perfeitamente na proposta do conteúdo e assim, cumpra com o objetivo que é impactar o público. Anote isso É possível usar o storytelling para produzir vídeos institucionais. A ideia de que as ferramentas de uma boa narrativa só devem ser utilizadas em campanhas de marketing ou de publicidade está ultrapassada. Um institucional com uma boa narrativa empregada pode promover um engajamento social junto à marca, destacando-a no mercado e gerando envolvimento e fidelização de público interno e externo. Sugiro dois vídeos para que você entenda como é possível contar uma história institucional com um vídeo legal. O primeiro é da Dudalina, que sem palavra alguma, apenas com imagens e uma edição muito caprichada, aliada a uma ótima trilha musical, conta como são feitas as camisas da marca: https:// youtu.be/OPROGUm9QM4 . O segundo é do grupo O Boticário, que emociona com um institucional. Imagens em câmera-lenta, movimentos de câmera delicados e sutis, abuso de planos fechados e primeiros planos, fundos desfocados, uma trilha musical que toca o coração e uma montagem muito bem feita: https://youtu. be/0GLTPtz4pqs.Essas são as minhas dicas para você visualizar melhor tudo isso o que falamos neste capítulo. https://youtu.be/OPROGUm9QM4 https://youtu.be/OPROGUm9QM4 https://youtu.be/0GLTPtz4pqs https://youtu.be/0GLTPtz4pqs FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 54 CONCEITOSE EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 10 REPORTAGEM ESPECIAL X DOCUMENTÁRIO A programação televisiva é formada de diversos programas, com diferentes gêneros e formatos, de acordo com suas categorias. Por exemplo, posso citar aqui a categoria entretenimento, gênero auditório, formato entrevista. É um tipo de classificação, no qual subtende-se que o programa terá um auditório que poderá interagir com a apresentação e pelo menos dois ou três convidados que discutirão sobre determinado assunto, onde um deles será o responsável por elaborar as perguntas e conduzir o auditório em sua participação. Muita gente pensa que o gênero ou o formato de programa ou conteúdo são irrelevantes para o profissional da edição, no entanto, é justamente o contrário. O editor possui papel fundamental na construção audiovisual dessas características. Conforme já trabalhamos nos outros capítulos, vemos que o editor recebe o material bruto e desenvolve o vídeo, montando a história que será contada. Dentro do jornalismo existem diversos gêneros e formatos, então não vamos falar de todos, mas vamos nos ater a alguns para entender de que forma a edição auxilia no processo de construção desses gêneros. Identificar o gênero ajuda a reconhecer qual necessidade de composição: então qual a tecnologia de áudio a ser empregada? Efeitos visuais, animações são apenas alguns dos recursos, que o conhecimento do gênero permite identificar. Independente de ser um programa de informação ou de entretenimento, todo material deve gerar entretenimento. Quando falamos de entretenimento não estamos nos referindo somente à ideia de cantar, dançar, sorrir, mas sim, à ideia de ser envolvido pelo conteúdo. Então, mesmo que o produto seja um vídeo de informação, ele precisa de alguma forma entreter seu público, do contrário o espectador vai trocar de canal ou fechar o vídeo. A linguagem de televisão é formada por elementos técnicos de produção, visuais e persuasivos. No entanto, só é eficiente se houver a fusão de todos eles, sendo que, cada um deve ser trabalhado FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 55 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES individualmente e de forma intensa, independente do trabalho que esteja sendo realizado. Em televisão, como instrumento de comunicação, todos os elementos têm que transmitir uma informação previamente planejada. Não há espaço para um conteúdo incompleto ou vazio (PIRAGIS; PICHELLI, 2003, p. 3). Então, perceba, caro acadêmico, o quão importante é o papel do editor para poder montar a estrutura do conteúdo de informação. Posicionar a sonora correta no lugar certo, a passagem, alinhar os off’s às imagens ilustrativas, criar tabelas, animações, letterings; tudo isso é fundamental para que o vídeo possua um conteúdo crível, persuasivo. E como estamos falando sobre jornalismo vamos nos ater neste capítulo aos gêneros que compõem a categoria informação, como seguem: documentário, debate, entrevista e telejornal. Dentro do telejornal existem alguns formatos de vídeo utilizados em sua estrutura. Eles podem ser: nota (simples/coberta), stand-up e reportagem. Mas também temos o gênero documentário e eu quero me deter nesses dois gêneros hoje: telejornal e documentário. Nos últimos anos, a produção de reportagens especiais dentro dos telejornais tem crescido bastante. As reportagens especiais, geralmente, são bem mais longas do que reportagens tradicionais, podendo ser divididas em episódios, formando séries de 3 ou mais episódios que se complementam. As edições dessas reportagens costumam ser bem mais elaboradas também, pois são produções que possuem um tempo maior para elaboração e entrega, o que permite ao editor mais tempo dedicado na criação e edição da parte visual do conteúdo. Isto acontece na prática O prêmio Vladimir Herzog, tem o objetivo de reconhecer e estimular jornalistas que contribuem para a promoção dos Direitos Humanos e da Democracia. Possui mais de 40 edições e já reconheceu o trabalho de inúmeros jornalistas em nosso país, o que ajuda a divulgar o trabalho do profissional e a motivar tantas equipes que fazem notícia todos os dias em suas cidades. Fonte: http://premiovladimirherzog.org/o-premio/ Na categoria de Produção Jornalística em Multimídia, o trabalho premiado da 41ª edição (2019), foi de uma equipe de Recife/PE. Você pode visualizar a matéria pelo link: https://youtu.be/QRTkkOZdi_0 Outro incentivo é o Prêmio ABP de Jornalismo reconhece trabalhos que desmistificam aspectos que envolvem transtornos mentais. Em sua 6ª edição, https://youtu.be/QRTkkOZdi_0 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 56 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES já premiou grandes reportagens como, por exemplo, a reportagem “Crack: a invasão da droga no interior”, realizada pelo Jornal Estadão: https://youtu. be/IWQgOCEkfSM Sugiro a conferência dos dois materiais para visualizar as diferentes abordagens utilizadas na edição em cada uma. Fonte: https://www.abp.org.br/premio-abp-de-jornalismo Agora é importante que você entenda que há uma grande diferença entre reportagem especial e documentário/série documental. No entanto, a base do gênero é a mesma: notícia, informação. Independente da forma como é contada, a notícia deve ser a prioridade. O editor deve ser o responsável por fazer a imagem da notícia “brilhar” no vídeo. Fazer com que o telespectador “enxergue” a notícia. Muita gente confunde uma boa reportagem com um documentário o que é compreensível, afinal, ambos têm o objetivo de tratar a notícia com profundidade. No entanto, documentário é diferente de reportagem. Na reportagem a estrutura básica é composta de off, sonoras e passagem. O repórter conduz a matéria de forma mais subjetiva do que no documentário, como afirma Jean-Jacques Jespers, na obra Jornalismo Televisivo, segundo ele, o documentário “fala na primeira pessoa, confessa a sua subjetividade, enquanto a grande-reportagem ou o inquérito escondem esta subjetividade sob uma pretensão à universalidade” (JESPERS, 1998, p. 175). Na reportagem, a notícia tem a função de informar com a maior clareza e objetividade possível. As imagens, em sua maioria, possuem caráter ilustrativo, servem para enfatizar as informações obtidas pelas sonoras e pelo repórter e são cobertas por voz em off, que apenas explica o que está sendo mostrado no vídeo. Já em um documentário, não existe a obrigatoriedade do off. As imagens falam por si só, possuem próprio significado: Ao contrário do que habitualmente se vê na televisão, não é obrigatório que um texto em off faça parte de um documentário. Na reportagem, essa obrigatoriedade deriva da necessidade de se explicarem ou descreverem as imagens que se vêem. Pelo contrário, no documentário a imagem não é utilizada com fins meramente ilustrativos ou para confirmação do que é dito; a exploração do seu lado conotativo é o que de mais importante o documentário imprime nas imagens que utiliza. São elas o elemento essencial do documentário e que se sobrepõem ao que possa ser dito (PENAFRIA, 1999, p.23). Essa informação predominantemente imagética é resultante também da própria edição. No documentário, o tipo de montagem diferente pode haver um ou mais https://youtu.be/IWQgOCEkfSM https://youtu.be/IWQgOCEkfSM FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 57 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES repórteres interagindo e o conteúdo não tem a obrigação de ser engessado. Muito pelo contrário, existem muitos documentários – principalmente os produzidos na última década – que tem abusado de linguagem cinematográfica, tanto na produção e direção quanto em montagem. É certo que hoje muitas reportagens especiais têm trabalhado com simulações para retratar certos acontecimentos, mas existem documentários, que recriam as cenas do acontecimento de formatão real, que poderiam facilmente passar por filmes. Ken Dancyger em sua obra The Technique of Filme and Video Editing: History, Teory, and Practice descreve bem a diferença que há entre o vídeo documentário e os outros gêneros jornalísticos: Não há representações, apenas assuntos que o cineasta segue. O posicionamento da câmera tende a ser mais uma conveniência do que uma intenção, e a luz é trabalhada de forma a ser o mais discreta possível. Cineastas de documentários tendem a aderir à definição básica de uma documentário: um filme real com pessoas em situações reais, fazendo o que geralmente fazem. Consequentemente, o papel do diretor é mais o de um maestro em uma orquestra, do que o de um solista. Ele tenta capturar a essência do filme do trabalho com os demais da equipe – cinegrafistas, operador de som e editor. O filme documental é encontrado e ganha forma na edição (DANCYGER, 2011, p. 354 – TRADUÇÃO NOSSA). Para Dancyger, no documentário, o profissional da edição possui “função crucial e criativa”, afirmando que “Dados os objetivos do documentário, essa função dá ao editor mais liberdade para trabalhar do que ao editar um filme de ficção. No entanto, com a liberdade, vem a responsabilidade” (DANCYGER, 2011, p. 354 – TRADUÇÃO NOSSA). É importante ter em mente que a edição do documentário está muito mais relacionada à linguagem cinematográfica do que televisiva, dessa forma, o trabalho é muito mais criativo. Anote isso Você sabia que existem documentários que podem facilmente se passar por histórias que rodam nas telonas? As plataformas de Streaming têm investido muito nesse formato e ganhado muitos fãs. Muita gente que antes não gostava de documentários passou a ter novas visões acerca deste gênero da informação. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 58 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Nurses Who Kill é um exemplo. A série documental britânica retrata o dia a dia de enfermeiras que utilizam a profissão para matar pessoas. Making a Murderer é outra sugestão de série documental que podia muito bem estar no cinema. Nela, a equipe acompanha a história de um homem que esteve preso durante 18 anos por um crime que não cometeu. Após ser inocentado, acaba voltando para a cadeia por um novo crime. #ficaadica Fonte: elaborada pela autora FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 59 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 11 O EDITOR E A ÉTICA PROFISSIONAL A pluralidade midiática resultante das convergências digitais tem permitido o lançamento de diversos tipos de materiais nas redes, sem análise ou observância da ética na comunicação e da veracidade da origem do conteúdo. Imagens sem filtro, sem direitos autorais, sem respeito aos que nela estão são comuns hoje. E como fica essa questão dentro da profissão de editor? É claro que esta é uma questão pessoal. A linha que divide a falta de ética daquilo que é ilegal é muito tênue. Existem muitas situações que podem não ser éticas, mas estão dentro da lei, então como o profissional vai agir diante disso e produzir com eficiência e eficácia? O Código de Ética da Radiodifusão Brasileira foi criado em 1993 por empresários da ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), com o objetivo promover uma transmissão de “entretenimento sadio”, contendo “informações corretas”, e ainda levar conhecimento aos telespectadores de forma a melhorar a condição social desses, conforme está declarado na apresentação do documento: Os empresários da [...] ABERT, [...], declaram que tudo farão na execução de seus serviços [...], para transmitir apenas o entretenimento sadio e as informações corretas espelhando os valores espirituais e artísticos que contribuem para a formação da vida e do caráter do povo brasileiro, propondo-se sempre a trazer ao conhecimento do público os elementos positivos que possam contribuir para a melhoria das condições sociais (Código de Ética da Radiodifusão Brasileira, 1993, p. 1). O Art. 7º do Código de Ética determina que “Os programas transmitidos não advogarão discriminação de raças, credos e religiões, assim como o de qualquer grupo humano sobre o outro”. O Art. 10º segue dizendo que “A violência física ou psicológica só será apresentada dentro do contexto necessário ao desenvolvimento racional de uma trama consistente [...]”. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 60 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES O código ainda prevê a não exposição exacerbada de violência física, como agressões, mutilações, facadas etc; apologia ou exposição ao uso de drogas, bem como tratamento explícito de temas como estupro, sequestro, prostituição, dentre outros. É claro que com a evolução das leis e da própria tecnologia, algumas observações acabam ficando mais maleáveis. Hoje os temas são tratados com responsabilidade e maturidade. Um editor sabe que não deve deixar, por exemplo, um corpo mutilado totalmente visível em uma matéria, documentário, porque isso é considerado falta de ética e pode render processos da família do falecido, afinal, ele não pode se defender e também, é um tipo de imagem que não acrescenta, que ataca o telespectador, de uma forma ruim. Mas em filme se usa. Sim, mas é importante lembrar que os filmes possuem origem ficcional. A pessoa que aparece dilacerada no vídeo é apenas um personagem. Ela está recebendo para isso. Anote isso O autor Nelson Traquina conta em seu livro Teorias do Jornalismo (2005) que no fim do século 20, início do século 21, muitos jornalistas precisavam ter um segundo emprego, para completar a renda, pois os salários eram baixos. Alguns escreviam anúncios enquanto trabalhavam como repórteres. Para além desse efeito negativo, os baixos vencimentos levavam alguns jornalistas a aceitar subornos. Por exemplo, visto que os padrões éticos não estavam totalmente desenvolvidos, alguns jornalistas complementavam os seus rendimentos colocando nomes no meio das “notícias”, incluindo nomes de produtos e de políticos, a troco de uma retribuição monetária. Há jornalistas que contam “estórias” em que métodos “não-éticos”, mas considerados necessários na época para conseguir um furo, eram utilizados na coleta de informações. Por exemplo, havia a prática de esconder as testemunhas da polícia e da concorrência. Outra prática era o jornalismo de disfarce em que os jornalistas não hesitam em esconder a sua identidade como jornalista na busca de uma “estória”. Fonte: Traquina (2005a, p. 80) – adaptado pela autora. Quando estamos diante de qualquer tipo de material que ofereça algum tipo de ofensa ao público é bom pensar duas vezes antes de inserir no produto final. Conversar FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 61 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES com a equipe de produção, saber se existe autorização para a inserção da imagem, ponderar os prós e contras é sempre bom. A palavra ética tem sua origem no grego ethos que significa costume, modo de agir. Muita gente relaciona o conceito de ética à moral, o que é totalmente compreensível, uma vez que a moral tem em seu significado: costume, modo de agir, conduta; contudo é interessante pensarmos que a ética age como uma teoria sobre a moral seria no caso uma “ciência do comportamento” e o seu objetivo é “compreender como se dá a formação dos hábitos, dos costumes e até mesmo das regras e leis que regem uma determinada sociedade” (ALENCASTRO, 2010, p. 33). Isto está na rede Um espaço onde há muitas possibilidades de se esquecer da ética, da moral e dos bons costumes é em campanha política. Editores que montam vídeos caluniosos acerca dos adversários, utilizando fontes sem profundidade e orientados pelos seus superiores. Não é fácil. E o cinema aborda muito bem a questão da ética na comunicação. Alguns filmes deveriam ser obrigatórios para os profissionaisda comunicação. Assim, quero compartilhar dois filmes para pensar sobre a ética na comunicação. O primeiro é “Mera Coincidência”, 1997, de Barry Levinson e Robert de Niro no elenco. A história gira em torno de um candidato à presidência dos EUA, envolvido em um escândalo sexual a poucos dias da eleição. Para “limpar” sua imagem, um assessor contrata um produtor de Hollywood, a fim de que ele “invente” uma história que tire o foco do escândalo. O outro filme, obrigatório para todo e qualquer jornalista: “O Abutre”, 2014, de Dan Gilroy, com Jake Gyllenhaal no elenco, conta a história de um jovem desempregado começa a atuar como jornalista independende, retratando o submundo do crime, com conteúdo extremamente chocantes, vendendo a história para quem se interessar em publicar. Fonte: elaborada pela autora. Quando falamos de material audiovisual, há uma premissa de que quem trabalha com isso não agirá de má fé no desempenho de sua função. Dessa forma, as pessoas tendem a confiar com muito afinco em qualquer conteúdo que esteja na mídia, ainda mais se tiver algum “especialista” falando sobre o assunto. E tem muita gente que se aproveita disso para propagar informações falsas na rede e fomentar o caos. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 62 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES O Artigo 1º do Código de autorregulamentação Publicitária (1980), diz que “Todo anúncio deve ser respeitador e conformar-se às leis do país; deve, ainda, ser honesto e verdadeiro”. Se formos, então pensar no conceito de ética e nas regulamentações do audiovisual é importante ponderar algumas questões como: o material que eu estou produzindo possui uma fonte confiável? Existe a possibilidade de que este vídeo promova ou fomente algum tipo de ódio? Existe violência explícita no material? Existe exposição infantil desnecessária? O vídeo abre precedentes para crimes de ódio e/ou vingança? Esses são apenas alguns questionamentos importantes de se fazer antes de finalizar um material e entregá-lo à publicação. Não podemos esquecer, caro acadêmico, do tamanho do poder e da influência que as mídias possuem e que um material que possa ferir a ética, possivelmente terá muito mais repercussão do que aquele que não o faça. O problema dessa repercussão são as consequências que podem vir junto, que muitas vezes podem desencadear até problemas legais e acabar em um tribunal. Em uma palestra na 36ª Convenção Gaúcha de Supermercados – Expoagas 2017, o jornalista Serginho Groisman falou sobre a ética nos negócios e cabe a nós pensar sobre o assunto: “Ética é uma das principais questões da vida. Se você for ético, não vai ser desonesto e isso é o mais importante” (GROISMAN, 2017); o apresentador também falou acerca da busca incansável pela audiência em programas de TV e destacou que é importante que haja limites para esta busca, finalizando com uma provocação: “até onde você deve ir?”. Portanto, caro acadêmico, deixo essa provocação para você, mudando, contudo, uma palavra: até onde você pode ir? Sem deixar a ética e o respeito de lado? Que tipo de profissional você quer ser? FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 63 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 12 CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE, ÉTICA E LIBERDADE DE IMPRENSA “As notícias são o resultado de um processo de produção, definido como a percepção, seleção e transformação de uma matéria-prima (acontecimentos) num produto (as notícias)” (TRAQUINA, 1993, p. 169). Caro acadêmico, antes de nos desdobrarmos sobre o tema deste capítulo, precisamos primeiro entender do que se tratam e para que servem os conceitos que aqui abordaremos. Como definir o que é ou não notícia dos dias de hoje? Em um mundo onde tudo acontece com enorme rapidez e aquilo que aconteceu pela manhã já está obsoleto à noite, fica difícil decidir o que se deve ou não determinar aquilo que se deve noticiar. Você, provavelmente, já deve ter ouvido o termo “valor-notícia”. O valor-notícia é aquilo que caracteriza uma notícia como sendo importante, relevante, ou seja, é responder à seguinte pergunta: o que essa notícia tem de importante que deve ser publicada/ veiculada? Bourdieu (apud TRAQUINA, 2005b, p.77) destaca que “Os jornalistas têm os seus óculos particulares através dos quais vêem certas coisas e não outras, e vêem de uma certa maneira as coisas que vêem. Operam uma seleção e uma construção daquilo que é selecionado”. Entender e compreender o que são os critérios de noticiabilidade e o quão importante isso é para a comunicação junto à sociedade é responsabilidade do jornalista. É isso que o diferencia de qualquer outra pessoa que “produz conteúdo” sem entender e avaliar esses critérios. Sim, tudo o que existe pode ser notícia, mas nem tudo é noticiável. O que precisamos pensar como profissionais da comunicação é: disso tudo, o que é relevante para a sociedade? Afinal de contas, como produtores de informação, nosso trabalho é prestar um serviço à sociedade, oferecendo conteúdos que possuam fontes confiáveis e informações verificadas previamente, afinal de contas, não podemos compartilhar qualquer conteúdo sem antes analisar esses conceitos. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 64 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Então, os critérios de noticiabilidade podem ser entendidos como um conjunto de valores-notícia, que vão determinar se o acontecimento, o fato são noticiáveis ou não, ou seja, se podem ser transformados em uma matéria ou não, como descreve Nelson Traquina, sobre noticiabilidade: [...] o conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, possuir um valor como notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o conjunto de valores-notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo ‘valor-notícia’ (TRAQUINA, 2005b, p.63). Wolf (2006) define que [...] a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os aparatos de informação enfrentam a tarefa de escolher cotidianamente, de um número imprevisível e indefinido de acontecimentos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias (WOLF, 2006, p. 196). O Manual de Comunicação da SECOM (Secretaria Especial de Comunicação)12, indica alguns critérios que devem ser observados pelo “valor-notícia”, que consistem em: ser inédito, ser interessante, possuir apelo, possuir empatia e possui proximidade. Esses são alguns pontos que devem ser observados para categorizar uma notícia como sendo noticiável. Então, esses são critério de noticiabilidade. Anote isso O escritor Nelson Traquina, em sua obra Teorias do Jornalismo (Volume II), aponta outros elementos que atuam como valor-notícia, como a notabilidade que consiste na qualidade de uma notícia ser visível, tangível; o fator tempo, a notoriedade, a infração, o conflito, o escândalo (quem não lembra da “explosão” que foi a revelação do Mensalão e da Operação Lava-Jato na mídia brasileira?) e o inesperado, que é o acontecimento que irrompe e que surpreende 12 Órgão da Presidência do Brasil, responsável pela liberação de verbas e gerenciamento de contratos publicitários firmados pelos Governo Federal. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 65 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES a expectativa da comunidade jornalística. O inesperado é aquele mega- acontecimento, com enorme noticiabilidade que subverte a rotina e provoca um caos na sala de redação. Um exemplo de mega-acontecimento que impactou e chocou o mundo, foram os ataques de 11 de setembro de 2001, ao World Trade Center. Fonte: (TRAQUINA, 2005b, p. 84). Ser inédito significa que esse acontecimento é novo.Noticiar um acontecimento que ocorre com frequência deixa de ser inédito para ser comum. Ser provável, ou ser relevante, diz respeito ao impacto que essa notícia pode gerar na vida de quem a receberá, qual o tamanho da visibilidade desse acontecimento. Proximidade: de que forma o conteúdo da notícia se relaciona com o público. Por exemplo, de que adianta eu noticiar algo sobre a cultura alemã em uma região onde não existem alemães? Essa proximidade pode ser de nível cultural ou geográfico. Fontcuberta (apud FERNANDES, 2012, p. 6) esclarece que “a proximidade é um dos fatores mais poderosos na hora de eleger uma notícia”, dessa forma é importante ressaltar que essa proximidade não deve ser apenas de nível geográfico, mas “social e inclusive psicológica”. Lage (1987) afirma que “do ponto de vista da estrutura, a notícia se define no jornalismo moderno, como o relato de uma série de fatos, a partir do fato mais importante; e, de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante” (LAJE, 1987, p. 16). Um exemplo de notícia que atende a todos esses requisitos foi a cobertura da tragédia da Boate Kiss em Santa Maria/RS. Um trágico acidente que acabou com a vida de 242 pessoas. O acidente aconteceu no sábado. Na segunda-feira, praticamente todos os canais estavam com alguma transmissão ao vivo do local – seja da própria boate, com os seus destroços ao fundo ou do ginásio onde estavam sendo velados os corpos das vítimas do acidente, com diversos caixões enfileirados nas imagens. Depoimentos emocionados de pais, de mães, namoradas, que perderam pessoas a quem amavam. Empatia, proximidade, relevância, ineditismo, interesse, apelo. O tipo de notícia que impacta e envolve todo um país. Poderíamos citar diversas outras notícias que fazem esse apelo todos os dias. Mas é importante entender que a notícia faz parte do que a própria sociedade é. Então, a forma se tratar a notícia faz toda a diferença na recepção do seu conteúdo pelo público. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 66 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES E por que então a morte, como tragédia, funciona tão bem como notícia? Traquina esclarece que Onde há morte, há jornalista. A morte é um valor-notícia fundamental para esta comunidade interpretativa e uma razão que explica o negativismo do mundo jornalístico que é apresentado diariamente nas páginas do jornal ou nos écrans da televisão (TRAQUINA, 2005b, p. 79). Existem alguns autores que defendem que o interesse público deve ser um dos principais critérios de noticiabilidade. No entanto, em tempos de convergências digitais, o risco de ultrapassar os limites de ética e de liberdade de imprensa ao mostrar aquilo que é de interesse público é muito grande. Noticiar com respeito, com ética e observar os critérios de noticiabilidade é o que garante que o conteúdo veiculado na mídia possui idoneidade e credibilidade. No entanto, ainda hoje, muitos veículos definem aquilo que pode ser ou não noticiado de acordo com seus interesses políticos e/ou econômicos, o que muitas vezes pode levar ao descrédito do público com relação a determinado veículo de comunicação. Mas isso não pode ser uma barreira para você como jornalista procure ao máximo noticiar o relevante, o importante e o que configura um serviço de informação à sociedade. Então, voltamos à questão de noticiar mortes. Infelizmente, muitos veículos têm utilizado esse valor-notícia como fonte de sensacionalismo. Vídeos que expõem a vítima e a família, e acabam perdendo o foco da notícia, do acontecimento, deixando em foco o sensacionalismo, perdendo-se no sentido do fato. É aí que entra o grau da relevância: até que ponto é necessário mostrar um corpo no vídeo, ou até mesmo o exato momento de um acidente em que um carro capota e a vítima “voa fora do carro”. Isso é relevante para que o acontecimento seja noticiado? É relevante para o público como informação? Traquina destaca alguns pontos sobre o valor-notícia relevância, quando afirma que Este valor-notícia responde à preocupação de informar o público dos acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas. Este valor-notícia determina que a noticiabilidade tem a ver com a capacidade do acontecimento incidir ou ter impacto sobre as pessoas, sobre o país, sobre a nação (TRAQUINA, 2005b, p.80). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 67 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Isso está na rede Uma peça de teatro que estreou nos Estados Unidos em 1926, chamado “A Primeira Página”, posteriormente adaptado para o cinema, retrata a vida de um jornalista que é obrigado a cobrir a execução de um assassino, que será mandado para a forca. No entanto, o criminoso foge e acaba se escondendo justamente dentro da redação do jornal. Um filme que mostra como os jornalistas não hesitam em esconder o fugitivo da polícia, a fim de obter um furo jornalístico. Vale a pena assistir para entender um pouco sobre os valores-notícia, ética e critérios de noticiabilidade: Filme: A Primeira Página, de Billy Wilker,1975. Sugiro também o filme “A Montanha dos Sete Abutres”, também de Billy Wilker, 1952, que conta a história de um jornalista fracassado que vê em uma tragédia a chance da sua vida. Ao descobrir que um homem ficou preso em uma mina, atrasa o resgate, para que a vítima fique mais tempo na mina e assim, haja uma maior repercussão do acontecimento. Fonte: elaborado pela autora É sabido que o conflito, bem como a infração, é considerado também valores-notícia e são vistos como critérios de noticiabilidade. Que não gosta de ver deputados se “engalfinhando” em uma sessão do plenário? São imagens que atraem o público. A violência, conforme destaca Traquina (2005b), pode ser “física ou simbólica”, utilizando o exemplo de “uma disputa verbal entre líderes políticos”. Conforme o autor afirma, “a presença de violência física fornece mais noticiabilidade e ilustra de novo como os critérios de noticiabilidade muitas vezes exemplificam a importância da quebra do normal”. É preciso, no entanto, discernimento e cuidado. Em tempos onde todos possuem celular e “produzem conteúdo” a todo o momento, filtrar o que de fato é verdadeiro e pode ser utilizado, é importante, além de se ter o cuidado de não ultrapassar os limites da ética da liberdade de imprensa. Seja você um repórter, um cinegrafista ou editor. Você precisa compreender como funcionam esses critérios de noticiabilidade, pois o resultado da matéria passa pelas suas mãos. Escolher com cautela a imagem utilizada, destacar ou não cenas dentro da reportagem, manter ou cortar sonoras, faz parte do seu trabalho na composição final do conteúdo. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 68 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Lembre-se que é o seu nome que assina como editor de imagens nos créditos do material. Por isso, respeitar a notícia como informação e não como objeto de sensacionalismo é o que constitui um diferencial na profissão do jornalista. É essa compreensão que te diferencia daqueles com um celular na mão e uma opinião pessoal acerca de um acontecimento qualquer. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 69 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 13 EDIÇÃO LINEAR E NÃO LINEAR Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/3403746950/5234fdb737/ Para os nascidos próximos aos anos 2000 é muito provável que nunca tenham ouvido falar em qualquer tipo de edição que não seja aquela realizada em computador, utilizando softwares como Final Cut, Adobe Premiere etc. Contudo, como já comentamos neste livro, nem sempre a edição foi realizada em computadores. No princípio, era um processo manual, que foi evoluindo, até chegar aquilo que conhecemos hoje. No entanto, os processos de edição ainda podem ser divididos em linear e não linear. AEdição Linear consiste em um tipo de edição feito em linearidade, conforme o próprio nome sugere. É um processo bastante mecânico, que pode ser utilizar filmadoras, VCRs, controladoras de edição, tituladores e mixers para realizar os processos de edição. Nesse tipo de edição pode ser feito apenas um corte por vez, portanto também é conhecida como “edição de corte seco”. É necessário que haja uma organização e FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 70 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES planejamento do editor para saber exatamente o que precisa fazer. O roteiro de edição precisa estar muito bem elaborado e decupado para que o trabalho saia bem feito Na edição linear, o material é copiado de uma fita para outra, na sequência do material. Então, corte 1, corte 2, corte 3. Imagine uma matéria que possui 3 sonoras, uma passagem e uma sequência de imagens para cobrirem o off, além de uma trilha musical. Cada um desses itens será inserido um de cada vez, na ordem que devem aparecer no vídeo. É um processo bem complexo para quem está acostumado com a edição não-linear. Esse tipo de edição pode ser realizado em uma ilha composta de um ou mais videocassetes players (figura 15), um recorder (figura 14) e um edit controller (figura 16). Nos videocassetes players são colocadas as fitas que possuem o material bruto, que será montado. No Recorder coloca-se a fita que terá o produto final é uma fita em branco onde o conteúdo todo será montado. Essa fita se chama master, que é a fita que possui o material final. Utilizando o edit controller é possível controlar as duas máquinas e ajustar os pontos de inserção de vídeo, de cortes e de gravação. Apesar de alguns lugares ainda trabalharem com esse tipo de edição, o sistema linear já foi quase que em sua totalidade substituído pela edição não-linear, pois apresenta muitas desvantagens, como para ter o ponto certo de inserção, depende inteiramente do equipamento, o que é ruim quando falamos de equipamentos mecânicos, pois se o aparelho errar um pulso ou dois, a imagem já ficará com pulos e o resultado final não será satisfatório, podendo ter atraso nos frames do vídeo. No entanto, o sistema de edição linear, foi o primeiro a ser adotado no mercado e existem muitos profissionais ainda hoje que possuem grande experiência nesse tipo de edição. Apesar de suas desvantagens, sem dúvida é a forma Figura 14: Equipamento player e recorder – Sony UVW1400 (Betacam) Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/5447357829/827eea7294/ Figura 15: Equipamento player – Sony UVW1200 (Betacam) Fonte: https://visualhunt.com/f3/photo/5447958456/dbfde0ff2c/ https://visualhunt.com/f3/photo/5447958456/dbfde0ff2c/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 71 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES mais rápida de montar uma sequência quando se há pressa. Mas o mundo evoluiu e a tecnologia também e hoje o editor não precisa mais depender de um equipamento mecânico para editar seu material, afinal, hoje existe a edição não-linear. A edição não-linear permite que o editor insira, corte e altere a ordem do jeito que quiser. As imagens são digitalizadas, dessa forma não existe mais a necessidade de se capturar o conteúdo das fitas e cada take é um arquivo que roda direto no computador e pode ser manipulado no software de edição. Com a evolução dos softwares, hoje já é possível inclusive inserir efeitos no vídeo e pré-visualizar esses efeitos sem precisar renderizar o material inteiro. Dentro da edição não-linear pode-se inserir letterings, efeitos especiais, caracteres, fazer correção de cor, correção de áudio, aplicar filtros, sendo possível ao editor trabalhar com diversas timelines (figura 17), indicando a presença de múltiplas fontes de áudio e vídeo. Figura 17: Timeline edição Adobe Premiere Fonte: https://helpx.adobe.com/br/premiere-pro/how-to/what-is-premiere-pro-cc.html?playlist=/content/help/br/pt/ccx/v1/collection/product/premiere-pro/ segment/student/explevel/beginner/applaunch/orientation/collection.ccx.js Figura 16: Edit Controller Sony PVE500 Fonte: https://www.able2.com.au/product/sony-pve500-edit-controller/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 72 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Na edição não-linear é possível fazer alterações e modificações em tempo real, podendo conferi-las instantaneamente. A única desvantagem em relação à edição linear é o tempo de exportação. Enquanto na linear o produto já vai ficando pronto na fita a medida que os cortes são feitos e inseridos, na edição não-linear é necessário exportar o material utilizando o software de edição e se necessário, quando exibido em fita, matrizar o conteúdo em uma fita para exibição. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 73 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 14 FUNDAMENTOS DE VÍDEO Ao longo do nosso conteúdo já falamos sobre o início de tudo, as convergências digitais e as influências que a profissão de editor teve. Mas é preciso falar também sobre os fundamentos de vídeo, afinal, conhecer os detalhes técnico são tão importantes quanto saber editar efetivamente. Ao longo da minha experiência profissional já conheci editores que não sabem como exportar um material em alta qualidade. Assim como já vi profissionais que não sabem como devem ser as configurações de um vídeo para rodar em aplicativo de mensagens. Então, para que você não esteja dentro desse grupo, vamos falar de detalhes técnicos. Para começar, você sabe a diferença entre PAL, NTSC e SECAM? Vamos começar pelo sistema NTSC13 que consiste em um sistema analógico de televisão, criado nos Estados Unidos, em funcionamento desde 1941 em diversos países ao redor do mundo, que consiste em 525 linhas de resolução, das quais apenas 480 eram visíveis, com transmissão de 60 meios-frames por segundo, que equivale a quase 30 quadros por segundo, ou, 29,97 fps14. Seu aspecto 4:3 permitia até 16 milhões de cores diferentes, no entanto, acredito que nunca alguém conseguiu ver tantas cores assim em uma televisão analógica, afinal a qualidade das cores não era constante, mas para quem só via imagens em preto e branco, era algo incrível. Foi nesse sistema que surgiu o conceito de imagem entrelaçada, ou varredura entrelaçada (do inglês, progressive scan), porque como não havia uma largura de banda grande o suficiente para transmitir uma imagem completa com todas as linhas, 60 vezes por segundo, os engenheiros precisaram desenvolver um padrão em que esse processo era divido em dois tempos: primeiro eram desenhadas as linhas pares e depois as linhas ímpares e dessa forma, a varredura da imagem acabava entrelaçada (figura 18). 13 NTSC é abreviatura para National Television System Committee 14 FPS do inglês frame per second, ou quadros por segundo Figura 18: ilustração varredura entrelaçada Fonte: Professora (arquivo pessoal) FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 74 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Mas e qual a diferença desse sistema de transmissão para o PAL15? Pessoal, o sistema PAL, diferentemente do NTSC, foi desenvolvido na Europa e é o formato mais comum utilizado lá. A primeira transmissão utilizando esse formato aconteceu em 1967. Esse sistema possui melhor qualidade de imagem do que o NTSC, porque enquanto o sistema americano trabalha com uma varredura entrelaçada, com 480 linhas de resolução visíveis (525 no total), o sistema PAL apresenta 100 linhas a mais, no caso, 625 linhas. Em contrapartida, enquanto o NTSC trabalha com uma varredura de 29,97 frames por segundo, o formato PAL possui aproximadamente 25 frames por segundo, o que acaba deixando a imagem levemente tremida. Mas ainda possui uma qualidade superior. O Brasil adotou esse formato de transmissão analógica, tendo uma versãoprópria, o PAL-M, criado para ser compatível com a corrente utilizada no país, de 60Hz16. O sistema PAL tinha o objetivo de resolver o problema da oscilação e variação de cores que o NTSC apresentava. É claro que se formos analisar as imagens digitais dos tempos atuais, ambas as imagens terão qualidade inferior, no entanto, para a década de 60, isso era um grade avanço. Por fim, a França resolveu criar um sistema próprio, o qual foi chamado SECAM17, que também teve seu funcionamento iniciado em 1967, sendo igualmente analógico e em cores. O SECAM possui a mesma resolução de linhas que o PAL: 625, sendo 576 visíveis. A varredura é feita em aproximadamente 25 frames por segundo e o que muda é apenas com relação à transmissão da cor, que acontece sequencialmente, na seguinte ordem: vermelhos e amarelos em uma linha, azuis e amarelos na linha seguinte. Assim como o PAL, o objetivo do sistema SECAM, era justamente corrigir as falhas de cores do sistema NTSC. Hoje, quase todas as transmissões de audiovisual no país são HD. E o que isso significa? Bom, a imagem digital possui uma qualidade superior à analógica e isso é visível a olho nu. Hoje existe diversas opções de aparelhos com resoluções que podem chegar até a 4k – no entanto, o Brasil não produz conteúdo em 4k. Mas temos o HD (720p), o full-HD (1080p) e o Ultra-HD, que são televisões gigantes, com tantos pixels na tela que é praticamente impossível notar qualquer imperfeição na imagem. As imagens em 720p têm a vantagem de que, diferente daquelas em 480 ou 360, podem ser esticadas sem perder tanta qualidade. Imagens em 1080p, geralmente tem 15 PAL: Phase Alternating Line ou Linha de Fase Alternante 16 Na Europa, a corrente alternada era gerada em 50 ciclos/seg (50Hz). 17 SECAM: Séquentiel Couleur à Mémoire – cor sequencial com memória FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 75 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES o tamanho de 1080x1920 (altura x largura), com definição alta e qualidade superior às demais (figura 19). 14.1 Codecs, Container e dimensão Caro acadêmico, quando trabalhamos com vídeo é imprescindível conhecer as dimensões dos materiais (como já vimos na figura 19), mas ter uma boa noção de codec e containers também são é essencial. Vamos a definições para entendermos o que é cada um desses nomes. Codec diz respeito à qualidade e ao tamanho do vídeo. Pelo codec o equipamento codifica e decodifica a informação da imagem (coding/decoding), ou seja, como a informação do vídeo está organizada. Existem codecs para captura, edição, arquivo e delivery. O codec mais comum utilizado para vídeo no Brasil é o H264, é inclusive o codec sugerido e recomendado pelo Youtube. É difícil (para não dizer raro) um aparelho que não leia H264. No entanto, existem algumas emissoras que exigem que o material de publicidade entregue a elas seja exportado com um codec específico, que é o XDcam. O problema desse codec é que ele também é exclusivo dos aparelhos da marca Sony, então para poder trabalhar com essa qualidade é necessário ter um aparelho específico da Sony para exportar esse material O After Effetcs, software de edição e animação, utiliza o codec “Animation”. Existem também o MPEG-2, codec que está caindo em desuso e é mais utilizado em DVD. O software Final Cut da Apple, possui codec próprio, que é o Família PRORES; e também existe o DN X HD, que é utilizado em softwares da AVID. E o que é container? Container é a extensão do vídeo, saber quando tem o nome do vídeo.mov? Então, o “mov” é o container, ou a extensão do vídeo. No Brasil trabalhamos com “MOV”, “AVI”, “M2V” e “MP4”, sendo que a extensão mais comum e utilizada é a “MP4”, que também roda em qualquer aparelho. O “MOV” é mais comum nos softwares da APPLE, mas não é exclusivo. Figura 19: ilustração comparação resoluções Fonte: Professora (arquivo pessoal) FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 76 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES A extensão “AVI” é um pouco mais limitada. É mais comum para Windows e Adobe Premiere, no entanto, é limitado em relação a outras tecnologias e muitas vezes gera um arquivo muito grande e pesado e o M2V é comumente utilizado em DVDs. Por fim, temos a dimensão do vídeo, ou seja, que tamanho ele ocupa na tela. Para facilitar o entendimento, montei uma tabela que mostra como a dimensão dos vídeos pode ser usada em diferentes plataformas: Conhecer as plataformas, extensões e entender o que o cliente deseja é fundamental, tanto quanto dominar as ferramentas de edição. Estude, tenha domínio daquilo que você faz. Não faça do grupo que só conhece uma extensão, um tamanho, um software e não amplia seus horizontes. Conhecimento é sempre bem-vindo, ainda mais quando esse conhecimento abre portas para novos projetos, clientes e Jobs. Figura 20: ilustração dimensão de vídeo Fonte: elaborado pela autora (arquivo pessoal) FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 77 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 15 TÉCNICAS DE EDIÇÃO A edição de imagens é um processo essencial em qualquer obra audiovisual. Sem edição, não existe material finalizado. Ela pode ser simples ou complexa, mas ela deve existir. A edição dentro de uma televisão, por exemplo, é a garantia de que o material estará correto em sua exibição, de que não haverá falhas (erros de gravação, problemas técnicos etc). Dessa forma, entender como é o processo de edição é determinante para quem pensa em seguir por essa especialização. Editar é algo que demanda conhecimento técnico e artístico. O editor recebe uma sequência de gravações em estado bruto e precisa compilá-las, desmembrá-las e reorganizá-las em um produto final que faça sentido. Além disso, muitas vezes o editor vai precisar definir a necessidade ou não de inserção de elementos complementares no vídeo que ajudem na contextualização do material. Esses elementos podem ser animações, gráficos, motions, letterings, dentre outros. Trabalharemos neste capítulo com técnicas de edição não-linear. Existem diversos softwares no mercado para utilizar na edição. Procure aqueles que possuem boa referência no mercado e não se esqueça de que edição pesa no computador, então, uma boa máquina, com bastante memória e uma boa placa de vídeo, são essenciais para não ter problemas com travamentos, lentidão e até mesmo a perda dos projetos. Em um ambiente profissional o material passará por diversas etapas antes de chegar à edição, conforme já citamos: pré-produção, produção e pós-produção. Na etapa de pós-produção geralmente esse material já estará decupado, contudo, não é raro que muitas vezes esse papel caiba ao editor, dessa forma, é importante que o editor esteja ciente do prazo de entrega do material, para não haver atrasos. Com o material bruto em mãos e o roteiro de edição é a hora de criar. Existem alguns termos que são utilizados na edição e que é importante conhecer (figura 21). FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 78 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Figura 21: Glossário Fonte: elaborado pela autora Por razões de praticidade, a maioria das produções audiovisuais opta por não trabalhar com planos sequência, ou seja, gravar os assuntos em descontinuidade, para então, juntá-los todos na edição. Se perguntarmos a qualquer leigo o que faz um editor, provavelmente a resposta será: ele corta as imagens feias e deixa apenas as bonitas. Walter Murch passou por uma situação parecida em sua carreira. Um dia foi perguntado sobre o que fazia e ao responder que era editor, a reação do questionador foi: “Ah, edição, é quando se cortam os pedaços ruins”. Isso não deixa de ser uma verdade, afinal de contas, quando temos erros de gravações, problemas técnicos, falhas de captação, tudo isso pode ser considerado um pedaço ruim, que precisa ser cortado. No entanto,a ordem em que as imagens aparecerão, ou qual imagem deverá será excluída, é uma escolha muito pessoal do editor. Se colocarmos o mesmo material nas mãos de dois editores diferentes, teremos dois materiais diferentes, pois no final de tudo o editor acaba imprimindo sobre esse material um pouco da sua própria característica pessoal. É isso o que faz o trabalho de um editor ser tão peculiar, como afirma Murch: FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 79 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES [...]sabemos que a arma está carregada antes de Madame X entrar em seu carro ou só ficamos sabendo disso depois que ela está no carro? Cada escolha cria um sentido diferente para a cena. E ao proceder assim vamos empilhando uma diferença em cima da outra (MURCH, 2004, p. 25). Anote isso Os cortes devem ser utilizados sempre pensando na melhor forma de contar a história, ou seja, eles fazem parte da narrativa. Existem alguns diretores que possuem uma característica própria de filme. Nós assistimos ao filme e sabemos quem é o diretor. Contudo, o que muita gente não sabe é que muitos diretores trabalham sempre com o mesmo montador, justamente para não perder essa característica. Nomes como Martin Scorceses, Quentin Tarantino optaram por trabalhar com o mesmo editor em todos os seus filmes, o que faz com que seus trabalhos possuam características únicas. Thelma Schoonmaker foi a escolhida de Scorcese e Sally Menke, de Tarantino – trabalhou com ela até seu falecimento, editando todos os seus filmes. Procure assistir os filmes desses diretores e perceber as características de montagem em cada um. Será uma ótima experiência! Fonte: elaborado pela autora. Uma dica que é muito válida dentro da edição é: menos é mais. Um editor não é pago para cortar 24 horas. Ter um vídeo repleto de cortes, todo repicado não exemplifica uma boa edição. As pessoas reconhecem um material bem editado, quando ele possui fluidez e coerência. Quando os cortes são tão naturais que passam despercebidos. O editor é pago para “tomar decisões”, como afirma Murch. Mas, apesar de tudo isso é necessário cortar e como fazer isso corretamente? Walter Murch sugere “seis critérios” que todo editor deve observar em uma edição que definirão um bom corte: em primeiro lugar, no topo de lista, ele cita a emoção. O que você quer que o público sinta? Se você conseguir manter a emoção do público conforme o objetivo do material, então o primeiro critério já está atendido. Lembre-se que o que as pessoas guardarão do seu filme foi a forma como se sentiram depois de assisti-lo, ou seja, de que forma esse material impactou e mexeu com as suas emoções. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 80 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Os demais critérios são: enredo, ritmo, alvo de imagem, plano bidimensional da tela e espaço tridimensional da ação. Para Murch: O corte ideal[...] 1) reflete a emoção do momento; 2) faz o enredo avançar; 3) acontece no momento “certo”, dá ritmo; 4) respeita o que podemos chamar de “alvo de imagem” (eye trace) – a preocupação com o foco de interesse do espectador e sua movimentação dentro do quadro; 5) respeita a “planaridade” – a gramática das três dimensões transpostas para duas pela fotografia (a questão da linha de eixo, stageline etc); e 6) respeita a continuidade tridimensional do próprio espaço (onde as pessoas estão na sala e em relação umas com as outras) (MURCH, 2004, p. 28-29). E já que estamos falando de corte, quero trabalhar com vocês algumas ténicas muito úteis na edição: standard cut; jump cut, montage; wipe; fade in; fade out; j cut; L cut, cross cutting e cutting on action. O Standard Cut (corte padrão) é corte comum, aquele que acontece ao final de uma cena para emendar em outra. Chamado também de corte seco. Muito utilizado em matérias do estilo Stand Up e em programas ao vivo. Ele junta dois clipes, conectando o frame de um ao frame do outro. O Jump Cut (corte de salto) é um corte brusco no meio da cena. Geralmente utilizado quando se muda de assunto e deixa claro que houve uma mudança temporal no vídeo. Tem a intenção de produzir um salto temporal. A técnica de Montagem, geralmente é utilizada quando existe uma transformação e uma passagem de tempo e, geralmente, é acompanhado de música. Utilizam-se cortes rápidos e métricos que ajudam a mostrar essa passagem de tempo e também a contextualiza na narrativa. O wipe está em desuso. Na verdade é mais utilizado hoje em filmes de comédia para trazer uma linguagem cômica. O seu uso foi muito frequente na década de 90 até os anos 2000e consiste em “varrer” uma cena para fora do vídeo com outra cena. Um filme que trabalhou bastante com essa técnica é o filme “Hulk”, de 2003, do diretor Ang Lee. As transições Fade In e Fade Out servem para dar fluidez no início ou final das cenas. São muito utilizadas também entre frames. O Fade In atua como um esmaecimento da imagem – a imagem surge de uma tela escura – e o fade out faz o contrário, a imagem desaparece no black (tela escura). Muito utilizada para dar a impressão de passagem de tempo (dia para noite ou vice-versa) ou de lugar. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 81 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES J Cut e L Cut são técnicas de corte muito utilizadas no audiovisual. O corte J é utilizado quando o editor quer antecipar o som da próxima cena, contudo, mantendo as imagens da cena atual, ou seja, o áudio do clipe B entra sobre a imagem do clipe A. No corte L o que acontece é o inverso. A imagem do clipe B entra enquanto o áudio do clipe A ainda está tocando. Imagina um diálogo dentro de uma casa. Duas pessoas estão conversando e corta para as imagens de um acampamento, contudo o som do diálogo continua, terminando em cima da imagem do acampamento. O cross cutting é aquele tipo de edição que trabalha com os cortes transitando entre cenas que acontecem em diferentes lugares. Por exemplo, um herói indo salvar a mocinha, e paralelamente a mocinha sendo judiada pelos opressores. As cenas são alternadas no corte para mostrar que estão acontecendo no mesmo instante que são ações simultâneas, mesmo que em locações distintas. E por fim, temos o cutting action, que é uma técnica muito utilizada em cenas de lutas e serve para dar ritmo e dinamicidade para a cena. Ela acontece no ponto de ação. O personagem começa a ação em um enquadramento e termina em outro. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 82 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES AULA 16 SOFTWARES, REQUISITOS E TIPOS DE VÍDEOS Caro acadêmico, chegamos ao último capítulo do nosso livro. Completamos uma jornada de conhecimento onde aprendemos sobre a história da edição, falamos sobre o perfil de um bom editor, vimos dicas e agora precisamos falar sobre um pouco de técnica, afinal, de nada adianta saber todos os conceitos se não souber como colocá- los em prática. Este capítulo não tem o objetivo de ser um tutorial de edição de imagens, no entanto, sua intenção é elencar alguns dos principais termos técnicos que você ouvirá em sua jornada, algumas nomenclaturas e indicar alguns softwares para utilização. A primeira questão que precisamos resolver é: editor é quem edita, utilizando um software ou programa de edição. Editar consiste em uma ação, não podendo ser realizado somente pelo programa. Então, vamos aprender a identificar corretamente as ações: profissional de edição é o editor que realiza as edições em um programa ou software de edição. Existem diversos softwares no mercado e nosso intuito não é vender marcas ou produtos, dessa forma não vou abordar nomes e patentes, no entanto, quero destacar algumas características que devem ser observadas quando da escolha de um software para esse tipo de trabalho. Um requisito principal é um bom computador, com um processadorbom – quanto maior a velocidade de processamento, maior será o seu desempenho na edição de vídeos. A memória RAM é outro elemento que precisa ser observado. Não pense que um notebook simples terá os requisitos mínimos para que um programa de edição funcione com bom desempenho na máquina. O mínimo que se pede são 8 gigas de RAM, no entanto, o ideal é que esse número seja maior, pelo menos 16GB. Outro ponto fundamental é o monitor. Muitas vezes um monitor mal calibrado ou muito básico acaba deixando passar detalhes de cor, de luz que podem ser vistos com mais detalhes em monitores de boa qualidade. O ideal é que eles possuam no mínimo uma resolução HD, é claro o ideal é que seja um monitor 4K, mas um HD já ajuda. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 83 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Os riscos de se utilizar uma máquina ruim para edição incluem retrabalhos, perda na qualidade do material e perda de tempo – pois o tempo para exportar o produto será bem maior. Existem diversos formatos de vídeos que podem ser produzidos de acordo com a necessidade do cliente. São eles: Vinhetas (VH ou VHT), geralmente são utilizadas como uma introdução de algum material audiovisual – um programa de TV, um debate, um vídeo para redes sociais, um quadro de algum programa ou abertura de séries. Elas identificam o material, então, possuem a identidade de todo o conteúdo, dessa forma, é ideal que cor, trilha e fonte “conversem” com o restante do programa, para que haja uma linguagem única, ao assistir a vinheta o espectador já sabe qual a linha que o programa vai seguir. Teaser, do inglês, remete à “provocação”. É um vídeo bem curto que tem como objetivo divulgar uma prévia de algum conteúdo. Deve ser menor que um Trailer e, geralmente, não passa muita informação. O objetivo é gerar um suspense acerca do conteúdo que será lançado. É gerar uma curiosidade sem, contudo, entregar o resultado. Tem entre 30 e 60 segundos. Isto acontece na prática Todos os anos, nos Estados Unidos, acontece o Super Bowl, que é o jogo final da National Football League (NFL), sendo este o principal evento esportivo do país, atraindo a atenção de milhares de pessoas para a televisão. Dessa forma, grandes empresas investem muito caro, para veicularem suas melhores propagandas na transmissão do evento. Estúdios também aproveitam para lançar os Trailers de novas produções no jogo. Essa ação é tão importante que as empresas promovem Teasers dos comerciais que serão exibidos na transmissão do jogo. Só para você ter uma ideia, no Super Bowl de 2020, trailer de grandes filmes foram lançados durante a transmissão, como o live action da Disney, “Mulan” e o longa da Marvel “Viúva Negra”. Trailer, muito parecido com o Teaser, também tem o objetivo de provocar a curiosidade do público e gera uma expectativa, contudo, geralmente conta com mais detalhes do produto (filme) e entrega mais informações do que o Teaser. Geralmente, tem uma duração de até 2 minutos e 30 segundos, podendo ser um pouco maior. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 84 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES Tutoriais são formatos de vídeos mais recentes, apenas de já existirem na época das fitas VHS, se multiplicaram com o grande crescimento das plataformas de vídeos online. Possuem um conteúdo informativo, de ensino, pode ser prático ou apenas teórico, e geralmente seguem um formato de edição bem dinâmico, podendo ter imagens de práticas para ilustrar o conteúdo. Pode seguir um formato de videoaula também, podendo inclusive ser um vídeo totalmente animado, sem apresentador físico. Novelinha é um tipo de vídeo que serve para ilustrar alguma situação. Pode possuir narração ou diálogo. É como uma simulação, mas as simulações são mais utilizadas em propostas jornalísticas. A novelinha é muito utilizado em jogos para orquestrar cenas de ações e/ou relacionamentos entre os personagens, em vídeo aulas com o objetivo de gerar desafios, games etc. Geralmente, são bem curtas e não há necessidade de se utilizar atores profissionais. Anote isso Com o aumento da demanda por aulas no formato EAD, a necessidade de gente que sabe produzir e editar vídeos no formato tutorial e novelinha tem aumentado muito. São formatos de vídeos que vem sendo largamente utilizados com recurso pedagógico não somente em instituições de ensino superior, mas em ensino fundamental e cursos técnicos, constituindo uma boa oportunidade de trabalho no mercado profissional. Fonte: elaborado pela autora. O curta-metragem já possui linguagem cinematográfica que obedece aos mesmos processos de pré-produção, produção e pós-produção de um longa. Roteiros técnicos, decupagens das áreas etc. É um filme, com duração de até 30 minutos. A partir disso, o filme já é considerado um média-metragem. Por definição, um média-metragem tem sua duração estimada entre 30 e 69 minutos. Uma produção que possua duração superior a 70 minutos já deve ser considerada um longa-metragem. Video case é outro formato de vídeo que vem sendo muito utilizado nos últimos anos. Muitas empresas optam por trabalhar com esse formato de vídeo, por ser mais descontraído, mais humano, permitindo assim uma maior identificação do público FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 85 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES com o conteúdo. Ao invés de fazer um vídeo institucional tradicional, escolhem um vídeo case que utiliza a técnica de storytelling para contar suas histórias de sucesso. Temos também o Making-of. Esse formato tem sido bastante utilizado para fomentar o engajamento do público, ao mostrar os bastidores do trabalho. O making of é o “por trás das câmeras”, aquilo que ninguém vê. Geralmente, é utilizado para mostrar os bastidores da própria gravação. A intenção é humanizar a produção e aproximar o público. Geralmente, possui uma edição diferenciada para separar da produção oficial e acaba despertando uma curiosidade do público com relação à produção do material. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 86 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES CONCLUSÃO E assim, chegamos ao final desta jornada! Não espero que a partir deste livro você tenha se tornado um expert em edição de imagens, mas que o conteúdo aqui desenvolvido tenha aberto os seus olhos para novos horizontes e novas possibilidades dentro da sua profissão. Hoje o mundo carece de bons jornalistas. Existem diversas pessoas que acreditam fazer conteúdo e existem aquelas que realmente sabem produzir um bom conteúdo, gerar informação e entregar uma notícia que gera impacto, resposta e engajamento em seu público. Espero que você se encaixe no segundo perfil de profissionais. O objetivo deste livro foi trabalhar as várias faces da edição dentro do audiovisual, mostrar que um editor pode ir além de uma redação e trabalhar com vários formatos de vídeo, de vários gêneros e por meio do seu trabalho, deixar a sua marca na profissão. Mas é importante destacar que todo editor é, acima de qualquer coisa, um contador de histórias, de significados e sentidos. O editor trabalha com os sentidos e as emoções arrisco dizer que o editor é quase como a “cereja do bolo”. Precisamos de novos profissionais, de gente criativa, dedicada e proativa. Jornalistas apaixonados pela profissão que não se deixam abater pelas censuras, mas agem com ética e profissionalismo, produzindo e gerando informação todos os dias. É isso o que eu espero de você. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 87 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES ELEMENTOS COMPLEMENTARES LIVRO Título: Num Piscar de Olhos Autor: Walter Murch Editora: Jorge Zahar Sinopse: Leitura obrigatória para todo editor de imagens. Sob a ótica e experiência do renomado editor de cinema Walter Murch é possível acompanhara análise entre corte, continuidade e descontinuidade, em resposta à pergunta inicial do livro “Por que os cortes funcionam?”. O livro oferece dicas práticas para todos os profissionais envolvidos na edição de uma obra audiovisual. Com um tom provocador, o livro é repleto de pontuações e observações inesperadas, tendo como objetos de análise, muitos de seus próprios trabalhos. LIVRO Título: O Sentido do Fime Autor: Sergei Eisenstein Editora: Zahar Sinopse: Sergei Mikhailovitch Eisenstein foi um dos maiores cineastas do século XX, se destacando, sobretudo na sua mestria com a técnica de montagem. O livro O Sentido do Filme coloca a montagem como centro do cinema soviético daquela época. Procurando demonstrar que a montagem é uma propriedade orgânica de todas as artes, esse livro investiga a relação entre palavra e imagem; a sincronização dos sentidos; as cores e seus significados; e FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 88 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES a correspondência entre forma e conteúdo. O volume traz ainda uma filmografia do cineasta, sugestões de leitura e índice remissivo. FILME Título: Cidadão Kane Ano: 1941 Sinopse: Lançado em 1941, o filme norte-americano, foi dirigido por Orson Welles, tendo sido o primeiro dirigido pelo também ator e roteirista – que no ano seguinte, levou o Oscar de melhor roteiro com o longa-metragem. Com técnicas narrativas e diferenciados enquadramentos fotográficos, o filme trouxe inovações à cinematografia da época, fato que o elevou, mais tarde, a ser considerado o melhor filme de todos os tempos, segundo a crítica especializada, chegando, inclusive, a figurar em primeiro lugar na lista do American Film Institute (AFI). FILME Título: Moonlight: Sob a Luz do Luar Ano: 2016 Sinopse: Dirigirdo Barry Jenkins, com montagem de Joi McMillon e Nat Sanders, o filme recebeu, dentre outros prêmios, o Oscar de melhor montagem, na premiação dos destaques de 2017. Joi foi a primeira editora negra a ser indicada à premiação. A maioria dos críticos concorda que Moonlight não chegaria onde chegou se não fosse o trabalho de seus montadores, responsáveis por cenas emblemáticas como a do jantar, incluída em seu terceiro ato. O filme narra três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 89 CONCEITOS E EDIÇÃO DE IMAGEM DIGITAL PROFª. ESP. SILVIA HELOISE MASTELARO ARTIGAS RODRIGUES REFERÊNCIAS ANDREW, J. Dudley. As principais teorias do cinema, uma introdução. Tradução de Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Zahar, 1989. BETTON, Gerard. Estética do Cinema. Tradução de Marina Appenzeller. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987. CANELAS, Carlos. Os Fundamentos Históricos e Teóricos da Montagem Cinematográfica: os contributos da escola norte-americana e da escola soviética. Instituto Politécnico da Guarda, Lisboa, 2011. Disponível em: http:// www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-canelas-cinema.pdf. Acesso em: 28 abr. de2020. CECIM, Arthur Martins. Baumgarten, Kant e a teoria do belo: conhecimento das belas coisas ou belo pensamento? Revista Paralaxe, Belém, PA – UFPA, v. 2, n. 1, 2014. 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