Prévia do material em texto
© Dejan Gráfica e Editora - 2019 PRODUÇÃO GRÁFICA Dejan Gráfica e Editora CAPA/PROJETO GRÁFICO Sanzio Mendonça Henriques CORREÇÃO DE PORTUGUÊS Maria das Graças Gonçalves Pinho Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do editor. NOTA AO LEITOR A comissão Organizadora avaliou o mérito e relevância acadêmica dos trabalhos, sendo a correção orto- gráfica e gramatical de inteira responsabilidade dos autores. Dejan Gráfica e Editora Avenida Cula Mangabeira, 103 -Lj 02 Centro - Montes Claros/MG - CEP: 39401-001 Catalogação na fonte: Angélica Renata de Castro – CRB6/2746 Bibliotecária Documentalista M489 Medicina ambulatorial VI: com ênfase em medicina do trabalho / organizadores Tatiliana Bacelar Kashiwabara, et al. - Montes Claros: Dejan Gráfica e Editora , 2019. 462 p. ; 14 x 21 cm. Vários organizadores ISBN: 978-86-62090-19-6 1. Clínica médica – Atenção primária. 2. Medicina do trabalho. I. Kashiwabara, Tatiliana Bacelar. II. Título. CDD 616.07 Organizadores: Tatiliana Bacelar Kashiwabara Lamara Laguardia Valente Rocha Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima Ester Viana Carvalho Nelson Barros Ysadora Mayume Bacelar Kashiwabara Yutaka Bacelar Kashiwabara Yoriko Bacelar Kashiwabara Ludmila Messias Rocha Kashiwabara 5 APRESENTAÇÃO Em primeiro lugar, uma palavra a enaltecer os autores, estu-dantes e professores, por este excelente trabalho de divul-gação de ciência e conhecimento, em particular num tema tão relevante quanto o da saúde ocupacional e da medicina do trabalho. O impacto dos determinantes ambientais associados à atividade la- boral na saúde do trabalhador pode ser particularmente grave, quan- do não se promovem condições capazes de garantir níveis mínimos de prevenção da doença e acidentes no local de trabalho. Quando a prevenção falha, o diagnóstico é fundamental, não só na procura da solução que minimize o sofrimento ou a incapacidade do trabalhador afetado, como também na identificação do determi- nante ambiental ou comportamental responsável pela situação, o que torna o papel da medicina do trabalho crucial neste contexto. A saúde ambiental desempenha, enquanto área científica responsá- vel pela pesquisa da influência dos determinantes ambientais na saú- de humana, um papel fundamental na área da saúde ocupacional e da medicina do trabalho. É com muita honra que faço apresentação da 6º Edição do livro Me- dicina Ambulatorial com ênfase em medicina do trabalho onde, de forma prática, mas bem direcionada e aprofundada, são tocados di- versos temas importantes para a saúde e risco ocupacional, desde a legislação aplicável, até à prevenção, passando pelos análise e apre- sentação de estudos de revisão de algumas patologias relevantes na área da saúde ocupacional. Nelson Barros, PhD, MSc Professor Associado da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa (UFP), Porto - Portugal - Coordenador do Programa de Doutoramento em Ecologia e Saúde Am- biental Membro da equipe de coordenação da Licenciatura em Gestão da Qualidade, Ambiente e Segurança Membro do FP ENAS - Unidade de Investigação UFP em Energia, Ambiente e Saúde Ambiental - Coordenador do Grupo de Investigação 3ERL 7 PREFÁCIO Medicina Ambulatorial VI, com ênfase em medicina do trabalho (6ª edição), é, além do mais, um manual di-dático de ensino e de aprendizagem sobre patogenias provocadas ou associadas ao trabalho humano, na forma como o conhecemos, após a revolução industrial, iniciada no séc. XVIII e fortemente acelerada pelo desenvolvimento das tec- nologias da produção, da logística e distribuição, dos transportes e comunicações. Obra importante, por isso, para docentes e estudantes de medicina e ainda para especialistas do que também se designa por saúde ocupa- cional e riscos laborais, dado se assumir, desde o primeiro dos seus trinta e cinco capítulos, como uma espécie de tratado etiológico das várias patologias causadas pelo trabalho e como um compêndio de prevenção, de terapêutica e de ajudas técnicas de protecção indi- vidual. É, do mesmo modo, um livro que estimula o leitor atento como eu, que não sou profissional de saúde, a partir dele para uma reflexão panorâmica da história da civilização humana, marcada, desde os seus primórdios, pela relação pragmática e inteligente que as criaturas da nossa ancestralidade comum, sucedâneas do pri- mata australopiteco instintivo, passaram a ter com a Natureza, sua Mãe, para a satisfação das necessidades básicas: alimentação ade- quada à mastigação e deglutição baseada numa articulação tempo- ro-mandibular diferente da ruminação precedente; defesa das cria- 8 turas animais, movidas pelo instinto, ainda não domesticadas para o convívio com os humanos; novas formas de habitação, exigidas pela mudança do habitat e de adaptação climatológica duma nova morfologia corporal. É a satisfação dessas necessidades de sobrevivência, nascidas do processo de evolução desta nova espécie, dita humana, miticamente expulsa do paraíso e obrigada a ganhar o pão com o suor do rosto, que lhe aguça o engenho (in-genium, étimo latino, onde se filia ori- ginalmente o gênio ou a genica ou a força interior ou o (en)ergon (na sua primitiva aceção filosófica, antes de se transformar no séc.XIX, em categorema da Física), como lhe chamavam os gregos, propul- sionador da imaginação criadora e do talento transformador do caos em logos, dos elementos geológicos do seu habitat em objetos úteis, em utensílios de fazer ou em comodidades de lazer). Perdura até hoje na língua portuguesa esse iniciático axioma de que é a ne- cessidade que aguça o engenho, como origem do trabalho. A gênese do trabalho é, verdadeiramente, o incipit das civilizações, na sua diversidade geográfica e cultural, estando a história dessas civilizações vinculada à evolução filosófica, política, tecnológica e económica do trabalho ou, se quisermos, da transformação do tem- po abstrato em tempo mensurável e do espaço em territórios hu- manos, que, gentílicos, primeiro, clânicos e tribais, depois, antes de ganharem uma dimensão espiritual e antropológica de comunida- de, cujo sentimento de pertença à terra, de terroir, de telurismo, foi sendo degradado pela industrialização do mundo , se transforma- ram em sociedade como espaço outro de relacionamento pessoal e de relações laborais. Os camponeses, artesãos e mestres de ofícios vão dar lugar aos tra- balhadores, categoria sociológica determinante para a economia in- dustrial e para a evolução doutrinária e funcional do Estado. Não é este, porém, o momento nem o espaço para dissertar sobre essa 9 evolução, louvo-me, por isso, e aconselho também a leitura da obra de Georges Lefranc, um ensaísta francês, que escreveu, em 1970, a Histoire du travail et des travailleurs, publicada em tradução portu- guesa, em 1988. Foi justamente em Lefranc que aprendi que a primeira notícia que se tem da causalidade negativa do trabalho sobre a saúde remon- ta ao antigo Império do Egito e apareceu num escrito intitulado Sátira das profissões, datado de mais de vinte séculos antes da era cristã. Entretanto, foi preciso esperar até ao séc. XVI, em pleno de- senvolvimento da indústria extrativa de mineração, para se conhe- cer uma descrição das doenças e acidentes mais frequentes entre os trabalhadores das minas e uma formulação da sua prevenção. Como referencia Carlos da Silva Santos, especialista em medicina do trabalho, coube ao médico da cidade mineira de Joachimsthal, na Bohémia, de seu nome Georgius Agricola, fazer essa descrição e sugestões preventivas, em 12 volumes de uma obra intitulada Re Metallica, contemporânea da primeira monografia sobre doenças profissionais, nomeadamente a sillicosis, de mineiros e de fundido- res de metais, publicada, em 1567, pelo seu colega, suíço-alemão, Philippus Aureolus von Hoenheim, que adotou o pseudónimo Para- celsus, por que ficou conhecido nahistória da medicina ocidental e da farmacologia e toxicologia, a que se dedicou com competência ao mesmo tempo que militava na Fraternidade Rosacruz e se entregava a práticas esotéricas e homeopáticas. O pioneirismo dessas descrições permitiu ao italiano Bernardino Ramazini, médico e professor de medicina na Universidade de Pá- dua, publicar em 1700 o livro De Morbis Artificum Diatriba, onde apresenta o primeiro estudo sistemático das doenças profissionais de então com propostas para alteração das condições do trabalho. Estudos igualmente importantes, e mesmo decisivos, para a cons- trução e o aprofundamento da disciplina de medicina do trabalho, foram os dos médicos ingleses, Percival Pott, fundador da ortopedia 10 e o primeiro a vincular o câncer a carcinógenos do meio ambiente, como nos casos por ele estudados dos limpa-chaminés de Londres, que desenvolviam câncer do escroto; e Thomas Percival, renovador dos estudos de medicina, autor do primeiro código moderno de éti- ca médica e dum estudo da epidemia do tifo nas fábricas têxteis de Manchester. Este mesmo público-alvo, mas na França, foi objeto do estudo do médico e epidemiologista francês, Louis René Villermé, sobre o estado físico e moral dos operários. Os estudos de campo de Thomas Percival, chamando a atenção para a “condição operária”, e a consciência social de patrões filantropos, como Robert Owen, de industriais, como Robert Peel, de filósofos, escritores e políticos liberais, levaram o Parlamento inglês, como anota Carlos da Silva Santos, a aprovar a primeira legislação laboral – a Lei da Moral e dos Aprendizes, de 1802 - relacionada com a saúde dos trabalhadores. A medicina do trabalho conquistava, em defini- tivo, o seu terreno, e, a partir do séc. XIX até à actualidade, ganhou a notoriedade que lhe é devida, essencial para um desenvolvimento económico e social sustentável, suportado num trabalho mais justo, mais seguro, mais dignificante, seja ainda muito braçal seja automa- tizado e digital, e portanto mais intelectual, como passou a ocorrer, a partir do último quartel do séc. XX até aos nossos dias. A evolução das condições e dos meios tecnológicos da evolução do trabalho e das economias dele resultantes diversificou e gerou, como é óbvio, novas patologias laborais, designadamente do foro mental, como, com antecipação, preconizou Christophe Dejours, especialista francês em medicina do trabalho e também psiquiatra e psicanalista, conhecido como o pai da “psicodinâmica do trabalho”, conceito que desenvolveu na sua obra Travail, usure mentale – De la psychopathologie à la psychodynamique du travail, publicada em 1980. Estávamos ainda bastante longe, e daí o pioneirismo de De- jours, da catalogação daquela que é hoje, a nível mundial, uma das patologias do trabalho mais preocupantes, qualquer que seja o ân- 11 gulo de abordagem, político, económico e social, em que a conside- remos – a patologia também referenciada pela equipe organizadora desta obra sobre medicina do trabalho, encabeçada pela médica e Professora Tatiliana Bacelar Kashiwabara, pós-doutorada pela nos- sa universidade, e da qual faz parte também o Professor Nelson Barros, coordenador do doutorado em Ecologia e Saúde Ambiental da Universidade Fernando Pessoa. Refiro-me à patologia que, na Europa, designamos de Burn-out e que nesta obra colectiva, que me deram a honra de prefaciar, surge identificada como Bour-out. O trabalho tem de perder definitivamente o anátema bíblico de pu- nição divina pelo desvio comportamental humano que, metafori- camente, expulsou a humanidade do mítico Jardim do Éden, con- denando-a ao sofrimento feito de suor, sangue e lágrimas, anátema que ficou inscrito na etimologia latina que “justificou” por séculos a escravatura, a servidão e a vilania daqueles que o escritor romano, Terêncio Plauto, na sua obra Asinaria, vituperou na sentença “lupus esta homo homini lupus” (o homem é o lobo do próprio homem), popularizada pelo político e filósofo inglês seiscentista, Thomas Hobbes. É pelo trabalho que o homem se dignifica e engrandece a sua condição humana, porque é ele o fermento que faz levedar e crescer a economia. Sem este fermento, que a ciência e o conheci- mento mais qualificam e potenciam, o capital é incapaz de gerar per se o desenvolvimento e a riqueza das sociedades. Urge, por isso, que o capital se assuma como um meio para a redução das assimetrias sociais e não para as agravar, remunerando com justiça o trabalho que o faz medrar, contribuindo, desse modo, para a preservação da segurança social e da saúde física e mental de toda a sociedade e para a prevenção das patogenias provocadas por um mau relaciona- mento individual dos trabalhadores com o trabalho. Os beneficiários , acadêmicos, docentes, profissionais da medicina do trabalho e da saúde ocupacional e gerenciadores do capital hu- mano das empresas e das organizações, apreciarão seguramente a 12 qualidade desta obra, que é também um compêndio de acuidade clínica, preventiva e terapêutica, alicerçado nas competências dos vários autores, que para ela concorreram, abonadas em bibliografia adrede seleccionada e de evidente actualidade. Estou certo de que a leitura, o estudo e o uso da obra confirmarão o proveito que eu dela tirei, situando-a no excurso histórico que este prefácio me permitiu fazer, para sublinhar o papel insubstituível da medicina do trabalho para a saúde das sociedades democráticas e para louvar aqueles profissionais que a ela se dedicam, neste caso, no Brasil. Porto (Portugal), 26 de outubro de 2019. Salvato Trigo Reitor da Universidade Fernando Pessoa 13 DEDICATÓRIA Dedico este livro a todos os autores e organizadores desta obra. Foi uma grande honra contar com vocês na elaboração, pois é o fruto do nosso desejo de utilizar o conhecimento científico para melhorar a vida dos nossos trabalhadores. Tatiliana Bacelar kashiwabara Professora titular de pediatria da faculdade de medicina de Ipatinga; Doutora em gestão pela UTAD; Doutora em administração pela UFRJ; Pós doutorado pela UFP - Porto Portugal. 14 15 Sumário APRESENTAÇÃO ..............................................................................................5 PREFÁCIO ...........................................................................................................7 DEDICATÓRIA.................................................................................................13 1. Acidente de Trabalho................................................................................ 17 2. Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais .............................................................................................29 3. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica .............43 4. Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador ................................................................................................ 51 5. CIPA-Comissão Interna de Prevenção de Acidentes ...........................65 6. Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção .....................77 7. Cromo e Cobre: Ações no Organismo Humano .................................. 91 8. Dermatite de Contato por Agentes Químicos ......................................99 9. Dermatite de Contato por Resinas .......................................................107 10. Dermatoses Alérgicas Provocadas pela Borracha e seus Componentes ...................................................................................123 11. Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo ...................... 131 12. Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo ...................... 141 13. Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento ............................................153 14. Discromias Ocupacionais ......................................................................163 15. Doenças Ocupacionais I .........................................................................17916 16. Doenças Ocupacionais II ....................................................................... 191 17. Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional ...................207 18. Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato ......221 19. História das Doenças Ocupacionais ....................................................237 20. Medidas Preventivas Contra Acidentes ...............................................251 21. Níquel e suas Ações Sobre o Corpo Humano .....................................261 22. Noções Básicas de Prevenção e Combate a Incêndio ........................271 23. Pneumoconiose por Cromo ..................................................................287 24. Preservação do Meio Ambiente do Trabalho .....................................295 25. Primeiros Socorros .................................................................................309 26. Responsabilidade Ambiental .................................................................327 27. Riscos Ambientais No Trabalho ...........................................................343 28. Riscos Ocupacionais I ............................................................................355 29. Riscos Ocupacionais II ...........................................................................365 30. Saúde Ocupacional e Qualidade de Vida no Trabalho ......................377 31. Trabalho em Altura ................................................................................ 391 32. Transporte de Vítimas ............................................................................409 33. Utilização de Equipamentos de Proteção Coletiva I .........................427 34. Utilização de Equipamentos de Proteção Coletiva (Epc’s) II ...........443 35. Utilização dos Equipamentos de Proteção Individual ......................447 Acidente de Trabalho 17 Capítulo 1 Acidente de Trabalho Guilherme Bragança Pereira do Carmo1 Ludmila Albeny Mota Perdigão¹ Marília Gabriela Silva Paiva¹ Pedro Hernesto Vieira Coelho Nogueira Morais¹ Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 No Brasil, o conceito de acidente de trabalho é definido na lei geral da previdência da seguinte maneira:“Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exer-cício do trabalho a serviço a empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VIII do artigo 11 desta lei provocan- do lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, per- manente ou temporária, da capacidade para o trabalho” (BRASIL, 1991). A ocorrência dos acidentes de trabalho está associada a vários fatores, tais como: baixa escolaridade, desqualificação da mão de obra e falta de treinamento específico, ou relacionados ao ambiente de trabalho. Segundo a NBR 14280 da Associação Brasileira de Normas Técnicas 1 Acadêmicos do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga – MG 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT.- Medicina Ambulatorial VI 18 (ABNT), os acidentes são ocasionados pelos seguintes fatores: 1) Fator pessoal de insegurança: causa associada à conduta pessoal do trabalhador/operário, que pode favorecer a ocorrência do aci- dente, ou a atitudes consideradas inseguras. Pode-se associar esse fator à carência de conhecimento sobre os riscos existentes, falta de experiência ou especialização na execução das tarefas, cansaço extremo, consumo de bebidas alcoólicas ou entorpecentes. 2) Ato inseguro: ação ou omissão que, contrariando o regulamento de segurança, pode ocasionar ou propiciar a ocorrência de aci- dente. Figura como principal causa da maioria dos acidentes. Possíveis causas de tais atos: uso impróprio do Equipamento de Proteção Individual (EPI), uso de equipamentos e máquinas em sobrecarga, trabalhar ou operar em velocidade insegura. 3) Condição ambiente de insegurança: quando as condições do local propiciaram ou contribuíram para a ocorrência do aci- dente. Incluem-se nesse item: aspectos que abrangem desde a qualidade do ar do lugar de trabalho até a infraestrutura, ma- quinário, substâncias manipuladas e metodologia de trabalho empregada. ACIDENTES DE TRABALHO NO BRASIL Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulga- dos no ano de 2017 revelam que, em todo o mundo, 2,3 milhões de pessoas morrem e outras 300 milhões ficam feridas todos os anos em decorrência de acidentes de trabalho. Ao número total mundial de acidentes, o Brasil contribuiu no mesmo ano com 549.405 ocor- rências, sendo 2.096 acidentes fatais, segundo dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho 2017, publicado pelo Minis- tério da Fazenda junto à Secretaria da Previdência e demais órgãos competentes. Acidente de Trabalho 19 Dentre as ocupações laborais brasileiras, que são para fins de estudo estatístico, agrupadas conforme a Classificação Nacional de Ativida- de Econômica (CNAE), a que apresentou maior número de acidentes de trabalho foi a atividade de atendimento hospitalar, com total de 53.524 ocorrências. Em seguida, estão comércio varejista de merca- dorias, administração pública em geral, transporte rodoviário de car- ga, atividades de correio, abates de suíno, aves e pequenos animais. Juntas, essas seis atividades representaram 23,2% do total de aciden- tes de trabalho em 2017. Além das perdas pessoais do acidentado, de sua família e dependen- tes, destaca-se também a relevância dos prejuízos econômicos para o serviço previdenciário e para empresa/empregador. Este último, com frequência, experimenta queda brusca na produtividade no momen- to pós-acidente e durante o período de acomodação e assimilação da ocorrência, podendo inclusive ter sua imagem como corporação comprometida. Conforme dados divulgados pelo Ministério Públi- co do Trabalho (MPT), entre os anos de 2012 e 2018 foram gastos no Brasil R$27,3 bilhões com acidentes de trabalho, sendo que neste mesmo período os trabalhadores perderam 318,4 mil dias de traba- lho em razão desses acontecimentos. ACIDENTE DE TRABALHO TÍPICO Em conformidade com a legislação previdenciária, o acidente de tra- balho é o que decorre pelo exercício do trabalho a serviço da empre- sa ou pelo desempenho do ofício dos segurados, ocasionando lesão corporal ou perturbação funcional que acarreta a morte, a perda ou redução definitiva ou temporária, da capacidade para a ocupação. Esta categoria de acidente de trabalho é chamada de acidente típico. É o tipo de acontecimento mais habitual. É categórica a afirmativa de que se deve ao máximo evitar que aci- dentes de trabalho ocorram, mas quando vem à tona, sendo de alta Medicina Ambulatorial VI 20 ou de baixa gravidade, é importante que o mesmo seja acertadamente examinado com o objetivo de reconhecer as causas que o motivaram e, assim, possam ser adotadas a ações para evitar sua reincidência. Para uma completa análise do fato é de suma importância a com- preensão e aplicação dos seguintes conceitos: Agente causador: está diretamente ligado ao acidente, podendo ser agente biológico, agente físico, agente químico, agressão, choque elétrico, corpo estranho, embalagens e tanques, esforço físico, ferra- mentas manuais, impacto contra pessoa ou objeto, incêndio, máqui- nas e equipamentos, quedas, radiação ionizante, substâncias quentes ou frias, veículos de transporte, etc. Fonte da lesão: refere-se ao que entra em contato direto com o cor- po humano, causando a lesão, por exemplo: alavanca, alicate, arco elétrico, energia elétrica, ácido, bicicleta, bomba, cerâmica, dentre diversos outros. Natureza da lesão: não só por sua consequência na terapêutica, mas também devido a sua aplicação para fins estatísticos,no episódio de acidentes do trabalho, os danos mais regulares são dos seguintes tipos: Contusão - sucede de um trauma em qualquer local do organismo, sem que se tenha um rompimento da pele. Entorse - ocorre de um uma mobilidade anormal ou brusca nas articu- lações dos ossos. É a supressão momentânea da congruência articular. Luxação - resulta do deslocamento dos ossos articulados de suas po- sições normais quando os ligamentos de uma articulação óssea são submetidos a esforços excessivos. Fratura - são danos que causam a ruptura óssea. É caracterizado por ser de natureza fechada, caso a pele permaneça intacta, ou aberta, se houver ruptura da pele e exposição do osso fraturado. Acidente de Trabalho 21 Ao se investigar um acidente de trabalho, é essencial a análise de aspectos oportunos, como o fator pessoal de insegurança, uma mo- dalidade em que se consideram aspectos subjetivos individuais, por assim dizer, as características psíquicas e, também, as qualidades físicas que possam ter exercido influência direta ou não materia- lização do fato. Pode-se dar como exemplo: postura inadequada, nervosismo, excesso de confiança, desobediência às instruções e normas, incapacidade física. Outros quesitos a serem observados são destacados a seguir: • Quando ocorreu? • Onde ocorreu? (Ex. pátio, rampa de acesso, setor, endereço) • O que estava sendo executado pelo trabalhador? • Como se deu o desencadeamento do evento? • Houve consequências? • Que fatores contribuíram, direta ou indiretamente, para o aci- dente? • Quantas horas de trabalho havia decorrido desde o início do ex- pediente? • Qual tempo de experiência do acidentado? DOENÇAS OCUPACIONAIS Além do acidente típico, as enfermidades ocupacionais são compa- radas ao acidente de trabalho. Essas doenças podem ser profissionais ou do ofício. O adoecimento profissional é aquele provocado pelo desempenho do trabalho e que é característico de determinado ofí- cio, além de fazer parte de relação estruturada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. Salienta-se que para a designação desse tipo de doença como aciden- te, o mal que acometeu o segurado deve estar obrigatoriamente na lista elaborada pelo ministério competente. Em todo caso, a doença Medicina Ambulatorial VI 22 do trabalho é aquela contraída em função das circunstâncias espe- ciais em que o trabalho é executado. Para ser assim classificada, a doença ou lesão deve ter relação direta com o trabalho. ACIDENTE DE TRAJETO Esse é o acidente sofrido pelo segurado mesmo que fora do ambiente e horário de trabalho, mas no trajeto do seu domicílio para o espaço de trabalho ou deste para aquele. Para tal classificação, não depende do meio de transporte utilizado e nem do trajeto percorrido, des- de que não tenha havido modificações relevantes no itinerário para a execução de interesses meramente pessoais (acidentes de trajeto ou in intinere). Ressalta-se que seja qual for o meio de mobilidade, inclusivamente veículo de posse do segurado, o acidente ocorrido nessas circunstâncias se caracteriza como acidente de trajeto. Caso algum funcionário sofra um acidente no trajeto para a empresa ou para casa, é indispensável emitir a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) à Previdência Social. Caso ocorra a necessidade de ser afastado, enquanto se recupera, isso permite que o indivíduo pos- sa usufruir dos benefícios a que tem direito. Todavia, isso não acarretaria, necessariamente, culpabilidade para a empresa. Em grande parte das situações, o acidente de percurso só se compara ao acidente de trabalho na questão previdenciária, pois, por lei, o tempo de locomoção não é levado em consideração na jornada de trabalho, conforme o artigo 58 da Consolidação das Leis Traba- lhistas (CLT). O tempo regular do trabalho, para o empregado em qualquer atividade privada, não passará de oito horas diárias. O tempo gasto pelo colaborador no percurso entre sua casa e o posto de trabalho e na sua volta, caminhando ou por qualquer meio de transporte, mesmo que seja o fornecido pelo proprietário, não será contado na jornada de trabalho, por não ser um prazo a serviço do empregador. Acidente de Trabalho 23 A empresa não é responsável, portanto, pela prevenção de acidentes durante esse percurso, pois o deslocamento não faz parte da jornada. Com isso, a formulação da CAT tem, apenas, teor previdenciário, sem ter relação com os valores que devem ser pagos pela empresa a partir do FAP. A falta da Comunicação, todavia, pode levar a multas de administração. Exceção à regra ocorre se o empregador fornecer o meio de locomo- ção para que o funcionário vá até o seu local de trabalho. Nesse caso, o acidente vira encargo da empresa. Isso ocorre porque a responsabi- lidade pelo transporte, sua organização compara-se a um transpor- tador – assim como os bônus e ônus que isso acarreta. COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO Constantemente, os meios de comunicação abrangem, de forma preocupante, o número de acidentes de trabalho em nosso país. En- tre as inúmeras causas e suas consequências, pode-se destacar o ônus gerado para saúde pública. Torna-se difícil estimar a magnitude dos acidentes ocorridos em ambiente laboral, devido à subnotificação e falta de dados fidedignos no setor. A notificação dos acidentes, somada a seu dimensionamento na res- pectiva área, auxilia os órgãos responsáveis pela segurança dos traba- lhadores a avaliar as condições de risco aos quais os profissionais são expostos. A relação entre o empregado e o ambiente em que convive diariamente e a gravidade desses eventos, embasado no número de acidentes fatais notificados, também, podem ser mensurados a partir da organização dos dados quando colhidos. Vale ressaltar a importância de que as informações relatadas sejam bem definidas, cronologicamente corretas e que demonstrem a causa e o grau de dano para o indivíduo acidentado. Medicina Ambulatorial VI 24 Apesar da importância de que o relato das situações retratem a reali- dade, isso nem sempre acontece em função de grande número de con- tratos fragilizados e, principalmente, pela quantidade de profissionais informais, terceirizados ou que não são devidamente cadastrados. Para avaliarmos os indicadores de saúde dos trabalhadores do Bra- sil, alguns instrumentos e fontes de dados são utilizados, como, por exemplo, a CAT (Comunicação de Acidentes de Trabalho). A CAT é um documento que deve ser preenchido sempre que houver um acidente de trabalho ou de trajeto, uma doença ocupacional ou óbito. Ele é utilizado para comunicar o fato ao INSS e, a partir de então, o empregado buscar a concessão do benefício e usufruir de seus direi- tos. Serve também para atualizar as estatísticas da Previdência Social. Esse documento pode ser emitido online, através de aplicativo para smartphone, no site ou, até mesmo, na própria agência do INSS, de- vendo ser proferida imediatamente no caso de morte ou até o pri- meiro dia útil seguinte ao da ocorrência do acidente. Existem dois tipos de CAT: a inicial e a de reabertura. A CAT inicial é aquela registrada quando ocorre o acidente típico ou de trajeto, quando é apurada a incapacidade do indivíduo decorrente de doen- ça ocupacional ou o óbito. Já a CAT de reabertura deve ser formu- lada quando o colaborador apresenta piora após certa melhora da enfermidade pela qual foi afastado anteriormente, sendo mandatória apenas se o novo afastamento for por um período maior que 15 dias. AUXÍLIO DOENÇA O Auxílio Doença é um dos benefícios fornecidos pelo INSS que co- bre o risco de incapacidade laboral, garantindo recursos aos assegu- rados que estejam incapacitados de exercer suas funções por mais de 15 dias. Sua concessão abrange tanto acidentes quanto doença labo- ral, independentemente do grau, sendo de caráter provisório, perma- necendo válido até o momento do fim da incapacidade. Acidente de Trabalho 25 No caso de acidente com vínculo trabalhista, o auxílio é isento de carência e deveser comprovado através de exame médico pericial, realizado pela Previdência Social. Nesse caso, após o médico perito certificar a incapacidade do assegurado ao trabalho, o incentivo será conferido pelo prazo que o perito entender necessário. Lembrando da obrigação em que o funcionário tem de comparecimento às perí- cias agendadas pelo INSS. O não comparecimento gera pena de can- celamento do recebimento. Após a cessação do benefício e retorno ao trabalho, o empregado conta com direito, por um período de 12 meses, de estabilidade em seu emprego. Isso se justifica pelo fato de que o segurado, após todo o período ausente do mercado de trabalho, pode apresentar problemas de readaptação em suas atividades desenvolvidas anteriormente. So- me-se a isso o sofrimento e consequências do trauma ou da doença ocupacional, não sendo justo, portanto, seu desamparo pela empresa. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14280. Brasil ABRAL, Lenz Alberto Alves; SOLER, Zaida Aurora Sperli Geraldes; WYSOCKI, Anneliese Domingues. Pluralidade do nexo causal em acidente de trabalho/ doença ocupacional: estudo de base legal no Brasil. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, [s.l.], v. 43, p.2-10, 1 fev. 2018. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi. org/10.1590/2317-6369000021516. Acesso em: 26 abr. 2019. ANTUNES, Ricardo; PRAUN, Luci. A sociedade dos adoecimentos no trabalho. Serviço Social & Sociedade, [s.l.], n. 123, p.407-427, set. 2015. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0101-6628.030. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282015000300407&lng=pt&t lng=pt. Acesso em: 25 abr. 2019. AREZES, Pedro M. et al. Occupational Safety and Hygiene III. 3. ed. Londres: Crc Press, 2015. 475p. BARSANO, Paulo Roberto; PEREIRA, Rildo. Segurança do Trabalho Guia Prático e Didático. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. BATISTA, Adriana Galdino; SANTANA, Vilma Sousa; FERRITE, Silvia. Registro de dados sobre acidentes de trabalho fatais em sistemas de informação no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 24, n. 3, p.693-704, mar. 2019. FapUNIFESP (SciELO). Medicina Ambulatorial VI 26 http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018243.35132016. Disponível em: https:// www.scielosp.org/article/csc/2019.v24n3/693-704/pt/ . Acesso em: 26 abr. 2019. BORDONI, Polyanna Helena Coelho et al. Utilização do método de captura- recaptura de casos para a melhoria do registro dos acidentes de trabalho fatais em Belo Horizonte, Minas Gerais, 2011. Epidemiologia e Serviços de Saúde, [s.l.], v. 25, n. 1, p.1-10, jan. 2016. Instituto Evandro Chagas. http://dx.doi.org/10.5123/ s1679-49742016000100009. Disponível em: https://www.scielosp.org/scielo. php?pid=S2237-96222016000100085&script=sci_arttext&tlng=en. Acesso em: 25 abr. 2019. BRASIL. Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho. 2017. Disponível em: http:// sa.previdencia.gov.br/site/2018/09/AEAT-2017.pdf Acesso em 29 abril de 2019 CARDOSO, Mariana Guimarães et al. CARACTERIZAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE ACIDENTES DE TRABALHO GRAVES. Arquivos de Ciências da Saúde, [s.l.], v. 23, n. 4, p.83-100, 21 dez. 2016. Faculdade de Medicina de Sao Jose do Rio Preto - FAMERP. http://dx.doi.org/10.17696/2318-3691.23.4.2016.502. Disponível em: http://www.cienciasdasaude.famerp.br/index.php/racs/article/ view/502. Acesso em: 23 abr. 2019. CAVALCANTE, Cleonice Andréa Alves et al. ANÁLISE CRÍTICA DOS ACIDENTES DE TRABALHO NO BRASIL. Rev. Bras. Ciên. Saúde, [s.l.], v. 13, n. 44, p.50-62, 8 jul. 2015. USCS Universidade Municipal de São Caetano do Sul. http://dx.doi.org/10.13037/ras.vol13n44.2681. Disponível em: http://seer.uscs.edu. br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/2681. Acesso em: 25 abr. 2019. CÉSPEDES, Lívia; ROCHA, Fabiana Dias de. Segurança e Medicina do Trabalho. 21. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2018. COMBERTI, Lorenzo; DEMICHELA, Micaela; BALDISSONE, Gabriele. A combined approach for the analysis of large occupational accident databases to support accident- prevention decision making. Safety Science, [s.l.], v. 106, p.191-202, jul. 2018. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.ssci.2018.03.014. Disponível em: https://www. sciencedirect.com/science/article/pii/S0925753516306129. Acesso em: 23 abr. 2019. CORDEIRO, Ricardo et al. A violência urbana é a maior causa de acidente de trabalho fatal no Brasil. Revista de Saúde Pública, [s.l.], v. 51, p.123-142, 4 dez. 2017. Universidade de Sao Paulo Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. http:// dx.doi.org/10.11606/s1518-8787.2017051000296. Disponível em: https://www. revistas.usp.br/rsp/article/view/141564. Acesso em: 24 abr. 2019. CORDEIRO, Ricardo. A inadequação da classificação oficial dos acidentes de trabalho no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 34, n. 2, p.45- 70, 19 fev. 2018. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/0102- 311x00173016. Disponível em: https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102- 311X2018000205002&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 23 abr. 2019. Acidente de Trabalho 27 ERDOGAN, Berrin et al. Accidents happen: Psychological empowerment as a moderator of accident involvement and its outcomes. Personnel Psychology, [s.l.], v. 71, n. 1, p.67-83, 12 maio 2017. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/peps.12228. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/peps.12228. Acesso em: 26 abr. 2019. FERNÁNDEZ-MUÑIZ, Beatriz; MONTES-PEÓN, José Manuel; VÁZQUEZ- ORDÁS, Camilo José. Occupational accidents and the economic cycle in Spain 1994–2014. Safety Science, [s.l.], v. 106, p.273-284, jul. 2018. Elsevier BV. http:// dx.doi.org/10.1016/j.ssci.2016.02.029. Disponível em: https://www.sciencedirect. com/science/article/pii/S0925753516300066. Acesso em: 26 abr. 2019. FERREIRA, Alex Franco et al. Manejo seguro de perfurocortantes: abordagem de acidentes em serviços de coleta. Revista Eletrônica Teccen, [s.l.], v. 10, n. 1, p.24- 30, 1 dez. 2017. Universidade Severino Sombra. http://dx.doi.org/10.21727/teccen. v10i1.941. Disponível em: http://editora.universidadedevassouras.edu.br/index. php/TECCEN/article/view/941. Acesso em: 26 abr. 2019. FISCHER, Dorothee et al. Updating the “Risk Index”: A systematic review and meta-analysis of occupational injuries and work schedule characteristics. Chronobiology International, [s.l.], v. 34, n. 10, p.1423-1438, 24 out. 2017. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/07420528.2017.13 67305. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/07420528 .2017.1367305. Acesso em: 24 abr. 2019. GARBARINO, Sergio et al. Risk of Occupational Accidents in Workers with Obstructive Sleep Apnea: Systematic Review and Meta-analysis. Sleep, [s.l.], v. 39, n. 6, p.1211-1218, 1 jun. 2016. Oxford University Press (OUP). http:// dx.doi.org/10.5665/sleep.5834. Disponível em: https://academic.oup.com/sleep/ article/39/6/1211/2453952. Acesso em: 23 abr. 2019. GRANDO, Patricia; ASCARI, Rosana. Vítimas de acidente de trabalho atendidas em um pronto atendimento de urgência e emergência. Revista uningá review, [S.l.], v. 20, n. 3, jan. 2018. ISSN 2178-2571. Disponível em: http://revista.uninga.br/index. php/uningareviews/article/view/1607. Acesso em: 27 abr. 2019. HOFMANN, David A.; BURKE, Michael J.; ZOHAR, Dov. 100 years of occupational safety research: From basic protections and work analysis to a multilevel view of workplace safety and risk.. Journal Of Applied Psychology, [s.l.], v. 102, n. 3, p.375- 388, 2017. American Psychological Association (APA). http://dx.doi.org/10.1037/ apl0000114. Disponível em https://psycnet.apa.org/record/2017-03595-001. Acesso em: 24 abr. 2019. JACKSON FILHO, José Marçal et al. Da segurança e medicina do trabalho à Saúde do Trabalhador: história e desafios da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 20, n. 7, p.2041-2051, jul. 2015. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232015207.05812015. Disponível em: https:// Medicina AmbulatorialVI 28 www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232015000702041&script=sci_abstract. Acesso em: 23 abr. 2019. LADOU, Joseph; HARRISON, Robert. CURRENT: Medicina Ocupacional e Ambiental (Lange): Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Amgh Editora Ltda, 2016 MALTA, Deborah Carvalho et al. Acidentes de trabalho autorreferidos pela população adulta brasileira, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 22, n. 1, p.169-178, jan. 2017. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017221.17862015. Disponível em: https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232017000100169&script=sci_ arttext&tlng=en. Acesso em: 25 abr. 2019. MATTOS, Ubirajara; MÁSCULO, Francisco. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. São Paulo: Elsevier Editora Ltda, 2019. NUMÉ, Anna-karin et al. Syncope and Its Impact on Occupational Accidents and Employment. Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes, [s.l.], v. 10, n. 4, p.100-115, abr. 2017. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). http://dx.doi. org/10.1161/circoutcomes.116.003202. Disponível em: https://www.ahajournals. org/doi/full/10.1161/CIRCOUTCOMES.116.003202. Acesso em: 25 abr. 2019. SALGUERO-CAPARROS, Francisco; SUAREZ-CEBADOR, Manuel; RUBIO- ROMERO, Juan Carlos. Analysis of investigation reports on occupational accidents. Safety Science, [s.l.], v. 72, p.329-336, fev. 2015. Elsevier BV. http://dx.doi. org/10.1016/j.ssci.2014.10.005. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/ science/article/pii/S0925753514002379. Acesso em: 25 abr. 2019 Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 29 Capítulo 2 Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais Ana Beartiz Gomes Silva1 Pietra Ziviani Côvre1 Rafaela Ferro Valente1 Valéria Lopes Cupertino1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 A anamnese ocupacional é uma avaliação da saúde do tra-balhador, em que é realizado uma investigação comple-ta do histórico patológico do paciente. Essa investigação deve sempre pautar os riscos que o profissional está ou poderá ser exposto. Diante desse contexto, essa inspeção, geralmente, é requerida em momentos pré-definidos por uma empresa, em que há a necessidade de inspecionar a saúde do profissional para confirmar se ele está apto a exercer aquele cargo ou para analisar o risco a que foi submetido durante o exercício de sua função. Sendo assim, o tipo mais comum desse serviço, é o exame admissio- nal, que deve ser feito antes que o profissional assuma as suas ativi- dades. A entrevista tem o objetivo de avaliar o estado físico e mental 1 Acadêmicas do Instituto Metropolitano de Ensino Superior - IMES 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 30 do contratado, averiguando se está habilitado ou não para exercer as funções designadas pela empresa. Além disso, esse tipo de consulta também pode ser realizada no momento em que um funcionário vai migrar de função dentro da empresa, ou quando estava afastado de suas atividades e precisa reestabelecer sua função. Os trabalhadores expostos a fatores de riscos, deverão realizar o exa- me periódico anualmente, ou em intervalos menores de acordo com a avaliação do médico do trabalho. Para menores de 18 anos e maio- res de 45 anos, a consulta deve ser anual e entre essa faixa etária, os encontros podem ser a cada dois anos de acordo com a avaliação clínica. Os trabalhadores expostos a condições hiperbáricas devem ter consultas com uma periodicidade específica, de acordo com a Norma Regulamentadora (NR) 15, anexo 6. Existe ainda o exame demissional, realizado quando o colaborador se desliga de sua ocupação. Neste momento, será realizada uma aná- lise dos riscos e condições de saúde a que o profissional foi submeti- do, desde a contratação até no momento em que for dissociar da em- presa. A necessidade de uma nova reavaliação é abordada de acordo com o grau de risco ocupacional. Para empresa considerada de baixo risco, uma nova consulta será necessária, caso o último periódico tenha sido realizado há mais de 135 dias, já para empresas de grande risco ocupacional o intervalo deve ser reduzido para 90 dias. A anamnese deve ser iniciada pelas queixas momentâneas do pacien- te. No primeiro momento, deve-se realizar uma revisão dos sistemas, observando se há presença de sintomas, como dores musculares, nos membros, cefaleias, incômodos na coluna, entre outros. Também é válido indagar e qualificar os sentidos, como a visão e a audição. Um dos aspectos cruciais nesse tipo de anamnese é a História Pato- lógica Pregressa, uma vez que o médico deve investigar as condições clínicas do paciente. Ademais, perguntas como o histórico de doen- ças crônicas, uso de medicações diárias, realização de procedimentos Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 31 e cirurgias, alergias medicamentosas e alimentares, e doenças rela- cionadas aos ofícios anteriores, devem ser investigadas a fundo. Outro ponto da anamnese é a história social, visto que é importan- te entender as consequências dos hábitos de vida praticados pelo paciente e ter discernimento para desvinculá-los das complicações ocorridas, verdadeiramente, pelo exercício da profissão. Dentre as perguntas, deve prezar pelos hábitos de vida, como tabagismo, se- dentarismo, alcoolismo, entre outros. Na anamnese ocupacional, é crucial detalhar a função exercida pelo trabalhador, os produtos com os quais ele entrará em contato e os riscos a que será submetido. Além disso, deve ser feita uma análise das condições de trabalho e quantificação do tempo que realiza a atividade, para que possa ser detectado de forma precoce algumas patologias. EXAME FÍSICO Os aspectos avaliados englobam nível de consciência, exame físico e mental. O primeiro passo a ser realizado é uma inspeção geral a pro- cura de sinais de faces típicas, sinais de atopias, respiração bucal e si- nais de desconforto respiratório. Avalia-se presença de implantação dos pelos, distribuição de tecido adiposo, presença de cianoses, icte- rícias, hidratação e nutrição do paciente, presença de lesões de pele. Na cabeça, pesquisa-se alterações visuais, avaliando pupilas e, quan- do possível, realiza-se fundo de olho. À rinoscopia anterior, é pos- sível avaliar septo e mucosa nasal, cornetos e presença ou não de secreções e lesões. Na oroscopia, avalia-se mucosa bucal, amigdalas, dentes e lesões na cavidade oral. À otoscopia observa-se conduto au- ditivo externo e membrana timpânica. Deve ser realizado palpação de linfonodos em cadeias cervicais anteriores e posteriores, occipi- tais, pré-auriculares submentonial, supraclaviculares. Medicina Ambulatorial VI 32 No aparelho cardiovascular a inspeção é direcionada para a área pre- cordial, observando a presença do íctus cordis, e ulterior sua palpa- ção. A ausculta do precórdio examina o som e o ritmo das bulhas cardíacas, presença de sopros ou bulhas acessórias. É de fundamen- tal importância a correlação do aparelho cardíaco com o aparelho respiratório, pois uma insuficiência das câmaras cardíacas poderá ter repercussões em outros órgãos como, por exemplo, crepitações pulmonares, hipertensão portal, dentre vários outros. Ainda, faz-se necessário a palpação de pulsos periféricos nos 4 membros em busca de assimetria. Ao realizar o exame do aparelho respiratório, utiliza-se a inspeção para verificar presença de desconforto respiratório, uso de muscu- laturas acessórias ou tiragem intercostal, tamanho do diâmetro an- teroposterior da caixa torácica, simetria dos movimentos, expansi- bilidade, espirros, duração da respiração, abaulamentos, retrações elesões de pele. Na palpação, procura-se identificar creptações, dor da musculatura torácica, tônus muscular, edema e frêmito tóraco vo- cal. À percussão, avalia-se presença do som claro pulmonar e/ou de ruídos adventícios. À ausculta, avalia-se distribuição de murmúrio vesicular, presença de ruídos adventícios e ritmo respiratório. A pre- sença de cianose periférica, central e de baqueteamento digital deve ser investigada com cautela para desordens pulmonares e cardíacas. No aparelho digestório, durante a inspeção, observa-se o formato do abdome, se há presença de cicatrizes, aspecto da coto umbilical, pre- sença ou não de movimentos peristálticos visíveis. À ausculta sucede a inspeção a fim de evitar quaisquer influência causada pela percus- são e/ou palpação. Nela faz-se importante a presença e a frequência dos movimentos peristálticos. À percussão, encontra-se som timpâ- nico na maioria do abdome, exceto no espaço de Trauber que pode ser hipertimpânico, e no hipocôndrio direito em que o som é maciço pela presença do fígado. Qualquer outro som diferente deverá ser investigado. Durante palpação, procura-se visceromegalias, massas Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 33 palpáveis, presença de dor à palpação superficial e profunda e mus- culatura em defesa. O exame físico do sistema músculo-esquelético e do sistema nervoso periférico deve ser direcionado e minucioso para a queixa do pacien- te ou de acordo com o trabalho exercido. Exames complementares devem ser realizados de acordo os termos da NR7 e seus anexos. DOENÇAS PSICOSSOCIAIS: O transtorno de ansiedade generalizado é caracterizado pela preocu- pação excessiva, persistente e de difícil controle, com duração míni- ma de seis meses, acompanhado de uma série de queixas somáticas como taquicardia, sudorese, taquipnéia, dores musculares, pareste- sias, sensação de afogamento, despersonalização, desrealização, alte- ração do hábito intestinal, entre outros. É importante fazer o diagnóstico diferencial de pacientes que apre- sentam tais queixas, ou seja, deve-se realizar uma investigação para excluir doenças orgânicas, como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, doenças neurológicas, intoxicação exógena (medicamento, drogas ilícitas e bebida alcoólica) e transtorno gas- trointestinal. Para isso, é preciso solicitar alguns exames de acordo com a história clínica e sintomatologia do paciente. Por exemplo, o paciente com queixa de palpitação deve ser submetido ao ele- trocardiograma, para exclusão de arritmias. Já aquele paciente que queixa dores musculares, deve-se investigar fibromialgia e proble- mas posturais. A depressão, também, leva o paciente a apresentar muitas queixas psíquicas e somáticas, como anedonia, humor deprimido, culpa, ideação suicida, redução da concentração, insônia, hipersonia, di- minuição de apetite, perda de peso, baixa libido, dores generalizadas. Medicina Ambulatorial VI 34 Durante a consulta com o paciente com queixas depressivas, é impor- tante investigar quadros que causam manifestações semelhantes à de- pressão, como uso de medicamentos (anticoncepcionais orais, corticoi- des), doenças neurológicas e endócrinas. É preciso realizar o diagnóstico diferencial com outros transtornos psiquiátricos, como demências, es- quizofrenia, dependência de substâncias e transtorno de ansiedade. ASMA OCUPACIONAL Para realizar o diagnóstico da asma ocupacional, deve-se diferen- ciá-la da asma exacerbada, na qual haverá um agravamento de uma asma pré-existente, aparecendo normalmente aumento da frequên- cia e/ou gravidade dos sintomas, além do consumo dos medicamen- tos para o tratamento. Também deve-se fazer o diagnóstico diferen- cial de outras patologias que podem cursar com diminuição do fluxo pulmonar e/ou hiperreatividade brônquica. Exemplo disso é o edema pulmonar que pode ser causado por uma insuficiência cardíaca esquerda. Nessa situação, a história clínica será bem diferente da asma ocupacional, mas os sintomas de dispnéia, tosse, e agravamento das manifestações aos exercícios físicos e no período da noite, podem estar presentes em ambas as condições. Contudo, poderá haver alterações à radiografia, com aumento da silhueta cardíaca e alte- rações ao eletrocardiograma de hipertrofia ventricular esquerda. Além disso, é necessário diferenciar de uma doença pulmonar obs- trutiva crônica inicial, na qual, normalmente, há histórico de uso do tabaco e ausências da história de exposição. Podem ser discrimina- dos ainda à espirometria pós broncodilatação, em que a DPOC não apresentará diferença significativa. PNEUMOCONIOSES As pneumoconioses devem ser diferenciadas entre elas e, ainda, da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), em que o diferencial Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 35 será o agente exposto. Na DPOC, pode haver histórico de tabagismo e ausência da história de exposição ao algodão, ao carvão, à sílica e ao óxido de ferro. Alguns exames como radiografia ou tomografia computadoriza- da podem apontar alguns sinais, como, por exemplo, na antracose em que há presença de nódulos, contudo a espirometria pode levar ao mesmo resultado. Esses nódulos são muito semelhantes aos das doenças reumatoides, devendo assim ser solicitados exames de san- gue para afastamento de dúvidas. Já a siderose pode apresentar micronódulos mal definidos e difu- sos, normalmente de localização centrolobular visualizados na ra- diografia de tórax e sem alteração na espirometria. Para incidência de silicose, deve ter história de exposição à sílica. Os sintomas são tosse e dispneia progressiva. A radiografia de tórax pode identificar nódulos, principalmente, no terço superior dos pulmões com reação inflamatória ao redor deles. Já a espirometria verifica o padrão res- tritivo e obstrutivo. A bissinose leva a um estreitamento das vias aéreas, tendo como sin- tomas pressão acentuada em tórax anterior e dificuldade respiratória, podendo ser confundida com a asma brônquica. No entanto, oposto à asma, os sintomas da bissinose podem não estar mais presentes após exposição repetidas vezes ao agente ao fim de uma semana de trabalho. LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO (LER) Normalmente, o diagnóstico das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) baseia-se em uma anamnese detalhada com ênfase na his- tória ocupacional do paciente, seguido de exame físico completo e integração com os dados epidemiológicos. Porém, faz-se necessário a averiguação de todos os casos em que há suspeita clínica para ou- tras comorbidades, pois, muitos desses indivíduos podem não ser Medicina Ambulatorial VI 36 portadores de lesões musculoesqueléticas. Há diversas causas a se- rem pesquisadas como doenças reumatológicas, infecciosas, lesões do neurônio motor, alterações vasomotoras, granulomatoses, neo- plasias, doenças difusas do tecido conjuntivo (como lúpus, esclerose sistêmica, dermatopolimiosite), microcristalinas, dores musculoes- queléticas de origem metabólica, fibromialgia, uso de drogas e me- dicamentos. Em geral, os exames complementares são solicitados quando o exame clínico não elucidou totalmente o diagnóstico. Não exis- te um exame específico que comprove a existência de LER e, se analisado de maneira isolada, não há como identificar os fato- res de risco ocupacionais, por isso a possibilidade de diagnóstico diferencial deve ser considerada. A avaliação laboratorial é dire- cionada para provas de atividade inflamatória, reumatológica e ácido úrico e os exames de imagem são de acordo com os achados encontrados no exame físico. DERMATOSES A dermatoses ocupacionais (DOs) são de diagnóstico relativamente fácil, porém se faz necessário a associação da doença com o trabalho, pois muitos trabalhadores com lesões suspeitas são encaminhados aos serviços especializados com o diagnóstico primário de dermato- se ocupacional, porém muitas delas correspondem a processos der- matológicos não-ocupacionais.Dermatoses de contato não-ocupacional, alérgica ou irritativa po- dem simular dermatoses de contato ocupacional. Para isso, uma anamnese detalhada poderá diferenciar a origem da lesão, avaliando se há nexo causal. Algumas afecções que podem gerar dúvida são psoríase, herpes simples e herpes zoster, eczema disidrósico, eczema numular e reações cutâneas a drogas, etc. Um especialista deve ser consultado caso haja dúvida no diagnóstico do trabalhador. Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 37 As Dermatoses causadas por agentes físicos, químicos e biológicos decorrentes da exposição ocupacional e das condições de trabalho são responsáveis por desconforto, dor, prurido, queimação. Essas manifestações clínicas são muito semelhantes a outras afecções de causas externas, podendo acarretar reações psicossomáticas e gerar perda do posto de trabalho. Aqui, é importante a percepção de que há melhora dos sintomas com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho. Nesse contexto, o médico do trabalho possui um papel fundamental na detecção precoce do diagnóstico, pois a cronificação e o agrava- mento das lesões podem resultar em lesões extensas e complicadas, grave alopecia, retrações ou exulcerações de pele sugestivas de câncer. SURDEZ TEMPORÁRIA E PERMANENTE Sabe-se que a grande causa das perdas auditivas de origem ocupa- cional são os ruídos de grande intensidade. Mas, também há outros agentes causais como produtos químicos, vibrações e medicamentos que podem levar a essa perda. Todo o prognóstico do paciente de- pende do tempo de exposição, intensidade e fatores combinados. Para a confirmação da existência de alterações auditivas, é funda- mental realizar uma boa anamnese com todos os detalhes da ex- posição e executar uma avaliação audiológica. Para isso devem ser realizados exames para estadiar a situação do paciente, como a au- diometria tonal e vocal, e a imitanciometria. A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) é uma das doenças mais frequentes que acometem o trabalhador exposto a sons intensos e contínuos, de média 85dB por oito horas/dia. Ela ocorre pelo exces- so de estimulação sonora ou pela exposição a determinados agentes químicos. Geralmente, é bilateral e a sua progressão cessa ao final da exposição ao ruído intenso. Medicina Ambulatorial VI 38 Ademais, quando a perda auditiva ocorre de forma súbita, por uma exposição a um ruído intenso, pode ser considerado um trauma acústico. Essa explosão e descompressão de forma súbita podem le- var a dor e a lesões simultâneas da orelha média, rotura da mem- brana timpânica e desarticulação dos ossículos. Normalmente, além da perda auditiva que é percebida de imediato, o paciente costuma relatar a presença de zumbido. Esse trauma apresenta mudanças no audiograma em um período de seis meses a um ano, até que a lesão se estabilize ou evolua de forma regressiva. Em alguns pacientes, pode ocorrer ruptura da membrana timpâ- nica, avaliado na otoscopia. A configuração audiométrica apre- senta características diferentes de uma típica perda por ruído, pois poderá apresentar um componente condutivo. Assim, a per- da auditiva pode ser puramente nerossensorial ou mista, depen- dendo da fonte do trauma. Já a perda auditiva por Mudança Transitória de Limiar (MTL) tem recuperação gradual, normalmente, após cessar o ruído, mas tam- bém pode apresentar lesão coclear irreversível. É importante ressal- tar que a avaliação auditiva seja realizada após as atividades diárias, ou seja, sem repouso auditivo, com o intuito de identificar os ver- dadeiros riscos da exposição diária. Caso o paciente apresente uma mudança transitória de limiar igual ou superior a 10 dB, ele deve ser submetido a um novo teste com repouso auditivo, para que possa ser confirmado a MTL ou para estadiar e avaliar se a perda auditiva está permanentemente instalada. DOENÇAS OFTALMOLÓGICAS Atualmente, uma das grandes morbidades oftalmológicas associada ao trabalho é a Síndrome Visual de Computadores, uma vez que o uso das tecnologias está cada vez mais difundido na população. Para realizar esse diagnóstico, é importante investigar as horas trabalha- Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 39 das frente ao computador, e se, durante as atividades de folga, tam- bém, se faz muito uso de visores. As principais queixas são cansaço na vista, peso nos olhos, cefaleia e insônia. Deve ser realizado um exame oftalmológico completo e, na maioria dos casos, é orientado ao paciente o uso de óculos para descanso, com lentes especiais que reduzem a luminosidade dos visores. Além disso, também, há o deslocamento de retina, assunto contro- verso entre os retinólogos, pois muitos acreditam que o levanta- mento de peso acima de 10 quilos em atividades laborais acelera e influência diretamente no descolamento da retina. Devido a isso, é considerado exigência a realização de uma avaliação oftalmológica com mapeamento da retina nos exames admissionais, em atividades que vão exigir esforço físico intenso. Doenças inflamatórias, também, acometem os trabalhadores, como a Blefarite, em que ocorre uma produção excessiva da camada lipí- dica pelas glândulas sebáceas da pálpebra, gerando uma condição favorável para proliferação bacteriana. Geralmente, o diagnóstico é clínico, já que há presença de uma substância oleosa em torno dos cílios, irritação ocular, sensação de corpo estranho e lacrimejamento. Para realizar o diagnóstico diferencial com a conjuntivite, é crucial entender que essa inflamação acomete a conjuntiva e os sintomas são hiperemia de todo globo ocular, lacrimejamento, edema de pálpe- bras, secreção e prurido ocular. REFERÊNCIAS ALI, Salim Amed. Dermatoses relacionadas com o trabalho. In: MENDES, Rene. Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 2013. ANDRADE, Kléber Proietti et al. Medida do nível de ruído hospitalar e seus efeitos em funcionários a partir do relato de queixas. Rev. CEFAC, São Paulo, v. 18, n. 6, p. 1379-1388, 2016. BARSANO, P.R. Segurança do Trabalho para concurso público. São Paulo: Editora Saraiva, 2017. Medicina Ambulatorial VI 40 BRASIL, Sistema de Notificação e Agravos de Notificação. DRT Dermatoses Ocupacionais. Disponível em: http://portalsinan.saude.gov.br/drt-dermatoses- ocupacionais. Acesso em: 05 abril 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde do trabalhador e da trabalhadora. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018. BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Dor relacionada ao trabalho: lesões por esforços repetitivos (LER): distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort). Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. CARVALHO, L.V.B. et al. Exposição ocupacional a substâncias químicas, fatores socioeconômicos e saúde do trabalhador: uma visão integrada. Saúde em Debate, v. 41, p. 313-326, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103- 11042017000600313&script=sci_abstract&tlng=pt Acesso em: 05 Abril 2019. DUARTE, R.F. Os riscos psicossociais no trabalho e as políticas públicas de preservação da saúde mental do trabalhador. 2018. Dissertação (mestrado em direito) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista ‘’Júlio de Mesquita Filho’’, Franca. Disponível em: https:// repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/180559/Duarte_RF_me_fran. pdf?sequence=3&isAllowed=y. Acesso em: 28 Abril 2019. FERNANDES, M. A. et al. Riscos psicossociais e agravos psíquicos relacionados às atividades laborais de trabalhadores de saúde Psychosocial risks and psychological disorders related to the work activities of health workers. Vertentes e Desafios da Segurança, v. 32, n. 3, p. 169, 2018. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932012000300013. Acesso em: 20 Abril 2019. FERREIRA, A. J. Doenças OcupacionaisRespiratórias–Perspetivas Atuais. Revista Internacional em Língua Portuguesa, n. 34, p. 53-76, 2018. Disponível em: https:// www.rilp-aulp.org/index.php/rilp/issue/view/RILP2018.34. Acesso em: 05 Abril 2019 FERREIRA, A.P. et al. Revisão da literatura sobre os riscos do ambiente de trabalho quanto às condições laborais e o impacto na saúde do trabalhador. Rev Bras Med Trab, v.16, n.3, p.360-370, 2018. Disponível em: http://www.rbmt.org.br/ details/371/pt-BR/revisao-da-literatura-sobre-os-riscos-do-ambiente-de-trabalho- quanto-as-condicoes-laborais-e-o-impacto-na-saude-do-trabalhador. Acesso em: 08 Abril 2019 FILHO, P.L.S. et al. Agravos respiratórios em trabalhadores da construção civil em Mato Grosso. 2015. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade Federal do Mato Grosso. Cuiabá. 2015. Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 41 HAYASHIDE, J.M; BUSCHINELLI, J.T.P. Critérios de decisão para a definição de exames médicos ocupacionais em atividades críticas: proposição de modelo e exemplos de aplicação no trabalho em altura. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo: v. 42: 1- 16, 2017. Acesso em: 12 de Abril de 2019. JUSTINIANO, J.S. Sistemática de tutela específica do direito ambiental do trabalho. Nova Hileia – Revista Eletrônica de direito ambiental da amazonia. ISSN: 2525 - 4537. v.2. n.1, jan-jun 2017. LADOU, Joseph; HARRISON, Robert. CURRENT: Medicina Ocupacional e Ambiental (Lange): Diagnóstico e Tratamento. Edição: 5. Editora: AMGH; São Paulo. McGraw Hill Brasil, 2016. Acesso em: 18 de Abril de 2019. MENDANHA, M.G. Medicina do trabalho e perícias médicas: Aspectos práticos (e polêmicos). 4. ed. rev. e aum. São Paulo: LTR, 2015. MENDES, R. Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 2013. Miranda FMD, Purim KSM, Sarquis LMM, Shwetz ACA, Delatorre LS, Saalfeld RM. Dermatoses ocupacionais registradas em sistema de notificação na região Sul do Brasil (2007 a 2016). Rev Bras Med Trab.2018;16(4):442-450. Disponível em <http://www.rbmt.org.br/details/384/pt-BR> Acesso em 04 ago.2019. MONTEIRO, A. L.; Bertagni, R. F. S. Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais (conceitos, processos de conhecimento e de execução e suas questões polêmicas). 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. MORAES, Paulo Wenderson Teixeira; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Os Sintomas de LER/DORT: um Estudo Comparativo entre Bancários com e sem Diagnóstico. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 37, n. 3, p. 624-637, set. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 98932017000300624&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 04 ago. 2019. MORENO, R. Manifestaciones clínicas y diagnóstico diferencial del asma bronquial. ARS MEDICA Revista de Ciencias Médicas, v. 16, n. 1, p. 25-35, 2017. Disponível em: https://arsmedica.cl/index.php/MED/article/view/752. Acesso em: 15 Abril 2019 PADESCA, A. Alergénios e outros factores de alterações cardiovasculares, nos meios industriais. Rev Port Imunoalergologia, v. 23, n. 2, p. 95-103, 2015. Disponível em: https://www.spaic.pt/client_files/rpia_artigos/alergenios-e- outros-factores-de-alteracoes-cardiovasculares-nos-meios-industriais.pdf. Acesso em: 15 Abril 2019 PSIQUIATRIA, I. Características básicas do transtorno de ansiedade generalizada. Medicina (Ribeirão Preto, Online.), v. 50, n. Supl 1, p. 51-55, 2017. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/127538. Acesso m:12 Abril 2019 Medicina Ambulatorial VI 42 SARAIVA, F.P.; FRANCISCO, L.T.B.; SARAIVA, P.G.C. Avaliação do risco de redescolamento de retina após retorno a atividade laboral braçal. Rev Bras Med Trab. v.13,n.1, p.31-34, 2015. Disponível em: http://www.rbmt.org.br/details/24/ pt-BR/avaliacao-do-risco-de-redescolamento-de-retina-apos-retorno-a-atividade- laboral-bracal. Acesso em: 10 Abril 2019 SOUZA, T.P. Prevalência de silicose e repercussões na qualidade de vida de mineradores de pedras preciosas e semipreciosas. 2015. Dissertação (Mestrado em ciências pneumológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 43 Capítulo 3 Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica Thais Ferreira Perigolo1 Larissa Grintaci Pereira Costa2 Karollinne Paiva do Nascimento2 Mariela Vilela Peres Bueno2 Lamara Laguardia Valente Rocha3 INTRODUÇÃO Atividades físicas fazem bem à saúde? Dificilmente se en-contraria alguém ou algum estudo que se propusesse a afirmar que não. Mas, se a pergunta fosse: atividades físi-cas podem gerar doença? Nesse caso, seria necessário am- pliar a discussão, visto que a atividade física pode gerar lesões ou até mesmo depressão, dentre outros. Dependendo do grau de exigência do praticante, pode haver lesões musculares e/ou articulares e, quan- do o nível de exaustão é muito elevado, pode levar à depressão, além da possibilidade do surgimento de rabdomiólise e da maximização de problemas cardíacos, o que poderia elevar o risco de morte. Primeiramente, deve-se esclarecer o que seriam atividades físicas. Diferentemente de exercício físico, o termo atividade física refere-se 1 Graduanda em Medicina do Centro Universitário de Manhuaçu (Unifacig). 2 Graduandas em Medicina pela Universidade José do Rosário Vellamo (UNIFENAS) 3 Doutora em Biologia Celular e Estrutural, professora convidada dos cursos de Pós-graduação em Cirurgia Robótica, Medicina do Trabalho e Gestão em Saúde na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Medicina Ambulatorial VI 44 a qualquer situação que tire o corpo do status quo, qualquer movi- mento contrário à inércia auxiliado pelo sistema musculoesquelético do indivíduo que gere gasto energético. Pode-se compreender ati- vidade física como um gênero que abrange o exercício físico como uma de suas categorias. Porém, para ser mais preciso, também seria necessário definir o sig- nificado de doença. Sabe-se que não é possível compreender doença apenas com medições fisiopatológicas, sendo intrínseco, no processo de adoecer, o estado anímico envolvido pela dor, sentimentos e sofri- mentos de quem adoece. Entretanto é indiscutível que não há doença sem a quebra da barreira imune. Para adoecer, o indivíduo precisa ter alguma alteração em seus mecanismos de defesa. Logo, doença poderia ser definida, pelo menos em uma de suas facetas, como a transposição do sistema imune. Assim, o mais pertinente talvez seria questionar se atividades físicas poderiam alterar nosso sistema imu- ne de modo a gerar doença. O SISTEMA IMUNOLÓGICO Na composição da defesa orgânica do indivíduo, há atuação de duas frentes, distintas e complementares, sendo composta pela resposta inata e adquirida. A resposta inata, assim como sugere seu nome, perfaz-se como nativa, condição inerente ao sujeito, em que não há qualquer exigência, manejo ou requisito para sua aquisição, basta nascer com ela. Já a resposta adquirida apresenta como condição sine qua non para sua existência, a conquista de seus elementos por diferentes processos. A resposta inata se expressa por meio das barreiras físicas como a re- sistência da pele à invasão de microrganismos, as barreiras químicas como a lisozima presente no sangue que atrai e ataca bactérias e, por fim, a presença de células como macrófagos, responsável pela fagoci- tose de bactérias, por exemplo. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 45 Em outra vertente, a resposta imunológica adaptativa é composta, principalmente, por células chamadas linfócitos. Por fazerem parte de um mecanismo de defesa, devem se situar em lugares que propor- cionem a melhor chance de encontrar os microrganismos agressores, ou seja, essas células devem estar em locais do corpo que as possi- bilitem identificar, de forma rápida e eficaz, a invasão de agentes, a princípio, nocivos e danosos. Assim, temos como locais estratégicos os linfonodos e outros tecidos linfoides especiais (baçoe submucosas do trato gastrointestinal). Além disso, a população linfocitária, apesar de se originarem de cé- lulas-tronco hematopoiéticas pluripotentes, diferenciam-se em duas categorias, especializando-se cada uma com sua função, chamados de linfócitos T e linfócitos B. Os linfócitos T são responsáveis pela imunidade mediada por células e perfazem linfócitos TCD4+ auxi- liares e TCD8+; enquanto os linfócitos B, titulares da imunidade hu- moral, tem como produto os anticorpos. Os linfócitos T, representados pelos TCD4+, darão origem a dois tipos de células produtoras de citocinas. São elas as células Th1 (T helper tipo 1), após estimulação pela interleucina 12 (IL-12), pro- duzida por células apresentadoras de antígenos presentes nas célu- las dendríticas e macrófagos, e as células Th2 (T helper tipo 2), avi- vadas pela ação da IL-4, produzida pelo próprio TCD4+. Além de serem estimuladas por diferentes compostos, Th1 e Th2, também, se distinguem em relação às citocinas que produzem, enquanto as células Th1 produzem interferon-gama (IFN-γ), fundamental para a resposta imune celular e com o controle de infeções causadas por agentes intracelulares, as células Th2 se concentram na produção de IL-4 responsável pela resposta imune humoral e com controle de infeções extracelulares. As citocinas geradas por esse braço da imunidade podem atuar como pró ou anti-inflamatória. Pode-se citar como citocinas anti-inflama- Medicina Ambulatorial VI 46 tórias as citocinas IL-10 e TGF-beta (fator de transformação de cres- cimento β), enquanto que podem ser classificadas como pró-infla- matórias as citocinas IL-1, IL-2, IL-6, IL-12, IL-18, IFN-γ e TNF-α, sendo sua produção estimulada por catecolaminas, glicocorticoides e prostaglandinas (PGE2). Dentre as citocinas pró-inflamatórias citadas, a IL-6 é considerada uma interleucina responsiva à inflamação e tem sido chamada de miocina, por sua liberação ter relação com a contração de músculos esqueléticos, durante exercícios físicos prolongados. Ao vislumbrar o sistema imune como um prisma, figura geométrica sólida composta por faces planas laterais, pode-se aferir que as cito- cinas produzidas pelas células TCD4+ fazem parte de uma das múl- tiplas faces do sistema imune, sendo imprescindível compreender a interação entre elas e diversos outros mecanismos imunológicos, se o objetivo for o estudo de todo o sistema imunológico. Diante das informações expostas, seria possível que atividades físicas fossem capazes de alterar o sistema imune, por meio de produção de citocinas pró-infamatórias, ao ponto de causar doença? Responder a essa pergunta é o que se pretende a seguir. ATIVIDADE FÍSICA E O SISTEMA IMUNE Uma gama de estímulos pode ser gerada após a prática de determi- nada atividade física, como estresse hormonal, pela produção de ca- tecolaminas e glicocorticoides, estresse oxidativo, pelo aumento de óxido nítrico, e estresse extenuante, pela alta intensidade no uso da musculatura esquelética. Eles serão desencadeados, de acordo com a intensidade, duração e a frequência do exercício a ser praticado. A produção de citocinas estará diretamente ligada a esses estímulos e será modulada por cada um deles. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 47 Existem relatos de que exercícios físicos que exigem performance de alto nível, como corridas extenuantes de grandes distâncias, geram aumento das concentrações séricas de citocinas como IL-6. O aumento de IL-6 não é relacionado somente à intensidade da ativi- dade, mas também à massa muscular envolvida, visto que sua produ- ção tem íntima ligação com atividade do músculo esquelético. Logo, exercícios que exigem ativação limitada de massa muscular, não são, a princípio, suficientes para gerar um aumento de grande monta das concentrações de miocina. Porém, se o exercício requisitar um grupo muscular maior, haverá aumento considerável de IL-6, sendo esse aumento registrado ao final da realização do exercício ou num curto período após, com rápida queda até a normalização. Nesse cenário, estudos afirmam que exercícios intensos podem afe- tar a função imunológica adquirida, porém essa alteração seria tran- sitória e, após um período pós-exercício, os valores retornariam ao estado pré-exercício. Contudo, se a recuperação não for suficiente, as alterações podem se tornar crônicas e causar deficiência imunológi- cas, aumentando o risco de surgimento de afecções. A explicação para esse cenário advém do fato de que a miocina não, apenas, apresenta um efeito pró-inflamatório, mas também ação sis- têmica como efeitos metabólicos (aumento da captação de glicose e da oxidação de ácidos graxos pelos músculos esqueléticos, na lipóli- se e aumento da gliconeogênese pelo fígado). Além disso, há outras miocinas como IL-8, produtoras de efeitos angiogênicos, e outras di- versas citocinas, IL-1, IL-10, IL-12. Há também aumento de citocina anti-inflamatórias, provavelmente, para limitar reações inflamatórias, geradas pelo desgaste da muscu- latura, causada pelo exercício. Porém o que poderia parecer algo po- sitivo pode comprometer ainda mais o sistema imunológico, porque citocinas anti-inflamatórias podem desencadear uma susceptibilida- de às infecções ao atenuarem táticas de defesa do organismo. Medicina Ambulatorial VI 48 O que definirá a qualidade da resposta imune à atividade física é a intensidade, a duração e a frequência do exercício a ser praticado. Atividades físicas regulares de intensidade moderada pode levar à redução de recorrência de infecções por fortalecer o sistema imu- nológico. Por outro lado, treinamento de grande intensidade e alta performance tem sido relacionado ao aumento da susceptibilidade aos microrganismos invasores. Isso pode ser explicado, porque atividades de moderada intensida- de direcionam a resposta imune para o braço Th1, ou seja, há uma tendência à proteção contra invasores intracelulares. Já aquelas de alta intensidade revelam um padrão Th2, priorizando reparação dos danos teciduais que possam ter afetado a musculatura esquelética e, portanto, acarretam aumento de citocina pró-inflamatórias, o que resulta no enfraquecimento quanto à defesa contra microrganismos agressores. Além disso, é importante salientar que o sistema imunológico faz parte de um sistema interligado com o sistema neuroendócrino, por meio de sinais moleculares através de hormônios, neurotransmisso- res e citocinas. Para uma análise fidedigna e conclusões não falacio- sas, será necessário analisar, não apenas um aspecto dessa ampla rede integrada, mas o todo, na coordenação, integração e regulação dos eventos, durante o esforço físico. Por fim, apesar dos riscos de alterações do sistema imune com a prática de atividades físicas, sabe-se que o sedentarismo não é uma opção viável para manter uma boa saúde. Exercícios físicos represen- tam uma alternativa importante para a prevenção de muitas doenças crônicas. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 49 REFERÊNCIAS FREITAS, M. P.et. al. Efeitos do exercício físico sobre o sistema imune de mulheres pós-menopausadas: revisão sistemática. Revista Brasileira de Medicina e Esportes, 420-425. (s.l.) 2016. GONÇALVES, P. N. Exercício Físico e sistema imunológico. Porto, 2014. L.L.V. Rocha, R. N. Avaliação do benefício do exercício físico moderado na resposta imunológica de ratos submetidos ao estresse de contenção: Motricidade, 1055-1064, 2012. Leandro, C., et al. Exercício físico e sistema imunológico: mecanismos e integrações. Revista Portuguesa de Ciência e Desporto, 2012, 80-90. MAGNAGO, C. A., & ALVES, M. J. Influência do treinamento físico sobre a resposta imune de atletas de elite: estudo de revisão sistemática. Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2014. PRESTES, J., FOSCHINI, D., & Donatto, F. F. Efeitos do exercício físico sobre o sistema imune. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, 2006, 57-65. TERRA, R., da Silva, S. A., & PINTO, V. S. Efeitodo exercício no sistema imune: resposta, adaptação e sinalização celular. Revista Brasileira de medicina e esporte. 2012, 208-214. 50 Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador 51 Capítulo 4 Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador Alessandro Chaves Corrêa1 Mirna Santana Oliveira1 Laura Rodrigues Pinto Coelho1 Luiz Fernando Cabral Rezende1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO Um dos grandes problemas de saúde pública do século XXI, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é o aumento significativo das doenças e agravos não trans-missíveis (DANTS). Estudos indicam que essas patolo- gias estão entre as principais causas de morte no Brasil e relacionam- -se a tabagismo, etilismo, inatividade física, alimentação inadequada, dentre outros fatores. Doenças crônicas, muitas delas incuráveis, são predominantes no país e podem durar décadas, com relevante per- da da qualidade de vida. No entanto podem ser prevenidas ou con- troladas através da melhoria do estilo de vida, caracterizado como a existência de fatores mensuráveis ligados ao cotidiano das pessoas, determinados e gerenciados por sua razão, com repetição frequente no seu dia a dia. 1 Acadêmicos de Medicina pelo IMES-UNIVAÇO. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 52 PROMOÇÃO À QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Entende-se como qualidade de vida, no âmbito da ciência e biologia, a valorização de padrões mais amplos que o manejo dos sintomas, a redução da mortalidade ou aumento da expectativa de vida. Nesse sentido, a promoção da saúde no trabalho, definida como uma es- tratégia nova e integrada para pessoas e empresas saudáveis, com o propósito de prevenir a doença e desenvolver o potencial de saúde e bem-estar no local de serviço, se torna fator importante para a ma- nutenção da qualidade de vida e saúde do trabalhador. O excesso de atividades laborais tem se relacionado com um aumento do índice de patologias dos profissionais. Por consequência, promo- ve crescente fornecimento de atestados médicos e isenção justificada do trabalho. Por isso, programas de qualidade de vida com o intuito de promover a saúde do trabalhador, através da prática de exercício físico no próprio local de trabalho, têm sido adotados por empresas. Em relação à qualidade de vida no trabalho e empresa, os três fato- res de estilo de vida que mais impactam nos custos operacionais da saúde dos funcionários são sedentarismo, obesidade e tabagismo, sendo que os sedentários exigem 54% a mais em tempo de inter- nação, levando a um custo de 36% maior em despesas de saúde. Os obesos exigem 85% mais em tempo de internação, custam 8% mais em despesas de saúde. Já os fumantes exigem 114% mais em tempo de internação, faltam 40% mais do trabalho do que não fumantes e consequentemente apresentam um custo de 26% maior em despe- sas de saúde. Existem evidências científicas e recomendações que visam, através de ações coletivas, à promoção de saúde do trabalhador, dentre elas, destaca-se o incentivo à atividade física. As estratégias adotadas por empresas variam e dependem da dimensão, das instalações, da dis- ponibilidade dos recursos e da política institucional. Incluem, por exemplo: ginástica laboral, abertura de espaço fitness, convênio e Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador 53 descontos em academias, aconselhamento em grupos para superar as dificuldades à prática de atividade física e formação de equipes de caminhadas e corridas. EXERCÍCIO FÍSICO Exercício físico é definido como atividade física planejada, estrutura- da e repetitiva que objetiva a melhora e manutenção de um ou mais componentes da aptidão física. A relação entre atividade e saúde é consenso na literatura, quanto à intensidade, frequência e duração para prevenção de doenças. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, é ideal, para os adultos, a prática de, pelo menos, 150 minutos por semana de ativi- dade física (AF) moderada ou 75 minutos por semana de atividade física vigorosa, sem determinação de frequência diária. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, um a cada dois adultos não pratica o nível de atividade física orientada pela OMS. Sabe-se que o sedentarismo aumenta o índice de mortalidade por doenças crô- nicas, como as cardíacas e diabetes, em 20% a 30%, se comparado àqueles que realizam ao menos 30 minutos de atividade física mo- derada, cinco vezes por semana. Portanto, é importante planejar o cotidiano, a fim de tornar a atividade física rotineira e alcançar uma melhor qualidade de vida. INATIVIDADE FÍSICA E GASTOS COM A SAÚDE O aumento dos custos com serviços médico-hospitalares (SMH) por parte das empresas tem ocorrido de forma superior ao avanço da inflação geral. Em 2016, a SMH foi de 20,4%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 6,3%. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos indicam que para cada dólar investido em programas de qualidade de vida dos funcionários, nos Medicina Ambulatorial VI 54 quais se incluem o incentivo à pratica de atividade física, são econo- mizados três dólares, incluindo assistência médica, diminuição das faltas no trabalho, na rotatividade, além de um aumento significativo da produtividade. Diante desse cenário, os programas de promoção da saúde no trabalho, incluindo os de incentivo à prática regular de atividade física, constituem objeto de interesse das empresas, não só pelos benefícios à saúde, mas também pelo potencial de redução nos custos com despesas médico-hospitalares, aumento da produtivida- de, retenção de talentos, bem como diminuição do absenteísmo. Um estudo realizado no Brasil utilizou dados de 2013, do Siste- ma Único de Saúde, referentes ao número e respectivo custo das internações por neoplasia maligna de cólon e mama, doenças ce- rebrovasculares, doenças isquêmicas do coração, hipertensão, dia- betes e osteoporose. Foram realizadas 974.641 internações hospi- talares devido às doenças crônicas avaliadas em adultos com idade igual ou superior a 40 anos. Essas internações tiveram custo de R$1.848.627.410,03 para o SUS. Dessa forma, esse custo social que as doenças crônicas degenera- tivas apresentam para a sociedade passou também a ser observada nas empresas, levando a mudanças operacionais e econômicas em relação aos funcionários de diferentes níveis na empresa. Estudos realizados mostraram que funcionários com baixo nível de aptidão física apresentam comprometimentos em relação ao trabalho, sendo que indivíduos obesos tendem a faltar 22% a mais que não obesos, tabagistas se ausentam em média 34 dias a mais por ano que não fumantes e hipertensos faltam 28,2% a mais que normotensos. Por outro lado, os custos médicos são reduzidos em ½ dia de internação em ativos comparados com não ativos, economia de 46% por fun- cionários ativos comparados com sedentários, 17% menos visita de funcionários a hospitais e ambulatórios na empresa após início de programas de atividade física e qualidade de vida na empresa. Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador 55 Esses estudos demonstram que empresas que buscaram investimen- to em qualidade de vida e bem-estar parecem ter trazido benefícios para os funcionários. Essa melhoria refletiu na redução da fadiga muscular e tempo de recuperação de esforços pesados, diminuição em 31% dos erros nas atividades do trabalho, aumento médio de 2,7% a 4% na produtividade, melhoria das atividades intelectuais e disposição para o trabalho. DANTS E A PREVIDÊNCIA SOCIAL É notório que o Brasil apresenta altas despesas com a previdênciaem uma trajetória crescente e insustentável. A Reforma Previdenciária e a saúde do trabalhador estão associados, já que se busca o aumento do tempo de contribuição e elevação da idade para a aposentadoria. Para isso, é preciso investir em melhores condições de trabalho e saú- de para os profissionais, com a finalidade de que eles permaneçam no mercado de trabalho saudáveis e com satisfação. Dentre os principais fatores que contribuem para a incapacidade la- boral têm-se as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), as quais podem ocorrer de forma transitória ou definitiva, gerando faltas não programadas dos funcionários, perda da produtividade durante a jornada de trabalho, concessão de auxílios-doença e aposentadorias precoces. As doenças do aparelho circulatório, osteomusculares, as neoplasias e os transtornos mentais e comportamentais são as mais relacionadas à aposentadoria por invalidez. Essas patologias podem ser prevenidas e cabe aos trabalhadores, em- pregadores e gestores instaurarem ações de promoção à saúde no am- biente de trabalho, prevenção e identificação dos riscos para as DCNT. Uma das formas de promoção de saúde seria intervenções como os sistemas de rotação rápida, turno flexível e rotação nos três tur- nos podendo atuar reduzindo o risco de doenças cardiovasculares. Outros fatores que correlacionaram com as patologias do coração Medicina Ambulatorial VI 56 foram os trabalhos com excesso de demanda combinados com falta de controle e fadiga. No Brasil, a Previdência Social atesta que, no ano de 2017, o que mais afastou permanentemente os trabalhadores de seu ambiente la- boral foram os Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), sendo que, dentre as patologias deste grupo, a dorsalgia foi a mais prevalente, com cerca de 83,6 mil casos. Houve destaque tam- bém para os transtornos mentais, comportamentais e ansiosos. Ain- da, segundo dados da Previdência Social, os episódios depressivos e os transtornos de ansiedade, por exemplo, geraram 43,3 mil e 28,9 mil auxílios-doença, respectivamente. GINÁSTICA LABORAL NO TRABALHO Os Programas de exercícios físicos no ambiente de trabalho são co- nhecidos como Ginástica Laboral (GL). Abordam tanto intervenções como alongamento, quanto programas com um conjunto de exer- cícios físicos específicos para compensar os malefícios do trabalho. Realizam-se atividades lúdicas e de reforço muscular para melhora ou manutenção da flexibilidade. A GL é dividida em cinco fases: preparatória, compensatória, rela- xante, corretiva e de manutenção. Dentre os seus benefícios, desta- cam-se a redução da ocorrência de doenças relacionadas ao trabalho e melhora das relações interpessoais. A implantação de um programa de promoção de saúde atua de ma- neira positiva no relacionamento interpessoal dos funcionários. De- vido à satisfação do participante em estar com o outro, observada nas aulas de GL, o trabalho em grupo torna-se constante, assim como a interação e confiança mútua. Pesquisas apontam os benefícios à saúde dos praticantes de GL, como a melhoria na percepção de dores e absenteísmo, diminuição Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador 57 no consumo abusivo de álcool, melhora da motricidade fina, di- minuição da intensidade e frequência da dor osteomuscular e me- lhora postural. Com a implantação do programa de exercício físico no ambiente de trabalho, demonstra-se diminuição dos atestados médicos, melhora no tempo de reação e benefícios para o estado de humor dos trabalhadores. As vantagens apontadas pela prática de Ginástica Laboral se mos- tram importantes, visto que o trabalho é uma atividade que ocu- pa grande parte do tempo do indivíduo e afeta em sua qualidade de vida, causando aumento do cansaço mental, perda de memó- ria imediata, dificuldade de atenção e concentração, insatisfação, transtornos ansiosos, de humor e depressivo, que influencia, inclu- sive, em seu rendimento profissional. Por isso, o ambiente de ofício, torna-se um excelente local para investimentos em saúde, sendo importante ressaltar os inúmeros motivos para aderir programas de exercício físico. A GL gera benefícios tanto para as empresas, quanto para os funcio- nários no que diz respeito aos contextos físico, psicológico, organi- zacional e social. Em relação aos benefícios físicos, destaca-se a prevenção e com- bate das doenças profissionais como as lesões por esforço repetiti- vo (LER) e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), atuando diretamente na prevenção de tais comorbidades; melhora na coordenação, agilidade, ritmo, flexibilidade e diminui a sensação de fadiga após a jornada de trabalho. Além disso, pesquisas indicam que a prática da ginástica laboral contribui para a promoção da qualidade de vida no trabalho (QVT), bem como na redução de dorsalgia, cefaleia e mialgia. No âmbito psicológico, a GL atua, elevando a capacidade de concen- tração e, por consequência, o aumento da produtividade. Eleva a au- toestima, a autoimagem e, principalmente, reduz os níveis de estresse Medicina Ambulatorial VI 58 do trabalhador. O estresse diário impacta, diretamente, no desem- penho das atividades laborais devido a mudanças fisiológicas e afe- ta mecanismos do equilíbrio comportamental e cognitivo. A relação entre os índices de estresse e capacidade de trabalho poderia levar a modificações negativas fisiológicas, comportamentais e cognitivas no indivíduo. As consequências negativas da presença do estresse para a saúde podem ocorrer em diversos sistemas do organismo, incluindo os sistemas cardiovascular (infarto, pressão arterial); digestório (úlce- ras, náuseas, vômitos, perda de apetite); muscular (espasmo, dor, ten- são); gastrointestinal (constipação); respiratório (asma, bronquite); locomotor (artrite, mobilidade); imunológico (redução autoimune). Já os aspectos comportamentais estão relacionados à perda da capa- cidade produtiva, aumento da competitividade, menor controle de situações, egoísmo, impaciência, hostilidade generalizada e passivi- dade. Nos aspectos cognitivos encontramos diminuição da ativida- de intelectual, indecisão e menor produtividade e ansiedade. Desse modo, fica evidente seus benefícios para a organização das atividades diárias das empresas. Por último, os benefícios sociais incluem o favorecimento do traba- lho em equipe, promoção da integração social, melhoria na comuni- cação dentro da empresa e no relacionamento interpessoal. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE MENTAL Estudos comprovam que a prática de atividade física regular reduz o índice de mortes prematuras, acidente vascular encefálico, doenças cardiovasculares, câncer de cólon, mama e diabetes mellitus tipo II. Atua no controle da pressão arterial, evita o ganho de peso, auxilia na prevenção ou redução da osteoporose, gera bem-estar, diminui o estresse, a ansiedade e a depressão, entre outros. Devido a longas horas de serviço e tempo escasso de lazer, observa- -se um aumento dos níveis de transtornos psicológicos nos traba- Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador 59 lhadores, dentre eles a ansiedade. Todavia, deve-se levar em consi- deração que a sobrecarga de trabalho pode acarretar uma síndrome denominada Burnout, caracterizada por acometer trabalhadores que sofrem “esgotamento profissional”. Essa síndrome é causada pela frequente exposição ao estresse emocional e interpessoal no ambiente ocupacional. Segundo dados da OMS, a depressão constitui a principal causa de absenteísmo no mundo e, possivelmente, no futuro, será a maior res- ponsável por incapacitação no século. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), os transtornos mentais são res- ponsáveis pela 3ª maior causa de concessão de benefícios relaciona- dos ao trabalho. Além disso, quando tais transtornos ocorrem em decorrência do ambiente laboral, a situação, ao ser constatada pelo médico responsável, constituiobrigatoriamente a necessidade de se realizar a notificação compulsória. O benefício da AF possui potenciais terapêuticos e preventivos em nível psicopatológico, pois proporciona a diminuição de sintomas ansiosos, bem como a melhora da autoestima e da cognição (em funções como a memória, aprendizagem e produtividade), atuando também como mecanismo de resposta satisfatória na diminuição do stress, da tensão e dos distúrbios do sono. Acredita-se que, em relação a episódios depressivos, a prática de AF de intensidade moderada e rotineira estimula a atuação de fatores responsáveis por mediar efeitos terapêuticos e protetores, como fato- res bioquímicos relacionados a monoaminas, neurotróficos, como o fator de crescimento derivado do cérebro (BDNF) e endócrinos que abrangem o aumento dos níveis plasmáticos de endorfina. Contudo, segundo estudos, há indícios de que a interrupção dos pro- gramas de AF culminam, também, na redução dos efeitos positivos proporcionados pela prática de exercícios físicos, o que evidencia a necessidade da terapêutica ser praticada em longo prazo. Medicina Ambulatorial VI 60 ATIVIDADE FÍSICA E DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES Atividade física (AF) apresenta um papel de destaque na promoção de saúde, na prevenção de diversas doenças e agravos à saúde, na melhora da capacidade motora geral, da dor crônica e de outras de- sordens relacionadas ao sistema musculoesquelético. A dor lombar (DL), por exemplo, apresenta uma alta prevalência, sendo mais co- mum entre os adultos de 40-69 anos. A DL é uma das principais pa- tologias que levam à incapacidade, sendo as dores nas costas a prin- cipal causa de aposentadoria por invalidez no Brasil. As siglas LER (lesões por esforços repetitivos) e DORT (distúrbios osteomusculares relacionadas ao trabalho) são terminologias adota- das no Brasil à fim de denominarem uma série de disfunções osteo- musculares relacionadas às atividades profissionais. Essas lesões são resultados da utilização excessiva, imposta ao sistema osteomuscular e da falta de tempo para recuperação. O número de trabalhadores com diagnóstico de LER tem aumenta- do substancialmente, causando grande aumento de dias de trabalho perdidos; indenizações por afastamentos; queda na produtividade e impasses internos na empresa, levando a prejuízos no desenvolvi- mento econômico do país. A LER e o DORT estão ligados a diversas condições implicadas a processos inflamatórios ou degenerativos de tendões, músculos, ligamentos, nervos e estruturas articulares em diferentes sítios, como punhos, dedos, antebraços, braços e ombros, bem como da região cervical. Dessa forma, esses distúrbios ganham destaque na lista de condições médicas que levam a faltas ao trabalho e à inca- pacidade produtiva de trabalhadores no Brasil e em outros países industrializados. Um estudo elaborado com base nos dados coletados por meio da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), publicado na Revista de Saúde Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador 61 Pública no ano de 2017, evidenciou que a prevalência de Dort na população brasileira foi de 2,5%. A idade média no diagnóstico de Dort foi de 36,3 anos. Estudos apontam que as empresas devem estimular o trabalhador à prática regular de atividade física, pois elas proporcionam rela- xamentos e diminuições de tensões, fortalecimentos musculares, obtenção de flexibilidade das articulações, melhoria da circulação sanguínea, regularização das funções dos nervos, auxilia no fun- cionamento visceral, normaliza a respiração, a digestão e a ativi- dade cerebral. ATIVIDADE FÍSICA E DOENÇAS CARDIOVASCULARES Atualmente, a epidemiologia de DCNT que acomete a população economicamente ativa (PEA), em especial, as de origem cardiovas- cular, tem aumentado a sua prevalência em tal grupo. No Brasil, é estimado que até o ano de 2030, o índice de envelhecimento das pes- soas e a alta incidência de DCNT alcançarão 39% da PEA, o que deve ser considerado um objeto de debate acerca dos pontos referentes à Reforma Previdenciária, pois o aumento do tempo de contribuição deve ser acompanhado de uma melhoria na oferta dos serviços de saúde, incluindo práticas de promoção e prevenção de saúde adequa- das ao perfil epidemiológico da PEA. As doenças cardiovasculares (DCV) constituem a principal causa de morbimortalidade em adultos no mundo. Os fatores de risco asso- ciados às DCV incluem a idade, diabetes, hipertensão, tabagismo, dislipidemia, obesidade e sedentarismo, sendo este a 4ª principal causa de DCNT. A prática de atividade física regularmente, de intensidade modera- da ou intensa possue efeitos benéficos inquestionáveis na prevenção tanto primária como também secundária de DCV. Essa terapêutica a ser adotada atua positivamente na melhora do perfil lipídico (re- Medicina Ambulatorial VI 62 dução do colesterol total, triglicerídeos, lipoproteína de baixa densi- dade - LDL-c- e aumento da lipoproteína de alta densidade - HDL-c -); na diminuição da pressão arterial, com estímulo à produção de substâncias vasodilatadoras. Além disso, contribui, também, para o controle glicêmico, ao aumentar o consumo de oxigênio através do aumento das demandas musculares e melhora a função endotelial e a circulação coronariana ao diminuir o nível de inflamação vascular. REFERÊNCIAS AGUIAR, L. U. B. et al. Definições e conceitos. In: BRANCO, A. E. (Org.). Ginástica laboral: prerrogativa do profissional de educação física. 1 ed. Rio de Janeiro: Confef, 2015. v. 1, p. 25-33. ALVES, A. J. et al. Physical activity in primary and secondary prevention of cardiovascular disease: overview updated. World J Cardiol, Maia, v.8, n.10, 2016. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5088363. Acesso em: 29 abr. 2019. ANJOS, L. A. et al. Tendência do nível de atividade física ocupacional e estado nutricional de adultos ao longo de quatro décadas no Brasil. Rev Bras Saude Ocup, v. 43, n. 5 p. 1-12, 2018. ASSUNÇÃO, A. A.; ABREU, M. N. S. Fatores associados a distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho autorreferidos em adultos brasileiros. Rev Saúde Pública, Belo Horizonte, v. 51, n. 1, p. 1-12, 2017. BATISTA, J. I.; OLIVEIRA. A.; Efeitos psicofisiológicos do exercício físico em pacientes com transtorno de ansiedade e depressão. Corpoconsciência, Cuiabá, v. 19, n.3, 2015. Disponível em: http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/ corpoconsciencia/article/view/3974. Acesso em: 29 abr. 2019. BIELEMANN, R. M. et al. Impacto da inatividade física e custos de hospitalizações por doenças crônicas. Revista Saúde Pública, Pelotas, v. 49, n. 1, 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v49/pt_0034-8910-rsp-S0034-89102015049005650. pdf. Acesso em: 29 abr. 2019. CERATTI, A.; ANDO, N. M.; QUEIROZ, O. Abordagem à saúde ocupacional na atenção primária à saúde. In: GUSSO, G.; LOPES, J. M. C. (Org.). Tratado de Medicina de Família e Comunidade: princípios, formação e prática. 1 ed. São Paulo: Artmed, 2012. v. 1, p. 600-616. CICHOCKI, M. et al. Atividade física e modulação do risco cardiovascular. Rev Bras Med Esporte, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 21-25, 2017. Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador 63 COSTANZI, R. N. et al. Reforma da previdência social. In: IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Desafios da nação, 2018, cap. 20, p. 129-191. DIAS, J. et al. Prática de atividade física em docentes do ensino superior: foco na qualidade de vida. Escola Ana Nery, v. 21, n. 4, p. 1-6, 2017. FERREIRA, J. S.; DIETTRICH, S. H. C.; PEDRO, D. A. Influência da prática de atividade física sobre a qualidade de vida de usuários do SUS. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 39, n. 106, p. 792-801, 2015. GODINHO, M. R.; FERREIRA, A. P. Aposentadoria no contexto de Reforma Previdenciária: análise descritiva em uma instituição de ensino superior. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 41, n. 115, p. 1007-1019, 2017. HYEDA, A.; SBARDELLOTTO,E.; COSTA, M. A relação entre a ergonomia e as doenças crônicas não transmissíveis e seus fatores de risco. Rev Bras Med Trab, Vila Velha, v. 15, n. 2, p. 173-181, 2017. LAUX, R. C.; HOFF, K.; ANTES, D. L.; CVIATKOVSKI, A.; CORAZZA, S. T. Efeito de um programa de exercício físico no ambiente de trabalho sobre a ansiedade. Ciencia y Trabajo, v.20, n. 62, p. 80-83, 2018. MELHORAMENTOS, E. Aposentadoria e INSS: Entenda Como Funcionam e Defenda-se. Editora Melhoramentos, São Paulo, 2015. p.63. MENDES, R. Patologia do Trabalho. 3 ed. São Paulo: Atheneu, 2013. p.830. v.2. MENEGUCI, J.; GARCIA, C. A.; SASAKI, J. E.; JÚNIOR, J. S. V. Atividade física e comportamento sedentário: fatores comportamentais associados à saúde de idosos. Arq Cien Esp, v. 4, n. 1, p. 27-28, 2016. Disponível em: http://seer.uftm.edu.br/ revistaeletronica/index.php/aces/article/download/1970/1995. Acesso em: 29 abr. 2019. MITSUNAGA, P. et al. Avaliação de um programa regular de atividade física sobre os custos médico-hospitalares de uma empresa de serviços de saúde. Rev Bras Med Trab, Campinas, v. 16, n. 2, p. 121-127, 2016. MOREIRA, A. A. et al. Aposentadoria por invalidez de servidores públicos universitários: perfil epidemiológico e causas. Rev Bras Enferm, v. 71, n. 2, p. 310- 317, 2018. NEVES, R. F.; ARAÚJO, S. P. A.; MAGALHÃES, L. V.; LIMA, M. A. G. A ginástica laboral no Brasil entre os anos de 2006 e 2016: uma scoping review. Rev Bras Med Trab, João Pessoa, v. 16, n.1, p. 82-96, 2018. POLLI, G. R. et al. Atividade física e dor lombar em brasileiros: uma revisão sistemática. Rev Bras Ativ Fís Saúde, Jundiaí, v. 23, n.1, 2018. Disponível em: http://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/13561/10929. Acesso em: 29 abr. 2019. Medicina Ambulatorial VI 64 SANTOS, A. C. Q. et al. Aposentadorias por invalidez e doenças crônicas entre os servidores da Prefeitura Municipal dê Uberlândia, Minas Gerais, 1990-2009, Cad Saúde Colet, v. 23, n. 1, p. 57-62, 2015. SOUZA, A. P. et al. Qualidade de vida no trabalho utilizando a ginástica laboral. Saúde em Foco, São Lourença, 2015. v. 1, n. 7, p. 271- 281. Disponível em: http:// portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/06/33quali_ vida_laboral.pdf. Acesso em: 19 abr. 2019 TOMMASINI, B.; Contribuição da prática de exercícios físicos na qualidade de vida no trabalho: estudo de caso de uma empresa no setor de agronegócio. Revista Unemat de Contabilidade, Nova Mutum, v. 4, n. 7, 2015. Disponível em: https:// periodicos.unemat.br/index.php/ruc/article/view/280. Acesso em: 29 abr. 2019. ZICK, L. Atividade física e saúde: conceitos e benefícios. EFDeportes.com, Buenos Aires, n. 201, 2015. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd204/atividade- fisica-e-saude-conceitos-e-beneficios.htm. Acesso em: 17 abr. 2019. CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 65 Capítulo 5 CIPA-Comissão Interna de Prevenção de Acidentes Claudia Freitas Hooper1 Débora Tereza de Souza Pinto Linhares1 Michelle Cristian Lagares Ferreira1 Poliana Libório dos Santos Villas Boas1 Vinícius da Cunha Linhares2 INTRODUÇÃO A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças ocu-pacionais, de modo a atuar na preservação da vida e na promoção da saúde do trabalhador. A CIPA foi estabele- cida e é regimentada por meio da Norma Regulamentadora 5 (NR5) aprovada em 08 de junho de 1978, através da Portaria nº 3214. As Normas Regulamentadoras (NR) devem ser obrigatoriamente se- guidas pelas empresas privadas e públicas, bem como pelos órgãos públicos, órgãos dos poderes legislativo e judiciário que possuam empregados regidos pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). 1 Acadêmicos do curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga-MG 2 Graduação em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga (2013). Especialização em Urgência e Emergência pela Unimed. MBA Executivo em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Gerente de Saúde Ocupacional da Fundação São Francisco Xavier. Prestador de serviços em Urgência e Emergência e medicina do trabalho para a Aperam South América. Médico plantonista em Urgência e Emergência pelo Centro de Saúde João Otávio/ Timóteo. Medicina Ambulatorial VI 66 A CIPA deverá abordar as relações entre o homem e o ambiente de trabalho, objetivando a constante melhoria das condições laborais para prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho. A higiene e a segurança do trabalho são atividades intimamente rela- cionadas com o objetivo de garantir condições capazes de manter o nível de saúde dos colaboradores de uma empresa. Promover medi- das de prevenção de doenças profissionais e identificar fatores que possam afetar o ambiente do trabalho com o objetivo de eliminar ou reduzir condições inseguras ao trabalhador. A CIPA é uma das ferramentas de suma importância para proteção do trabalhador, uma vez que o próprio trabalhador auxilia no fun- cionamento da mesma dentro da empresa. CONSTITUIÇÃO Conforme a NR5, deve-se constituir CIPA, por estabelecimento, e mantê-la em regular funcionamento as empresas privadas, públicas, sociedades de economia mista, órgãos da administração direta e in- direta, instituições beneficentes, associações recreativas, cooperati- vas, bem como outras instituições que admitam trabalhadores como empregados. Aplica-se aos trabalhadores avulsos e às entidades que lhes tomem serviços, observadas as disposições estabelecidas em Normas Regulamentadoras de setores econômicos específicos. A empresa que possuir, em um mesmo município, dois ou mais esta- belecimentos, deverá garantir a integração das CIPAs e dos designados, conforme o caso, com o objetivo de harmonizar as políticas de segurança e saúde no trabalho. As empresas instaladas em centro comercial ou in- dustrial estabelecerão, através de membros de CIPA ou designados, me- canismos de integração com objetivo de promover o desenvolvimento de ações de prevenção de acidentes e doenças decorrentes do ambiente e instalações de uso coletivo, podendo contar com a participação da ad- ministração do centro comercial ou industrial em que se está instalado. CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 67 ORGANIZAÇÃO A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes é composta por repre- sentantes do empregador e representantes dos empregados. Segundo a NR 5, as empresas privadas ou públicas e órgãos da administração direta ou indireta, que possuam 20 (vinte) ou mais empregados regi- dos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estão obrigados a organizar a CIPA com as atribuições legais e finalidades regulamen- tadas pela norma. Os representantes dos empregadores serão desig- nados pela empresa. Os representantes dos empregados serão eleitos por voto secreto, através de uma eleição em que todos os trabalhado- res poderão se candidatar e votar. O número de membros da CIPA será de acordo com o número de empregados no estabelecimento. A CIPA não poderá ter o seu número de representantes reduzidos, nem deve ser desativada antes do término do mandato de seus mem- bros, ainda que haja redução no número de empregados da empresa, exceto no caso de encerramento das atividades do estabelecimento. O empregado eleito para o cargo de direção da CIPA não poderá ser dispensado, arbitrariamente, ou sem justa causa, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato. O mandato dos membros eleitos da CIPA terá a duração de um ano, sendo per- mitida uma reeleição. Os membros da CIPA terão garantidas as condições de suas ativida- des normais na empresa, não podendo ser transferidos para outro estabelecimento sem a sua anuência. O empregador deve garantir que seus indicados tenham representa- ção necessária para a discussão e encaminhamento de soluções rela- cionadas à segurança e saúde do trabalhador analisadas pela CIPA. O empregador designará entre seus representantes o Presidenteda CIPA e os representantes dos empregados escolherão entre os titula- Medicina Ambulatorial VI 68 res o Vice-Presidente. De comum acordo entre as partes, será esco- lhido, também, um secretário e substituto, entre os componentes ou não da comissão. A documentação referente ao processo eleitoral da CIPA, incluindo atas de eleição e posse e calendário anual das reuniões, deve ficar no estabelecimento à disposição do Ministério do Trabalho e Emprego. O empregador deve fornecer cópias das atas de eleição e posse a to- dos os membros da CIPA, sejam eles titulares ou suplentes. Para que a empresa consiga alcançar os objetivos estabelecidos pela legislação, é preciso que sejam definidas metas e atribuições aos membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. ATRIBUIÇÕES Segundo a Norma Regulamentadora 5, a CIPA terá por atribuição identificar os riscos do processo de trabalho e elaborar um mapa, com a participação do maior número de trabalhadores, com asses- soria do SESMT. Deverá, também, elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução de problemas de segurança e saúde no trabalho; participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de prevenção necessárias, bem como da ava- liação das prioridades de ação nos locais de trabalho. É de responsabilidade, também, da Comissão realizar verificações nos ambientes e condições de trabalho, visando à identificação de situações que venham a trazer riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores; realizar, a cada reunião, avaliação do cumprimento das metas fixadas em seu plano de trabalho e discutir as situações de risco que foram identificadas; divulgar aos trabalhadores informa- ções relativas à segurança e saúde no trabalho. Compete à organização participar, com o SESMT, onde houver, das discussões promovidas pelo empregador para avaliar os im- CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 69 pactos de alterações no ambiente e processo de trabalho relacio- nados à segurança e saúde dos trabalhadores; requerer ao SESMT, quando houver, ou ao empregador, a paralisação de máquina ou setor onde considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores; colaborar no desenvolvimento e imple- mentação do PCMSO e PPRA e de outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho; divulgar e promover o cumpri- mento das Normas Regulamentadoras, bem como cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho, relativas à segurança e saúde no trabalho. Em conjunto com o SESMT, onde houver, ou com o empregador, participar da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e propor medidas de solução dos problemas identificados; requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores; requisitar à em- presa as cópias das CAT emitidas. Enfim, é de responsabilidade da CIPA promover, anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, a Semana Interna de Preven- ção de Acidentes do Trabalho (SIPAT) e participar, em conjunto com a empresa, de Campanhas de Prevenção da AIDS. FUNCIONAMENTO A CIPA é uma ferramenta de prevenção de extrema importância nas empresas. Uma das premissas é, justamente, identificar os riscos existentes no ambiente de trabalho, exigindo ações para minimizar ou cessar os perigos relacionados, preservando, dessa forma, a saúde e integridade física de todos os trabalhadores contratados da empre- sa bem como dos prestadores de serviços. É um dos principais meios de se estabelecer o diálogo e a conscientização entre os colaboradores e empregadores, mantendo assim a produtividade, o bem-estar, a se- gurança e a saúde dos trabalhadores em geral. Medicina Ambulatorial VI 70 Quanto ao funcionamento da CIPA, a Norma Regulamentadora (NR5) estabelece que sejam realizadas reuniões ordinárias mensais, de acordo com o calendário preestabelecido. Todas as atividades da comissão deverão ser realizadas em horário normal de trabalho, sen- do o empregador responsável por providenciar que o trabalhador esteja presente nas reuniões ou ações da comissão sem prejuízos ao seu trabalho. Haverá reuniões extraordinárias no caso de denúncia de situação de risco grave e iminente que determine aplicação de medidas cor- retivas de emergência, ocorrência de acidente do trabalho grave ou fatal, ou se houver solicitação expressa de uma das representações. Todas as reuniões, ordinárias e extraordinárias, deverão ser registra- das em ata e assinada por todos os participantes. As atas ficarão no estabelecimento à disposição dos agentes de inspeção do trabalho e deverão ser entregues cópias das mesmas a todos os representantes da comissão. As decisões da CIPA serão, preferencialmente, por consenso. Não havendo consenso e frustradas as tentativas de negociação direta ou com mediação, será instalado processo de votação, registrando-se a ocorrência na ata da reunião. O membro titular perderá o mandato, sendo substituído por suplen- te, quando faltar a mais de quatro reuniões ordinárias sem justifica- tiva. A norma estabelece que seja obedecida a ordem de colocação decrescente registrada na ata de eleição para a substituição do cargo. O empregador terá dois dias úteis para realizar essa ação. Quanto ao afastamento definitivo do vice-presidente, os membros titulares da representação dos empregados escolherão o substituto, entre seus ti- tulares, em dois dias úteis. Caso não existam suplentes para ocupar o cargo, o empregador deve realizar eleição extraordinária, cumprindo todas as exigências estabelecidas para o processo eleitoral. O man- dato do membro eleito em processo eleitoral extraordinário deve ser CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 71 compatibilizado com o mandato dos demais membros da Comissão e o posterior treinamento desse membro deve ser realizado no prazo máximo de trinta dias, contados a partir da data da posse. TREINAMENTO O maior objetivo da CIPA é unir empregadores e empregados para que juntos desenvolvam maneiras de prevenir acidentes e melhorar a qualidade do ambiente de trabalho. Para tal, faz-se necessário a realização de treinamento dos membros, titulares e suplentes, antes da posse. O prazo máximo para realização do treinamento é de trinta dias, a serem contados a partir da data da posse. Deverão ser contemplados o estudo do ambiente, das condições de trabalho, os riscos originados do processo produtivo, metodologia de investigação e análise de acidentes e doenças do trabalho, noções sobre acidentes e doenças do trabalho, decorrentes de exposição aos riscos existentes na empresa, noções sobre a Síndrome da Imunode- ficiência Adquirida - AIDS, medidas de prevenção, noções sobre as legislações trabalhista e previdenciária relativas à segurança e saúde no trabalho, princípios gerais de higiene do trabalho e de medidas de controle dos riscos, organização da CIPA e outros assuntos necessá- rios ao exercício das atribuições da Comissão. A carga horária do treinamento será de vinte horas e devem ser dis- tribuídas em no máximo oito horas diárias, sendo realizadas durante o expediente normal da empresa. Como responsáveis para ministrar esse treinamento, pode-se citar o SESMT da empresa, bem como a entidade patronal de trabalhadores ou por qualquer outro profissional que seja apto a discorrer sobre os temas supracitados. Caso fique comprovada que algum item da normatização não foi ob- servado, caberá à unidade descentralizada do Ministério do Traba- Medicina Ambulatorial VI 72 lho e Emprego, a determinação de complementação ou a realização de outro treinamento, devendo ser efetuado no prazo máximo de trinta dias, a serem contados da data de ciência da empresa sobre a decisão. PROCESSO ELEITORAL Em respeito ao processo eleitoral, a Norma estabelece que o empre- gador deverá convocar eleições para escolha dos representantes dos empregados na CIPA, no prazo mínimo de 60 (sessenta) dias antes do términodo mandato em curso, e que a empresa estabelecerá me- canismos para comunicar o início do processo eleitoral a todos os empregados. O Presidente e o Vice Presidente da CIPA constituirão dentre seus membros, no prazo mínimo de 55 (cinquenta e cinco) dias antes do término do mandato em curso, a Comissão Eleitoral (CE), que será a responsável pela organização e acompanhamento do processo eleitoral, conforme consta na norma, no item 5.40: O processo eleitoral observará as seguintes condições: a) publicação e divulgação de edi- tal, em locais de fácil acesso e visualização, no prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias antes do término do mandato em curso; b) inscrição e eleição individual, sendo que o período mínimo para inscrição será de quin- ze dias; c) liberdade de inscrição para todos os empregados do estabelecimento, independen- temente de setores ou locais de trabalho, com fornecimento de comprovante; d) garantia de emprego para todos os inscritos até a eleição; e) realização da eleição no prazo mínimo de 30 (trinta) dias antes do término do mandato da CIPA, quando houver; f) realização de eleição em dia normal de trabalho, respeitando os ho- rários de turnos e em horário que possibilite a participação da maioria dos empregados. g) CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 73 voto secreto; h) apuração dos votos, em horá- rio normal de trabalho, com acompanhamento de representante do empregador e dos empre- gados, em número a ser definido pela comis- são eleitoral; i) faculdade de eleição por meios eletrônicos; j) guarda, pelo empregador, de to- dos os documentos relativos à eleição, por um período mínimo de cinco anos. Todos os prazos estabelecidos deverão ser cumpridos, sob o risco de ter que iniciar um novo processo de eleição, se houver descumpri- mento dos mesmos. Havendo participação inferior a cinquenta por cento dos empregados na votação, não haverá a apuração dos votos e a comissão eleitoral deverá organizar outra votação que ocorrerá no prazo máximo de dez dias. Compete à unidade descentralizada do Ministério do Trabalho e Em- prego, confirmadas irregularidades no processo eleitoral, determinar a sua correção ou proceder a anulação quando for o caso. A empresa deverá convocar nova eleição em até cinco dias, sendo garantidas as inscrições anteriores. Caso ocorra a anulação antes da posse dos membros, ficará assegurada a prorrogação do mandato anterior. Os candidatos votados e não eleitos serão relacionados na ata de eleição e apuração, em ordem decrescente de votos, possibilitando nomea- ção posterior, em caso de vacância de suplentes. É prudente que o colaborador que se candidate a fazer parte dessa comissão compreenda a importância do seu papel que é atuar, ativamente, no processo de preservação da saúde e vida do traba- lhador, tendo em vista o crescente número de acidentes no Brasil. Portanto a CIPA de cada empresa deve trabalhar arduamente com motivação e interesse para alcançar esses objetivos. A empresa, por sua vez, deverá apoiar as suas ações e dispor de meios para que essa comissão seja ativa e participativa e não mais uma mera atividade burocrática. Medicina Ambulatorial VI 74 DAS CONTRATANTES E CONTRATADAS A NR- 5 explicita que o local do estabelecimento a ser considerado, será aquele em que os empregados estiverem exercendo suas ativida- des, ao se tratar de empreiteiras ou empresas prestadoras de serviço. Esclarece, ainda, que, quando duas ou mais empresas atuarem em um mesmo estabelecimento, a CIPA deverá, conjuntamente com as empresas contratadas, promover um meio de integração e participa- ção de todos os trabalhadores sobre suas decisões naquele estabeleci- mento, bem como implementar medidas de prevenção de acidentes e doenças do trabalho, garantindo o mesmo nível de proteção em matéria de segurança e saúde a todos os trabalhadores. Cabe ainda à empresa contratante adotar medidas necessárias para que todos lotados no mesmo estabelecimento tenham acesso às mes- mas informações sobre os riscos presentes nos ambientes de traba- lho, bem como sobre as medidas de proteção adequadas. Ainda é de responsabilidade da empresa contratante adotar as provi- dências necessárias para acompanhar o cumprimento pelas empre- sas contratadas que atuam no seu estabelecimento, das medidas de segurança e saúde no trabalho. REFERÊNCIAS BALSANOA, M.A.; SIMONELLIB, A.P. Caracterização dos tipos de acidentes de trabalho do ambulatório de Terapia Ocupacional do Hospital do Trabalhador de Curitiba, PR. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 23, n. 1, p. 53-61, 2015. BALTHAZAR, M.A.P.et al. Gestão dos Riscos Ocupacionais nos Serviços Hospitalares. Revista de Enfermagem Ufpe, Recife, v. 9, n. 11, p.3482-3491, set. 2017. BEZERRA, A.M.F. et al. Riscos ocupacionais e acidentes de trabalho em profissionais de enfermagem no ambiente hospitalar. Revista Brasileira de Educação e Saúde (REBES), Pombal- PB, v.5, n.2, p. 1-7, abr-jun. 2015. CAMPOS, A. A. M. Comissão Interna de prevenção de acidentes: uma nova abordagem. 23. ed. São Paulo: Senac SP, 2015. CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes 75 CARRARA, G. L. R.; MAGALHÃES, D. M.; LIMA, R.C. Riscos ocupacionais e os agravos à saúde dos profissionais de enfermagem. Revista Fafibe, Bebedouro-SP, v.1, n. 8, p.265-286, dez. 2015. CHAGAS, A.M.R.; SALIM, C.A.; SERVO, L.M.S. Saúde e segurança no trabalho no Brasil: aspectos institucionais, sistemas de informação e indicadores. 2.ed. São Paulo: p.391, 2012. DA SILVA, A. G et al. Treinamento da cipa por intermédio do lúdico. Portal Periódico Uscs, São Caetano do Sul, v.1, n.1, p.53-60, jan. 2017. Disponível em: http://seer.uscs. edu.br/index.php/revista_inovacao_tecnologia/article/view/4494/2070 Acesso em: 19 abr. 2019. ITURRA, B. R.; FEBRÉ, N. Impacto de la gestión de riesgos en la prevención de eventos adversos durante el traslado intrahospitalario de pacientes. Ciencia y Enfermería, [s.l.], Concepción, v. 21, n. 1, p.35-43, abr. 2015. MACEDO, Z. M. de; MEDEIROS, S. M. de; COSTA, R. R. O. Conhecimento de profissionais de enfermagem acerca dos órgãos de atenção à saúde do trabalhador. Revista Enfermagem Ufsm, Natal, v. 1, n. 5, p.103-111, jan. 2015. Manuais de legislação Atlas. Segurança e medicina do trabalho: normas regulamentadoras, legislação complementar e índices remissivos. 75. ed. São Paulo: Atlas, 2015. MENDES, A. F. A importância da comissão interna de prevenção de acidentes para as empresas. Anais jornada de engenharia de produção,UNIC Tangará da Serra- MT, v.2, 2016. NR, Norma Regulamentadora Ministério do Trabalho e Emprego. NR-5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes. 2009. PINTO, J. M. Tendência na incidência de acidentes e doenças de trabalho no Brasil: aplicação do filtro Hodrick-Prescott. Rev. bras. saúde ocupacional, São Paulo, v. 42, 2017. PUSTIGLIONE, M. A segurança (e saúde) do trabalhador da saúde e a segurança do paciente: uma análise do impacto das ações de segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. Rev. Adm. Saúde, v. 17, n. 66, [sl], 2017. REZENDE, L.C.M. et al. Acidentes de trabalho e suas repercussões na saúde dos profissionais de enfermagem. Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 29, n. 4, p.307-317, dez. 2015. ROLOFF, D.I.T. et al. Enfermeiros do trabalho: experiência interdisciplinar em saúde do trabalhador. Revista Brasileira de Enfermagem, [s.l.], v. 69, n. 5, p.897- 905, out. 2016. Medicina Ambulatorial VI 76 SANTOS, S.V.M. et al. Acidente de trabalho e autoestima de profissionais de enfermagem em ambientes hospitalares. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.25, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-11692017000100328&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 23 abr.2019. SHOJI, S. et al. Proposals for improving working conditions at an outpatient clinic: the nursing standpoint. Escola Anna Nery - Revista de Enfermagem, v. 20, n. 2, p.407-418, [s.l.], 2016. SILVA,M. C.; BORGES, L.O. Condições de trabalho e clima de segurança dos operários da construção de edificações. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, Brasilia, v. 15, n. 4, p.407-418, dez. 2015. Disponível em: http://pepsic. bvsalud.org/pdf/rpot/v15n4/v15n4a08.pdf. Acesso em: 19 abr. 2019. SIMONELLI, A.P. et al. Influência da segurança comportamental nas práticas e modelos de prevenção de acidentes do trabalho: revisão sistemática da literatura. Saude soc., São Paulo, v. 25, n. 2, p. 463-478, jun. 2016. SOARES, S.M. et al. Workplace accidents in Brazil: analysis of physical and psychosocial stress and health-related factors. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, São Paulo, v. 19, n. 3, 2018. SOUZA, G.F. et al. Fatores de riscos ocupacionais e implicações à saúde do trabalhador em biotérios. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 41, n. 2, p.188-199, jun. 2017. TAVARES, J. da C. Tópicos de administração aplicada à segurança do trabalho.10 ed. São Paulo: SENAC, 2010. VILELA, R. A. G. et al. A expansão do objeto da vigilância em acidente do trabalho: história e desafios de um centro de referência em busca da prevenção. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 9, p. 3055-3066, sept. 2018. Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção 77 Capítulo 6 Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção Gabriel Moraes Neves Reis1 Hugo de Brito Azevedo1 Laura Souza Cotta1 Matheus Moreira Drumond1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO Segundo a norma regulamentadora NR-06, considera-se equipamento de proteção individual (EPI) todo dispositi-vo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalha-dor, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e saúde no trabalho. Dessa forma, os EPI podem ser assim classificados: aqueles que protegem contra riscos inerentes a um trabalho e aqueles que protegem contra riscos que pode- riam ser evitados/controlados. Essa segunda categoria deve ser considerada para uso como último recurso, ou seja, após todas as possibilidades preventivas com relação ao local de trabalho terem sido exploradas. 1 Acadêmicos do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga, MG. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde do meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em impacto da qualidade do ar na saúde humana pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 78 Infelizmente, há certo consenso de que o uso de EPI é a única forma para prevenir qualquer risco, sobretudo em casos que en- volvem contaminantes atmosféricos. Nesse sentido, a proteção respiratória é, muitas vezes, indispensável como em operações es- porádicas, trabalhos de manutenção, trabalhos em espaços confi- nados e, ainda, quando outros métodos de controle são, realmen- te, impraticáveis. Também quando somente um trabalhador ou poucos são expostos a riscos, o uso de EPI pode ser uma solução temporária ou emergencial. Ademais, muitas vezes é necessário recorrer à proteção auditiva, por exemplo, em certos trabalhos em aeroportos ou locais onde ocorre a produção de ruídos excessivos. A escolha desses EPI’S deve ser, prioritariamente, realizada por profissionais experientes, competentes e estudada, cuidadosamen- te, para que seja feita a melhor escolha situacional. Por exemplo, existem muitos tipos de proteção respiratória, desde elmos com circulação de ar, até meias-máscaras de borracha, praticamente impossíveis de utilizar por muito tempo, sobretudo em ambientes quentes. A variedade de protetores auditivos é muito grande, sen- do esse assunto amplamente discutido na literatura especializada. Sempre deverá ser consultado o material informativo preparado pelos próprios fabricantes. Caso o uso de EPI’s seja necessário e justificado pelos devidos profis- sionais, é essencial que sejam comprovadamente eficazes e de quali- dade comprovada, adequados ao risco, adaptados ao usuário e con- fortáveis, de material resistente aos agentes presentes. Mas devem, também, ser utilizados corretamente e bem adaptados ao trabalha- dor, cuidados e, rotineiramente, mantidos conservados. Sempre que houver algum sinal de deterioração dos EPI’s, a troca deverá ser considerada. Por exemplo, usar luvas de proteção velhas e perfuradas para manuseio de materiais agressivos é pior que não Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção 79 usá-las. A manutenção periódica dos equipamentos condicionado- res de ar é extremamente importante. Por exemplo, cartuchos que servem como filtros químicos têm vida limitada, filtros de carvão ativado tem um ponto de saturação, além do qual não há mais ab- sorção (havendo então passagem do vapor). Além disso, destaca-se a importância da verificação periódica de eventuais vazamentos. Observa-se a existência de um aspecto cultural, visto que quando se toca no assunto relacionado à prevenção de acidentes, a primeira linha de raciocínio que vem ao pensamento é a utilização de EPI’s, exemplificado pela utilização de materiais como capacete, bota, ou uma luva. Contudo não se pode perder de vista o fato que o EPI não previne totalmente a ocorrência de algum acidente de trabalho, mas apenas ameniza os riscos de uma eventual lesão de maior gravidade. Sendo assim, deve-se priorizar a proteção coletiva em primeiro lugar, dada a sua comprovada eficácia na eliminação ou neutralização do risco ambiental, devido a diversas fontes produtoras. Além disso, a proteção coletiva não depende da variante de o funcionário utilizar ou não o EPI. Sabe-se que a principal obrigação do empregador, referente à área de saúde do trabalhador, é oferecer aos funcionários condições para um ambiente de trabalho saudável e seguro, de modo que os riscos este- jam minimamente presentes, visando à manutenção da integridade física e mental do trabalhador. Dessa maneira, o empregador estará, de forma simplificada, apenas, garantindo aos empregados o que lhes já está garantido na NR-06. Existem diversas condições que podem interferir na isenção dos ris- cos provocados por agentes físicos, químicos, mecânicos ou biológi- cos presentes nos locais de trabalho. No entanto é dever do empre- gador fornecer, de maneira gratuita, todos os EPI’s que o trabalhador possa vir a utilizar em perfeito estado de conservação e funciona- mento. Por outro lado, o operário tem o dever de zelar pela sua se- Medicina Ambulatorial VI 80 gurança e segurança de terceiros, prezar pela conservação dos EPI’s que lhe foram oferecidos e sempre notificar ao empregador qualquer alteração que inviabilize sua utilização ideal. É importante saber que o equipamento de proteção só pode ser co- locado à venda ou utilizado, se houver designação do Certificado de Aprovação do MINISTÉRIO do TRABALHO e EMPREGO (artigo 167 da CLT). NR-06- Equipamento de Proteção Individual (EPI) 6.1 Para os fins de aplicação desta norma regulamentadora – NR, considera-se Equipamento de Proteção Individual -EPI todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo traba- lhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e saúde no trabalho. 6.1.1 Entende-se como Equipamento Conjugado de Proteção In- dividual todo aquele composto por vários dispositivos, que o fabricante tenha associado contra um ou mais riscos que possam ocorrer simultaneamente e que sejam suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho. 6.2 O equipamento de proteção individual, de fabricação nacional ou importado, só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação – CA, expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego. 6.3 A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuita- mente, EPI adequado ao risco, em perfeitoestado de conser- vação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias: A) sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais do trabalho; Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção 81 B) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo im- plantadas; e, C) para atender a situações de emergência. 6.4 Atendidas as peculiaridades de cada atividade profissional, e observado o disposto no item 6.3, o empregador deve fornecer aos trabalhadores os EPI’s adequados, de acordo com o dis- posto no anexo I desta NR. 6.4.1 As solicitações para que os produtos não estejam relacionados ao anexo I, desta NR, sejam considerados como EPI, bem como as propostas para reexame daqueles ora elencados, deverão ser avaliados por comissão tripartite a ser constituída pelo órgão na- cional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, após ouvida a CTPP, sendo as conclusões submetidas àquele ór- gão do Ministério do Trabalho e Emprego para aprovação. 6.5 Compete ao Serviço Especializado em Engenharia de Segu- rança e em Medicina do Trabalho – SESMT, ou à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA, nas empresas de- sobrigadas de manter o SESMT, recomendar ao empregador o EPI adequado ao risco existente em determinada atividade. 6.5.1 Nas empresas desobrigadas de constituir CIPA, cabe ao desig- nado mediante orientação de profissional tecnicamente habi- litado, recomendar o EPI adequado à proteção do trabalhador. 6.6 Cabe ao empregador 6.6.1 Cabe ao empregador quanto ao EPI: A) adquirir o adequado ao risco de cada atividade; B) exigir seu uso. C) fornecer ao trabalhador somente o aprovado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; Medicina Ambulatorial VI 82 D) orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado guarda e conservação; E) substituir imediatamente, quando danificado ou extraviado; F) responsabilizar-se pela higienização e manutenção periódica; e, G) comunicar ao TEM qualquer irregularidade observada. H) registrar o seu fornecimento ao trabalhador, podendo ser adota- dos livros, fichas ou sistema eletrônico. 6.7 Cabe ao empregado 6.7.1 Cabe ao empregado quanto ao EPI: A) usar, utilizando-o apenas para a finalidade de a que se destina: B) responsabilizar-se pela guarda e conservação; C) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne im- próprio para o uso; e, D) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. 6.8 Cabe ao fabricante e ao importador 6.8.1 O fabricante nacional ou importador deverá: A) cadastrar-se, segundo o anexo II, junto ao órgão nacional com- petente em matéria de segurança e saúde no trabalho; B) solicitar emissão do CA, conforme o anexo II; C) solicitar renovação do CA, conforme o anexo II, quando vencido o prazo de validade estipulado pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde do trabalho; D) requerer novo CA, de acordo com o anexo II, quando houver alteração das especificações do equipamento aprovado; E) responsabilizar-se pela manutenção da qualidade do EPI que deu origem ao Certificado de Aprovação – CA; F) comercializar ou colocar à venda somente o EPI, portador de CA; Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção 83 G) comunicar ao órgão nacional competente em matéria de segu- rança e saúde no trabalho quaisquer alterações dos dados cadas- trais fornecidos; H) comercializar o EPI com instruções técnicas no idioma nacional, orientando sua utilização, manutenção, restrição e demais refe- rências ao seu uso; I) fazer constar do EPI o número do lote de fabricação; e, J) providenciar a avaliação da conformidade do EPI no âmbito do SINMETRO, quando for o caso. 6.9 Certificado de Aprovação - CA 6.9.1 Para fins de comercialização o CA concedido aos EPI terá va- lidade: A) de 5 (cinco) anos, para aqueles equipamentos com laudos de en- saio que não tenham sua conformidade avaliada no âmbito do SINMETRO; B) do prazo vinculado à avaliação da conformidade no âmbito do SINMETRO, quando for o caso. C) de 2 (dois) anos, quando não existirem normas técnicas nacio- nais ou internacionais, oficialmente reconhecidas, ou laboratório capacitado para realização dos ensaios, sendo que nesses casos os EPI terão sua aprovação pelo órgão nacional competente em ma- téria de segurança e saúde no trabalho, mediante apresentação e análise do Termo de Responsabilidade Técnica e da especificação técnica de fabricação, podendo ser renovado por 24 (vinte e qua- tro) meses, quando se expirarão os prazos concedidos; D) de 2 (dois) anos, renováveis por igual período, para os EPI de- senvolvidos após a data da publicação desta NR, quando não existirem normas técnicas nacionais ou internacionais, oficial- mente reconhecidas, ou laboratório capacitado para realização dos ensaios, caso em que os EPI serão aprovados pelo órgão na- Medicina Ambulatorial VI 84 cional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, mediante apresentação e análise do Termo de Responsabilidade Técnica e da especificação técnica de fabricação. 6.9.2 O órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, quando necessário e mediante justificativa, poderá estabelecer prazos diversos daqueles dispostos no subitem 6.9.1. 6.9.3 Todo EPI deverá apresentar em caracteres indeléveis e bem visíveis, o nome comercial da empresa fabricante, o lote de fa- bricação e o número do CA, ou, no caso de EPI importado, o nome do importador, o lote de fabricação e o número do CA. 6.9.3.1 Na impossibilidade de cumprir o determinado no item 6.9.3, o órgão nacional competente em matéria de seguran- ça e saúde no trabalho poderá autorizar forma alternativa de gravação, a ser proposta pelo fabricante ou importador, devendo esta constar do CA. 6.10 - Restauração, lavagem e higienização de EPI 6.10.1 - Os EPI passíveis de restauração, lavagem e higienização, serão definidos pela comissão tripartite constituída, na for- ma do disposto no item 6.4.1, desta NR, devendo manter as características de proteção original. 6.11 Da competência do Ministério do Trabalho e Emprego / MTE 6.11.1 Cabe ao órgão nacional competente em matéria de seguran- ça e saúde no trabalho: A) cadastrar o fabricante ou importador de EPI; B) receber e examinar a documentação para emitir ou renovar o CA de EPI; C) estabelecer, quando necessário, os regulamentos técnicos para ensaios de EPI; Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção 85 D) emitir ou renovar o CA e o cadastro de fabricante ou importador; E) fiscalizar a qualidade do EPI; F) suspender o cadastramento da empresa fabricante ou importa- dora; e, G) cancelar o CA. 6.11.1.1 Sempre que julgar necessário o órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, poderá requi- sitar amostras de EPI, identificadas com o nome do fabri- cante e o número de referência, além de outros requisitos. 6.11.2 Cabe ao órgão regional do MTE: A) fiscalizar e orientar quanto ao uso adequado e a qualidade do EPI; B) recolher amostras de EPI; e, C) aplicar, na sua esfera de competência, as penalidades cabíveis pelo descumprimento desta NR. 6.12 Fiscalização para verificação do cumprimento das exigências legais relativas ao EPI 6.12.1 Por ocasião da fiscalização poderão ser recolhidas amostras de EPI, no fabricante ou importador e seus distribuidores ou revendedores, ou ainda, junto à empresa utilizadora, em numero mínimo a ser estabelecido nas normas técnicas de ensaio, as quais serão encaminhadas, mediante oficio da autoridade regional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, a um laboratório credenciado junto ao MTE ou ao Simetro, capaz de realizar os respectivos laudos de ensaios, ensejando comunicação posterior ao órgão na- cional competente. 6.12.2 O laboratório credenciado junto ao MTE ou ao Simetro, de- verá elaborar laudo técnico, no prazo de 30 (trinta) dias a MedicinaAmbulatorial VI 86 contar do recebimento das amostras, ressalvados os casos em que o laboratório justificar a necessidade de dilatação deste prazo, e encaminhá-lo ao órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho, ficando re- servado à parte interessada a acompanhar a realização dos ensaios. 6.12.2.1 Se o laudo de ensaio concluir que o EPI analisado não atende aos requisitos mínimos especificados em normas técnicas, o órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho expedirá ato suspendendo a comercialização e a utilização do lote do equipamento, publicando a decisão no Diário Oficial da União – DOU. 6.12.2.2 A Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT, quando julgar necessário, poderá requisitar para analisar outros lotes do EPI, antes de proferir a decisão final. 6.12.2.3 Após a suspensão de que trata o subitem 6.12.2.1, a empresa terá o prazo de 10 (dez) dias para apresentar defesa escrita ao órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho. 6.12.2.4 Esgotado o prazo de apresentação de defesa escrita, a auto- ridade competente do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho – DSST, analisará o processo e proferirá sua de- cisão publicando-a no DOU. 6.12.2.5 Da decisão da autoridade responsável pelo DSST, caberá recurso, em ultima instância, ao Secretário de Inspeção do Trabalho no prazo de 10 (dez) dias a contar da data da pu- blicação da decisão recorrida. 6.12.2.6 Mantida a decisão recorrida, o Secretário de Inspeção do Trabalho poderá determinar o recolhimento do(s) lote(s), Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção 87 com a consequente proibição de sua comercialização ou ain- da o cancelamento do CA. 6.12.3 Nos casos de reincidência de cancelamento do CA ficará a critério da autoridade competente em matéria de segurança e saúde do trabalho a concessão, ou não de um novo CA. 6.12.4 As demais situações em que ocorra suspeição de irregula- ridade ensejarão comunicação imediata às empresas fabri- cantes ou importadoras, podendo a autoridade competente em matéria de segurança e saúde do trabalho suspender a validade dos certificados de Aprovação de EPI emitidos em favor das mesmas, adotando as providencias cabíveis. REFERÊNCIAS BARBOSA, Adriana Sierra Assencio Almeida; SALOTTI, Selma Regina Axcar; SILVA, Sônia Maria Usó Ruiz. Nível de conhecimento sobre Hepatite B, estado vacinal e medidas de biossegurança entre profissionais de enfermagem. Revista de Epidemiologia e Controle de Infecção, Bauru, v. 7, n. 2, p.2238-3360, jun. 2017. CALIL, Saide Jorge; TEIXEIRA, Marilda Solon. Saude e cidadania: gerenciamento de manutenção de equipamentos hospitalares. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 1998. Cap. 6, p.73-82. CAMARGO, Rodrigo Domis et al. Trabalho em altura X Acidentes de trabalho na Construção Civil. Revista Teccen, Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p.9-15, dez. 2018. Semestral. CISZ, Cleiton Rodrigo. CONSCIENTIZAÇÃO DO USO DE EPI’S, QUANTO À SEGURANÇA PESSOAL E COLETIVA. 2015. 44 f. Monografia (Especialização) - Curso de Engenharia de Segurança do Trabalho, Univerdade Tecnológica Federal do Paraná Departamento Acadêmico de Construção Civil Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho, Curitiba, 2015. Cap. 14. DIAS, Ana Carla Brito; FIUZA, Edvania Nascimento dos Santos; OENNING, Nágila Soares Xavier. ADESÃO AO USO DOS EPIs PELA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO AMBIENTE HOSPITALAR: CAUSAS DA RESISTÊNCIA. Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Salvador, v. 5, n. 2, p.6-15, jun. 2015. DUARTE, Francisco; THÉRY, Laurence; ULLILEN, Carolina. “Os equipamentos de proteção individual (epi): protetores, mas nem sempre”: Apresentação do dossier. Laboreal, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p.9-11, jul. 2016 Medicina Ambulatorial VI 88 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Meio ambiente do trabalho: direito, segurança e medicina do trabalho. 2. ed. São Paulo: Método, 2009. Cap. 2, p. 36. GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de segurança e saúde no trabalho. 2. ed. São Paulo: Ltr, 2003. Cap. 6, p. 182-183. LUZ, RicélliFrancy Cardoso da; BERETTA, Ana Laura Remédio Zeni. Acidentes de trabalho com material biológico no setor hospitalar. Revista Brasileira de Análises Clínicas, Rio de Janeiro, v. 48, n. 1, p.6-24, jan. 2016. MAYO MONTERO, MªE. et al. Prevención y control de lainfección ante sujetossospechosos de infección por elnuevocoronavirus MERS-CoVen Unidades militares. Sanid. Mil., Madrid, v. 71, n. 3, p. 196-200, set. 2015 MARCILLA, Carolina Ullilen; GARRIGOU, Alain. La influencia de lapercepcióndelriesgoenlautilización de los equipos de protección individual contra los pesticidas. Laboreal, Porto, v. 12, n. 1, p.12-22, jul. 2016. MEIRELLES, Luiz Antonio; VEIGA, Marcelo Motta; DUARTE, Francisco. A CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICOS E O USO DE EPI: ANÁLISE DE ASPECTOS LEGAIS E DE PROJETO. Laboreal, Porto, v. 12, n. 2, p.75-82, dez. 2016. MENDES, René. Patologia do trabalho. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2013. Cap. 52, p. 1673-1674. PONCE DEL CASTILLO, Aída. El equipo de protección individual: eldesafío de laadaptación al cuerpofemenino. Laboreal, Porto, v. 12, n. 2, p. 95-99, dez. 2016 RIBEIRO, Gerusa; PIRES, Denise Elvira Pires de; FLOR, Rita de Cássia. CONCEPÇÃO DE BIOSSEGURANÇA DE DOCENTES DO ENSINO TÉCNICO DE ENFERMAGEM EM UM ESTADO DO SUL DO BRASIL. Trab. educ. saúde, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 721-737, dez. 2015 RODRIGUES, Sthefany S.; PEREIRA, Victor César Chaves. R.. TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS (T&D) NAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: PARA SEGURANÇA DO TRABALHO. Revista Interdisciplinar de Tecnologias e Educação, Santa Luzia, v. 3, n. 2, p.3-23, jun. 2017. SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. 69. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Cap. NR-6, p. 77-83. SILVA, Rafael Nobrega da et al. IMPORTÂNCIA DA ADOÇÃO DE MEDIDAS DE BIOSSEGURANÇA VISANDO A REDUÇÃO DO ÍNDICE DE ACIDENTES COM MATERIAIS BIOLÓGICOS. Revista de Trabalhos AcadÊmicos, Campos dos Goytacazes, v. 1, n. 5, p.5-30, jun. 2016. Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção 89 SONEGO, Marília Trevisan; FILHA, Valdete Alves Valentins dos Santos; MORAES, Anaelena Bragança de. Equipamento de proteção individual auricular: avaliação da efetividade em trabalhadores expostos a ruído. Cefac, Santa Maria, v. 18, n. 3, p.667- 676, maio 2016. SOUSA, Álvaro Francisco Lopes de et al. Representações sociais da Enfermagem sobre biossegurança: saúde ocupacional e o cuidar prevencionista. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 65, n. 9, p.7-810, set. 2016. Mensal. STANGANELLI, Nathanye Crystal et al. A UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL ENTRE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL PÚBLICO. Cogitare Enfermagem, Londrina, v. 20, n. 2, p.345- 351, jun. 2015. TURCOT, Alice; LEHOUX, Michel. As luvas antivibráteis: uma via de prevenção eficaz e aplicável? Laboreal, Porto, v. 12, n. 1, p.63-76, jul. 2016. VEIGA, Marcelo Motta; ALMEIDA, Ronaldo; DUARTE, Francisco. O DESCONFORTO TÉRMICO PROVOCADO PELOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI) UTILIZADOS NA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS. Laboreal, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p.83-94, dez. 2016. VEIGA, Marcelo Motta; MELO, Carlos Frederico Campelo de Albuquerque e. Análise da eficiência dos equipamentos de proteção aos agrotóxicos utilizados em saúde pública. Laboreal, Porto, v. 12, n. 1, p. 53-62, jul. 2016 ZOCRATTO, Keli Bahia Felicíssimo et al. Conduta dos estudantes na clínica odontológica integrada em relação às normas de controle de infecção e biossegurança. Revista da Faculdade de Odontologia, Passo Fundo, v. 21, n. 2, p.213-218, ago. 2016. 90 Cromo e Cobre: Ações no Organismo Humano 91 Capítulo 7 Cromo e Cobre: Ações no Organismo Humano Ester Viana Carvalho1 Isabella Cassimiro de Andrade¹ Larissa Matos Ventura¹ Lívia Laube Cajaiba¹ Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO Para o funcionamento adequado do organismo, é necessá-rio boa ingestade vitaminais e minerais, obtida por meio de uma alimentação equilibrada. Os minerais favorecem a saúde e garantem o equilíbrio metabólico. Presentes em abundância no organismo ou necessários em pequenas quantidades diárias, são considerados nutrientes essenciais. Este capítulo aborda a ação dos minerais cromo e cobre no organis- mo humano. O CROMO O crômio (Cr), também nominado como cromo, é um mineral cujo 1 Acadêmicas do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga, MG. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 92 traço essencial é amplamente distribuído no ambiente e nos alimentos. Foi descoberto em 1798 pelo pesquisador Vaquelin. Apesar de apre- sentar uma variedade de estados de oxidação que variam de divalente a hexavalente, naturalmente, ocorre em estado Cr (III) ou Cr (VI). O cromo (III) é um elemento natural, encontrado na natureza, em rochas, animais, plantas, solo, poeira e nos alimentos. As concentra- ções mais elevadas do mineral nesse estado de oxidação estão nos condimentos e especiarias, como no cacau, frutos do mar, levedo da cerveja, manteiga e oleoginosas. Já em menores concentrações, pode ser encontrado na carne, em grãos, cereais, amido, legumes, frutas, leite e produtos lácteos. O cromo hexavalente [Cr (VI)], dentre as várias formas iônicas do Cr, é o mais tóxico. Esse é geralmente um subproduto industrial muito utilizado para produção de pigmentos, curtume de couro, processamento de madeira, cromagem, em indústrias metalúrgicas e químicas, fabricação de aço inoxidável, soldadura, produção de cimento, cerâmica, vidro, etc. Os níveis de Cr (VI) têm expandido no solo, na água e no ar, principalmente, devido ao aumento do uso pelas indústrias e ao descarte inadequado desses resíduos no meio ambiente. Após ser absorvido, o cromo pode ser estocado em diversos tecidos e órgãos, com uma maior concentração nos rins, fígado, baço e epidí- dimo. Ao entrar na célula, o Cr (VI) é reduzido a espécies reativas de oxigênio, Cr (III), Cr (IV) e Cr (V). Esses compostos são capazes de causar peroxidação lipídica, danos no DNA, modificação na base, comprometendo a integridade celular e provocando efeitos mutagê- nicos e tóxicos. Alguns estudos destacaram que o Cr (III) age, diminuindo a resis- tência à insulina, sendo considerado um fator de tolerância à glicose. Devido a essa característica, suplementos desse elemento são con- Cromo e Cobre: Ações no Organismo Humano 93 siderados seguros e são recomendados para pacientes com diabetes mellitus tipo 2. Apesar do Cr (III) ser mais reativo do que o Cr (VI), não é capaz de penetrar a membrana celular como o Cr (IV), que é facilmente absorvido pelas células. Os indícios de deficiência do cromo englobam aumento da neces- sidade de insulina, redução da tolerância à glicose, perda de peso, aumento de ácidos graxos livres e neuropatia periférica. Porém a de- ficiência é relatada, esporadicamente, exceto em casos de pacientes sob nutrição parenteral de longo prazo. A exposição ao Cr (VI) em locais de trabalho pode ocorrer por meio da inalação direta de poeiras, fumos ou névoas; ingestão, por meio da mão contaminada que entra em contato com a boca, ou mani- pulação de alimentos, absorção dérmica, mediante o manuseio de soluções de cromo ou sólido. De acordo com os dados da Agência Internacional de Pesquisa sobre o câncer, o cromo hexavalente é clas- sificado como Grupo I entre os carcinogênicos ocupacionais. Ao entrar em contato com o Cr (VI), as pessoas estão sujeitas a epis- taxe, que é a perfuração do septo nasal; dermatite alérgica; ulcera- ções de pele; hepatotoxicidade, relacionada ao estresse oxidativo, lesão tecidual, dano mitocondrial e apoptose. Além disso, pode au- mentar o risco de câncer de pulmão, da cavidade dos seios parana- sais e, ainda, causar asma. Há evidências, ainda, de que esse elemento possui efeito carcinógeno para o estômago, pode aumentar o risco de linfoma maligno, aumento da mortalidade por leucemia mielóide e tumores das glândulas endócrinas. O COBRE O cobre é um metal pesado essencial, largamente, distribuído na na- tureza e presente nos seres vivos. No reino vegetal, o cobre foi ini- cialmente detectado nas cinzas de plantas em 1816. Em 1830, sua existência foi evidenciada no sangue, quando estudado em sangue Medicina Ambulatorial VI 94 bovino. Já em 1921, Badansky identificou a presença de cobre no ce- rébro humano, sendo que desempenhava função de catalisador nos processos bioquímicos. Ademais, a função principal de moléculas que contém cobre é o transporte de elétrons e de oxigênio. Hoje, nas suas diferentes formas, é amplamente utilizado na nossa sociedade, como, por exemplo, o sulfato de cobre empregado na agri- cultura como herbicida, fungicida e pesticida. O cobre está distribuído no corpo humano em vários fluidos como saliva, fluido digestivo, soro, dentre outros. E, além disso, está, tam- bém, presente em vários tecidos como coração, pulmão, músculos, dentes, ossos, baço, rim, fígado e cérebro. Em cada fluido ou tecido, o cobre se encontra em um teor mínimo, apresentando-se, portanto, em quase todo o corpo, porém, em diferentes quantidades, o que aponta o seu papel funcional. Para que desempenhe esse papel, o co- bre deve estar em equilíbrio com suas respectivas quantidades. A homeostase do cobre é obtida não somente no meio intracelular, como também em compartimentos individuais das células. Dentro da célula, o cobre encontra-se em maior quantidade no citosol e nas mitocôndrias, respectivamente. Alguns estudos sugerem que a gluta- tiona –um antioxidante hidrossolúvel sintetizado no citosol- exerce função essencial na regulagem da entrada e da homeostase do cobre intracelular. Esse equilíbrio deve ser mantido rigorosamente para que não haja estresse oxidativo causado pelo excesso de cobre. Além disso, o cobre, ainda, serve de cofator para algumas enzimas, como a ß hidroxilase e a peptidilglicina. A neurotransmissão, a pig- mentação, a mielinização e alguns processos fisiológicos do desen- volvimento, também, relacionam-se com o cobre, além de um papel relevante na diferenciação neuronal. O cobre é encontrado em alimentos como frutos do mar, chocolate, amêndoas, café, feijão, fígado, cogumelos e soja. Acredita-se que são Cromo e Cobre: Ações no Organismo Humano 95 necessários de 2 a 5mg de cobre por dia na dieta de um indivíduo. Isso demanda que a mesma fração de cobre seja excretada, para que seja mantida a homeostase no corpo humano. Ao ser advindo da alimentação, o cobre segue para o trato digestivo e depois para o fígado ou rins. O estômago e o intestino absorvem a quantidade necessária e o excesso é diretamente excretado. Se seguir pelo fígado, vai ser distribuído para tecidos, soro, glóbulos vermelhos, sais biliares (com posterior excreção fecal) e secreções menstruais. Já se seguir pelos rins, será excretado pela urina. Esse fluxo é denominado fluxo normal do cobre, no entanto, esse esque- ma pode ser alterado. Mudanças pequenas e consideradas despre- zíveis podem passar despercebidas e não levar a alterações no orga- nismo. Todavia, quando as alterações são maiores, podem ocorrer distúrbios e doenças. Tais doenças são causadas ou por excesso ou por falta de cobre e são denominados hiper e hipocupremia, respectivamente. Como a concentração necessária de cobre no organismo é pequena, o excesso do metal na dieta pode ser prejudicial devido à afinidade desse elemento com os grupos S-H. Diversas enzimas possuem esse grupo que é fundamental para suas atividades catalíticas normais. O cobre pode ocasionar a inativaçãodessas enzimas e, como mecanis- mo de proteção do organismo, o reflexo do vômito é estimulado para rejeição do metal. A doença de Wilson ou degeneração hepato-lenticular é a patologia mais conhecida entre os distúrbios de metabolismo do cobre que se relaciona com hipocupremia, devido à ausência de cobre solúvel. Os sinais e sintomas apresentados são peso do lado direito do corpo pela dilatação da cápsula hepática, dor à movimentação, devido altera- ções musculares, coloração amarelada na pele devido à alteração de função do fígado, tremores intensos nos dedos relacionado a altera- ções nervosas e presença de anel amarelo-esverdeado na córnea, cha- Medicina Ambulatorial VI 96 mado Anel de Kayser-Fleischer. A ocorrência dessa patologia leva à destruição hepática e de tecidos nervosos, incluindo o núcleo lenti- cular cerebral. O tratamento medicamentoso é iniciado com quelan- tes associados ou não com sais de zinco, e é recomendada dieta com baixa quantidade de cobre. O cobre insolúvel em excesso leva à diminuição no teor de cerulo- plasmina que acarretará em um prejuízo na produção de enzimas produtoras de elétrons. Casos de hipocupremias não específicas podem acontecer na in- fância, levando as crianças a pararem de crescer e apresentarem sintomas neurológicos e baixa de hemoglobina. O organismo não assimila o cobre proveniente da dieta, e o elimina. A falta de cobre solúvel ocorre pela ausência de albuminas e globulinas, que são proteínas transportadoras de cobre, caracterizando-se como doença dos ligantes. Se o diagnóstico não for feito de for- ma precoce, pode gerar danos irreversíveis no desenvolvimento da criança. Epilepsia, melanoma e artrite reumatóide provocam alterações ge- neralizadas e aumentam a concentração de cobre sérico, sendo consideradas casos de hipercupremias. Observou-se que, quando a concentração de cobre solúvel aumenta, ocorre diminuição do seu teor no fígado, o que sugere uma resposta fisiológica na tentativa de remissão dos efeitos maléficos dessas patologias. A sensibilidade do paladar tem relação com o cobre. No caso de hipocupremia, observou-se que os pacientes não conseguiam dis- tinguir entre doce e azedo, pois tem uma proteína específica na língua que controla o tamanho dos poros. Quando o cobre está presente, a molécula da proteína desenrola-se, fazendo com que ocorra aumento do diâmetro do poro e contribuindo para a per- cepção do gosto. Cromo e Cobre: Ações no Organismo Humano 97 CONCLUSÃO Minerais como cromo e cobre, apesar de importantes para manuten- ção da homeostase do metabolismo corporal, podem acarretar da- nos severos ao indivíduo. Por isso, é essencial reconhecer suas ações no organismo humano a fim de identificar os riscos e, consequente- mente, evitá-los. REFERÊNCIAS ARREDONDO, M. & NÚÑES, M.T. Iron and copper metabolism. Molecular Aspects of Medicine, v. 26, p. 313–327, 2005. BHATTACHARJEE, A.; CHAKRABORTY, K.; SHUKLA, A. Cellular copper homeostasis: Current concepts on its interplay with glutathione homeostasis and its implication in physiology and human diseases. Metallomics, v. 9, n. 10, p. 1376- 1388, 2017. CAVALCANTE, Maria et al. Aspectos clínicos da doença de Wilson: Um estudo de literatura. Mostra Científica em Biomedicina, Centro Universitário Católico de Quixadá, v. 1, n. 1, Jun., 2016. Deng et al. The Effect of Hexavalent Chromium on the Incidence and Mortality of Human Cancers: A Meta-Analysis Based on Published Epidemiological Cohort Studies. Frontiers in Oncology, v.9, article 24, Feb., 2019. DOLGOVA, C. H. Yu, N. V., DMITRIEV, O. Y. Dynamics of the metal binding domains and regulation of the human copper transporters ATP7B and ATP7A. IUBMB Life, 2017. E. Leese et al. The simultaneous detection of trivalent & hexavalent chromium in exhaled breath condensate: A feasibility study comparing workers and controls. International Journal of Hygiene and Environmental Health, v. 220, p. 415–423, 2017. FALCÃO, L.E.M. Suplementação de cromo associado ao exercício físico. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo, v. 10, n. 57, p.343-349. Maio/Jun, 2016. HATORI, Y. et al. Neuronal differentiation is associated with a redox-regulated increase of copper flow to the secretory pathway. Nat Commun, 2016. JAGANNATI, M.; RAMYA, I.; SATHYENDRA, S. Occupation-related chromium toxicity a rare cause of renal failure and rhabdomyolysis. Indian J. Occup. Environ. Med., v.20, n.3, p. 150-152, Sep-Dec, 2016. J. Das et al. Hexavalent chromium induces apoptosis in human liver (HepG2) cells via redox imbalance. Toxicology Reports, v.2, p.600-608, 2015. Medicina Ambulatorial VI 98 JERONIMO, D.P. et al. Efeitos da suplementação de picolinato de cromo sobre a concentração da glicemia plasmática durante exercício físico e em repouso. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo, v. 12, n. 72, p.406-411. Jul./Ago., 2018. J. H. Kaplan and E. B. Maryon. How Mammalian Cells Acquire Copper: An Essential but Potentially Toxic Metal. Biophys J, 2016. LATORRE, JM Mesa et al. Trastornos del metabolismo del hierro y del cobre. Hemocromatosis y enfermedad de Wilson. Medicine-Programa de Formación Médica Continuada Acreditado, v. 12, n. 19, p. 1094-1106, 2016. LEVORATO, Anselma Regina et al. Química. 2. ed. 2007. 74, 75 p. MARTIN, I. S. M. et al. Chromium supplementation in patients with type 2 diabetes and high risk of type 2 diabetes: a meta-analysis of randomized controlled trials. Nutrición Hospitalaria, v.33, n.1, p.156-161, 2016. MUNÕZ, Elena López; COLMAN, Eliana López; BLANCO, Lucia López. El efeito del cromo en el síndrome metabólico. 2016. 20 f. TCC (Graduação) - Curso de Farmácia, Universidad Complutense, Madrid, 2016. OGRA, Y. et al. Changes in intracellular copper concentration and copper-regulating gene expression after PC12 differentiation into neurons. Sci Rep, 2016. Pawar et al. Analysis of Chromosomal Aberrations in PBL of Chrome Tanning Industrial Workers. Anat Physiol, v.6, n.2, 2016. RODRIGUEZ-CASTRO, K. I.; HEVIA-URRUTIA, F. J.; STURNIOLO, G. C. Wilson’s disease: A review of what we have learned. World Journal of Hepatology, v. 7, n. 29, p. 2859-2870, 2015. Santos CA, Fonseca J, Carolino E, Guerreiro AS. Low serum Chromium is rare in patients that underwent endoscopic gastrostomy for long term enteral feeding. Arq Gastroenterol., v. 54, n. 3, Jul/Set, 2017. SHIL. K; PAL, S. Hexavalent chromium- induced alteration of carbohydrate bioenergetics: a dose dependent study. Asian J. Pharm. Clin. Res., v.10, n. 2, p. 410-417, 2017. SHIL. K; PAL, S. Metabolic adaptability in hexavalent chromium-treated renal tissue: an in vivo study. Clinical Kidney Journal, v. 11, n. 2, p. 222-229, April, 2018. Shils, M. E.; Shike, M. Modern nutrition in health and disease. Lippincott Williams & Wilkins, 2006. Welling R, et al. Chromium VI and stomach cancer: a meta-analysis of the current epidemiological evidence. Occup. Environ. Med. v.72, p.151–159, 2015. Dermatite de Contato por Agentes Químicos 99 Capítulo 8 Dermatite de Contato por Agentes Químicos Carolina Felipe Cotta1 Maria Carolina Alvares Correa1 Maria Eduarda Machado Lima1 Yule Thais Madureira de Oliveira Andrade1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO A dermatite de contato ou eczema de contato é uma reação inflamatória na pele, decorrente da exposição a um agen-te capaz de causar irritação ou alergia. Classificam- se em irritativa e alérgica. A dermatite de contato irritativa (DCI) é uma das mais importan- tes dematites ocupacionais, pois apresentam frequência de 80% dos casos. São causadas por substâncias ácidas ou alcalinas, como sa- bonetes, detergentes, solventes ou outras substâncias químicas. As lesões surgem após exposição à substância irritante, sucessivas ou não, restritas às áreas de contato. Pode aparecer na primeira vez em que entramos em contato com o agente causador, mas também pode induzir o aparecimento gradual de lesões após sucessivas ex- posições.No primeiro caso, o agente causador é denominado ir- 1 Acadêmicas do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga, MG. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pe- diatria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 100 ritante absoluto; no segundo, irritante relativo. As lesões da pele geralmente são restritas ao local do contato. A dermatite alérgica de contato (DCA) surge após repetidas ex- posições a um produto ou substância. Aparece, em geral, pelo contato com produtos de uso diário e frequente, como perfumes, cremes hidratantes, esmaltes de unha e medicamentos de uso tó- pico, entre outros. Após a exposição prévia, as lesões surgem em períodos de tempo variáveis, sendo necessário um período míni- mo de uma semana para a sensibilização e podem ocorrer após meses ou anos de contato. As lesões ocorrem nas áreas de conta- to com a substância sensibilizante, onde são mais intensas, mas também, à distância, podem ser disseminadas. Alguns produ- tos causam reações somente após exposição solar concomitante, como o sumo de frutas cítricas e perfumes Outros itens podem entrar em contato com a pele quando carregados pelo ar, como inseticidas em spray e perfumes para ambientes. A DCI facilita o desencadeamento da reação alérgica. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, não há notificação obrigatória de dermatites de contato por agentes químicos e, devido a isso, estudos epidemiológicos so- bre doenças ocupacionais são incomuns. São pouco identificadas ou valorizadas pelos médicos que, em geral, subestimam sua morbidade e dimensão como problema de saúde pública. Além disso, muitos trabalhadores se preocupam com a perda de emprego e salário e não buscam atendimento. Nos países desenvolvidos e, principalmente, nos ocidentais o índice de dermatites por contato vem se elevando devido ao surgimento de novos produtos. FATORES CAUSAIS: De acordo com estudos realizados, os jovens são mais acometidos pelas dermatites de contato em relação aos adultos por ainda não Dermatite de Contato por Agentes Químicos 101 estarem como a camada córnea espessada. São mais raras as reações em negros e mais comum no gênero masculino do que no feminino, dado que, as substâncias sensibilizantes variam segundo o sexo. Os homens são mais afetados pelas substâncias sensibilizantes encon- tradas no cimento e na borracha dos equipamentos de proteção in- dividuais. Já as mulheres, têm contato mais frequente com o níquel, sensibilizante mais encontrado em bijuterias, não estando relaciona- do às atividades laborais. IRRITANTES COMUNS Uma vasta gama de substâncias pode ser irritante para a pele, dentre os mais comuns estão os produtos de limpeza, cosméti- cos, metais, luvas e solventes de uso cotidiano, muitos utiliza- dos, principalmente, por profissionais da construção civil, da estética, da saúde, da alimentação, da metalurgia e da limpeza. Dentre eles, podemos citar os hidrocarbonetos aromáticos que compreendem detergentes, sabões, óleos lubrificantes e de cor- te, glutaraldeído e gorduras. Muito comuns também são os cosméticos como xampus, hidratante, água oxigenada, persulfato de amônia, tinturas de cabelos e tatuagens de hena (p-fenilenodiamina); produtos envolvidos no processo de ondulação e alisamento de cabelos (tioglicolato de sódio); esmaltes de unhas; metildibromoglutaronitrila, perfumes e fragrâncias (musk ambrette, 6-methylcoumarin), protetores solares (dibenzoilmetanos, octocrileno, oxibenzona e cinamatos), desodorantes com cloreto de alumínio. Nos solventes incluem-se as cetonas, ciclohexano, com- postos de cloro, ésteres, glicol. Outros produtos químicos: níquel, arsênio, berílio, bromo, cromo, cimento, flúor, fósforo, látex, inseticidas, explosivos, tintas de parede, alimentos em contato com a pele, plantas (furocumarinas), corantes e aromatizantes de alimento. Medicina Ambulatorial VI 102 APRESENTAÇÃO CLÍNICA Na DIC, as manifestações clínicas variam de acordo com a toxicida- de do irritante, concentração, tempo de exposição e periodicidade do contato. Quando agudas, geralmente, apresentam-se como erite- ma, edema, vesículas, bolhas e exsudação. Casos mais graves podem também gerar “queimadura” com eritema, edema, necrose, bolhas, crostas e ulcerações. Além disso, agressões repetidas por irritantes de baixo grau, que ocorrem ao longo do tempo, evoluem para a for- ma crônica, apresentando xerose, descamação, queratose, infiltração, liquenificação e fissuras. Já as DAC se manifestam como eczema agudo ou crônico. Na fase aguda, são acompanhadas, freqüentemente, por prurido intenso e, nas formas crônicas, por espessamento da epiderme, com descama- ção e fissuras. Ao se afastar do contato com o alérgeno, pode haver remissão total do quadro, mas a hipersensibilidade latente permane- ce e reexposições voltam a desencadeá-lo. DIAGNÓSTICO Para estabelecer o diagnóstico das dermatites, é necessário investigar a história de exposição ocupacional, observando-se concordância entre o início do quadro e o início da exposição, bem como a lo- calização das lesões em áreas de contato com os agentes suspeitos. Avaliar, também, se há melhora com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho. Uma vez que haja suspeita de Dermatite de Contato, o Teste Cutâneo é indicado. Em episódios que resolvem rapidamente com tratamen- to, não há necessidade do teste cutâneo. Ele deve ser reservado para os pacientes com eczemas crônicos, recorrentes ou com lesões lique- nificadas, porque os manejos destes pacientes dependem da identifi- cação e isolamento do agente causal da dermatite de contato. Muitas vezes, é de difícil indicação, pois a história do paciente não é relevan- Dermatite de Contato por Agentes Químicos 103 te, mas pode ser de grande valia quando indicado apropriadamente, mesmo que o resultado seja negativo. Não devemos fazer o TC se a dermatite for aguda, subaguda ou grave. Ele é a melhor maneira de diferenciarmos uma DCI de uma DCA. Os testes cutâneos são feitos mediante a colocação de substâncias (aproximadamente 30 a 40), já padronizadas, no dorso do indivíduo. Depois, cerca de 48 a 96 horas após a colocação, se observa quais causaram alergia no local e, de acordo com a substância testada, pode ser sugerida a causa da dermatite de contato. O Teste cutâneo positivo só tem relevância quando há nexo causal entre as substâncias positivas e a Dermatite de Contato, podendo ser sensibilização pregressa ou relacionada ao quadro atual e à ativida- de do paciente, para caracterizar dermatose ocupacional. O teste de contato positivo significa, apenas, que o paciente está sensibilizado àquela substância e não, necessariamente, que esta é a causa da der- matite de contato atual. O teste de contato deve ser associado, ne- cessariamente, à história clínica, ao local anatômico da dermatite e à profissão do paciente. Os exames laboratoriais podem contribuir para o diagnóstico das Doenças Ocupacionais, porém, nenhum desses recursos substitui uma boa anamnese, um bom exame físico e o conhecimento por parte do profissional dos principais produtos capazes de causas der- matoses. TRATAMENTO O primeiro passo para o tratamento é a identificação e afastamento do agente causal. Essa ação, juntamente com o tratamento precoce, pode diminuir o tempo de evolução das lesões e evitar complicações. A escolha da abordagem dependerá da extensão e da intensidade das lesões. Nas lesões agudas, isto é, exsudativas, devem ser utilizadas Medicina Ambulatorial VI 104 compressas de água boricada a 2% ou 3%, ou permanganato de po- tássio a 1:40.000. Pode-se, também, utilizar emolientes para recupe- rar a função de barreira da pele e reduzir o ressecamentoe o prurido (acrescentar uréia somente quando a pele estiver íntegra, caso con- trário pode ocorrer prurido e ardor). Orientar banho morno, sem bucha e com sabonete suave. Já nas formas localizadas de DC crônicas, isto é, com lesões desca- mativas e liquenificadas, preconiza-se o uso de cremes e pomadas à base de corticoides de potência variável, conforme a região afetada. A escolha da concentração, potência e veículo depende de vários fa- tores como tipo, estágio e localização do eczema, além da idade do paciente. Em casos de lesões extensas, usam-se corticoides sistêmicos, de pre- ferência, prednisona, em doses iniciais de 0,5mg-1mg/kg/dia, com redução gradual. Se houver infecção secundária, deve ser associado antibiótico tópico e/ou sistêmico tais como eritromicina, cefalospo- rina; e antifúngicos: fluconazol, cetoconazol. Os anti-histamínicos sistêmicos, também, podem ser utilizados, a fim de tratar o prurido. PREVENÇÃO: Prevenir a dermatite de contato significa evitar o contato com subs- tâncias que desencadeiam uma reação, portanto a orientação mais importante na prevenção das dermatites de contato é o afastamento do fator irritante ou alergênico. Por isso, as empresas devem adotar medidas coletivas como exames médicos periódicos e orientações ao trabalhador, protegendo e evitando novos casos. É importante o reconhecimento das atividades e locais de trabalho onde existam substâncias químicas decorrentes da organização do trabalho, potencialmente causadores de doenças e a identificação dessas. Estratégias de prevenção e cuidados pessoais incluem o uso de EPIs adequados (botas, gorro, máscara, avental e luvas) que aju- Dermatite de Contato por Agentes Químicos 105 dam a evitar o contato com os produtos, roupas especiais e conscien- tização da higiene pessoal. A higiene pessoal deve ser cuidadosa e é indicado o uso de emolien- tes neutros. As áreas do corpo contaminadas devem ser imediata- mente lavadas e hidratadas com cremes sem fragrância, que podem ajudar a restaurar a camada mais externa da pele. REFERÊNCIAS BAUR, X. et al. Immunological methods for diagnosis and monitoring of IgE-mediated allergy caused by industrial sensitizing agents (IMExAllergy). Allergy. 2019 Apr 6. BEPKO, J.; MANSALIS, K. Common Occupational Disorders: Asthma, COPD, Dermatitis, and Musculoskeletal Disorders. Am Fam Physician. 2016:93(12):1000-6. BOLOGNIA, J.L.; JORIZZO, J.L.; RAPINI, R.P..Bolognia Dermatologia. 3. ed., traduzida. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015. BRASIL. Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017. Consolidação das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da República Federativa do Brasil [Internet]. 2017. Disponível em http:// portalarquivos2.saude.gov.br. Acessado em: 14 de Junho de 2019. DIEPGEN TL et al. Prevalence of contact allergy in the general populatin in different European regions. Br J Dermatol. 2016 FITZPATRICK, T.B. Tratado de dermatologia, 7. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2011 FLETCHER, R.H.; FLETCHER S.W.. Epidemiologia clínica. Elementos essenciais. 4ª ed. Tradução de Roberta Marchiori Martins. Porto Alegre: Artmed; 2006 FONACIER, L. Contact Dermatitis: A Practice Parameter–Update 2015. J Allergy Clin Immunol Pract., New York, 2019. 3(3) S1-S39. FONACIER L. A practical guide to patch testing. J Allergy Clin Immunol Pract. New York, 2015. 3(5): 669-75. HABIF, T.P. Dermatologia clínica: guia colorido para diagnóstico e tratamento. 5 ed. Porto Alegre: Artmed; 2012 JOHANSEN, J. et al. European Society of Contact Dermatitis guideline for diagnostic patch testing – recommendations on best practice. Contact Dermatitis. Copenhagen, 2015. 73 (4): p. 195-221. Medicina Ambulatorial VI 106 KASEMSAM, P; BOSCO, J.; NIXON, R. The role of the skin barrier in occupational skin diseases. Curr. Probl. Dermatol. Copenhagen, 2016. 49 (1): p.135-143. LIMA, C.M.F. Doença alérgica ocupacional: aspectos socioepidemiológicos em ambulatório especializado na cidade de São Paulo. Rev Bras Med Trab. São Paulo, 2017. 15(4):297-302. LISE, M.L.Z et al. Occupational dermatoses reported in Brazil from 2007 to 2014. An Bras Dermatol. Porto Alegre, 2018; 93(1):31-7 PESTANA, C. et al. Main causes of occupational allergic contact dermatitis: a three year study in the Center of Portugal. Acta Med Port. Coimbra, 2016; 29(7-8):449- 455. PLOMBOM, G.Y et al. Análise epidemiológica das dermatoses ocupacionais notificadas no Brasil no período de 2007 a 2012. An Bras Dermatol. Curitiba, 2016; 91(6):732-6. RAPOSO, I. et al. Allergic contact dermatitis caused by (meth)acrylates in users and technicians of artificial nails – a 5 year study. Contact Dermatitis. Taipei, 2017; 36(4): 218-221. ROBERTS, G. et al. A new framework for the interpretation of IgE sensitization tests. Allergy. London, 2016; 71(11):1540-1551. ROSMANINHO, I.; MOREIRA, A.; SILVA, J.P.M. Dermatite de contacto: revisão da literatura. Rev Port Imunoalergologia, Lisboa , v. 24, n. 4, p. 197-209, dez. 2016 . ROTHMAN, K.J. Epidemiology: an Introduction. 2ª ed. Nova York: Oxford; 2012. SANDER, I. et al. Component-resolved diagnosis of baker’s allergy based on specific IgE to recombinant wheat flour proteins. J Allergy Clin Immunol. New York, 2015; 135(6):1529-1537. SCHERRER, M.A.R; ROCHA, V.B.; ANDRADE, A.R.C.. Dermatite de contato por metilisotiazolinona. An Bras Dermatol. Belo Horizonte, 2015; 90(6):910-2. SHANE, H.L; LONG, C.M; ANDERSON, S.E. Novel cutaneous mediators of chemical allergy. J Immunotoxicol. USA, 2019; 1:1-15. SPENCER, A.; GAZZANI, P.; THOMPSON, D.A..Acrylate and methacrylate contact allergy and allergic contact disease: a 13‐year review. Contact Dermatitis. Birmingham, 2016: 75(3):157-64. TIEDEMANN D. et al.. Effect of glove occlusion on the skin barrier. Contact dermatitis. Copenhagen, 2015: 74(1): 2-10. Dermatite de Contato por Resinas 107 Capítulo 9 Dermatite de Contato por Resinas Fernanda Gontijo Minafra Silveira Santos1 Luciana Araújo Oliveira Cunha2 Jéssica Aparecida Fernandes3 Marília Fernanda Santos Cardoso3 Rhaianny Gomes de Souza4 INTRODUÇÃO As doenças cutâneas por resinas são um grande problema de saúde pública, já que são comuns, frequentemente crô-nicas e apresentam significativo impacto econômico para a sociedade e para os trabalhadores. Este capítulo faz uma abordagem sobre a dermatite de contato ocu- pacional (DCO) que é a dermatose ocupacional mais relatada, che- gando a 90% dos casos descritos, com ênfase em resinas. CLASSIFICAÇÃO Existem dois tipos de dermatite de contato: • Dermatite de contato alérgica (DCA): ocorre por reação imuno- 1 Pediatra – Alergista e Imunologista. Coordenadora da Residência de Alergia e Imunologia Pediátrica do HC -UFMG. Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela Faculdade de Medicina da UFMG. 2 Pediatra. Preceptora do Ambulatório de Imunodeficiências Primárias do HC-UFMG. Douto- ra em Saúde da Criança e do Adolescente pela Faculdade de Medicina da UFMG. 3 Pediatra. Residente em Alergia e Imunologia Pediátrica do HC-UFMG. 4 Pediatra - Alergista e Imunologista. Preceptora do Ambulatório de Imunodeficiências Primá- rias do HC-UFMG. Medicina Ambulatorial VI 108 lógica a alérgenos e, portanto, necessita de sensibilização prévia. É menos relatada no ambiente de trabalho, possivelmente por- que a maioria dos trabalhadores não são, geralmente, testados por patch testes. • Dermatite de contato irritativa (DCI): causada por reação in- flamatória não imunológica da pele ao contato com o agente químico, físico ou biológico. É a causa mais comum de DCO, até 80% dos casos, mas alguns autores mostram prevalência semelhante à da DCA, associando esses valores ao subdiag- nóstico. As ocupações de maior risco para o desenvolvimento de DCO são sapateiros, mecânicos, encanadores, engenheiros, trabalhadores de fábricas, construtores, pintores, trabalhadores de cuidados infantis, limpadores/lavadores, trabalhadores da indústriaalimentícia e me- talúrgica, fabricantes de ferramentas, cabeleireiros e trabalhadores da área da saúde. No que se refere às DCIs, as profissões que incluem cabeleireiros, trabalhadores da área da saúde, mecânicos, cozinheiros, faxineiros, pintores e encanadores são as mais comumente acometidas. OS ALÉRGENOS E SEUS SUBTIPOS Os alérgenos mais comumente encontrados nos locais de trabalho podem ser dos seguintes tipos e subtipos: RESINA EPÓXI A resina epóxi é um alérgeno ocupacional frequente e bem conhe- cido, amplamente utilizada por excepcional propriedade de dureza e resistência ao impacto do calor, água e produtos químicos, bem como por sua capacidade como isolante e adesivo elétrico, com am- pla difusão em produtos que contêm este hapteno. Dermatite de Contato por Resinas 109 A sensibilização é frequentemente adquirida após um curto período de tempo de exposição a ela. A dermatite ocorre, predominantemen- te, nas mãos, mas também pode envolver o rosto. Grande parte, 75% a 90%, das resinas epóxi são à base de epicloridri- na e bisfenol A, que reagem à formação de éter diglicídico do bisfenol A (DGEBA). Já o éter diglicidílico do bisfenol F (DGEBF) é a base de aproximadamente 1% de epóxi resinas. A sensibilidade ao DGEBA pode desenvolver-se em manipuladores de resina epóxi não endurecida, enquanto que a resina epóxi total- mente curada não é irritante e nem mesmo sensibilizante. Esse alér- geno pode ser encontrado no mercado da indústria eletrônica, da odontologia, indústria de revestimento e indústrias que trabalham com colas epóxi. RESINAS FENÓLICAS São resinas com alto poder hipocromiante, podendo, também, levar ao chamado vitiligo ocupacional. Compreendem três grandes grupos de resinas: fenol-formaldeído e seu subtipo bultifenol p-terciário, os mais prevalentes. Cresol formaldeído e resorcinol formaldeído. As resinas de formaldeído são usadas em roupas para evitar o enru- gamento, portanto os funcionários de indústrias têxteis e lavanderias são mais propícios ao seu contato. São encontradas, também, em co- las para calçados de couro, moldes para fundição, plástico laminado e de material elétrico e em lixas, esmeris e outros produtos similares. RESINAS AMINOPLÁSTICAS São obtidas a partir da policondensação de formaldeído com aminas. Elas são utilizadas para a confecção de chapas plásticas de fórmica e colas especiais. Compreendem quatro grupos: uréia-formaldeído, tioureia-formaldeído, melanina-formaldeído e anilina-formaldeído. Medicina Ambulatorial VI 110 Devido ao grande número de resinas com formulações diferentes nesse grupo, na suspeita de dermatite alérgica de contato, devemos testar as substâncias suspeitas diluídas em vaselina a 10%. RESINAS ACRÍLICAS São amplamente utilizadas no acabamento de artefatos de couro, na indústria têxtil, de tintas e de colas especiais (Loctite). São dividi- das em quatro grupos: éster-acrílica, éster-metacrílica, acrilonitrila e acrilamida e seus derivados. As colas cianoacrílicas de secagem ultrarrápida são muito irritantes por apresentarem reações de cura muito rápidas quando em contato com as camadas superficiais da pele. São encontradas em próteses ortopédicas. Nos procedimentos em que há necessidade de manu- seá-las, deve-se usar dois pares de luvas e se utilizar espátulas para aplicar o cimento na prótese. São causas pouco comuns de DCA. RESINAS ALQUÍDICAS São resinas utilizadas pela indústria automotiva e na fabricação de tintas especiais. DCA por resinas alquídicas são mais raras. Os prin- cipais componentes dessas resinas são anidrido ftálico, glicerol e áci- dos graxos. RESINAS POLIÉSTERES São resinas habitualmente usadas nas indústrias aeronáuticas e auto- motivas, bem como no isolamento de cabos e fios elétricos, podendo desencadear DCA e DCI. Os principais agentes irritantes são solven- tes (vinil benzeno, acetona, anidrido ftálico) e fibra de vidro. Os prin- cipais sensibilizantes são os seguintes: resina de poliéster, peróxido de benzoíla, dimetilanilina, naftenato de cobalto e propilenoglicol. Após o processo de polimerização, as resinas poliésteres tornam-se inertes, sendo pouco sensibilizantes. Dermatite de Contato por Resinas 111 IRRITANTES MAIS COMUMENTE ENCONTRADOS NO LOCAL DE TRABALHO A umidade no ambiente de trabalho é o irritante mais comum, prin- cipalmente, em trabalhadores da área da saúde. Além desse, o ar quente e seco também pode ser um importante irritante, apesar de menos reconhecido. Os álcalis como sabonetes, detergentes e limpadores podem causar DCI. Ácidos podem ser cáusticos, assim como hidrocarbonetos (pe- tróleo e óleos). Os solventes podem causar DCI ao remover a camada lipídica de proteção da pele. A dermatite por atrito é um subtipo de DCI e pode ser causada pelo manuseio repetitivo de objetos ou materiais. Um dos exemplos são as luvas que, muitas vezes, são pensadas como uma barreira de pro- teção, mas em contato prolongado com a pele afetam a barreira epi- dérmica podendo ser irritantes. Na pele da mão previamente afetada, as luvas podem tornar a epiderme mais suscetível a alérgenos ou a outros irritantes. EPIDEMIOLOGIA A DCO é responsável por até 30% de todos os casos de doença ocupa- cional e representa cerca de 95% de todos os casos de doenças de pele ocupacionais. A taxa de incidência de DCO é de 0,5 a 1,9 casos por 1000 trabalhadores por ano, demonstrado na maioria dos países europeus. A prevalência de DCO é de 20% na população ativa, em geral, au- mentando com o avançar da idade, pelo efeito cumulativo, com grande variação nas diferentes profissões. No Brasil, entre 2007 e 2012, diferentemente das estatísticas globais, a DAC foi a mais freqüente entre as DCO, totalizando 20,6% dos casos, seguida de ceratoses (17,2%) e DCI (11,5%). Medicina Ambulatorial VI 112 Os agentes mais comuns que causam as lesões de origem ocupa- cional no Brasil são os seguintes: cromo (13,9%), madeiras (4,7%) e solventes (3,5%). Demonstrou-se predominâncias dos setores de construção (28,7%), seguidos dos serviços domésticos (18%). A região brasileira com maior número de casos notificados foi o Centro-Oeste, com 376,4 casos por milhão de habitantes. Possivel- mente, por haver maior vigilância e controle de notificação, mas não necessariamente maior incidência de DCO. O impacto social da DCO é imenso, mesmo com dados subesti- mados devido à não notificação, principalmente dos casos leves. Em um estudo de acompanhamento de 12 anos, 48% dos pacientes relataram licença médica prolongada (uma semana ou mais), 82% dos pacientes mudaram de emprego e 15% relataram perda de em- prego ou exclusão. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia das DCI não requer a intervenção de mecanismos imunológicos. Ela é causada por ação direta de substâncias químicas irritantes na epiderme, com consequente dano aos queratinócitos e eventual necrose. Estes, quando lesados, liberam mediadores infla- matórios não específicos e fatores quimiotáticos, causando dilatação dos vasos da derme (eritema), extravasamento de plasma na derme (edema) e na epiderme (bolha) e infiltrados de várias células. Ini- cialmente, aparecem linfócitos ao redor dos vasos dilatados do plexo vascular superficial; em seguida há aparecimento de neutrófilos re- crutados por fatores quimiotáticos, sendo as células predominantes nas DCI moderadas a graves. A DCA resulta de uma reação cutânea eczematosa, imunologica- mente mediada por células T, com resposta antígeno-específica tar- dia, a um antígeno hapteno em contato com a pele associados a an- tígenos de histocompatibilidade classe II (MHC II). O MHC II está Dermatite de Contato por Resinas 113 presente nas células de Langerhans e outras células que apresentam antígenos epidérmicos, em sua maioria de origem dendrítica. Após o contato, o alérgeno é apresentado a estas células. Citocinas in- flamatórias como TNF-α e IL1-β podem apoiar a sensibilização e levar à irritação da pele, estreitando a ligação entre dermatiteirri- tativa e alérgica. Figura 1 - Resumo esquemático dos mecanismos da sensibilização da pele (WONG, 2015). 1) Os haptenos ganham acesso através da epiderme. 2) Ligação de haptenos a proteínas da pele. 3) As células de Langerhans (LCs) ligam-se ao complexo hapte- no-proteína e diferenciam-se em células dendríticas maduras (DCs) durante a migração para o linfonodo. 4) LCs apresentam o complexo aos linfócitos T virgens. 5) Expansão clonal de células T efetoras e de memória específicas. 6) Os linfócitos T proliferados disseminam-se na circulação san- guínea, resultando na sensibilização. Medicina Ambulatorial VI 114 7) Reexposição aos haptenos. 8) Liberação de citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias pelas cé- lulas epidérmicas. 9) Infiltração de células T no local de contato. 10) Desenvolvimento de DCA. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS A DCA apresenta-se com eritema, edema, vesículas, exsudação e prurido intenso. Na forma mais leve, apenas o eritema é visível no local de contato. Reações mais graves incluem vesículas friáveis. Quando essas lesões decorrem de uma única exposição, todas as le- sões estão no mesmo estágio deste processo. Na forma crônica, o termo eczema é utilizado e características como hiperceratose, des- camação, liquenificação e fissura tornam-se mais proeminentes. A lesão é, então, menos circunscrita, a infiltração e a espessura da pele aumentam, as marcas de liquenificação se desenvolvem e diferenças regionais no estágio da inflamação podem ser vistas. Após exposição inicial, o período de incubação pode variar de 5 a 21 dias na DCA. Para o trabalhador já sensibilizado, pode variar de 1 a 3 dias, desaparecendo em 2 a 3 semanas após cessada a exposição. As mãos são tipicamente envolvidas em 80-90% de todos os casos de DCO, mas a face, também, pode ser muito acometida. A localização das lesões tem um papel importante no diagnóstico da DCA, pois o local do corpo dá pistas para a etiologia e deve ser o ponto de partida da anamnese, sendo crucial para orientar o teste de contato para a identificação do alérgeno responsável. A reação é predominante na área de contato, mas pode se espalhar amplamente para outras áreas. Nos casos de difícil identificação do agente causador, a DCA ectópica deve ser considerada, já que o alérgeno pode atingir a pele por vias excepcionais: Dermatite de Contato por Resinas 115 A) Autotransferência: transferência do alérgeno na mesma pessoa, por exemplo, verniz de esmalte de unhas localizado nas pálpe- bras ou no pescoço; B) Heterotransferência: transferência do alérgeno para outra pes- soa, principalmente o parceiro; C) Aérea: transporte do alérgeno pelo ar, com presença de lesões tipicamente em áreas não cobertas; D) Fotoalergênica: lesões em zonas expostas à luz UV, normalmente poupa áreas cobertas com roupas ou sombreadas por cabelos, como orelhas ou couro cabeludo. Por vezes, pode ocorrer dermatite de contato generalizada. A expo- sição a altas doses de alérgenos, a disseminação via vasos sanguíneos ou a ativação generalizada de células efetoras imunológicas têm sido apresentadas como possíveis explicações. As formas atípicas de DCA variam desde dermatite de contato do tipo desidrose a reações do tipo eritema multiforme, púrpura pigmentada, reações pustulosas, granulomas e lesões tipo esclerodermia. Em contraste, a DCI aguda pode apresentar xerose e hiperlineari- dade, edema, eritema, vesículas, bolhas com pústulas, ulceração e necrose. O estágio crônico é semelhante à DCA crônica. O prurido pode estar presente, mas os principais sintomas são queimação e dor com lesões bem definidas e limitadas ao local de contato. DIAGNÓSTICO Devido à dificuldade em diferenciar clinicamente as várias entidades de eczema, a coleta de uma história clínica detalhada (Tabela 1) e a avaliação correta dos padrões morfológicos de lesões são passos fun- damentais para que o diagnóstico seja feito de forma correta, orien- tando o teste de contato e determinando a etiologia. Medicina Ambulatorial VI 116 Tabela 1 – Componentes essenciais da anamnese • Relação temporal entre contato com alérgeno e início dos sintomas; • Área de contato correspondente à área de reação; • Padrões clínicos iniciais e evolução morfológica; • Características do ambiente de trabalho: exposição a potenciais alérgenos, dose, frequência, duração, medidas de proteção e fatores concomitantes (umidade, temperatura, oclusão, fricção), situação semelhante nos colegas de trabalho; • Avaliação das atividades de lazer; • Uso de produtos domésticos e medidas de proteção; • Produtos utilizados para cuidados da pele, fragrâncias, unhas e para o cabelo; • Uso de jóias, vestuário e dispositivos de comunicação; • Avaliação de autotransferência, heterotransferência, dermatite aérea, dermatite fotoalergênica para os casos não típicos; • Histórico de dermatites anteriores (dermatites de contato passadas, testes de contato e história pessoal e familiar de atopia). (Adaptado de KOSTNER, 2017) O exame físico deve sempre investigar o local do corpo e tentar diferenciar entre provável local de contato primário ou reacional. Diagnósticos diferenciais como líquen plano e escabiose devem ser avaliadas. As unhas devem ser examinadas para detectar sinais de distrofia, onicomicose ou psoríase. A avaliação detalhada da história e características clínicas do pacien- te orienta a seleção de alérgenos para o teste de contato, padrão-ouro para o diagnóstico, visto que na maioria das vezes, as lesões são devi- das a reações imunológicas tardias do tipo IV, mediadas por células T. TESTE DE CONTATO O teste de contato envolve a aplicação de uma série de alérgenos di- retamente na pele, habitualmente na parte superior do dorso. É o Dermatite de Contato por Resinas 117 padrão ouro no diagnóstico do eczema de contato alérgico. Corres- ponde a prova in vivo do efeito do contato com o alérgeno causador da doença, provocando em pequena escala a reação de hipersensibi- lidade tipo IV. Normalmente, são transportados em veículos à base de petrolato em câmaras hipoalergênicas. Além disso, a história e as características clínicas dos pacientes de- vem estimular a seleção de painéis adicionais. Os pacientes sob imu- nossupressão (como uso de corticosteróides sistêmicos) não devem ser testados porque podem apresentar testes falsos negativos. As leituras do teste são realizadas em 48, 72 e 96 horas (especialmente se houver resultados questionáveis em 72 horas). Uma leitura repetida após uma semana é altamente sugerida para não perder uma reação tar- dia. Quanto à análise, existem vários métodos de avaliação comumente utilizados. A leitura e a pontuação devem ser repetidas em cada medida. Uma reação em progressão no teste é compatível com uma dermatite de contato alérgica; e uma reação, inicialmente, positiva que regride nas leituras subsequentes sugere uma causa irritativa. Reações positivas a alérgenos quimicamente semelhantes podem in- dicar reações cruzadas. Reações positivas a mais de 5 substâncias não relacionadas podem indicar polissensibilização ou “síndrome da pele hiperexcitada”. Essa última pode ser excluída por repetição do teste com alérgenos selecionados cerca de dois meses depois. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O principal diagnóstico diferencial ocorre entre a dermatite de con- tato alérgica e irritativa, que podem ser coexistentes, pois a lesão de pele causada por irritantes leva a maior penetração de potenciais alérgenos (Tabela 2). Outras dermatoses podem, muitas vezes, gerar dúvidas quanto ao nexo causal, tais como: dermatite atópica, psoríase, herpes simples e Medicina Ambulatorial VI 118 herpes zoster, reações idiopáticas vesiculares pela presença de mico- se nos pés mícides (eczema desidrótico), eczema numular e reações cutâneas a drogas, entre outras. Tabela 2- Principais diferenças entre DCI e DCA Fator Dermatite de contato irritativa Dermatite de contato alérgica Apresentação clínica Forma agudaEritema, edema, exsudação, vesículas ocasionais, pústulas; necrose e ulceração, se material corrosivo. Edema, vesículas, exudação. Forma crônica Pele áspera e xerótica; Pode haver hiperceratose, descamação, liquenificação e fissuras. Pode haver hiperceratose, descamação, liquenificação e fissuras. Localização Restrita à área de contato. Mais intensa na área de contato, mas pode envolver outras áreas, com limites pouco definidos. Sintomas Queimação, dor e ardor; prurido pode estar presente. Prurido é o principal sintoma. Curso clínico Usualmente, aparecem após primeira exposição; Apresentações tardias podem ser vistas. Tempo de sensibilização é necessário, com período de ausência de sintomas, com lesões aparecendo após 24-72h de exposição, mas podem ocorrer dentro de 5h ou até 7d após. Curso de resolução Curso em decrescente: atinge o pico rapidamente, em seguida, começa a reduzir Curso em crescendo: atinge o pico lentamente, com resolução mais lenta (Adaptado de PACHECO, 2018) Dermatite de Contato por Resinas 119 TRATAMENTO Para o tratamento DCO, a chave está em identificar e remover o agente agressor. A maioria dos trabalhadores prefere permanecer na profissão. Nestes casos, o ideal é utilizar maneiras de eliminar a ex- posição, através de restrições ou substituições, tais como usar luvas sem acelerador de borracha. Quando não é possível substituir ou restringir, quer por razões admi- nistrativas, quer porque a doença é grave, o trabalhador será forçado a deixar as instalações em que o agente se encontra. No entanto, essa é a solução menos desejável e, muitas vezes, resulta em perdas econô- micas e sociais significativas para as pessoas afetadas. O tratamento medicamentoso é o mesmo da dermatite de contato não ocupacional, com corticosteróides tópicos, agentes poupado- res de esteróides, cremes de barreira e agentes imunossupressores. Na maioria dos casos, não há melhora se o agente agressor não é afastado. Os pacientes devem ser encaminhados a médicos especialistas quan- do ocorrer falha da terapia instituída, o agente causador não for identificado ou o diagnóstico não estiver claro. PREVENÇÃO Os médicos devem oferecer ao paciente opções de como reduzir a exposição ao agente causador. Os programas de prevenção são vitais para conscientização dos trabalhadores sobre a importância de me- didas profiláticas. Intervenções educacionais e treinamentos estão incluídos para pre- venção primária, evitando o desenvolvimento da doença. Esses pro- gramas devem fornecer informações relevantes sobre a identificação de perigos e buscar a conscientização da necessidade do reconhe- cimento dos primeiros sinais da doença. A intervenção secundária Medicina Ambulatorial VI 120 concentra-se no reconhecimento precoce de trabalhadores com a doença e as intervenções são, geralmente, implementadas a fim de se evitar a progressão da doença. As intervenções terciárias aplicam-se aos trabalhadores com casos graves e crônicos de DCO que resultam em comprometimento significativo. Essas intervenções envolvem a educação sobre a reintegração no trabalho, a continuação do traba- lho e prevenção de incapacidades (Tabela 3). Tabela 3 – Estratégias de prevenção para Dermatite de Contato Ocupacional • Evitar alérgenos e irritantes; • Substituir o agente causador por outro mais seguro; • Limitar o uso de luvas (mas incentivar o uso com tarefas molhadas; se o uso da luva é prolongado, usar forros de algodão); • Utilizar os produtos de limpeza à base de álcool em vez do sabão tradicional e água quando possível (especialmente para trabalhadores da área da saúde); • Aplicar regularmente o creme pós-trabalho sem perfume; • Evite cremes pré-trabalho (geralmente não são úteis e podem levar a complacên- cia em outras medidas preventivas); • Implementar controles de engenharia (ventilação, automação, uso de equipa- mento de proteção individual); • Fornecer aos trabalhadores informações adequadas sobre saúde e segurança. (Adaptado de ZACK, 2017) CONCLUSÃO As dermatoses relacionadas ao trabalho são a forma mais prevalente de doença profissional em muitos países. No Brasil, há necessidade de que os estados da federação sejam mais cobrados sobre a adoção e comprometimento de notificação. Além disso, é importante qualificar os profissionais que tratam os pacientes afetados e orientar as empresas para que seus funcionários busquem Dermatite de Contato por Resinas 121 serviços de saúde quando tiverem alguma doença de pele que possa estar relacionada ao ambiente de trabalho. Mesmo para pacientes com estágios avançados da doença, a combi- nação do diagnóstico correto, tratamento dermatológico, educação do paciente e a vigilância contínua pode melhorar o prognóstico no- tavelmente. REFERÊNCIAS AALTO-KORTE, K; SUURONEN, K. Occupational allergic contact dermatitis caused by phenol formaldehyde resin in an interior coating for beverage cans. Contact Dermatitis. Finlândia, 2019, 80: 134–135. BARBAUD, A; POREAUX, C; PENVEN, E; WATON, J. Occupational protein contact dermatitis. Eur J Dermatol. França, 2015, 25 (6): 527-34. BEPKO, M. D. J; KATHERINE MANSALIS, MD. Common Occupational Disorders: Asthma, COPD, Dermatitis and Musculoskeletal Disorders. American Family Physician. Estados Unidos, 2016, 93: 12. BOLOGNIA, J. J. et al [tradução OLIVEIRA RS et al]. Dermatologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. BREUER, K. et al. individual prevention improves mental health in patients with severe occupational hand eczema. JEADV, 2015; 29 (9):1724-31. BREUER, K; WOLFGANG, U; GEIER, J. Epidemiological data on airborne contact dermatitis – results of the IVDK. Contact Dermatitis, 2015; 73: 239-247. FITZPATRICK et al. Tratado de Dermatologia. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2011. KOSTNER, L. et al. Allergic contact dermatitis. Immunology and Allergy Clinics of North America, 37(1):141-152. Estados Unidos, 2017. LAMPEL, H.P; POWELL, H. B. Occupational and Hand Dermatitis: a Practical Approach. Clinic Rev Allerg Immunol. Estados Unidos. Agosto, 2018. MALIK, M; ENGLISH, J. Irritant hand dermatitis in health care workers. Occupational Medicine (Lond). Londres, 2015; 65(6): 474-6. MENDES, R. Patologia do trabalho – 3.ed.- São Paulo: Editora Atheneu, 2013. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001. Medicina Ambulatorial VI 122 BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde e Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Dermatoses ocupacionais. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. MOSTOSI, C; SIMONART, T. Effectiveness of Barrier Creams against Irritant Contact Dermatitis. Dermatology. Bélgica ,2016. 232(3): 353-62. MOTTA, A. A; AUN, M. V; KALIL, J; BIANCHI, G. P. Dermatite de contato. Rev. bras. alerg. imunopatol. Brasil, 2011; 34(3):73-82. PACHECO K.A. Occupational dermatitis: how to identify the exposures, make the diagnosis, and treat the disease. Ann Allergy Asthma Immunol. Estados Unidos, 2018, 120: 583–591. PESONEN, M. et. al. Occupational contact dermatitis caused by aniline epoxy resins in the aircraft industry. Contact Dermatitis. Finlândia, 2015; 73 (2): 113-8. PESONEN, M. et al. Patch test results of the European baseline series among patients with occupational contact dermatitis across Europe - analyses of the European Surveillance System on Contact Allergy network, 2002-2010. Contact Dermatitis. Finlândia, 2015; 72 (3):154-63. PLOMBOM, G. Y. et al. Epidemiological analysis of occupational dermatitis notified in Brazil in the period 2007 to 2012. An s Dermatol. Brasil, 2016; 91 (6): 732-6. PONTING, D. J. et al. Development of new epoxy resin monomers – A delicate balance between skin allergy and polymerization properties. Chem. Res. Toxicol. Suécia, 2018. PRODI, A. et al. Occupational sensitization to epoxy resins in Northeastern Italy (1996–2010). InternationalJournal of Occupational and Environmental Health. Itália, 2015; 21 (1): 82-87. SCHULER, M. et al. Individual prevention courses for occupational skin diseases: changes in and relationships between proximal and distal outcomes. Contact Dermatitis. Alemanha, 2015; 72(6):371-80. TANJA, K; CAROE, N. E. E; TOVE, A. Occupational dermatitis in hairdressers – influence of individual and environmental factors. Contact Dermatitis. Dinamarca, 76: 146–150. WONG, C. L; GHASSABIAN S; SMITH MT; LAM, A.L.. In vitro methods for hazard assessment of industrial chemicals - opportunities and challenges. Front Pharmacol. Estados Unidos, 2015; 6: 94. ZACK, B; ARRANDALE, V. H; HOLNESS, D. L. Preventing Occupational Skin Disease: A Review of Training Programs. Dermatitis. Canadá, 2017; 28(3):169-182. Dermatoses Alérgicas Provocadas pela Borracha e seus Componentes 123 Capítulo 10 Dermatoses Alérgicas Provocadas pela Borracha e seus Componentes Evandro Messias Neves da Silva1 Frederico Valadares Lanza França2 Fernanda Pontes Guimaraes2 Patsy Luciana Valadares Lanza França3 Rafael Lopes Nogueira Guimaraes4 Vânia Soares de Oliveira e Almeida Pinto5 INTRODUÇÃO As dermatoses alérgicas, decorrentes da utilização da bor-racha, ocorrem devido aos seus componentes, em função da adição de tiuram ecarbamatos durante o processo de vulcanização. Nesse sentido, são perceptíveis alterações na pele, mucosas e anexos após o contato e sensibilização pela borra- cha. O surgimento da manifestação clínica se relaciona com fatores predisponentes, como o uso de equipamentos de proteção individual, agentes químicos, raça e gênero. Segundo alguns estudos, a alergia ao látex e aos seus componentes ocorre em cerca de 2% da população, 1 Bacharel em Farmácia. Acadêmico de Medicina pela UniAtenas 2 Acadêmicos em Medicina pela UniAtenas 3 Médica formada pela UFMG. Mestre em Biotecnologia e Gestão de Inovação pela UNIFE- MM. Especialista em Alergia e Imunologia.Especialista em Pediatria. 4 Engenheiro Ambiental. Mestre em Geografia pela PUC-MG. Acadêmico de Medicina pela UniAtenas 5 Médica formada pela UFVJM. Mestre em Educação pela UFVJM. Especialista em Medicina da Família e Homeopatia. Medicina Ambulatorial VI 124 sendo predominante em trabalhadores do processamento da borra- cha e profissionais da saúde. O sexo feminino apresenta maior inci- dência por estar mais exposto aos fatores de risco. É muito frequente em pacientes com cirurgias recorrentes, devido à alta sensibilização. ETIOPATOGENIA ASSOCIADA À CLÍNICA As principais dermatoses ocupacionais são a dermatite de contato ir- ritativa (DCI) e a dermatite de contato alérgica (DCA), sendo a DCI é responsável por 80% dos casos. Diferenciam-se pela fisiopatologia, predisposição genética, tempo de surgimento, demarcação anatômi- ca das lesões e suas resoluções. O sistema imune cutâneo é formado, basicamente, por quatro componentes estruturais: 1) tecido linfóide associado cutâneo, responsável pela indução da imunidade; 2) siste- ma imune dérmico; 3) microvasculatura dérmica, local onde ocorre a reatividade e expansão de muitas alterações imunológica e infla- matórias da pele; 4) o sistema imune funcional cutâneo. Juntos, esses sistemas imuno–cutâneos possuem a função de identificar e proteger o organismo de substâncias próprias (self) e, ao mesmo tempo, eli- minar substâncias não próprias (non-self). Essa capacidade de iden- tificação e destruição constante leva a uma tensão entre a imunidade de proteção e a autoimunidade. DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA A DCA é desencadeada por um processo imunológico e, diferente- mente, da DCI necessita de sensibilização prévia, ou seja, repetidas exposições ao agente agressor para iniciar o processo inflamató- rio. A resposta imune é específica contra determinantes antígenos de componentes químicos que entram em contato com a pele, de- sencadeando a reação tipo IV mediada por células T, abrangendo imunidade inata e adaptativa. Os agentes mais comuns são medica- mentos tópicos, perfumes, sais metálicos, componentes das borra- chas e seus derivados. Dermatoses Alérgicas Provocadas pela Borracha e seus Componentes 125 Verifica-se que substâncias de baixo peso molecular, denominadas haptenos, atravessam a pele íntegra e se ligam às proteínas da pele (self), formando um conjugado hapteno-proteína no qual a pro- teína não será mais identificada como própria pelo sistema imune (no-self). O processo descrito representa uma resposta de hiper- sensibilidade tardia a esse complexo. O conjunto hapteno-proteína, também denominado antígeno, é processado e apresentado às cé- lulas de Langerhans, responsáveis pela ligação dos antígenos espe- cíficos de superfície aos receptores do complexo principal de histo- compatibilidade (MHC) dos linfócitos T, produzindo uma resposta imune. Havendo sensibilização a uma determinada substância, ocorrerá uma reação mediada por linfócitos, chamada hipersensi- bilidade tardia e, também, poderá ter uma hipersensibilidade ime- diata, mediada por anticorpos. Na hipersensibilidade tardia, o conjugado hapteno-proteína entra na epiderme ligando-se às células de Langerhans, ativando os que- ratinócitos, que são células da derme e liberando citocinas inflama- tórias, como TNF-α, IL1, IL-6, IL-8 e GM-CSF. As células de Lan- gerhans são ligadas ao conjugado através do complexo MHC, indo para o linfonodo, onde o LTh0 é sensibilizado, produzindo clones de LTh1 específicos. Essa é a fase de sensibilização, com duração entre 5 e 21 dias. Após essa fase, se o indivíduo entrar novamente em contato com a substância que foi sensibilizado, o complexo hapteno-proteína é mais uma vez formado. Os linfócitos Th1, já previamente sensibiliza- dos, possuem receptores de superfície específicos que, guiados pelas adressinas das células endoteliais, reconhecem o antígeno ligado às células de Langerhans e passam a secretar citocinas, o que resultará em um processo inflamatório. Após 12 a 48 horas, manifesta-se a dermatite clínica, sendo essa fase denominada eczematização. Importante ressaltar que, mesmo Medicina Ambulatorial VI 126 após a fase de sensibilização, poderá persistir uma quantidade su- ficiente de alérgeno, provocando uma exacerbação espontânea sem reexposição. Histologicamente, as lesões iniciais da DCA caracterizam-se por in- filtrados de linfócitos perivasculares dos plexos venosos superficiais. Uma parte desses linfócitos migram até a epiderme e formam um edema intercelular, denominado espongiose, caracterizado por alar- gamento dos espaços intercelulares entre os queratinócitos. Se esse processo for desencadeado de forma abrupta, a espongiose evolui para microvesículas e, caso ocorra lentamente, a espongiose poderá evoluir para uma hiperplasia epidérmica. A descamação da epiderme com secreção do líquido seroso é decorrente da retenção do núcleo das células do estrato córneo. O infiltrado linfocitário na derme tor- na-se intenso e, ocasionalmente, pode aparecer alguns eosinófilos. DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA A DCI corresponde, aproximadamente, a 80% das dermatites de contato, sendo desencadeada por um dano tissular direto, ou seja, não é necessária uma sensibilização prévia. A fisiopatologia da DCI não requer a intervenção de mecanismos imunológicos, sendo uma das grandes responsáveis por doenças ocupacionais. A resposta ao agente agressor está intimamente cor- relacionada ao tempo de exposição, bem como sua periodicidade e concentração do composto irritante. Os agentes agressores são substâncias químicas que, em contato com a pele, produzem lesões e, havendo contato direto, provocam danos à barreira cutânea, em especial, nos queratinócitos e nas células dendríticas. Com a eventual lesão e necrose, os queratinócitos afetados liberam mediadores infla- matórios não específicos e fatores quimiotáticos. Esses mediadores são responsáveis pela dilatação dos vasos da derme, provocando eri- tema característico, bem como edema e bolhas. Em virtude dopro- Dermatoses Alérgicas Provocadas pela Borracha e seus Componentes 127 cesso sero-exudativo, ocorre o extravasamento de plasma na derme, formando o edema, ou na epiderme, formando bolhas. A DCI pode ser caracterizada por um eczema agudo com placas eritematosas, edematosas, vesículas ou bolhas e exsudação, subagudo com placas eritematosas, crostas e exsudação ou crônica com placas ceratóticas, liquenificadas com fissuras. DIAGNÓSTICO A Figura 1, a seguir, apresenta o fluxograma diagnóstico de alergia ao látex ou derivados da borracha: Fig. 1: fluxograma para o diagnóstico de alergia ao látex e/ou aditivos da borracha Fonte: De Sá, 2012 A partir da história clínica e das indicações adequadas de testes in vivo ou in vitro é possível realizar o diagnóstico de alergia ao látex. O teste cutâneo de puntura é um método in vivo que consiste em detectar a Medicina Ambulatorial VI 128 quais alérgenos o paciente é sensível, sendo indicado quando a his- tória clínica sugerir a hipersensibilidade imediata ou tipo I. O teste de contato, Patch Test (PT), é utilizado para diagnóstico em pacientes com hipersensibilidade tipo IV, consistindo na aplicação de 30 a 40 substâncias na pele das costas e na leitura com 48h e 96 h. O teste de provocação é usado em casos em que há dúvidas da causa. A dosagem de IgE sérica específica é utilizada no caso de suspeita de anafilaxia ou de sensibilização em pessoas com o teste cutâneo negativo. TRATAMENTO O princípio básico para o tratamento de qualquer dermatite de contato consiste no afastamento da substância causadora, bem como na orien- tação ao paciente sobre a utilização de outros materiais que substituam aquele causador da reação cutânea. A prevenção do contato com as substâncias agressoras é medida fundamental tanto para DCI quanto para DCA. É importante, também, descartar e tratar infecções secun- dárias à dermatite de contato. A terapêutica medicamentosa para a DCA deve ser realizada a partir da identificação da classificação do quadro: agudo ou crônico e, tam- bém, da extensão das lesões. Na fase aguda, é importante diminuir os sinais inflamatórios com utilização de compressas frias, corticóides tó- picos ou sistêmicos e, se necessário, imunossupressores. Os corticoides tópicos são usados quando as lesões se restringem em até 20% da área corporal, sendo indicados os de baixa potência na face e os de média e alta potência no restante do corpo. Atenção aos efeitos adversos, provocados por eles: atrofia local, te- leangectasia, hipopigmentação. Como forma de reduzir o tempo de tratamento, há a possibilidade de administrar corticóides tópicos em oclusão. A utilização de corticóides sistêmicos é indicada quando as lesões estiverem em grandes áreas, ou quando o tratamento tópico não obteve o resultado esperado. O medicamento de escolha, nesse caso, Dermatoses Alérgicas Provocadas pela Borracha e seus Componentes 129 poderá ser a Prednisona com dose de 0,5mg/kg de peso por 14 a 21 dias, sendo a dose diminuída progressivamente em 50% por semana até completa interrupção do seu uso. O uso de imunomoduladores tópicos, como o Tracolimus, tem bons resultados, especialmente, em dermatites de contato nas mãos e, ape- sar de ter um efeito menor em relação aos corticóides tópicos, não cau- sa atrofia local. Em caso de prurido, é recomendado o uso de anti-his- tamínicos de primeira geração que provocam uma sedação benéfica ao paciente, embora tenha eficácia questionada. O uso de anti-hista- mínicos de segunda geração, como a Cetirizina, ajuda a evitar o efeito rebote pós tratamento tópico com corticosteróides. Na fase crônica da doença, não é recomendada a utilização de cor- ticoterapia, optando-se por imunossupressores sistêmicos como Ciclosporina e Azatioprina, tendo em vista que estudos mostraram bons resultados terapêuticos, apesar de que tais produtos não re- presentam tratamento de primeira linha. A utilização desses me- dicamentos deve ser avaliada quanto aos riscos e benefícios, espe- cialmente, em relação ao fato da Azatioprina ser mielotóxica. Nessa fase, está indicado o uso de corticóides em pomadas e injeção in- tralesional. A fototerapia pode ser uma opção em casos de resis- tência aos tratamentos anteriores, com vantagem de não possuir efeitos adversos dos corticosteroides. Todavia sua utilização fica restrita a centros especializados e os custos e tempo de tratamento são limitantes à sua aplicação. O tratamento adequado da dermatite de contato requer identificar e retirar o agente causador do ambiente em que o paciente vive. Nenhu- ma medicação vai substituir essa medida. REFERÊNCIAS ALCHORNE Alice de Oliveira de Avelar; ALCHORNE, Maurício Mota de Avelar; SILVA, Marzia Macedo. Dermatoses ocupacionais. Anais brasileiros de dermatologia, Rio de Janeiro-RJ, v. 85, n. 2, p. 137-147, 2010. Medicina Ambulatorial VI 130 ALI, Salim Amed. Dermatoses ocupacionais. In: MENDES, René. Medicina do trabalho doenças profissionais. São Paulo-SP, Sarvier, 1980. p. 261-318. AZULAY, R.D.; AZULAY, D.R.; AZULAY-ABULAFIA, L. Dermatologia. 7. ed. Rio de Janeiro- RJ, Guanabara-Koogan, 2017. 1184 p. DUARTE, Ida et al. Dermatite de contato [Contact dermatitis]. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro- RJ, v. 75, n. 5, p. 529-48, 2000. DUARTE, Ida; ROTTER, Anita; LAZZARINI, Rosana. Frequência da dermatite de contato ocupacional em ambulatório de alergia dermatológica. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro- RJ, v. 85, n. 4, p. 455-459, 2010. FERNANDEZ, Ohalis Luanda et al. Associação de urticária de contato e dermatite alérgica de contato com borracha. Anais Brasileiros Dermatologia, Rio de Janeiro- RJ, v. 84, n. 2, p. 177-179, mar./abr. 2009. KADDOURAH, Samar Mohamed El Harati et al. Relação entre a ocorrência de dermatite de contato irritativa e o uso dos equipamentos de proteção individual. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, São Paulo- SP, v13, n.2, p. 120-125, 2015. KASHIWABARA, Ludimila M. R. et al. Dermatites ocupacionais de contato. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research, Maringá- PR, v.5, n.3, p.50- 56, 2014. LAZZARINI, Rosana et al. Dermatite alérgica de contato entre pedreiros, num serviço não especializado em dermatoses ocupacionais. Anais Brasileiros Dermatologia, Rio de Janeiro- RJ, v. 87, n. 4, p. 567-571, 2012. MONTALVÃO, Leticia Nunes; PIRES, Mario Cezar; MELLO, João Ferreira de. Alergia ao látex em profissionais de saúde de São Paulo, Brasil. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro- RJ, v..83, n.3, p.213-220, 2008 MOTTA, Antônio A. et al. Dermatite de contato. Revista Brasileira de Alergia Imunopatologia, São Paulo, v. 34, n. 3, p. 73-82, 2011. NUNES, Débora Cabral. Alergia ao látex: análise da produção científica dos enfermeiros. Revista SOBECC, São Paulo, v. 18, n. 4, p. 26-37, dez. 2013. PARISI, Claudio A. et al. Alergia al látex. Archivos Argentinos de Pediatría, Buenos Aires, v. 104, n. 6, p. 520-529, dec. 2006. SÁ, Adriano Bueno de et al. Recomendações para o diagnóstico de alergia ao látex. Revista Brasileira de Alergia Imunopatologia, São Paulo- SP, v. 35, n. 5, p. 183- 189, 2012. Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo 131 Capítulo 11 Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo Anna Cláudia Sabino dos Santos1 Henrique Passos Weidig1 Lidiane Barbosa Alcântara1 Marcos Tadeu Trindade Filho1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO As dermatoses ocupacionais são consideradas um dos principais agravos relacionados ao trabalho e de notifi-cação compulsória no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Para isso, é necessário que seja realizada a anamnese ocupacional, exame físico detalhado e, ainda, se necessário, uma visita ao ambiente de trabalho para uma inves- tigação dos agentes causadores. O diagnóstico é importante para a compreensão do processo trabalho-saúde-doença e, assim, realizar uma abordagem do tratamento e de ações de controle e prevenção(MIRANDA et al., 2018). As principais complicações associadas às dermatites de contato são as cicatrizes, infecções secundárias, distúrbios de pigmentação, di- 1 Acadêmicos de Medicina do Instituto Metropolitano do Ensino Superior. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós-doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 132 minuição ou limitação da produção, sequelas físicas e emocionais e incapacidade profissional. (MIRANDA et al., 2018; OLIVEIRA; KRUG, 2017). As questões ambientais na União Europeia são regulamentadas por vários atos legislativos europeus. O comitê social econômico, em 1986, fixou processos nacionais para redução da poluição no meio aquático em relação ao Cromo, considerando que sua concentração nos cursos de água atinge 100 a 400 mg/Kg. Em meio seco, o Cr6+ é mais solúvel e sua concentração deve ser limitada. No Canadá, as fontes primárias de cromo no meio aquático são procedentes de in- dústria de curtume, pinturas, obras químicas, aço, fundições não fer- rosas, perfurações de petróleo e plataformas de recuperação (AMA- RANTE, 2016). O cromo é uma substância química natural, um metal encontrado na natureza, ar, água e solo. Comumente, encontra-se o cromo metálico nas indústrias em que se fabricam aço inoxidável, fertilizantes, pro- cessos químicos, fitas magnéticas, lâmpadas, corantes, preservação da madeira, couro e outros produtos (SPRADA, 2018). O elemento químico cromo é encontrado em diversos estados de oxidação, sendo que Cr+3 e Cr+6 são os mais estáveis. A diferenciação entre os dois é muito importante, considerando que a toxicidade do hexavalente é bem maior do que em seu estado trivalente. A forma trivalente possui funções biológicas essenciais para o organismo hu- mano e animal, entretanto na forma hexavalente se torna altamente tóxico e nocivo (HABIF, 2012; PEREIRA, 2017; ROSA, 2014; YA- MASHITA; DANTAS; MORENO, 2018) A cromita, que é composta de óxido de ferro e cromo (FeCr2O4), é o minério de cromo mais encontrado na crosta terrestre e é utilizada na produção de ligas como molibdênio, níquel, vanádio, na produ- ção de aço e ferro resistentes à corrosão, na galvanoplastia, entre ou- tros (MENDES, 2013; PEREIRA, 2017). Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo 133 Os sais de cromo e os seus ácidos são agentes muito sensibilizantes para o ser humano. Eles são parte ativa no desenvolvimento de vá- rias dermatoses, tanto produzidas por irritação quanto por mecanis- mos de sensibilização, principalmente, em concentrações acima de 2 µg/m. O cromo IV, hexavalente, age sobre as vias aéreas dos traba- lhadores e sobre o tegumento. O ácido crômico, que se apresenta na forma hexavalente, é utilizado na eletrodeposição de metais. Já a for- ma trivalente é menos irritante, sensibilizante e tóxica (BELLUSCI, 2017; MENDES, 2013; PEREIRA, 2017). A toxicidade do cromo ocorre, principalmente, pela via respiratória que pode gerar sinusite, irritação brônquica, perfuração septal e cân- cer de pulmão. Mas também pode causar efeitos gastrointestinais, hematológicos, cardiovasculares, renais, hepáticos e dermatológicos (LEON; CAETANO, 2015; SPRADA, 2018). Pode-se entrar em contato com essa substância por meio da ingestão de água e alimentos contaminados, pelo contato com a pele, no ma- nuseio do cromo no ambiente de trabalho, respirando o ar contami- nado e, até mesmo, habitando perto de locais com cromo na forma tóxica, dicromato e hexavalente por exemplo (SPRADA, 2018). Na pele, a forma hexavalente é reduzida pela metionina, cistina e cisteína na forma trivalente, sendo que após essa redução, o cromo se liga a proteínas para a formação do complexo hapteno-proteína, elemento que sensibiliza o trabalhador afetado (AMARANTE, 2016; MENDES, 2013). A dermatite irritativa de contato é caracterizada pelas úlceras de cromo, formadas, principalmente, na cromagem de peças peque- nas, a qual é realizada manualmente pelo trabalhador, de forma que as gancheiras são mergulhadas em tanques com solução de ácido crômico. Essa solução em contato com a pele, previamente lesada por arranhões gerados pelas gancheiras e outros materiais, pode gerar úlceras locais. Essas úlceras são denominadas úlceras do cro- Medicina Ambulatorial VI 134 mo e, quando tratadas de forma errada, podem ocasionar cicatri- zação muito lenta, e infecções secundárias, embora tais situações aconteçam mais raramente. As lesões, geralmente, se apresentam em formas arredondadas, em forma de anel com borda dupla, e com presença de necrose na parte central. O tamanho é variável, de acordo com a área lesada e a dor local também varia de acordo com a fase do processo inflamatório local. Antigamente essa úlcera era chamada de “úlcera em olho de pombo”, como exemplificado na figura 1 (MENDES, 2013). Figura 1. Ajudante de Galvanoplastia com úlcera crômica de borda dupla e necrose central Fonte: Mendes, 2013. A alergia proveniente do contato da pele com a solução que contém ácido crômico (cromo hexavalente) é considerada rara e, para o diag- nóstico dessa afecção, pode ser realizado o teste de contato, ilustrada pela figura 2 (MENDES, 2013). Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo 135 Figura 2. Dermatite de contato alérgica por cromo e borracha do EPI em cromador e teste de contato positivo para bicromato de potássio Fonte: Alchorne, Alchorne e Silva, 2010. Geralmente, a alergia pelo contato com cromato é encontrado em trabalhadores da construção civil, devido ao contato com o cimen- to úmido, como ilustrado pela figura 3. Os sintomas começam com ardência e eritema com desenvolvimento de ulceração após 12 ho- ras, sendo que após as queimaduras graves podem gerar dor crônica e cicatrizes, como demonstrado na figura 4. Geralmente, ocorrem em operários industriais que possuem sensibilidade aos cromatos no cimento e têm o contato, principalmente, no dorso das mãos e an- tebraços, desenvolvendo inflamação eczematosa. Geralmente, esses pacientes não têm a investigação da forma de contato até que passam a não responder aos corticoides tópicos e sistêmicos. O sucesso do Medicina Ambulatorial VI 136 tratamento só se dá com a suspensão do contato com o cimento, sen- do assim, a resposta é rápida (HABIF, 2012; MENDES, 2013). Figura 3. Dermatite irritativa grave decorrente de contato com cimento fresco Fonte: Habif, 2012. Outra afecção são as erupções acneiformes e miliária rubra que acometem os trabalhadores que fazem o acabamento final de pe- ças a serem cromadas e niqueladas, as quais precisam ser lixadas, polidas e limpas. O polimento final pode ser realizado, usando po- litrizes com tiras de couro onde é colocado o sebo. Nesse processo, partículas e sujeiras das peças polidas podem atingir a pele expos- ta e o vestuário do trabalhador. Essa roupa suja pode contaminar a pele e irritar o óstio folículo, gerando lesões acneiformes. Esse processo é denominado elaioconiose, como ilustrado pela figura 5 (MENDES, 2013). Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo 137 Figura 4. Úlcera profunda por cimento molhado Fonte: Habif, 2012. Figura 5. Elaioconiose, lesões com pápulas foliculares enegrecidas e obliteração folicular no dorso da mão e da face dorsal das falanges Fonte: Valgas et al., 2011. Medicina Ambulatorial VI 138 Também pode ocasionar a irritação e obstrução das glândulas su- doríparas, processo conhecido como miliária rubra. Esse processo pode coexistir com a elaioconiose (MENDES, 2013). Figura 6. Operador de galvânica com EPI completo Fonte: PEREIRA, 2017. O tratamento das dermatoses aos sais de cromo tem como base a redução do cromo hexavalente para cromo trivalente no local da le- são. Para isso, são utilizadas substânciascomo a glicina, a cisteína, o ácido ascórbico e a glutamition para reduzir o cromo VI a cro- Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo 139 mo III. O ácido ascórbico pode ser obtido por meio da Vitamina C efervescente de 1g, pela dissolução de um comprimido em 10 ml de solução salina ou água destilada. Deve ser aplicado sobre a lesão gaze ou algodão por uma a duas horas. Nova solução deve ser preparada a cada cinco dias, devido à instabilidade da lesão, e guardada em local fresco ao abrigo da luz em frasco escuro (MENDES, 2013). A prevenção coletiva deve ser feita pela automatização de várias fa- ses do processo de eletrodeposição de metais e, de forma individual, pode se dar por meio da utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como aventais, luvas, máscaras apropriadas e botas, como ilustrado na figura 6 (MENDES, 2013). REFERÊNCIAS ALCHORNE, A. O. A.; ALCHORNE, M. M. A.; SILVA, M. M. Dermatoses ocupacionais. Anais brasileiros de dermatologia, v. 85, n. 2, p. 137-147, 2010, Rio de Janeiro. AMARANTE, H. M. Revisão de legislações e formas de tratamento do resíduo dicromato de potássio gerado pela análise de carbono. 27 f. Dissertação (Gestão em Perícia Ambiental) – Instituto de Biociências da Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá. 2016. BELLUSCI, S. M. Doenças profissionais ou do trabalho. São Paulo: Senac. 2017. HABIF, T. P. Dermatologia clínica: guia colorido para diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. LEON, L. G; CAETANO, M. O. Estudo sobre riscos à saúde na operação de usinas de reciclagem de resíduos eletroeletrônicos. 30 f. Dissertação (Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Universidade do Vale dos Sinos, São Leopoldo, 2015. MENDES, R. Patologia do trabalho. 3 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2013. MIRANDA, Fernanda Moura D.’Almeida et al. Dermatoses ocupacionais registradas em sistema de notificação na região Sul do Brasil (2007 a 2016). Rev. bras. med. trab, v. 16, n. 4, p. 442-450, 2018, São Paulo. OLIVEIRA, Brenda Raddatz de; KRUG, Suzane Beatriz Frantz. Assistência de enfermagem em dermatoses ocupacionais: uma revisão bibliográfica. Anais do Salão de Ensino e de Extensão, p. 138, 2017, Universidade Santa Cruz do Sul: Santa Cruz do Sul. Medicina Ambulatorial VI 140 PEREIRA, C. E. G. Estudo das principais doenças causadas a cromadores no setor de galvanoplastia no Brasil. 58 f. Dissertação (Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Londrina. 2017. ROSA, T. T. Suplementação do cromo em resistência insulínica. 24 f. Dissertação (Graduação em Nutrição) – Faculdade Assis Gurgaez, Cascavel. 2014. SPRADA, E. Toxicologia. Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2018. VALGAS, N. et al. Elaioconiose: Relato de caso. An Bras Dermatol, v. 86, n. 4Supl1, p. S53-6, Rio de Janeiro, 2011. YAMASHITA, D. M.; DANTAS, S. T.; MORENO, C. M. Determinação de cromo hexavalente em embalagens para alimentos. ITAL, v.30, n.2, 2018. Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo 141 Capítulo 12 Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo Daniela Leão Fagundes1 Letícia Rodrigues Pena Temer1 Rebeca Guimarães Schmidt1 Sofia Andrade de Araújo1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO As dermatoses ocupacionais são doenças da pele, mucosas ou seus anexos (cabelo, pelos, unhas), direta ou indireta-mente causadas, condicionadas, mantidas ou agravadas pelas condições de trabalho e/ou por agentes presentes nas atividades ou no ambiente laboral. São determinadas por ele- mentos indiretos como idade, sexo, etnia, antecedentes mórbidos e doenças concomitantes. Fatores ambientais, hábitos e facilidades de higiene e causas diretas geradas pelos agentes biológicos, físicos, quí- micos ou mecânicos presentes no trabalho, também, podem atuar, diretamente, sobre o tegumento, produzindo ou agravando uma der- matose preexistente. 1 Acadêmicas do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga, MG. 2 Professora titular em pediatria no Instituto Metropolitano de Ensino Superior, Ipatinga - MG. Mestre em saúde, meio ambiente e sustentabilidade. PhD em gestão pela UTAD. Doutora em administração pela UFRJ. Pós doutorado em Impacto da Qualidade do Ar na Saúde Humana pela Universidade Fernando Pessoa. Medicina Ambulatorial VI 142 O diagnóstico deve ser realizado, observando o quadro clínico, a rela- ção entre o início das manifestações e o início da exposição, e sua cor- respondência entre a localização das lesões e as áreas de contato com o agente irritante. Deve, ainda ser observada a relação da recuperação com o afastamento e agravamento com o retorno ao trabalho. Dentre as dermatoses ocupacionais, aproximadamente 80% ocorrem pela exposição aos agentes químicos, substâncias orgânicas e inorgâ- nicas, irritantes e sensibilizantes. A dermatite de contato por irritan- tes é a mais prevalente e junto com a dermatite alérgica de contato representam em torno de 90% dos casos de dermatose ocupacional. A dermatite de contato por irritante não demanda a sensibilização e ativação imunológica prévia, portanto pode aparecer em qualquer tra- balhador exposto ao contato com substâncias irritantes, dependendo da sua concentração, do tempo de exposição e da periodicidade do contato com o agente, ao contrário da dermatite de contato alérgica. O quadro clínico, normalmente, não é grave, apresentam, na maio- ria das vezes, manifestações como desconforto, prurido, ferimentos, traumas, alterações estéticas e funcionais que interferem na vida social e no trabalho. Neste trabalho, serão analisadas as dermatoses ocupacionais por derivados do petróleo. O PETRÓLEO O petróleo é uma fonte de elevado valor energético, não renovável que, após a industrialização, se tornou um produto tático para o de- senvolvimento de países, influenciando as políticas internas e as rela- ções internacionais. Possui um cheiro típico e coloração que varia do incolor até o preto, tem aspecto oleoso e inflamável, advém de uma ligação de hidrocarbonetos (carbono e hidrogênio), que podem estar associados a quantidades pequenas de nitrogênio, oxigênio, compos- tos de enxofre e íons metálicos. Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo 143 A partir da derivação do petróleo, são obtidos diversos produtos que são utilizados nas industrias, comércios e lares, como gás de petró- leo, gás liquefeito de petróleo (GLP), nafta, gasolina, querosene, óleo diesel, óleo lubrificante, óleo combustível e solventes. A exposição a tais substratos, correlacionada ao tempo de exposição e a área afetada pode causar dermatite de contato por irritantes, der- matite de contato alérgica e elaioconiose. DERMATOSE OCUPACIONAL POR SOLVENTES DERIVADOS DO PETRÓLEO Os solventes são derivados do processamento do petróleo, de gás na- tural e de frações da indústria petroquímica. Eles têm a capacidade de dissolver outras substâncias sem alterá-las. São utilizados para remoção de gordura, graxa, tinta, sujidade em metais, para a lim- peza a seco de tecidos, tapetes e roupas, para desinfetar, para solver tintas, vernizes, esmaltes, pesticidas e resinas, ou seja, são utilizados nas áreas industriais, agrícolas, farmacêuticas, entre outras. Portanto abrangem uma grande quantidade de trabalhadores que são expos- tos a tais substratos. Os solventes têm características tóxicas variáveis para o ser humano e apresentam alta capacidade inflamável. Ao contato com a pele e ou- tros órgãos dos trabalhadores, sem a proteção adequada, podem cau- sar dermatites irritantes e alérgicas, dermatite de contato sistêmica, ação corrosiva sobre a pele, ulceração e necrose. Além disso, podem agir sobre as vias aéreas superiores, causando irritação de mucosas e conjuntivas, abortamento e infertilidade. Os solventes tem ação can- cerígena e podem agir sobre o fígado e outros órgãos, sobre o sistema nervoso central e neurotoxicidade, portanto devem serusados den- tro de regras inflexíveis de segurança. De acordo com suas características, os solventes são classificados em orgânicos e inorgânicos. Os orgânicos podem ser alifáticos, aromáti- Medicina Ambulatorial VI 144 cos, cíclicos, halogenados, álcoois, aldeídos, aminas, cetonas, ésteres, éteres, glicóis e miscelânea. Os inorgânicos são os ácidos e alcali- nos, que podem causar efeitos sobre o homem pelas vias inalatórias, percutânea, por ingestão e, ainda por exposição crônica cutânea ou inalatória. Pela via inalatória, pode causar cefaleia, tontura, torpor, alteração da memória, fadiga, fraqueza, asma, visão turva; pela via percutânea, pode causar dermatite de contato por irritante, dermatite de conta- to alérgica, urticária de contato, irritação ocular e irritação de vias áreas superiores; por ingestão, causa náusea, vômito; por exposição crônica cutânea ou inalatória, a concentração ou memória pode ser diminuída. Dentre os danos, causados pelos solventes, pode-se, ain- da, destacar depressão do sistema nervoso central, alterações neu- ropsicológicas e irritação de vias áreas superiores. Os solventes inorgânicos são largamente utilizados nas indústrias metalúrgicas e de eletrodeposição de metais. As substâncias áci- das e alcalinas apresentam aspecto irritativo e, dependendo do tempo de exposição a elas, pode causar queimadura química (le- sões ulceradas graves). Sua névoa, em alguns casos, provoca ir- ritação ocular, conjuntivite e erosões no esmalte dos dentes dos operários. Eles apresentam ação corrosiva e, normalmente, em até 04 horas após a exposição, há destruição tecidual irreversível, causada pela lise da camada córnea e necrose tecidual, pela alta reação inflamatória local. As dermatoses ocupacionais por solventes são causadas pela ação desengordurante, que provoca a remoção da camada lipídica, ocasionando ressecamento, fissuras e sangramentos, propiciando a penetração de sujeiras, partículas e infecções diversas. Por sua ação tóxica irritativa, acarreta o aparecimento de vesículas, ede- ma e inflamação local. Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo 145 DERMATITE DE CONTATO POR IRRITANTE (SOLVENTES) A dermatite de contato por irritante é causada, principalmente, pela característica desengordurante dos solventes, que ocasiona a remoção do revestimento lipídico e a ceratólise. Isso aumenta a eliminação de água pela epiderme, provocando, assim, o res- secamento e o aparecimento de fissuras. As lesões irão depender do tipo do solvente, da concentração do produto e do tempo de exposição a ele. A dermatite de contato por irritante forte, que no caso dos solven- tes são os inorgânicos, pode provocar o surgimento de ulceração na área de contato com posterior necrose, associado ao ardor, à queimação e à dor. DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA POR SOLVENTES A dermatite de contato alérgica é uma hipersensibilidade tardia, rea- ção imunológica do tipo IV, pela exposição aos solventes. Sua inci- dência é rara e depende do baixo peso molecular, da concentração e do tempo de exposição à substância, da alta absorção percutânea e da suscetibilidade/sensibilização prévia do indivíduo. Geralmente, as lesões surgem de modo lento e progressivo, iniciando com ceratólise, fissura e sangramentos, podendo evoluir para condições de eczema- tização aguda e generalizada com disfunção hepática em trabalhado- res suscetíveis. Normalmente, a dermatite de contato alérgica causa eritema, edema, vesiculação e prurido na fase aguda. Ao se cronificar, observa-se o surgimento de crostas serosas, podendo ter infecção secundária ou liquenificação (aumento da espessura da pele) e agudizar nas reex- posições ao antígeno. Medicina Ambulatorial VI 146 Por se tratar de uma resposta imunológica retardada, depende da produção e ação de linfócitos T. O período de incubação pode oscilar entre cinco e vinte e um dias na exposição primária e, nas subse- quentes entre um e três dias. Após duas a três semanas da suspensão do contato, as manifestações tendem a regredir. O tratamento tópico é a base de cuidados higiênicos locais para pre- venir a infecção secundária. Nos casos em que há vesículas e exsuda- ção, poderão serem aplicadas compressas ou fazer imersão da região afetada em solução salina normal, água boricada ou permanganato de potássio para cicatrizar as lesões. O uso de emolientes é aponta- do para restaurar a camada da epiderme e diminuir o ressecamento e prurido. Os associados à ureia, apenas, serão utilizados se a pele estiver totalmente íntegra. Em alguns casos, é necessário o uso de corticoides e/ou antibióticos tópicos. Os medicamentos com apresentação de cremes ou loções são mais indicados para lesões exudativas. As pomadas são utilizadas para lesões secas e crônicas. Já em áreas pilosas ou flexoras, podem ser usados creme, gel ou loção. Em casos em que há sintomas sistêmicos, o tratamento poderá ser feito com anti-histamínicos. Para reduzir o prurido e corticoides sis- têmicos, na fase aguda das exacerbações graves e nos quadros em que há infecção secundária, dependendo da extensão das lesões, é necessário o uso de antibióticos tópicos ou sistêmicos. Para o tratamento e a remissão da dermatose, é essencial o afasta- mento da exposição ao produto tóxico. As principais medidas preventivas em relação ao uso de solventes são o controle da exposição, o uso de EPI específico, a higiene pes- soal, o armazenamento, a rotulagem, a educação e o treinamento no manuseio com os produtos e na utilização das técnicas de primeiros socorros. Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo 147 DERMATOSES OCUPACIONAIS POR HIDROCARBONETOS DERIVADOS DO PETRÓLEO CLORACNE A cloracne é a forma grave de acne ocupacional, causada por conta- minação ambiental ou uso industrial de hidrocarbonetos clorados, também chamados de POPs (poluentes orgânicos persistentes) pre- sentes nos defensivos agrícolas. Ocorre por obstrução dos folículos pilosos, com irritação e infecção secundária. De forma geral, as principais características de um quadro agudo são eritema, edema, vesiculação e prurido, sendo que, em um quadro crônico, pode evoluir para crostas serosas, passíveis de infecção se- cundária e liquenificação. Acomete as áreas mais expostas ou que ficam cobertas por vestimentas sujas, como braços e mãos e o pro- cesso inflamatório que ocorre é do tipo IV (imunidade celular). Esse processo pode ocorrer em três fases: I) indução/imunização/sensibi- lização; II) elicitação ou desencadeamento; e III) resolução. Figura 1: cloracne Fonte: ALCHORNE, 2010. Medicina Ambulatorial VI 148 O teste de contato (TC) ou teste epicutâneo (patch test) é o princi- pal exame que diferencia as DCIs das DCAs. São realizados com o objetivo de confirmar o diagnóstico feito pela clínica, pesquisar os agentes sensibilizantes e razões médico-legais. Durante o teste, co- loca-se, geralmente, no dorso do paciente, substâncias já padroni- zadas e, após quarenta e oito a noventa e seis horas, faz-se a leitura. Considera-se a positividade do TC relevante quando há nexo causal entre as substâncias positivas e a DC e, ainda, que não diferencie en- tre sensibilização pregressa ou relacionada ao quadro atual (DCA), ambas caracterizam dermatose ocupacional quando relacionadas à atividade do paciente. Caracteriza-se a cloracne de acordo com a extensão e a intensidade das lesões. Nas exsudativas, ou seja, agudas, utilizam-se compres- sas de permanganato de potássio a 1:40.000, ou de água boricada a 2 ou 3% e cremes à base de corticoides. Esses cremes, também, são preconizados nos casos de forma localizada, de potência variá- vel, conforme a localização de lesões descamativas e liquenificadas. Os corticoides sistêmicos são usados nos casos de lesões extensas, dando preferência à prednisona em doses iniciais de 0,5 a 1 mg/kg/ dia, reduzidas gradualmente, associando antibiótico tópico e/ou sis- têmico se houver infecção secundária, e anti-histamínicos sistêmicossedativos, se houver pruridointenso. MELANOSE A melanose ou melanodermia (código CID-10: L81.4) é a hiper- pigmentação da pele pelo aumento de melanina e pode ser causada pela exposição química aos hidrocarbonetos, derivados do petróleo, como hulha, asfalto, betume, alcatrão, breu, dentre outros, entrando na classificação de dermatoses ocupacionais. Logo, pessoas expostas, diariamente, a esses produtos, em sua jornada de trabalho, têm o ris- co aumentado de desenvolver as alterações na pele. Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo 149 No quadro clínico, observa-se que as áreas mais acometidas são face e pescoço, sendo o tronco pouco acometido, pois está mais protegido da exposição. As lesões são em formato de máculas hipercromiadas, deixando claro o local de contato com as substâncias químicas. Po- dem ocorrer, também, lesões descamativas, pruriginosas e eritema- tosas no couro cabeludo. Nas lâminas histológicas, além de edema e cromatoforese, pode-se verificar que, na camada basal da epiderme, ocorre aumento focal do pigmento melânico, com discreto infiltrado linfocitário perianexial e perivascular. Em casos menos freqüentes pode haver uma hiper- pigmentação permanente, pelo extravasamento de melanina para a epiderme com incontinência pigmentar. Melanomas, doenças sistêmicas endócrino-metabólicas e infecciosas são alguns dos possíveis diagnósticos diferenciais. O primeiro passo para o tratamento é cessar a exposição às substân- cias desencadeadoras, já que a melanose se enquadra no Grupo I da Classificação de Schilling, ou seja, o trabalho é uma causa necessária para que ela ocorra. É importante focar na prevenção por meio de higiene pessoal no am- biente de trabalho, pelo uso de equipamentos de proteção individual em estado adequado de conservação e pela vigilância e controle am- biental, traçando planos para diminuir ou erradicar a exposição dos trabalhadores aos compostos que causam as alterações na pele. DERMATOSE OCUPACIONAL POR GRAXA E ÓLEOS DERIVADOS DO PETRÓLEO ELAICONIOSE A elaiconiose é uma dermatose ocupacional que causa uma erupção acneiforme, acometendo trabalhadores que lidam com óleos e graxas, Medicina Ambulatorial VI 150 como mecânicos e metalúrgicos e afeta, principalmente, áreas expos- tas como braços e mãos. Atualmente, com o uso dos equipamentos de proteção individual, a adoção de cuidados de higiene pessoal e a melhoria da qualidade dos óleos solúveis utilizados, tem reduzido sua incidência. Entretanto o aparecimento dessa patologia não é rara, re- presentando parcela importante das doenças ocupacionais cutâneas. A formação da elaioconiose ainda não está especificada. Mas alguns estudiosos acreditam ter relação com a obliteração dos óstios foli- culares causados por elementos oleosos e partículas metálicas, com produção secundária de acne, comedões e infecção posterior ao apa- recimento do folículo. O desenvolvimento da elaiconiose é dividido em três fases: A) A primeira é a obliterante, correspondente a obstrução do óstio folicular, levando a uma reação inflamatória perifolicular sim- ples, causando o encurtamento dos pelos no local acometido e a presença de pontos enegrecidos e com minúsculos tampões. B) A segunda fase é a papulosa peripilar, caracterizada pela presen- ça dos comedões e pápulas planas, acompanhadas de hipercera- tose folicular. C) A última fase é a infecciosa, marcada pela infecção folicular, ori- ginando pápulo- pústulas. A elaiconiose é identificada por pontos pretos comedoniformes pre- sentes nos óstiosfoliculares. Muito frequentemente, tem a aparição de pápulas e pústulas, podendo ter apresentação dolorida e prurigi- nosa. Na evolução, pode haver formação de cicatriz e de lesões abs- cedantes, sendo esta última um surgimento raro nos casos da elaici- niose. Seu aparecimento é, principalmente, no antebraço, mas não é incomum a apresentação nos braços e mãos. O diagnóstico é, basicamente, clínico. Na presença das manifesta- ções listadas anteriormente, deve ser investigada na anamnese al- Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo 151 guma ligação do paciente com óleos e graxas, a relação do contato com essas substâncias e o surgimento da dermatose e a progressão das manifestações. Para a confirmação diagnóstica, pode ser reali- zada biopsia de alguma das lesões presentes. No resultado, pode-se encontrar hiperceratose infundibular, obstrução do óstio, atrofia da parede do folículo, infiltrado inflamatório, epiderme adjacente com acantose, hipergranulose e hiperceratose. A elaiconiose deve ser tratada o mais precocemente possível, assim como o afastamento do paciente de suas atividades laborativas. Além do afastamento dos óleos e graxas, devem ser usados ceratolícos e buchas vegetais durante do banho, auxiliando na desobstrução foli- cular. Não é incomum o uso de antibióticos sistêmicos e retinoides tópicos, mas o uso destes é controverso, tendo sucesso relativo. Uma medida importante é esclarecimento da importância da prevenção, como o uso de cremes de silicone, medidas de higiene como lavagem frequente das mãos e das roupas usadas no trabalho e o uso de equi- pamentos de proteção individual. REFERÊNCIAS ALCHORNE, A.O.A.; ALCHORNE, M. M. A; SILVA, M. M. Dermatoses ocupacionais. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, v.85, n.2, p.137- 147, abril de 2010.Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0365-05962010000200003&lng=en&nrm=iso. Acesso em 30 de março de 2019. ALCHORNE, A. O. A.; ALCHORNE, M. M. A. Dermatoses ocupacionais. In: LOPES, A. C. Diagnóstico e tratamento. Barueri: Manole, 2006. P. 543-549. ALIM, Salim Amed. Dermatoses ocupacionais: 2 ed. São Paulo: Ministério do trabalho e do emprego, p. 121-134, 2009. BARSANO, P.; BARBOSA, R. Segurança do trabalho guia prático e didático: 2 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2016. BATISTA, A. S. M. Impacto das doenças dermatológicas na qualidade de vida. 2017. Tese (Mestrado em Farmácia) – Instituto Politécnico de Coimbra, Coimbra. BELLUSCI, S. M. Doenças profissionais ou do trabalho. 12 ed. São Paulo: Senac, 1996. Medicina Ambulatorial VI 152 BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças Relacionadas ao Trabalho: Manual de procedimentos para os Serviços de Saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos: nº 114. Brasília/DF. 2001. GOUVEIA, C. C. Dermatite de contato e seu impacto no ambiente ocupacional – um relato de caso. Especialização em Medicina do Trabalho. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2016. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Dermatoses ocupacionais. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 92 p., 2006. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doenças da pele e do tecido subcutâneo relacionadas com o trabalho. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE (Org). Doenças relacionadas com o trabalho: diagnósticos e condutas – Manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília/DF. MIRANDA, FMD. et al. Dermatoses ocupacionais registradas em sistema de notificação na região sul do Brasil. Revista Brasileira Medicina do Trabalho, Curitiba, p. 442-450,2016. NASARRE, I. Q.; PASTUSHENKO, E. Patología dermatológica laboral. Principales cuadros clínicos. Ciência Forense Revista Aragonesa de Medicina Legal. Zaragoza, 2014. n. 11, p.145-166. SANTOS, M.; ALMEIDA, A. Profissionais a exercer em postos de abastecimento de combustíveis: principais fatores de risco e riscos laborais, doenças profissionais associadas e medidas de proteção. Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional, Gondomar, v. 4, p. 54-64, 2017. SVOBODA, C. P. G. Dermatoses ocupacionais: identificação de casos suspeitos através da análise de prontuários médicos do serviço de dermatologia de um hospital geral. (Especialização em Medicina do Trabalho). Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2012. Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento 153 Capítulo 13 Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento Alyne Iara Monteiro Carvalho1 Ana Carla Bicalho Santos ¹ Bárbara Cândida Alves Pereira de Arruda1 BárbaraGonçalves Flor ¹ Monique Gonçalves Flor2 INTRODUÇÃO A construção civil vem ganhando destaque como um dos maiores setores da economia do Brasil. Devido à sua ca-racterística, comumente vem sendo destacado os riscos ocupacionais dessa atividade a altas taxas de dermatoses de contato mas que ainda são subnotificadas. As principais substân- cias irritativas presentes nas áreas laborais de construção são cimen- to, ácido clorídrico, ácido fluorídrico, fibras de vidro, cromato, cobal- to, luvas de couro e adesivos a base de fenol e formaldeído. Dentre as dermatoses ocupacionais mais frequentes entre os trabalhadores que mantém contato com o cimento, as dermatites de contato são as mais encontradas a longo prazo. Um dos principais alérgenos nesse meio é o cimento que causa tanto a Dermatite Alérgica de Contato quanto a Dermatite de Contato por Irritação Primária. O cimento é um ligante hidráulico amplamente utilizado na execu- ção de obras de edificação. O principal cimento utilizado no Brasil 1 Acadêmicos do curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga-MG 2 Médica especialista em Medicina do Trabalho pela FUNORTE Medicina Ambulatorial VI 154 atualmente é o cimento Portland e em sua composição está presente Óxido de Cálcio (CaO), Sílica (SiO2), Alumina (Al2O3), Óxido férrico (Fe2O3), Anidrido sulfúrico (SO3), Óxido de magnésio (MgO), Óxido de potássio (K2O), Óxido de sódio (Na2O) e Cloro (Cl). Ele pode ser classificado tanto como poeira inerte ou como material irritante, ou seja, pode causar tanto problema respiratório quanto dermatite. Devido à ação alcalina do cimento, quando em contato com a pele, ele vai desenvolver uma dermatite de contato por irritação primária; quando entra em contato com os olhos pode gerar conjuntivite irri- tativa e ulceração na córnea. Já o principal problema relacionado à dermatite alérgica de contato é a presença de crómio hexavalente que causa uma reação alérgica sistêmica no paciente. A dermatite de contato é uma doença que causa reação eczantemáti- ca devido a uma resposta inflamatória da pele e pode ser dividida em alérgica e irritativa. A dermatite de contato alérgica é uma reação de hipersensibilidade retardada. O principal alérgeno da doença ocu- pacional por cimento é o crómio hexavalente. Durante a fabricação do cimento, a elevação da temperatura provoca uma conversão do crómio de trivalente, que é uma forma insolúvel e inerte, para a sua forma hexavalente, que é solúvel e com alta penetração na pele, o que causa as dermatoses. Além disso, o cobalto presente no cimento é considerado um agente cossensibilizante em relação ao crómio, au- mentando ainda mais as reações alérgicas. Quando adicionado a água, devido a sua composição de diversos óxidos, o cimento torna-se um agente abrasivo devido ao aumento do seu ph (>10), o que leva a uma dermatite de contato por irrita- ção primária. Devido ao efeito abrasivo que o cimento exerce, esses pacientes podem apresentar tanto vermelhidão (eritema), inchaço (edema), eczema, bolhas e fissuras quanto ulcerações e necrose de tecido em casos mais sérios. O cimento quando em contato com os olhos pode causar irritações conjuntivais e até mesmo lesões mais graves, levando à cegueira. Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento 155 Os pedreiros são os trabalhadores mais afetados por dermatite de cimento. Isso ocorre, porque a maioria dos trabalhadores são pou- co especializados, não possuem formação prévia e conhecimento do uso de equipamentos para a prevenção. Atualmente, as dermatites alérgicas são uma das principais causas de afastamento dos operários da área de construção civil. As mãos são os locais mais afetados pela dermatose, seguidas dos pés e antebraço. EPIDEMIOLOGIA Conforme o tipo de atividade laboral, diversas são as doenças que podem surgir em decorrência do trabalho. Tais doenças podem ser classificadas de acordo com sua relação com o exercício do trabalho: doenças em que o trabalho é a causa primária, a exemplo da asbesto- se ou silicose; doenças em que o trabalho é um fator de risco, como distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho; e doenças em que o trabalho é concausa de uma doença já pré-existente, por exem- plo distúrbios mentais em determinados grupos ocupacionais. Dentre os setores empregatícios no Brasil, a construção civil se des- taca. Entre março de 2017 e março de 2018, foram criados cerca de 1.300 postos de trabalho, segundo informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/DF). O setor da cons- trução civil recebe destaque, também, por ser o principal exercício empregatício gerador de acidentes no mercado de trabalho formal brasileiro. Ainda dentro dessa área de trabalho, as doenças ocupacionais mais predominantes são os transtornos musculoesqueléticos, perda audi- tiva, induzida por ruído, dermatites e transtornos pulmonares. Em um estudo realizado com uma amostragem de 1277 registros da Co- municação de Acidente de Trabalho, do Estado de São Paulo, entre outubro de 1978 e dezembro de 1982, foram identificados 40% do total dos casos correspondentes a dermatites ocupacionais. Medicina Ambulatorial VI 156 Estudos recentes estimam que, nos países industrializados, 60% das doenças ocupacionais correspondem a dermatoses sendo que, nos países do Ocidente, 90% das dermatoses ocupacionais correspon- dem às dermatites de contato. As dermatites de contato irritativa (DCI), por sua vez, são quatro vezes mais comuns que as dermatites de contato alérgica (DCA). Dentro da construção civil, cerca de 50% dos pedreiros apresentam DCAs, devido, principalmente, ao risco de contágio com metais contaminantes do cimento, como cromo hexa- valente e cobalto. Um estudo feito no Setor de Alergia e Fototerapia da Clínica de Der- matologia da Santa Casa de São Paulo, entre o período de janeiro de 2005 e dezembro de 2009, analisou a evolução de dermatoses presen- tes em 53 pedreiros. Desse grupo total, 94% dos pacientes apresenta- vam mais de quatro meses de história clínica das lesões cutâneas. O teste de sensibilidade ao cimento foi realizado por meio da exposição ao bicromato de potássio e ao cloreto de cobalto. Dentre esses testes, 34 pedreiros (64%) tiveram resultado positivo quanto à sensibiliza- ção da primeira substância e 19 pedreiros (35,8%), quanto à segunda. DERMATITE IRRITATIVA DE CONTATO O cimento possui uma ação alcalina que, em contato com a pele, gera uma abrasão do manto lipídico, levando a lesões secas fissura- das, ceratólise e exulceração. O aparecimento das lesões vai depender de condições preexistentes do trabalhador, como dermatose atópica, psoríase e xerose. Já a gravidade das lesões dependerá da toxicidade, do tempo de contato e da concentração do agente químico. Quando as lesões ocorrem nas regiões distais dos dedos pode ocor- rer paroníquia e onicólise. Quando houver queda de cimento, calda de cimento ou de concreto dentro da bota ou calçado do trabalhador, vai produzir inicialmente intenso eritema, evoluindo para exulcera- ção, ulceração e necrose da área atingida. Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento 157 O quadro clínico inicial das dermatites irritativas tem uma grande variabilidade. A grande maioria inicia com quadro leve a moderado de eritema, descamação, fissuras, eczentematização, edema e vesícu- las, evoluindo, após alguns dias, em casos mais graves, para lesões exulceradas, ulceradas ou necrosadas. DERMATITE ALÉRGICA DE CONTATO As dermatites alérgicas de contato são provocadas por substâncias alérgenas como o cromo e o cobalto presentes na composição do ci- mento. Essas substâncias geram uma hipersensibilidade retardada, mediada por linfócitos T específicos. Uma vez sensibilizado, o pa- ciente pode apresentar de 12 a 48 horas prurido, pápulas, vesículas e exsudação e, nas formas de exposição crônica, descamação, liqueni- ficação e/ou fissuração. As lesões iniciais são parecidas com as lesões da dermatite irritati- va, com edema,eritema e vesículas. A diferença é que, na dermatite alérgica, o prurido sempre estará presente. Devido ao ato do paciente coçar, ocorrerá o espessamento dessas áreas. Posteriormente ao qua- dro inicial, poderá haver a formação de lesões exsudativas e desca- mativas nas áreas de contato. DIAGNÓSTICO Para uma propedêutica adequada, é necessário que o profissional da saúde realize o correto diagnóstico da dermatose, por meio da história clínica do paciente, da realização de um exame físico deta- lhado e, caso necessário, através da complementação com exames laboratoriais. No que se refere às dermatoses ocupacionais, o diagnóstico pode ser feito de maneira relativamente fácil, à exceção de alguns casos. Al- guns pontos devem ser impreterivelmente questionados durante a avaliação do paciente com dermatose ocupacional, a fim de auxiliar Medicina Ambulatorial VI 158 na elucidação do quadro clínico. Deve-se investigar os aspectos que se relacionam a possível compatibilidade do quadro clínico do pa- ciente com uma dermatite de contato, presença de agentes irritantes ou alérgenos no ambiente de trabalho, equivalência da localização das lesões com os locais mais frequentemente expostos às substân- cias irritativas, melhora ou piora da lesão devido ao respectivo afas- tamento ou retorno para o ambiente laboral e possibilidade de exclu- são de exposição não-ocupacional como fator causal da dermatose. Após a realização de uma anamnese criteriosa, é necessário fazer um exame físico detalhado. Essa parte da avaliação clínica do paciente deve levar em conta a localização, cor, forma, simetria e a extensão da lesão cutânea, além da existência de impotência da área afetada. Conforme se altera o grau de exposição ao agente alérgeno e de sen- sibilidade da pele à tal substância, as lesões podem, em sua forma mais leve, surgir como exantemas ou, em sua forma mais grave, po- dem se manifestar como “queimaduras”, caracterizando-se pela pre- sença de bolhas, necrose e ulceração. Testes laboratoriais também podem auxiliar no diagnóstico de dermatoses ocupacionais, entretanto deve-se dar mais impor- tância à realização de uma boa anamnese e um detalhado exa- me físico. O principal exame laboratorial que permite diferenciar uma dermatite de contato irritativa de uma dermatite de conta- to alérgena é o teste de contato (TC) ou teste epicutâneo (patch test). Esse exame é realizado a partir da colocação de substâncias, previamente padronizadas, no dorso do paciente, com avaliação da reação local após 48 e 96 horas. No caso do cimento, as subs- tâncias alérgenas utilizadas no teste são o bicromato de potássio, o cromo hexavalente e o cobalto. O objetivo do teste epicutâneo é confirmar o diagnóstico clínico e conhecer a prevalência dos agentes sensibilizantes. Entretanto, para que a positividade do teste tenha relevância e possa caracterizar Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento 159 como dermatose ocupacional, é preciso que haja relação causal entre a substância encontrada no exame e a atividade laboral exercida pre- viamente ou atualmente pelo paciente. TRATAMENTO O tratamento da dermatose causada pelo cimento vai variar de acor- do com o tipo da lesão e a possibilidade de uma infecção secundária. Além disso, para um sucesso efetivo, o paciente deverá ter um acom- panhamento médico regular e um tratamento específico. Constatada a dermatose, o primeiro ato a ser dado deve ser a elimi- nação do contato com o cimento. Caso não seja possível, deve-se re- correr ao uso de equipamentos de proteção individual. É importante uma boa higienização do local afetado, utilizando água corrente e sabonete neutro, com o intuito de remover todo aquele agente irri- tante ou alérgico da pele. A primeira linha para o tratamento das dermatoses é manter a pele hidratada, uma vez que mantém a integridade da barreira cutânea. Pode-se encontrar hidratantes nas formas de loção, creme ou poma- da. As loções apresentam uma grande quantidade de água, permitin- do uma maior tolerabilidade e evaporação. Os cremes possuem uma textura agradável, têm a forma de emulsão bifásica de água em óleo ou óleo em água. Já as pomadas apresentam uma textura gordurosa e menos conservantes em sua formulação, o que a deixa com uma característica menos irritante, sendo positiva, principalmente, para as peles lesadas. Os hidratantes não podem conter fragrâncias, conservantes e subs- tâncias irritativas, para evitar as irritações. O seu uso de forma regu- lar, proporciona uma diminuição das crises agudas, além de melhorar o ressecamento e o prurido. Para ter esses benefícios, é necessário hi- dratar a pele menos duas vezes ao dia. O tratamento sintomático para reduzir o processo inflamatório local se baseia na utilização de cremes Medicina Ambulatorial VI 160 ou pomadas contendo corticosteroides, como o Dipropionato de be- tametasona. Em áreas de pele fina, aplicam-se corticoides menos po- tentes, sendo o contrário para as áreas espessas. A maioria dos pacien- tes, utilizam esse medicamento duas vezes ao dia por uma semana. Pode-se fazer uso adicional de imunomoduladores tópicos para a substituição dos corticosteroides tópicos, caso estes estejam sendo utilizados por um tempo prolongado. O uso prolongado dos corti- coides tópicos pode ocasionar o aumento da absorção percutânea, com potencial de provocar efeitos colaterais sistêmicos. Caso a lesão esteja com crostas, é necessário removê-la com óleos ou vaselinas antes da aplicação dos medicamentos. Nos casos de maior gravidade e/ou prurido intenso, pode ser ne- cessário o uso de corticosteroides e antialérgicos orais. Na presença de uma infecção secundária, utilizam-se antibióticos sistêmicos para conter o processo infeccioso. Na fase de resolução, quando começa a ocorrer melhora do quadro, a pele começa a secar e consequente- mente descamar. Nesse estágio, deve-se utilizar emolientes e hidra- tantes para manter a pele úmida, auxiliando na reparação e proteção da pele. Em casos de persistência dos sintomas após o tratamento, o médico deverá ser consultado para novo plano terapêutico. PREVENÇÃO As doenças ocupacionais acarretam incapacidade de exercer a profis- são, desconforto, diminuição da produção e rendimento do trabalha- dor e, consequentemente, da empresa, aumento dos custos médicos e previdenciários. Por isso, as empresas devem adotar medidas coletivas para proteção, como exames médicos periódicos e orientações ao tra- balhador a fim de se evitar recidivas e mais casos de doenças ocupacio- nais. A prevenção avalia o ambiente de trabalho, reconhece os riscos potenciais e reais para o trabalhador de acordo com a atividade do trabalhador e propõe medidas que neutralizem esses riscos. Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento 161 Em contato com a pele, o cimento é extremamente irritante, devido às suas características alcalinas, abrasivas e higroscópicas. Sendo assim, esse deve ser manuseado com cuidados de higiene e proteção indivi- dual. Trabalhadores expostos ao cimento devem receber orientações para nunca trabalharem descalços, com sandálias de dedos, bermudas. Roupas sujas com produtos à base de cimento devem ser trocadas logo que possível. Se por ventura o produto adentrar as botas e luvas, esses dispositivos devem ser retirados e lavados rapidamente. É crucial que mãos e pés sejam lavados adequadamente após a conclusão de qual- quer atividade, com o objetivo de remover restos de cimento mantidos nas unhas ou pele. Em casos de escoriações ou lesões no trabalho, tor- na-se fundamental procurar imediatamente o socorro médico, bem como lavar abundantemente o local com sabão e água corrente, além de prevenir o contato com o irritante até haver a melhora do quadro. REFERÊNCIAS ALCHORNE, A.O.A.; ALCHORNE, M.M.A.; SILVA, M.M. Dermatoses ocupacionais. Anais brasileiros de dermatologia, São Paulo, v. 85, n. 2, p. 137-147, jan. 2010. ALI, Salim Amed. Dermatoses ocupacionais. São Paulo: FUNDACENTRO: FUNDANESP, 2001. 224p. ALMEIDA, C.C.; PERLIN, H.S.S.; RUPPENTHAL, J.E. Uso do EPI e sua relação com as dermatoses ocupacionais na indústria da construção civil: um estado de caso. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Ouro Preto, p. 1-6, 2000. AMERICAN ACADEMY OF DERMATOLOGY. Contact dermatitis: diagnosis and treatment. Disponível em: <https://www.aad.org/public/diseases/eczema/ contact-dermatitis#treatment>. Acesso em: 20 abr. 2019. BHUIYAN, M.S.I. et al. Pattern of occupational skin diseases among construction workers in Dhaka city. Bangladesh Medical Journal, Bangladesh, v.44, n.1, p. 11-15, jan. 2015. CARVALHO, V.O. et al. Guia prático de atualização em dermatite atópica – Parte II: abordagem terapêutica. Posicionamento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia e da sociedade Brasileira de Pediatria. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia. [S.L.]. v.1, n.2, p. 157-182, 2017. Medicina Ambulatorial VI 162 FILHO, V.W. Perfil epidemiológico dos trabalhadores. Revista brasileira de medicina do trabalho. São Paulo- SP. v. 2, n. 2, p. 103-117, 2004. Informe econômico. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/ DF). Brasília-DF. Ano II. Boletim n51, março de 2018. LAZZARINI, R. et al. Dermatite alérgica de contato entre pedreiros, num serviço não especializado em dermatoses ocupacionais. Anais brasileiros de dermatologia, São Paulo, v. 87, n. 4, p. 567-571, jul. 2012. ROSMANINHO, I.; MOREIRA, A.; SILVA, J.P.M. Dermatite de contacto: revisão da literatura. Revista Portuguesa de Imunoalergologia, Lisboa, v. 24, n. 4, p. 197-209, dez. 2016. SCHEIBLER, M. Doenças ocupacionais: abordagem sobre o cenário dos profissionais da construção civil no brasil. Artigo (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Porto Alegre, RS, 2017. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Dermatite de contato. Disponível em: http://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/ dermatite-de-contato/2/#o-que-e. Acesso em: 20 abr. 2019. WONG, C. C. et al. Occupational allergic contact dermatitis to chromium from cement: estimating the size of the problem in australia. Australasian journal of dermatology, Carlton, v. 56, n.11, p. 290-293, mar./jun. 2014. Discromias Ocupacionais 163 Capítulo 14 Discromias Ocupacionais Ademir Dias da Silva Júnior1 Fernanda Machado Diel1 Josué Gomes de Vasconcellos Neto1 Marcelo de Souza Fragoso Sant’Ana1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO O termo discromia é utilizado para caracterizar todas as al-terações de coloração da pele, anexos e mucosas, sejam elas por lesões diretas ou consequências de clínica mais abrangente. Classifica-se, principalmente, como acromia, quando a coloração não existe; hipocromia, quando aparecem lesões hipopigmenta- das e hipercromias, situações em que a lesão é hiperpigmenta- da. Quanto à extensão, podem ser difusas ou localizadas. Pode-se também classificar quanto à origem, sendo congênitas, hereditá- rias ou adquiridas. As discromias ocupacionais são aquelas adquiridas em exposição a agentes diretos ou indiretos no ambiente de trabalho. Uma tarefa, muitas 1 Acadêmicos do curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/Imes - Univaço, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 164 vezes, difícil para o médico é diferenciar as lesões idiopáticas, causadas por contato doméstico ou social, das verdadeiramente ocupacionais. O diagnóstico, de maneira geral, depende de uma avaliação cuida- dosa do paciente ocupacional e certo conhecimento de sua função. Uma história aprofundada com foco nas exposições, duração da le- são e sintomas associados pode auxiliar o profissional a conduzir um exame mais preciso, com hipóteses previamente construídas. Porém a chave está no exame físico minucioso, destacando características lesionais, extensão, localização, uma vez que podem ser as únicas in- formações concretas obtidas na consulta e podem dispensar a reali- zação de propedêutica complementar em diversas situações. VITILIGO OCUPACIONAL Existe uma diversidade de agentes causadores de alterações da cor na pele, sendo eles físicos (queimaduras térmicas, trauma repetido sobre a região e radiações ionizantes) e químicos (descritos no quadro 1). Quadro 1 Fenóis, catecóis e outros agentes causadores de vitiligo ocupacional Amilfenol para terciário, 4 terc- amilfenol Desinfetante com ação bactericida Butifenol para terciário Adesivos, colas, resinas, CHIP’s Buticatecol para terciário Antioxidante, fotocópia, poliestireno, poliéster Cresóis Resinas, pesticidas, desinfetantes 2 fenilfenol Corantes, resinas, germicidas, fungicidas 2 hidroxifenileter- 4’4’triclorodifenileter Adesivos, polímeros 2 benzil 4 clorofenol Inseticidas, pesticidas, germicidas Monobenzileter de hidroquinona Despigmentante cutâneo Fonte: Adaptado de BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego, 2009. Discromias Ocupacionais 165 O vitiligo idiopático ocorre em cerca de 1% da população geral, sen- do que, em 30% desses casos, há ocorrência familiar. Entretanto o vitiligo ocupacional é relativamente mais raro, podendo ocorrer em grupos de trabalhadores expostos. Principais diferenças entre o viti- ligo idiopático e ocupacional descritas no quadro 2. Quadro 2 Principais diferenças entre vitiligo ocupacional e idiopático VITILIGO OCUPACIONAL VITILIGO NÃO-OCUPACIONAL Surge nas áreas de contato com o agente Surgem fora das áreas de contato com os agentes suspeitos Ausência de halo hipercrômico Halo hipercrômico Ausência de acromia em lesões iniciais Acromia em lesões iniciais Evolução para cura mais frequente Evolução rara para cura após os 40 anos de idade Testes alérgicos positivos Testes alérgicos sem alterações Infiltrado linfocitário na derme Sem infiltrados linfocitários Presença de queratinócitos vacuolizados Sem vacuolização de queratinócitos Aumento claro das células de Langerhans Aumento discutível das células de Langerhans Fonte: Adaptado de BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego, 2009. O quadro clínico manifesta-se com as seguintes formas distintas: A) Eritema pruriginoso na área de contato com o agente químico, sem eczema. Após alguns dias, o eritema cessa e inicia o apareci- mento de áreas homocrômicas no lugar. B) Eritema pruriginoso com eczema na área de contato com o agen- te químico. No processo evolutivo dos eczemas há o aparecimen- to de lesões hipocrômicas. Em relação ao diagnóstico, deve-se notar, na história do paciente, a história de exposição a agentes e fatores produtores de leucodermia. Medicina Ambulatorial VI 166 Além disso, é importante observar a atividade desenvolvida pelo tra- balhador, bem como a ocorrência em outros trabalhadores com sin- tomas parecidos na mesma seção ou local de trabalho. Caso o paciente apresente lesões hipocrômicas (figura 1) em região de contato com substâncias químicas citadas anteriormente, o diag- nóstico de vitiligo ocupacional deve ser considerado. Figura 1 - Vitiligo Ocupacional. Disponível em: imunologia 96.wordpress.com/category/doença-da-pele-imunomediada. Acesso em 27/04/2019. O tratamento ocorre da seguinte maneira: A) Retirada do contato do paciente com o agente suspeito; B) Uso do fator protetor solar – FPS 30 na área acometida; C) Aplicação de corticoide tópico nas lesões duas vezes ao dia por, no máximo, dois meses; D) Caso a repigmentação não ocorra (tomando os cuidados supra- citados), após alguns meses, considerar tratamento cirúrgico com enxerto de pele sã do mesmo paciente (pequenas áreas). Discromias Ocupacionais 167 HIPERCROMIA/MELANODERMIA OCUPACIONALA melanodermia ocupacional pode ser provocada tanto por agentes fí- sicos, quanto por agentes químicos. Dentre os agentes físicos, destacam- -se as seguintes situações: fricção, trauma de repetição, queimaduras e luz ultravioleta (natural e artificial). Os agentes químicos causadores de hipercromia são os hidrocarbonetos derivados do petróleo, tais como al- catrão, antraceno, hulha, asfalto, betume, parafina, piche, óleos de corte, dentre outros. Além disso, derivados de arsênio e poeira de determina- das madeiras, também, podem provocar melanose. A substância atua sobre a camada basal, estimulando o sistema enzimático. O quadro clínico de um paciente exposto a esses fatores se dá por le- sões melanodérmicas localizadas, principalmente, nas áreas expostas à luz solar. Desse modo, as áreas mais acometidas são face e pescoço e a menos acometida é o tronco. Também pode ocorrer lesões pru- riginosas, eritematosas e descamativas no couro cabeludo. Figura 2. Figura 2 - Melanodermia na face. Disponível em: alessandratoledo.com.br/alteracao-na-cor-da-pele-discromias. Acesso em: 8/04/2019. Medicina Ambulatorial VI 168 É importante realizar diagnóstico diferencial com doenças sistêmi- cas endócrino-metabólicas, infecciosas e melanoma, em casos mais localizados. O tratamento é feito com a retirada do fator causal da hipercromia, e com orientação ao trabalhador para que adote os re- cursos técnicos e gerenciais adequados para controle de fatores de risco. Em alguns casos, pode haver hiperpigmentação permanente. HIPERCROMIAS POR AZOCORANTES Azocorantes são moléculas orgânicas que são utilizados, principal- mente, na indústria têxtil e alimentícia, para conferir cor artificial aos produtos. Um estudo realizado por Ancona-Alayón et al (1976) mostrou que trabalhadores de uma indústria têxtil foram expostos a um novo processo de tingimento, os corantes azólicos. Após essa introdução, alguns trabalhadores desenvolveram um processo hiper- crômico pruriginoso. Figura 3 - Hipercromia por azocorante. Reinehr, C.P.H.; Boza, J.C.; Horn, R. 2015. Discromias Ocupacionais 169 O quadro clínico foi descrito como prurido e hipercromia em mãos e pés de trabalhadores de uma indústria de azocorantes. Figura 3. Também já foram relatados os mesmos sintomas em face, pescoço e antebraços de trabalhadores expostos aos mesmos fatores, e as lesões variavam de leves até severas. Para tratamento, é imprescindível o afastamento do contato com a substância. A hipercromia melhora em, aproximadamente, dois me- ses sem contato com corantes azólicos, mas, para completo desapare- cimento da lesão hipercrômica, são necessários dez meses. DISCROMIA POR CONTATO COM BORRACHA Dermatite de contato por borracha, seja natural, advinda princi- palmente do látex ou sintéticas, sintetizadas a partir de compostos petrolíferos, é uma dermatose altamente comum e, muitas vezes, diagnosticada apenas a partir do contato ocupacional. O estudo de Fernandes (2015) exemplifica essa alta prevalência. Foram analisa- dos profissionais da saúde que entram, diariamente, em contato com látex. Desses, 14,6% apresentavam lesões sintomáticas à substância. Diversas substâncias usadas na fabricação da borracha, também, são sensibilizantes, dentre elas estão agentes aceleradores como os do grupo Tiuram, Carbamato e Aminas, antioxidantes como os deriva- dos da parafenilenodiamina, plastificantes, corantes e outros. Os sintomas incluem, principalmente, manifestações atópicas locais, como prurido, eritema, descamação e alterações discrômicas. Lesões hipocoradas ou hipercoradas podem surgir em pacientes hipersen- síveis que tiveram contato com objetos de borracha, comumente os EPI’s. Acredita-se que essas situações ocorram por processos pós-in- flamatórios. A produção de melanina pode ser hiperestimulada pelos agentes quimiotáticos e vasodilatação da flogose, dando origem às lesões Medicina Ambulatorial VI 170 hipercrômicas, mais comuns. À microscopia observa-se infiltrado leucocitário e melanócitos. Ou pode ser hipoestimulada, principal- mente, quando o processo inflamatório dá origem a tecido cicatricial ou, ainda, quando a restauração tecidual se compõe de células não melanocíticas, dando origem às lesões hipocrômicas, mais raras e muitas vezes associadas ao vitiligo ocupacional. Figuras 4 e 5. Figuras 4 e 5 - (Dir): Dermatite aguda por contato com borracha. Alchorne. (Esq): Hipercromia por contato com máscara de borracha. A.O.A.; Alchorne, M.M.A.; Silva, M.M. 2010. BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego, 2009. O diagnóstico é fácil e consiste na identificação das lesões que, nor- malmente, obedecem ao formato do objeto desencadeante. Um exemplo é hiperpigmentação nas mãos que se limitam à altura da luva, ou lesões perilabiais que simulam uma máscara. Na história pode haver queixas de prurido durante ou após o contato, hiperemia e descamação. Além disso, podem ser realizados testes cutâneos e dosagens deIgE’s específicos de cada uma das substâncias suspeitas, a fim de se firmar a hipersensibilidade. O tratamento inicial consiste em afastar a exposição, seja com mu- dança de função, nos casos viáveis, troca do material, como utiliza- ção de luvas vinílicas na área da saúde ou uso de EPI’s adicionais que eliminem o contato direto com a pele, como luvas de tecido embaixo Discromias Ocupacionais 171 das de borracha. Quanto à estética, as lesões podem regredir, apenas, com o afastamento do contato e tempo de regeneração natural do tecido epitelial, ou podem ser de difícil resolução. O dermatologis- ta pode indicar peeling a laser ou químico, drogas estimuladoras de células melanocíticas (no caso das lesões hipocrômicas), drogas imu- nocontroladoras locais, dentre outras. DISCROMIAS NA INDÚSTRIA METALÚRGICA A indústria metalúrgica depende de muitos trabalhadores que estão em contato constante com diversas substâncias corrosivas, tóxicas, imunogênicas e cancerígenas, Além disso, esses trabalhadores, tam- bém, têm contato direto com objetos e maquinários em altas tempe- raturas, cortantes e abrasivos, sendo comuns as queixas de dermato- ses na consulta com o médico de trabalho. Assim como na exposição à borracha, as lesões discrômicas no tra- balhador metalúrgico estão, normalmente, associadas a processos pós inflamatórios, decorrentes de diferentes tipos de agressões. As principais substâncias envolvidas nesse processo são os óleos de corte. São substâncias empregadas na usinagem e acabamento dos produtos, aplicadas para redução de temperatura, lubrificação e pro- teção antioxidante, além de injeção pressurizada a fim de realizar o corte em si. Os compostos são de vários tipos: minerais (óleo mine- ral), solúveis, sintéticos e semi-sintéticos (óleos minerais com aditi- vos da indústria petrolífera). Uma das principais substâncias químicas causadora da irritação é o N-butil-1,2Benzotiazolin-3-um. As hipercromias, nessa indústria, são menos comuns e podem ocor- rer em pacientes após contato com óleos minerais, ou em alterações cicatriciais de cortes e queimaduras, principalmente, em indivíduos negros. Elas ocorrem por contato com fenóis presentes nos óleos de Medicina Ambulatorial VI 172 corte. O diagnóstico consiste na identificação das lesões e história de contato com as substâncias ou agressões ao tecido. Figura 6 - Dermatite por contato com óleos de corte. Alchorne, A.O.A.; Alchorne, M.M.A.; Silva, M.M. 2010. O tratamento das hipercromias se realiza, impedindo o contato di- reto com a substância causadora e com o emprego de EPI’s eficazes. Além disso, a hidratação adequada da pele após a jornada de traba- lho pode amenizar o efeito discrômico. As lesões persistentes podem ser acompanhadas pelo dermatologista. DISCROMIAS UNGUEAIS OCUPACIONAIS As discromias ungueais ocupacionais são alterações na colora- ção das unhas, causadas por desordens endógenas e/ou exógenas, como a exposição a metais e agentes químicos, como se pode ver no quadro 3. Discromias Ocupacionais173 Quadro 3 Relação entre cor das unhas e agente causal COR DAS UNHAS AGENTES Branca Arsênio, sal, microtraumas, pesticidas Amarelada Resinas, agrotóxicos, cromo, corantes, formoldeído, ácidonítrico Marrom/preta Tabaco, permaganato de potássio, iodo, graxas, químicos de revelação fotográfica Azul Azul de metileno, sulfatos, pigmentos, químicos de revelaçãofotográfica Vermelha Mercúrio, cromo Verde Agentes infecciosos (Pseudomonas) Fonte: Adaptado de Baran 2012 e Guzmán et al. 2012 DISCROMIAS UNGUEAIS ENDÓGENAS A etiologia das discromias ungueais endógenas revela que suas cau- sas podem ser de origem ocupacional ou não. Esse tipo de discromia é caracterizado, predominantemente, por exposição a metais, como por exemplo, arsênio e tálio, que levam ao aspecto esbranquiçado das unhas. Outras substâncias também provocam outras anomalias, como a cor azulada, como sais de prata, além de soluções de cianeto para o processo de galvanoplastia. Figura 7 - Discromia ungueal por arsênio. Disponível em: deolhonaanalise.blogspot.com/2011/11/identificacao-do-arsenio-em- materiais.html. Acesso em 23/04/2019. Medicina Ambulatorial VI 174 DISCROMIAS UNGUEAIS EXÓGENAS Os principais fatores desencadeantes para as discromias ungueais exógenas são os agentes químicos. A manipulação de substâncias químicas, como solventes, resinas, ácidos, álcalis, dentre outras, com potencial irritativo ou sensibilizante, pode ocasionar danos transi- tórios e, em alguns casos, irreversíveis nas lâminas ungueais. Com essa exposição, ocorre a fragilidade da constituição da unha devido à desidratação e alteração da coesão das proteínas. Os profissionais mais afetados por esse quadro são os engenheiros, operadores de máquinas, trabalhadores, envolvidos na extração de sal e os que processam castanha-de-caju. No setor ocupacional, os maiores causadores de onicopatias são os agentes físicos. Dentre eles, os mais importantes são traumatismos, radiações ionizantes, atrito, pressão, exposição ao calor e frio, que comprometem a pele e seus anexos. Figura 8 - Discromia ungueal exógena. Disponível em: www.medigraphic.com/pdfs/cosmetica/dcm-2009/dcm094c.pdf. Acesso em 20/04/2019. Discromias Ocupacionais 175 O diagnóstico consiste na identificação das alterações ungueais e le- vantamento da história de traumas ou exposições a diferentes subs- tâncias. A propedêutica pode ser evoluída com testes cutâneos de sensibilização, biópsia das lesões e dosagens de IgE’s específicos na suspeita de atopias. O objetivo do tratamento é afastar o fator causal da discromia e re- tornar a unha ao aspecto habitual. O impedimento de contato deve ser realizado com orientação clara e uso de EPI’s específicos. Se viá- vel, a troca de função também é uma opção. OUTROS AGENTES CAUSADORES DE DISCROMIAS Discromias podem, ainda, ser causadas por diversas outras substân- cias e exposições relacionadas a diferentes ofícios. Trabalhadores, frequentemente, expostos ao sol podem apresentar alterações irre- gulares e difusas de pigmentação, além de outras lesões cutâneas em variados níveis de gravidade. Tais lesões podem variar de descama- ção após queimadura de 1º grau ao melanoma. A exposição contínua ao calor radiante, como ocorre em indivíduos que trabalham com fornalhas ou fornos, também pode causar mudanças de coloração na pele, além de alterações vasculares. Com o risco constante de quei- maduras, também, são expostos a possibilidade de hipopigmentação permanente após a resolução cicatricial. Além disso, exposição a compostos organoclorados, também, podem ocasionar achados hipercrômicos. Essas substâncias têm seu uso relacionado a ambientes de indústrias agrícolas ou em guerras, como é o caso do Agente Laranja, utilizado amplamente no Vietnã como desfolhante. Na abordagem das discromias e le- vantamento de diagnósticos diferenciais, também, deve ser consi- derado o uso de determinados medicamentos, os quais, também, podem ser responsáveis por induzir as alterações pigmentares. Dentre eles, destacam-se as hidroquinonas, alguns contraceptivos Medicina Ambulatorial VI 176 orais, a Zidovudina, hidroxiureia, metotrexate, ciclofosfamida e alguns agentes antimaláricos. REFERÊNCIAS ALCHORNE, A.O.; ALCHORNE, M.M.; SILVA, M.M. Dermatoses ocupacionais. Anais Brasileiros de Dermatologia, São Paulo, v. 85, n. 2, p. 137-145, 2010. Fap. UNIFESP. ALFONSO, J.H. et al. Minimum standards on prevention, diagnosis and treatment of occupational and work-related skin diseases in Europe - position paper of the COST Action Stan Derm (TD 1206). Journal Of The European Academy Of Dermatology And Venereology, [s.l.], v. 31, p.31-43, 2017. Wiley. ALI, S.A. Ministério do Trabalho e Emprego, Dermatoses Ocupacionais. 2. ed. São Paulo: Fundacentro, 2009. ANCONA-ALAYÓN, A. et al. Occupational pigmented contact dermatitis from Naphthol AS. Contact Dermatitis, [s.l.], v. 2, n. 3, p.129-134, jun. 1976. Wiley. AZULAY, D.R.; AZULAY-ABULAFIA, L. Azulay Dermatologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. BARAN, R. Occupational nail disdorders. In: KANERVA, L.; WAHLBERG, J.E.; ELSNER, P.; MAIBACH, H.I. Handbook of Occupational Dermatology. Springer, 2012, p. 255-264. London. BAUER, A.; SCHUBERT, S.; GEIER, J.; MAHLER, V. Typ-IV-Kontaktallergien in Nahrungsmittelberufen: EineaktuelleÜbersicht. Der Hautarzt, [s.I], v. 69, n. 6, p.443-448, 2018. Springer. BELLUSCI, S.M. Doenças profissionais ou do trabalho. 12. ed. São Paulo: Senac, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Dermatoses Ocupacionais. Brasília, 2006. CREPY, M.; NOSBAUM, A.; BENSEFA‐COLAS, L. Blocking type 2 inflammation by dupilumab does not control classic (type 1‐driven) allergic contact dermatitis in chronic hand eczema. Contact Dermatitis, [s.l.], p. 1-3, 2019. Wiley. DAHLIN, J.; ISAKSSON, M. Occupational contact dermatitis caused by. N-butyl- 1,2-benzisothiazolin-3-one in a cutting fluid. Contact Dermatitis, [s.l.], v. 73, n. 1, p.60-62, 2015. Wiley. DAS, S.; KOUROSH, A. S. PigmentChanges and DrugReactions. In: HALL, J.C.; HALL, B.J. CutaneousDrugEruptions: Diagnosis, Histopathology and Therapy, Nebraska: Springer 2015, p. 87-106. Discromias Ocupacionais 177 GARCIA-GARCIA, S. C. et al. Exogenous nail pigmentation secondary to pecan nuts (Carya illinoinensis). Journal Of The American Academy Of Dermatology, [s.I], v. 73, n. 4, p.139-140, 2015. Elsevier BV. GOUVEIA, C.C. Dermatite de contato e seu impacto no ambiente ocupacional – Um relato de caso. 2016. Dissertação (Especialização em Medicina do Trabalho) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba. GUZMÁN VERA, C.K.; SANTOS, M.K.B; BARATA, A.R.R.; GÓMEZ, L.C.S. Afectación Ungueal de Origen Ocupacional. Medicina y Securidad del Trabajo, [s.I], v. 58, n. 229, p. 321-326, 2012. Instituto de Salud Carlos III. HARRIS, J. E. Chemical-Induced Vitiligo. Dermatologic Clinics, [s.l.], v. 35, n. 2, p.151-161, 2017. Elsevier BV. HELTOFT, K. N.; SLAGOR, R. M.; AGNER, T.; BONDE, J. P. Metal arcwelding and the risk of skin cancer. International Archives Of Occupational And Environmental Health, [s.I], v. 90, n. 8, p.873-881, 2017. Springer Nature. JU, H. J. et al. Contact vitiligo induced by rubber ear loops from a disposable sanitary mask. European Journal of Dermatology, [s.I], p. 690-691, v. 28, n. 5, 2018. Wiley. KANG, S. et al. Fitzpatrick’s Dermatology. 9. ed. McGraw-Hill Education, 2019. Nova Iorque. KOLLER, M. F.; PLETSCHER, C.; SCHOLZ, S. M.; SCHNEUWLY, P. Metal working fluid exposure and diseases in Switzerland. International Journal Of Occupational And Environmental Health, [s.I], v. 22, n. 3, p.193-200, 2016. Informa UK. LEVY, B.S.; WEGMAN, D.H. Occupational Health – Recognizing and PreventingWork-RelatedDisease. 4. ed. New York: Brown and Co, 2000. MEKONNEN, T. H.; YENEALEM, D. G.; TOLOSA, B. M. Self-report occupational- related contact dermatitis: prevalence and risk factors among healthcareworkers in Gondartown, Northwest Ethiopia, 2018—a cross-sectional study. Environmental Health And Preventive Medicine, [s.I], v. 24, n. 1, p.1-9, 2019. Springer Nature. MERGET, R. et al. Medical surveillance and long-term prognosis of occupational allergy due to platinum salts. International Archives Of Occupational And Environmental Health, [s.I], v. 90, n. 1, p.73-81, 2016. Springer Nature. MONTGOMERY, R.; STOCKS, S. J.; WILKINSON, S. M. Contact allergy resulting from the use of acrylate nails is increasing in both users and those who are occupationally exposed. Contact Dermatitis, [s.I], v. 74, n. 2, p.120-122, 2016. Wiley. PATTERSON, A.T. et al. Skin diseases associated with Agent Orange and other organochlorine exposures. Journal of The American Academy of Dermatology, [s.l.], v. 74, n.1, p. 143-170, 2016. Elsevier BV. Medicina Ambulatorial VI 178 PESTANA, C. et al. Principais Causas de Dermatite de Contacto Alérgica Ocupacional: Um Estudo de Três Anos no Centro de Portugal. Acta Médica Portuguesa, [s.I], v. 29, n. 7-8, p.449-455, 2016. Ordem dos Médicos. REINEHR, C.P.H.; BOZA, J.C.; HORN, R. Peeling de ácido tioglicólico como terapêutica para hipercromia pós-inflamatória. Surgical and Cosmetic Dermatology, Porto Alegre, v. 7, n. 4, p. 350-352, 2015. SBD. SHEMER, A. et al. Increased Risk of Tinea Pedis and Onychomycosis Among Swimming Pool Employees in Netanya Area, Israel. Mycopathologia, [s.I], v. 181, n. 11-12, p.851-856, 2016. Springer Nature. SILVA, P.F.; SENA, C.F.A. A importância do uso de protetor solar na prevenção de alterações dermatológicas em trabalhadores sob fotoexposição excessiva. Revista Brasileira de Ciências da Vida, Sete Lagoas, v. 5, n. 1, 2017. Faculdade Ciências da Vida. VRIJMAN, C. et al. T‐cell responses against 4‐tert‐butylphenol‐ exposedpigmentedcells in a patientwithoccupational vitiligo. BritishJournal Of Dermatology, [s.l.], p.1-2, 2019. Wiley. WALKER, J.; BARAN, R.; VÉLEZ, N.; JELLINEK, N. Koilonychia: an update on pathophysiology, differential diagnosis and clinical relevance. Journal Of The European Academy Of Dermatology And Venereology, [s.I], p.1-7, 2016. Wiley. Doenças Ocupacionais I 179 Capítulo 15 Doenças Ocupacionais I Astramiro Ferreira Pinto Neto1 Izabela Anicio Benedicto¹ Luiz Victor Lima Santos1 Luma Lacerda de Moura¹ Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO As doenças ocupacionais são aquelas desenvolvidas, adqui-ridas ou desencadeadas pelo exercício da atividade ou em função das condições de trabalho. Um profissional que de-senvolve uma doença ocupacional tem, legalmente, os mes- mos direitos que o envolvido em acidente de trabalho. Essas doenças são epidemiologicamente subdiagnosticadas e subnotificadas e, por isso, não se sabe ao certo o número desses acontecimentos anualmente no país. Entretanto, sabe-se que é mais rara em negros e mais comum no gênero masculino do que no feminino (79% : 21%). A dermatose ocupacional é uma das principais doenças profissionais, sendo a der- matite de contato responsável por cerca de 80% dos casos. Tais doenças podem ser ocasionadas por inúmeros agentes químicos, físicos ou biológicos. Os mais comuns são os químicos, como me- 1 Acadêmicas do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga, MG. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 180 tais, ácidos e álcalis, hidrocarbonetos aromáticos, óleos lubrificantes e de corte, arsênico. Dentre os físicos, estão as radiações, traumas, vibração, pressão, calor e frio. Os biológicos são vírus, bactérias, fun- gos, parasitas, plantas, animais. Alterações psíquicas podem causar a autoindução de lesões (dermatites factícias), para conseguir algum benefício. Os exemplos de doenças ocupacionais mais comuns são as seguintes: Lesão por Esforço Repetitivo, Asma Ocupacional, Dermatose ocupa- cional, Surdez temporária ou definitiva, Antracose Pulmonar e dis- túrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. FATORES PREDISPONENTES Alguns fatores predisponentes, ou as chamadas causas indiretas, es- tão relacionados com o desenvolvimento de doenças ocupacionais, como a idade, o sexo, a etnia, os antecedentes mórbidos, postura e movimento realizado durante a atividade laboral, o clima e as condi- ções de trabalho. Os jovens são os mais acometidos por doenças ocupacionais, pela inexperiência na manipulação de agentes potencialmente peri- gosos durante o trabalho e, na dermatite de contato ocupacional (DCO), essa maior incidência está relacionada ao não espessa- mento da camada córnea, por isso, possuem menor tolerância e adaptação aos agentes. As doenças ocupacionais podem ser reduzidas com o treinamento profissional. Elas são mais prevalentes no sexo masculino do que no feminino, em uma média de 79% para os homens e 21% para mulhe- res. Algumas comorbidades, ainda, se relacionam ao grupo étnico do trabalhador, que pode funcionar como fator de risco ou protetor. No caso das DCO, as populações de pele amarela e negra são mais pro- tegidas contra à ação degenerativa dos raios solares, enquanto que os negros apresentam respostas queloideanas com maior frequência Doenças Ocupacionais I 181 Os antecedentes mórbidos estão intimamente relacionas ao desen- volvimento ou agravamento das comorbidades pré-existentes no ambiente de trabalho, caso medidas protetoras específicas sejam ne- gligenciadas. Atividades laborais que exijam movimentos repetidos ou posturas inadequadas, as chamadas posturas anti-ergonô- micas, podem causar a Lesão por Movimento Repetido (LER). Características do clima como a temperatura e a umidade também influenciam no aparecimento de dermatoses, doenças respiratórias e infecções fúngicas. No trabalho, a não utilização de proteção adequada com os Equipa- mentos de Proteção Individual (EPI) associada à não observância ou à não exigência pelo trabalhador das normas de higiene e segurança para a atividade que executa, pode ter papel importante no surgi- mento de doenças ocupacionais. Portanto é necessário que tanto os trabalhadores, quanto seus respectivos empregadores, fiquem alertas em relação às principais causas de doenças ocupacionais para pode- rem evitá-las, buscando o constante aprimoramento das condições de saúde e segurança do ambiente de trabalho. CAUSAS DIRETAS As doenças ocupacionais podem ser causadas por diversos agentes durante o trabalho. Esses agentes podem ser químicos, físicos ou biológicos. Eles podem ser causa ou funcionar como fatores desen- cadeantes, concorrentes ou agravantes. Os mais comuns são os se- guintes: A) Químicos: metais, ácidos e álcalis, hidrocarbonetos aromáticos, óleos lubrificantes e de corte, arsênico; B) Físicos: radiações, traumas, vibração, pressão, calor, frio; C) Biológicos: vírus, bactérias, fungos, parasitas, plantas, animais. A partir de uma análise mais prática, é possível exemplificar situa- ções que podem causar determinadas doenças ocupacionais: Medicina Ambulatorial VI 182 A) Ler: Lesões por esforços repetitivos; Dort: Distúrbios Osteo musculares Relacionados ao Trabalho (tendinites, tenossinovites e lesões de ombro). As principais causas incluem movimentos repetitivos, posturas inadequadas e pressão psicológica; B) Dorsalgias: hérnias de disco, “problemas de coluna”, frequen- temente, são desencadeadas por movimentos repetitivos e força com uso do tronco, levantamento e transportes de pe- sos, posturas inadequadas, obesidade e sedentarismo (fatores não necessariamente ocupacionais, contudo de significativa relevância); C) Transtornos mentais: (depressão/ansiedade/stress pós-traumá- tico) causados, principalmente,por alta demanda, imprecisão quanto às expectativas, metas inalcançáveis, trabalho extrema- mente monótono, percepção de trabalho “sem importância”, violência no trabalho, situações momentâneas e súbitas de alto nível de estresse e testemunha constante de sofrimento humano de terceiros (profissionais de saúde, assistentes sociais); D) Varizes nos membros inferiores: possui como causas mais signi- ficativas o trabalho realizado em pé ou sentado com pouca mo- vimentação, obesidade e sedentarismo; E) Transtornos auditivos: (principalmente perda auditiva) nessas afecções, as principais causas incluem exposição a ruídos e tra- balho com produtos químicos, principalmente, solventes (tin- ner, tolueno, xileno e similares). CONDIÇÕES DE TRABALHO Entre os determinantes da saúde do trabalhador estão incluídos os condicionantes sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais, responsáveis pelas condições de vida e os fatores de risco ocupacio- nais presentes nos processos de laborais. Doenças Ocupacionais I 183 Os trabalhadores podem adoecer ou morrer por causas relaciona- das ao trabalho, como consequência da profissão que exercem ou exerceram, ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realizado. Os indivíduos que apresentam maior probabilidade de desenvolver doenças ocupacionais são os que têm contato com produtos de limpeza, fazendo-se fundamental reiterar a impor- tância do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). As doenças ocupacionais diminuem com o treinamento profissio- nal e com maior acesso à informações para a população. Os diver- sos setores e instalações industriais devem obedecer às regras que estabeleçam conforto, bem-estar e segurança no trabalho. A exem- plo disso, orienta-se restaurantes com alimentação apropriada para o clima e para a atividade exercida. É importante que haja um cen- tro de treinamento para correta utilização de EPIs e manejo dos equipamentos usados na prática laboral. Ainda, orientações sobre doenças gerais, normas de higiene e imunização, principalmente no âmbito dos profissionais da saúde. Além disso, é necessário que o atendimento ambulatorial da empre- sa detecte possíveis lesões que estejam ocorrendo com o trabalha- dor. Os exames periódicos são importantíssimos para o tratamento precoce. E, por fim, a inspeção sanitária aos locais de trabalho pode fornecer dados importantes e realistas sobre as condições em que o trabalho é executado. DERMATITE DE CONTATO Dentre as principais dermatoses ocupacionais, as dermatites de con- tato compõem cerca de 90 a 95% dos casos. Elas correspondem a uma resposta inflamatória cutânea, resultante da exposição direta a algum agente externo. São classificadas em dermatite de contato por irritan- tes e dermatite de contato alérgica, sendo que as ocorrências dos casos estão em torno de 70 a 80% e 20 a 25%, respectivamente. Medicina Ambulatorial VI 184 DERMATITE DE CONTATO POR IRRITANTES Diferentemente das dermatites de contato alérgicas (DAC), nas der- matites de contato por irritantes (DCI), não é necessário sensibili- zação prévia, pois sua fisiopatologia independe da intervenção de mecanismos imunológicos. Por esse motivo, pode se apresentar em qualquer trabalhador exposto ao contato com substâncias irritantes, dependendo da sua concentração, do tempo de exposição e da perio- dicidade do contato com o agente irritante. A irritação é favorecida pelo contato frequente com água, sabões e detergentes. Óleos e gorduras, compostos de cloro, cosméticos, drogas em contato com a pele, arsênio, cimento, flúor, inseticidas, corantes ou algumas plantas são as causas mais comuns de DCI. Portanto, o quadro clíni- co varia de acordo com o irritante, podendo aparecer sob forma de dermatites indistinguíveis das dermatites de contato alérgicas agu- das, até ulcerações vermelhas profundas, nas queimaduras químicas. A DCI crônica é mais prevalente que a aguda ou acidental. Agressões repetidas, por irritantes de baixo grau, ocorrem ao longo do tempo. A primeira manifestação clínica percebida, nesses casos, é a secura da pele e o aparecimento de fissuras, que evoluem para eritema, des- camação, pápulas, vesículas e espessamento gradual da pele. O diag- nóstico se baseia, principalmente, nas histórias clínica e ocupacional. Não há orientação de realizar testes epicutâneos ou patch test para diagnóstico, porém no caso de DCIs crônicas, que não respondem bem ao tratamento, realiza-se o teste de contato para investigar sen- sibilização ao medicamento prescrito. DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA As dermatites de contato alérgicas (DCA) são ocasionadas por con- tato com substâncias sensibilizantes. A concentração, o tempo de contato e a suscetibilidade individual à exposição a tais agentes são determinantes para o aparecimento das lesões. O período de sensi- Doenças Ocupacionais I 185 bilização é variável, podendo ocorrer dentro de 5 a 21 dias, meses ou até anos após o contato, podendo também surgir abruptamente após o contato prévio com o sensibilizante. As principais DAC ocorrem devido ao contato com metais, adesivos, cosméticos, drogas, corantes, produtos químicos, alimentos, plantas e outros agentes em contato com a pele. As manifestações clínicas podem ser classificadas como eczemas agudo ou crônico. Na fase aguda, há presença de prurido intenso e, na fase crônica, ocorre um espessamento da epiderme (liquenifica- ção), com descamação e fissuras. O diagnóstico é baseado na histó- ria clínica ocupacional e no exame físico do paciente. Além disso, a realização de testes de epicutâneos ou patch test podem contribuir e auxiliar na identificação dos agentes alérgenos. O tratamento pode ser tópico ou sistêmico. Sendo que, o tratamento tópico inclui o uso de compressas ou imersão dos pés e das mãos em solução salina normal, água boricada ou permanganato de potássio. O uso de vaselina, cold cream, creme lanette para recuperar a fun- ção de barreira da pele, reduzir o ressecamento e o prurido, além de banho morno, sem bucha e com sabonete suave são colaboradores no processo de cura. O uso de corticóides tópicos pode ser indicado, mas vai depender de fatores como o tipo, estágio e localização do eczema, além da idade do paciente. O tratamento sistêmico é indicado no caso de infecção secundária extensa. Nesse caso, poderão ser usados antibióticos (eritromicina, cefalosporina, tetraciclina) e antifúngicos (fluconazol, cetoconazol , terbinafina, itraconazo). No caso de prurido intenso, é indicado anti- -histaminicos (hidroxizine, loratadina, cetirizina). Na fase aguda das exacerbações graves, recomenda-se o uso de corticóides sistêmicos e, para o tratamento de dermatite crônica e generalizada, faz o uso de psoralento e UVA e as ciclosporinas. Medicina Ambulatorial VI 186 DIAGNÓSTICO As dermatites de contato estão entre as demandas comuns atendidas no Brasil, todavia as dermatites ocupacionais (DOs) são pouco iden- tificadas ou valorizadas em virtude de uma subestimativa diagnósti- ca. Por conseguinte, comumente, deixam de ser consideradas como um problema de saúde pública. As dermatoses ocupacionais (DOs) são doenças de notificação com- pulsória no Brasil. É provável que, na maioria dos países, o número de casos desse agravo seja desconhecido em função da ausência de um diagnóstico diferencial que estabeleça relação entre o processo de adoecimento e a atividade laboral. O conhecimento dos fatores relacionados ao ambiente de trabalho ao qual o trabalhador está exposto, bem como dos fatores individuais que influem nesse processo é fundamental para determinar as causas desse adoecimento. Portanto, no que concerne aos profissionais de saúde, sobretudo médicos, conhecer os riscos ocupacionais aos quais seus pacientes estão expostos é fundamental e resultará em uma série de benefícios para o próprio paciente, que é o foco de todo o proces- so de cuidado. Os trabalhadores serão beneficiados a partir da confirmação do diag- nósticode DO, associado à comprovação do nexo ocupacional, pois esse processo implica garantias de direitos trabalhistas, previden- ciários e permite intervenções no ambiente de trabalho, buscando proteger a saúde dos outros trabalhadores envolvidos nesse processo produtivo. O diagnóstico e a consequente notificação desse agravo exigem a realização de cuidadosa anamnese ocupacional, minucioso exame físico e, caso necessário, a realização de uma visita ao ambiente de trabalho, a fim de permitir uma investigação dos agentes causadores. O diagnóstico preciso é imprescindível para diferenciar os processos Doenças Ocupacionais I 187 dermatológicos de outras origens, buscando compreender a relação trabalho-saúde-doença para definir uma abordagem adequada, bem como tratamento e as ações de prevenção e controle. Para o diagnóstico e o estabelecimento das condutas adequadas às DOs, confirmadas ou suspeitas, é necessário considerar os seguin- tes aspectos: A) História de exposição ocupacional, observando-se concordância entre o início do quadro e o início da exposição; B) A localização das lesões em áreas de contato com os agentes sus- peitos; C) Melhora com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho. Eventualmente, pode ser necessária a realização de exames labora- toriais tais como exame micológico, bacteriológico ou mesmo teste de contato (TC) ou teste epicutâneo (patch test). Tais ações podem contribuir para o diagnóstico, contudo, nenhum desses recursos é capaz de substituir uma boa anamnese, um exame físico cuidadoso e o conhecimento do profissional dos principais riscos, potencialmen- te presentes no trabalho, capazes de provocar dermatoses. Os diagnósticos diferenciais são próprios de cada dermatose ocupa- cional e podem incluir eczema atópico, psoríase e infecções. REFERÊNCIAS CALAMITA, Z.; CALAMITA, A. B. P. Principais sensibilizantes em pacientes idosos e não idosos com dermatite de contato. Scientia Medica, v. 26, n. 4, p. 2, 2016. Disponivel em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5716555> Acesso em: 03 de maio 2019. CANABRAVA, P. B. E.; SOARES, S. K. P. Farmacodermia e Dermatite de Contato Alérgica Crônica. Revista de Medicina e Saúde de Brasília, v. 5, n. 3, 2017. Disponivel em: <https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rmsbr/article/view/7326> Acesso em: 03 de maio 2019. DUARTE, I.; ROTTER, A.; LAZZARINI, R. Frequência da dermatite de contato ocupacional em ambulatório de alergia dermatológica. Anais Brasileiros de Medicina Ambulatorial VI 188 Dermatologia, v. 85, n. 4, p. 455-459, 2010. Disponivel em: <https://www. researchgate.net/profile/Ida_Duarte/publication/47415751_Frequency_of_ occupational_contact_dermatitis_in_an_ambulatory_of_dermatologic_allergy/ links/558f20a108aed6ec4bf5279c.pdf> Acesso em: 03 de maio 2019. ESCUDERO, J. B. et al. Alergias profesionales. Asma relacionada conelmedio laboral. Dermatitis de origen ocupacional. Medicine-Programa de Formación Médica Continuada Acreditado, v. 12, n. 30, p. 1777-1785, 2017. Disponível em: < https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5899511> Acesso em: 02 maio 2019. FERREIRA, A. J. Doenças Ocupacionais Respiratórias–Perspetivas Atuais. Revista Internacional em Língua Portuguesa, n. 34, p. 53-76, 2018. Disponível em: < https://www.rilp-aulp.org/index.php/rilp/article/view/RILP2018.34.3> Acesso em: 02 maio 2019. FERREIRA, E. K. V.; GUIMARÃES, R. N.; OLIVEIRA, M. F. A Importância da Ginástica Laboral na Prevenção de Doenças Ocupacionais. 2017. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/ EDUCACAO_FISICA/artigos/doencas_ocupacinais.pdf> Acesso em: 03 maio 2019. GOUVEIA, C. C. Dermatite de contato e seu impacto no ambiente ocupacional: um relato de caso. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Medicina do trabalho) – Universidade Federal do Paraná, Paraná, 2016. KASHIWABARA, L. M. R. et al. Dermatites Ocupacionais de Contato. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. Master Editora, 2014, v. 5, n. 3, p. 50-56. LIMA C.M.F. et al. Doença alérgica ocupacional: aspectos socioepidemiológicos em ambulatório especializado na cidade de São Paulo. RevBrasMed Trab. 2017; 15(4):297-302. LISE, M. L. Z. et al .Occupational dermatoses reported in Brazil from 2007 to 2014. An. Bras. Dermatol., v. 93, n. 1, p. 27-32,Rio de Janeiro, fev. 2018. MENDES, R. Patologia do trabalho. 3. ed., v.3, Atheneu, São Paulo, 2013. MOTTA, A. A. et al. Dermatite de Contato. Rev. bras. alerg. imunopatol., v. 34, n. 3, p. 73-82, São Paulo, Jul. 2011. OLIVEIRA, B. R; KRUG, S. B. F. Assistência de Enfermagem em Dermatoses Ocupacionais: Uma revisão Bibliográfica. Anais do Salão de Ensino e de Extensão, p. 138, 2017. Disponível em: < https://online.unisc.br/acadnet/anais/index.php/ salao_ensino_extensao/article/view/17093 Acesso em: 29 abr. 2019. ROSMANINHO, I.; MOREIRA, A.; SILVA, J. P. M. Dermatite de contacto: revisão da literatura. Revista Portuguesa de Imunoalergologia, v. 24, n. 4, p. 197-209, 2016. Disponivel em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0871-97212016000400002 Acesso em: 01 maio 2019. Doenças Ocupacionais I 189 SANTOS, B. A. F. et al. Ensaio do linfonodo local murino (LLNA) na diferenciação entre a dermatite de contato alérgica e de contato irritante: um estudo da expressão de marcadores de superfície de linfócitos T. Vigil. sanit. debate, v.6, n.3, p.54-63, 2018. Disponivel em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/31605/2/ marciano_paes_etal_IOC_2018.pdf Acesso em: 01 maio 2019. SOUZA, G. F. et al. Fatores de riscos ocupacionais e implicações à saúde do trabalhador em biotérios. Saúde em Debate, v. 41, p. 188-199, 2017. Disponivel em: https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2017.v41nspe2/188-199/pt Acesso em: 01 maio 2019. SUGIURA, K.; SUGIURA, M. Occupational Dermatoses. J ClinExpDermatol Res, v. 7, p. e 107, 2016. Disponivel em: https://pdfs.semanticscholar.org/19be/ b64175d705789c068040538ce6d712174166.pdf Acesso em: 01 maio 2019. 190 Doenças Ocupacionais II 191 Capítulo 16 Doenças Ocupacionais II Maria Tereza Costa Lage1 Piera Chaves Terra1 Pietra Ziviani Côvre1 Rafaela Ferro Valente1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS As lesões por Esforços Repetitivos (LER) correspondem a um grupo de afecções do sistema musculoesquelético que são decorrentes de sobrecargas mecânicas. Atualmente, sabe-se que fatores sociais e econômicos, como graus de insatisfação no trabalho, também, estão envolvidos na gênese das dores crônicas, em especial as dos membros superiores, o que torna o diagnóstico das afecções questionável. As lesões mais comuns, encontradas têm sido as seguintes: doenças ten- dines inflamatórias, neuropatias periféricas (em especial a síndrome do túnel do carpo), cistos sinoviais, lesões ligamentares, bursites e distrofia simpática reflexa nos membros superiores. Além das lesões, os distúr- bios dolorosos sempre estão presentes, sendo os mais frequentes as sín- dromes axiais (cervical, lombar e dorsal), tenalgias e mialgias, demons- trando, assim, como o quadro clínico pode ser bastante variado. 1 Acadêmicas do Instituto Metropolitano de Ensino Superior - IMES 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 192 A prevenção da LER deve ser feita, criando um bom ambiente de tra- balho e respeitando os limites de cada indivíduo. Deve ser iniciada com a seleção adequada dos trabalhadores e a correta aprendizagem de técnicas e ensinamento de posturas. A duração das jornadas de trabalho deve ser respeitada, assim como horários de descanso. Além disso, existea necessidade de um adequado estilo de vida, com boa qualidade do sono, condicionamento físico e da saúde geral. Essas iniciativas proporcionarão a qualquer trabalhador condições de exe- cutar suas tarefas laborativas. Diante disso, para que seja feito o diag- nóstico, deve-se coletar dados fornecidos pelo paciente, com ênfase na sua história ocupacional, realizar o exame físico e integrá-los com dados epidemiológicos. DERMATOSES OCUPACIONAIS E CA DE PELE As dermatoses ocupacionais (DOs) são um dos principais agravos relacionados ao trabalho, sendo consideradas de notificação com- pulsória. Entre os principais causadores das DOs, destacam-se os agentes químicos, provocadores de dermatites de contato por irritan- te primário, manifestando-se por reação inflamatória e acometendo, principalmente, os membros superiores, especialmente, as mãos. O principal sintoma que se observa é o prurido, além do quadro clínico de eritema, vesícula, bolhas, pápulas, ressecamento, des- camação e infecção secundárias das quais podem variar confor- me seu tempo de evolução e características do agente agressor e do indivíduo acometido. O diagnóstico de tais afecções é feito com facilidade, mas alguns aspectos são essenciais nesse proces- so, como a anamnese ocupacional, o exame físico e a inspeção do local de trabalho. CÂNCER CUTÂNEO OCUPACIONAL Há também o câncer cutâneo ocupacional (CCO) para o qual vá- rios fatores podem concorrer, como fatores genéticos, imunológicos Doenças Ocupacionais II 193 e ambientais. Os principais agentes cancerígenos para o tegumento podem ser físicos (radiação solar), ou químicos (hidrocarbonetos). Os CCOs mais comuns são o carcinoma espinocelular e o basocelu- lar, sendo que esses são relacionados à exposição prolongada à luz solar, considerada a causa mais comum de câncer de pele. Eles ocor- rem com mais frequência em trabalhadores que exercem suas fun- ções ao ar livre e em pessoas de pele clara. Somente o exame clínico e uma biópsia podem diagnosticá-los, porém é importante estar atento aos seguintes sintomas: A) Lesão na pele de aparência elevada e brilhante, translúcida, aver- melhada, castanha, rósea ou multicolorida, com crosta central e que sangra facilmente; B) Pinta preta ou castanha que muda sua cor, textura e ou torna-se irregular nas bordas e cresce de tamanho; C) Mancha ou ferida que não cicatriza, que continua a crescer apre- sentando coceira, crostas, erosões ou sangramento. Para prevenção das dermatoses ocupacionais, é indicado o uso de vestimentas adequadas como luvas, calçados e uniformes, por exem- plo. Já para os cânceres de pele, deve-se evitar a exposição excessiva ao sol e proteger a pele dos efeitos da radiação UV. PNEUMOCONIOSE As pneumoconioses (PNMC) são doenças que acometem o trato res- piratório e estão relacionadas à exposição prolongada a determinadas substâncias, que são geradas no ambiente de trabalho. Essas doenças podem ser dividas em fibrinogênicas e não fibrinogênicas. As fibrino- gênicas estão relacionadas à inalação de partículas que causam fibrose intersticial do parênquima pulmonar, como a silicose, a antracose e a bissinose. Já as não fibrinogênicas são caracterizadas por depósito da substancia no interstício, infiltrado inflamatório e ausência de fibrose, como a siderose. A seguir, se fará uma abordagem de cada uma delas. Medicina Ambulatorial VI 194 FIBRINOGÊNICAS SILICOSE A silicose é uma doença ocupacional a qual ocorre em indivíduos que inalaram pó de sílica durante anos de exposição a ela. A sílica (SiO2) é uma substância que constitui a areia, por isso é uma doen- ça comum em trabalhadores de mineração, cortadores de granito e aqueles que estão no processo de fabricação de cerâmica, cimento, inseticidas, cosméticos e tintas. Essa substância apresenta proprieda- des fibrinogênicas e, quando inalada, causa uma reação inflamatória, podendo levar à formação de nódulos pulmonares. A silicose é uma doença pulmonar fibrosante e, em sua maioria, crô- nica. Os sinais da doença aparecem após 20 anos de exposição ao componente, mas trabalhos em que a exposição é maior, a evolução da doença pode ser mais rápida e ocorrer em menos de 10 anos. Nes- se caso, é desenvolvida a silicose subaguda. Em alguns casos, quando a exposição é intensa, o paciente pode apresentar alterações no raio- -x (RX) de tórax em um período curto, menos de 2 anos. Esses casos de evolução rápida, na maioria das vezes, são graves, são denomina- dos silicose aguda. Os principais sintomas são os seguintes: tosse produtiva, hemoptise, dispneia progressiva. Inicia com um leve desconforto respiratório e, posteriormente, se agrava a dispneia a pequenos esforços e até ao repouso, em fases mais avançadas da doença. A doença é progressiva e não paralisa nem mesmo quando o indivíduo é afastado da subs- tância causadora. O diagnóstico é realizado por meio da história de exposição à sílica e se confirma quando são detectados sintomas típicos como tosse e dispneia progressiva. A radiografia de tórax ajuda a confirmar o diag- nóstico. Na silicose crônica, os nódulos são pequenos (menores que 1cm) e predominam no terço superior dos pulmões. Na subaguda, os Doenças Ocupacionais II 195 sintomas são mais precoces e, além dos nódulos, é observada reação inflamatória na região. Já na forma aguda, existe reação inflamató- ria difusa e nodulações mal definidas. No exame físico, observa-se crepitação em todo pulmão e dispneia acentuada. Além disso, para realizar o acompanhamento do paciente, pode-se solicitar a espiro- metria, através da qual será evidenciado o padrão respiratório restri- tivo e obstrutivo. A confirmação da enfermidade se dará se ocorrer a redução do volume expiratório forçado e da capacidade vital forçada. O material particulado do carvão é um dos fatores de risco a que a população é exposta desde tempos remotos, sendo um dos poluentes mais destacados do mundo, causador da antracnose, que acomete comumente mineiros pela inalação da poeira de carvão. ANTRACNOSE Há dois tipos de fisiopatologias: a antracnose simples e a avançada. A caracterizada como simples, normalmente, têm um curso be- nigno, em que há agregados de pequenas partículas de carbono de substâncias nocivas de elevada solubilidade em torno dos terminais respiratórios. Essa ocorrência gera uma ligeira dilatação dos brôn- quios terminais, tendo uma área periférica de inflamação aguda, as- semelhando-se, histologicamente, com nódulos reumatoides. Dessa maneira, ocorre danos de início rápido nos pulmões. No entanto, a antracnose simples progride lentamente e somente se manifesta após vinte a trinta anos. Com a exposição prolongada à poeira do carvão, essas lesões se tornam mais aparentes, normalmente, associadas a sintomas como dispneia e tosse. Junto à história de exposição, o exa- me de RX pulmonar, normalmente, detecta a presença de nódulos de 2 mm a 5 mm. A antracnose, caracterizada pela forma avançada, ocorre com uma progressão maciça e presença de tecido fibroso preto infiltrado com poeira de carvão nos pulmões. Esses casos ocorrem quando o minei- Medicina Ambulatorial VI 196 ro perdura exposto a grandes concentrações do agente com partícu- las maiores e mais resistentes, de difícil diluição. Essa é uma doença pulmonar obstrutiva crônica, induzida pelo pó de carvão, causa efei- tos de bronquite crônica, levando à dispneia e, até, à insuficiência respiratória. À RX são visualizados nódulos maiores de 10 mm de diâmetro. Nesses casos, os mineiros podem ter doença reumatoide, comumente, associada à fibrose nodular dos pulmões. BISSINOSE A Bissinose é uma doença ocupacional das vias aéreas, para a qual estudos sugerem a participação dos componentes da planta, poei- ras orgânicas como algodão, sisal e linho, e de endotoxinas bac- terianas contaminantes na sua fisiopatologia. Entre as principais causas, aponta-se a relação entre a quantidade de poeira de algo- dão inalada e o tempo de exposição, junto a outrosfatores de risco, como poluição atmosférica e o tabagismo. Outros mecanismos des- critos sugerem ativação da histamina e, outro, a inflamação das vias aéreas como causa da obstrução. Há, portanto, uma nítida relação exposição-resposta. Quadro 1 - Critério de estadiamento da bissinose: GRAU 0: Ausência de sintomas no primeiro dia de retorno ao trabalho; GRAU 1/2: Discreta irritação das vias aéreas ou opressão torácica transitória no primeiro dia de trabalho da semana; GRAU 1: Opressão torácica e/ou dispnéia unicamente no primeiro dia de retorno ao trabalho; GRAU 2: Opressão torácica e/ou dispnéia no primeiro dia de retorno e nos outros dias da jornada de trabalho; GRAU 3: Sintomas do grau 2 associados com incapacidade funcional permanente. Essa PNMC pode ser caracterizada com uma resposta reversível, se detectada no início da evolução. Já na fase aguda, causa uma sensa- ção de diminuição da capacidade pulmonar, tosse e dispneia. Quan- Doenças Ocupacionais II 197 do o trabalhador retorna de suas férias, à medida que a doença evolui e persistem as queixas, o paciente evolui em graus. Essa evolução se- gue os critérios citados no quadro 1, a seguir. Tais alterações funcio- nais se tornam irreversíveis, podendo levar à incapacidade funcional respiratória. O diagnóstico é feito centrado na história clínica e ocupacional. De- ve-se avaliar a função pulmonar, observando redução do VEF1 du- rante a jornada de trabalho. A RX de tórax não apresenta alterações, mas pode ser útil para diagnósticos diferenciais. Não há tratamento específico. Quando for o caso, recomenda-se a cessação do tabagis- mo e afastamento da exposição do patógeno causador. NÃO FIBRIMOGÊNICAS SIDEROSE A Siderose é uma PNMC causada pela inalação de óxidos de ferro. A doença é frequente em indivíduos que fazem extração de minério de ferro e trabalham em metalurgia de aço, ferro, soldadura e polimento de metais com óxidos de ferro. Essa doença vem sendo considerada uma PNMC benigna e não apresenta associação com sintomas res- piratórios. Nos alvéolos das pessoas expostas a esses componentes são encontrados macrófagos carregados de grânulos de ferro, mas sem fibrose. Essa deposição é chamada de reação inerte ou tatuagem. O diagnóstico é feito através da história de exposição a poeiras de ferro, levando em conta as condições de trabalho e a concentração de partículas no ar, associada a exame radiológico. O RX de tórax pode demonstrar micronódulos maldefinidos e difusos, normal- mente, a localização é centrolobular. O paciente que é exposto so- mente ao óxido de ferro não apresenta alteração na espirometria. O prognóstico da siderose é bom, sendo possível a regressão das lesões após afastamento da substância. A evolução para formas graves pode acontecer em trabalhadores expostos também a outras substâncias Medicina Ambulatorial VI 198 como sílica e tabagismo. Nesse caso, pode ser encontrada concomi- tantemente a fibrose pulmonar. A conscientização da prevenção das PNMC, dos empregadores é ne- cessária. As empresas devem reforçar as atividades de vigilância à saúde de seus trabalhadores, além de acrescentarem estratégias efeti- vas e implantarem programas de treinamento que permitam que os trabalhadores tenham conhecimento de prováveis fatores de risco, e saibam a importância do uso correto dos equipamentos de proteção individual (EPI’s). Mesmo com toda essa atenção, o uso de marcadores de predição e detecção precoce de PNMC são essenciais para a aplicação oportuna de estratégias de intervenção. Como uso da espirometria que avalia a função respiratória, exame de baixo custo, fácil execução e grande utilidade para o diagnóstico precoce e controle em trabalhadores ex- postos aos agentes. ASMA OCUPACIONAL A asma ocupacional é definida pela obstrução reversível e variável do fluxo aéreo e/ou hiper-reatividade das vias aéreas, que ocorre devido ao ambiente de trabalho e às condições atribuíveis a tais locais. Ocor- re por consequência da inflamação das vias aéreas causadas pela res- posta a alérgenos de alto peso molecular. Doença pulmonar, comu- mente, encontrada em países desenvolvidos, sendo a mais comum das doenças imunomediadas. Centenas de agentes foram associados a etiologia da asma ocupacional, mas os mais frequentes são os dii- socianatos, pó de diversos grãos, resinas, látex, partículas animais de laboratório, e pós de madeira. Há dois tipos de asma ocupacional: a imunológica e não imunológi- ca. Na primeira, ocorre uma mediação por mecanismos imunológi- cos que, comumente, possuem um período de latência entre o qual se tem a exposição para a sensibilização ao agente ocupacional respon- Doenças Ocupacionais II 199 sável. A não imunológica é identificada pela ausência do período de latência, em que os sintomas podem ocorrer poucas horas após uma única exposição ao irritante no local de trabalho. A prevenção da asma ocupacional deve acontecer primeiramente pelo controle ambiental, proteção dos trabalhadores, como equipa- mentos de proteção respiratória e se possível substituição do mate- rial utilizado que lhes causa a asma. O processo do diagnóstico é complexo. Deve-se observar se há nexo causal entre as queixas e a determinada exposição laboral, excluindo causas não profissionais. Deve, então, ser investigado para que não haja aconselhamento equi- vocado de abandono do trabalho antes mesmo do diagnóstico final, uma vez que o afastamento prolongado pode inviabilizar os proces- sos diagnósticos. O diagnóstico, portanto, resulta da junção dos dados provenientes da anamnese e história ocupacional, a testes cutâneos de alergia e, quando possível, pesquisa de IgE específica. Além disso, deve-se fa- zer medições seriadas da função ventilatória no local de trabalho e fora dele, estudo funcional respiratório com provocação inespecífica e, em ocasiões necessárias, com o agente laboral em questão. DOENÇAS PSICOSSOCIAIS O ritmo de trabalho excessivo, as relações baseadas no autoritarismo e os ambientes de trabalho sem conforto contribuem para o adoeci- mento mental. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os trans- tornos mentais atingem aproximadamente 30% dos trabalhadores no mundo. Países desenvolvidos como Estados Unidos e Austrália são mais acometidos que aqueles em desenvolvimento como o Bra- sil. Tal fato é preocupante, já que o Brasil está em desenvolvimento, tende a apresentar mais casos no futuro próximo. No Brasil, dados do Instituto Nacional de Seguro Social sobre a con- cessão de benefícios de auxílio-doença e de aposentadoria por inva- Medicina Ambulatorial VI 200 lidez, demonstram que os transtornos psicossociais ocupam o tercei- ro lugar no ranking das aposentadorias. As principais doenças são depressão, transtorno de ansiedade generalizado (TAG) e bour-out. DEPRESSÃO A depressão é uma morbidade frequente em trabalhadores que vi- venciaram um fracasso pessoal, acidente de trabalho, desemprego e queda salarial. Os principais sinais e sintomas são humor triste, per- da do interesse e prazer nas atividades cotidianas, fadiga, dificuldade de concentração, baixa auto-estima, desesperança, ideias de culpa e inutilidade, visões pessimistas do futuro, ideias ou atos suicidas. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADO (TAG) Outra patologia comum é o TAG, que é caracterizado pela preocupa- ção excessiva, persistente e de difícil controle, com duração mínima de seis meses, com três ou mais dos seguintes sintomas: inquietação, tensão muscular, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade e insônia. BOUR-OUT A síndrome de Bour-out, também conhecida como Síndrome do es- gotamento profissional se caracteriza como exaustão emocional, es- gotamento de energia, não realização profissional e ineficiência. Isso acontece quando o indivíduo é exposto, de maneira prolongada, a um ambiente de trabalho hostil, em que se sinta pressionado e não valorizado. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO OUVIDO As doenças otorrinolaringológicas relacionadas aotrabalho são cau- sadas por agentes ou mecanismos irritativos, alérgicos e/ou tóxicos. As afecções do ouvido interno decorrem a partir da exposição à subs- tâncias neurotóxicas e fatores de risco de natureza física, como ruído, Doenças Ocupacionais II 201 pressão atmosférica, vibrações e radiações ionizantes. Já o acometi- mento das doenças do ouvido externo, estão relacionadas aos agen- tes biológicos, eventos traumáticos e à lesão do pavilhão auricular. A Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR) é um dos problemas de saúde relacionados ao trabalho mais frequentes em todo mundo e se dá através da exposição ao ruído. O ruído presente nos ambien- tes de trabalho é considerado um agente de risco à saúde dos traba- lhadores, sendo que a exposição prolongada a níveis de ruído acima de 85 dB(A) traz grande risco para a audição e a saúde em geral, a depender da intensidade e do tempo de exposição. O comprometi- mento na audição é permanente e, atualmente, não há qualquer tra- tamento efetivo para a regeneração da cóclea, principal local de lesão por ruído elevado. A avaliação do trabalhador exposto a ruído consta de avaliação clíni- ca e ocupacional. Pesquisa-se a exposição pregressa e atual ao risco para que seja possível buscar relações entre causa e sinais e sinto- mas, considerando os sintomas característicos, como a hipoacusia. Contudo, a anamnese ocupacional configura-se como instrumento fundamental para a identificação do risco. Além disso, devem ser realizados exame físico, avaliação audiológica e, se necessário, outros testes complementares. As mudanças dos limiares auditivos não têm recuperação. Assim, as medidas preventivas são as únicas estratégias a serem adotadas e estas estão relacionadas ao controle do ruído. Dentre as medi- das, incluem o monitoramento sistemático dos agentes agressores; diminuição do tempo de exposição e do número de trabalhadores expostos; informação e comunicação dos riscos aos trabalhadores; utilização de equipamentos de proteção auditiva individual- EPA’s e medidas de controle médico. Quanto ao uso de EPAs, deve-se fa- zer uma análise para escolha do tipo mais adequado a cada tipo de exposição. Além disso, cabe ao Ministério do Trabalho a vigilância Medicina Ambulatorial VI 202 das condições de trabalho e da saúde dos trabalhadores expostos de acordo com a legislação pertinente. O serviço de assistência à saúde, em qualquer nível, deve orientar o trabalhador a respeito do risco auditivo e acompanhar sua condição auditiva no decorrer do tempo, dando subsídios aos serviços de fiscalização. DOENÇAS DA VISÃO O sistema ocular é vulnerável à ação de diversos fatores de risco pre- sentes no trabalho, como por exemplo, agentes mecânicos (corpos estranhos, ferimentos contusos e cortantes), agentes físicos (tempe- raturas extremas, eletricidade, radiações ionizantes e não-ionizan- tes), agentes químicos, agentes biológicos (picadas de marimbondo e pelo de lagarta) e ao esforço excessivo que leva à astenopia induzi- da por algumas atividades de monitoramento visual. As doenças do olho e anexos, relacionadas ao trabalho incluem: Blefarite; Conjunti- vite; Queratite e queratoconjuntivite; Catarata; Inflamação coriorre- tiniana; Neurite óptica e Distúrbios visuais subjetivos. Inúmeras substâncias químicas podem afetar o olho em decorrência do número de estruturas envolvidas e coordenadas para permitir a visão normal e os mecanismos fisiopatológicos são variados. Além disso, as manifestações variam da sensação de dor, desconforto e al- terações na estética até os transtornos graves da função visual, tem- porários ou permanentes. Para diagnóstico, é necessária a realização da anamnese ocupacional, que compreende a história clínica atual, os antecedentes pessoais e familiares, a história ocupacional, hábitos e estilo de vida, o exame físico e a propedêutica complementar. A partir da entrevista com o paciente/trabalhador, deve-se ter o reconhecimento prévio das ativi- dades e locais de trabalho, se existem substâncias químicas, agentes físicos e biológicos e fatores de risco, decorrentes da organização do trabalho, potencialmente causadores de doença. Doenças Ocupacionais II 203 A prevenção das doenças dos olhos e anexos, relacionadas ao trabalho, baseia-se nos procedimentos de vigilância em saúde do trabalhador, dos ambientes, das condições de trabalho e dos agravos à saúde. Den- tre as medidas de prevenção à exposição aos fatores de risco incluem: adoção de sistemas seguros de trabalho, medidas operacionais; rotu- lagem das substâncias químicas segundo à toxicidade; diminuição do tempo de exposição e do número de trabalhadores expostos; garantia de recursos adequados para situações de emergência, como chuveiros ou duchas lava-olhos, já que o contato com substâncias químicas nos olhos pode ameaçar a visão. Além disso, o fornecimento de EPI’s ade- quados, deve complementar as medidas de proteção coletiva. Os trabalhadores devem estar treinados para proceder, imediata- mente após a contaminação, à lavagem dos olhos, com água corren- te, por no mínimo cinco minutos, sendo em seguida encaminhados para avaliação especializada por oftalmologista. A única exceção se faz às perfurações oculares, que devem ser encaminhadas imediata- mente ao oftalmologista. É importante evitar a compressão do globo ocular até a avaliação da extensão da lesão provocada pelo acidente. REFERÊNCIAS: ALI, Salim Amed. Dermatoses relacionadas com o trabalho. In: MENDES, Rene. Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 2013. ANDRADE, Kléber Proietti et al. Medida do nível de ruído hospitalar e seus efeitos em funcionários a partir do relato de queixas. Rev. CEFAC, São Paulo, v. 18, n. 6, p. 1379-1388, Dec. 2016. Carvalho, Leandro Vargas Barreto de et al. Exposição ocupacional a substâncias químicas, fatores socioeconômicos e Saúde do Trabalhador: uma visão integrada. Saúde em Debate. 2017, v. 41, n. spe2. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S0103-11042017000600313&script=sci_abstract&tlng=pt. Acessado em: 29 Abril 2019. CASTRO, Patricia Gaston de; ANDRADE, Claudia Alexandra de. Biossegurança: Responsabilidade no cuidado individual e no cuidado coletivo. Cadernos da Escola de Saúde, v. 1, n. 7, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbso/v42/2317- 6369-rbso-42-e1.pdf. Acesso em: 20 Abril 2019 Medicina Ambulatorial VI 204 DEUD, Maria Laura Bello. Avaliação dos riscos ocupacionais entre trabalhadores da coleta de resíduos sólidos domiciliares de um município no centro sul do Paraná. 2015. 35f. Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança de Trabalho) – Programa de PósGraduação em Engenharia Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2015. DUARTE, Renan Fernandes. Os riscos psicossociais no trabalho e as políticas públicas de preservação da saúde mental do trabalhador. Repositório institucional UNESP, Franca, 2018. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/180559. Acesso em: 16 Abril 2019. FAGUNDES, Gilmara; ZANELLATO, Maria Aparecida. Silicose doença pulmonar ocupacional no trabalhador de mineração. Saúde Trabalho. 2015. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/238080565_SILICOSE_DOENCA_ PULMONAR_OCUPACIONAL_NO_TRABALHADOR_DE_MINERACAO. Acesso em: 10 Abril 2019. FANFA, FERNANDA RAFAELA ZOCCHE KIST. DOENÇAS OCUPACIONAIS: UM ENFOQUE SOBRE A PERDA AUDITIVA OCUPACIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS PREVIDENCIÁRIAS. 2015. Trabalho de conclusão de curso (Direito) - UNIJUÍ, Ijuí, 2015. FERNANDES, M. A. et al. Riscos psicossociais e agravos psíquicos relacionados às atividades laborais de trabalhadores de saúde Psychosocial risks and psychological disorders related to the work activities of health workers. Vertentes e Desafios da Segurança, p. 169, 2018. FERREIRA, A. Doenças Ocupacionais Respiratórias – Perspetivas Atuais. Revista Internacional em Língua Portuguesa, n. 34, p. 53-76, 26 nov. 2018. JORNAL SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA,2017, Rio de Janeiro. Câncer da pele e Dermatite de contato [...]. [s l]; [s. n.], 2017. JUNIOR, Milton Hasfenstein. Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. In: MOREIRA, Caio; CARVALHO, Marco Antonio. Reumatologia: Diagnostico e tratamento. 2. ed. [S. l.]: Medsi, 2001. cap. 14, p. 266-267. 2001 LADOU, Joseph; HARRISON, Robert. CURRENT: Medicina Ocupacional e Ambiental (Lange): Diagnóstico e Tratamento. Edição: 5. Editora: AMGH; São Paulo. McGraw Hill Brasil, 2016. Acesso em: 18 de Abril de 2019. MENDANHA, Marcos Henrique. Medicina do trabalho e perícias médicas: Aspectos práticos (e polêmicos). 4. ed. rev. e aum. LTR, 2015 São Paulo. MIRANDA, Fernanda Moura D´almeida et al. Dermatoses ocupacionais registradas em sistema de notificação na região Sul do Brasil (2007 a 2016). Revista brasileira de medicina do trabalho, Curitiba, p. 443-450, 11 nov. 2018. Doenças Ocupacionais II 205 MONTEIRO, Antonio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais. 8 ª edição: Editora Saraiva, 2016. PESCADOR VARGAS, Beatriz; CULMA, Roa; ALEJANDRA, Laura. DUALITY, MINING LOCOMOTIVE VS. BLACK LUNG. Revista Med, v. 24, n. 2, p. 88-99, 2016. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_ abstract&pid=S0121-52562016000200010. Acesso em: Abril 15 2019. PRADO, Lilian Souza; CULCHESK, Aline Silva. ANÁLISE DE RISCOS OCUPACIONAIS EM UMA FÁBRICA DE FIAÇÃO DE ALGODÃO. Trabalhos de Conclusão de Curso do DEP, Paraná, v. 13, n. 1, 2018. Disponível em: http://www. dep.uem.br/gdct/index.php/dep_tcc/article/view/321. Acesso em: 12 Abril 2019. REVISTA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA, 2016, São Paulo. LER/DORT-Cartilha para pacientes. [S. l.]; [s. n.], 2016. FILHO, Paulo Lima da Silva. AGRAVOS RESPIRATÓRIOS EM TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL EM MATO GROSSO. Instituto de Saúde Coletiva, Cuiabá, 2015. Disponível em: http://ri.ufmt.br/bitstream/1/182/1/DISS_2015_ Paulo%20Lima%20da%20Silva%20Filho.pdf. Acesso em: 17 Abril 2019. DA SILVA, Deivisson Freitas; TAVARES-NETO, José; RÊGO, Rita Franco. Lesões oculares em trabalhadores da pesca comercial: uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 2016, 41: 1-11. Acesso em: 12 de Abril de 2019. SILVA, Luan Nascimento; COERTJENS, Marcelo; COSTA, Tannara Patrícia Silva. Existem métodos alternativos para avaliação da repercussão funcional da pneumoconiose em mineiros? Uma revisão narrativa. Revista de Atenção à Saúde (antiga Rev. Bras. Ciên. Saúde), v. 14, n. 50, p. 96-104, 2016. Lesões oculares em trabalhadores da pesca comercial: uma revisão de literatura. Rev. bras. saúde ocup., São Paulo, v. 41, e 20, p 1-11, 2016. Disponível em: http://www. scielo.br/pdf/rbso/v41/2317-6369-rbso-41-e20.pdf. Acesso em: 10 Abril 2019. SOARES, Livia Garcia. Contaminação de Aerodispersóides Metálicos na Indústria e seu Risco na Saúde dos Trabalhadores. 2017. 40 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2018. SOUZA, Tamires Patrícia. Prevalência de silicose e repercussões na qualidade de vida de mineradores de pedras preciosas e semipreciosas. LUME, Rio Grande do Sul, 2015. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/119388. Acesso em: 20 abr. 2019. 206 Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional 207 Capítulo 17 Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional Alice Motta da Rocha1 Fernanda Costa Carvalho¹ Luiz Felipe Aragoso Bento¹ Sarah Menezes de Oliveira¹ Farias Menezes de Oliveira2 A segurança do trabalho pode ser entendida como os con-juntos de medidas que são adotadas, visando a minimi-zar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade física e a capacidade de tra- balho do trabalhador. Entre as atividades exercidas por uma pessoa durante sua vida, o tra- balho ocupa posição de destaque, consumindo grande parte e, em muitos casos, a maior parte, do seu tempo de vida. Por essa razão, é muito comum a ocorrência de agravos à saúde e à integridade física do indivíduo por situações ligadas à sua atividade laboral. É fato que a sociedade, principalmente, nos últimos séculos, evoluiu significativamente sob o ponto de vista tecnológico. Grande parte das inovações trouxeram incríveis benefícios. Nasceram novas for- mas de comunicação e interação entre as pessoas, além de inova- dores métodos de produção e de exploração das riquezas no país. 1 Acadêmicos do curso de medicina do Instituto de Ensino Superior (IMES) de Ipatinga, MG. 2 Médico, formado pela União Educacional do Vale do Aço. Pó-graduado em medicina do trabalho pela CENBRAP. Medicina Ambulatorial IV 208 Avanços em áreas-chaves do conhecimento humano. Na medicina, tais avanços trouxeram novas perspectivas de vida à população, além do incremento em sua qualidade. No entanto a inovação tecnológica traz consigo alguns contratem- pos, cobrando seu preço dos seres humanos, como o aumento dos riscos, principalmente, daqueles relacionados ao trabalho, além de vidas humanas e de capacidade de trabalho perdidas. Montantes que somam bilhões de recursos, que poderia ter melhor, ou mais eficaz utilização, são desperdiçados na forma de custos provenientes de in- fortúnios relacionados ao labor. Nas últimas décadas, porém, a sociedade tem mandado claro recado sobre esse assunto, no sentido de que os riscos inerentes ao traba- lho sejam eliminados, quando possível, ou reduzidos drasticamente. Existem relatos de preocupação com o ambiente do trabalho de mui- tos anos atrás. Há referências ao tema na antiga sociedade egípcia, encontradas no denominado Papiro Seler II, datado de 2.360 a.C., que alude às condições de trabalho entre os operadores de fornos, tecelões, pedreiros e lavadeiras. No século IV a.C., Hipócrates pesquisou a ação maléfica do chumbo sobre a saúde humana. Plínio, na era cristã, relacionou a reação do enxofre e zinco sobre a problemas de saúde. A utilização de másca- ras respiratórias rudimentares, noticia o que talvez seja a iniciativa pioneira no uso de equipamentos de proteção individual. Galeno de Pérgamo relatou experiência realizada a respeito dos riscos dos mi- neiros, quando visitou as minas de sulfato de cobre na ilha de Chipre. Posteriormente, em 1556, Georg Bauer, conhecido como Georgiu Agrícola, publicou, em latim, uma obra denominada De re metallica, na qual, além de estudos relacionados à extração de metais, mencio- na aspectos relacionados a doenças e acidentes de trabalho, como a “asma dos mineiros” provocada por poeiras “corrosivas”. Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional 209 Em 1700, o médico Bernardino Ramazzini publicou seu famoso livro De Morbis Artificum Diatriba, no qual descreve, minuciosamente, doenças relacionadas ao trabalho, encontradas em mais de 50 ativi- dades profissionais existentes na época. O estudo de Ramazzini apre- sentava uma relação de mais de 100 diferentes profissões e os riscos específicos de cada uma delas, chamando a atenção para a necessi- dade dos médicos conhecerem a ocupação, atual e pregressa, de seus pacientes para fazer o diagnóstico correto e adotar os procedimentos adequados. Essa relação é a precursora da lista atual de doenças ocupacionais reconhecidas pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) e adotada por muitos países, inclusive o Brasil. Apesar dessas evidên- cias, não há informação de qualquer política pública que tenha sido proposta ou implementada para reduzir os riscos a que esses traba- lhadores estavam submetidos. Nesses períodos, as vítimas dos aci- dentes/doenças relacionadas ao trabalho eram quase exclusivamente escravos e pessoas oriundas dos níveis considerados como os mais inferiores da escala social. Muitas mudanças ocorreram com a Revolução Industrial a partir de meados dos séculos XVIII e XIX, em especial, à classe trabalhadora, que sofreu com as transformações, de forma bastante negativa com relação à saúde e bem-estardo trabalhador. Ele passou a ser subme- tido a cargas horárias de trabalho bastante aumentadas em ambiente que não lhe oferecia segurança alguma. Com a revolução industrial, muitas máquinas e equipamentos sofreram mudanças, se tornando tecnologicamente avançadas, o que acarretou maior desconforto ao trabalhador, que tinha que manuseá-las sem estar habituado ou sem ter nenhum treinamento que lhe fizesse apto ao seu manuseio. Tudo isso gerou graves acidentes de trabalho como desgaste físico, ampu- tações, intoxicação, etc. Como agravante, a maioria desses trabalha- dores, vítimas de acidentes, eram mulheres e, muitas vezes, crianças, pois sua mão de obra era mais barata. Medicina Ambulatorial IV 210 A partir desses incidentes, houve a intensificação do estudo dos acidentes do trabalho, uma vez que esses países estavam produ- zindo legiões de incapacitados. Isso levou os empresários da épo- ca a se questionarem sobre os benefícios da revolução de mercado que eles estavam produzindo. Surgem, então, as primeiras normas trabalhistas na Inglaterra (Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes, de 1802), que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno e tornava obrigatório a ventilação do ambiente de trabalho e a lavagem das paredes das fábricas duas vezes por ano. No entanto, essa lei não foi obedecida por falta de um organismo fis- calizador. Em 1833, a Inglaterra publicou a primeira legislação, real- mente, eficiente na proteção do trabalhador sob o título de “Factor- yAct” (Lei da Fábrica), que tinha como principais itens as seguintes regras estatutárias: proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos; restrição das horas trabalhadas por menores a 12 horas por dia e 69 horas por semana; obrigatoriedades de escolas nas fábricas para trabalhadores menores que 13 anos; determinação da idade mínima para o trabalhador de “9 anos”; cuidado com o desenvolvimento físi- co correspondente à idade cronológica. No início do século XX, com a expansão e consolidação do processo industrial e seus métodos de produção (taylorismo e o fordismo) e a transnacionalização da economia, surgiu a necessidade de adoção de medidas comuns como regulamentação e organização do pro- cesso de trabalho que uniformizassem os países produtores de bens industrializados. Nesse cenário, em 1919 é criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, em suas primeiras reuniões, reconhecia a existência de doenças profissionais, o que mudou, acen- tuadamente, o ritmo e o enfoque das normas e práticas de proteção à saúde dos trabalhadores, sendo, até hoje, a grande referência inter- nacional sobre o assunto. Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional 211 Em 1959 foi aprovada pela Conferência Internacional do Trabalho a Recomendação 112 com o título de “Recomendação para Serviços de Saúde Ocupacional”, considerada o primeiro instrumento norma- tivo de âmbito internacional. A Recomendação aborda aspectos que incluem sua definição, métodos de aplicação, organização dos Servi- ços, suas funções, pessoal, instalações e meios de ação. A Recomendação 112 dedica-se aos serviços de saúde ocupacional, definidos como serviços médicos instalados em um local de trabalho ou em suas proximidades, com as seguintes finalidades: proteger o trabalhador contra qualquer risco à sua saúde que decorra do traba- lho ou das condições em que ele é cumprido; concorrer para o ajus- tamento físico e mental do trabalhador a suas atividades na empresa, através da adaptação do trabalho ao homem e pela colocação deste em setor que atenda às suas aptidões; contribuir para o estabeleci- mento e manutenção do mais alto grau possível de bem-estar físico e mental dos trabalhadores. No Brasil, o mesmo fenômeno ocorreu, embora de forma mais tar- dia em relação aos países de economia central. Durante o período colonial e imperial (1500-1889), a maior parte do trabalho braçal era realizada por escravos (índios e negros) e homens livres pobres. A preocupação com suas condições de segurança e saúde no trabalho era pequena e essencialmente privada. Durante o governo de Getúlio Vargas, ocorreu a substituição do mo- delo de desenvolvimento baseado na agro exportação para aquele baseado na indústria. Esse modelo tinha forte presença do Estado tutelando todas as relações trabalhistas e, como consequência, houve a criação em 1931, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A esse ministério se vinculou o Departamento Nacional do Traba- lho, criado em 1932. Nesse mesmo ano, foram criadas as Inspetorias Regionais de Higiene e Segurança do Trabalho para desempenhar, nos Estados, as atribui- Medicina Ambulatorial IV 212 ções do Departamento Nacional do Trabalho, com competência para coordenar, orientar, controlar e supervisionar as atividades relacio- nadas à segurança e à medicina do trabalho. A fiscalização do cum- primento dos preceitos legais e regulamentares em todo território nacional ficou a cargo dessas inspetorias. Em 1934, foi editado o Decreto no 24.637, prevendo proteção e in- denização para alguns tipos de acidentes profissionais e em 1937, era ratificada a Convenção de Genebra sobre moléstias passíveis de indenização. As leis disciplinadoras das relações trabalhistas, torna- ram-se muitas e originaram um sistema fragmentado e falho. Cada profissão tinha uma lei própria, o que prejudicava muitas outras pro- fissões que ficavam fora da proteção legal. Inicialmente esparsa, a legislação trabalhista foi ampliada no Gover- no Vargas (1930-1945), com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), instituída pelo Decreto-Lei n 5.452, de 1º de maio de 1943. Esse decreto agrupou e sistematizou as leis trabalhistas em um só documento, acrescentando-se, ainda, inúmeras e importantes inova- ções. O art. 154 e seguintes da CLT tratava dos problemas da saúde do trabalhador, já sob o título de Higiene e Segurança do Trabalho. O Brasil, na condição de país colonizado e com um desenvolvimen- to tecnológico tardio, tinha sua economia baseada na mão de obra escrava e agrícola. A preocupação com a saúde do trabalhador só aconteceu após o surgimento de epidemias como a febre amarela, a cólera e a peste que mataram dezenas de trabalhadores, ocasionando prejuízos para a economia da época. Dentro da linha autoritária, com tendências fascistas que, então, de- tinha o poder, essa legislação buscou manter as demandas sociais e trabalhistas sob o controle do Estado, inclusive com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 26 de novembro de 1930. Boa parte dessa legislação original foi modificada, poste- riormente, inclusive pela Constituição da República Federativa do Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional 213 Brasil (CRFB), de 10 de outubro de 1988. Porém, muitos dos seus princípios e instituições continuam em vigor, tais como os conceitos de empregador e empregado, as características do vínculo emprega- tício e do contrato de trabalho, a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, entre outros. No final da década de 70, surgiram dois movimentos no campo da saúde com vertentes distintas. O primeiro, chamado Movimento da Reforma Sanitária, foi desencadeado pela precariedade dos servi- ços públicos de saúde e tinha como objetivo enfrentar a questão da saúde nas dimensões técnicas, políticas, econômicas e sociais assim como a implantação de um serviço único de saúde, com universa- lização da assistência médico-sanitária. O segundo foi o Movimen- to Sindical que introduziu o tema saúde nas pautas de discussão e reivindicação, o que levou à criação, ainda, em 1978, da Comissão Intersindical de Saúde e Trabalho. Essa comissão, posteriormente, se transformaria no Departamento Intersindical de Estudos e Pes- quisas de Saúde e dos Ambientes do Trabalho (DIESAT), que teria importante papel ao subsidiar os sindicatos na discussão de assun- tos ligados à saúde e trabalho, tentando superar o assistencialismo herdadodo Estado Novo. No ano de 1978, o país havia sido recordista mundial em número de acidentes decorrentes das más condições do trabalho e da ausência de uma política preventiva eficiente. A partir desse momento, tra- balhadores, empresários e governo passaram a reunir esforços para reverter tal quadro adverso. Surge, assim, a partir do início da década de 1980, o Programa de Saúde do Trabalhador, com valores oriundos da reforma sanitária e dos núcleos de medicina preventiva. Contribuíram para as bases ideológicas desse Programa a VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, evento que marcou os princípios filosóficos do Sistema Ú- nico de Saúde (SUS). A I Conferência Nacional de Saúde do Tra- Medicina Ambulatorial IV 214 balhador, realizada no mesmo ano, reuniu sindicalistas, técnicos da área de saúde e de outras afins, universidades e comunidade em ge- ral, para lançar as bases para esse novo modelo. A Lei nº 6.514, de 22/12/77, alterou o Capítulo V, do Título II, da CLT, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. E, a Portaria nº 3.214, de 08/06/78, aprovou as Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho (NR). Essas Normas que, embora tenham sido trazidas pela Portaria nº 3.214/78 em vigor até hoje, têm sido regu- larmente alteradas ao longo do tempo por diversas Portarias. Além dessas alterações nas NR já existentes, houve o incremento de novas normas regulamentadoras e a revogação de uma das NR (NR-27) que estava entre as que originalmente foram publicadas. Grandes marcos históricos conhecidos sobre saúde e segurança no trabalho aconteceram com a promulgação da Constituição de 1988. A Constituição Federal e a Lei Orgânica da Saúde possuem, em seus escopos, determinações para a saúde do trabalhador. Com a Consti- tuição Federal, as deliberações acerca da saúde do trabalhador foram formalizadas, iniciando uma interlocução com a sociedade de forma mais efetiva. Além disso, sua promulgação determinou que as polí- ticas sociais e econômicas desenvolvessem ações e serviços públicos de modo a integrarem uma rede regionalizada e hierarquizada para redução dos agravos à saúde. Por meio dessa Constituição, o brasilei- ro tem a sua saúde assegurada pelas ações de promoção, proteção e recuperação de maneira universal e igualitária. A Constituição Federal de 1988 criou, também, o Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentado pelas Leis nos 8.080/90 e 8.142/90. Esse sistema é pautado nos princípios da descentralização, universalidade (acesso a toda a população), equidade (igualdade de direitos a to- dos) e participação dos cidadãos, prevendo a integralidade como um modelo de atenção que prioriza as ações preventivas e coletivas. Ele assegura a assistência à recuperação e reabilitação dos trabalhadores Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional 215 vítimas de acidentes de trabalho ou portador de doenças profissio- nais e laborais. Essa normativa estabelece que o trabalhador tenha o direito de ser informado sobre os riscos e doenças associadas ao tra- balho, e que ele participe da normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do trabalhador em instituições públicas e privadas, dentre outras garantias, a fim de evitar acidentes. O estatuto do Servidor Público Federal, previsto na Lei 8.112/90, traz algumas disposições sobre a segurança e saúde no trabalho, aplicável ao serviço público. Entretanto a questão dos adicionais e gratifica- ções ocupacionais são o foco do tratamento legislativo. Além da lei 8.112/90, tratam da segurança e saúde no trabalho a lei 1.234/50 que confere direitos e vantagens a servidores que operam com Raios X e substâncias radioativas e a lei 8.270/91 que, em seu artigo 12, amplia a disciplina legal sobre o tema dos adicionais e gratificações ocupa- cionais. Por fim, há, ainda, o Decreto-Lei n.º 1.873/1981 que dispõe suscintamente sobre a questão dos adicionais de insalubridade e pe- riculosidade nos seguintes termos: “Art. 1º - Os adicionais de insalu- bridade e de periculosidade serão concedidos aos servidores públi- cos federais nas condições disciplinadas pela legislação trabalhista”. O controle da saúde dos trabalhadores da área da saúde, por exem- plo, é obrigatório em todo serviço de saúde, sendo instituído o Pro- grama de Controle Médico de Saúde Ocupacional, de acordo com os riscos a que os trabalhadores se expõem, conforme estabelecido pela NR-7, 29 de dezembro de 1994, atualizada em 2013. Esse pro- grama deve ter articulação com todas as normas regulamentadoras, em especial, com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais da NR-9, 08 de junho de 1978, atualizada em 2016, sendo o SESMT o responsável pelos dois programas. Atualmente existem 36 Normas Regulamentadoras que tratam, dire- tamente, da saúde e segurança no trabalho, tendo resultados imedia- tos na quantidade de acidentados. Medicina Ambulatorial IV 216 As complexidades hoje existentes na economia globalizada e no pro- cesso produtivo dela advindo, a par de acarretarem o incremento tecnológico, o aumento dos níveis de bens econômicos gerados, a competitividade empresarial e a qualificação profissional em geral, trazem consigo várias preocupações, dentre as quais a relativa à pro- teção do trabalhador no meio ambiente em que executa seu trabalho. O comprometimento da empresa com seu empregado, hoje, verda- deiro ativo patrimonial, deve ser valorizado pelo empregador. Isso é um imperativo necessário a qualquer organização séria para que se mantenha no mercado. Isso porque não mais se aceitam competi- dores que não respeitem minimamente os direitos fundamentais da pessoa humana. Certamente, em um mercado globalizado e exigen- te, não há mais espaço ao empresário que trata seu trabalhador como algo descartável. A primazia dos meios de produção em detrimento da própria saúde humana é fato que vem sendo experimentado ao longo da história da sociedade moderna. Porém é possível conciliar economia e saúde no trabalho. As doenças, aparentemente, modernas (stress, neuroses e as lesões por esforços repetitivos), já há séculos vem sendo diag- nosticas. Nos dias de hoje, embora as empresas tenham se adaptado e imple- mentado normas de segurança e medicina do trabalho, o índice de doenças e acidentes ainda são altíssimos. Embora a globalização te- nha gerado benefícios, trouxe consequências para os trabalhadores que, muitas vezes, são obrigados a ingressarem em um mercado de trabalho informal, sem qualquer amparo e normas protetivas traba- lhistas, tornando-os vítimas de doenças e acidentes profissionais sem amparo do seguro social. A verdade é que nos últimos vinte anos, ocorreram no Brasil mais de 25 milhões de acidentes de trabalho, com um milhão de seque- las permanentes e 86 mil óbitos. Isto mostra que as tentativas passa- Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional 217 das, através de leis, decretos, normas e procedimentos relacionados à saúde e segurança do trabalhador, ainda não alcançaram os seus objetivos. Porém o empregador, nos últimos anos, passou a preocu- par-se mais com a segurança, devido aos custos diretos e indiretos que um acidente pode representar para sua empresa. Essa visão vem se desenvolvendo de forma gradativa e tende a se expandir com os novos conceitos que estão surgindo, relacionando a segurança com a qualidade e a produtividade. Propostas para construir um Brasil moderno e competitivo, com me- nor número de acidentes e doenças de trabalho, com progresso social na agricultura, na indústria, no comércio e nos serviços, devem ser apoiadas. Para isso deve haver a conjunção de esforços de todos os setores da sociedade e a conscientização na aplicação de programas de saúde e segurança no trabalho. Trabalhador saudável e qualificado representa produtividade no Mercado globalizado. REFERÊNCIAS ALMEIDA, J.C.; LIMA, I.A. A segurança e saúde no trabalho no regime CLT e no regime estatutário: uma abordagem no planejamento governamental comparando o temanos dois regimes. Revista bras. Planej. Desenv, Curitiba, v. 7, n. 1, p. 2-28, jan/abr. 2018. ARAÚJO, M.F.A. A evolução da segurança do trabalho em uma construtora de médio porte em Maringá, PR – um histórico de 10 anos. UNICESUMAR - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. P.5-35. BITENCOURT, C.L.; QUELHAS, O.L.G. Histórico da evolução dos conceitos de segurança. Niteroi – RJ, p. 1-6, 2019. FERREIRA, L.S.; PEIXOTO, N.H. Histórico da segurança e saúde do trabalho. Segurança do Trabalho I. Santa Maria – RS, p. 17-25, 2012. GOMEZ, C.M.; VASCOCELLOS, L.C.F; MACHADO, J.M.H. Saúde do trabalhador: aspectos históricos, avanços e desafios no Sistema Único de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, n. 23, p. 1963-1970, 2018. JACKSON FILHO, J. M. et al. Da segurança e medicina do trabalho à Saúde do Trabalhador: história e desafios da RevistaBrasileira de SaúdeOcupacional. Ciência&SaúdeColetiva, n. 20, P. 2041-2051, 2015. Medicina Ambulatorial IV 218 JACKSON FILHO, José Marçal et al. Desafios para a intervenção em saúde do trabalhador. Rev. bras. saúdeocup, São Paulo , v. 43, n. 1, e13s, 2018 . JAIRNILSON, P.; TRAVASSOS, C.; ALMEIDA, C; BAHIA, L.; MACINKO, J. O sistema de saúdebrasileiro: história, avanços e desafios. Saúde no Brasil, p. 1-21, 2015 MANUAIS DE LEGISLAÇÃO, SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO. Ed. Atlas, 47ª Edição. São Paulo, 2019. MENDES, J. M. R.; WÜNSCH, D. S; MACHADO, F. K. S.; MARTINS, J.; GIONGO, C. R. Saúde do trabalhador: desafios na efetivação do direito à saúde. Argumentum, Vitória, v. 7, n. 2, p. 194-207, jul/dez. 2015. MENDES, René. Patologia do trabalho. 3 ed. São Paulo: Atheneu, p. 2076, 2013. MENDONÇA, G.S. et al. Evolução histórica da saúde ocupacional. Revista Científica Multidisciplinar das Faculdades São José. Rio de Janeiro, v. 11, n. 1, p. 7-13, 2018. NEVES, Z.; TIPPLE, A.; MENDONÇA, K.; SOUZA, A.; PEREIRA, M. Legislações e recomendações brasileiras relacionadas à saúde e segurança ocupacional dos trabalhadores da saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 19, 28 nov. 2017. PEIXOTO, N.H. Histórico da segurança e saúde do trabalho. Segurança do Trabalho. Santa Maria – RS, p. 17-25, 2011. PEREIRA, A.D. Tratado de segurança e saúde ocupacional: aspectos técnicos e jurídicos. Saraiva- São Paulo, v.1(NR1 a NR6), Ed.3, 2015. PEREIRA, V.T. A relevância da prevenção do acidente de trabalho para o crescimento organizacional. Universidade da Amazônia. Belém, p. 7-10, 2001. RODRIGUEZ, O. P. Prevenção de acidentes: saúde do trabalhador. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, São Paulo, SP, n. 5, p. 105-114, 2010. SANTANA, V.S.; SILVA, J.M. Os 20 anos da saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde do Brasil: limites, avanços e desafios. Secretaria de vigilância em saúde. Rio Grande do Sul. P. 1-30, 2018. SANTOS, A.R.M. O ministério do trabalho e emprego e saúde e segurança no trabalho. Saúde e segurança no trabalho no Brasil: aspectos institucionais, sistemas de informação e indicadores. São Paulo, ed. 2, p. 21-24, 2012 SILVA, F.S.; PAULA, V.G.; NOGUEIRA, J.A. A Evolução Histórica da Segurança do Trabalho na Mineração no Brasil. Revista Pensar Engenharia, v.5, n.2, p. 1-12, 2017. SILVEIRA, A. L. da; MERLO, Á. R. C. Políticas Públicas em Saúde do Trabalhador: campo prático e de disputa simbólica. Estudos e Pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 877-894, dez. 2017. Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional 219 SIMÃO, L. B. G. Gestão de segurança e medicina do trabalho: Normas regulamentadoras, fatoracidentário de prevenção e também as novas regras do e-social. Cenofisco, ed. 5, p. 646, 2015. TAVARES, C.R.G. Introdução à Segurança do Trabalho. Segurança do Trabalho I. Curso Técnico em Segurança do Trabalho. Rio Grande do Norte, p. 8-16, 2009. VEIGA, João Paulo Cândia et al. Padrões de saúde e segurança no trabalho e extrativismo: o caso de comunidades rurais da Amazônia brasileira. Saúde e Sociedade. São Paulo, v. 26, n. 3, p. 774-785, Set. 2017. WÜNSCH FILHO, V. Perfil Epidemiológico dos Trabalhadores. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho. Belo Horizonte,. 2, n. 2, p. 103-117, 2015. 220 Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 221 Capítulo 18 Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato Fernanda Lima Fernandes1 Lídia Lacerda Guimarães1 Stefânia Rosse1 Emanuelle Ferreira Xavier2 INTRODUÇÃO A dermatite de contato (doravante DC), uma das dermato-ses mais comuns na prática clínica, é descrita como in-flamação cutânea com padrão polimórfico que, na fase aguda, é caracterizada por eritema e vesiculação e, na fase crônica, por ressecamento, liquenificação e fissuras. Essas lesões são resultantes da exposição a agentes exógenos que atuam como irriran- tes, desenvolvendo respostas por dano tissular direto ou mediadas por mecanismos imunológicos. Além disso, a dermatite de contato ainda pode ser classificada da seguinte forma: A) irritação subjetiva: reações idiossincráticas, com ardor fugaz, geralmente na face e, comumente, ocasionada por constituintes cosméticos; B) dermatite de contato irritativa aguda: resultante de uma exposi- ção a fortes irritantes ou agentes cáusticos; C) dermatite de contato irritativa crônica (cumulativa): ocorre após exposição repetitiva a irritantes menos intensos como detergen- 1Pneumologistas pediátricas pelo Hospital Infantil João Paulo II (FHEMIG) 2Residente de pneumologia pediátrica do Hospital Infantil João Paulo II (FHEMIG) Medicina Ambulatorial VI 222 tes, solventes orgânicos, sabões, ácidos fracos e álcalis, papel, pa- pelão e poeiras; D) dermatite de contato alérgica: envolve a sensibilização do siste- ma imune a um alérgeno com consequente dermatite ou exacer- bação de dermatite preexistente; E) dermatite de contato fototóxica, fotoalérgica e fotoagravada: al- guns alérgenos também são fotoalérgenos; F) dermatite de contato sistêmica (dermatite alérgica sistêmica): observada após a administração sistêmica de um produto quími- co, geralmente um medicamento, ao qual a sensibilização tópica ocorreu anteriormente; G) dermatite de contato por proteínas: resultado do manuseio re- petitivo de proteínas, geralmente alimentos, inicialmente, apre- senta sintomas e sinais urticariformes imediatos, mas, posterior- mente, evolui para uma reação dermatológica. Apesar desta classificação, na prática clínica, as dermatites de contato são classificadas em dermatite de contato irritativa (doravante DCI) ou dermatite de contato alérgica (doravante DCA). EPIDEMIOLOGIA A epidemiologia da DC é desconhecida sendo, muitas vezes, supe- restimada nos estudos de vigilância sobre dermatite ocupacional. No Reino Unido, a dermatite de contato é responsável por 4 a 7% das consultas dermatológicas. Embora a dermatite de contato irritante seja mais comum que a dermatite alérgica de contato, a dermatite alérgica de contato tem pior prognóstico, a menos que o alérgeno seja identificado e evitado. Já nos EUA, a DC acomete 15 a 20% da população em algum mo- mento da vida, é a terceira causa de consulta ao dermatologista e é responsável por cerca de 15 a 20% das doenças ocupacionais. De acordo com dados europeus, os principais agentes desencadeantes Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 223 da dermatite de contato são o níquel, as fragrâncias e o cobalto. O níquel é responsável por 14,5%, seguido por fragrâncias 3,7%, cobalto 2,2%. São esses os mais comumente identificados. Há estu- dos que mostram que a incidência anual da dermatite de contato irritativa e alérgica acomete cerca de 13 a 34 casos por 100.000 tra- balhadores. DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA A dermatite de contato alérgica é a apresentação de uma resposta de hipersensibilidade tardia mediada por células T a agentes exóge- nos. Os profissionais com maior risco de desenvolver dermatite de contato alérgica ocupacional são os da área da saúde, da indústria química, esteticistas e cabeleireiros,maquinistas e trabalhadores da construção civil. A DCA já foi considerada um distúrbio da população adulta, no en- tanto, hoje, é reconhecido que a sensibilização de contato começa na primeira infância devido a exposições, como vacinação, piercing, medicações tópicas e cosméticos. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA As lesões agudas da DCA consistem em placas eritêmato-escamosas endurecidas (figuras 1.a-c). Vesiculação e bolhas podem ser vistas em casos graves. Figura1.a: pápulas e placas discretas e confluentes, vermelhas, escamosas, chorosas e cheias de crosta. Figura 1.b: dermatite de contato alérgica subumbilical de fechos de metal em calças (alergia ao níquel). Figura 1.c: placas eritematosas e escamosas no dorso dos pés de um paciente com dermatite de contato alér- gica de sapato. Medicina Ambulatorial VI 224 Figuras 1 a-c: placas eritêmato-escamosas endurecidas Fonte: Uptodate, 2019. A exposição repetida ou continuada a alérgenos resulta em doen- ça crônica. A pele torna-se xerótica, escamosa e mais espessa como resultado de acantose, hiperceratose, edema e infiltração celular na derme. Liquenificação e fissuração podem se desenvolver mais tar- diamente. Se não tratada, a DCA pode evoluir de uma forma aguda para uma dermatite subaguda e, depois, eczematosa crônica. Dermatite crôni- ca pode afetar negativamente a qualidade de vida relacionada à saú- de de um indivíduo, particularmente no funcionamento social e no bem-estar psicológico. Evitar o alérgeno com sucesso pode resultar na minimização dos sintomas. HISTOPATOLOGIA DA DERMATITE DE CONTATO ALÉRGICA A pele é o maior órgão do corpo humano e possui a função de bar- reira. Entretanto, a depender de diversos fatores, pode ser susceptível a alguns agentes, como infecções, alergias e traumas. A propriedade de barreira da pele varia com a espessura a permeabilidade, o local anatômico, o meio ambiente e a capacidade de reação imunológica. O sistema imune cutâneo (doravante SIC) é formado pelo tecido lin- foide, associado cutâneo (doravante TLAC), a microvasculatura dér- mica (doravante MVD), o sistema imune dérmico (doravante SID) Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 225 e o sistema imune funcional cutâneo (doravante SIFC). O TLAC é formado por células de Langerhans, queratinócitos, células endo- teliais e linfonodos de drenagem, que são importantes na indução de imunidade e tolerância. A MVD contém células endoteliais, den- dríticas, monócitos, macrófagos, mastócitos e linfócitos T. É o local onde ocorre a reatividade e expansão de alterações imunológicas e inflamatórias da pele. O SIC engloba um complexo sistema de res- posta imune tanto celular quanto humoral. Na DCA aguda, a epiderme é de espessura normal, e o edema in- tercelular ocasiona a ruptura da adesão intercelular e formação de vesículas que são as características dominantes. Na DCA subaguda, há espongiose leve a moderada, acantose mo- derada (hiperplasia epidérmica por aumento da atividade mitótica dos queratinócitos) e um infiltrado linfo-histiocitário dérmico mais denso. As lesões crônicas podem apresentar acantose epidérmica proeminente com hiperqueratose e áreas de paraqueratose. A espon- giose pode estar presente focalmente, mas muitas vezes é mínima, e o infiltrado inflamatório é esparso. DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA A dermatite de contato por irritantes é uma resposta inflamatória localizada na pele em função de contato com agentes químicos ou físicos. A DCI resulta do efeito citotóxico direto dos irritantes e, dife- rentemente, da dermatite de contato alérgica, não é imunomediado. ADCI é um distúrbio multifatorial influenciado pelas propriedades físicas e químicas da substância irritante, fatores de suscetibilidade relacionados ao hospedeiro e fatores ambientais. As manifestações clínicas da DCI são semelhantes às de outras der- matites eczematosas, agudas ou crônicas, incluindo dermatite ató- pica e dermatite alérgica de contato. O rompimento da barreira epi- dérmica por oclusão ou irritantes químicos ou físicos, resultando em Medicina Ambulatorial VI 226 aumento da permeabilidade da pele e perda de água transepidérmica e redução do fator de hidratação natural é considerado o evento ini- cial da DCI. HISTOPATOLOGIA DA DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA Após a ruptura da barreira de proteção, há a liberação de citocinas pré-formadas, tais como interleucina (IL) -1-alfa, IL-1-beta, IL -6 e fator de necrose tumoral (doravante TNF). A IL-1-alfa e o TNF-alfa atuam como sinais primários para a liberação de quimiocinas pró- -inflamatórias. Além disso, o TNF-alfa induz a expressão da molécu- la de adesão intercelular 1 (ICAM-1) nos queratinócitos, que promo- vem a infiltração de leucócitos na epiderme. As características histológicas da dermatite de contato irritativa va- riam de acordo com o estágio e a gravidade das lesões cutâneas: DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA AGUDA A DCI aguda é caracterizada por espongiose leve, vesículas ou bo- lhas intra- epidérmicas e necrose de queratinócitos. Um infiltrado de células mononucleares perivasculares pode ser visto. Através da microscopia eletrônica pode-se visualizar um citoplasma conden- sado com filamentos de queratina agregados, vacúolos lipídicos e vesículas ligadas à membrana e núcleos picnóticos com cromatina condensada. DERMATITE DE CONTATO IRRITATIVA CRÔNICA A DCI crônica é caracterizada por hiperceratose, paraceratose, hi- pergranulose e acantose. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de DCA baseia-se em uma combinação de vários fatores: Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 227 A) características clínicas (morfologia, localização e sintomas) da erupção; B) história de exposição a um alérgeno sugestivo durante o traba- lho, hobbies ou atividades domésticas; C) resultados do patch test; D) exames sorológicos e/ou exame histopatológico; E) falta de recorrência após o tratamento empírico de se evitar o alérgeno suspeito. Já o diagnóstico de dermatite de contato irritativa baseia-se, na maio- ria dos casos, no achado clínico de uma dermatite localizada em um paciente com histórico de exposição a irritantes químicos ou físi- cos. São cruciais o exame completo da pele e histórico preciso para fazer o diagnóstico correto. O teste de contato é realizado na maioria dos pacientes para excluir a dermatite de contato alérgica. Em alguns casos, a biópsia da pele para exame histológico é necessária para excluir outras doenças da pele. A tabela 1, a seguir, demonstra as diferenças entre as dermatites de contato alérgica e irritativa Medicina Ambulatorial VI 228 Tabela 1 - Diferenças entre as dermatites de contato alérgica e irritativa Dermatite de contato alérgica Dermatite de contato irritativa Frequência 20% 80% Causas comuns Cosméticos Sais metálicos: níquel, cromo, cobalto, mercúrio Plantas Aditivos da borracha Resinas plásticas Resina (colofônio) Látex Medicamentos tópicos Água Sabões Detergentes Solventes Graxas Ácidos e álcalis Poeira Fibra de vidro Mecanismo Imunológico Tipo IV (linfócito T) Lesão direta queratinócitos Não imunológico Predisposição atópica Diminuída Aumentada Tempo de aparecimento das lesões após contato Algumas horas a 6 dias Alguns minutos até 48 horas Resolução clínica +/- 3 semanas Após 96 horas Tratamento Afastamento da causa Corticoide tópico/ sistêmico Anti- histamínico sistêmico Afastamento da causa Corticoide tópico/ sistêmico Anti- histamínico sistêmico TESTE CUTÂNEO DE CONTATO (PATCH TEST) O teste cutâneo de contato, criado em 1895, consiste em uma prova de provocação em que os sensibilizantes suspeitos são aplicados à pele do paciente, com o objetivo de reproduzir a dermatite no local da aplicação, caso o paciente seja sensibilizado às substâncias tes- tadas. Esse teste é considerado padrão-ouro no diagnóstico de der- Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 229 matite decontato alérgica e tem uma sensibilidade e especificidade entre 70% e 80%. Para a sua realização, utiliza-se uma bateria padrão, que inclui os alérgenos mais relevantes em uma determinada região geográfica, além da bateria de cosméticos e, se necessário, outros antígenos de acordo com a suspeita clínica. No Brasil, uma bateria foi padroniza- da, no ano de 2000, pelo Grupo Brasileiro de Estudo em Dermatite de Contato (GBEDC), uma vez que há diferenças em relação à posi- tividade para algumas substâncias em comparação às séries estran- geiras. O teste cutâneo de contato é indicado nos casos em que o processo inflamatório persiste apesar de se evitar o agente agressor e do uso do tratamento tópico adequado. No caso de dermatite de contato ir- ritativa, o teste de contato não é indicado, uma vez que é uma reação não imunologicamente mediada. Sempre que este teste for indicado, o paciente deve preencher e assi- nar um consentimento informado, onde constam as informações so- bre os eventos adversos associados, geralmente raros, e as alterações possíveis no caso do teste ser positivo. SITUAÇÕES QUE PODEM INTERFERIR NO RESULTADO DO TESTE DE CONTATO Algumas situações podem interferir no resultado do teste de con- tato, assim, é necessário orientar o paciente para que isso não ocor- ra. Deve-se evitar a realização do teste nas seguintes situações: enquanto a doença estiver ativa; se a área da aplicação tiver sido ex- posta ao sol nos últimos 15 dias da realização do teste; se tiver sido feita aplicação de corticosteroide tópico na região de aplicação nas últimas três semanas; se tiver sido feito o uso de imunossupressores e fototerapia e se tiver sido feito uso de corticosteroide sistêmico na dose equivalente ou superior a 20mg/dia. No caso uso de imu- Medicina Ambulatorial VI 230 nossupressores e fototerapia adiar a realização do teste por uma a duas semanas. No caso de prednisona, se o uso tiver sido em um período inferior a dez dias, aguardar sete dias para a realização do exame, Caso o uso tenha sido feito por mais de dez dias, aguardar 20 dias e, se tiver sido usado corticosteroide injetável, aguardar 30 dias para realizar o teste. MÉTODO DE REALIZAÇÃO DO TESTE CUTÂNEO DE CONTATO FECHADO O teste é montado sobre discos de material inerte de plástico (Finn Chamber®) ou de alumínio (Curatest®), aderidos em fita adesiva hi- poalergênica. No caso da Finn Chamber, que é a mais utilizada, o pesquisador deve pré-carregar os alérgenos individuais nos discos de teste, que, por sua vez, são montados em fita adesiva. Deve-se ter cui- dado para carregar a mesma quantidade de alérgeno em cada disco, sendo que a micropipetagem é a técnica ideal para minimizar essa variação. As datas de expiração dos alergênicos devem ser anotadas e os mesmos devem sempre ser armazenados conforme indicado na bula. Pode ser realizado, preferencialmente no dorso, ou em outros locais caso não seja possível fazer no dorso. (lateral do tórax, mem- bros superiores ou membros inferiores). Ao ser realizado, o paciente deve evitar molhar o local e evitar exercícios físicos (figura2). De acordo com o InternationalCotactDermatitisResearchGroup (ICDRGO), o teste deve ser removido após 48horas da aplicação do mesmo, momento no qual é feita a primeira leitura. A segunda lei- tura é feita 72 horas e/ou 96 horas após a aplicação do teste. Após a remoção do teste, o paciente pode molhar o local, evitando passar sabonete, além de poder retomar as atividades físicas. No caso de suspeita de sensibilização a metais, antibióticos, parafenilenodiami- na, acrilatos, anestésicos, mistura de lactonas e corticoides, podem ser efetuadas leituras tardias, até dez dias. Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 231 Figura2. Painéis de alérgenos colocados nas costas de um paciente passando por patch test Fonte:BURKEPER, Nicole M.ContactDermatitis, Patch Testing, andAllergenAvoidance. Science of Medicine, Dermatology. Missouri Medicine, July/August, 2015. CRITÉRIOS DE LEITURA E DE INTERPRETAÇÃO DO TESTE DE CONTATO Segundo o ICDRG, a interpretação do teste de contato é efetuada por um sistema de pontuação estandardizado, amplamente utilizado, como apresentado no quadro1 e na figura 3. Quadro 1. Sistema de pontuação do teste de contato - Reação negativa ? Reação duvidosa – eritema leve mal definido, sem edema + Reação positiva fraca – eritema mais edema, infiltração e raras pápulas + + Reação positiva forte – eritema, infiltração, pápulas, vesículas isoladas + + + Reação positiva muito forte – eritema, infiltração, pápulas, vesículas agrupadas RI Reação irritativa NT Não testado Medicina Ambulatorial VI 232 Figura 3: Graduação do teste de contato Fonte: Fonacier et al. ContactDermatitis: A PracticeParametere-Update 2015. J AllergyClinImmunolPract, volume 3. A ausência de resposta nas duas leituras significa teste negativo. Se a reação da segunda leitura for maior ou igual ao da primeira leitura, significa sensibilização à substância testada. Já se a reação da segun- da leitura for menos intensa que a da primeira leitura, a reação é negativa, sendo irritativa e não alérgica. É importante ressaltar que as reações falso-positiva e falso-negativa podem ocorrer. No caso de teste negativo, deve-se considerar as se- guintes possibilidades: o paciente não seguiu as recomendações, o alérgeno não estava presente na bateria testada, trata-se de fotossen- sibilização, baixa concentração do alérgeno no extrato. No caso de teste positivo, também são necessários alguns cuidados como fazer associação com a história clínica do paciente. Quando os testes apresentam diversas substâncias positivas (três ou mais subs- tâncias não relacionadas), torna-se necessário repetir o teste após três semanas. Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 233 A síndrome da pele excitada (dorso zangado) é a principal causa de reação falso-positiva do teste de contato. Ela ocorre quando reações positivas concomitantes do teste do contato produzem uma hiper- reatividade da pele em locais adjacentes ao do teste. Assim, pacientes com múltiplas reações fortes ao teste devem ser testados posterior- mente com um antígeno de cada vez. EFEITOS COLATERAIS DOS TESTES DE CONTATO Com a realização do teste de contato, o paciente pode apresentar os seguintes efeitos colaterais: Reação anafilactóide; irritação; sensibili- zação; discromias; granuloma; cicatrizes; infecção; pênfigos; erupção no local da dermatite de contato alérgica atual ou prévia. ORIENTAÇÕES APÓS O TESTE DE CONTATO O paciente deve receber as seguintes orientações: A) retornar se surgirem reações tardias; B) fazer acompanhamento médico por seis meses; C) folhetos informativos explicando nomes, fontes dos alérgenos, reações cruzadas com outras substâncias e substitutos alterna- tivos. VARIANTES DO TESTE DE CONTATO A) Teste cutâneo de contato aberto: Consiste na aplicação do alér- geno suspeito na parte superior do braço, sem curativo. Deve-se realizar a aplicação duas vezes por dia durante 2 dias. B) Teste do uso: O cosmético suspeito deve ser aplicado em região distante da lesão original, duas vezes ao dia durante 7 dias. No caso de reação, o teste deve ser interrompido. C) Fototeste: indicado na suspeita de dermatite de contato fo- toalérgica. Incialmente faz-se o patch test de forma duplicada e, após a primeira leitura, cobre-se um lado com filme opaco Medicina Ambulatorial VI 234 e realiza-se irradiação ultravioleta A no outro lado. Após isso, a segunda leitura é realizada em 96 horas e os resultados obti- dos das baterias irradiadas e não irradiadas são comparadas. A fotossensibilização é confirmada quando o lado irradiado tem reação mais intensa. POPULAÇÃO ESPECIAL REALIZAÇÃO DO TESTE DE CONTATO EM CRIANÇAS O teste cutâneo de contato pode ser realizado e continua a ser o padrão-ouro para o diagnóstico de dermatite de contato alérgica em crianças. As mesmas concentrações de testeusadas em adultos podem ser usadas nas crianças, no entanto, tem sido sugerido que em crianças muito jovens (<seis anos de idade), alérgenos como formaldeído, conservantes liberadores de formaldeído, mercapto- benzotiazol e tiuram devem ser diluídos em 50% e o dicromato de potássio diluído em 25%em petrolato, para evitar reações falso-po- sitivas irritantes. O Grupo Alemão de Dermatite de Contato (GCDG) recomenda que crianças menores de seis anos só devem realizar este teste se houver alto grau de suspeita clínica e, apenas, para o alérgeno sus- peito. Crianças maiores de 12 anos podem ser testadas conforme feito nos adultos. REALIZAÇÃO DO TESTE DE CONTATO DURANTE GRAVIDEZ E LACTAÇÃO Não há evidências de que o teste de contato durante a amamentação seja prejudicial. Também, não há evidência de que seja prejudicial durante a gestação, mas também não há dados de segurança dispo- níveis. Assim, só se deve realizá-lo quando necessário e após obter consentimento informado. Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato 235 REFERÊNCIAS ALCHORNE, Alice de Oliveira de Avelar; ALCHORNE, Maurício Mota de Avelar; SILVA, Marzia Macedo. Dermatite de contato. In: ROTTA Osmar. Guia de Dermatologia clínica, cirúrgica e cosmiátrica. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da UNIFESP-EPM. São Paulo: Editora Manole Ltda, 2008. p.195-203. BERSTEIN, David I. ContactDermatitis for thePracticingAllergist. J AllergyClinImmunolPract, [s.l.], volume 3, 2015. BURKEPER, Nicole M.ContactDermatitis, Patch Testing, andAllergenAvoidance. Science of Medicine, Dermatology, [s.l.], Missouri Medicine, 2015. BROD, Bruce; FOWLER, Joseph; CORONA, Rosamaria. Management of allergic contact dermatitis.Disponível em: https://www.uptodate.com/ contents/management-of-allergic-contact-dermatitis?search=dermatitis%20 c o n t a c t & s o u r c e = s e a r c h _ r e s u l t & s e l e c t e d T i t l e = 3 ~ 1 5 0 & u s a g e _ type=default&display_rank=3. Acesso em: 13 abr. 2019. FONACIER, Luz et al. ContactDermatitis: A PracticeParameterer-Update 2015. J AllergyClinImmunolPract, [s.l.], volume 3, 2015. FONACIER, Luz; NOOR, Irum. Contactdermatitisand patch testing for theallergist. Ann AllergyAsthmaImmunol, [s.l.], 2018. HABIF, Thomas P. Dermatite de Contato e teste Cutâneo de Contato. In: Dermatologia Clínica: guia colorido para diagnóstico e tratamento. Rio de janeiro: Editora Elsevier, 2012, p.130-153. JOHNSTON,GrahamA.et al. British AssociationofDermatologists’ guidelines for the management ofcontactdermatitis 2017. British JournalofDermatology,[s.l.], v. 176, n. 2, p. 317-329, fev. 2017. JOHANSEN, Jeanne D. et al. European Society of Contact Dermatitis guideline for diagnostic patch testing - recommendations on best practice. ContactDermatitis, [s.l.], v. 73, n. 4, p.195-221, jul. 2015. MARTINS, Luis Eduardo Agner Machado; REIS, Vitor Manoel Silva dos. Imunopatologia da dermatite de contato alérgica.In: SOLÉ et al. (orgs.)Tratado de Alergia e Imunologia Clínica. São Paulo: Editora Atheneu, 2011, p.399-412. MOTTA, Antônio A.; AUN, Marcelo V.; KALIL, Jorge.; GIAVINA-BIANCHI, Pedro. Dermatite de contato. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, Sao Paulo, v. 34, n. 3, p.73-82, jan. 2011. RAMIREZ, Faustine; CHREN, Mary-margaret; BOTTO, Nina. A reviewoftheimpactof patch testingonqualityoflife in allergiccontactdermatitis. JournalOf The American AcademyOfDermatology, [s.l.], v. 76, n. 5, p.1000-1004, maio 2017. Elsevier BV. Medicina Ambulatorial VI 236 ROSMANINHO, Isabel; MOREIRA, Ana; SILVA, José Pedro Moreira da. Dermatite de contacto: revisão da literatura. RevPortImunoalergologia, Lisboa,v. 24, n. 4, p. 197-209, dez. 2016. WATTS, Timothy J.; WATTS, Sophia; THURSFIELD, David. HAQUE,Rubaiyat. A Patch TestingInitiative for theInvestigationofAllergicContactDermatitis in a UK AllergyPractice: A RetrospectiveStudy. The JournalOfAllergyandClinicalImmunology. In Practice, [s.l.], v. 7, n. 1, p.89-95, jan. 2019. Elsevier BV. YIANNIAS, James; FOWLER, Joseph; CORONA, Rosamaria. Clinical features and diagnosis of allergic contact dermatitis. Uptodate, mar. 2019. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/clinical-features-and-diagnosis-of- allergic-contact dermatitis?search=dermatitis%20contact&source=search_ result&selectedTitle=4~150&usage_type=default&display_rank=4. Acesso em: 13 abr. 2019. História das Doenças Ocupacionais 237 Capítulo 19 História das Doenças Ocupacionais Amanda Duarte e Duarte1 Leticia Alves Carvalho¹ Thayla Brandão Duarte¹ Vanessa Miranda Borges¹ Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 INTRODUÇÃO A relação entre saúde, doença e trabalho existe desde a anti-guidade, mas apenas anos depois tornou-se foco de aten-ção e preocupação. Desde anos antes de Cristo até a Idade Média, o trabalho escravo e regime servil eram predomi- nantes, não havendo preocupação específica com os trabalhadores, além de, na época, não existir uma teoria fundamentada ou lei que modificasse a vida dos que trabalhavam. Ainda que esse conceito de doença ocupacional só viesse à tona séculos depois, alguma relações entre doenças associadas ao trabalho eram reconhecidas. A PATOLOGIA DO TRABALHO NO MUNDO No antigo Egito, evidenciavam-se doenças associadas ao trabalho. São descritas nos papiros de Sellier e Ebers, tratados médicos egíp- 1 Acadêmicas do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga, MG. 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 238 cios antigos, lesões de braços e mãos em pedreiros, além de der- matites pruriginosas laborais. Diante disso, em locais de trabalho como minas e pedreiras, construções de pirâmides e monumentos e em expedições à procura de cobre e turquesa havia atendimento médico organizado. A relação e importância do equilíbrio físico e mental do traba- lhador era reconhecida na época. Algumas dinastias davam dias de descanso a trabalhadores, concediam licença para eventos so- ciais, direito ao trabalhador de cuidar de algum enfermo da família quando necessário e acesso a pensão por invalidez de origem labo- ral. Ainda que não fossem regras ou leis, alguns patrões concediam esses direitos aos escravos. A preocupação com a saúde do trabalhador era evidente também em textos judaicos, como no Tamulde, no qual havia a proibição de que patrões desrespeitassem os hábitos culturais de sono e vigília de seus empregados. Em outros textos, nota-se considerações como a não submissão dos escravos a trabalhos exagerados por parte dos pa- trões, a necessidade de respeitar os trabalhadores como ser humano, o fornecimento de alimentos aos empregados, e o estabelecimento de um tempo limite para a servidão. Mesmo com essas evidências, a saúde do trabalhador não era tema de grande interesse dos impérios que reinavam, já que os trabalhos mais pesados ou de risco mais ele- vado eram destinados a pessoas, para eles, inferiores. Na Grécia clássica, também há evidências sobre a relação doença e trabalho. Hipócrates, entre V e IV a.C., ao escrever seus tratados re- lativos à saúde, como o Corpus Hippocraticum, dissertou sobre doen- ças relacionadas a trabalhos que envolviam pessoas que montavam a cavalo, pescadores, metalúrgicos, mineiros, tintureiros, agricultores, alfaiates, entre outras profissões. Artistas e alfaiates foram descritos pelo grego Titus Maccius Plautus como portadores de problemas posturais, em função da postura que aderiam durante o trabalho. História das Doenças Ocupacionais 239 Em Roma, alguns estudiosos relataram o surgimentos de várias en- fermidades, relacionadas a funções laborais: veias varicosas em reli-