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© Dejan Gráfica e Editora - 2019 PRODUÇÃO GRÁFICA Dejan Gráfica e Editora CAPA/PROJETO GRÁFICO Sanzio Mendonça Henriques CORREÇÃO DE PORTUGUÊS Maria das Graças Gonçalves Pinho Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do editor. NOTA AO LEITOR A comissão Organizadora avaliou o mérito e relevância acadêmica dos trabalhos, sendo a correção orto- gráfica e gramatical de inteira responsabilidade dos autores. Dejan Gráfica e Editora Avenida Cula Mangabeira, 103 -Lj 02 Centro - Montes Claros/MG - CEP: 39401-001 Catalogação na fonte: Angélica Renata de Castro – CRB6/2746 Bibliotecária Documentalista M489 Medicina ambulatorial VI: com ênfase em medicina do trabalho / organizadores Tatiliana Bacelar Kashiwabara, et al. - Montes Claros: Dejan Gráfica e Editora , 2019. 462 p. ; 14 x 21 cm. Vários organizadores ISBN: 978-86-62090-19-6 1. Clínica médica – Atenção primária. 2. Medicina do trabalho. I. Kashiwabara, Tatiliana Bacelar. II. Título. CDD 616.07 Organizadores: Tatiliana Bacelar Kashiwabara Lamara Laguardia Valente Rocha Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima Ester Viana Carvalho Nelson Barros Ysadora Mayume Bacelar Kashiwabara Yutaka Bacelar Kashiwabara Yoriko Bacelar Kashiwabara Ludmila Messias Rocha Kashiwabara 5 APRESENTAÇÃO Em primeiro lugar, uma palavra a enaltecer os autores, estu-dantes e professores, por este excelente trabalho de divul-gação de ciência e conhecimento, em particular num tema tão relevante quanto o da saúde ocupacional e da medicina do trabalho. O impacto dos determinantes ambientais associados à atividade la- boral na saúde do trabalhador pode ser particularmente grave, quan- do não se promovem condições capazes de garantir níveis mínimos de prevenção da doença e acidentes no local de trabalho. Quando a prevenção falha, o diagnóstico é fundamental, não só na procura da solução que minimize o sofrimento ou a incapacidade do trabalhador afetado, como também na identificação do determi- nante ambiental ou comportamental responsável pela situação, o que torna o papel da medicina do trabalho crucial neste contexto. A saúde ambiental desempenha, enquanto área científica responsá- vel pela pesquisa da influência dos determinantes ambientais na saú- de humana, um papel fundamental na área da saúde ocupacional e da medicina do trabalho. É com muita honra que faço apresentação da 6º Edição do livro Me- dicina Ambulatorial com ênfase em medicina do trabalho onde, de forma prática, mas bem direcionada e aprofundada, são tocados di- versos temas importantes para a saúde e risco ocupacional, desde a legislação aplicável, até à prevenção, passando pelos análise e apre- sentação de estudos de revisão de algumas patologias relevantes na área da saúde ocupacional. Nelson Barros, PhD, MSc Professor Associado da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Fernando Pessoa (UFP), Porto - Portugal - Coordenador do Programa de Doutoramento em Ecologia e Saúde Am- biental Membro da equipe de coordenação da Licenciatura em Gestão da Qualidade, Ambiente e Segurança Membro do FP ENAS - Unidade de Investigação UFP em Energia, Ambiente e Saúde Ambiental - Coordenador do Grupo de Investigação 3ERL 7 PREFÁCIO Medicina Ambulatorial VI, com ênfase em medicina do trabalho (6ª edição), é, além do mais, um manual di-dático de ensino e de aprendizagem sobre patogenias provocadas ou associadas ao trabalho humano, na forma como o conhecemos, após a revolução industrial, iniciada no séc. XVIII e fortemente acelerada pelo desenvolvimento das tec- nologias da produção, da logística e distribuição, dos transportes e comunicações. Obra importante, por isso, para docentes e estudantes de medicina e ainda para especialistas do que também se designa por saúde ocupa- cional e riscos laborais, dado se assumir, desde o primeiro dos seus trinta e cinco capítulos, como uma espécie de tratado etiológico das várias patologias causadas pelo trabalho e como um compêndio de prevenção, de terapêutica e de ajudas técnicas de protecção indi- vidual. É, do mesmo modo, um livro que estimula o leitor atento como eu, que não sou profissional de saúde, a partir dele para uma reflexão panorâmica da história da civilização humana, marcada, desde os seus primórdios, pela relação pragmática e inteligente que as criaturas da nossa ancestralidade comum, sucedâneas do pri- mata australopiteco instintivo, passaram a ter com a Natureza, sua Mãe, para a satisfação das necessidades básicas: alimentação ade- quada à mastigação e deglutição baseada numa articulação tempo- ro-mandibular diferente da ruminação precedente; defesa das cria- 8 turas animais, movidas pelo instinto, ainda não domesticadas para o convívio com os humanos; novas formas de habitação, exigidas pela mudança do habitat e de adaptação climatológica duma nova morfologia corporal. É a satisfação dessas necessidades de sobrevivência, nascidas do processo de evolução desta nova espécie, dita humana, miticamente expulsa do paraíso e obrigada a ganhar o pão com o suor do rosto, que lhe aguça o engenho (in-genium, étimo latino, onde se filia ori- ginalmente o gênio ou a genica ou a força interior ou o (en)ergon (na sua primitiva aceção filosófica, antes de se transformar no séc.XIX, em categorema da Física), como lhe chamavam os gregos, propul- sionador da imaginação criadora e do talento transformador do caos em logos, dos elementos geológicos do seu habitat em objetos úteis, em utensílios de fazer ou em comodidades de lazer). Perdura até hoje na língua portuguesa esse iniciático axioma de que é a ne- cessidade que aguça o engenho, como origem do trabalho. A gênese do trabalho é, verdadeiramente, o incipit das civilizações, na sua diversidade geográfica e cultural, estando a história dessas civilizações vinculada à evolução filosófica, política, tecnológica e económica do trabalho ou, se quisermos, da transformação do tem- po abstrato em tempo mensurável e do espaço em territórios hu- manos, que, gentílicos, primeiro, clânicos e tribais, depois, antes de ganharem uma dimensão espiritual e antropológica de comunida- de, cujo sentimento de pertença à terra, de terroir, de telurismo, foi sendo degradado pela industrialização do mundo , se transforma- ram em sociedade como espaço outro de relacionamento pessoal e de relações laborais. Os camponeses, artesãos e mestres de ofícios vão dar lugar aos tra- balhadores, categoria sociológica determinante para a economia in- dustrial e para a evolução doutrinária e funcional do Estado. Não é este, porém, o momento nem o espaço para dissertar sobre essa 9 evolução, louvo-me, por isso, e aconselho também a leitura da obra de Georges Lefranc, um ensaísta francês, que escreveu, em 1970, a Histoire du travail et des travailleurs, publicada em tradução portu- guesa, em 1988. Foi justamente em Lefranc que aprendi que a primeira notícia que se tem da causalidade negativa do trabalho sobre a saúde remon- ta ao antigo Império do Egito e apareceu num escrito intitulado Sátira das profissões, datado de mais de vinte séculos antes da era cristã. Entretanto, foi preciso esperar até ao séc. XVI, em pleno de- senvolvimento da indústria extrativa de mineração, para se conhe- cer uma descrição das doenças e acidentes mais frequentes entre os trabalhadores das minas e uma formulação da sua prevenção. Como referencia Carlos da Silva Santos, especialista em medicina do trabalho, coube ao médico da cidade mineira de Joachimsthal, na Bohémia, de seu nome Georgius Agricola, fazer essa descrição e sugestões preventivas, em 12 volumes de uma obra intitulada Re Metallica, contemporânea da primeira monografia sobre doenças profissionais, nomeadamente a sillicosis, de mineiros e de fundido- res de metais, publicada, em 1567, pelo seu colega, suíço-alemão, Philippus Aureolus von Hoenheim, que adotou o pseudónimo Para- celsus, por que ficou conhecido nahistória da medicina ocidental e da farmacologia e toxicologia, a que se dedicou com competência ao mesmo tempo que militava na Fraternidade Rosacruz e se entregava a práticas esotéricas e homeopáticas. O pioneirismo dessas descrições permitiu ao italiano Bernardino Ramazini, médico e professor de medicina na Universidade de Pá- dua, publicar em 1700 o livro De Morbis Artificum Diatriba, onde apresenta o primeiro estudo sistemático das doenças profissionais de então com propostas para alteração das condições do trabalho. Estudos igualmente importantes, e mesmo decisivos, para a cons- trução e o aprofundamento da disciplina de medicina do trabalho, foram os dos médicos ingleses, Percival Pott, fundador da ortopedia 10 e o primeiro a vincular o câncer a carcinógenos do meio ambiente, como nos casos por ele estudados dos limpa-chaminés de Londres, que desenvolviam câncer do escroto; e Thomas Percival, renovador dos estudos de medicina, autor do primeiro código moderno de éti- ca médica e dum estudo da epidemia do tifo nas fábricas têxteis de Manchester. Este mesmo público-alvo, mas na França, foi objeto do estudo do médico e epidemiologista francês, Louis René Villermé, sobre o estado físico e moral dos operários. Os estudos de campo de Thomas Percival, chamando a atenção para a “condição operária”, e a consciência social de patrões filantropos, como Robert Owen, de industriais, como Robert Peel, de filósofos, escritores e políticos liberais, levaram o Parlamento inglês, como anota Carlos da Silva Santos, a aprovar a primeira legislação laboral – a Lei da Moral e dos Aprendizes, de 1802 - relacionada com a saúde dos trabalhadores. A medicina do trabalho conquistava, em defini- tivo, o seu terreno, e, a partir do séc. XIX até à actualidade, ganhou a notoriedade que lhe é devida, essencial para um desenvolvimento económico e social sustentável, suportado num trabalho mais justo, mais seguro, mais dignificante, seja ainda muito braçal seja automa- tizado e digital, e portanto mais intelectual, como passou a ocorrer, a partir do último quartel do séc. XX até aos nossos dias. A evolução das condições e dos meios tecnológicos da evolução do trabalho e das economias dele resultantes diversificou e gerou, como é óbvio, novas patologias laborais, designadamente do foro mental, como, com antecipação, preconizou Christophe Dejours, especialista francês em medicina do trabalho e também psiquiatra e psicanalista, conhecido como o pai da “psicodinâmica do trabalho”, conceito que desenvolveu na sua obra Travail, usure mentale – De la psychopathologie à la psychodynamique du travail, publicada em 1980. Estávamos ainda bastante longe, e daí o pioneirismo de De- jours, da catalogação daquela que é hoje, a nível mundial, uma das patologias do trabalho mais preocupantes, qualquer que seja o ân- 11 gulo de abordagem, político, económico e social, em que a conside- remos – a patologia também referenciada pela equipe organizadora desta obra sobre medicina do trabalho, encabeçada pela médica e Professora Tatiliana Bacelar Kashiwabara, pós-doutorada pela nos- sa universidade, e da qual faz parte também o Professor Nelson Barros, coordenador do doutorado em Ecologia e Saúde Ambiental da Universidade Fernando Pessoa. Refiro-me à patologia que, na Europa, designamos de Burn-out e que nesta obra colectiva, que me deram a honra de prefaciar, surge identificada como Bour-out. O trabalho tem de perder definitivamente o anátema bíblico de pu- nição divina pelo desvio comportamental humano que, metafori- camente, expulsou a humanidade do mítico Jardim do Éden, con- denando-a ao sofrimento feito de suor, sangue e lágrimas, anátema que ficou inscrito na etimologia latina que “justificou” por séculos a escravatura, a servidão e a vilania daqueles que o escritor romano, Terêncio Plauto, na sua obra Asinaria, vituperou na sentença “lupus esta homo homini lupus” (o homem é o lobo do próprio homem), popularizada pelo político e filósofo inglês seiscentista, Thomas Hobbes. É pelo trabalho que o homem se dignifica e engrandece a sua condição humana, porque é ele o fermento que faz levedar e crescer a economia. Sem este fermento, que a ciência e o conheci- mento mais qualificam e potenciam, o capital é incapaz de gerar per se o desenvolvimento e a riqueza das sociedades. Urge, por isso, que o capital se assuma como um meio para a redução das assimetrias sociais e não para as agravar, remunerando com justiça o trabalho que o faz medrar, contribuindo, desse modo, para a preservação da segurança social e da saúde física e mental de toda a sociedade e para a prevenção das patogenias provocadas por um mau relaciona- mento individual dos trabalhadores com o trabalho. Os beneficiários , acadêmicos, docentes, profissionais da medicina do trabalho e da saúde ocupacional e gerenciadores do capital hu- mano das empresas e das organizações, apreciarão seguramente a 12 qualidade desta obra, que é também um compêndio de acuidade clínica, preventiva e terapêutica, alicerçado nas competências dos vários autores, que para ela concorreram, abonadas em bibliografia adrede seleccionada e de evidente actualidade. Estou certo de que a leitura, o estudo e o uso da obra confirmarão o proveito que eu dela tirei, situando-a no excurso histórico que este prefácio me permitiu fazer, para sublinhar o papel insubstituível da medicina do trabalho para a saúde das sociedades democráticas e para louvar aqueles profissionais que a ela se dedicam, neste caso, no Brasil. Porto (Portugal), 26 de outubro de 2019. Salvato Trigo Reitor da Universidade Fernando Pessoa 13 DEDICATÓRIA Dedico este livro a todos os autores e organizadores desta obra. Foi uma grande honra contar com vocês na elaboração, pois é o fruto do nosso desejo de utilizar o conhecimento científico para melhorar a vida dos nossos trabalhadores. Tatiliana Bacelar kashiwabara Professora titular de pediatria da faculdade de medicina de Ipatinga; Doutora em gestão pela UTAD; Doutora em administração pela UFRJ; Pós doutorado pela UFP - Porto Portugal. 14 15 Sumário APRESENTAÇÃO ..............................................................................................5 PREFÁCIO ...........................................................................................................7 DEDICATÓRIA.................................................................................................13 1. Acidente de Trabalho................................................................................ 17 2. Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais .............................................................................................29 3. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica .............43 4. Benefícios da Atividade Física na Saúde e Qualidade de Vida do Trabalhador ................................................................................................ 51 5. CIPA-Comissão Interna de Prevenção de Acidentes ...........................65 6. Controle e Conservação de Equipamentos de Proteção .....................77 7. Cromo e Cobre: Ações no Organismo Humano .................................. 91 8. Dermatite de Contato por Agentes Químicos ......................................99 9. Dermatite de Contato por Resinas .......................................................107 10. Dermatoses Alérgicas Provocadas pela Borracha e seus Componentes ...................................................................................123 11. Dermatoses Ocupacionais por Compostos de Cromo ...................... 131 12. Dermatoses Ocupacionais por Derivados do Petróleo ...................... 141 13. Dermatoses Ocupacionais pelo Cimento ............................................153 14. Discromias Ocupacionais ......................................................................163 15. Doenças Ocupacionais I .........................................................................17916 16. Doenças Ocupacionais II ....................................................................... 191 17. Evolução Histórica da Segurança e Saúde Ocupacional ...................207 18. Histopatologia das Dermatites de Contato e Testes de Contato ......221 19. História das Doenças Ocupacionais ....................................................237 20. Medidas Preventivas Contra Acidentes ...............................................251 21. Níquel e suas Ações Sobre o Corpo Humano .....................................261 22. Noções Básicas de Prevenção e Combate a Incêndio ........................271 23. Pneumoconiose por Cromo ..................................................................287 24. Preservação do Meio Ambiente do Trabalho .....................................295 25. Primeiros Socorros .................................................................................309 26. Responsabilidade Ambiental .................................................................327 27. Riscos Ambientais No Trabalho ...........................................................343 28. Riscos Ocupacionais I ............................................................................355 29. Riscos Ocupacionais II ...........................................................................365 30. Saúde Ocupacional e Qualidade de Vida no Trabalho ......................377 31. Trabalho em Altura ................................................................................ 391 32. Transporte de Vítimas ............................................................................409 33. Utilização de Equipamentos de Proteção Coletiva I .........................427 34. Utilização de Equipamentos de Proteção Coletiva (Epc’s) II ...........443 35. Utilização dos Equipamentos de Proteção Individual ......................447 Acidente de Trabalho 17 Capítulo 1 Acidente de Trabalho Guilherme Bragança Pereira do Carmo1 Ludmila Albeny Mota Perdigão¹ Marília Gabriela Silva Paiva¹ Pedro Hernesto Vieira Coelho Nogueira Morais¹ Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 No Brasil, o conceito de acidente de trabalho é definido na lei geral da previdência da seguinte maneira:“Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exer-cício do trabalho a serviço a empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VIII do artigo 11 desta lei provocan- do lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, per- manente ou temporária, da capacidade para o trabalho” (BRASIL, 1991). A ocorrência dos acidentes de trabalho está associada a vários fatores, tais como: baixa escolaridade, desqualificação da mão de obra e falta de treinamento específico, ou relacionados ao ambiente de trabalho. Segundo a NBR 14280 da Associação Brasileira de Normas Técnicas 1 Acadêmicos do Curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), Ipatinga – MG 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT.- Medicina Ambulatorial VI 18 (ABNT), os acidentes são ocasionados pelos seguintes fatores: 1) Fator pessoal de insegurança: causa associada à conduta pessoal do trabalhador/operário, que pode favorecer a ocorrência do aci- dente, ou a atitudes consideradas inseguras. Pode-se associar esse fator à carência de conhecimento sobre os riscos existentes, falta de experiência ou especialização na execução das tarefas, cansaço extremo, consumo de bebidas alcoólicas ou entorpecentes. 2) Ato inseguro: ação ou omissão que, contrariando o regulamento de segurança, pode ocasionar ou propiciar a ocorrência de aci- dente. Figura como principal causa da maioria dos acidentes. Possíveis causas de tais atos: uso impróprio do Equipamento de Proteção Individual (EPI), uso de equipamentos e máquinas em sobrecarga, trabalhar ou operar em velocidade insegura. 3) Condição ambiente de insegurança: quando as condições do local propiciaram ou contribuíram para a ocorrência do aci- dente. Incluem-se nesse item: aspectos que abrangem desde a qualidade do ar do lugar de trabalho até a infraestrutura, ma- quinário, substâncias manipuladas e metodologia de trabalho empregada. ACIDENTES DE TRABALHO NO BRASIL Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulga- dos no ano de 2017 revelam que, em todo o mundo, 2,3 milhões de pessoas morrem e outras 300 milhões ficam feridas todos os anos em decorrência de acidentes de trabalho. Ao número total mundial de acidentes, o Brasil contribuiu no mesmo ano com 549.405 ocor- rências, sendo 2.096 acidentes fatais, segundo dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho 2017, publicado pelo Minis- tério da Fazenda junto à Secretaria da Previdência e demais órgãos competentes. Acidente de Trabalho 19 Dentre as ocupações laborais brasileiras, que são para fins de estudo estatístico, agrupadas conforme a Classificação Nacional de Ativida- de Econômica (CNAE), a que apresentou maior número de acidentes de trabalho foi a atividade de atendimento hospitalar, com total de 53.524 ocorrências. Em seguida, estão comércio varejista de merca- dorias, administração pública em geral, transporte rodoviário de car- ga, atividades de correio, abates de suíno, aves e pequenos animais. Juntas, essas seis atividades representaram 23,2% do total de aciden- tes de trabalho em 2017. Além das perdas pessoais do acidentado, de sua família e dependen- tes, destaca-se também a relevância dos prejuízos econômicos para o serviço previdenciário e para empresa/empregador. Este último, com frequência, experimenta queda brusca na produtividade no momen- to pós-acidente e durante o período de acomodação e assimilação da ocorrência, podendo inclusive ter sua imagem como corporação comprometida. Conforme dados divulgados pelo Ministério Públi- co do Trabalho (MPT), entre os anos de 2012 e 2018 foram gastos no Brasil R$27,3 bilhões com acidentes de trabalho, sendo que neste mesmo período os trabalhadores perderam 318,4 mil dias de traba- lho em razão desses acontecimentos. ACIDENTE DE TRABALHO TÍPICO Em conformidade com a legislação previdenciária, o acidente de tra- balho é o que decorre pelo exercício do trabalho a serviço da empre- sa ou pelo desempenho do ofício dos segurados, ocasionando lesão corporal ou perturbação funcional que acarreta a morte, a perda ou redução definitiva ou temporária, da capacidade para a ocupação. Esta categoria de acidente de trabalho é chamada de acidente típico. É o tipo de acontecimento mais habitual. É categórica a afirmativa de que se deve ao máximo evitar que aci- dentes de trabalho ocorram, mas quando vem à tona, sendo de alta Medicina Ambulatorial VI 20 ou de baixa gravidade, é importante que o mesmo seja acertadamente examinado com o objetivo de reconhecer as causas que o motivaram e, assim, possam ser adotadas a ações para evitar sua reincidência. Para uma completa análise do fato é de suma importância a com- preensão e aplicação dos seguintes conceitos: Agente causador: está diretamente ligado ao acidente, podendo ser agente biológico, agente físico, agente químico, agressão, choque elétrico, corpo estranho, embalagens e tanques, esforço físico, ferra- mentas manuais, impacto contra pessoa ou objeto, incêndio, máqui- nas e equipamentos, quedas, radiação ionizante, substâncias quentes ou frias, veículos de transporte, etc. Fonte da lesão: refere-se ao que entra em contato direto com o cor- po humano, causando a lesão, por exemplo: alavanca, alicate, arco elétrico, energia elétrica, ácido, bicicleta, bomba, cerâmica, dentre diversos outros. Natureza da lesão: não só por sua consequência na terapêutica, mas também devido a sua aplicação para fins estatísticos,no episódio de acidentes do trabalho, os danos mais regulares são dos seguintes tipos: Contusão - sucede de um trauma em qualquer local do organismo, sem que se tenha um rompimento da pele. Entorse - ocorre de um uma mobilidade anormal ou brusca nas articu- lações dos ossos. É a supressão momentânea da congruência articular. Luxação - resulta do deslocamento dos ossos articulados de suas po- sições normais quando os ligamentos de uma articulação óssea são submetidos a esforços excessivos. Fratura - são danos que causam a ruptura óssea. É caracterizado por ser de natureza fechada, caso a pele permaneça intacta, ou aberta, se houver ruptura da pele e exposição do osso fraturado. Acidente de Trabalho 21 Ao se investigar um acidente de trabalho, é essencial a análise de aspectos oportunos, como o fator pessoal de insegurança, uma mo- dalidade em que se consideram aspectos subjetivos individuais, por assim dizer, as características psíquicas e, também, as qualidades físicas que possam ter exercido influência direta ou não materia- lização do fato. Pode-se dar como exemplo: postura inadequada, nervosismo, excesso de confiança, desobediência às instruções e normas, incapacidade física. Outros quesitos a serem observados são destacados a seguir: • Quando ocorreu? • Onde ocorreu? (Ex. pátio, rampa de acesso, setor, endereço) • O que estava sendo executado pelo trabalhador? • Como se deu o desencadeamento do evento? • Houve consequências? • Que fatores contribuíram, direta ou indiretamente, para o aci- dente? • Quantas horas de trabalho havia decorrido desde o início do ex- pediente? • Qual tempo de experiência do acidentado? DOENÇAS OCUPACIONAIS Além do acidente típico, as enfermidades ocupacionais são compa- radas ao acidente de trabalho. Essas doenças podem ser profissionais ou do ofício. O adoecimento profissional é aquele provocado pelo desempenho do trabalho e que é característico de determinado ofí- cio, além de fazer parte de relação estruturada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. Salienta-se que para a designação desse tipo de doença como aciden- te, o mal que acometeu o segurado deve estar obrigatoriamente na lista elaborada pelo ministério competente. Em todo caso, a doença Medicina Ambulatorial VI 22 do trabalho é aquela contraída em função das circunstâncias espe- ciais em que o trabalho é executado. Para ser assim classificada, a doença ou lesão deve ter relação direta com o trabalho. ACIDENTE DE TRAJETO Esse é o acidente sofrido pelo segurado mesmo que fora do ambiente e horário de trabalho, mas no trajeto do seu domicílio para o espaço de trabalho ou deste para aquele. Para tal classificação, não depende do meio de transporte utilizado e nem do trajeto percorrido, des- de que não tenha havido modificações relevantes no itinerário para a execução de interesses meramente pessoais (acidentes de trajeto ou in intinere). Ressalta-se que seja qual for o meio de mobilidade, inclusivamente veículo de posse do segurado, o acidente ocorrido nessas circunstâncias se caracteriza como acidente de trajeto. Caso algum funcionário sofra um acidente no trajeto para a empresa ou para casa, é indispensável emitir a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) à Previdência Social. Caso ocorra a necessidade de ser afastado, enquanto se recupera, isso permite que o indivíduo pos- sa usufruir dos benefícios a que tem direito. Todavia, isso não acarretaria, necessariamente, culpabilidade para a empresa. Em grande parte das situações, o acidente de percurso só se compara ao acidente de trabalho na questão previdenciária, pois, por lei, o tempo de locomoção não é levado em consideração na jornada de trabalho, conforme o artigo 58 da Consolidação das Leis Traba- lhistas (CLT). O tempo regular do trabalho, para o empregado em qualquer atividade privada, não passará de oito horas diárias. O tempo gasto pelo colaborador no percurso entre sua casa e o posto de trabalho e na sua volta, caminhando ou por qualquer meio de transporte, mesmo que seja o fornecido pelo proprietário, não será contado na jornada de trabalho, por não ser um prazo a serviço do empregador. Acidente de Trabalho 23 A empresa não é responsável, portanto, pela prevenção de acidentes durante esse percurso, pois o deslocamento não faz parte da jornada. Com isso, a formulação da CAT tem, apenas, teor previdenciário, sem ter relação com os valores que devem ser pagos pela empresa a partir do FAP. A falta da Comunicação, todavia, pode levar a multas de administração. Exceção à regra ocorre se o empregador fornecer o meio de locomo- ção para que o funcionário vá até o seu local de trabalho. Nesse caso, o acidente vira encargo da empresa. Isso ocorre porque a responsabi- lidade pelo transporte, sua organização compara-se a um transpor- tador – assim como os bônus e ônus que isso acarreta. COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO Constantemente, os meios de comunicação abrangem, de forma preocupante, o número de acidentes de trabalho em nosso país. En- tre as inúmeras causas e suas consequências, pode-se destacar o ônus gerado para saúde pública. Torna-se difícil estimar a magnitude dos acidentes ocorridos em ambiente laboral, devido à subnotificação e falta de dados fidedignos no setor. A notificação dos acidentes, somada a seu dimensionamento na res- pectiva área, auxilia os órgãos responsáveis pela segurança dos traba- lhadores a avaliar as condições de risco aos quais os profissionais são expostos. A relação entre o empregado e o ambiente em que convive diariamente e a gravidade desses eventos, embasado no número de acidentes fatais notificados, também, podem ser mensurados a partir da organização dos dados quando colhidos. Vale ressaltar a importância de que as informações relatadas sejam bem definidas, cronologicamente corretas e que demonstrem a causa e o grau de dano para o indivíduo acidentado. Medicina Ambulatorial VI 24 Apesar da importância de que o relato das situações retratem a reali- dade, isso nem sempre acontece em função de grande número de con- tratos fragilizados e, principalmente, pela quantidade de profissionais informais, terceirizados ou que não são devidamente cadastrados. Para avaliarmos os indicadores de saúde dos trabalhadores do Bra- sil, alguns instrumentos e fontes de dados são utilizados, como, por exemplo, a CAT (Comunicação de Acidentes de Trabalho). A CAT é um documento que deve ser preenchido sempre que houver um acidente de trabalho ou de trajeto, uma doença ocupacional ou óbito. Ele é utilizado para comunicar o fato ao INSS e, a partir de então, o empregado buscar a concessão do benefício e usufruir de seus direi- tos. Serve também para atualizar as estatísticas da Previdência Social. Esse documento pode ser emitido online, através de aplicativo para smartphone, no site ou, até mesmo, na própria agência do INSS, de- vendo ser proferida imediatamente no caso de morte ou até o pri- meiro dia útil seguinte ao da ocorrência do acidente. Existem dois tipos de CAT: a inicial e a de reabertura. A CAT inicial é aquela registrada quando ocorre o acidente típico ou de trajeto, quando é apurada a incapacidade do indivíduo decorrente de doen- ça ocupacional ou o óbito. Já a CAT de reabertura deve ser formu- lada quando o colaborador apresenta piora após certa melhora da enfermidade pela qual foi afastado anteriormente, sendo mandatória apenas se o novo afastamento for por um período maior que 15 dias. AUXÍLIO DOENÇA O Auxílio Doença é um dos benefícios fornecidos pelo INSS que co- bre o risco de incapacidade laboral, garantindo recursos aos assegu- rados que estejam incapacitados de exercer suas funções por mais de 15 dias. Sua concessão abrange tanto acidentes quanto doença labo- ral, independentemente do grau, sendo de caráter provisório, perma- necendo válido até o momento do fim da incapacidade. Acidente de Trabalho 25 No caso de acidente com vínculo trabalhista, o auxílio é isento de carência e deveser comprovado através de exame médico pericial, realizado pela Previdência Social. Nesse caso, após o médico perito certificar a incapacidade do assegurado ao trabalho, o incentivo será conferido pelo prazo que o perito entender necessário. Lembrando da obrigação em que o funcionário tem de comparecimento às perí- cias agendadas pelo INSS. O não comparecimento gera pena de can- celamento do recebimento. Após a cessação do benefício e retorno ao trabalho, o empregado conta com direito, por um período de 12 meses, de estabilidade em seu emprego. Isso se justifica pelo fato de que o segurado, após todo o período ausente do mercado de trabalho, pode apresentar problemas de readaptação em suas atividades desenvolvidas anteriormente. So- me-se a isso o sofrimento e consequências do trauma ou da doença ocupacional, não sendo justo, portanto, seu desamparo pela empresa. 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Acesso em: 25 abr. 2019 Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 29 Capítulo 2 Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais Ana Beartiz Gomes Silva1 Pietra Ziviani Côvre1 Rafaela Ferro Valente1 Valéria Lopes Cupertino1 Tatiliana Geralda Bacelar Kashiwabara2 A anamnese ocupacional é uma avaliação da saúde do tra-balhador, em que é realizado uma investigação comple-ta do histórico patológico do paciente. Essa investigação deve sempre pautar os riscos que o profissional está ou poderá ser exposto. Diante desse contexto, essa inspeção, geralmente, é requerida em momentos pré-definidos por uma empresa, em que há a necessidade de inspecionar a saúde do profissional para confirmar se ele está apto a exercer aquele cargo ou para analisar o risco a que foi submetido durante o exercício de sua função. Sendo assim, o tipo mais comum desse serviço, é o exame admissio- nal, que deve ser feito antes que o profissional assuma as suas ativi- dades. A entrevista tem o objetivo de avaliar o estado físico e mental 1 Acadêmicas do Instituto Metropolitano de Ensino Superior - IMES 2 Especialista em alergia e imunologia, dermatologia, medicina do trabalho, nutrologia, pedia- tria. Professor titular do IMES na saúde da criança e do adolescente, mestre em saúde meio ambiente e sustentabilidade, doutora em administração pela UFRJ, PhD em gestão pela UTAD, pós doutorado em Impacto da qualidade do ar na saúde humana, pela UFP PT. Medicina Ambulatorial VI 30 do contratado, averiguando se está habilitado ou não para exercer as funções designadas pela empresa. Além disso, esse tipo de consulta também pode ser realizada no momento em que um funcionário vai migrar de função dentro da empresa, ou quando estava afastado de suas atividades e precisa reestabelecer sua função. Os trabalhadores expostos a fatores de riscos, deverão realizar o exa- me periódico anualmente, ou em intervalos menores de acordo com a avaliação do médico do trabalho. Para menores de 18 anos e maio- res de 45 anos, a consulta deve ser anual e entre essa faixa etária, os encontros podem ser a cada dois anos de acordo com a avaliação clínica. Os trabalhadores expostos a condições hiperbáricas devem ter consultas com uma periodicidade específica, de acordo com a Norma Regulamentadora (NR) 15, anexo 6. Existe ainda o exame demissional, realizado quando o colaborador se desliga de sua ocupação. Neste momento, será realizada uma aná- lise dos riscos e condições de saúde a que o profissional foi submeti- do, desde a contratação até no momento em que for dissociar da em- presa. A necessidade de uma nova reavaliação é abordada de acordo com o grau de risco ocupacional. Para empresa considerada de baixo risco, uma nova consulta será necessária, caso o último periódico tenha sido realizado há mais de 135 dias, já para empresas de grande risco ocupacional o intervalo deve ser reduzido para 90 dias. A anamnese deve ser iniciada pelas queixas momentâneas do pacien- te. No primeiro momento, deve-se realizar uma revisão dos sistemas, observando se há presença de sintomas, como dores musculares, nos membros, cefaleias, incômodos na coluna, entre outros. Também é válido indagar e qualificar os sentidos, como a visão e a audição. Um dos aspectos cruciais nesse tipo de anamnese é a História Pato- lógica Pregressa, uma vez que o médico deve investigar as condições clínicas do paciente. Ademais, perguntas como o histórico de doen- ças crônicas, uso de medicações diárias, realização de procedimentos Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 31 e cirurgias, alergias medicamentosas e alimentares, e doenças rela- cionadas aos ofícios anteriores, devem ser investigadas a fundo. Outro ponto da anamnese é a história social, visto que é importan- te entender as consequências dos hábitos de vida praticados pelo paciente e ter discernimento para desvinculá-los das complicações ocorridas, verdadeiramente, pelo exercício da profissão. Dentre as perguntas, deve prezar pelos hábitos de vida, como tabagismo, se- dentarismo, alcoolismo, entre outros. Na anamnese ocupacional, é crucial detalhar a função exercida pelo trabalhador, os produtos com os quais ele entrará em contato e os riscos a que será submetido. Além disso, deve ser feita uma análise das condições de trabalho e quantificação do tempo que realiza a atividade, para que possa ser detectado de forma precoce algumas patologias. EXAME FÍSICO Os aspectos avaliados englobam nível de consciência, exame físico e mental. O primeiro passo a ser realizado é uma inspeção geral a pro- cura de sinais de faces típicas, sinais de atopias, respiração bucal e si- nais de desconforto respiratório. Avalia-se presença de implantação dos pelos, distribuição de tecido adiposo, presença de cianoses, icte- rícias, hidratação e nutrição do paciente, presença de lesões de pele. Na cabeça, pesquisa-se alterações visuais, avaliando pupilas e, quan- do possível, realiza-se fundo de olho. À rinoscopia anterior, é pos- sível avaliar septo e mucosa nasal, cornetos e presença ou não de secreções e lesões. Na oroscopia, avalia-se mucosa bucal, amigdalas, dentes e lesões na cavidade oral. À otoscopia observa-se conduto au- ditivo externo e membrana timpânica. Deve ser realizado palpação de linfonodos em cadeias cervicais anteriores e posteriores, occipi- tais, pré-auriculares submentonial, supraclaviculares. Medicina Ambulatorial VI 32 No aparelho cardiovascular a inspeção é direcionada para a área pre- cordial, observando a presença do íctus cordis, e ulterior sua palpa- ção. A ausculta do precórdio examina o som e o ritmo das bulhas cardíacas, presença de sopros ou bulhas acessórias. É de fundamen- tal importância a correlação do aparelho cardíaco com o aparelho respiratório, pois uma insuficiência das câmaras cardíacas poderá ter repercussões em outros órgãos como, por exemplo, crepitações pulmonares, hipertensão portal, dentre vários outros. Ainda, faz-se necessário a palpação de pulsos periféricos nos 4 membros em busca de assimetria. Ao realizar o exame do aparelho respiratório, utiliza-se a inspeção para verificar presença de desconforto respiratório, uso de muscu- laturas acessórias ou tiragem intercostal, tamanho do diâmetro an- teroposterior da caixa torácica, simetria dos movimentos, expansi- bilidade, espirros, duração da respiração, abaulamentos, retrações elesões de pele. Na palpação, procura-se identificar creptações, dor da musculatura torácica, tônus muscular, edema e frêmito tóraco vo- cal. À percussão, avalia-se presença do som claro pulmonar e/ou de ruídos adventícios. À ausculta, avalia-se distribuição de murmúrio vesicular, presença de ruídos adventícios e ritmo respiratório. A pre- sença de cianose periférica, central e de baqueteamento digital deve ser investigada com cautela para desordens pulmonares e cardíacas. No aparelho digestório, durante a inspeção, observa-se o formato do abdome, se há presença de cicatrizes, aspecto da coto umbilical, pre- sença ou não de movimentos peristálticos visíveis. À ausculta sucede a inspeção a fim de evitar quaisquer influência causada pela percus- são e/ou palpação. Nela faz-se importante a presença e a frequência dos movimentos peristálticos. À percussão, encontra-se som timpâ- nico na maioria do abdome, exceto no espaço de Trauber que pode ser hipertimpânico, e no hipocôndrio direito em que o som é maciço pela presença do fígado. Qualquer outro som diferente deverá ser investigado. Durante palpação, procura-se visceromegalias, massas Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 33 palpáveis, presença de dor à palpação superficial e profunda e mus- culatura em defesa. O exame físico do sistema músculo-esquelético e do sistema nervoso periférico deve ser direcionado e minucioso para a queixa do pacien- te ou de acordo com o trabalho exercido. Exames complementares devem ser realizados de acordo os termos da NR7 e seus anexos. DOENÇAS PSICOSSOCIAIS: O transtorno de ansiedade generalizado é caracterizado pela preocu- pação excessiva, persistente e de difícil controle, com duração míni- ma de seis meses, acompanhado de uma série de queixas somáticas como taquicardia, sudorese, taquipnéia, dores musculares, pareste- sias, sensação de afogamento, despersonalização, desrealização, alte- ração do hábito intestinal, entre outros. É importante fazer o diagnóstico diferencial de pacientes que apre- sentam tais queixas, ou seja, deve-se realizar uma investigação para excluir doenças orgânicas, como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, doenças neurológicas, intoxicação exógena (medicamento, drogas ilícitas e bebida alcoólica) e transtorno gas- trointestinal. Para isso, é preciso solicitar alguns exames de acordo com a história clínica e sintomatologia do paciente. Por exemplo, o paciente com queixa de palpitação deve ser submetido ao ele- trocardiograma, para exclusão de arritmias. Já aquele paciente que queixa dores musculares, deve-se investigar fibromialgia e proble- mas posturais. A depressão, também, leva o paciente a apresentar muitas queixas psíquicas e somáticas, como anedonia, humor deprimido, culpa, ideação suicida, redução da concentração, insônia, hipersonia, di- minuição de apetite, perda de peso, baixa libido, dores generalizadas. Medicina Ambulatorial VI 34 Durante a consulta com o paciente com queixas depressivas, é impor- tante investigar quadros que causam manifestações semelhantes à de- pressão, como uso de medicamentos (anticoncepcionais orais, corticoi- des), doenças neurológicas e endócrinas. É preciso realizar o diagnóstico diferencial com outros transtornos psiquiátricos, como demências, es- quizofrenia, dependência de substâncias e transtorno de ansiedade. ASMA OCUPACIONAL Para realizar o diagnóstico da asma ocupacional, deve-se diferen- ciá-la da asma exacerbada, na qual haverá um agravamento de uma asma pré-existente, aparecendo normalmente aumento da frequên- cia e/ou gravidade dos sintomas, além do consumo dos medicamen- tos para o tratamento. Também deve-se fazer o diagnóstico diferen- cial de outras patologias que podem cursar com diminuição do fluxo pulmonar e/ou hiperreatividade brônquica. Exemplo disso é o edema pulmonar que pode ser causado por uma insuficiência cardíaca esquerda. Nessa situação, a história clínica será bem diferente da asma ocupacional, mas os sintomas de dispnéia, tosse, e agravamento das manifestações aos exercícios físicos e no período da noite, podem estar presentes em ambas as condições. Contudo, poderá haver alterações à radiografia, com aumento da silhueta cardíaca e alte- rações ao eletrocardiograma de hipertrofia ventricular esquerda. Além disso, é necessário diferenciar de uma doença pulmonar obs- trutiva crônica inicial, na qual, normalmente, há histórico de uso do tabaco e ausências da história de exposição. Podem ser discrimina- dos ainda à espirometria pós broncodilatação, em que a DPOC não apresentará diferença significativa. PNEUMOCONIOSES As pneumoconioses devem ser diferenciadas entre elas e, ainda, da doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), em que o diferencial Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 35 será o agente exposto. Na DPOC, pode haver histórico de tabagismo e ausência da história de exposição ao algodão, ao carvão, à sílica e ao óxido de ferro. Alguns exames como radiografia ou tomografia computadoriza- da podem apontar alguns sinais, como, por exemplo, na antracose em que há presença de nódulos, contudo a espirometria pode levar ao mesmo resultado. Esses nódulos são muito semelhantes aos das doenças reumatoides, devendo assim ser solicitados exames de san- gue para afastamento de dúvidas. Já a siderose pode apresentar micronódulos mal definidos e difu- sos, normalmente de localização centrolobular visualizados na ra- diografia de tórax e sem alteração na espirometria. Para incidência de silicose, deve ter história de exposição à sílica. Os sintomas são tosse e dispneia progressiva. A radiografia de tórax pode identificar nódulos, principalmente, no terço superior dos pulmões com reação inflamatória ao redor deles. Já a espirometria verifica o padrão res- tritivo e obstrutivo. A bissinose leva a um estreitamento das vias aéreas, tendo como sin- tomas pressão acentuada em tórax anterior e dificuldade respiratória, podendo ser confundida com a asma brônquica. No entanto, oposto à asma, os sintomas da bissinose podem não estar mais presentes após exposição repetidas vezes ao agente ao fim de uma semana de trabalho. LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO (LER) Normalmente, o diagnóstico das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) baseia-se em uma anamnese detalhada com ênfase na his- tória ocupacional do paciente, seguido de exame físico completo e integração com os dados epidemiológicos. Porém, faz-se necessário a averiguação de todos os casos em que há suspeita clínica para ou- tras comorbidades, pois, muitos desses indivíduos podem não ser Medicina Ambulatorial VI 36 portadores de lesões musculoesqueléticas. Há diversas causas a se- rem pesquisadas como doenças reumatológicas, infecciosas, lesões do neurônio motor, alterações vasomotoras, granulomatoses, neo- plasias, doenças difusas do tecido conjuntivo (como lúpus, esclerose sistêmica, dermatopolimiosite), microcristalinas, dores musculoes- queléticas de origem metabólica, fibromialgia, uso de drogas e me- dicamentos. Em geral, os exames complementares são solicitados quando o exame clínico não elucidou totalmente o diagnóstico. Não exis- te um exame específico que comprove a existência de LER e, se analisado de maneira isolada, não há como identificar os fato- res de risco ocupacionais, por isso a possibilidade de diagnóstico diferencial deve ser considerada. A avaliação laboratorial é dire- cionada para provas de atividade inflamatória, reumatológica e ácido úrico e os exames de imagem são de acordo com os achados encontrados no exame físico. DERMATOSES A dermatoses ocupacionais (DOs) são de diagnóstico relativamente fácil, porém se faz necessário a associação da doença com o trabalho, pois muitos trabalhadores com lesões suspeitas são encaminhados aos serviços especializados com o diagnóstico primário de dermato- se ocupacional, porém muitas delas correspondem a processos der- matológicos não-ocupacionais.Dermatoses de contato não-ocupacional, alérgica ou irritativa po- dem simular dermatoses de contato ocupacional. Para isso, uma anamnese detalhada poderá diferenciar a origem da lesão, avaliando se há nexo causal. Algumas afecções que podem gerar dúvida são psoríase, herpes simples e herpes zoster, eczema disidrósico, eczema numular e reações cutâneas a drogas, etc. Um especialista deve ser consultado caso haja dúvida no diagnóstico do trabalhador. Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 37 As Dermatoses causadas por agentes físicos, químicos e biológicos decorrentes da exposição ocupacional e das condições de trabalho são responsáveis por desconforto, dor, prurido, queimação. Essas manifestações clínicas são muito semelhantes a outras afecções de causas externas, podendo acarretar reações psicossomáticas e gerar perda do posto de trabalho. Aqui, é importante a percepção de que há melhora dos sintomas com o afastamento e piora com o retorno ao trabalho. Nesse contexto, o médico do trabalho possui um papel fundamental na detecção precoce do diagnóstico, pois a cronificação e o agrava- mento das lesões podem resultar em lesões extensas e complicadas, grave alopecia, retrações ou exulcerações de pele sugestivas de câncer. SURDEZ TEMPORÁRIA E PERMANENTE Sabe-se que a grande causa das perdas auditivas de origem ocupa- cional são os ruídos de grande intensidade. Mas, também há outros agentes causais como produtos químicos, vibrações e medicamentos que podem levar a essa perda. Todo o prognóstico do paciente de- pende do tempo de exposição, intensidade e fatores combinados. Para a confirmação da existência de alterações auditivas, é funda- mental realizar uma boa anamnese com todos os detalhes da ex- posição e executar uma avaliação audiológica. Para isso devem ser realizados exames para estadiar a situação do paciente, como a au- diometria tonal e vocal, e a imitanciometria. A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) é uma das doenças mais frequentes que acometem o trabalhador exposto a sons intensos e contínuos, de média 85dB por oito horas/dia. Ela ocorre pelo exces- so de estimulação sonora ou pela exposição a determinados agentes químicos. Geralmente, é bilateral e a sua progressão cessa ao final da exposição ao ruído intenso. Medicina Ambulatorial VI 38 Ademais, quando a perda auditiva ocorre de forma súbita, por uma exposição a um ruído intenso, pode ser considerado um trauma acústico. Essa explosão e descompressão de forma súbita podem le- var a dor e a lesões simultâneas da orelha média, rotura da mem- brana timpânica e desarticulação dos ossículos. Normalmente, além da perda auditiva que é percebida de imediato, o paciente costuma relatar a presença de zumbido. Esse trauma apresenta mudanças no audiograma em um período de seis meses a um ano, até que a lesão se estabilize ou evolua de forma regressiva. Em alguns pacientes, pode ocorrer ruptura da membrana timpâ- nica, avaliado na otoscopia. A configuração audiométrica apre- senta características diferentes de uma típica perda por ruído, pois poderá apresentar um componente condutivo. Assim, a per- da auditiva pode ser puramente nerossensorial ou mista, depen- dendo da fonte do trauma. Já a perda auditiva por Mudança Transitória de Limiar (MTL) tem recuperação gradual, normalmente, após cessar o ruído, mas tam- bém pode apresentar lesão coclear irreversível. É importante ressal- tar que a avaliação auditiva seja realizada após as atividades diárias, ou seja, sem repouso auditivo, com o intuito de identificar os ver- dadeiros riscos da exposição diária. Caso o paciente apresente uma mudança transitória de limiar igual ou superior a 10 dB, ele deve ser submetido a um novo teste com repouso auditivo, para que possa ser confirmado a MTL ou para estadiar e avaliar se a perda auditiva está permanentemente instalada. DOENÇAS OFTALMOLÓGICAS Atualmente, uma das grandes morbidades oftalmológicas associada ao trabalho é a Síndrome Visual de Computadores, uma vez que o uso das tecnologias está cada vez mais difundido na população. Para realizar esse diagnóstico, é importante investigar as horas trabalha- Anamnese, Exame Físico e Diagnóstico Diferencial de Doenças Ocupacionais 39 das frente ao computador, e se, durante as atividades de folga, tam- bém, se faz muito uso de visores. As principais queixas são cansaço na vista, peso nos olhos, cefaleia e insônia. Deve ser realizado um exame oftalmológico completo e, na maioria dos casos, é orientado ao paciente o uso de óculos para descanso, com lentes especiais que reduzem a luminosidade dos visores. Além disso, também, há o deslocamento de retina, assunto contro- verso entre os retinólogos, pois muitos acreditam que o levanta- mento de peso acima de 10 quilos em atividades laborais acelera e influência diretamente no descolamento da retina. Devido a isso, é considerado exigência a realização de uma avaliação oftalmológica com mapeamento da retina nos exames admissionais, em atividades que vão exigir esforço físico intenso. Doenças inflamatórias, também, acometem os trabalhadores, como a Blefarite, em que ocorre uma produção excessiva da camada lipí- dica pelas glândulas sebáceas da pálpebra, gerando uma condição favorável para proliferação bacteriana. Geralmente, o diagnóstico é clínico, já que há presença de uma substância oleosa em torno dos cílios, irritação ocular, sensação de corpo estranho e lacrimejamento. Para realizar o diagnóstico diferencial com a conjuntivite, é crucial entender que essa inflamação acomete a conjuntiva e os sintomas são hiperemia de todo globo ocular, lacrimejamento, edema de pálpe- bras, secreção e prurido ocular. REFERÊNCIAS ALI, Salim Amed. Dermatoses relacionadas com o trabalho. In: MENDES, Rene. Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 2013. ANDRADE, Kléber Proietti et al. Medida do nível de ruído hospitalar e seus efeitos em funcionários a partir do relato de queixas. Rev. CEFAC, São Paulo, v. 18, n. 6, p. 1379-1388, 2016. BARSANO, P.R. 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Prevalência de silicose e repercussões na qualidade de vida de mineradores de pedras preciosas e semipreciosas. 2015. Dissertação (Mestrado em ciências pneumológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 43 Capítulo 3 Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica Thais Ferreira Perigolo1 Larissa Grintaci Pereira Costa2 Karollinne Paiva do Nascimento2 Mariela Vilela Peres Bueno2 Lamara Laguardia Valente Rocha3 INTRODUÇÃO Atividades físicas fazem bem à saúde? Dificilmente se en-contraria alguém ou algum estudo que se propusesse a afirmar que não. Mas, se a pergunta fosse: atividades físi-cas podem gerar doença? Nesse caso, seria necessário am- pliar a discussão, visto que a atividade física pode gerar lesões ou até mesmo depressão, dentre outros. Dependendo do grau de exigência do praticante, pode haver lesões musculares e/ou articulares e, quan- do o nível de exaustão é muito elevado, pode levar à depressão, além da possibilidade do surgimento de rabdomiólise e da maximização de problemas cardíacos, o que poderia elevar o risco de morte. Primeiramente, deve-se esclarecer o que seriam atividades físicas. Diferentemente de exercício físico, o termo atividade física refere-se 1 Graduanda em Medicina do Centro Universitário de Manhuaçu (Unifacig). 2 Graduandas em Medicina pela Universidade José do Rosário Vellamo (UNIFENAS) 3 Doutora em Biologia Celular e Estrutural, professora convidada dos cursos de Pós-graduação em Cirurgia Robótica, Medicina do Trabalho e Gestão em Saúde na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Medicina Ambulatorial VI 44 a qualquer situação que tire o corpo do status quo, qualquer movi- mento contrário à inércia auxiliado pelo sistema musculoesquelético do indivíduo que gere gasto energético. Pode-se compreender ati- vidade física como um gênero que abrange o exercício físico como uma de suas categorias. Porém, para ser mais preciso, também seria necessário definir o sig- nificado de doença. Sabe-se que não é possível compreender doença apenas com medições fisiopatológicas, sendo intrínseco, no processo de adoecer, o estado anímico envolvido pela dor, sentimentos e sofri- mentos de quem adoece. Entretanto é indiscutível que não há doença sem a quebra da barreira imune. Para adoecer, o indivíduo precisa ter alguma alteração em seus mecanismos de defesa. Logo, doença poderia ser definida, pelo menos em uma de suas facetas, como a transposição do sistema imune. Assim, o mais pertinente talvez seria questionar se atividades físicas poderiam alterar nosso sistema imu- ne de modo a gerar doença. O SISTEMA IMUNOLÓGICO Na composição da defesa orgânica do indivíduo, há atuação de duas frentes, distintas e complementares, sendo composta pela resposta inata e adquirida. A resposta inata, assim como sugere seu nome, perfaz-se como nativa, condição inerente ao sujeito, em que não há qualquer exigência, manejo ou requisito para sua aquisição, basta nascer com ela. Já a resposta adquirida apresenta como condição sine qua non para sua existência, a conquista de seus elementos por diferentes processos. A resposta inata se expressa por meio das barreiras físicas como a re- sistência da pele à invasão de microrganismos, as barreiras químicas como a lisozima presente no sangue que atrai e ataca bactérias e, por fim, a presença de células como macrófagos, responsável pela fagoci- tose de bactérias, por exemplo. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 45 Em outra vertente, a resposta imunológica adaptativa é composta, principalmente, por células chamadas linfócitos. Por fazerem parte de um mecanismo de defesa, devem se situar em lugares que propor- cionem a melhor chance de encontrar os microrganismos agressores, ou seja, essas células devem estar em locais do corpo que as possi- bilitem identificar, de forma rápida e eficaz, a invasão de agentes, a princípio, nocivos e danosos. Assim, temos como locais estratégicos os linfonodos e outros tecidos linfoides especiais (baçoe submucosas do trato gastrointestinal). Além disso, a população linfocitária, apesar de se originarem de cé- lulas-tronco hematopoiéticas pluripotentes, diferenciam-se em duas categorias, especializando-se cada uma com sua função, chamados de linfócitos T e linfócitos B. Os linfócitos T são responsáveis pela imunidade mediada por células e perfazem linfócitos TCD4+ auxi- liares e TCD8+; enquanto os linfócitos B, titulares da imunidade hu- moral, tem como produto os anticorpos. Os linfócitos T, representados pelos TCD4+, darão origem a dois tipos de células produtoras de citocinas. São elas as células Th1 (T helper tipo 1), após estimulação pela interleucina 12 (IL-12), pro- duzida por células apresentadoras de antígenos presentes nas célu- las dendríticas e macrófagos, e as células Th2 (T helper tipo 2), avi- vadas pela ação da IL-4, produzida pelo próprio TCD4+. Além de serem estimuladas por diferentes compostos, Th1 e Th2, também, se distinguem em relação às citocinas que produzem, enquanto as células Th1 produzem interferon-gama (IFN-γ), fundamental para a resposta imune celular e com o controle de infeções causadas por agentes intracelulares, as células Th2 se concentram na produção de IL-4 responsável pela resposta imune humoral e com controle de infeções extracelulares. As citocinas geradas por esse braço da imunidade podem atuar como pró ou anti-inflamatória. Pode-se citar como citocinas anti-inflama- Medicina Ambulatorial VI 46 tórias as citocinas IL-10 e TGF-beta (fator de transformação de cres- cimento β), enquanto que podem ser classificadas como pró-infla- matórias as citocinas IL-1, IL-2, IL-6, IL-12, IL-18, IFN-γ e TNF-α, sendo sua produção estimulada por catecolaminas, glicocorticoides e prostaglandinas (PGE2). Dentre as citocinas pró-inflamatórias citadas, a IL-6 é considerada uma interleucina responsiva à inflamação e tem sido chamada de miocina, por sua liberação ter relação com a contração de músculos esqueléticos, durante exercícios físicos prolongados. Ao vislumbrar o sistema imune como um prisma, figura geométrica sólida composta por faces planas laterais, pode-se aferir que as cito- cinas produzidas pelas células TCD4+ fazem parte de uma das múl- tiplas faces do sistema imune, sendo imprescindível compreender a interação entre elas e diversos outros mecanismos imunológicos, se o objetivo for o estudo de todo o sistema imunológico. Diante das informações expostas, seria possível que atividades físicas fossem capazes de alterar o sistema imune, por meio de produção de citocinas pró-infamatórias, ao ponto de causar doença? Responder a essa pergunta é o que se pretende a seguir. ATIVIDADE FÍSICA E O SISTEMA IMUNE Uma gama de estímulos pode ser gerada após a prática de determi- nada atividade física, como estresse hormonal, pela produção de ca- tecolaminas e glicocorticoides, estresse oxidativo, pelo aumento de óxido nítrico, e estresse extenuante, pela alta intensidade no uso da musculatura esquelética. Eles serão desencadeados, de acordo com a intensidade, duração e a frequência do exercício a ser praticado. A produção de citocinas estará diretamente ligada a esses estímulos e será modulada por cada um deles. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 47 Existem relatos de que exercícios físicos que exigem performance de alto nível, como corridas extenuantes de grandes distâncias, geram aumento das concentrações séricas de citocinas como IL-6. O aumento de IL-6 não é relacionado somente à intensidade da ativi- dade, mas também à massa muscular envolvida, visto que sua produ- ção tem íntima ligação com atividade do músculo esquelético. Logo, exercícios que exigem ativação limitada de massa muscular, não são, a princípio, suficientes para gerar um aumento de grande monta das concentrações de miocina. Porém, se o exercício requisitar um grupo muscular maior, haverá aumento considerável de IL-6, sendo esse aumento registrado ao final da realização do exercício ou num curto período após, com rápida queda até a normalização. Nesse cenário, estudos afirmam que exercícios intensos podem afe- tar a função imunológica adquirida, porém essa alteração seria tran- sitória e, após um período pós-exercício, os valores retornariam ao estado pré-exercício. Contudo, se a recuperação não for suficiente, as alterações podem se tornar crônicas e causar deficiência imunológi- cas, aumentando o risco de surgimento de afecções. A explicação para esse cenário advém do fato de que a miocina não, apenas, apresenta um efeito pró-inflamatório, mas também ação sis- têmica como efeitos metabólicos (aumento da captação de glicose e da oxidação de ácidos graxos pelos músculos esqueléticos, na lipóli- se e aumento da gliconeogênese pelo fígado). Além disso, há outras miocinas como IL-8, produtoras de efeitos angiogênicos, e outras di- versas citocinas, IL-1, IL-10, IL-12. Há também aumento de citocina anti-inflamatórias, provavelmente, para limitar reações inflamatórias, geradas pelo desgaste da muscu- latura, causada pelo exercício. Porém o que poderia parecer algo po- sitivo pode comprometer ainda mais o sistema imunológico, porque citocinas anti-inflamatórias podem desencadear uma susceptibilida- de às infecções ao atenuarem táticas de defesa do organismo. Medicina Ambulatorial VI 48 O que definirá a qualidade da resposta imune à atividade física é a intensidade, a duração e a frequência do exercício a ser praticado. Atividades físicas regulares de intensidade moderada pode levar à redução de recorrência de infecções por fortalecer o sistema imu- nológico. Por outro lado, treinamento de grande intensidade e alta performance tem sido relacionado ao aumento da susceptibilidade aos microrganismos invasores. Isso pode ser explicado, porque atividades de moderada intensida- de direcionam a resposta imune para o braço Th1, ou seja, há uma tendência à proteção contra invasores intracelulares. Já aquelas de alta intensidade revelam um padrão Th2, priorizando reparação dos danos teciduais que possam ter afetado a musculatura esquelética e, portanto, acarretam aumento de citocina pró-inflamatórias, o que resulta no enfraquecimento quanto à defesa contra microrganismos agressores. Além disso, é importante salientar que o sistema imunológico faz parte de um sistema interligado com o sistema neuroendócrino, por meio de sinais moleculares através de hormônios, neurotransmisso- res e citocinas. Para uma análise fidedigna e conclusões não falacio- sas, será necessário analisar, não apenas um aspecto dessa ampla rede integrada, mas o todo, na coordenação, integração e regulação dos eventos, durante o esforço físico. Por fim, apesar dos riscos de alterações do sistema imune com a prática de atividades físicas, sabe-se que o sedentarismo não é uma opção viável para manter uma boa saúde. Exercícios físicos represen- tam uma alternativa importante para a prevenção de muitas doenças crônicas. Atividade Física e sua Relação com a Resposta Imunológica 49 REFERÊNCIAS FREITAS, M. P.et. al. Efeitos do exercício físico sobre o sistema imune de mulheres pós-menopausadas: revisão sistemática. Revista Brasileira de Medicina e Esportes, 420-425. (s.l.) 2016. GONÇALVES, P. N. Exercício Físico e sistema imunológico. Porto, 2014. L.L.V. Rocha, R. N. Avaliação do benefício do exercício físico moderado na resposta imunológica de ratos submetidos ao estresse de contenção: Motricidade, 1055-1064, 2012. Leandro, C., et al. Exercício físico e sistema imunológico: mecanismos e integrações. Revista Portuguesa de Ciência e Desporto, 2012, 80-90. MAGNAGO, C. A., & ALVES, M. J. 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