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Sequenciamento do DNA Introdução • Trata-se da identificação da ordem exata dos pares de bases (A, T C e G), em um segmento de DNA; • É um processo de imensa importância ao permitir o conhecimento da sequência de bases de um gene, fornecendo informações sobre sua estrutura, função e relação evolutiva com outros genes; • Tecnologias de primeira geração: - Método de Maxam e Gilbert (1977): método de degradação química; - Método de Sanger (1977): método enzimático ou de término da cadeia por adição de um dideonucleotídeo (ddNTP). Tecnologias do sequenciamento → Tecnologias de primeira geração: Método de Maxam e Gilbert (1977): • Ele determina a sequência das bases através da clivagem química da terminação 5’ dos fragmentos de DNA marcados radiotivamente; • Estes fragmentos clivados são corridos em eletroforese em gel e separados de acordo com seu tamanho. Método de Sanger (1977): • Utiliza ddNTPs, análogos químicos dos dNTPs, misturando-os em uma reação de PCR; • A síntese da nova fita de DNA continua até que um dos ddNTPs seja incorporado (etapa de elongação termina), já que, os análogos (ddNTP’s) não possuem a hidroxila 3’, que é necessário para a extensão das cadeias de DNA; • Ele incorporou aos reagentes padrões para uma técnica de PCR a adição dos ddNTPs marcados radioativamente; • Cada vez que um ciclo de PCR era finalizado, um fragmento de DNA de tamanho distinto poderia ser formado; • Essa variação dependia do incorporamento de um dNTP ou um ddNTP. Caso um ddNTP fosse incorporado, pela falta da hidroxila no carbono 3’ da pentose, o processo de extensão da cadeia crescente é interrompido, de forma que, essa hidroxila é necessária para dar continuidade ao processo; • Ao misturar os ddNTPs marcados radioativamente numa reação de PCR, a síntese da cadeia pelos dNTPs continua até que um dos análogos serem incorporados; • Cada reação vai terminar contendo uma reação em mistura com fitas de DNA de diversos comprimentos, todas terminadas com o ddNTP marcado para aquela reação; • Após os ciclos de PCR, as amostras dos tubos com os ddNTP’s são aplicadas em canaletas individualizadas de gel de acrilamida. Então, é feita a eletroforese e a leitura das bandas de baixo para cima determina a sequência correta da molécula de DNA em sua fita complementar; • Por não utilizar de computadores, ficou conhecida como uma técnica manual. Método semi-automatizado (1986): • Aprimoramento do método de Sanger; • O princípio do método permaneceu o mesmo; Marianne Barone (15A) Disciplina – Prof. Marianne Barone (15A) Biologia Molecular – Prof. Jerusa Arantes • Não há a utilização de compostos radioativos, assim, tornou-se uma técnica mais simples, rápida e segura; • Foram adicionados aos ddNTPs corantes que são capazes de emitir fluorescência quando excitados em comprimento de onda; • Com a consequente incorporação dos ddNTPs marcados com a fluorescência, as reações ocorrem em um tubo único e o conteúdo pode ser aplicado em uma única canaleta, fazendo com que o número de amostras analisados por corrida fosse 4 vezes maior. Método automatizado (anos 90): • Os géis foram substituídos por capilares preenchidos por polímeros onde os fragmentos de DNA são separados em alta velocidade; • As amostras são aplicadas, através de um sistema de eletroinjeção diretamente nos capilares; • Os fragmentos começam a migrar e encontram, num determinado ponto, um feixe de raios laser que excita os fluoróforos presentes na extremidade 3 ́ de cada fragmento fazendo com que estes emitam fluorescência característica de um dos quatro tipos de fluoróforos; • Um detector registra esta fluorescência e a transmite para um computador que possui um software capaz de converter fluorescência em picos coloridos, sendo utilizado uma única cor para cada um dos 4 tipos de nucleotídeos. Este procedimento é efetuado para cada fragmento no gel; • No final do processo, o software gera um cromatograma que corresponde a sequência de DNA complementar ao DNA molde utilizado; • O DNA alvo é copiado muitas vezes produzindo fragmentos de comprimentos diferentes; • Nucleotídeos “terminadores de cadeia” fluorescentes marcam os finais dos fragmentos e permitem que a sequência seja determinada; • Vantagens: possui alta confiabilidade, com possibilidade de leituras com até 1Kb, apresentando baixo custo por amostra e ideal para estudo de genes específicos; • Desvantagens: baixo throughput (taxa de transferência), grande dificuldade para sequenciar genomas, transcriptomas e metagenomas e ele atende no máximo 96 amostras por vez; • Permite sequencias 700 nucleotídeos consecutivos por fragmento; • A fragmentação pode ser feita por: uso de enzimas de restrição ou quebra aleatória por fragmentação mecânica do genoma a ser sequenciado; • Esse método foi utilizado no Projeto Genoma Humano, que sequenciou o genoma humano, sendo concluído em 2003, com o custo de 300 milhões de dólares, na época. → Técnicas de sequenciamento de nova geração: • Com o passar dos anos, surgiram novas técnicas de sequenciamento, chamadas de INGs, na segunda e terceira gerações; • Elas possuem um menor custo, sequenciando uma maior quantidade em um menor tempo; • Os sequenciadores de 2ª geração podiam fazer o trabalho de 30.000 outros, baseados na metodologia de Sanger; • A automação das tecnologias de sequenciamento resultou na diminuição dos custos, permitindo que houvesse uma maior ocorrência de sequenciamentos e do lançamento de projetos genomas em laboratórios menores ao redor do mundo. Next Generation Sequencing, NGS (2005): • 2ª geração; • A nova geração começou com o sistema desenvolvido pela Roche-454 que sequenciou o genoma inteiro da bactéria Mycoplasma genitalium; • Métodos de segunda geração: Roche- 454, como Ion Torrent e Illumina; • Métodos de Terceira geração: Pacific Biosciences (PacBio) e Oxford Nanopore; • Todos têm como principal característica o processamento paralelo massivo de fragmentos de DNA; • Enquanto o sequenciador que utiliza eletroforese 96 fragmentos por vez, os sequenciadores de nova geração podem ler até bilhões de fragmentos simultaneamente. Pirosequenciamento – Roche-454 (2005): • 2ª geração; • Ele dispensa a clonagem e tem baixo custo, além de ser cerca de 100 vezes mais rápido que o método de Sanger; • Sua eficiência e rapidez comprovadas pelo genoma da bactéria Mycoplasma genitalium (96% de cobertura e 99.6% de precisão), em um período de sequenciamento 4 horas; • Seu preparo pode ser dividido em 3 etapas: preparo da amostra, PCR em emulsão e sequenciamento; • No preparo da amostra, o DNA é fragmentado aleatoriamente e ligado aos adaptadores em suas extremidades, que permitem que os fragmentos ligados a esses adaptadores possam ser separados em uma biblioteca de DNA fita simples; • No PCR em emulsão, os fragmentos obtidos são ligados a microesferas magnéticas por meio do pareamento do adaptador “B” com sequências curtas complementares presentes na superfície da esfera, onde ocorrerá a amplificação do segmento; - O adaptador “A” servirá de molde para o anelamento do primer responsável pelo início da amplificação; - Desta forma, as microesferas vão agir como reatores de amplificação individual, produzindo milhares de cópia de um único molde; • No sequenciamento as microesferas ligadas as sequências alvo da fita simples são captadas individualmente e colocadas no suporte do sequenciamento e, então, são fornecidos reagentes para a reação do pirosequenciamento; - Então, cada nucleotídeo incorporado nos poços da placa de sequenciamento irá liberar um pirofosfato, que será convertido em luz e, assim, registrado na forma de pirograma; - O pirograma são decodificados, resultando em uma sequência única de nucleotídeo que representa cada bead; - As microesferassão adicionadas a uma placa, na última etapa, de forma que, cada orifício da placa receba uma microesfera; - Posteriormente, são adicionados os reagentes necessários para a amplificação do DNA. O pirofosfato inorgânico (PPI) é liberado a cada incorporação de nucleotídeo complementar a fita molde; - Este PPI livre é convertido pela enzima ATP sulfurilase em ATP, que, por sua vez, fornece energia para oxidar a luciferina em oxiluciferina e, como consequência dessa reação, ocorre a liberação de luz, então, a cada incorporação de nucleotídeo a cadeia de DNA nascente, será emitida luz que é convertida em pirograma, este que é lido e permite identificar a sequência de nucleotídeo do DNA molde; • Com o pirosequenciamento, foi possível o sequenciamento de DNA de organismos já extintos, a partir de quantidades ínfimas de material genético, como o genoma de mamute; • O pirosequenciamento foi utilizado em pesquisas com genômica microbiana, análise de regulação gênica, transcritomas, pequenos RNAs (miRNA, siRNA), metagenômica e diversidade ambiental, além do contínuo sequenciamento do genoma humano e outros genomas completos. Plataforma Illumina (2008): • 2ª geração; • Sequenciamento por síntese (ponte) e consiste em fragmentar o DNA de interesse; • O sequenciamento Illumina é o mais amplamente utilizado no mundo atualmente pois tem possibilidade de multiplexagem de milhares de amostras em uma única corrida, juntamente com os menores custos e taxas de erro; • Pode gerar 20 bilhões de bases sequenciadas entre 19-40h (grandes genomas); • Possui uma ampla aplicação em pesquisas e desenvolvimento nas áreas de diagnóstico molecular, oncologia, genética microbiana, doenças complexas, genômica, entre inúmeras outras; • O sequenciamento de DNA pode englobar o sequenciamento completo de um genoma ou de algumas partes; • A: fragmentação do DNA (com seleção dos segmentos de tamanho apropriado) e ligação de adaptadores em ambas as extremidades; • B: ligação dos fragmentos na placa de vidro (flowcell), que é densamente povoada por adaptadores complementares aos adaptadores contidos nos fragmentos de DNA, permitindo a ligação dos fragmentos a placa; • C: incorporação de nucleotídeos não marcados com fluorescência, até que toda a extensão do fragmento seja amplificada; • D: amplificação em ponte; • E: desnaturação do duplex; • F: adaptadores livres se ligam a adaptadores complementares, iniciando um novo ciclo; • G: cluster sendo formado com mais de 1 milhão de cópias do mesmo fragmento; • H: adiciona-se os 4 tipos de didesoxinucleotídeos terminadores reversíveis contendo fluoróforos e mais a DNA polimerase; • I: registro da imagem (incorporação do primeiro didesoxinucleotídeo); • J e K: sucessivos ciclos de incorporação de didesoxinucleotídeos marcados, incidência de raios laser, emissão de luz e registro de imagem; • L: as imagens registradas em cada ciclo são decodificadas para determinar a sequência de bases de cada cluster na placa. Ion Torrent (2010): • 2ª geração; • Pela plataforma do Ion Torrent a identificação das bases se dá unicamente por pH (semiconductor), e não por ddNTPs ou reações luminosas; • A amostra de interesse é colocada em um pequeno chip, que contém em sua superfície nanoporos providos de medidores de pH, em nanoescala. Após ser colocado no chip, o DNA sofre uma reação irreversível de ligação a esses nanoporos; • Com o DNA ligado, as bases serão adicionadas uma de cada vez e um ciclo será repetido milhares de vezes; • Caso a base correta seja adicionada, a enzima DNA polimerase agirá e um íon H+ será liberado, provocando um aumento do pH no nanoporo. Este aumento será detectado e, dessa forma, a sequencia presente em cada nanoporo será determinada; • Menos de 1 dia é necessário para se preparar o DNA e obter os dados do sequenciamento; • Aplicações: principalmente o sequenciamento de genomas, regiões-alvo específicas em sequenciamentos de bibliotecas de amplicons e em exomas; • É bastante utilizada para detecção de variantes de DNA, como SNPs e na identificação de patógenos microbianos. Nanoporo (2012): • 3ª geração; • Sequenciamento baseado na análise do sinal elétrico gerado pela passagem de um fragmento de DNA por um poro proteico transmembrânico; • Baseia-se na leitura de uma molécula de DNA conforme esta atravessa o nanoporo. Mais especificamente, o sequenciador é composto por flow cells, onde há uma membrana contendo milhares de poros; • Após a preparação das bibliotecas, é aplicado uma diferença de potencial entre os dois lados da membrana gerando uma corrente iônica que passa pelos poros e é medida por sensores do aparelho; • Essa corrente é alterada quando uma molécula de DNA atravessa o poro, e cada nucleotídeo (A, C, T ou G) muda a corrente com uma intensidade diferente, sendo possível identificar todas as bases de uma molécula inteira; • MinION: é um sequenciador capaz de gerar grandes quantidades de dados, com um preparo de amostra simples resultando em longas leituras a um baixo custo. É um dispositivo portátil, pequeno, capaz de sequenciar 1 Gb de DNA em um tempo de corrida de 48h; • Desvantagens: menor rendimento, com taxa de erro em aproximadamente 12%; • Aplica-se ao sequenciamento para vigilância de patógenos, detecção de mutações-alvo, metagenômica, genomas bacterianos e virais. Funções • Graças à tecnologia de sequenciamento, pesquisadores atualmente são capazes de comparar grandes extensões de DNA (1 milhão de bases ou mais) de indivíduos distintos, de maneira mais rápida e barata; • A habilidade de sequenciar o genoma mais rapidamente e com melhor custo- benefício cria o potencial para diagnóstico e terapias de doenças genéticas; • Apesar da utilização de sequenciamento de DNA em consultórios médicos ainda estar distante da realidade, alguns centros médicos e de pesquisa já utilizam a técnica para detectar (e prevenir) algumas doenças em pacientes de risco, como certos tipos de câncer; • O sequenciamento de DNA também é utilizado em diversas áreas da ciência, como em estudos evolutivos, na compreensão da relação entre organismos distintos e sua evolução.
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