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Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR INTRODUÇÃO • Cardiopatia congênita: alteração estrutural do coração ou dos grandes vasos da base, que apresenta significância funcional real ou potencial. • A manifestação clínica da cardiopatia congênita ocorre principalmente nos primeiros meses de idade; no entanto, o reconhecimento da doença pode ser feito em qualquer fase da vida, inclusive no período fetal. • Cerca de 35% dos pacientes que nascem com cardiopatia congênita apresentam-se com profunda hipoxemia e/ou insuficiência cardíaca. • Dos pacientes que são internados por cardiopatia congênita no 1º ano de vida, evidencia-se que a maioria dos casos ocorre nos primeiros 6 meses de idade, sendo a metade no 1º mês. • Ao considerar somente o 1º mês, a maior proporção de internamento ocorre na 1ª semana de vida. → As doenças mais prevalentes nesse período são dependentes do canal arterial, cujo fechamento exacerba o quadro clínico, como hipoplasia de ventrículo esquerdo, coarctação da aorta, transposição das grandes artérias, tetralogia de Fallot extrema e atresia pulmonar. → Quando essas patologias têm diagnóstico no período fetal, podem evitar complicações graves e desfechos fatais. • Os pacientes internados em período maior que 1 mês e inferior a 6 meses apresentam enfermidades cujas manifestações clínicas dependem da queda da resistência vascular pulmonar, como a comunicação interventricular (CIV), a persistência do canal arterial (PCA) e o defeito do septo atrioventricular (DSAV). • Na evolução natural da cardiopatia congênita, a mortalidade é extremamente alta. Cerca de 20% das crianças morrem nos primeiros 12 meses de vida, e a sobrevida em 15 anos é de 77,11%. • Doenças como hipoplasia do ventrículo esquerdo e transposição das grandes artérias (TGA) são fatais no 1º ano de vida, quando não são tratadas. ASPECTOS CLÍNICOS E FISIOPATOLÓGICOS PARA RECONHECIMENTO DAS CARDIOPATIAS CONGÊNITAS • Os neonatos e os lactentes são encaminhados, geralmente, por quatro alterações clínicas: cianose, insuficiência cardíaca, sopro e arritmia. • Em crianças maiores e adolescentes, outros sintomas podem estar associados às anomalias congênitas, como dor precordial, tontura e síncope. • Os sintomas dos pacientes são manifestações de distúrbios hemodinâmicos e estão relacionados fundamentalmente às alterações no fluxo pulmonar; por isso, as cardiopatias congênitas são classificadas funcionalmente em: 1) cardiopatia de hipofluxo pulmonar; 2) cardiopatia de hiperfluxo pulmonar; 3) cardiopatia de normofluxo pulmonar. • O ecocardiograma bidimensional com Doppler é o exame mais importante no diagnóstico e na avaliação funcional. • A radiografia de tórax e o eletrocardiograma são exames mais acessíveis e contribuem na formulação de uma hipótese de diagnóstico, porém em raras ocasiões indicam uma doença. CIANOSE • Em casos de cardiopatia congênita é do tipo central, quase sempre generalizada. • Caso seja evidente no dimídio inferior (membros inferiores) e ausente no dimídio superior (membros superiores e mucosas) ou vice-versa – é denominada cianose diferencial. • São três as causas da cianose: 1) presença de uma lesão obstrutiva direita com shunt da direita para esquerda (p.ex., tetralogia de Fallot) 2) conexão ventrículo-arterial discordante (TGA) Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR 3) presença de uma mistura comum • A cianose ocorre quando a concentração da hemoglobina reduzida no sangue circulante é maior que 5 g/dL, por isso ela pode estar ausente em crianças com anemia. • A cianose também pode ser leve ou mesmo ausente nos casos com fluxo pulmonar aumentado e grande mistura arteriovenosa. • O recém-nascido com cardiopatia congênita complexa pode ter como única manifestação clínica a cianose, por isso é imprescindível afastar o diagnóstico de doença cardíaca nesses pacientes. • A diferenciação entre a cianose de causa cardíaca e a não cardíaca (pulmonar, hematológica e neurológica) pode ser feita de maneira simples e rápida com o auxílio do ecocardiograma. • O uso do teste de hiperóxia é muito importante. O aumento de pO2 acima de 160 mmHg após a administração de oxigênio a 100%, por 5 a 10 min, sugere ausência de cardiopatia congênita cianótica, mas pO2 > 250 mmHg efetivamente a exclui. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA (IC) • As principais são as cardiopatias que podem evoluir para IC são as cardiopatias congênitas de hiperfluxo pulmonar com hipertensão venocapilar pulmonar e as doenças obstrutivas, nas quais predominam as obstruções esquerdas. • O quadro clínico: taquipneia, cansaço e interrupções às mamadas, sudorese, taquicardia, cardiomegalia e hepatomegalia. É rara a descompensação isolada do lado esquerdo ou do lado direito do coração. • Dois fatores para o desencadeamento da IC: → Fechamento do canal arterial: ocorre funcionalmente durante as primeiras horas ou dias iniciais de vida. → Diminuição da resistência vascular pulmonar: ocorre ao longo dos primeiros meses de idade. • O débito sistêmico em doenças obstrutivas, como hipoplasia de ventrículo esquerdo, estenose aórtica crítica e coarctação da aorta pré-ductal, depende do fluxo da artéria pulmonar para a aorta através do canal arterial. • O quadro clínico é mais tardio em doenças com shunt da esquerda para a direita, como a CIV, a PCA e o DSAV. • A passagem de sangue da circulação sistêmica para a circulação pulmonar depende de uma diminuição significativa da resistência vascular pulmonar, o que ocorre a partir do final do 1º mês de vida. SOPRO CARDÍACO Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • O sopro cardíaco é a maior causa de encaminhamento para a investigação de cardiopatia congênita. • Aproximadamente metade dos pacientes apresenta sopro inocente. • Quando o sopro cardíaco é detectado em consulta de rotina, sem outros sintomas cardíacos associados, a cardiopatia normalmente é leve e de bom prognóstico. • Nessa categoria, estão as cardiopatias com shunt da esquerda para direita e as cardiopatias obstrutivas isoladas. ARRITMIA • A arritmia é uma manifestação rara de cardiopatia congênita. • O bloqueio atrioventricular total é a arritmia congênita isolada ou associada mais frequente. • Em outras doenças, como a transposição corrigida das grandes artérias (TCGA) e a doença de Ebstein, a arritmia pode ser a primeira manifestação clínica. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS QUE SE MANIFESTAM COM CIANOSE TRANSPOSIÇÃO DAS GRANDES ARTÉRIAS • Cardiopatia cianótica mais comum em recém- nascidos. • Ocorre uma relação anormal entre as grandes artérias e os ventrículos: → Aorta: origina do ventrículo direito. → Artéria pulmonar: do ventrículo esquerdo. MORFOLOGIA • A principal alteração anatômica é na posição das grandes artérias. • A conexão atrioventricular é concordante (o átrio direito conecta-se com o ventrículo direito; o átrio esquerdo, com o ventrículo esquerdo), e a conexão ventrículo-arterial é discordante. • Aorta: nasce do ventrículo direito, em posição anterior • Artéria pulmonar: nasce do ventrículo esquerdo, em posição posterior. • Transposição simples das grandes artérias: na grande maioria dos pacientes, encontra-se associado apenas a um forame oval (FO) patente e/ou a um canal arterial persistente. • As valvas atrioventriculares, os ventrículos e as valvas ventrículo-arteriais geralmente são normais. • As artérias coronárias podem exibir uma grande variedade anatômica. • Metade dos pacientes pode apresentar outros defeitos associados, como CIV (40 a 45%), obstrução na via de saída do ventrículo esquerdo (5%) e coexistência das duas alterações em 10% dos pacientes. • Raramente, ocorrem coarctação daaorta, EP, atresia pulmonar e justaposição dos apêndices atriais. FISIOLOGIA • Diferentemente da circulação normal, em que o circuito é em série, na TGA, a circulação pulmonar e a circulação sistêmica estão em paralelo. • O sangue venoso sistêmico que chega ao átrio direito passa para o ventrículo direito e dele para a aorta, levando sangue insaturado para a circulação sistêmica. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • Paralelamente, no lado esquerdo, o sangue oxigenado que chega ao átrio esquerdo passa para o ventrículo esquerdo e retorna para a circulação pulmonar. • Essa situação é incompatível com a vida, a menos que exista uma comunicação entre os dois circuitos (FO, CIV ou canal arterial) capaz de promover uma mistura adequada entre o sangue saturado e o não saturado. • Com o fechamento fisiológico do canal arterial e do FO na TGA simples, inicia-se um processo de hipóxia progressiva, em função da mistura insuficiente, que pode culminar com o óbito do paciente. • Na TGA com CIV (CIV), isso não ocorre, por causa da manutenção constante da mistura de sangue. Quando houver EP associada com a CIV, o quadro fisiopatológico é de hipofluxo pulmonar, com a clínica assemelhando-se à tetralogia de Fallot. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Na maioria das vezes, existe um pequeno FO patente, de modo que o recém-nascido pode se apresentar bem ao nascimento, com cianose leve ou discreta, piorando de forma progressiva e acentuada, à medida que ocorre o fechamento do canal arterial. • Em decorrência da baixa concentração de oxigênio circulante, ocorrem hipóxia e acidose metabólica. • Esse processo resulta em disfunção miocárdica, surgindo sinais de IC, como taquipneia, cansaço às mamadas, gemência e palidez cutânea. • Pacientes com CIV podem apresentar cianose leve, que piora ao choro, sem outros sinais clínicos. Após a 1ª semana, com a diminuição mais importante da resistência vascular pulmonar, o paciente pode desenvolver IC. • Há sinais de aumento da área cardíaca com impulsões sistólicas na borda esternal esquerda, a 2ª bulha é hiperfonética e, na maioria dos casos, não se ausculta sopro. • Nos pacientes com CIV e obstrução na via de saída do ventrículo esquerdo, o quadro clínico predominante é a cianose com sopro sistólico de ejeção desde o nascimento. • O diagnóstico pré-natal modifica o prognóstico dos pacientes que apresentam essa patologia com CIA e PCA, com a instituição de medicamentos que mantêm o canal arterial patente, evitando o quadro de hipóxia e acidose metabólica, com correção cirúrgica precoce, diminuindo a morbimortalidade. EXAMES COMPLEMENTARES • Radiografia de tórax: na TGA simples, a área cardíaca geralmente é normal, mas às vezes apresenta leve cardiomegalia, e a circulação pulmonar é normal ou discretamente aumentada. → Em virtude da posição das grandes artérias, o mediastino superior é estreitado, e o coração pode apresentar a forma de “ovo deitado”. Nos casos com CIV, a área cardíaca e a circulação pulmonar estão aumentadas. • Eletrocardiograma: no paciente com TGA simples mostra uma sobrecarga ventricular direita, que pode ser interpretada como um padrão normal no recém-nascido. Na TGA com CIV, observa-se sobrecarga biventricular. • Ecocardiograma: é capaz de demonstrar todos os detalhes anatômicos da doença. Aspectos importantes definidos no ecocardiograma são: relação espacial das grandes artérias, tamanho dos ventrículos, medida dos anéis das valvas aórtica e pulmonar, origem das artérias coronárias, dimensão da CIA e da CIV, permeabilidade do canal arterial e identificação de defeitos associados. • Cateterismo cardíaco: indicado para atriosseptostomia com cateter-balão, medida de pressões e investigação de detalhes anatômicos não definidos ao ecocardiograma, como a origem das coronárias. TRATAMENTO CLÍNICO • Iniciar a prostaglandina, a fim de melhorar a mistura sanguínea através do canal arterial. • Corrigir a acidose metabólica. • Realizar a atriosseptostomia com cateter-balão, quando houver indicação. CIRÚRGICO Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • No neonato com TGA simples, a correção ideal é a cirurgia de Jatene, que deve ser feita em até 45 dias de vida. Essa cirurgia consiste na troca das grandes artérias, conectando-se a aorta ao ventrículo esquerdo e a artéria pulmonar ao ventrículo direito, bem como nas transferências das artérias coronárias da aorta nativa para a neoaorta. • Período máximo de 45 dias de vida porque o coração ainda mantém o ventrículo esquerdo adaptável à pressão arterial sistêmica. • Em pacientes com CIV, a cirurgia de Jatene pode ser realizada em idade superior a 21 dias, mas não se deve retardar muito, pois a hipertensão pulmonar com doença vascular pulmonar desenvolve-se mais precocemente nesses pacientes. • Nos casos de TGA com CIV e EP, indica-se a cirurgia de Rastelli, que é uma derivação intraventricular com a construção de um túnel da CIV para a aorta, dentro do ventrículo direito, direcionando o sangue do ventrículo esquerdo para a aorta. EVOLUÇÃO • O recém-nascido com transposição simples das grandes artérias sem correção cirúrgica evolui para o óbito ainda no período neonatal. • Paciente com CIV associada, em geral, sobrevive ao período neonatal; porém, se não for submetido ao tratamento cirúrgico, o óbito ocorre dentro de 6 a 12 meses de vida, por IC. • O prognóstico cirúrgico com a cirurgia de Jatene é bom, e a evolução tardia tem mostrado complicações, como insuficiência da neovalva aórtica, estenose na árvore pulmonar, arritmia, isquemia miocárdica e morte súbita. • Complicações tardias são comuns em pacientes operados de derivação atrial, sendo as principais: estenose na drenagem venosa sistêmica ou pulmonar, arritmia cardíaca, morte súbita, regurgitação tricúspide e disfunção do ventrículo direito ou sistêmica. TETRALOGIA DE FALLOT • A tetralogia de Fallot consiste no conjunto de quatro alterações cardíacas: → CIV – comunicação interventricular. → EP – etenose pulmonar. → Dextroposição da aorta. → Hipertrofia ventricular direita. • A prevalência da tetralogia de Fallot é de 0,21 por 1.000 nascidos vivos, correspondendo a aproximadamente 3,36% das cardiopatias congênitas. MORFOLOGIA • O ventrículo direito apresenta dimensões externas aumentadas por causa da hipertrofia. • A morfologia do infundíbulo (subpulmonar) é de grande importância clínica e cirúrgica, pois ele é a estrutura responsável pela progressão da EP. → A obstrução da via de saída é total, sendo denominada atresia pulmonar com CIV. → Geralmente, a CIV é do tipo perimembranosa, grande e não restritiva. As artérias pulmonares podem ser normais ou apresentar diferentes anormalidades, incluindo alterações de calibre, de confluência e de distribuição. • O cavalgamento ou dextroposição da valva aórtica é uma alteração essencial na tetralogia de Fallot. → O seu grau é bastante variável, de 15 a 50%. Quando é maior que 50%, passa a ser denominada dupla via de saída de ventrículo direito (DVSVD). Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • A circulação colateral sistêmico-pulmonar é mais comum em pacientes com atresia pulmonar e CIV, podendo ser a única forma de suprimento sanguíneo pulmonar. • Pode ocorrer a associação de várias outras anomalias cardíacas, como CIA, PCA, DSAV, estenose subaórtica fibromuscular, estenose valvar aórtica, anomalias das conexões venosas sistêmicas e pulmonares e coarctação da aorta. O arco aórtico à direita é um achado relativamente comum nesses pacientes. FISIOLOGIA • A CIV e a estenose subpulmonar são os defeitos mais importantes. • A CIV serve, na realidade, como via de saída sistêmica para o ventrículo direito eo ventrículo esquerdo, portanto, é responsável pela equivalência de pressões entre as duas cavidades. • A apresentação clínica depende da EP. A quantidade de sangue desviado do ventrículo direito para a circulação sistêmica será maior quanto maior for a EP. → Pacientes com EP leve são pouco cianóticos ou até mesmo acianóticos, enquanto aqueles com EP grave apresentam cianose importante. MANIFESTAÇÕES CL ÍNICAS • As manifestações clínicas da tetralogia de Fallot estão diretamente relacionadas com a anatomia da doença. • EP leve, o paciente pode ser acianótico, com sopro cardíaco alto. • À medida que a EP progride, aparece a cianose e o sopro vai diminuindo. A cianose é do tipo central, generalizada, atingindo pele e mucosas. • Nos casos de cianose intensa desde o nascimento, uma obstrução grave na via de saída do ventrículo direito está presente, e a circulação pulmonar pode ser dependente da persistência de um canal arterial. → Crianças maiores podem apresentar baqueteamento digital e adotar a posição de cócoras para melhora da hipóxia. • A crise de hipóxia é uma manifestação clínica frequente nessa doença, podendo levar a complicações neurológicas graves. → Durante a crise de hipóxia, o paciente apresenta cianose intensa, acompanhada por taquipneia e, frequentemente, alterações de consciência. → O sopro tende a diminuir ou, até mesmo, a desaparecer, refletindo a diminuição da passagem de sangue pela valva pulmonar. → A crise geralmente ocorre pela manhã, precipitada por atividades como defecar ou chorar. É mais frequente em lactentes, entre 2 e 6 meses de idade. • No exame do precórdio, não se observa hiperatividade e pode não haver frêmito. A 1ª bulha tem intensidade normal ou pouco aumentada, e a 2ª bulha é única. • Sinais de IC raramente estão presentes, a menos que exista uma grande CIV com EP leve ou grande número de colaterais sistêmico-pulmonares. EXAMES COMPLEMENTARES • Radiografia de tórax: várias alterações na tetralogia de Fallot, mas nenhuma é patognomônica. A cardiomegalia raramente é observada. → Crianças maiores: o coração adquire uma forma bastante sugestiva da doença: sua ponta é desviada superiormente com o bordo esquerdo côncavo, lembrando um “tamanco holandês”. • Eletrocardiograma: são desvio do eixo do QRS para a direita e hipertrofia ventricular direita. • Ecocardiograma: todas as características morfológicas da tetralogia de Fallot podem ser exploradas e definidas para uma correta indicação cirúrgica: 1) tamanho e localização da CIV. 2) confluência e tamanho das artérias pulmonares. 3) lateralidade do arco aórtico. 4) suprimento sanguíneo pulmonar. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR 5) anomalias associadas. 6) origem e trajeto das artérias coronárias. • Cateterismo cardíaco: exame invasivo, só é realizado nos casos em que o ecocardiograma não elucidou totalmente todos os aspectos da doença. TRATAMENTO CLÍNICO • Suporte para evitar a piora da cianose e a crise de hipóxia. Para isso, deve-se manter um controle rigoroso da hemoglobina, a fim de evitar anemia e policitemia. • Pacientes com crises de cianose em espera para cirurgia podem beneficiar-se com uso de propranolol (1 a 3 mg/kg/dia), para promover relaxamento da musculatura infundibular e, assim, evitar as crises de hipóxia. CIRÚRGICO • A correção total definitiva dos defeitos vem sendo realizada a partir dos 6 meses de vida, embora alguns serviços já a indiquem aos 3 meses. • A cirurgia de correção total definitiva consiste no fechamento da CIV e na ampliação da via de saída do ventrículo direito. Em algumas situações, quando a valva pulmonar e o tronco pulmonar são hipoplásicos, há necessidade da colocação de homoenxerto para manter um adequado fluxo pulmonar. EVOLUÇÃO • A história natural é influenciada pela severidade dos defeitos anatômicos. • Dados estatísticos mostram que somente 23% desses pacientes atingem os 10 anos de idade e cerca de 30% morrem durante o 1º ano de vida. • Os principais fatores de risco para o óbito são embolia paradoxal, trombose cerebral e pulmonar, abscesso cerebral e endocardite infecciosa. • A cirurgia modificou a evolução natural desses pacientes, com bom prognóstico pós-operatório. • Têm sido descritas complicações após longo tempo de seguimento, como arritmias, disfunção do ventrículo direito, hipertensão pulmonar e morte súbita. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS QUE SE MANIFESTAM COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CIV – COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR (DEFEITO DO SEPTO VENTRICULAR) • A incidência da CIV é de 2,56 casos por 1.000 nascidos vivos. • É a cardiopatia congênita mais frequente, correspondendo a 41,59% do total dessas enfermidades. • Não apresenta predileção por sexo e pode ser encontrada na forma isolada ou em associação com outras anomalias. MORFOLOGIA • Para a classificação da CIV, consideram-se os seguintes aspectos anatômicos: → Visão do defeito pela face direita do septo. → Estruturas que compõem as margens do defeito. → Localização do defeito segundo as porções do ventrículo direito. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR CIV PERIMEMBRANOSA • É o defeito mais comum (70% dos casos) e envolve o septo membranoso e o septo muscular. • Os defeitos são maiores do que a porção membranosa do septo ventricular. • As margens do defeito são constituídas por estruturas fibrosas das valvas aórtica e tricúspide (continuidade fibrosa aorticotricuspídea) e bordas musculares do septo muscular adjacente. • Uma característica anatômica fundamental é que o feixe de Hiss se relaciona com a sua borda posteroinferior. • Esse defeito pode ser subdividido em CIV perimembranosa: → de via de entrada. → de via de saída. → de zona trabecular. CIV JUSTATRICUSPÍDEA • Defeito localizado abaixo da valva tricúspide não relacionada com o septo membranoso. • Nesse caso, o feixe de Hiss passa na borda anterior do defeito. Suas margens são constituídas pelo anel da valva tricúspide e pelas bordas musculares do septo muscular da via de entrada do ventrículo direito. CIV JUSTA-ARTERIAL DUPLAMENTE RELACIONADA • É um defeito relacionado com as valvas ventrículo- arteriais (aórtica e pulmonar). • Ocorre na ausência ou na deficiência do septo infundibular, que é a porção do septo interventricular que divide a via de saída do ventrículo esquerdo e do ventrículo direito. CIV MUSCULAR • É o defeito cuja margem é totalmente composta por tecido muscular, portanto, sem relação com as valvas cardíacas e o feixe de Hiss. • Dependendo de sua localização, divide-se em: CIV muscular de via de entrada, de zona trabecular, apical e de via de saída. FISIOPATOLOGIA • Na vida fetal, as pressões nos ventrículos são iguais, por isso a passagem de sangue pela CIV é irrelevante. • Após o nascimento, com o fechamento dos shunts fisiológicos (placenta, FO e canal arterial), ocorre queda da pressão pulmonar e aumento da pressão sistêmica, com passagem de sangue da esquerda para a direita. • Essa queda, que está associada à diminuição da resistência vascular pulmonar, ocorre mais rapidamente nas primeiras horas de vida com a expansão pulmonar e, depois, vai diminuindo lentamente ao longo dos primeiros meses. • A quantidade de sangue que passa através da CIV aumenta gradualmente, à medida que diminui a resistência vascular pulmonar. Esse shunt, porém, pode ser limitado pelo tamanho do defeito. • O fluxo aumentado na circulação pulmonar chega ao átrio esquerdo e ao ventrículo esquerdo, dilatando-os e Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR elevando a pressão diastólica e, por conseguinte, aumentando a pressão capilar pulmonar retrogradamente. • O aumento da pressão venocapilar é responsávelpelos sintomas: taquipneia, dispneia aos esforços e interrupções às mamadas. • A persistência crônica do fluxo pulmonar aumentado e da hipertensão venocapilar provoca uma reação das arteríolas pulmonares, com espessamento e fibrose da média e aumento da pressão da artéria pulmonar e do ventrículo direito. • Se não houver uma correção da cardiopatia, ocorre uma progressão dessa lesão arteriolar, com proliferação da íntima e obstrução total da luz, causando uma hiper-resistência vascular pulmonar com consequente aumento da hipertensão pulmonar, o que provoca shunt invertido pela CIV, da direita para esquerda, e aparecimento da cianose. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • O quadro clínico, que depende da magnitude do shunt, geralmente começa a se manifestar no final do 1º mês de vida, intensificando-se no 2º e no 3º mês. • Clinicamente, é possível dividir as CIV em pequenas, moderadas e grandes. • A divisão baseia-se na relação do fluxo pulmonar (Qp) com o fluxo sistêmico (Qs). • No indivíduo normal, essa relação (Qp/Qs) é igual a 1. Na CIV, como existe um hiperfluxo pulmonar, o Qp/Qs sempre será maior que 1. CIV PEQUENA • A relação Qp/Qs é maior que 1 e menor que 1,5, correspondendo a um pequeno shunt da esquerda para a direita. • No exame físico, a 2ª bulha na área pulmonar é normofonética ou discretamente aumentada e existe a presença do sopro sistólico, em geral de regurgitação (holossistólico). O sopro pode ser atípico na CIV muscular. CIV MODERADA • O Qp/Qs encontra-se entre 1,5 e 2. Com esse shunt, há aumento das cavidades esquerdas, da pressão venocapilar e da pressão pulmonar. • A diferença de pressão sistólica é igual ou superior a 20 mmHg entre os dois ventrículos. • Na ausculta cardíaca, observam-se a 2ª bulha hiperfonética na área pulmonar e o sopro sistólico de regurgitação (holossistólico). CIV GRANDE • O shunt é maior que 2. • O diâmetro da CIV é igual ou superior ao anel aórtico, sendo também denominada CIV não restritiva. • Os sintomas são mais intensos com taquipneia, cansaço, dispneia aos esforços, sudorese cefálica, palidez e déficit no desenvolvimento ponderoestatural. • No exame físico, observa-se aumento do diâmetro anteroposterior do tórax. • A 2ª bulha na área pulmonar é intensa e o sopro sistólico de regurgitação geralmente está presente. • Existe um sopro diastólico discreto em ponta, por causa do grande fluxo através da valva mitral. • O quadro clínico geral é típico de IC. CIV COM HIPER-RESISTÊNCIA VASCULAR PULMONAR (SÍNDROME DE EISENMENGER) • Em um período do desenvolvimento da hipertensão pulmonar, há equalização das pressões entre as duas cavidades ventriculares, com desaparecimento do shunt da esquerda para a direita. • O Qp/Qs pode igualar-se a 1, à semelhança da fisiologia normal. → Com isso, a criança experimenta alguma melhora nos sintomas por um curto período, inclusive com aumento no desenvolvimento ponderoestatural. • A progressão da hipertensão leva à inversão do shunt, com o aparecimento da cianose e de sintomas como dispneia, cansaço, tontura e síncope. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • Ao exame físico, a cianose é central e generalizada, a 2ª bulha na área pulmonar é intensa, palpável, e não se ausculta mais o sopro da CIV. → Essas alterações ocorrem em torno de 5 a 10 anos de idade, mas podem ser mais precoces, principalmente em crianças sindrômicas. EXAMES COMPLEMENTARES • A radiografia de tórax: → CIV pequena: normal. → CIV moderada: aumento da circulação pulmonar com cardiomegalia à custa das cavidades esquerdas. → CIV grande: importante aumento da circulação pulmonar, com sinais de hiperfluxo e congestão venosa e uma cardiomegalia significativa, consequente do aumento das cavidades esquerdas, da artéria pulmonar e do ventrículo direito. → Hiper-resistência vascular pulmonar: os vasos dos hilos pulmonares ficam proeminentes, com ausência de vasos na periferia, e a área cardíaca pode estar normal ou discretamente aumentada, com grande aumento da artéria pulmonar. • É importante notar que na CIV não existe aumento da -aorta. • O eletrocardiograma: → CIV pequena: normal. → CIV moderada: existe sobrecarga ventricular esquerda e, em alguns casos, com predomínio do ventrículo esquerdo. Na CIV grande, a sobrecarga é biventricular, com predomínio, às vezes, do ventrículo direito. → Hiper-resistência pulmonar: observa-se sobrecarga ventricular direita. → CIV moderadas e grandes: sobrecarga atrial esquerda. • Ecocardiograma: exame mais importante para a definição diagnóstica e para a conduta clínica e deve ser indicado assim que houver suspeita clínica da lesão; pode definir também a localização, o tamanho, a repercussão hemodinâmica e a relação do defeito com outras estruturas cardíacas. • Cateterismo cardíaco diagnóstico: reservado para quando há necessidade de estudo das pressões pulmonares ou de investigação de anomalias associadas suspeitadas e não definidas pelo ecocardiograma. TRATAMENTO CLÍNICO • Uso clássico de diurético provoca uma melhora substancial. Pacientes com sinais leves podem ser medicados somente com digital, com bons resultados. • Quando necessário, utiliza-se um vasodilatador associado, como o inibidor da enzima conversora da angiotensina (ECA). Alguns serviços preconizam o uso isolado do inibidor da ECA. CIRÚRGICO • A correção cirúrgica total está indicada em qualquer idade para pacientes que apresentam IC refratária ao tratamento clínico, retardo do desenvolvimento ponderoestatural e desenvolvimento de hipertensão pulmonar. • O tratamento eletivo deve ser feito quando o Qp/Qs for maior que 1,5, a partir do 10º mês de vida e até 2 anos. EVOLUÇÃO • Na evolução natural, a CIV pode apresentar fechamento espontâneo, desenvolvimento de EP, progressão da hipertensão pulmonar para síndrome de Eisenmenger, insuficiência aórtica, obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo e endocardite infecciosa. • O fechamento espontâneo ocorre em até 70% dos casos, a maioria no 1º ano de vida, e acontece nas CIV perimembranosas, na muscular pequena e na subaórtica (perimembranosa ou duplamente relacionada). • A evolução pós-correção cirúrgica é boa, mas sequelas e resíduos podem ocorrer, como alterações elétricas, bloqueio Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR atrioventricular total, persistência ou progressão da hipertensão pulmonar e CIV residuais. COARCTAÇÃO DA AORTA • A prevalência da coarctação da aorta é de 0,33 por 1.000 nascimentos, com frequência de 5,29% entre as cardiopatias congênitas. • Há predomínio do sexo masculino, na proporção de 2:1. • A associação com a valva aórtica bicúspide é muito frequente e é a doença cardíaca mais comum na síndrome de Turner. MORFOLOGIA • A coarctação da aorta pode ser localizada ou segmentar e apresentar-se nas regiões pré-ductal, paraductal e pós-ductal. • A localização mais comum é entre a subclávia esquerda e a junção aortoductal, ou seja, a região pré-ductal. • Lesões associadas são frequentes e entre as principais estão: PCA, CIV, CIA, SHVE, transposição dos grandes vasos da base e dupla via de saída do ventrículo direito. FISIOPATOLOGIA • Quando a coarctação da aorta é muito importante, o débito sanguíneo para o dimídio inferior do corpo é feito pelo canal arterial. • Com o fechamento do canal, há súbito aumento no retorno venoso pulmonar e na pós-carga do ventrículo esquerdo. • Consequentemente, desenvolve-se a falência do ventrículo esquerdo, com aparecimento de sinais de IC grave. • Como na hipoplasia do ventrículo esquerdo e na estenose aórtica crítica, o débito sistêmico é dependente do canal arterial. • A coarctação não crítica evolui com hipertrofia do ventrículoesquerdo e hipertensão arterial na parte superior do corpo. • Se a obstrução se faz gradualmente, desenvolve-se a circulação colateral com pouco comprometimento no débito para a parte inferior do corpo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • A idade do paciente, a intensidade da obstrução e as anomalias associadas determinam a clínica da criança. • Neonato com coarctação grave: clínica de IC e, algumas vezes, choque cardiogênico, na 2ª ou na 3ª semana de vida. Há ausência de pulsos em membros inferiores e normalmente não se ouve sopro. O quadro clínico pode ser mais precoce e mais intenso quando há associação de CIV. • Crianças maiores: podem ser assintomáticas, e a suspeita diagnóstica é feita pela diferença de pulsos entre os membros superiores e os inferiores e hipertensão arterial. • Fadiga, cefaleia, epistaxe e dor em membros inferiores são frequentes. • Sopro cardíaco: audível na fúrcula e na região interescapular, mas sua presença no precórdio é, em geral, consequência de anomalias associadas. O sopro contínuo da circulação colateral é raro na criança pequena. EXAMES COMPLEMENTARES • Radiografia de tórax no recém-nascido: com IC, há cardiomegalia com congestão pulmonar. O eletrocardiograma mostra, na maioria dos casos, sobrecarga ventricular direita. • Radiografia de tórax em crianças maiores: pode ser normal com dilatação da aorta ascendente. Em escolares e adolescentes, observam-se o “sinal de 3” e erosões nas superfícies inferiores das costelas. O eletrocardiograma apresenta-se normal ou com sobrecarga ventricular esquerda. • Ecocardiograma com Doppler: exame importante no auxílio diagnóstico, é possível demonstrar a coarctação na imagem ecocardiográfica, pois o gradiente de pressão pode estar ausente ou subdimensionado nas coarctações graves. • Ressonância magnética/tomografia helicoidal: exames que demonstram com mais clareza o tipo de lesão. TRATAMENTO Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • Em neonatos com choque cardiogênico, a conduta inicial é semelhante à da hipoplasia de ventrículo esquerdo com uso de prostaglandina. • Tratamento invasivo (dilatação ou cirurgia) deve ser feito em todos os pacientes sintomáticos e nos pacientes assintomáticos que apresentarem hipertensão arterial ou sinais de repercussão hemodinâmica nos exames complementares. • O tratamento deve ser de urgência nos recém- nascidos e lactentes com IC, e eletivo nos pacientes assintomáticos em torno do 1º ano de vida. • A abertura da coarctação é feita pelo cateterismo cardíaco ou por cirurgia. No neonato e no lactente, o melhor tratamento é o cirúrgico. A dilatação com balão é mais utilizada em casos de recoarctação ou em casos de coarctação nativa em pacientes maiores. EVOLUÇÃO • A mortalidade é alta nas crianças que desenvolvem IC. O paciente sem reparo ou correção tardia evolui normalmente, com hipertensão arterial na vida adulta. • Nos pacientes com coarctação importante, assintomáticos ou com poucos sintomas na infância, a evolução natural mostra morte prematura em torno da 3ª ou 4ª década de vida, tendo como causas: IC, ruptura da aorta, endocardite bacteriana e hemorragia intracraniana. • Pacientes tratados podem apresentar complicações e resíduos, como hipertensão arterial, recoarctação, aneurisma e endocardite infecciosa. PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL • O canal arterial está patente na vida fetal, como um curto e largo vaso conectando a artéria pulmonar à aorta descendente, logo abaixo do istmo aórtico. • É uma estrutura fundamental na circulação fetal e, após o nascimento, seu fechamento funcional comumente ocorre entre 12 e 15 horas de vida, e o anatômico é completado entre o 5º e o 7º dia de vida, prolongando-se, em alguns casos, até o 21º dia. • No prematuro, a constrição do canal pode não ser efetiva, provocando maior incidência quanto menores forem a idade gestacional e o peso do prematuro. • Em algumas situações, a PCA é a condição obrigatória para a manutenção da vida do paciente. FISIOPATOLOGIA • No feto, quase todo débito do ventrículo direito passa pelo canal arterial para a aorta descendente em direção ao dimídio inferior e à placenta, e somente uma pequena porção desse sangue vai para os pulmões. → O débito do ventrículo esquerdo direciona-se principalmente ao cérebro. • Com o nascimento, eliminam-se os shunts fisiológicos (placenta, FO e canal arterial) e a circulação torna-se em série. • A pressão sistêmica eleva-se e a pressão pulmonar diminui progressivamente, atingindo o padrão de adulto em torno de 6 meses de vida. • Se houver a PCA, o shunt passa a se direcionar da esquerda para a direita, levando a um desequilíbrio hemodinâmico, com aumento do fluxo na circulação pulmonar e nas cavidades esquerdas. • Semelhante ao que acontece na CIV, o aumento de volume nas cavidades esquerdas provoca aumento das pressões diastólicas e, consequentemente, da pressão capilar, desencadeando todo o processo fisiopatológico descrito na CIV. • A repercussão hemodinâmica dependerá, portanto, do diâmetro do canal arterial e da resistência vascular pulmonar. • Nos prematuros, como a resistência vascular é muito baixa, o shunt da aorta para a artéria pulmonar pode ser precoce e acentuado, provocando um quadro clínico muito importante e diferente do que ocorre no recém-nascido a termo. • Assim como na CIV, a persistência crônica da doença é capaz de levar à síndrome de Eisenmenger. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • O quadro clínico da criança nascida a termo assemelha-se ao descrito para a CIV. • No exame físico, o sopro típico é contínuo, com 2ª bulha hiperfonética. Estalidos múltiplos podem estar presentes, associados ao sopro. • Os pulsos periféricos são amplos, lembrando fístulas arteriovenosas. • Um canal arterial muito pequeno ou com hipertensão pulmonar importante em alguns casos não apresenta sopro. • Com o desenvolvimento da hiper-resistência vascular pulmonar (síndrome de Eisenmenger), há inversão do shunt no canal arterial, com aparecimento de cianose em membros inferiores (cianose diferencial). • Em prematuros, o canal arterial manifesta-se mais precocemente. A PCA pode estar associada ao quadro da síndrome da angústia respiratória e piorar o padrão respiratório, aumentando a taquicardia, a taquipneia e desenvolvendo edema pulmonar. Nesses quadros de angústia respiratória, o sopro pode estar ausente. EXAMES COMPLEMENTARES • Radiografia de tórax: é normal no canal arterial. Quando há repercussão hemodinâmica, observa-se aumento da circulação pulmonar e da área cardíaca, à custa das cavidades esquerdas, da aorta e da artéria pulmonar. • O aumento da área cardíaca é semelhante ao que acontece na CIV, exceto o aumento da aorta na PCA. O eletrocardiograma é normal na PCA pequena. • Nos casos com grande shunt da esquerda para a direita, observa-se sobrecarga ventricular esquerda. Com o desenvolvimento da hipertensão pulmonar, ocorre sobrecarga ventricular direita, que predomina com a progressão para a síndrome de Eisenmenger. • Ecocardiograma com Doppler: exame-padrão para o diagnóstico dessa anomalia, pois, além de visualização do canal, é possível medir o seu diâmetro, observar a direção do shunt, quantificar a repercussão hemodinâmica pelas dimensões das câmaras cardíacas e estimar a pressão na artéria pulmonar. • Cateterismo: deve ser evitado para diagnóstico. Em raros casos, como na hipertensão pulmonar, a sua realização é importante. TRATAMENTO • Todas as PCA evidentes ao exame físico devem ser fechadas, mesmo as pequenas, em razão do risco de endocardite infecciosa. • Em prematuros, a 1ª opção para os casos que necessitam de fechamento é o tratamento medicamentoso. Tanto a indometacinacomo o ibuprofeno têm-se mostrado úteis nesses pacientes. → A cirurgia está indicada quando houver falência no fechamento medicamentoso ou em condições em que o prematuro não possa receber a droga. • Em crianças não prematuras, o fechamento está indicado em qualquer idade para IC congestiva. O tratamento eletivo pode ser feito em torno dos 12 meses de vida. A escolha do tipo de procedimento, cirúrgico ou percutâneo, depende fundamentalmente do tipo do canal e da experiência do serviço. EVOLUÇÃO • Em prematuros com canais arteriais de repercussão, existe o risco de comprometimento cerebral (hemorragia cerebral), enterocolite necrotizante e displasia broncopulmonar. • As complicações em canais não tratados incluem endarterite bacteriana, calcificação do canal, aneurisma, IC e doença obstrutiva vascular pulmonar • A evolução pós-operatória é excelente. Em relação ao fechamento percutâneo, há necessidade de observações mais longas, embora, até o momento, o prognóstico tenha sido bom. DEFEITO DO SEPTO ATRIOVENTRICULAR TOTAL • DSAV é uma anormalidade do desenvolvimento dos coxins endocárdicos, resultando em uma CIA tipo ostium primum, uma CIV e uma única valva atrioventricular. MORFOLOGIA Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • A alteração morfológica básica do DSAV é a presença de uma junção atrioventricular comum. • Isso significa que existe uma valva comum entre as cavidades atriais e ventriculares, associada a uma comunicação atrial e a uma CIV. • O defeito completo do septo atrioventricular é classificado, conforme a morfologia da valva atrioventricular, em tipos A, B e C de Rastelli. FISIOPATOLOGIA • O comportamento fisiopatológico assemelha-se aos casos de CIV grande. • O shunt acontece da esquerda para a direita, seja no átrio ou no ventrículo, determinado fundamentalmente pela menor resistência vascular pulmonar. • Há também uma passagem de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio direito, por causa da incompetência ou da anormalidade da valva atrioventricular. • O desenvolvimento de hiper-resistência pulmonar pode ocorrer e é mais precoce nos pacientes com síndrome de Down – daí a necessidade de correção precoce. QUADRO CLÍNICO • Semelhante ao da CIV grande com dispneia, baixo desenvolvimento ponderoestatural e infecção respiratória de repetição. • Em crianças com insuficiência importante da valva atrioventricular, a IC pode ser mais precoce e muitas vezes elas são refratárias ao tratamento clínico. • Nas crianças com síndrome de Down, a regressão da pressão pulmonar pode retardar e o paciente pode não apresentar sinais clínicos, dificultando o diagnóstico da doença. • No exame físico, por causa das pressões equilibradas nos átrios e nos ventrículos, o sopro pode ser discreto ou até mesmo ausente. • Na presença de regurgitação importante da valva atrioventricular, ausculta-se um sopro sistólico de regurgitação em borda esternal esquerda. A 2ª bulha é hiperfonética, algumas vezes com desdobramento fixo. EXAMES COMPLEMENTARES • Radiografia de tórax: assemelha-se à da CIV, com aumento da circulação pulmonar e da área cardíaca. • Eletrocardiograma: hemibloqueio anterior esquerdo. • No paciente sem hipertensão pulmonar importante, observa-se sobrecarga biventricular, com padrão de distúrbio de condução do ramo direito. → Com o desenvolvimento da hipertensão, há o predomínio das cavidades direitas. • Ecocardiograma com Doppler: é o padrão-ouro para o diagnóstico dessa lesão. Todos os pontos anatômicos que devem ser avaliados para a correção cirúrgica podem ser obtidos por esse exame: tamanho da CIA, tamanho da CIV, tipo da valva atrioventricular, balanceamento dos ventrículos, via de saída do ventrículo direito, via de saída do ventrículo esquerdo, anomalias da valva atrioventricular e outras anomalias associadas, como a PCA. TRATAMENTO • O tratamento sempre é cirúrgico. A correção definitiva deve ser feita em torno dos 6 meses de vida, principalmente nos pacientes com síndrome de Down. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR EVOLUÇÃO • A evolução do defeito do septo atrioventricular total é semelhante à da CIV grande. • O retardo na correção pode levar ao desenvolvimento de doença vascular pulmonar obstrutiva. A correção cirúrgica pode ser realizada com baixa mortalidade e melhora o prognóstico do paciente. SÍNDROME DE HIPOPLASIA DO VENTRÍCULO ESQUERDO • É denominada síndrome por abranger um grande número de anomalias: → Atresia ou estenose das valvas aórtica e mitral → Hipoplasia das câmaras esquerdas → Hipoplasia da aorta ascendente → Canal arterial persistente MORFOLOGIA • A maioria dos pacientes apresenta significativo hipodesenvolvimento do ventrículo e do átrio esquerdos. • A valva mitral pode ser atrésica ou estenótica, o mesmo acontecendo com a valva aórtica. • A aorta ascendente e o arco aórtico são finos, podendo estar associados com coarctação da aorta. • A artéria pulmonar é dilatada e as coronárias geralmente possuem origem normal. • O septo interventricular pode ser íntegro ou apresentar uma CIV. • Uma comunicação entre os átrios está presente, mas existem casos com septo íntegro. FISIOPATOLOGIA • A hipoplasia do ventrículo esquerdo não traz qualquer prejuízo para o desenvolvimento do feto, pois o débito sistêmico é mantido pelo ventrículo direito. • Como não existe fluxo anterógrado efetivo pela valva aórtica, a nutrição das coronárias e do dimídio superior do corpo é feita por um fluxo retrógrado, oriundo da passagem de sangue pelo canal arterial. • Após o nascimento, ocorre queda da resistência vascular pulmonar, aumento da resistência sistêmica e fechamento do canal arterial e, consequentemente, o ventrículo esquerdo hipoplásico não será suficiente para manter o débito cardíaco. • A manutenção da vida desses pacientes depende, então, da permeabilidade do canal arterial; por isso, o diagnóstico precoce é vital. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Ao nascimento, o recém-nascido aparenta estar normal. Subitamente, em geral após 24 horas de vida, a criança desenvolve quadro de baixo débito, com uma coloração de pele acinzentada, taquipneia, dificuldade respiratória e hipotermia. • Aparecem sinais de acidose metabólica, hipoglicemia, anúria e choque. Se não tratado, o paciente evolui ao óbito em poucas horas. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • As bulhas cardíacas são nítidas, com 2ª bulha única e clique de ejeção pulmonar. • Normalmente, não têm sopro, mas podem apresentar sopro sistólico inespecífico, pelo fluxo através da valva pulmonar. • Os pulsos estão reduzidos ou ausentes nos quatro membros. EXAMES COMPLEMENTARES • Radiografia de tórax: mostra cardiomegalia leve a moderada com aumento da trama vascular pulmonar. • Eletrocardiograma: inespecífico, com hipertrofia atrial e ventricular direita. Anormalidades difusas do segmento ST e da onda T podem aparecer por causa da isquemia coronariana. • Ecocardiograma: define o diagnóstico pela demonstração das lesões da síndrome. Auxilia na terapêutica, monitorando o fluxo pelo canal arterial. • Cateterismo cardíaco: pode ser usado para colocação de stent no canal arterial ou para abertura do septo atrial. TRATAMENTO • Tratamento clínico: estabilizar o doente para a cirurgia. Utiliza-se prostaglandina para manter o canal arterial pérvio. Oxigênio não deve ser utilizado. Algumas vezes, o uso de CO2 ajuda a manter o equilíbrio hemodinâmico, ao aumentar a resistência vascular pulmonar e proporcionar maior fluxo à aorta. • A correção cirúrgica deve ser realizada assim que houver condições clínicas adequadas. A técnica mais utilizada é a cirurgia de Norwood no 1º estágio, seguida pelascirurgias de hemi-Fontan e Fontan. Pode-se utilizar também a abordagem híbrida ou até mesmo esperar pelo transplante cardíaco. EVOLUÇÃO • A evolução é fatal dentro do 1º mês de vida quando o doente não é tratado. • A cirurgia mostra ainda uma alta mortalidade, considerando-se os três estágios necessários. Com o diagnóstico pré-natal, houve uma melhora na sobrevida nos últimos anos. CARDIOPATIAS CONGÊNITAS QUE SE MANIFESTAM POR SOPRO CARDÍACO COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (DEFEITO DO SEPTO ATRIAL) • A prevalência da CIA é de 0,53 por 1.000 nascidos vivos, e a sua frequência é de 8,67% entre os defeitos cardíacos congênitos. • Predomínio no sexo feminino de 2:1. • A CIA apresenta-se isoladamente ou associada a outras anomalias congênitas. MORFOLOGIA • São quatro os tipos anatômicos da CIA: → CIA ostium secundum (OS): é o defeito mais comum e ocorre na região da fossa oval, sendo, por isso, também conhecida como CIA tipo fossa oval. → CIA ostium primum (OP): é conhecida atualmente como defeito do septo atrioventricular parcial e está localizada junto às valvas atrioventriculares; quase sempre está associada a fenda no folheto anterior da valva mitral. → CIA seio venoso (SV): está localizada junto à desembocadura da veia cava superior e, em geral, está associada à drenagem anômala parcial de veias pulmonares direitas. → CIA seio coronário (SC): é um defeito raro, decorrente da presença de orifício no teto do seio coronário, permitindo passagem do átrio esquerdo para o átrio direito através do óstio do seio coronário. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR FISIOPATOLOGIA • Na CIA, ocorre desvio do sangue do átrio esquerdo para o átrio direito em virtude da maior capacidade de distensão das paredes do átrio direito, da menor resistência vascular pulmonar e da maior complacência do ventrículo direito. • No recém-nascido, esse shunt ainda é muito leve, em razão da elevada resistência vascular pulmonar e da menor complacência do ventrículo direito. • Conforme a pressão diminui e a complacência ventricular direita aumenta, o shunt aumenta. Por isso, a ausculta típica é rara nos primeiros meses de vida. • Admite-se que o shunt ocorra durante todo o ciclo cardíaco, mas é mais intenso no final da sístole e no começo da diástole ventricular. • Por causa da passagem do sangue da esquerda para a direita pela CIA, há hiperfluxo pulmonar e retorno de sangue aumentado para o átrio esquerdo. • Diferentemente da CIV, em que o aumento de volume no átrio esquerdo eleva as pressões dessa cavidade e do capilar pulmonar, na CIA há esvaziamento para o átrio direito e a pressão desse sistema não se eleva. → Por isso os pacientes não apresentam sinais de taquipneia, dispneia aos esforços e interrupções às mamadas – sintomas e sinais típicos de hipertensão venocapilar pulmonar. • Com o volume aumentado nas cavidades direitas, há dilatação do átrio e do ventrículo direitos e da artéria pulmonar, e um prolongamento no tempo de esvaziamento do ventrículo direito, denotado clinicamente pelo desdobramento fixo da 2ª bulha, que é o atraso no fechamento da valva pulmonar. • Se não houver correção da CIA, o paciente pode desenvolver, em idade adulta, IC, arritmia e hipertensão pulmonar. QUADRO CLÍNICO • A maioria dos pacientes é assintomática. Algumas vezes, podem apresentar fadiga, infecções respiratórias de repetição e palpitações. • Raramente, em lactentes, ocorre IC e atraso no crescimento. • Nas CIA OP, os sintomas normalmente são mais graves e precoces na infância, com sinais de IC, atraso no desenvolvimento ponderoestatural e sopro de insuficiência mitral. • O desdobramento fixo da 2ª bulha é típico dessa anomalia e ocorre pelo retardo no esvaziamento do ventrículo direito, o qual apresenta volume sanguíneo aumentado. O sopro sistólico de ejeção em borda esternal esquerda na valva pulmonar (2º espaço intercostal) ocorre por causa da estenose relativa da valva. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR EXAMES COMPLEMENTARES • O padrão característico no eletrocardiograma é a presença de complexo QRS tipo Rsr’ (distúrbio de condução do ramo direito) nas derivações precordiais direitas, por sobrecarga ventricular direita, mas o exame pode ser normal no caso de CIA pequena. • CIA grande: evidenciam-se hipertrofias atrial e ventricular direitas com desvio do eixo para a direita. Na CIA OP, além das alterações já mencionadas, observam-se hemibloqueio anterior esquerdo e sobrecarga ventricular esquerda. • Radiografia de tórax: nota-se cardiomegalia à custa do átrio e do ventrículo direitos e da artéria pulmonar (2º arco esquerdo proeminente). A circulação pulmonar está aumentada sem sinais de congestão pulmonar (ausência de vasos predominantes na porção apical). • Ecocardiograma: confirma o diagnóstico e caracteriza a CIA pela visualização direta. A repercussão pode ser medida pelo aumento das cavidades direitas e pelo fluxo pulmonar, com o cálculo de Qp/Qs (relação do fluxo pulmonar com o fluxo sistêmico, em que o normal é 1:1). • Cateterismo: raramente indicado para diagnóstico, é utilizado quando há suspeita de drenagem anômala parcial das veias pulmonares ou para avaliação de pressões. TRATAMENTO • O fechamento da comunicação está indicado quando Qp/Qs > 1,5:1 e pode ser feito por cirurgia ou cateterismo em CIA OS. Correções da fenda na valva mitral e das anomalias de drenagem pulmonar devem ser realizadas concomitantemente. • A correção cirúrgica tem de ser realizada eletivamente por volta de 2 anos de idade, para evitar aumento crônico do átrio e do ventrículo direitos, que são causa de arritmia e de IC no adulto, levando à morte prematura. EVOLUÇÃO • Somente a CIA OS se fecha espontaneamente (em 14% dos pacientes). • Se não corrigida, pode levar, na 2ª ou na 3ª década de vida, ao desenvolvimento de insuficiência do ventrículo direito e de arritmias. DIAGNÓSTICOS DE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS TESTE DA OXIMETRIA DE PULSO (“TESTE DO CORAÇÃOZINHO”) • Exame não invasivo realizado com um aparelho chamado oxímetro, encostando-se o sensor, que mede a oxigenação do sangue: → local de aferição: membro superior direito e um dos membros inferiores. Para a adequada aferição, é necessário que o recém-nascido esteja com as extremidades aquecidas e o monitor evidencie uma onda de traçado homogêneo; → momento da aferição: entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar; → resultado normal: saturação periférica de oxigênio (SpO2) → ≥ 95% em ambas as medidas (membro superior direito e membro inferior) e diferença < 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior; → resultado anormal: caso qualquer medida da SpO2 seja < 95% ou haja uma diferença ≥ 3% entre as medidas do membro superior direito e do membro inferior, uma nova aferição deve ser realizada após 1 hora. Caso o resultado seja confirmado, uma ecocardiografia deve ser realizada dentro das 24 horas seguintes, antes da alta hospitalar. • O teste apresenta um valor preditivo positivo de 47%, valor preditivo negativo de 99,9%, sensibilidade de 70% e especificidade de 99,9% para o diagnóstico de cardiopatia congênita crítica no recém-nascido. • O resultado esperado é a redução da cardiopatia congênita crítica, com alta do berçário sem diagnóstico, evitando-se o choque cardiogênico, a acidose metabólica, a parada cardíaca e o agravo neurológico, e reduzindo-se a taxa de mortalidade neonatal. • A realização desse teste não descarta a necessidade de exame físico minucioso e detalhado em todo recém-nascido, antes da alta hospitalar. Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR TESTE DE HIPERÓXIA • Diante de um recém-nascido comsuspeita de cardiopatia congênita, pode-se realizar o teste de hiperóxia com o objetivo de fazer o diagnóstico diferencial entre cardiopatia congênita, pneumopatia neonatal e HPPRN. • Oferece-se oxigênio a 100%, coleta-se gasometria arterial da região pré-ductal (membro superior direito) e pós- ductal (um dos membros inferiores). • De acordo com o valor da PO2 encontrada, pode-se concluir que: • Teste positivo: → PO2 > 250 mmHg: excluem-se as cardiopatias congênitas críticas; • Teste negativo: → PO2 < 100 mmHg: provável CCC cianótica do tipo fluxo pulmonar canal-dependente (atresia pulmonar) ou circulação em paralelo (transposição das grandes artérias); → PO2 entre 100 e 250 mmHg: possível cardiopatia congênita com shunt misto (p.ex., tronco arterial comum, ventrículo único sem estenose pulmonar, síndrome de hipoplasia do coração esquerdo). • Caso ocorra uma diferença entre a PO2 pré e pós- ductal acima de 20 mmHg, deve-se pensar na possibilidade de HPPRN. RADIOGRAFIA DE TÓRAX • Tamanho da área cardíaca: presença de cardiomegalia aumenta muito a possibilidade de cardiopatia, embora a presença de uma área cardíaca normal não exclua esse diagnóstico. • Avaliação da trama vascular pulmonar: pode se apresentar das seguintes formas: → Diminuída: cardiopatias com fluxo pulmonar dependente do canal arterial (atresia pulmonar) (Figura 3A); → Aumentada: cardiopatias com fluxo sistêmico dependente do canal arterial, cardiopatias com shunt misto e cardiopatias com shunt esquerda- direita. ECOCARDIOGRAMA COM MAPEAMENTO DE FLUXO EM CORES Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR Mariane Piva Sanchez – Medicina UFR • Este é o método de escolha para se realizar o diagnóstico de qualquer cardiopatia congênita no recém- nascido. • Fornece informações precisas sobre a anatomia do defeito cardíaco e da função cardíaca, sendo um exame não invasivo e de fácil reprodutibilidade. • Atualmente, considera-se o ecocardiograma um exame de realização obrigatória em qualquer recém-nascido com suspeita de cardiopatia. • Mesmo que o ecocardiograma ainda não tenha sido feito, deve-se imediatamente iniciar uso de PGE1 como prova terapêutica. ROTEIRO 1) Introdução 2) Aspectos Clínicos e Fisiopatológicos para reconhecimento das cardiopatias congênitas - Cianose - Insuficiência cardíaca - Sopro Cardíaco - Arritmia 3) Transposição de grandes artérias/vasos - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas - Exames Complementares - Tratamento e evolução 4) Tetralogia de Fallot - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas. - Exames Complementares - Tratamento e evolução 5) Comunicação Interventricular (defeito do septo interventricular) - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas e tipos de CIV. - Exames Complementares - Tratamento e evolução 6) Coarctação de Aorta - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas - Exames Complementares - Tratamento e evolução 7) Persistência do Canal arterial - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas - Exames Complementares - Tratamento e evolução 8) Defeito do septo atrioventricular total - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas - Exames Complementares - Tratamento e evolução 9) Síndrome de hipoplasia do ventrículo esquerdo/coração esquerdo - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas - Exames Complementares - Tratamento e evolução 10) Comunicação Interatrial (defeito do septo atrial) - Morfologia e Fisiologia - Manifestações clínicas - Exames Complementares - Tratamento e evolução 11) Diagnósticos de Cardiopatias Congênitas: - Teste do coraçãozinho (Oximetria de pulso) - Teste de hiperóxia - Radiografia de tórax - Ecocardiografia com mapeamento de fluxo em cores
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