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10 - itens 5.3 e 5.4

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EAE 0305 – Contabilidade Social
Aula 23 – A Contabilidade do Balanço de Pagamentos; taxa de câmbio e regimes cambiais 
 itens 5.3 e 5.4 do Programa
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A Contabilidade do Balanço de Pagamentos
O Balanço de Pagamentos é uma peça contábil resultante de várias contas que têm lançamentos a débito e a crédito. 
O princípio básico é que tudo que dá origem à entrada de recursos estrangeiros no país gera um lançamento a crédito e tudo que dá origem a saída gera um lançamento a débito.
A estes lançamentos corresponderão quase sempre lançamentos contrários na conta haveres da autoridade monetária (reservas). Contudo, nem sempre isto acontece.
Se, por exemplo, o país exporta mercadorias no valor de US$ 100mil, mas recebe apenas US$ 50 mil à vista e financia a seu cliente os US$ 50 mil restantes, os lançamentos contrários ao lançamento a crédito na conta de exportações serão 2: um de US$ 50 mil a débito na conta haveres da autoridade monetária e mais um de mesmo valor a débito na conta de crédito comercial (financiamentos). Se os primeiros US$ 50mil tiverem sido depositados pelo cliente do exportador brasileiro em conta bancária de sua propriedade no exterior, então o lançamento a débito inicial será feito na balança de capitais, subconta outras investimentos -moeda e depósitos.
Da mesma maneira, apenas com sinais invertidos, acontecem os lançamentos no caso de o país importar bens ou serviços e não pagar integralmente seu valor no ato da compra.
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A Contabilidade do Balanço de Pagamentos
Vejamos mais algumas operações:
empresa de propriedade de não residentes, tem, num determinado ano, lucros de US$ 100 mil e resolve reinvestir US$ 50 mil deles: lançamento a débito no valor de U$ 100mil na conta rendas de capital do balanço de serviços e rendas; lançamentos a crédito no valor de US$ 50mil na conta haveres da autoridade monetária e no mesmo valor na conta investimentos diretos-reinvestimentos.
residente que trabalha no exterior envia recursos a seus familiares no país: crédito na conta transferências unilaterais, debito na conta haveres. 
País envia ajuda humanitária a outro país em dinheiro: débito na conta transferências unilaterais, crédito na conta haveres.
País recebe ajuda humanitária de outro país em mercadorias: crédito na conta transferências unilaterais, débito na conta importações.
Não residentes vendem ações na Bovespa e remetem os recursos ao exterior: débito na conta investimentos em carteira, crédito na conta haveres.
Turistas brasileiros viajam ao exterior: débitos na balança de serviços e rendas, subcontas transporte (passagens) e viagens; crédito na conta haveres.
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A Contabilidade do Balanço de Pagamentos
Credores brasileiros perdoam empréstimos tomados por não residentes no país: débito na conta transferências de capital da balança de capitais; crédito no mesmo valor na conta outros investimentos, subconta empréstimos.
Títulos de dívida pública são emitidos no exterior: débito na conta haveres, crédito na conta investimento em carteira.
Tomadores de empréstimo residentes pagam amortizações: crédito na conta haveres, débito na conta outros investimentos - amortizações. 
Companhia de residentes compra ações de companhia no exterior: crédito na conta haveres; débito na conta investimentos em carteira.
Tomadores de empréstimo residentes refinanciam empréstimos já existentes: débito na conta empréstimos- amortizações; crédito na conta emprestimos-desembolso.
Liquidação, com perda, de investimentos em derivativos de residentes no exterior: crédito na conta haveres; débito na conta investimentos em derivativos.
Aquisição por não residentes de derivativos no país: débito na conta haveres no valor do depósito de margem; crédito na conta outros investimentos, subconta outras operações. 
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A Contabilidade do Balanço de Pagamentos
Antes de encerrarmos este tópico sobre a contabilização das operações envolvendo residentes e não residentes no BP, fazem-se necessárias algumas observações sobre a conta haveres da autoridade monetária.
Até agora a tratamos como se fosse composta por um único item, ou seja, como sinônimo de reservas (moeda estrangeira). Na realidade, essa conta comporta também outros tipos de haveres. Ela deve registrar todos os haveres em moeda internacional líquidos (ou seja, disponíveis) e sob o controle do governo. 
Como já vimos, em função da abertura financeira adotada pela maior parte das economias, parte dos haveres de reserva internacional pode não estar sob o controle governamental (por exemplo, quando as operações em moeda estrangeira ensejam depósitos na conta bancária de residentes no exterior). 
Assim, a conta haveres da autoridade monetária registra apenas os haveres estrangeiros líquidos e sob o controle da autoridade governamental (Bacen). São eles: reservas em moeda estrangeira (que incluem títulos de liquidez elevada), reservas no FMI, DES (direitos especiais de saque junto ao FMI, ou SDR – special drawing rights em inglês), ouro (ouro em espécie, expresso de forma padronizada e transacionável no mercado externo) e outros haveres (qualquer outro ativo líquido em moeda estrangeira).
Dado que essa conta registra também ativos de reserva que não são a moeda em cuja unidade os lançamentos do BP são registrados, seu saldo ao final de um determinado período é o resultado não só das operações do BP, mas também das variações nos preços, cotados nessa moeda, dos ativos de reserva.
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Taxa de câmbio e regimes cambiais
No Brasil, define-se taxa de câmbio como o preço em moeda nacional de uma unidade de moeda estrangeira, qualquer que ela seja. Hoje, por exemplo, US$ 1,00 vale R$ 1,65 e €$ 1,00 vale R$ 2,40. 
Contudo, há países que utilizam a definição inversa, sendo a taxa de câmbio o preço em moeda estrangeira de uma unidade de moeda nacional. Normalmente,os países ou regiões que detêm moedas fortes e utilizadas como haveres de reserva pelos demais países utilizam esta última definição. 
Utilizada a definição tal como no Brasil, um aumento de preço da divisa estrangeira em moeda nacional expressa uma desvalorização de nossa moeda e uma redução desse preço uma valorização.
As valorizações e desvalorizações da taxa de câmbio têm importantes implicações sobre as transações entre residentes e não residentes e, portanto, sobre o resultado do BP. 
 Assim, por exemplo, uma desvalorização da moeda, tudo o mais constante, tende a estimular as exportações, o turismo doméstico e o reinvestimento, enquanto uma valorização tende a estimular as importações , o turismo externo e o envio de renda ao exterior. 
A expressão, tudo o mais constante, da observação acima, faz-se necessária porque, apesar de ser um dos mais importantes, a taxa de câmbio é apenas um dos elementos que influenciam essas operações. A política comercial (tarifária), as condições de financiamento das operações, a variação do preço em moeda estrangeira dos bens e serviços transacionados, são exemplos de outros elementos que influenciam essas operações. 
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Taxa de câmbio e regimes cambiais
Apesar da importância da taxa nominal de câmbio (a taxa sobre a qual até agora estamos falando), dependendo das circunstâncias, o mais correto é falar na taxa real de câmbio. A taxa real de câmbio pode ser definida da seguinte forma: 
E = e. (P*/P), onde
E = taxa real de câmbio
e = taxa de câmbio nominal
P* = índice de preços do país estrangeiro
P = índice de preços no mercado nacional
No cômputo da taxa de câmbio real, temos que levar em conta tanto a inflação interna, quanto a inflação externa, ou seja, a inflação do país cuja moeda estamos considerando no cálculo da taxa de câmbio. Abaixo um exemplo de variação da taxa de câmbio real. 
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Taxa de câmbio e regimes cambiais
O exemplo mostra que, apesar da desvalorização nominal de 9,1% entre o período 1 e o período 2, que implicou uma valorização nominal da moeda estrangeira em 10%, em termos reais, o que aconteceu entre esses dois períodos em termos reais foi uma valorização de 3,9% de nossa moeda (e uma desvalorização de 3,75% da
moeda americana). 
Isto ocorreu porque o crescimento nominal da taxa de câmbio em 10% não foi suficiente, mesmo considerando a inflação externa de 5%, para compensar a elevação interna dos preços da ordem de 20%. 
Assim, quando as variações dos níveis de preços interno ou externo são mais pronunciadas, a variação da taxa nominal de câmbio pode não significar muita coisa, devendo-se, nesse caso, atentar para o comportamento da taxa de câmbio real.
Recentemente, por exemplo, apesar de nossa taxa de câmbio ter se valorizado muito, nossas exportações não foram tão afetadas em função da elevação em dólar do preço de algumas commodities que o Brasil exporta, como minério de ferro e soja. 
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Taxa de câmbio e regimes cambiais
Entendida o que é a taxa de câmbio, é preciso agora entender quais são os fatores que determinam seu valor.
A resposta imediata a essa pergunta é que a taxa de câmbio pode ser determinada ou pelo mercado, pelo livre confronto entre a oferta e a demanda por divisas, ou por meio da interferência do governo nesse mercado, fixando o preço da divisa.
Apesar das duas alternativas, pode-se na realidade definir três tipos de regime cambial: o regime de câmbio flutuante, o regime de câmbio fixo e o regime misto.
No regime de câmbio flutuante, a taxa de câmbio oscila livremente. Assim, se a demanda por divisas é maior do que a oferta, o preço da divisa sobe; se é menor, cai. 
Nesse regime, a oferta é determinada pelos exportadores e pelos demais residentes que recebem renda e outros recursos de não residentes. A demanda é exercida pelo importadores e pelos residentes que necessitam de divisas para transferir renda e demais tipos de recursos para o resto do mundo. 
Evidentemente, quanto maior (menor) for a taxa de câmbio, menor (maior) deverá ser a quantidade procurada de moeda estrangeira. 
Nesse sistema, não há portanto, qualquer interferência da autoridade econômica no mercado cambial, ficando a taxa de câmbio determinada inteiramente pelas livres forças do mercado.
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Taxa de câmbio e regimes cambiais
O caso oposto ao do regime flutuante é o regime de câmbio fixo. Nesse regime, o preço da divisa é inteiramente determinado pela autoridade monetária, que fixa o preço da divisa.
O mecanismo que a autoridade econômica utiliza para fixar esse preço é comprar e vender divisas a um preço previamente determinado. É necessário aqui que o Banco Central disponha de uma quantidade de divisas suficientes para ser o grande vendedor do mercado, ou seja, para vender, ao preço fixado, qualquer quantidade de divisas que o mercado deseje. 
Assim, se, por qualquer razão, ele julgar que, num determinado momento não terá o nível suficiente de reservas e/ou julgar que não é a melhor política para o país perder todas (ou uma grande quantidade ) de suas reservas, só lhe resta alterar o preço desse bem, nesse caso, desvalorizar a moeda.
Uma modalidade de câmbio fixo, que foi muito comentada nos anos 1990 é o chamado currency board, que é uma espécie de versão contemporânea do padrão ouro. O Brasil já teve algumas experiências com regimes desse tipo, por exemplo, o Convênio de Taubaté, de 1906 e a Caixa de Estabilização com paridade ouro do mil réis, criada no governo de Washington Luís em 1926.
Na América Latina, a Argentina adotou um sistema desse tipo no início dos anos 1990 e colocou a taxa de câmbio na Constituição. Esperava com isso livrar-se de vez dos recorrentes problemas de desequilíbrio externo que experimentava, mas acabou na grande crise do período 1999-2001. 
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Taxa de câmbio e regimes cambiais
Atualmente a maioria dos países adota o regime de câmbio flutuante, mas não em sua forma pura. Assim, deixa-se o mercado funcionar e determinar o preço da divisa, mas a autoridade econômica pode intervir a qualquer hora, comprando ou vendendo divisas, para dirigir o preço da moeda estrangeira para o valor considerado adequado. Portanto, trata-se de um regime de câmbio flutuante com interferência da autoridade econômica no próprio mecanismo de mercado, atuando como mais um agente econômico. Nesse sentido trata-se de um regime misto.
Outra forma de regime misto é a adoção de um regime de câmbio fixo, porém com a determinação de bandas de flutuação, ou seja, a autoridade define qual é o espaço de preços no qual se permite que a taxa de câmbio oscile. Caso ela atinja o limite máximo, a autoridade entra no mercado vendendo a um preço fixo (e inferior), a quantidade que o mercado desejar comprar de divisas. Caso ela atinja o limite mínimo, a autoridade entra no mercado comprando a uma taxa fixa (e superior) a quantidade que o mercado desejar vender. 
Historicamente, o mundo teve um período em que predominou o câmbio flutuante e que resultou em grandes instabilidades. Do pós-guerra até meados dos anos 1970, tivemos cerca de 30 anos de câmbio fixo na maioria dos países, graças ao Acordo de Bretton Woods. Atualmente, dado o contexto de internacionalização financeira, o câmbio flutuante acabou se mostrando inevitável. 
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Ajustando o balanço de pagamentos
Quando o balanço de pagamentos de um país apresenta, por um período muito longo, déficits substantivos na conta corrente de seu BP, alguns ajustes precisam ser efetuados, sob pena de o país não conseguir, em determinado momento, honrar seus compromissos em moeda forte, e ter de pedir uma moratória.
O Brasil passou várias vezes por situações como essa. Em sua história recente (de 1970 para cá) conta-se pelo menos 4 momentos em que o país ficou em tal situação.
Teoricamente, as alternativas que existem para restaurar o equilíbrio do BP são as seguintes:
Desvalorizar a moeda;
Elevar as tarifas de importação;
Estabelecer cotas de importação ou outras medidas de restrição quantitativa;
Conceder subsídios às exportações;
Impor restrições à saída de capitais e às remessas de recursos ao exterior;
Reduzir o nível da atividade econômica;
Elevar a taxa de juros 
Efetivamente, porém, vários desses mecanismos são hoje mal vistos e mesmo considerados ilícitos, o que reduz muito a margem de manobra dos governos. 
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A Posição Internacional de Investimentos
 a taxa 
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