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Do Empresário Direito Empresarial Aplicado I Profa. Roberta Arcieri. 1 Na empresa (atividade) há uma organização dos fatores da produção (capital, trabalho, terra e tecnologia). O empresário é quem se apropria e organiza esses fatores da produção, para o exercício da atividade econômica no mercado. É nessa organização que se insere o empresário, como protagonista da atividade, como responsável. “A apropriação desses fatores de produção associada ao gênio criativo, necessário para conceber a organização de uma atividade econômica, torna legítimo ao empresário aproveitar-se diretamente dos resultados da empresa”. A empresa é uma atividade e, como tal, deve ter um sujeito que a exerça, o titular da atividade (o empresário). Este é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Ele é, em última análise, “o sujeito ativo da atividade empresarial”. 2 Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Como já mencionado, a empresa é uma atividade e não um sujeito de direitos. E “se não é sujeito, não tem nem pode ter direitos e deveres”. O empresário é o sujeito de direitos. Pode ele tanto ser uma pessoa física, na condição de empresário individual, quanto uma pessoa jurídica, na condição de sociedade empresária ou EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. 3 O empresário individual é a pessoa física que exerce a empresa em seu próprio nome, assumindo todo o risco da atividade. É a própria pessoa física que será o titular da atividade. Ainda que lhe seja atribuído um CNPJ próprio, distinto do seu CPF, não há distinção entre a pessoa física em si e o empresário individual. EIRELI, no Brasil, é uma pessoa jurídica criada como centro autônomo de direitos e obrigações para o exercício individual da atividade empresarial. Profissionalidade Só é empresário quem exerce a empresa de modo profissional. Tal expressão não deve ser entendida com os contornos que assume na linguagem corrente, porquanto não se refere a uma condição pessoal, mas à estabilidade e habitualidade da atividade exercida. Não se trata de uma qualidade do sujeito exercente, mas de uma qualidade do modo como se exerce a atividade, ou seja, a profissionalidade não depende da intenção do empresário, bastando que no mundo exterior a atividade se apresente objetivamente com um caráter estável. Não se exige o caráter continuado, mas apenas uma habitualidade, tanto que atividades de temporada (ex.: hospedagem) também podem caracterizar uma empresa, mesmo em face das interrupções impostas pela natureza da atividade. 4 Assunção do Risco É elemento preponderante da condição de empresário a assunção do risco, um risco peculiar. Nas atividades econômicas em geral, todos assumem riscos. Por exemplo, o investidor retira capital de seu patrimônio e o liga a determinadas atividades. Com essa conduta ele assume o risco de perder o valor investido. O empregado assume riscos em relação a sua capacidade de trabalho e o risco de não receber salários pelos serviços prestados. O empresário, por sua vez, assume o risco total da empresa. Não há uma prévia definição dos riscos, eles são incertos e ilimitados. Ademais, o risco da atividade não é garantido por ninguém. Se houver uma crise no ramo de atuação do empresário, e este tiver prejuízo pela falta de demanda, ele não terá a quem recorrer. A remuneração do empresário está sujeita a elementos imponderáveis que podem fugir das previsões deste e, nessa situação, o risco é dele, não há a quem recorrer. Láudio Camargo, nesta temática, assevera: “Em face da expressa exclusão do conceito de empresário de quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, interpreta-se, por exemplo, que o advogado estabelecido com escritório para exercer profissionalmente a atividade econômica de prestação de serviços jurídicos, mesmo com o concurso de auxiliares e colaboradores, não é empresário. Por via de consequência seu escritório não é empresa”. 5 Empresários Rurais A princípio, as a^vidades rurais voltadas para o mercado são dotadas de um mínimo de organização, podendo ser enquadradas como empresa. Logo, os exercentes de tais a^vidades podem ser denominados empresários rurais. Todavia, as a^vidades rurais sempre foram dotadas de um regime diferenciado no direito brasileiro, tendo em vista a própria condição mais informal e simples de boa parte dos sujeitos envolvidos. Os empresários rurais, sejam pessoas _sicas, sejam sociedades, que desempenham tal a^vidade podem se sujeitar ao regime empresarial ou não, dependendo de uma opção do próprio empresário, de acordo com o seu registro. Em relação às a^vidades empresariais rurais, não há obrigação do registro (art. 971 do Código Civil de 2002), mas uma faculdade, em virtude do verbo poder, que consta do citado disposi^vo. Em função disso, o empresário rural que se registrar, no registro de empresas, estará sujeito ao regime empresarial e o que não se registrar ficará sujeito ao regime civil. Em outras palavras, o exercente de a^vidade rural só será considerado empresário caso proceda ao registro na junta comercial. Sem tal registro, ele não terá nem os bene_cios, nem as obrigações inerentes ao regime empresarial. 6 Capacidade civil para ser empresário São pressupostos para o exercício da a^vidade de empresário: Capacidade civil (maiores de 18 anos, no gozo de seus direitos civis; maiores de 16 e menores de 18 anos, desde que emancipados e não legalmente impedidos) e ausência de impedimento. Quanto ao incapaz, dispõe o art. 974 do CC, que: Ø Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assis^do, con^nuar a empresa exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. Nesses casos, o incapaz será autorizado pelo juiz. Ø Se, contudo, o representante ou assistente forem pessoas legalmente impedidas, será nomeado um gerente com a aprovação do juiz, sem prejuízo da responsabilidade do representante ou do assistente. Ø O uso da firma caberá, conforme o caso, ao gerente ou ao representante do incapaz, ou a este, quando puder ser autorizado. 7 Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos. Ø O Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, deverá registrar os contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que (I) o sócio incapaz não exerça cargo de administração da sociedade; (II)o capital social esteja inteiramente integralizado; (III) o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz, representado. 8 Não podem ser empresários Algumas pessoas, embora tenham plena capacidade civil, não podem atuar como empresários ou administradores de sociedades empresárias, por estarem legalmente proibidos de empreender, independente da área de atuação pretendida. Neste contexto, estão proibidos de atuar como empresários ou administradores de sociedades empresárias, conforme impedimento determinado por leis específicas: 9 Militares da ativa das forças armadas e das polícias militares (lei 6880/80, art.29). Funcionários públicos civis (união, estados, territórios e municípios – lei 8.112/90, art. 117, x) Magistrados; Médicos, para o exercício simultâneo da medicina e farmácia, drogaria ou laboratório (código de ética médica, res. 1.246, art. 98); Estrangeiros não residentes no país (lei 6815/80); Cônsules, salvo os não remunerados; Corretores e leiloeiros; Falidos, enquanto não reabilitados (lei 11.101/05, art. 102). Penalmente proibidos (art. 47 cc. 56, CP) Essa impossibilidade,entretanto, não alcança a mera participação dessas pessoas como acionistas, sócios ou quotistas de sociedade empresária na condição de investidor, que terá direito de receber lucros e dividendos, além dos demais direitos essenciais de sócios. O CC/2002 prevê ainda, no parágrafo 1º do art. 1011 que: Quanto à sociedade entre cônjuges e terceiros: Assim, pessoas casadas sob o regime da comunhão parcial de bens podem ser sócias entre si, com ou sem a presença de terceiros na sociedade, pois estão foram dos impedimentos. 10 Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios. § 1 o Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação. [...] Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. Obrigações Profissionais do Empresário Registrar-se na Junta Comercial antes de dar início à exploração da atividade (Lei 8.934/94 e Dec. 1.800/96); Manter a escrituração regular dos negócios (art. 1.179, do CC/02; art. 177, Lei das S/A); Levantar demonstrações contábeis periódicas; 11 Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1 o Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2 o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970. Outras observações importantes: Em alguns estados da federação a solicitação e tramitação do processo é feita de forma totalmente digital, com assinaturas eletrônicas, mediante certificado digital. É o caso de Minas Gerais, por exemplo. Além disso, é importante destacar também a REDESIM - Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - que é um sistema integrado que permite a abertura, fechamento, alteração e legalização de empresas em todas as Juntas Comerciais do Brasil, simplificando procedimentos e reduzindo a burocracia ao mínimo necessário. No caso de indeferimento do pedido de registro, o empresário pode interpor recurso no âmbito administrativo, previsto na lei do Registro de Comércio (lei 8.934/94) e instruído pela instrução normativa DNRC 85/00. Independente de recurso administrativo, a tutela judicial poderá também sempre ser buscada. Por fim, destaca-se, ainda, a situação do empresário inativo. Caso o empresário não proceda a qualquer arquivamento em um período de 10 anos, deverá comunicar à Junta Comercial seu desejo de manter-se ativo, sob pena de ter seu registro cancelado e perder a proteção de seu nome empresarial (art. 60 da lei 8.943/94). Fonte: OLIVEIRA, Rafael Vitor Mereu de; VILAS BOAS, Pedro Augusto Soares. Do registro mercantil e das obrigações do empresário. Migalhas, 2019. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/depeso/290916/do- registro-mercantil-e-das-obrigacoes-do-empresario. 12 Espécies de Empresário - Empresário individual Natureza jurídica: pessoa natural Constituição: uma única pessoa (PN) Responsabilidade: direta e ilimitada - Empresa individual de responsabilidade limitada Natureza jurídica: pessoa jurídica Constituição: uma única pessoa, chamada de titular (pode ser PN ou PJ) Responsabilidade do titular: subsidiária e limitada - Sociedade empresária Natureza jurídica: pessoa jurídica Constituição: 1 (LTDA), 2 ou mais pessoas, chamadas de sócios (podem ser PN ou PJ) Responsabilidade dos sócios: subsidiária (sempre) e limitada (a depender do tipo) 13 Empresário Individual Direito Empresarial Aplicado I Profa. Roberta Arcieri. 14 Empresário Individual Empresário individual é aquele que exerce a a^vidade empresarial enquanto pessoa _sica, individualmente, tendo como consequência a responsabilidade integral pelas obrigações sociais inclusive com o patrimônio pessoal (confusão patrimonial). O empresário individual é equiparado a uma Pessoa Jurídica pela legislação fiscal. Tendo o Código Civil de 2002 adotado a teoria da empresa em subs^tuição à an^ga teoria dos atos de comércio, suas regras não u^lizam mais as expressões ato de comércio e comerciante, que foram subs^tuídas pelas expressões empresa e empresário. Do supracitado disposi^vo, extrai-se os principais elementos para a caracterização do empresário: a) profissionalmente; b) a^vidade econômica; c) organizada; d) produção ou circulação de bens ou de serviços. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 15 Só será empresário aquele que exercer determinada a^vidade econômica de forma profissional, ou seja, que fizer do exercício daquela a^vidade a sua profissão habitual. Quem exerce determinada a^vidade econômica de forma esporádica, por exemplo, não será considerado empresário, não sendo abrangido, portanto, pelo regime jurídico empresarial. A expressão a^vidade econômica, por sua vez, queremos enfa^zar que empresa é uma a^vidade exercida com intuito lucra^vo. Afinal, conforme veremos, é caracterís^ca intrínseca das relações empresariais a onerosidade. Mas não é só à ideia de lucro que a expressão a^vidade econômica remete. Ela indica também que o empresário, sobretudo em função do intuito lucra^vo de sua a^vidade, é aquele que assume os seus riscos técnicos e econômicos. “Organizada” significa, como bem assinala a doutrina, que empresário é aquele que ar^cula os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia). No mesmo sen^do, diz-se que o exercício de empresa pressupõe, necessariamente, a organização de pessoas e meios para o alcance da finalidade almejada. Posto que o empresário é responsável pela “prestação de um trabalho autônomo de caráter organizador”, e é isso, junto com a assunção dos riscos do empreendimento, que jus^fica a possibilidade de ele auferir lucro. 16 A expressão produção ou circulação de bens ou de serviços deixa claro que nenhuma a^vidade econômica está excluída, a priori, do âmbito de incidência do direito empresarial. Além de denotar a abrangência da teoria da empresa, a expressão em análise também nos permite concluir que só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços des^nar-se ao mercado, e não ao consumo próprio. Observação Importante! O parágrafo único do ar^go 966 do Código Civil afasta algumas a^vidades do conceito de empresário tais como a^vidade intelectual, de natureza cienxfica, literária ou arxs^ca, ainda que contem com auxiliares ou colaboradores. À exceção é quando o exercício desta a^vidade for elemento da empresa, organizando os fatores de produção. 17 Extinção da EIRELI - Lei 14.195/2021 Direito Empresarial Aplicado I Profa. Roberta Arcieri. 18 Empresário Individual x Sociedade Empresária O art. 966 do Código Civil,ao conceituar empresário como aquele que exerce profissionalmente a^vidade econômica organizada, não está se referindo apenas à pessoa _sica (ou pessoa natural) que explora a^vidade econômica, mas também à pessoa jurídica. Portanto, o empresário pode ser: Ø um empresário individual (pessoa _sica que exerce profissionalmente a^vidade econômica organizada); ou Ø uma sociedade empresária (pessoa jurídica cons^tuída sob a forma de sociedade cujo objeto social é a exploração de uma a^vidade econômica organizada). Quando se está diante de uma sociedade empresária, é importante atentar para o fato de que os seus sócios não são empresários: o empresário, nesse caso, é a própria sociedade, ente ao qual o ordenamento jurídico confere personalidade e, consequentemente, capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. Assim, pode-se dizer que a expressão empresário designa um gênero, do qual são espécies o empresário individual (pessoa _sica) e a sociedade empresária (pessoa jurídica). 19 Sociedade Empresária Por ser uma pessoa jurídica, tem patrimônio próprio, dis^nto do patrimônio dos sócios que a integram. Assim, os bens par^culares dos sócios, em princípio, não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais (nesse sen^do, confira-se o disposto no art. 1.024 do CC. A responsabilidade dos sócios de uma sociedade empresária é subsidiária (já que primeiro devem ser executados os bens da própria sociedade), a responsabilidade dos sócios pode ser também limitada, o que ocorre, por exemplo, nas sociedades limitadas e nas sociedades anônimas. Empresário Individual O empresário individual, por sua vez, não goza dessa separação patrimonial, respondendo com todos os seus bens, inclusive os pessoais, pelo risco do empreendimento. A responsabilidade do empresário individual é direta e ilimitada. Pois, além de responder diretamente com todos os seus bens pelas dívidas contraídas no exercício de a^vidade econômica (inclusive seus bens pessoais), não goza da prerroga^va de limitação de responsabilidade. Do que se expôs acima, fica fácil entender porque, no Brasil, o exercício de empresa em sociedade é mais vantajoso do que o exercício de empresa individualmente. A cons^tuição de sociedade empresária para exploração de a^vidade econômica permite que os sócios calculem melhor o seu risco empresarial, resguardando seus bens pessoais em caso de insucesso do empreendimento. 20 A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI (art. 980-A, CC). Direito Empresarial Aplicado I Profa. Roberta Arcieri. 21 Lei 14.195 de 2021 A par^r de 27.08.2021, por força do ar^go 41 da Lei 14.195/2021, a modalidade de cons^tuição empresarial EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – deixou de exis^r. As EIRELIs existentes naquela data foram transformadas em sociedades limitadas unipessoais (LTDA) independentemente de qualquer alteração em seu ato cons^tu^vo. A EIRELI era uma forma de pessoa jurídica composta por uma só pessoa Fsica. Tratava-se de uma espécie de pessoa jurídica unipessoal autônoma e que apresentava, portanto, personalidade jurídica e patrimônio dis^ntos daquele ^tularizado pela pessoa _sica que explora a a^vidade em questão. Consis^a em uma técnica de limitação dos riscos empresariais em bene_cio dos empreendedores individuais. A EIRELI foi criada pela Lei nº 12.441/2011, que acrescentou o art. 980-A ao Código Civil. 22 http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei-14195-2021.htm http://www.normaslegais.com.br/guia/eireli.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/guia/sociedade-unipessoal-empresaria.htm Requisitos da EIRELI Os requisitos para a constituição da EIRELI eram os seguintes: a) Uma única pessoa natural, que é o titular da totalidade do capital social; b) O capital social deve estar devidamente integralizado; c) O capital social não pode ser inferior a 100 (cem) vezes o salário-mínimo; d) A pessoa natural que constituir EIRELI somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. Assim, para evitar fraudes, ninguém pode ser titular de duas empresas individuais de responsabilidade limitada. 23 Vantagens e Desvantagens Antes da EIRELI, se um indivíduo quisesse abrir uma loja no centro da cidade para vender vestuário, ele teria duas opções: 1ª) explorar essa a^vidade econômica como empresário individual; 2ª) encontrar um outro indivíduo para ser seu sócio e cons^tuir uma sociedade empresária. A desvantagem de explorar como empresário individual era o fato de que esse indivíduo iria responder com seus bens pessoais e de forma ilimitada por todas as dívidas que contraísse na a^vidade econômica. Tal situação fazia com que muitas pessoas arranjassem um “laranja” para figurar como sócio em uma sociedade limitada, normalmente com capital social de 1%. Obviamente que tal realidade não era simples nem correta, servindo como desesxmulo à livre inicia^va. Com a criação da EIRELI no art. 980-A, esse indivíduo passou a conseguir, sozinho, cons^tuir uma pessoa jurídica para desempenhar sua a^vidade empresarial, com a vantagem de que, na EIRELI, a responsabilidade pelas dívidas era limitada ao valor do capital social. 24 Sociedade Unipessoal x EIRELI A Sociedade unipessoal (criada pós EIRELI) é aquela formada por um só sócio que detém a totalidade do capital social. Com a edição da Lei 13.874/2019 surge a possibilidade de ser livremente criada a sociedade limitada unipessoal, com o acréscimo dos parágrafos 1º e 2º ao art. 1052 do CC: 25 Importante: Com a criação da sociedade limitada unipessoal, a EIRELI perdeu pra^camente toda a sua importância e, na prá^ca, passou a não mais ser adotada. Diante do modelo da EIRELI que caiu em desuso, o legislador resolveu simplificar o panorama e decidiu transformar todas EIRELIs ainda existentes em sociedades unipessoais. Art. 41 da Lei nº 14.195/2021: 26 Foram revogados ainda o inciso IV e parágrafo único do art. 1.033, CC: Microempreendedor Individual (MEI) Direito Empresarial Aplicado I Profa. Roberta Arcieri. 27 O Microempreendedor Individual atua como microempresa, exercendo atividade econômica por conta própria e pode optar pelo recolhimento dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais, independentemente da receita bruta por ele auferida no mês. Foi criado pela Lei Complementar nº 123/2006, e alterado pela LC 155/2016. Microempreendedor Individual é um empresário com faturamento bruto de, no máximo, R$ 81 mil ao ano. Além disso, o MEI pode ter um empregado contratado e deve atuar em uma das mais de 490 atividades permitidas para o segmento. Ao se formalizar como Microempreendedor Individual, o empreendimento passa a ter um CNPJ, podendo, assim, emitir de notas fiscais. Fora os benefícios relacionados ao empreendimento, o empresário, mediante pagamento mensal unificado ganha acesso à cobertura previdenciária. Segundo o §1° do artigo 18-A, considera-se MEI o empresário individual que se enquadre na definição do art. 966 do CC/2002, ou o empreendedor que: 28 Exerça as atividades de industrialização, comercialização e prestação de serviços no âmbito rural; Tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais); Seja optante pelo Simples Nacional; Não esteja impedido de optar pela sistemática prevista no MEI. De acordo com o § 4o do artigo 18-A da Lei 123/2006, não poderá optar pela sistemática de recolhimento dessa modalidade (Simples Nacional), estando sujeito a descaracterização da condição de MEI, o empreendedor: Importa salientar que o enquadramento do empresário individual ao MEI, não limita a responsabilidade do titular frente às obrigações sociais; que continuará sendo direta e ilimitada. É válido mencionarmos que o empresário individual, a EIRELI, a sociedade empresária e a sociedade simples, também podem ser classificados como Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte(EPP); desde que obedeçam a receita bruta anual, estejam inscritos no órgão competente e não se encontrem nas proibições da LC 123/2006. Dessa forma, a fim de simplificar a formalização de registro e estimular a regularização da ME e EPP, o § 1° do Art. 4° da LC 123/2006, previu que: 29 Cuja atividade seja tributada na forma dos Anexos V ou VI da Lei Complementar nº 123/2006, salvo autorização relativa a exercício de atividade isolada na forma regulamentada pelo Comitê Gestor do Simples Nacional - CGSN; Que possua mais de um estabelecimento; Que participe de outra empresa como titular, sócio ou administrador Constituído na forma de startup (organização projetada para ser temporária ). Art. 4°, § 1° O processo de abertura, registro, alteração e baixa da microempresa e empresa de pequeno porte, bem como qualquer exigência para o início de seu funcionamento, deverão ter trâmite especial e simplificado, preferencialmente eletrônico, opcional para o empreendedor. Segundo portal do SEBRAE, para ser registrado como Microempreendedor Individual, a área de atuação do profissional precisa estar na lista oficial da categoria, já que o MEI foi criado com o objetivo de regularizar a situação de profissionais informais. Para ser MEI, é necessário: 30 Faturar até R$ 81.000,00 por ano ou R$ 6.750,00 por mês (informações disponíveis em março 2021); Não ter participação em outra empresa como sócio ou titular; Ter no máximo um empregado contratado que receba o salário-mínimo ou o piso da categoria. O SEBRAE ainda informa o custo mensal (em março de 2021) para ser MEI: São benefícios de ser MEI: 32 CNAE – Classificação Nacional de A^vidades Econômicas. Há que acredite que EI e MEI são idênticos, mas não são. Se diferenciam principalmente com relação à restrição de atividades, ao faturamento anual e ao número de obrigações acessórias. O Empresário Individual também é um profissional que trabalha por conta própria, mas seu faturamento anual máximo pode chegar até a R$ 360 mil, sendo considerado ME (Micro Empresa), ou até 3,6 milhões, sendo EPP (Empresa de Pequeno Porte). Aplicação teórica e prática Direito Empresarial Aplicado I Profa. Roberta Arcieri. 33 Caso concreto Bernardo pretende exercer a a^vidade de comércio de produtos alimenxcios orgânicos. Para o exercício da referida a^vidade, Bernardo dispõe de R$ 80.000,00 de capital social, e precisa do auxílio de 2 colaboradores. Além disso, es^ma um faturamento mensal de R$ 10.000,00. Diante desse cenário, Bernardo consulta você sobre a possibilidade de exercer tal a^vidade como Microempreendedor Individual ou até mesmo cons^tuindo uma EIRELI, ques^onando quais as caracterís^cas de cada uma das modalidades. 34 Questão objetiva 01 Em relação à incapacidade e proibição para o exercício da empresa, assinale a alterna^va correta. A) Caso a pessoa proibida de exercer a a^vidade de empresário pra^car tal a^vidade, deverá responder pelas obrigações contraídas, podendo até ser declarada falida. B) Aquele que tenha impedimento legal para ser empresário está impedido de ser sócio ou acionista de uma sociedade empresária; C) Entre as pessoas impedidas de exercer a empresa está o incapaz, que não poderá exercer tal a^vidade. D) Por se tratar de matéria de ordem pública e considerando que a con^nuação da empresa interessa a toda a sociedade, quer em razão da arrecadação de impostos, quer em razão da geração de empregos, caso a pessoa proibida de exercer a a^vidade empresarial o faça, poderá requerer a recuperação judicial. 35 Fonte: GONÇALVES, Oksandro. EIRELI - Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito Comercial. Fábio Ulhoa Coelho, Marcus Elidius Michelli de Almeida (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/219/edicao-1/eireli---empresa-individual-de- responsabilidade-limitada. TOMAZETTE, Marlon. Empresário. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito Comercial. Fábio Ulhoa Coelho, Marcus Elidius Michelli de Almeida (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/231/edicao-1/empresario. SEBRAE. Tudo o que precisa saber para ser MEI. 2021. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/o-que-e-ser- mei,e0ba13074c0a3410VgnVCM1000003b74010aRCRD. 36